Sociologia
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SOCIOLOGIA • volume únicoCaro estudante, todos os dias, certamente, você ouve frases como estas: “antigamen- te era diferente”, “naquele tempo era melhor”, “a gente construía os próprios brinquedos”, “os vizinhos conversavam mais”, e tantos outros ditos, impossíveis de elencar nesta breve apresentação. De fato, vivemos em um mundo diferente, que se modifica em uma velocidade antes inimaginável. Além das mudanças aceleradas nas últimas décadas, as sociedades deparam com desafios e problemas de grandes dimensões, muitos dos quais criados pelos seres huma- nos em convivência, como veremos ao longo deste livro. Apesar das mudanças, há coisas que permanecem, e uma delas é o próprio fato de as sociedades continuarem existindo, de as pes- soas criarem laços entre si, tecerem planos e os executarem. Por exemplo, é cada vez mais comum as pessoas utilizarem sites de rela- cionamentos na internet para manter contato com os amigos e a família, ou para conhecer outras pessoas. O que faço e como vivo, meu comportamento e estilo de vida fazem parte da minha indivi- dualidade, que foi construída nos processos de interação e sociali- zação pelos quais passei. Essa convivência na família, na escola, no grupo de amigos também tem relação com os processos históricos, econômicos, políticos, sociais e culturais mais amplos. Assim, so- mos produtores da sociedade e também somos produzidos por ela; nossas atitudes modelam o mundo social e são por ele modeladas. Investigar essas conexões entre o que a sociedade faz de nós e o que fazemos de nós mesmos é justamente um dos trabalhos da So- ciologia, segundo o sociólogo contemporâneo Anthony Giddens. Estudar a vida social humana é o objeto das Ciências Sociais. Entrar em contato com elas, no entanto, pode nos tirar do nosso ponto de vista habitual, desacomodando nossas ideias e provocando nossa ação. O pensar das Ciências Sociais nos convida a ir além das aparências e daquilo que nos é familiar; questiona-nos quanto ao que tomamos como natural e inevitável na vida em sociedade. Diferentemente do senso comum (um co- nhecimento prático, do cotidiano), a Antropologia, a Ciência Polí- tica e a Sociologia nos possibilitam sair do nosso mundo particular e apreender as múltiplas dimensões da política, da economia, da cultura, da sociedade propriamente dita. Salmo Dansa/Arquivo da editora •3 Sociologia_vu_PNLD15_001a008_Iniciais.indd 3 5/27/13 5:14 PM Nas páginas deste livro você mergulhará na sociedade contemporânea, buscando pensar e cultivar a “imaginação sociológica”, como diz Wright Mills. Será que compreendendo nós mesmos teremos condições de compreender os outros? Entre os temas deste livro, você verá a ciência, o trabalho, a cultura, a polí- tica, os movimentos sociais e as instituições, como a família, a escola, o Estado, a religião. É claro que você e sua juventude Salm oD ans a/A rqu ivo da também estão contemplados nessa análise, bem como a preocu- edit ora pação premente e atual com as condições do meio ambiente. Todas as questões que esses temas propõem às Ciências Sociais, sobretudo ao entreverem situações de desigualdades, conduzem a processos de construção da cidadania, vislumbrando nossos direi- tos e deveres. Para que você percorra essa trilha com ânimo para explorá-la, cada capítulo está entremeado com atividades que levam à reflexão e apresenta sugestões de leituras, filmes e sites para suas aventuras inves- tigativas. Nesse sentido, algumas pistas vêm na forma de proposições teóricas e de conceitos inter-relacionados destacados em negrito no texto. De posse desse material, o seu trabalho de construção do co- nhecimento ficará a cargo da sua leitura atenta e das discussões e debates com os colegas e o professor. Portanto, prepare-se para uma leitura ativa em que você é o protagonista. Suas investidas serão de aproximação dos textos, análise das questões levantadas, estímulo ao desenvolvimento da crítica social, cruzamento de informações, inda- gações pertinentes e espaço para as suas dúvidas. Você está em pro- cesso de descoberta de sua identidade, e acreditamos que este livro trará contribuição nesse sentido. Apaixone-se pelas Ciências Sociais, pois ciência é também pai- xão na persistência dos métodos, perseguição de objetivos e curio- sidade sempre alerta. Bom estudo! 4• Sociologia_vu_PNLD15_001a008_Iniciais.indd 4 5/27/13 5:14 PM Sumário Capítulo 1 – Viver na sociedade contemporânea: a Sociologia se faz presente 9 As transformações da sociedade e as Ciências Sociais 10 As primeiras inquietações da Sociologia 12 A Sociologia se preocupa com a desigualdade social 14 As teorias de classe e a estratificação social 17 Desigualdade social e dominação 21 Globalização e novas questões sociais 27 O trabalho como grande questão social da globalização 31 Sociologia, uma ciência que articula conhecimentos 33 Diálogos interdisciplinares 34 Revisar e sistematizar 34 Descubra mais 35 Bibliografia 35 Capítulo 2 – Sociologia: uma ciência da modernidade 37 Nossa vida em sociedade 38 Uma ciência originada da transformação 40 Nasce a Sociologia 42 Senso comum e ciência 46 Métodos para pensar a realidade social 47 O positivismo na proposta de Comte 47 Durkheim e um método próprio para a Sociologia 48 A dialética como método de análise 49 O objeto de estudo da Sociologia 49 Durkheim e a análise dos fatos sociais 50 Weber e a compreensão da ação social 52 Marx analisa a realidade histórica 53 A produção teórica dos clássicos da Sociologia 55 A integração social sob o olhar de Durkheim 55 Teoria da ação social em Weber 55 Marx e a teoria da acumulação 56 Teorias e métodos das Ciências Sociais no século XX 58 Diálogos interdisciplinares 60 Revisar e sistematizar 61 Descubra mais 62 Bibliografia 62 Capítulo 3 – a família no mundo de hoje 65 As muitas configurações da família 66 A família como instituição social 68 A família patriarcal no Brasil e seus desdobramentos 71 A família como espaço de reprodução social 73 As Ciências Sociais observam a família 75 Famílias em transição 76 Movimentos de mulheres e relações familiares 78 O que há de novo nas famílias? 80 As relações familiares transformadas e os jovens 82 Diálogos interdisciplinares 84 Revisar e sistematizar 87 Descubra mais 87 Bibliografia 88 •5 Sociologia_vu_PNLD15_001a008_Iniciais.indd 5 5/27/13 5:14 PM Capítulo 4 – trabalho e mudanças sociais 89 O trabalhador e o trabalho 90 O sentido do trabalho 91 Organização do trabalho no século XX 95 Trabalhador: a chave dos sistemas flexíveis de produção? 100 Novo perfil do trabalhador 102 O trabalho é central na vida em sociedade contemporânea? 105 O trabalho em crise 105 Os sindicatos e seus desafios na atualidade 107 O labirinto do mercado de trabalho 110 Desigualdades no mercado de trabalho: questões de gênero e étnico-raciais 112 Diálogos interdisciplinares 115 Revisar e sistematizar 116 Descubra mais 117 Bibliografia 117 Capítulo 5 – a cultura e suas transformações 119 Comunicação e cultura 120 O que é cultura? 122 Cultura e civilização 124 O relativismo cultural 126 Nós e os outros 127 Diversidade cultural na sociedade brasileira 132 As dinâmicas culturais 136 Mudanças culturais na sociedade global 137 Indústria cultural e práticas sociais 140 A cultura que se mundializa 142 Diálogos interdisciplinares 145 Revisar e sistematizar 146 Descubra mais 146 Bibliografia 147 Capítulo 6 – Sociedade e religião 149 A religião como instituição social 150 A religião na visão dos autores clássicos da Sociologia 153 Auguste Comte 153 Émile Durkheim 154 Max Weber 154 Karl Marx 155 A religião em tempos de globalização 156 Fundamentalismo religioso 159 Desfazendo mitos 160 Conflitos religiosos no mundo 161 A religiosidade no Brasil 164 Diálogos interdisciplinares 167 Revisar e sistematizar 168 Descubra mais 168 Bibliografia 169 6 • SUMÁRIO Sociologia_vu_PNLD15_001a008_Iniciais.indd 6 5/27/13 5:14 PM Capítulo 7 – Cidadania, política e Estado 171 Cidadania é uma conquista 172 As origens dos conceitos de cidadão e cidadania 173 Políticas públicas: dilemas da cidadania 176 Condições da cidadania no Brasil 179 Poder e política: exercício e participação 182 Cidadania: entre o público e o privado 184 Estado e sociedade 186 Estado e governos 190 Duas visões sobre a atuação do Estado capitalista 192 Autoritarismos e totalitarismos: ameaças à cidadania 194 Diálogos interdisciplinares 196 Revisar e sistematizar 196 Descubra mais 197 Bibliografia 197 Capítulo 8 – Movimentos sociais 199 Movimentos sociais na pauta das Ciências Sociais 200 Características dos movimentos sociais 204 A questão da identidade 205 Breve história dos movimentos sociais 207 Os movimentos operários 207 Temas e protagonistas dos movimentos sociais contemporâneos 208 A emergência dos movimentos sociais no Brasil: contestação ao Estado autoritário 210 Movimentos sociais latino-americanos e o Estado neoliberal 213 A exclusão social e os movimentos sociais na atualidade 215 As muitas configurações da exclusão 215 Movimentos sociais na era da globalização 217 Diálogos interdisciplinares 220 Revisar e sistematizar 221 Descubra mais 221 Bibliografia 222 Capítulo 9 – Educação, escola e transformação social 223 Educação e sociedade 224 A educação na história 226 Sociologia e educação 227 A escola como espaço de socialização 228 Além dos portões da escola 229 Sistemas escolares e reprodução social 230 Educação para o presente 234 Concepções da educação no Brasil 235 Problemas e dificuldades da escola brasileira no século XX 237 Desafios do ensino no Brasil 239 Educação e ensino: um direito 243 Diálogos interdisciplinares 244 Revisar e sistematizar 244 Descubra mais 245 Bibliografia 245 SUMÁRIO • 7 Sociologia_vu_PNLD15_001a008_Iniciais.indd 7 5/27/13 5:14 PM Capítulo 10 – Juventude: uma invenção da sociedade 247 As juventudes 248 Ritos de passagem para a fase adulta 250 Juventude: um tempo de preparação e responsabilidades 251 Sociologia e juventude por Mannheim 253 O conceito de geração 257 Jovens e identidade nos grupos sociais 258 O jovem na sociedade brasileira 260 O que deseja a juventude brasileira? 263 Juventude contemporânea 264 Desafios para os jovens de hoje 266 Diálogos interdisciplinares 268 Revisar e sistematizar 269 Descubra mais 269 Bibliografia 269 Capítulo 11 – o ambiente como questão global 271 A relação ser humano-natureza 272 Sociedade de risco 276 Ecossistemas e globalização 280 Inovação: benefícios ou malefícios? 284 Desenvolvimento capitalista e meio ambiente 287 Sociedade sustentável: equilíbrio entre ser humano e natureza? 290 Diálogos interdisciplinares 293 Revisar e sistematizar 293 Descubra mais 294 Bibliografia 295 índice remissivo 296 Questões do Enem 301 8 • SUMÁRIO Sociologia_vu_PNLD15_001a008_Iniciais.indd 8 5/27/13 5:14 PM . 9 Sociologia_vu_PNLD15_009a036_C01. Ao desnaturalizar os fenômenos.indd 9 5/28/13 8:39 AM . Antropologia e Ciên- cia Política – procuram explicá-los. a Sociologia tem como tarefa central mostrar que fenômenos como as desigualdades. Ciência ocupada com o seu tempo. as Ciências Sociais – Sociologia. reflete e investiga a sociedade em que vive. Nas páginas que seguem. você é convidado a se colocar também como um sujeito que indaga. e sim sociais. Salmo Dansa/Arquivo da editora Capítulo 1 Viver na sociedade contemporânea: a Sociologia se faz presente ESTUDAREMOS NESTE CAPÍTULO: o papel e as estratégias da Sociologia no estudo da sociedade contemporânea. a pobreza e a estratificação social não são “naturais”. desvendando os mecanismos de dominação social. 10 • CAPÍTULO 1 Sociologia_vu_PNLD15_009a036_C01. Regimes políticos entram em colapso. As estruturas familiares se diversi1cam. Porto Alegre: Sulina. como trindade indivíduo/socieda- de/espécie: o indivíduo é um termo dessa trindade. incutindo-lhes. participar do aqui e agora e. a última eleição municipal. Mas como se chegou a esse ponto? É preciso ter em mente que vivemos em sociedade. que circulam nas conversas nas ruas e pontos de ônibus. p. mui- tos povos e nações clamam por paz e justiça. um desastre aéreo. vistos ou lidos. Se pararmos para analisar tantas e tão aceleradas mudanças. Fronteiras e alianças entre países se alteram. Edgar. O método 5: a humanidade da humanidade. as in- terações entre os indivíduos permitem a perpetuação da cultura e a auto-orga- nização da sociedade. entre tantos outros acontecimentos. No caminho para a escola. a internet nos colocam a par dos acontecimentos e produ- zem. produtivas e de traba- cha/Arq lho entre os indivíduos. O último século apresentou profundas e intensas transformações no mo- do de viver em sociedade. Cada um desses termos contém os outros. institui- ções tradicionais da política ora ganham.] a cultura e a sociedade permitem a realização dos indivíduos. Contemporâneo chega a ser sinônimo de novo na socieda- de de hoje. indivíduo e sociedade influenciam um ao outro Filipe Ro o tempo todo. As transformações da sociedade e as Ciências Sociais De algum modo todos participamos das coisas que acontecem no mun- do. Não só os indivíduos estão na espécie. que aparecem nas capas de revistas e jornais nas bancas.indd 10 5/28/13 8:39 AM . mobilizações sociais convergem e divergem sobre problemas e solu- ções para os problemas de seu tempo. [. A TV. antes de tudo. a reforma da escola.. outros acontecimentos. eles próprios. O ser humano define-se.. de certo modo. a sua cultura. a safra de milho ou de café que está escoando pelas estra- das e portos brasileiros. o rádio. não só os indivíduos estão na sociedade. mas a sociedade também está nos indivíduos. desde o nascimento deles. Ser contemporâneo é “estar no mun- do”. Isso significa que editora participamos de um complexo conjunto de grupos sociais que mantêm laços uivo da entre si pela língua. ed. interligadas. artistas buscam ser ouvidos. você vai se inteirando do que ocorre com notícias que martelam seus ouvidos na emissora de rádio sintonizada. MORIN. 2005. seja por que as estudamos. as grandes potências econômicas tentam manter sua posição dominante. ora perdem credibilidade. 51-52. Tudo ganha dimensões gigantescas. parecendo fugir ao nosso controle. O sociólogo francês Edgar Morin (1921-) mobiliza nossa com- preensão sobre a relação indivíduo/sociedade que vai se apresentar nos capítu- los deste livro. poderemos perceber o que é “ser contemporâneo”. avanços tecnológicos surpreen- dem. a quantidade e a variedade de informações aumentam. mas também a espécie está nos indivíduos. e que diz respeito à nossa própria forma de organização social. no presente. mesmo sem querer. a recente crise econômica na Europa. seja por estarmos atentos ao que acontece à nossa volta: um show da banda preferida. Assim. captar o espí- rito do nosso tempo. a eco- nomia se torna mundialmente interligada. 3. pela cultura e pelas relações pessoais. É um verdadeiro bom- bardeio com informações que nos dizem e não nos dizem respeito. cultural e social da reali- dade complexa que existe sob a aparência das mudanças sociais. As relações so- ciais continuam assimétricas. passa o cargo ao seu sucessor. e telefones celulares nos localizam em qualquer lugar e nos permitem locali- zar quem quisermos. o poder e as relações sociais. reproduzindo a estrutura social. o mundo torna-se “pe- queno”. processos e estruturas de apropriação ou distribuição das riquezas e da dominação da sociedade capitalista. baseia-se em alguns princípios que se reiteram ao longo da história. informatizada. As Ciências Sociais apresentam-se para analisar e tentar explicar o que está acontecendo no âmbito político. em 2012. As Ciên- cias Sociais indagam constantemente sobre o que se altera e o que perma- nece. imigrantes durante manifestação em Milão. Casa Fora do Eixo Minas/Flickr/Creative Commons Reuters/Latinstock Cenas da vida contemporânea: jovens fazem grafitagem no viaduto Santa Tereza. Embora a realidade em nosso entorno se mostre com novas roupagens. Viver na sociedade contemporânea: a Sociologia se faz presente • 11 Sociologia_vu_PNLD15_009a036_C01. Ligados em rede. nem a técnica ou a informática alteraram a natureza essencial das relações sociais. a caneta que usamos na escola muitas vezes nem é produzida em nosso país. econômico. enquanto computadores são fabricados de todas as formas e tamanhos. Marco Busato/Demotix/Corbis/Latinstock Nelson Mandela. em junho de 2012. Ou seja. O sociólogo brasileiro Octavio Ianni (1926-2004) a1rma que a socie- dade atual. Itália. nem a ciência. mas não necessariamente mais igual.indd 11 5/28/13 8:39 AM . o então presidente da África do Sul. mais próximo. Frederik de Klerke. moderna. Para aqueles que têm acesso à comunicação. vemos a necessidade de nos adaptar a valores e situações em rápida mutação. entre pessoas e nações. As Ciências Sociais se dedicam a estudar a cultura. em Belo Horizonte. Algumas mudanças nem as vemos. o modo como a sociedade se organiza perdura em suas características gerais. em 1994 – eleito após um período de mais de quatro décadas em que negros foram privados de seus direitos políticos. burguesa. o que rompe com estruturas antigas e o que se constitui como novo na sociedade. tão acostumados estamos ao seu rit- mo e amplitude: chips minúsculos controlam grandes máquinas e sistemas. o sociólogo estadunidense Immanuel Wallerstein (1930-) afirma que as Ciências Sociais constituem agrupamentos coerentes de objetos de estudo dis- tintos uns dos outros e são constituídas por várias “disciplinas” além das mencionadas – por exemplo. e seus principais ramos de co- nhecimento são a antropologia física e a antropologia cultural. o mercado. a passaram por poucas mudanças. Nessa época. Além da Sociologia. trabalho digno. há quem defenda que as Ciências Sociais poderiam compreender outros campos do conheci- mento. 12 • CAPÍTULO 1 Sociologia_vu_PNLD15_009a036_C01. principalmente à institui- ção do Estado e suas formas de organização e os proces- sos de tomada de decisões políticas. jetos. a política e a economia se constituem em campos autô- Sociologia acompanha os questionamentos que a so. e tam- as relações sociais e suas desigualdades. políticas e econômicas. em um contexto de signi1cativas mudanças sociais. diferentes bém de ciências exatas e biológicas. novas questões sociais surgiram. A partir desses pro- costumes e o modo de homens e mulheres se organi.indd 12 5/28/13 8:39 AM . há propostas de atividades descobriremos inúmeras questões sociológicas sobre que integram diferentes áreas das humanidades. Mili russo manuseia Militar i equipamento i béli bélico dde controle l dde d drones (veículos aéreos não tripulados) em Khmelyovka. respeito humano. saú- de. As primeiras inquietações da Sociologia A Sociologia nasceu. no século XIX. Foto de 2011. A divisão entre as disciplinas das Ciências Sociais – uma visão crítica Atenta aos problemas próprios de cada época. Trataremos desses outros dois ramos das Ciências Sociais ao abordarmos os temas relacionados aos seus objetos de pesquisa. diferentes disciplinas influencia a vida social. Este é o modo como a Sociolo. riam as Ciências Sociais. A An- tropologia estuda o ser humano em suas dimensões de origem. Uma teoria social consiste em um que acha? Como podemos superar essas divisões dis- conjunto de conceitos inter-relacionados de forma ciplinares ao estudarmos os fenômenos sociais? coerente para explicar fenômenos sociais. nomos que podem ser analisados separadamente – ciedade se coloca e os enfrenta por meio da constru. No estudo “Análise dos sistemas mundiais”. quando. os fenômenos de que tratam as dis- ção de teorias sociais. Esse sociólogo recorda o debate que exis- te sobre se a Geografia e a História também integra. resultando em revoltas e mobilizações do povo por moradia. Porém. você pode discutir de que forma a integração de zarem para viver em sociedade. Ao longo deste livro. Kirov. A Ciência Política volta o seu olhar para os fenô- menos relacionados ao poder. muitas pessoas dei- xavam o meio rural rumo às cidades. entre outros aspectos. formas de organização cultu- ral. na Europa ocidental. E você. como veremos mais detalhada- mente no capítulo 2. estruturas e relações sociais elas afirmam a visão de que o Estado. para ele. Neste livro. os processos. Rússia. Igor Zarembo/Ria Novosti/Agência France-Presse basicamente. a Antropologia e a Ciência Política. a Economia. o gia trabalha. que viram uma expansão desenfreada em termos de população e de pobreza. desenvolvimento. integram as Ciências Sociais. Com isso. Apesar do progresso técnico-científico visto no Wallerstein critica a divisão em disciplinas porque último século. ciplinas das Ciências Sociais são interligados. ainda. tradições e valores sociais domi- nantes. em geral. e ainda é. Os fundadores da Sociologia. dentre Reprodução/Fundação Biblioteca Nacional. de compreender como velhas questões sociais se reproduzem nesse novo. mos- trando como as mudanças nas formas de conviver e de trabalhar repercu- tiram e repercutem nas condições de vida da população. a 1m de garantir a manutenção da ordem social vigente. uma questão crucial para a Sociologia. as diferentes áreas das Ciências Sociais puderam iden- ti1car como se produziam e se produzem desigualdades em diferentes mo- mentos da história da nossa sociedade. Até então. transformam-se em desi- gualdades e são justi1cadas. por exemplo. alta mortalidade da população e Aquarela de Jean-Baptiste Debret (1768-1848) publicada marginalização social de alguns grupos. regras. No entanto. As diferenças de gênero (entre homens e mulheres).indd 13 5/28/13 8:39 AM . outras. que serão estudados no capítulo 2 deste livro. chamada naturalista. que essas normas poderiam ser justi1cadas por fatores biológicos e divinos. crises sociais cíclicas. Viver na sociedade contemporânea: a Sociologia se faz presente • 13 Sociologia_vu_PNLD15_009a036_C01. já que estes autores foram formados em universidades daquele desigualdades de gênero e continente. etnia nas relações sociais são. Ela se propõe a perceber o novo sem perder a capacidade ordem social vigente. Pensava-se. buscaram explicar dife- rentes mudanças sociais ao lidarem com problemas como migrações em massa. É importante notar que há uma rela- no livro Viagem pitoresca e ção muito forte das primeiras teorias sociais com o contexto social europeu histórica ao Brasil. essas desigualdades provocam tensões e movimentos. predominava a visão de que as desigualdades sociais e econô- micas eram fenômenos naturais. Rio de Janeiro. em contextos especí1cos. quando se consolidou o sistema econômico em que vivemos atualmente – o capitalismo –. não acredita que seja necessário realizar pesquisas para entender a posição dos indivíduos na sociedade. de ori- gem étnica ou regional. As da época. RJ. a Sociologia está ligada às condições de cada garantir a manutenção da época e contexto. Explicar por que a sociedade é desigual e como ela se altera ao longo do tempo era. os segmentos marginalizados e as minorias são postos em situação de desvantagem. A partir do século XVIII. multidões de desamparados sem trabalho. justificadas ideologicamente para Como uma ciência histórica. Pensava-se que o lugar de cada um já estava deter- minado para sempre pelas normas. A fundação de uma Ciência da sociedade rompeu com essa visão. Os estudiosos da vida social perguntavam-se: por que tantos seres humanos estão relativa- mente à margem do consumo dos bens e do usufruto de direitos? Quando os indivíduos de uma sociedade acentuam as diferenças entre si. Essa concepção. as formas como os indivíduos se apropriam dos recursos da natureza e dos bens produzidos passaram a ser cada vez mais importantes para o pensamento social. Nessa re2exão sobre a realidade das relações sociais. disfar- çadas ou mesmo negadas por aqueles que exercem a domina- ção. como os valores religiosos. costumes. Com quais delas você imagina que a Sociologia se século XIX. de outubro de 1843. Só se encontra água nas bombas públicas e a dificuldade para ir buscar favorece naturalmente toda a imundície possível. p. 1986. de uma única sala – onde. por outro lado. Nesta parte da cidade não há nem esgotos nem banheiros públicos ou sanitários nas casas. 47. Esta gravura do 2. tal acumulação de andares que a luz mal pode penetrar no pátio ou na ruela que os separa. por outro lado. sempre mal mobiliada e invaria- velmente inabitável. Depois da leitura. na Inglaterra. In: ENGELS. retrata pessoas no bairro operário de Whitechapel. O aumento desenfreado da urbanização a partir da Revolução 1.. PAUS A PA R A R E F L E T I R Leia o relato de uma revista inglesa sobre as ruas de um bairro industrial em Edimbur- go. manifestações culturais! 14 • CAPÍTULO 1 Sociologia_vu_PNLD15_009a036_C01. Whitechapel. na Escócia. de tal modo que. Por que esse assunto continua sendo estudado pelos cientistas sociais? A resposta está em nosso cotidiano. há uma massa de excrementos secos com emanações nauseabundas. gostos. a maior parte das casas.. interesses. Das condições de moradia dos trabalhadores Estas ruas são em geral tão estreitas que se pode saltar de uma janela para a da casa da frente. representam um perigo ex- tremo para a saúde dos habitantes [. Como são diferentes os indivíduos e grupos sociais em seus hábitos. compõe-se. Artigo da revista inglesa THE ARTIZAN. ca- ma onde se deitam. ria sido a principal preocupação dos primeiros soció- logos? A Sociologia se preocupa com a desigualdade social O fenômeno da desigualdade social é um tema presente na Sociologia clás- sica e na contemporânea. de autoria de ocupou no período? Por que o contexto europeu te- Gustave Doré e Blanchard Jerrold. São Paulo: Global. e é por isso que as imundícies. seja de que maneira for. responda às perguntas. apesar da lim- peza das ruas. intitulada Wentworth Street.]. e os edifícios apresentam. velhos e crianças. a ponto de um monte de palha ser- vir frequentemente de cama para uma família inteira. As habitações da classe pobre são em geral muito sujas e aparentemente nunca são limpas. Friedrich. em meados do século XIX. A situação da classe trabalhadora na Inglaterra. apesar da ventilação ser das piores. homens e mulheres. faz sempre frio por causa das janelas partidas ou mal-adaptadas – que muitas vezes é úmida e fica no subsolo. numa confusão revoltante. como. pelo menos. Basta dirigirmos um olhar mais atento às pessoas que nos cercam. em Londres. 50 mil pessoas são lançados to- das as noites nas valetas.indd 14 5/28/13 8:39 AM . Industrial fez com que grande parte da população tivesse péssimas condições de vida nas grandes cidades europeias. detritos ou excre- Album/akg-images/Latinstock mentos de. que não só ferem a vista e o olfato. Destaque as questões sociais apresentadas no texto. observando como elas vivem e como se comportam socialmente. uma vez que envolvem outras esferas da vida social. também a religião. por sua vez. como o direito a serviços de saúde e a compensações salariais por trabalho executado. a conformação física e a origem étnica das populações e indivíduos. direitos. Viver na sociedade contemporânea: a Sociologia se faz presente • 15 Sociologia_vu_PNLD15_009a036_C01. As desigualdades sociais. Portanto. a cultura e a pro1ssão estabelecem distinções entre indivíduos e grupos e interferem em suas relações. os trabalhos que reali- zam. sua remuneração e acesso ao consumo são diferentes e produzem ou reforçam a desigualdade. as desigualdades estão além da questão da posse de bens e da dimensão meramente econômica e jurídica. Há diversidade e desigualdade nos tipos de moradia em diferentes bairros e nos meios de transporte que a população utiliza rotineiramente. justi1cando-as pela Biologia e omitindo seu caráter so- cial. determinam quem tem maior ou me- nor acesso a bens. Da mesma forma. po- rém. como aponta o sociólogo alemão Georg Simmel (1858-1917). as desigualdades sociais estabelecem uma hierarquia. Muitas vezes. consistem em diferenças de acesso de indivíduos e grupos sociais aos bens materiais. conforme o público a que se destinam. originando a construção de uma identidade. Todas elas são.indd 15 5/28/13 8:39 AM . Em todas as instâncias estão presentes gradações e contrastes: nos shoppings e sua localização. para rea1rmar diferenças. como a idade. serviços. lanchonetes e bares com serviços e preços variados. PAUS A PA R A R E F L E T I R Laerte/Acervo do cartunista Pense sobre o signi1cado desta charge de Laerte. a uma sociedade ou a uma cultura. como quando provocam discriminação social e preconceitos contra mulheres ou negros. a direitos e a recompensas que a vida em sociedade propicia. Porém. Também são diversas as instalações físicas das escolas e as condições de ensino das pe- quenas e desiguais grandes cidades. De que ma- neira ela pode ser relacionada com a desigualdade presente em nossa sociedade? As Ciências Sociais mostram haver diferenças sociais que variam confor- me características que o senso comum considera apenas biológicas. Ou seja. diferenças sociais e podem despertar o sentimento de pertencer a um grupo. o sexo. se valem das característi- cas físicas e étnicas. nos restaurantes. 16 • CAPÍTULO 1 Sociologia_vu_PNLD15_009a036_C01. emergem novas dimensões da desigualdade. Bernardo Soares/JC Imagem Conforme a humanidade desenvolve suas tecnologias e formas de organização.] poderiam também ser grupos étnicos [. Muitas desigualdades sociais nascem dessa divisão social do trabalho e da riqueza produzida.]. exata- mente como sucede com termos tais como “distância” ou “mobilidade”. categorias de idade (como crianças. Pernambuco. serviços sociais. O adjetivo social despe o termo “estrutura” de sua conotação espacial. distâncias e hierarquias. Concebo a estrutura social.. portanto. podendo ser. como um sistema de relações hu- manas.. podemos citar aquela que passa pelo conhecimento e pelo acesso à informa- ção – desde a capacidade de ler e escrever na língua dominante em uma sociedade até o domínio das leis e dos meios tecnológicos propiciados pela Informática. Presente na história da humanidade. A noção de pobreza é. jovens. Stanislaw. Um exemplo é a sociedade contemporânea em que vive- mos. OSSOWSKI.indd 16 5/28/13 8:39 AM . anciãos). p. como investigaremos ao longo deste livro. que corresponde a um estado de carência material e social. portanto. etc. porquanto os grupos encarados como elementos na estrutura social não precisam ser classes sociais. distribuir e garantir o sustento de seus mem- bros. Rio de Janeiro: Zahar. [. o que é produzido pelos que se organizam para obter a sobrevivência acaba sendo apropriado de forma desigual entre aqueles que decidem e organizam a produção e os que trabalham.. adultos. cuja estrutura é predominantemente capitalista: nela. A estrutura social também é pesquisada pela Sociologia. enquanto a “mobilidade social” não se refere à mobilidade no espaço. A1rmar que a desigualdade faz parte da estrutura das sociedades não signi1ca a1rmar que ela é natural. tanto numa forma organizada quanto numa forma desorganizada.. [. Entre elas. Trata-se de uma condição histórica pela qual segmen- tos da população mundial sofrem com a escassez de recursos ou com sua má distribuição. A falta de acesso ao conhecimento e aos meios tecnológicos é uma das novas dimensões da desigualdade social no mundo globalizado. Estrutura de classes na consciência social. ações como a distribuição de computadores nas escolas públicas e a existência de telecentros comunitários dão suporte à inclusão digital.. não é o mesmo em to- das as partes do mundo. aos recur- sos para lazer.. Pelo contrário. a desigualdade é produzi- da e reproduzida pelos seres humanos em suas ações e na forma como criam diferentes níveis de acesso e valor a modos de vida. Podemos dizer que a pobreza é característica da estrutura social e tem relação com o modo como cada gru- po se organiza para produzir. ou seja.] O conceito de estrutura social é mais amplo que o de estrutura de classes. 21-22. 1976. Foto de 2012. por exemplo. a desigualdade tem entre os seus problemas a pobreza. relativa ao grau de desigualdade socioeconômica em uma região ou em um país. O conceito de pobreza não é universal. Alunos acessam a internet em uma escola pública de Arcoverde. A “distância social” não denota distância espacial. Nesse sentido. indd 17 5/28/13 8:39 AM . devido às relações étnico. As teorias de classe e a estratificação social Talvez você já tenha ouvido falar em mobilidade social. à agricultura ou à pecuária). no século XIX. podem potenciali- zar a desigualdade. o principal de1nidor da posição do indivíduo na estrutura social é a propriedade dos meios de produção – ou seja. namente da vida em sociedade. grupos e classes sociais pode se dar. fundamentam-se nas diferen- ças entre as classes sociais. ao con- trário. prevalecia a distinção entre senhores e servos. seus dependentes pessoais (os parentes e favoritos. levam alguém ou um grupo a ter uma posição menos privilegiada na sociedade? Sociedades capitalistas. Porém. os instrumentos de trabalho. etc. Mas quais condições favorecem a ascensão social ou. que é a possibili- dade de indivíduos e grupos mudarem de posição na sociedade. os funcionários domésticos e aqueles ligados ao se- nhor por vínculos de 1delidade. também organizações sociais em que esse conceito não se aplica. no dia a dia. A mobilidade de indiví- duos. Na Idade Média. assentada na noção de classes so- ciais como grandes interesses sociais agrupados e contrários um ao outro. na indivíduos ou grupos são impedidos. as classes sociais são grandes grupos que se diferenciam pelo poder econômico e político que possuem e pelo lugar que ocupam na produção e no consumo. os equipamentos. As sociedades grega e romana eram marca- das pelas desigualdades entre cidadãos e escravos. dividida em duas classes so- ciais fundamentais: a daqueles que são os proprietários dos meios materiais (os burgueses. Diz-se que essas rela- ções de obediência servil são relações de vassalagem. De modo geral. passa a dispor de melhores con- dições de vida. os servos e vassalos). em que boa parte da população europeia vivia em sociedades de or- ganização estamental. de usufruir ple- exclusão social do que um homem branco e rico. a sociedade se encontra. às relações familiares e sociais e ao aces- As desigualdades sociais variam em diferentes épocas e sociedades. por exemplo. Em linhas gerais. sujeitando-se ao capital – seja ele produtivo (ligado às indústrias de transformação e extração. Quando essas condições se somam. quando alguém ascende socialmente. A ex- clusão manifesta-se em aspectos re- -raciais e de gênero historicamente desiguais no país. como a brasileira. a fábrica. quem ordena (manda) é o “senhor” das terras e os que obedecem são seus “súditos”. uma mulher negra e pobre está muito mais sujeita à total ou parcialmente. Na sociedade capitalista. Os es- tamentos eram segmentos da estrutura social que se baseavam no ordena- mento dos poderes senhoriais. 1nanceiro Viver na sociedade contemporânea: a Sociologia se faz presente • 17 Sociologia_vu_PNLD15_009a036_C01. como exclusão social: situação em que será estudado mais adiante neste capítulo e também no capítulo 8. ou seja. Essa é a interpretação do 1lósofo alemão Karl Marx (1818-1883). lacionados à cidadania. criando e recriando formas de exclusão social. Assim. basicamente. Na sociedade capitalista. devido à sua escola- rização. donos do capital) e a dos que possuem apenas sua força de trabalho (os trabalhadores). à cultura. participação política ou pro1ssão. O estudo da História nos mostra que as relações desiguais vêm de longa data nas civilizações ocidentais. por sua vez. o banco. por exemplo. a maioria dos indivíduos vende sua força de trabalho. há outros fatores deter- minantes das desigualdades sociais. se ele possui ou não a terra. como as relações étnico-raciais e as de gênero. havendo so a benefícios econômicos e sociais. sociedade brasileira. Assim. vamos nos deter no pensamento social de Marx e de Weber sobre o fenômeno das classes sociais. Weber percebeu que as divisões de interesse econômico que criam clas- ses nem sempre correspondem a sentimentos de identidade e posições com- partilhadas na estrutura social. usam critérios simpli1cados para separar populações em grupos que nem sempre dizem respeito à experiência real que cada um tem na socie- dade. trans- portes. As diferentes socieda- des ocidentais e algumas não ocidentais foram apresentadas divididas em estratos e/ou camadas. Outros cientistas sociais não se restringem aos aspectos econômicos para apreender como se compõe a estrutura social. e varia de forma independente. Para ele. Assim. corretamente. uma “situ- ação de classe” é gerada quando um grupo de pessoas possui condições co- Filipe Rocha/Arquivo da editora muns com relação à possibilidade (ou não) de dispor de bens materiais (como certos tipos de casa ou aparelhos eletrônicos) e simbólicos (como o acesso a certos conhecimentos valorizados socialmente). e o poder em relação ao restante da sociedade. chamado classe quando os interesses com- partilhados geram consciência e ação. Para Marx. entre outros). assim. etc. Nem sempre os indivíduos ou grupos detêm esses três aspectos simultaneamente. a riqueza (a renda econômica e as posses). a qual se torna um agente social importante quando assume um foco para a ação coletiva. Weber a1rma que a posição social do indivíduo se deve a três fatores. indivíduos e grupos estão dispostos de modo hierárquico na estrutura social. Sua característica mais importante é que ele sempre pode ser convertido em mais capital. Com essa ênfase. segundo ele. como as que expressam as “classes sociais” A. que podem estar sobrepostos ou se apresentar de modo variado: o status. as classes são posições no mercado. mais que as ferramentas e equipamentos de trabalho. “o fator que cria ‘classe’ é um interesse econômico claro”. Marx tratou as classes como um fenômeno econômico e o con2ito entre elas (luta de classes) como uma série de choques de interesses materiais entre proprietários e não proprietários dos meios de produção. É o caso do sociólogo alemão Max Weber (1864-1920). o agrupamento que tem a mesma relação com os meios de produção muitas vezes só pode ser. ou seja.indd 18 5/28/13 8:39 AM . contrastando-os. a diferenciação pelo status ocorre em uma dimensão subjetiva. C. Os crité- rios mais complexos mesclam informações como rendimento. mais que dinheiro ou bens acu- mulados. o capital resulta das relações sociais desiguais no processo de divisão da riqueza produzida. Para Weber. por enquanto. Marx acentua um caráter diretamente político para a classe. B. decorrente da honra e do prestígio (ou seja. ocupação. D. Tanto o tema das classes sociais quanto o da estrati1cação social são mui- to discutidos na literatura sociológica. A posição de um indivíduo num sistema de estrati1cação é uma ques- tão controversa. do valor sim- bólico que a sociedade dá a um grupo ou indivíduo). O capital é. nem à sensação de identidade e pertencimento de classe. Nesse aspecto. (bancos. seguradoras. 18 • CAPÍTULO 1 Sociologia_vu_PNLD15_009a036_C01.) ou em serviços (comunicação. por comportarem diferentes concep- ções de divisão da sociedade na civilização ocidental. é um fenômeno da estratificação social. pois. separada da classe. Teremos oportunidade de estudar mais os autores clássicos da Sociolo- gia no capítulo 2. Inúmeras classi1cações da realidade social geralmente utilizadas na mídia. comércio. Uma das diferenças notáveis na concepção de classe social entre autores clássicos é que. e a visão de Bourdieu. Assim. Dentre esses fatores. entre outros. Foto de 2011. que acrescentam novos fatores ao es- tudo das classes sociais. o fenômeno de estrati1cação social traduz a presença de classes sociais em diferentes tipos de sociedade. dizendo de modo simpli- 1cado. ou a moderna (trabalhadores e capitalistas). podemos destacar as diferenças de poder que Olin Wright assinala dentro da classe trabalhadora. ou a sociedade antiga (escravos e senhores). a estrati1cação social seria um artifício para explicar a sociedade dividida. hábitos de consumo. O fim da hiperinflação e o aumento real da renda familiar observados nas duas últimas décadas fizeram crescer o poder de compra da população brasileira. Viver na sociedade contemporânea: a Sociologia se faz presente • 19 Sociologia_vu_PNLD15_009a036_C01. para Weber. que comporta uma estrutura de classes: as relações fundamentais entre os burgueses (capi- talistas) e o proletariado (trabalhadores). Gildo Lima/Agência A Tarde/Futura Press Consumidores aguardam abertura de loja de móveis e eletrodomésticos em Salvador. o estadunidense Erik Olin Wright (1947-) e o francês Pierre Bourdieu (1930-2002). O quadro na página seguinte sintetiza os critérios adotados por Marx e por Weber ao analisar as classes sociais. e não se confunde com o fenômeno das classes sociais. ou a medieval (servos e senho- res). por sua vez. de algum modo. moradia. escolaridade. sobre o papel do conhecimen- to e da cultura na sociedade moderna. vê o surgimento das classes sociais como um fenô- meno histórico próprio da sociedade capitalista moderna. além de trazer a contribuição de dois sociólogos contemporâneos.indd 19 5/28/13 8:39 AM . Marx. para aproxi- mar-se da realidade empírica. de acordo com o cargo ocupado. Bahia. como os bens culturais). • Os responsáveis pelo trabalho administrativo (os chamados trabalhadores de colarinho branco) são os gerentes do trabalho e têm uma posição contraditória: ora defendem os interesses dos patrões. próprias da sociedade capitalista. Ou seja. • Os grupos de classe são identificados pelos níveis de acesso a bens materiais e simbólicos (ou seja. e não se baseia apenas Pierre Bourdieu em fatores econômicos ou ocupacionais. A ênfase da teoria da distinção de classe está no consumo típico de uma sociedade de massa. Karl Marx • São duas as principais classes sociais modernas: os capitalistas (donos dos meios materiais de (1818-1883) produção) e o proletariado (aqueles que vendem sua força de trabalho aos capitalistas). Max Weber • As divisões de classes se originam em diferenças sociais baseadas no poder. há uma estrutura de classes. não materiais. uns são proprietários dos meios materiais de produção. Erik Olin Wright • Os trabalhadores não detêm controle sobre os meios de produção (terra. (1930-2002) • Os grupos de classe agregam ao capital econômico (material) um legado relativo ao conhecimento e à cultura (iniciação à Ciência. ora os dos empregados. sem que haja alteração na estru- tura de classes e nas desigualdades da sociedade brasileira? A Sociologia busca compreender a estrutura social mais ampla. mas também as relações entre as classes sociais. A indagação que se coloca é: será essa realmente uma “nova” classe social ou apenas um estrato social que se destaca no consumo de bens e serviços. na riqueza e no status. Elas se relacionam. insumos. desenvolvem gostos culturais e atividades de lazer. • As classes sociais são antagônicas e complementares: uma não existe sem a outra. equipamentos. mas não é o controle dos meios de produção que define as classes. • A classe capitalista controla os investimentos (o capital) e os meios físicos de produção. instalações. • Abordagem que combina aspectos das propostas de Marx e de Weber. • O lugar ocupado pelos indivíduos na sociedade tem a ver com sua posição econômica. 20 • CAPÍTULO 1 Sociologia_vu_PNLD15_009a036_C01. Traduz um conjunto de aspectos positivamente avaliados em uma sociedade: a riqueza (ou propriedade). No Brasil. • A distinção social é a diferenciação que existe entre indivíduos e grupos. • A sociedade é dividida em estratos ou camadas. definindo padrões de consumo e um estilo de vida próprio. (1947-) água. o poder (ou influência) e o prestígio (ou valor sociocultural) atribuídos a quem ocupa determinada posição social. tem chamado a atenção dos cien- tistas sociais a emergência do que se denominou uma “nova classe social”. outros detêm apenas sua força de trabalho. neste início do século XXI.indd 20 5/28/13 8:39 AM . As classes sociais – síntese de algumas teorias • Classes sociais são agrupamentos de indivíduos que estão em uma posição comum nas relações de produção. (1864-1920) • Status é uma dimensão subjetiva e separada da classe. um segmento da população obteve uma mobilidade social ascen- dente pela facilidade de acesso a bens de consumo e a novos hábitos sociais. marcando posição por seu poder aquisitivo. além de ter poder sobre a mão de obra. à Arte. etc. Buscam prestígio e ascensão social. subsolo.). à Literatura). correndo o risco de terem suas casas inundadas e seus pertences destruídos. publicada no jornal Folha de S.Paulo. princi- palmente na exploração dos europeus do século XIX sobre os latino-ameri- canos. ou. como nas relações de classe. esse fenômeno foi tratado por Max Weber como a probabilidade de encontrar submissão a uma determinada ordem por diversos motivos: conveniência ou mera inclinação pessoal ou costume. em tempos e sociedades diver- sas. em 2010. ainda. Por ser considerada injusta e desumanizadora. em geral. Há desigualdade também nas relações entre as diferentes etnias. em que a classe tra- balhadora se encontra subordinada ao capital. Viver na sociedade contemporânea: a Sociologia se faz presente • 21 Sociologia_vu_PNLD15_009a036_C01. outros se veem forçados a morar em regiões sujeitas a enchentes. Laerte/Acervo do cartunista Charge do cartunista Laerte.indd 21 5/28/13 8:39 AM . enquanto alguns cidadãos têm acesso a moradias seguras e a condições dignas de sobrevivência. a desigualdade tem sido criticada e combatida em diversas instâncias da sociedade. na dominação dos Estados Unidos sobre os países da América Latina no século XX. No Brasil. Ela se apresenta nas situações do cotidiano. nas relações sociais. As múltiplas expressões da desigualdade revelam o fenômeno da domi- nação social. vista de casas construídas ao lado do córrego Tabatinguera. Em sua origem sociológica. e também nas relações de gênero. por exemplo. Nesse aspecto. a dominação apoia-se em bases jurídicas que lhe dão “legitimidade”. a constituição do Esta- do como organizador do poder político institucionalizado contribui para um complexo ordenamento de deveres e direitos na sociedade. como a histórica opressão masculina. Na foto de 2008. Desigualdade social e dominação Marcelo Ximenez/Agência Estado A desigualdade social está presente em todo o mundo. asiáticos e africanos. sobre relações de gênero. Mas. em São Paulo. . Todo dia o sol da manhã vem e lhes desafia. Leia e re2ita sobre o fenômeno. da obediên- cia. Aí também existe o fenômeno da liderança. Sociologia: uma introdução crítica.. Os Paralamas do Sucesso. OS PARALAMAS do Sucesso. Há nele uma dose de tensão que o torna histórico [. porque são desiguais. farrapos. Cabem nele também os fenômenos de influência consensual como podem ser encontrados num grupo de amigos. da administração pública). pardos e negros aparecem em pequeno número. filhos da mesma agonia.indd 22 5/28/13 8:39 AM .]. numa família. do seguimento de normas. sempre presente e atual na sociedade. por exem- plo. os afrodescendentes são historicamente discriminados no mercado de trabalho e em outras instituições. No dia a dia podemos perceber o quanto a sociedade brasileira reproduz formas de discriminação a indivíduos de grupos sociais distintos. Os meios de comunicação e o sistema educacional muitas vezes reforçam essas formas de discriminação social. trapiches. pondera o so- ciólogo brasileiro Pedro Demo (1941-). embora constituam 22 • CAPÍTULO 1 Sociologia_vu_PNLD15_009a036_C01. Em sua teoria da dominação. D E BAT E Reunidos em grupos. com base na letra da música e na leitura deste capítulo. os dois lados se repelem. A dominação é fenômeno de comando de um grupo sobre outro e su- põe que os dois lados estejam condicionados a essa situação. reproduzindo a desigualdade. com os punhos fechados na vida real lhes nega oportunidades. mostra a face dura do mal. Alagados. numa comunida- de religiosa. p. porque um não existe sem o outro. Pelo fato de a autoridade ser aceita ou eleita pela maioria e até mesmo por aclamação geral. E a cidade que tem braços abertos Filipe Rocha/Arquivo da editora num cartão-postal. Weber reconhece três tipos puros de domi- nação social: a legal (presente na obediência às leis e às ações da burocracia. Pedro. 1986. o que não signi1ca que estes não se rebelem. 27-28. em função de virtudes pessoais). há os dominantes e os dominados. traz do sonho pro mundo quem já não o queria: palafitas. Quer dizer. São Paulo: Atlas. Nos anúncios publicitários. 1983. é fenômeno dialético. Nessa lógica. ou seja. como desigualdade. debatam sobre os contrastes sociais vividos pela população brasileira. Assim co- mo as mulheres. isto não retira o âmago da questão: há desigualdade. EMI. DEMO. a tradicional (presente na relação entre senhor e súditos) e a carismática (proveniente da devoção afetiva a um lí- der/herói. A dominação. mas se atraem. porque estabelece uma “identidade de contrários”. respondendo no caderno às seguintes questões: a) Qual é a posição do autor da charge em relação ao preconceito? b) Como a charge se relaciona com o conceito sociológico de dominação? Que mecanismo descrito no capítulo melhor se relaciona à ideia trazida pelo cartunista? Viver na sociedade contemporânea: a Sociologia se faz presente • 23 Sociologia_vu_PNLD15_009a036_C01. racistas durante uma partida em 2010. PAUS A PA R A R E F L E T I R Angeli/Folha de S. As classes domi- Manoel. o que se observa na prá- tica é que as coisas nem sempre ocorrem como o esperado. investem para que seus 1lhos estudem em instituições onde convivem ape. do Atlético-PR. Em 2012. Para isso.Paulo Observe esta charge do cartunista Angeli. Os estudos sociológicos sinali- zam que devem ser oferecidas oportuni- dades aos jovens para que possam se ex- pressar e discutir sobre as diferenças sociais. o atleta venceu processo por nas com outros jovens da mesma classe. • Em grupos. Heuler Andrey/Agif/Folhapress cerca de metade da população brasileira. procuram garantir aos jogo pelo Campeonato membros de suas famílias a ocupação de posições privilegiadas. No entanto. durante nantes. Brasileiro de 2010. a nossa sociedade é desigual na forma como se estabelecem as relações étnico-raciais. as relações de gênero e uma série de outras relações simbólicas.indd 23 5/28/13 8:39 AM . intelectual. política e economicamente. Para além da desigualdade de classes. É principalmente no ambiente escolar que os jovens constroem e rea1rmam sua identidade. descrevam a charge e discutam o seu signi1cado sociológico. o que contribui para a reprodução injúria qualificada contra um jogador que lhe dirigiu ofensas da riqueza e dos privilégios sociais. Muitas vezes o acesso ao ensino garante participação diferen- ciada para os grupos sociais. conforme veremos no capítulo 10 deste livro. reproduzin- do tendências elitistas. como estudaremos no capítulo 9. elite refere-se a uma fração da classe dominante que detém o poder.ibge. Homens DO SUL zados e qualificados são atingidos Mulheres Por cor ou raça 2 857 0 460 km Branca 1 534 Fonte: IBGE. pois há uma substancial diferença de valores entre os rendimentos e as posses dos RORAIMA mais ricos e os dos mais pobres. empreendimentos residenciais que oferecem diversos serviços aos moradores sem que eles tenham de sair do condomínio. a região viu surgirem. econômicas e políticas. Acesso em: 16 jan. Segundo o pensamento sociológico tradicional. como dominação social coloca-nos diante da presença de estudaremos mais adiante. nas últimas décadas. A distribuição das riquezas produzidas A análise dos fenômenos das classes sociais e da também por novas formas de exclusão social. O Brasil: renda per capita (2010) Brasil é um dos países com maior con- Portal de Mapas/Arquivo da editora 50° O centração de renda no mundo. Ele dis- tingue a elite ampla – o conjunto de indi- víduos que chegou a um escalão elevado da hierarquia pro1ssional – de uma elite governante – um grupo mais restrito de indivíduos da elite ampla que exerce fun- ções de direção política. econô- micos e/ou políticos à população e dela se mantém distante. 685 a 826 GROSSO DO SUL SÃO PAULO nificativas da população empobreci. 1 286 a 2 177 SANTA ATLÂNTICO CATARINA fabetismo. RONDÔNIA TOCANTINS SERGIPE quezas é histórico-estrutural no Brasil BAHIA MATO GROSSO e decorre de fatores como a herança Valor do rendimento médio mensal (R$) DF do sistema escravista e a falta de re. Indicadores de desenvolvimento sustentável Preta ou parda 468 2010. Vista aérea da avenida Lúcio Costa e entorno no bairro da Barra da Tijuca (RJ). ricos e pobres em nossa sociedade. a elite impõe seus padrões ao restante da população e dela se mantém distante.Equador AMAPÁ 0° versa e injusta a nossa distribuição de renda e de oportunidades sociais.br/home/geociencias/ recursosnaturais/ids/ids2010.indd 24 5/28/13 8:39 AM . 24 • CAPÍTULO 1 Sociologia_vu_PNLD15_009a036_C01. impõe seus padrões culturais. Co. no livro Os sistemas socialistas. Distante da zona central da cidade e próxima à praia. ACRE ALAGOAS O problema da distribuição das ri. Para Vilfredo Pareto. Ao empregar o termo pela primeira vez. o sociólogo italiano Vilfredo Pareto (1848-1923) insti- Ruy Barbosa Pinto/Flickr/Getty Images tuiu a conhecida teoria das elites. compostas de famílias numerosas 1 046 a 1 285 PARANÁ OCEANO que vivem o drama da fome e do anal. 588 a 684 MINAS GERAIS ESPÍRITO MATO SANTO A exclusão histórica afeta parcelas sig. RIO GRANDE DO NORTE mo se pode observar no mapa. Foto de 2012. Total GOIÁS formas sociais. Disponível em: <www. 827 a 1 045 Trópico de Capricórnio RIO DE JANEIRO da. a renda AMAZONAS PARÁ MARANHÃO CEARÁ per capita entre os estados brasileiros PARAÍBA PIAUÍ PERNAMBUCO também é muito desigual. É per. 2013. Desde a década de 1990. em 1902. Por sexo RIO GRANDE milhões de desempregados escolari.pdf>.gov. realize. n. D E BAT E • Considerando o que foi exposto neste capítulo. c) Sistematize as informações de sua pesquisa para utilizá-las no debate. do aparelhamento do estado e de peculiares estratégias econômicas. simbolicamente. Sociologias. deparamo-nos. Viver na sociedade contemporânea: a Sociologia se faz presente • 25 Sociologia_vu_PNLD15_009a036_C01. Disponível em: <www. uma forma de produzir. em especial no item “Desigualda- de social e dominação”. Hoje. escolher um juiz para coordenar os trabalhos. por parte de minorias poderosas que desenvolvem contínuo trabalho de legitimação e reforço da posição que ocu- pam. Porto Alegre. 2013. KIELING. Antonio. por parte das classes dominantes. arregimentando a sociedade em torno de um conjunto de ideias e valores que sustentam. político e ideológico. ano 9. Assim. 170-187. for- mação pro1ssional e emprego é transferida aos indivíduos. com uma sólida relação entre domínios econômico. CATTANI. a responsabilidade de conseguir instrução. Acesso em: 10 jan.-dez. Francisco.br/scielo. p. Os temas debatidos serão: – Por que os jovens brasileiros têm di1culdade para encontrar espaço no mer- cado de trabalho? – Será o trabalhador o único responsável por seu aprimoramento pro1s- sional? a) Antes de tudo. 18. formar um grupo. A escolarização das classes abastadas. seus agentes sociais descobrem o que são e o que fazem. que responsabiliza o trabalhador pelo próprio desemprego e por não investir na própria formação e quali1cação. valendo-se das instituições da sociedade civil. a ênfase dada à educação como meio de ascensão na socie- dade parece insu1ciente para garantir oportunidades para todos. Mas será que boa formação pro1ssional e alto grau de instrução garantem empregos e salários condizentes? A resposta nem sempre tem sido positiva./2007. com a orientação do professor. – o discurso da quali1cação. pesqui- sa e leituras prévias sobre: – o papel do Estado na promoção de educação formal e pro1ssionalizante aos jovens brasileiros. jun.php?script=sci_arttext&pid=S1517-45222007000200009>. Por essa razão. de nos fazer acreditar que esses fenômenos são algo “natural”. mais do que em outros períodos. será necessário: formar uma equipe para apresentar argumen- tos e evidências que contribuam para a defesa de um ponto de vista. b) Para se preparar para o debate. o corpo de jurados. o sociólogo francês Pierre Bourdieu diz que o conhecimento exerce um efeito libertador: por meio dele a sociedade re2ete e volta o olhar sobre si. no Brasil. devendo votar as diferentes opiniões mediante justi1cação do voto.indd 25 5/28/13 8:39 AM . Os autores do texto a seguir chamam a atenção para a sutileza do fenô- meno da dominação social. você vai realizar uma atividade de júri simulado com seus colegas. organizar e distribuir os bens sociais de maneira extremamente desigual. O estudo da Sociologia nos revela os mecanismos de poder e as tentativas.scielo. Histórica e concretamente. Leia-o com atenção. Permanece na cultura brasileira e em outros países a ideia de que a busca e a obtenção de oportunidades dependem exclusivamente do querer e da vontade de cada um. Pensamento sociológico sobre o Brasil No Brasil, a Sociologia firmou-se como Ciência em Brasil (1942) e Cruz das almas (1951), também trouxe- resposta às indagações da sociedade, descortinando a ram sua contribuição. Cientista social importante, o diversidade cultural, as desigualdades sociais, as dife- antropólogo francês Claude Lévi-Strauss (1908-2009) renças regionais. Perspectivas analíticas diversas com- viveu no Brasil e produziu trabalhos sobre os indíge- preendem e explicam os grupos e as classes sociais em nas, entre eles, Tristes trópicos (1955). sua situação histórica, como fez o sociólogo brasileiro Após a década de 1930, a temática sociocultural Florestan Fernandes (1920-1995), para quem o conheci- esteve presente em interpretações com diferenças teó- mento sociológico crítico é capaz de alertar a consciên- rico-metodológicas e ideológicas. Obras consagradas, cia social sobre o curso dos acontecimentos históricos. como Evolução política do Brasil (1933) e Formação do A estrutura social, a formação econômica e políti- Brasil contemporâneo (1942), de Caio Prado Júnior ca, as relações de trabalho, o processo de industrializa- (1907-1990), Casa-grande & senzala (1933), de Gilberto ção do país, a dinâmica rural-urbana e outras questões Freyre (1900-1987), e Raízes do Brasil (1936), de Sérgio relacionadas à diversidade de um país de proporções Buarque de Holanda (1902-1982), marcaram a institu- continentais: estas foram algumas das temáticas abor- cionalização da Sociologia no país e levaram gerações dadas pelos intelectuais do século XX que se debruça- a conhecer as origens europeia, africana e indígena do ram sobre a nossa realidade. povo brasileiro. Alguns autores brasileiros do início do século pas- As preocupações culturais dessas análises socioló- sado mesclaram estudos de história, política e socieda- gicas deram lugar, ao longo do século XX, às questões de para o reconhecimento de uma identidade cultural políticas, como a formação da nação e das instituições da nação, na tentativa de apreender um sentimento de e a atuação do Estado brasileiro. Muitos estudos sobre “brasilidade”. Entre eles, destacam-se Silvio Romero o desenvolvimento econômico e social, realizados em (1851-1914), com Ensaios de Sociologia e literatura meados desse século, analisaram a questão agrária e a (1901), Euclides da Cunha (1866-1909), autor de Os ser- modernização da sociedade, a formação da classe ope- tões (1902), e Oliveira Vianna (1883-1951), que escre- rária e do empresariado industrial, o nacionalismo eco- veu Populações meridionais nômico, o sindicalismo e os Reprodução autorizada por João Candido Portinari/Imagem do acervo do Projeto Portinari/Coleção particular do Brasil (1920). governos ditos “populistas”, Também autores estran- entre outros temas. Dessa ge- geiros pesquisaram a socie- ração destacam-se: Florestan dade no Brasil e aqui fizeram Fernandes, Hélio Jaguaribe escola, como o sociólogo (1923-), Celso Furtado (1920- francês Roger Bastide (1898- -2004), Octavio Ianni e Juarez -1974), um dos cientistas so- Brandão Lopes (1925-2011). ciais que integraram a mis- Outro tema que marcou são europeia trazida à Uni- os estudos sociológicos bra- versidade de São Paulo (USP), sileiros foi a história social do em 1938. Lecionou Sociolo- trabalho no país, do escravo gia, especializou-se no estu- ao trabalhador livre, do ho- do de religiões afro-brasilei- mem do campo ao da cidade, ras e foi parceiro de Florestan além de análises da composi- Fernandes na obra Brancos e ção étnica da classe traba- negros em São Paulo (1958). lhadora. Diversas pesquisas O francês Jacques Lambert, foram publicadas, como As me- autor de Os dois Brasis (1959), tamorfoses do escravo (1962), e o norte-americano Donald de Octavio Ianni, A integração Pierson (1900-1995), que es- do negro na sociedade de clas- creveu Teoria e pesquisa em Retirantes, óleo sobre tela de Candido Portinari, de 1944, ses (1965), de Florestan Fer- Sociologia (1965), Negros no revela o olhar do artista sobre as questões sociais do país. nandes, História econômica 26 • CAPÍTULO 1 Sociologia_vu_PNLD15_009a036_C01.indd 26 5/28/13 8:39 AM Fundação Gilberto Freyre, Recife, Pernambuco. do Brasil (1953), de Caio Prado Júnior, Sociedade in- dustrial no Brasil (1964), de Juarez Brandão Lopes, e A imigração e a crise do Brasil agrário (1973), de José de Souza Martins (1938-). Na transição do século XX para o XXI, alguns dos temas tratados pelos sociólogos brasileiros fo- ram a transição da sociedade agroexportadora pa- ra a urbano-industrial, o preconceito racial no país e a relação entre a realidade local e a global. Casa-grande do Engenho Noruega, antigo Engenho dos Bois, em Pernambuco. Ilustração aquarelada de Cícero Dias para a primeira edição do livro Casa-grande & senzala, de Gilberto Freyre, 1933. PESQUISA Em grupos, sua turma vai realizar uma pesquisa bibliográ1ca sobre um ou mais so- ciólogos brasileiros. 1. O professor realizará uma enquete em sua turma com o tema: “Qual é a principal preocupação da comunidade, bairro ou cidade onde você vive?”. 2. Uma vez tabulado o resultado, os grupos pesquisarão como a Sociologia brasilei- ra estuda a questão mais indicada pela enquete. a) Descubram qual(is) sociólogo(s) apresentado(s) no boxe “Pensamento socio- lógico sobre o Brasil” tratou(aram) dessa questão. Então, com a orientação do professor, pesquisem textos (do próprio autor e/ou de comentaristas) que expliquem como esse problema é abordado pelo(s) autor(es) selecionado(s). b) Elaborem um relatório que sintetize as principais contribuições do(s) autor(es) pesquisado(s) com relação a esse tema. Apresentem, também, uma biogra1a resumida dele(s), destacando sua trajetória, suas principais obras publicadas e outros temas estudados por ele(s). Globalização e novas questões sociais As novas questões sociais colocadas pelo acelerado processo de mudan- ças nas últimas décadas dizem respeito aos fenômenos ligados à globalização econômica, à exclusão social, ao crescimento do desemprego e aos avanços da Ciência e das tecnologias de informação. Outras questões também ga- nham espaço nas discussões sociológicas, como o esgotamento dos recursos naturais do nosso planeta, os desa1os para chegar ao respeito à diversidade e à coexistência pací1ca e integração entre as diferentes etnias, e o aprofun- damento das desigualdades no interior das nações e entre os países. Viver na sociedade contemporânea: a Sociologia se faz presente • 27 Sociologia_vu_PNLD15_009a036_C01.indd 27 5/28/13 8:39 AM Tim Graham/Getty Images Contraste entre a riqueza e a pobreza em Mahalaxmi, bairro de Mumbai, Índia. Foto de 2011. As aceleradas mudanças vistas nas últimas décadas ainda não se refletiram em soluções abrangentes para os problemas de infraestrutura, desemprego, baixa remuneração e falta de serviços sociais de qualidade que afetam bilhões de pessoas. Ainda que apareçam novas questões sociais, como a da globalização, muitos problemas que a sociedade de hoje enfrenta provêm de fenômenos anteriores, entre eles a desigualdade social e as alterações no mundo do trabalho. Leia com atenção este texto sobre o contraste da realidade social que o cientista político argentino Atílio Boron (1943-) nos apresenta. Ainda vivemos num mundo onde metade da humanidade deve sobreviver com pouco mais de um dólar por dia, ou em que o trabalho infantil sob regime de servi- dão supera com folga o número total de escravos existentes durante o apogeu da escravidão entre os séculos XVII e XVIII; onde pouco mais da metade da população mundial carece de acesso a água potável; ou onde o ambiente e a natureza são agredidos de modo selvagem. BORON, Atílio. Filosofia política marxista. São Paulo: Cortez; Buenos Aires: Clacso, 2003. p. 43-44. A globalização é um fenômeno político-social com dimensões culturais, acentuado a partir das últimas décadas do século XX. Caracteriza-se pela internacionalização das economias, possibilitada pelas novas tecnologias de informação, como a rede mundial de computadores. Nesse processo em es- cala mundial, as relações sociais se intensi1cam; localidades distantes se li- gam e acontecimentos locais interferem e sofrem interferência de fatores de outras partes do mundo. Teorias recentes sobre a desigualdade social e econômica atribuem a responsabilidade por mudanças nas condições de vida e na posição social dos indivíduos e grupos sociais às modi1cações que a globalização causou. O sociólogo português Boaventura de Sousa Santos (1940-) destaca serem muitas as formas da globalização. Reconhece duas principais: a) o localismo globalizado, em que um fenômeno local é disseminado com sucesso, como a alimentação fast-food estadunidense, que foi levada ao resto do mundo; b) o globalismo localizado, que é um re2exo, nas condições de vida locais, de prá- ticas transnacionais (ou seja, de práticas que ultrapassam o espaço de um 28 • CAPÍTULO 1 Sociologia_vu_PNLD15_009a036_C01.indd 28 5/28/13 8:39 AM único país: por exemplo, a instalação de grandes empresas numa região, o que, às vezes, modi1ca ou até destrói a economia local). Nessa linha de raciocínio, Santos identi1cou uma divisão internacional dos países em relação à globalização. Os países desenvolvidos, aqueles que historicamente têm garantida sua posição na economia mundial, especiali- zam-se nos localismos globalizados, isto é, eles disseminam valores, compor- tamentos e hábitos culturais, bem como empresas e domínios econômicos. Já os países em desenvolvimento estão sob os efeitos da globalização e so- frem com as imposições de fora para dentro. São países que recebem in2u- ências externas e também exercem, em maior ou menor grau, alguma in2u- ência para além de seus territórios. O Brasil é um desses países onde coexistem localismos globalizados e globalismos localizados. Nesse caso, é um país emergente que está se inserindo de forma mais efetiva na economia globalizada nas últimas décadas, e cria localismos globalizados em países de maior fragilidade política, social e econômica como alguns países vizinhos latino-americanos. A globalização se mostra um campo de con2itos entre os grupos sociais, os Estados e aqueles que se encontram em posição subalterna. Mas os proces- sos de globalização não acontecem sem resistências, ao contrário, Estados- -Nações, regiões, classes ou grupos sociais lutam contra as trocas desiguais entre os países, a exclusão social, a dependência e a desintegração. O mundo globalizado desa1a os cientistas sociais a apreenderem a diver- sidade de acontecimentos, em diferentes níveis. Vivemos um turbilhão de situações e informações e somos instados a ter consciência dos fatos, ao mes- mo tempo que eles acontecem. As Ciências Sociais procuram explicar e ca- racterizar o processo e as mudanças sociais decorrentes da globalização, co- mo leremos na próxima página. A Sociologia está ligada ao tempo presente e às questões sociais emergentes, mas atenta à estrutura social que permanece, sendo uma ciência que dialoga com a História. Jasper Juinen/Getty Images Manifestantes ocupam a Plaza del Sol, na região central de Madri, capital da Espanha, em 19 de maio de 2011, em protesto contra as desigualdades e o desemprego resultantes da globalização econômica. O movimento dos “indignados” é um dos vários surgidos no mundo após a crise financeira de 2008, que atingiu seriamente a economia espanhola, entre outras. Viver na sociedade contemporânea: a Sociologia se faz presente • 29 Sociologia_vu_PNLD15_009a036_C01.indd 29 5/28/13 8:39 AM Matizes da globalização Malcolm Evans/Acervo do cartunista TUDO COBERTO, NADA COBERTO, A NÃO SER OS A NÃO SER OS OLHOS. QUE OLHOS. QUE CULTURA MAIS CULTURA MAIS CRUEL E CRUEL E MACHISTA! MACHISTA! Ch Charge d do cartunista t i t neozelandês l dê EEvans que expõe õ um llado d ddas dif diferenças na sociedade contemporânea. Embora a globalização possa ser associada a com- ções são um fenômeno de grandes proporções; a portamentos sociais que se expandem e tendem a se economia corporativa global é a forma econômica padronizar, estes movimentos não se dão de forma li- dominante e mais estudada de globalização, mas é near e unilateral. As sociedades têm visto um reforço apenas uma delas. nas diferenças, umas em relação às outras e mesmo O que estamos tentando nomear com a palavra glo- internas. Esses processos interculturais favorecem a balização? [...] ela abrange dois conjuntos distintos de reflexão sobre a própria cultura e o questionamento dinâmicas. O primeiro envolve a formação de processos de processos econômicos e sociais no âmbito do pró- e instituições explicitamente globais, como a Organiza- prio país. Permitem também o aprendizado de colo- ção Mundial do Comércio (OMC), mercados financeiros car-se no lugar do outro, do diferente, e respeitar ou- globais, o novo cosmopolitismo e os Tribunais Penais In- tros grupos e culturas. ternacionais de Guerra. As práticas e formas de organi- Nas sociedades contemporâneas, várias possibili- zação pelas quais operam essas dinâmicas constituem o dades de organização familiar, de trabalho, de partido que geralmente se concebe como global. Embora ocor- político, de relações de gênero, de religiões, de agrupa- ram parcialmente na escala nacional, são, em larga me- mentos étnico-culturais, de cidades, de empresas, entre dida, formações globais novas e evidentemente globais. outros, coexistem sem que uma só predomine. As ações O segundo conjunto de dinâmicas envolve [...] re- sociais são vividas de forma múltipla e simultânea. des e entidades transfronteiriças que conectam diver- Em oposição ao projeto de globalização econô- sos processos e atores locais ou “nacionais”, ou a recor- mica liderado pelos países ricos, surgem movimen- rência de questões ou dinâmicas específicas em um tos contra-hegemônicos, entre eles o Fórum Social número cada vez maior de países ou localidades. Entre Mundial, que envolve movimentos sociais em favor essas entidades e processos, estão, por exemplo, redes de diversas causas (ambientalistas, feministas, traba- transfronteiriças de ativistas envolvidos em disputas lhistas internacionais, defensores dos direitos huma- específicas e localizadas com uma agenda global explí- nos, entre outros) na construção de formas de resis- cita ou implícita, como ocorre com muitas organiza- tência, como veremos no capítulo 8 deste livro. ções de direitos humanos e ambientais; determinados As Ciências Sociais investigam esse conjunto de aspectos do trabalho nos Estados Unidos – por exem- processos e instituições em escala global e dão-nos a plo, a implementação de certas políticas monetárias e conhecer os matizes dessa dimensão ampliada da fiscais em um número crescente de países, muitas vezes sociedade, como o faz o antropólogo cultural india- com grande pressão do Fundo Monetário Internacional no Arjun Appadurai (1949-). As múltiplas globaliza- (FMI) e dos Estados Unidos. [...] SASSEN, Saskia. Sociologia da globalização. Porto Alegre: Artmed, 2010. p. 11-12. 30 • CAPÍTULO 1 Sociologia_vu_PNLD15_009a036_C01.indd 30 5/28/13 8:39 AM E N C O N T R O C O M O S C I E N T I S TA S S O C I A I S O texto a seguir aborda um dos muitos desa1os para a Sociologia hoje. Após a leitu- ra, re2ita e responda às questões. A globalização do mundo recria o objeto da Sociologia [...]. Como a globaliza- ção abala os quadros sociais e mentais de referência, os horizontes que se abrem com esse vasto, complexo e surpreendente processo permitem repensar critica- mente os conhecimentos já acumulados sobre a sociedade nacional e o indivíduo [...]. A Sociologia pode ser vista como uma forma de autoconsciência da realidade social. Essa realidade pode ser local, nacional, regional ou mundial, micro ou ma- cro, mas cabe sempre a possibilidade de que ela possa pensar-se criticamente, com base nos recursos metodológicos e epistemológicos que constituem a Socio- logia como uma disciplina científica. Isto significa que a Sociologia tem contribuí- do para pensar e constituir a sociedade nacional em várias modalidades, com- preendendo a sociedade civil e o Estado, os grupos sociais e as classes sociais, os movimentos sociais e as correntes de opinião pública, as formas de integração e os modos de antagonismos, as tensões e as lutas, as reformas e as revoluções, as tiranias e as democracias. IANNI, Octavio. A Sociologia numa época de globalismo. In: FERREIRA, Leila (Org.). A Sociologia no horizonte do século XXI. São Paulo: Boitempo, 2002. p. 24-25. 1. Você concorda com o autor quando ele a1rma que “a globalização do mundo recria o objeto da Sociologia”? Justi1que sua posição. 2. Você conhece alguma experiência de produção ou trabalho local que tenha refe- rência em nível global? Relate-a em um texto sucinto. O trabalho como grande questão social da globalização O sociólogo francês Robert Castel (1933-) localiza nas transformações do mundo do trabalho, sobretudo nas últimas décadas do século XX, gran- des ameaças que assombram a sociedade contemporânea: o crescimento do desemprego, a precarização do trabalho, a fragmentação da classe trabalha- uivo da editora Filipe Rocha/Arq dora, o comportamento individualista, entre outras que estudaremos no ca- pítulo 4. Esses fatores deixam parte da população mundial sem perspectivas de inclusão social, ou seja, de ter acesso a e de participar de determinadas instituições ou instâncias da sociedade, como o sistema educacional, o cui- dado com a saúde, os direitos sociais básicos. Políticas públicas de habitação, educação, trabalho são exemplos de meios para promover a inclusão social e atenuar as desigualdades sociais. A desigualdade no âmbito do trabalho vem sendo intensi1cada à medida que se ampliam os postos de trabalho precários, ou seja, sem estabilidade e com menos garantias para o trabalhador. Também se reduzem os empregos formais – no caso brasileiro, aqueles com carteira assinada e/ou cargos pú- blicos concursados. A diminuição da estabilidade salarial, que signi1ca salá- rio 1xo e pago em determinado dia do mês, tem provocado questões sociais preocupantes nas últimas décadas. Uma parcela dos trabalhadores se vê ameaçada de perder o emprego devido às oscilações no mercado de traba- lho ou ainda pelo fato de suas pro1ssões correrem o risco de desaparecer. Viver na sociedade contemporânea: a Sociologia se faz presente • 31 Sociologia_vu_PNLD15_009a036_C01.indd 31 5/28/13 8:39 AM indd 32 5/28/13 8:39 AM . não produzem e nem consomem. praia do Guarujá (SP). Já o índice de população indigente crescia de 19% em 2001 para 20% em 2003. 61. uma classe trabalhadora com grandes diferenças Ambulante vende cangas. p. Gilberto. na re- gião. quali1cação. a ampliação dos lu- cros. apurou que quase 9% das crianças menores de cinco anos sofrem de desnutrição aguda e 19% delas de desnutrição crônica. e hoje está ligado à globalização econômica. em 2008. um quadro grave e crescente de miserabilidade das suas sociedades. o que agrava as desigualdades sociais. pois. Como este. São consequências desse processo: o desempre- go. da Comissão Econômica para América Latina e Caribe (Cepal). a população latino-americana abaixo da linha de pobreza evoluiu su- cessivamente de 41% do total em 1980 (136 milhões de pessoas) para 43% em 2000 (207 milhões de pessoas). milhares social também em países europeus. o que aprofundou a crise informal. conforme veremos no capítulo 7. DUPAS. causam efeitos negativos irreversíveis. Esses são os “excluídos” do sistema capitalista. instabilidades e imperativos de legitimação. combinadas. não se restringem aos países pobres ou em desenvolvimento. operando em parceria com a Cepal. Rubens Chaves/Acervo do fotógrafo Isso ocorre com maior frequência nos países po- bres e emergentes. onde se concentram os empregos menos quali1cados devido à divisão internacional do trabalho. da Unesp. internas quanto à quali1cação e às condições de trabalho (o que contribui chapéus e outros artigos em para desuni-la) e a desigualdade que se aprofunda entre as classes sociais. A inutilidade social daqueles que não têm lugar no mer- cado de trabalho também os desquali1ca em outras esferas da sociedade. São Paulo: Ed. as empresas transnacionais optam por estabelecer 1liais de suas indústrias em regiões que oferecem mão de obra farta e barata. no século XVI. As condições precárias do mercado de trabalho dos países menos desenvolvidos favorecem. 32 • CAPÍTULO 1 Sociologia_vu_PNLD15_009a036_C01. 2005. co- mo a participação política. Por outro lado. no emergentes no mundo entanto. a1rma Castel: não estão integrados socialmente. Apesar da forte “modernização” das economias dos países latino-americanos. Do lado social. onde a taxa de pobreza duplicou de 1999 a 2003 (de 20% para 42%) e a indigência quase quadruplicou (de 5% para 19%). de trabalhadores também Atualmente há um deficit de postos no mercado de trabalho: não há espa- praticam atividade informal ço para idosos ou jovens sem experiência e para aqueles que não possuem para obter renda. o Programa Mundial de Alimentos (ONU). persiste. Esse número teve forte influência da Argentina. como estuda- remos no capítulo 8. assim. a forte inserção da região [América Latina] na lógica global na década que passou acelerou a deterioração dos seus indicadores [sociais]. Uma das questões sociais A situação de desemprego e a precariedade no mercado de trabalho. Atores e poderes na nova ordem global: assimetrias. Basta contemporâneo é a diminuição observar que a crise econômica de 2008 iniciou-se nos Estados Unidos e dos postos formais de trabalho e a ampliação do mercado alastrou-se para outras economias desenvolvidas. Esses indivíduos 1cam desprovidos da cidadania. No modelo atual. Segundo o boletim Panorama da América Latina (2002-2003). Esse fenômeno se iniciou com os países de economia desenvolvida e suas colônias. D E BAT E Leia o texto a seguir e discuta com a turma as razões para a situação descrita no texto do engenheiro brasileiro Gilberto Dupas (1943-2009). e em 2003 ela já alcançava 44% (237 milhões de pessoas). desenvolver uma re2exão para criticar a sociedade em que vive. a degradação ambiental. mantendo a ideia de totalidade e das inter-relações que consti- tuem a sociedade. somente um homem está desem- pregado. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editores. saúde. por exemplo. Quando muitos indivíduos de cano Charles Wright Mills (1916-1962) exempli1ca um modo de diferen. 1972. o Estado neoliberal. uma ciência que articula conhecimentos Estudar Sociologia nos introduz em um atraente universo de ques- tões e nos convida a participar da sociedade como cidadãos. p. os estilos de vida. o sociólogo norte-ameri. portanto. participação política. não está livre de contradições. indivi. antes de ser uma fragilidade. 15.. Viver na sociedade contemporânea: a Sociologia se faz presente • 33 Sociologia_vu_PNLD15_009a036_C01. O pensamento sobre a sociedade tem si- Pessoas fazem fila na do construído na contraposição de variadas formas de se apreender e inauguração oficial do compreender o real. experimentando uma avaliação de valores e compreendendo o sentido cultural das Ciências Sociais. levando os indivíduos a pen- sarem a sua realidade social. por isso. ciarmos a relação entre a sociedade que se organiza e os acontecimentos podemos dizer que se trata de cotidianos na vida dos indivíduos: um fenômeno a ser analisado criticamente pela Sociologia. isso é uma ques- tão pública e as soluções não podem ser individuais. isso é seu problema pessoal. o capitalismo transnacional.] mas quando numa nação de 50 milhões de empregados. os conflitos étnico-raciais. Este livro procura estabelecer essa ponte de entendimento entre as realidades local e global. mostra como a Sociologia. responsáveis por explicar questões que a sociedade se coloca ao longo do tempo. violência urbana e no campo. Restaurante Comunitário do gico. WRIGHT MILLS. região administrativa do Distrito rentes épocas. [. Os seus apoios conceituais são históricos e contextualizados. localiza problemas e aponta condições para superá-los. Riacho Fundo. os níveis individual e coletivo. Elio Rizzo/Esp. as condições do trabalho. Cabe ao sociólogo. Federal brasileiro. ed. Com sua proposta de “imaginação sociológica”. Para discutir. A produção sociológica traz para o debate diferentes concepções teóricas. educação. 3. relacionados à compreensão das necessidades locais e coletivas em diferentes momen- tos. segurança. Charles. Sociologia.indd 33 5/28/13 8:39 AM . numa cidade de 100 mil habitantes. Mas essa característica do conhecimento socioló. cidadania. A imaginação sociológica. desemprego. como agente social ativo. consumo. problemas como inclusão e exclusão so- ciais. Quando. a sociedade ampla e os pequenos grupos so- ciais. CB/D. a Sociologia crítica articula-os teoricamente a fenô- menos amplos: a mundialização da eco- nomia.. a teoria e a re- alidade empírico-prática. a cultura de massa.A Press dualismo. em dife. a mer- cantilização posta nas relações sociais. 15 milhões de homens não encontram trabalho. Foto de 2012. uma sociedade são afetados por uma mesma condição. Busque os principais textos destes autores e faça uma leitura com seus colegas. As novas tecnologias e a comunicação em rede afetaram a sociedade nas Desigualdades últimas décadas e os estudos em Sociologia? Justi1que e exempli1que. Vimos que as diferentes inquietações das Ciências Sociais ao longo do tempo estão relacionadas a situações de desigualdade e de disputas na sociedade em cada época. Em grupo ou individualmente. acesse pela internet ou visite presencialmente o arquivo público de seu estado ou de outro estado do Brasil. 1. divisão internacional do mensão econômica? Desenvolva o raciocínio tomando como base o trabalho. veri1que se há coleções digitalizadas do arquivo disponíveis para visualização on-line. na época. Busque responder às seguintes perguntas: a) A abordagem da mídia sobre o assunto mudou neste tempo? b) Como os cientistas sociais se posicionavam naquele momento? Isso também mudou com o tempo? c) A forma como abordamos a questão nos dias de hoje pode ter sido in2uencia- da pelas Ciências Sociais de antes? R E V I S A R E S I S T E M AT I Z A R 1. e justi1que sua posição. Escolha uma das questões que mais cha- maram a sua atenção. elites. De que modo as classes dominantes se mantêm nessa posição social? classes dominantes. dominação 6. você vai utilizar ferramentas e conhecimentos da disciplina de His- tória para investigar um pouco mais sobre as Ciências Sociais. sociais. Se acessar pela inter- net. classes sociais. exclusão social. sociedade que o tópico trata da sociedade brasileira. 4. 3. inclusão social. Apresente algumas das estratégias abordadas no capítulo. Com a ajuda de seu professor de Sociologia e de pesquisas na internet. status. pobreza. O que signi1ca dizer que a desigualdade não se de1ne apenas pela di- teoria social. faça uma lista dos principais autores da Sociologia brasileira e estrangeira. 4. sistematizando as ideias mais importantes sobre o tema escolhido. De que modo a Sociologia demonstrou que as desigualdades não são algo natural? Explique com suas palavras. que abordaram o assunto. A globalização é um processo unilateral? Seus interesses são divergen- social. Por que as classes sociais são um fenômeno estudado pela Sociologia? mobilidade social. Escolha um período ou década da história do Brasil no século XX. Sintetize algumas das principais teorias a respeito das classes sociais. Faça uma pesquisa em jornais e revistas da época. capitalista. 2. Conceitos-chave: 2. 3. Compare as informações obtidas nas etapas anteriores do trabalho com o que você conhece sobre o assunto e a situação atual desta questão no Brasil. prestando atenção às questões sociais e políticas mais discutidas naqueles anos. estudada neste capítulo. 34 • CAPÍTULO 1 Sociologia_vu_PNLD15_009a036_C01. Neste projeto. estratificação social. 5. estrutura social. globalização. tes? Re2ita sobre a realidade em que vivemos.indd 34 5/28/13 8:39 AM . D I Á L O G O S I N T E R D I S C I P L I NA R E S Neste primeiro capítulo do livro. apresentamos alguns conceitos básicos da Sociologia e um pouco de sua história. Disponível em: <www.br/ Polanski.proac. Acesso em: 18 nov. Questões de Sociologia. Globalização: as consequências humanas. 170-187. 2013. n. Desigualdades na América Latina: novas perspectivas analíticas. Ministério do Trabalho e Emprego. São Paulo: Cortez. Raymond. 2003. 1988. Buenos Aires: Editorial Proteo. A construção da sociedade do trabalho no Brasil. Ricardo. BAUMAN. Porto Alegre: Ed.brasilia. ano 9. São Paulo: Difel. HENRIQUES.scielo. São Paulo: Ática. São Paulo: Martins Fontes.gov. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editor. Disponível em: <www. em 1982. dirigido por Roman Centro de Estudos sobre Desenvolvimento e Desigualdade (Cede). entre outros. 1997. 1999. Unesco Brasil. Sociologias. As Ciências Sociais na rede Biblioteca do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea). CATTANI. As Ciências Sociais no cinema Encontro com Milton Santos ou o mundo global visto do lado de cá.-dez. Rio de Janeiro: Editora da FGV. 2010.pdf>. Max. DÍAZ. Antonio D. Zygmunt. 2007. Disponível em: <www. _. 1983. Ricardo. 2012. Brasil – terra de contrastes. Viver na sociedade contemporânea: a Sociologia se faz presente • 35 Sociologia_vu_PNLD15_009a036_C01. o preconceito e as desigualdades históricas. As metamorfoses da questão social: uma crônica do salário. v. CASTEL. 5.org>. 123-142. ed. Portal brasileiro da Unesco apresenta temas ligados à desigualdade social no Brasil. Adalberto. 42./2007. 2012. DESCUBRA MAIS As Ciências Sociais na biblioteca BAUMAN. 2012. HORKHEIMER.gov. Acesso em: 22 out. desenvolvimento econômico. 1969. Vídeo ficcional-educativo que conta uma história invertida: os negros são a classe dominante e os brancos foram escravizados. Globalization.mte. Acesso em: 10 jan. CARDOSO. 18. Brasil. Theodor. La sociedad: lecciones de sociologia. Desigualdade e pobreza no Brasil: retrato de uma estabilidade inaceitável. Disponível em: <www. da UFRGS. Vista minha pele. In: Lições da aula. Este livro interpreta as questões da desigualdade. jun. O sociólogo polonês analisa a economia global e seus efeitos sobre as estruturas sociais e também em nossas percepções de tempo e espaço. Revista Brasileira de Ciências Sociais. 15. n. 1998.. Reino Unido. BOURDIEU. p. Filosofia política marxista. Globalização: as consequências humanas. incluindo dados sobre emprego. Buenos Aires: Clacso.php?script=sci_ arttext&pid=S1517-45222007000200009>. p. Uma investigação sobre a persistência secular das desigualdades.indd 35 5/28/13 8:39 AM . Disponibiliza resultados de pesquisas sobre o Brasil atual. 1973. MENDONÇA.unesco. A escolarização das classes abastadas. CATTANI. Apresenta dados e uma análise consistente dos vários aspectos da globalização e propostas da Comissão Mundial Sobre a Dimensão Social da Globalização. direção de Roman Polanski. KIELING. Antonio David. 2001. BORON. fev. visando promover o debate acerca das possibilidades de “um processo de globalização justo e integrador”. Porto Alegre. Rosane. 2005. 1999. Laura Mora (Org. Por uma globalização justa: criar oportunidades para todos. O enredo desperta uma discussão sobre o racismo. BARROS. Francisco. Roger.br/biblioteca>. A pobreza e suas consequências sociais são retratadas pelas condições dos miseráveis nos arredores de uma casa de correção da cidade de Londres em sua primeira fase de industrialização.ipea. Documentário traz reflexão sobre a globalização e seus desdobramentos com base em uma entre- vista com o geógrafo Milton Santos. Zygmunt. Durham: Duke University Press. 2005. direção de Silvio Tendler. cede>. 2000. inclusão Cena do filme Oliver Twist social. 2012. Guy Ferrandis/Kobal/The Picture Desk/Agência France-Presse Oliver Twist. Petrópolis: Vozes. da pobreza e da exclusão nas sociedades latino- -americanas. Atílio. Pierre. APPADURAI.uff. No site desse grupo de pesquisa da Universidade Federal Fluminense (UFF) constam estudos sobre a desigualdade social no Brasil e suas implicações para o desenvolvimento. Arjun. Disponível em: <www. 2004.br/scielo. BIBLIOGRAFIA ADORNO. Rio de Janeiro: Marco Zero. As etapas do pensamento sociológico. Acesso em: 22 out. BASTIDE. Robert. Lições da aula: aula inaugural proferida no Collège de France. Acesso em: 18 nov. ARON. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editor.).br/rel_internacionais/pub_Resumo-Globalizacao. Brasil. direção de Joel Zito Araújo. 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A Sociologia numa época de globalismo. essa ciência capta a preocupação com a ordem e as mudanças sociais na modernidade. Ciência histórica. chegaram a conceitos diferentes para o estudo da sociedade com base no conhecimento científico da sua época. Salmo Dansa /Arquivo da editora Capítulo 2 Sociologia: uma ciência da modernidade EstudarEmos nEstE capítulo: o fenômeno sociedade e seu estudo como ciência. Marx e Weber. 37 Sociologia_vu_PNLD15_037a064_C02. econômicas e culturais dos séculos XVIII e XIX. Denominada Sociologia. a Sociologia elege o seu objeto de estudo e desenvolve métodos para interpretar a complexa realidade social.indd 37 5/27/13 5:17 PM . principalmente Durkheim. iniciado no contexto das revoluções políticas. Veremos como os autores clássicos. cada qual perseguindo suas próprias metas e projetos. na Universidade de Brasília.] A sociedade. Estes mantêm laços mediante a língua. Uma notícia como essa pode passar despercebida pelos leitores. Relações sociais. Umas quase nada têm a ver com as outras. Filipe Rocha/Arquivo da editora Nossa vida em sociedade No jornal. em 2012. Além de os alunos participarem mais intensamente. [. voluntárias e contratuais. um aspecto diferente nesse quadro: funcionando nesse tumulto de gente apressada. 1994. de 1939: O que une os indivíduos não é cimento. uma ordem oculta e não diretamente perceptível pelos sentidos. não é nada externo aos indivíduos.] Mas há. [. 38 • capítulo 2 Sociologia_vu_PNLD15_037a064_C02. Sociedade é. 20-21. há também. A sociedade dos indivíduos. consenso e diferenças entre os indi- víduos e os grupos sociais.indd 38 5/27/13 5:18 PM . UnB. Vão e vêm como lhes apraz.. comunicação e interação são. Norbert.A Press Estudantes durante a volta às aulas. nos dias de hoje. sem dúvida. Basta pensarmos no burburinho das ruas das grandes cidades: a maioria das pessoas não se conhece. a iniciativa estimulou a adesão de alguns pais e ex-alunos. apesar de toda a sua liberdade individual de movimento. componentes fundamentais da vida social. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editor.. ela é aquilo que todo indivíduo quer dizer quando diz “nós”. Elas se cruzam aos trancos. portanto. tampouco é simplesmen- te um “objeto” “oposto” ao indivíduo... p. uma notícia chama a atenção ao informar que uma professora do Ensino Médio passou a postar na rede mundial de computadores os con- teúdos das aulas e as atividades a serem realizadas pelos alunos. claramente. que envolve comunicação. Acompanhemos o sociólogo alemão Norbert Elias (1897-1990) em sua observação de uma rua movimentada qualquer. uma teia de relações sociais. mas re- vela algo da sociedade em que vivemos: estamos em interação constante e. a cultura e o modo como se relacionam e trabalham. Formou-se o que podemos chamar de um grupo de interesse. Marcelo Ferreira/CB/D. com sua regularidade. em seu livro A sociedade dos indivíduos. em princípio. ELIAS. cada vez mais por meio de novas formas de redes sociais de comunicação. estabelecendo redes sociais em que os indivíduos compartilham interesses. tios. Leituras sociológicas. uma escola. Na aproximação. uma soma do conhecimento que acumulamos. 1923. a divisão do trabalho em diferentes tarefas e cargos. a sua sucessão no tempo se tornou sociedade. O poder se consti- tui na capacidade de conseguir algo. são. nos Sociologia: uma ciência da modernidade • 39 Sociologia_vu_PNLD15_037a064_C02. O sociólogo alemão Georg Simmel assim se expressa: The Granger Collection/TopFoto/Keystone O que faz com que “a sociedade”. Por isso os homens formam unidades sociais como famílias e associações diversas. ou mesmo entre irmãos. 1987. de dirigir. As relações sociais têm e fazem história. Na sociedade e nos processos de sociabilidade.indd 39 5/27/13 5:18 PM . as formas de interação. SIMMEL. só quando há efeitos recíprocos – imediatos ou media- tos – a mera coexistência dos homens no espaço ou. sejam conflituosas. isoladamente. de condicionar a vontade de alguém. p. Quando o agrupamento de pessoas faz circular as informações. Essa capaci- dade de constituir grupos mostra que somos seres fortemente gregários. sejam estas harmoniosas. conforme estudamos no capítulo 1. a organização de uma comunidade religiosa. que chamou a atenção de alguns intelectuais tradicionalistas. a interação social desta- ca-se como meio de manter unidos os grupos e a trama das relações sociais. onde interagem professores e alunos. são exemplos de relações de poder: a sobreposição e subordinação na relação patrão e empregado.. O sociólogo alemão Georg da em sociedade. mas a partir de posições sociais hierarquizadas. opiniões. Ser social é próprio da natureza humana. ed. que atendem de uma forma organizada às suas necessidades básicas. social e virtual) e são consideradas o objeto de estudo. as pessoas podem se valer do contato face a face ou de outros meios – dos sinais de fumaça de alguns povos.). 3. München und Leipzig. co- mo no exemplo anterior da professora e dos alunos. na acepção até agora válida da palavra. seja sociedade. Uma pluralidade qualquer de homens não se torna sociedade pelo fato de existir em cada um. evidentemente. por excelência. um determinado conteúdo de vida. avós. As formas sociais como objeto próprio da Sociologia. 3-7. Nanci Valadares (Org. temos o fenômeno da sociabilidade. Essa reciprocidade presente nas relações sociais é a matéria-prima da vi. a família. Georg. Foi esse viver em comum. primos.) In: CARVALHO. Estamos falando da vida em sociedades que são históricas e cheias de sig- nificado para os seus membros. em foto de 1901. Mas como se definem as relações sociais? De natureza Simmel. (Soziologie. a concorrência entre as empre- sas. � gregário: aquele que tende a viver A mútua influência entre pessoas e grupos com afinidades supõe troca em grupo. no passado. abrangente e subjetiva. Como as relações entre indivíduos e entre os grupos não acontecem em plano de igualdade. Nesse sentido. gostos. São Paulo: Vértice. com a convivência entre pais e filhos. também. elas implicam relações de poder. p. uma cooperativa econômica de agricultores. com igualdades e diferenças. só quando a vitalidade desses conteúdos ad- quire a forma de interação. da Sociologia. Duncker & Humblot. como a moda e outros tipos de consumo. agindo contra a população. a reprodução de comportamentos variados. acontecem no tempo e no espaço (físico. uma quadrilha de assaltantes. à atualíssi- ma comunicação virtual. a formação de partidos políticos. elas aproximam os sujeitos (indivíduos e grupos) na realidade imediata e dizem respeito aos seres humanos no processo dos acontecimentos históricos e à sua ação individualizada. de experiências. 59. a acumulação de capital por parte da sas áreas foram usadas para criação burguesia em ascensão. Consolidava-se o capitalis- mo. a Revo- lução Industrial inaugurou uma situação de pobreza e desemprego. sistema econômico que se caracteri- za: pela propriedade privada dos meios Cena do filme Germinal (1993). o domínio inglês do comércio mundial e a liberação de ovelhas. a criação da máquina a vapor. Isso forçou a migração para as cidades e deu início a um acelerado pro- cesso de urbanização.da mão de obra para as cidades. a Revolução Francesa (1789) e o Iluminismo. Por que tais acontecimentos estão re- lacionados ao surgimento da Sociologia? Justamente por ela estudar as for- mas de produzir. tecidos. � cercamento: processo ocorrido a A Revolução Industrial representou uma significativa alteração na ma- partir do século XVI pelo qual grandes neira de produzir. objetos e máquinas aumen- tou a oferta e barateou o custo final dos produtos. organizar e pensar a sociedade. sujeitan- do-se aos baixos salários e a extensas jor- nadas de trabalho.indd 40 5/27/13 5:18 PM . com a conivência do Esta- do. marcando o declínio do modo de produção artesanal também no Photo12/Agência France-Presse campo. Os camponeses destituídos de suas terras e os artesãos arruinados passaram a ser empregados nas fábricas. o fenômeno sociedade. viver. culturais e religiosas. as revo- luções se estendiam nas ideias e nas artes (a explicação racional/lógica se impunha sobre a explicação religiosa). mediante a divisão técnica industrialização se revoltam contra as condições subumanas em que vivem. Pensadores como os franceses Louis de Bonald (1754- -1840) e Joseph de Maistre (1753-1821) buscavam uma explicação para o fer- vilhar de muitas e grandes mudanças no âmbito da sociedade. Fatores como o aperfeiçoamento das técnicas e as inovações tecnológi- ram para si. pela busca constante 40 • capítulo 2 Sociologia_vu_PNLD15_037a064_C02. Uma ciência originada da transformação Apesar de ter sido formalmente reconhecida como ciência apenas no século XIX. um conhecimento questionador e sistemático. em fins do século XVIII. inspirado no romance homônimo de Émile Zola. ra. levaram a um acelerado crescimento da população e da produção. despertou. Dessa forma. Na história. modificando o modo de os seres humanos se relaciona- e médios proprietários de terra toma- rem. na política (com a queda das monar- quias).cas. econômicas. áreas profundamen- te influenciadas por essas revoluções. Afinal. de Claude Berri. e social do trabalho. movimento filosófico que embasou as mudanças em curso (aproximadamente 1650-1800). trabalhadores de uma mina de carvão na França em de produção. com o objetivo de abaste. a Sociologia deve sua origem ao intenso processo de mudanças sociais desencadeado pelas revoluções burguesas. séculos XVIII e XIX. especialmente a Primeira Revolução Industrial (aproximadamente 1750-1850). áreas agrícolas de uso comum. A produção em série de alimentos. Es. na economia e nas relações sociais (as condições da vida material mo- derna alteravam-se devido à Revolução Industrial). com o cercamento dos campos na Inglater- cer de lã as indústrias têxteis. distinta da de outras épocas. com suas forças políticas. abriu-se a possibilidade para fundamentar a vida e as hierarquias em razões sociais. Reprodução da Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão.triais. Filósofo da época. como a nobreza e a Igreja. que depôs na França o Antigo Regime. A simbólica Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão. tidos a leis físicas e naturais. França. A Revo. a contínua ascensão da burguesia durante a Idade Moderna � burguesia: classe social composta levou essa classe a aspirar participar no Estado e no exercício da política – o de comerciantes. ocorreria. Sociologia: uma ciência da modernidade • 41 Sociologia_vu_PNLD15_037a064_C02. tendido também ao estudo do ser humano. “direito divino”. A verificação lógica e a quantificação matemá. A par- tir dessas mudanças foi possível elaborar novas bases para o que hoje entendemos como “ciência”. os ingleses Thomas Hobbes (1588- -1679) e John Locke (1632-1704). o método científico foi es- do que antes se imaginava serem forças divinas. A ex. The Bridgeman Art Library/Keystone/Museu Carnavalet. físicos e matemáticos passaram a tica concederam ao conhecimento científico uma su- entender que o Universo e a natureza estavam subme. Na Europa. como perto as revoluções políticas e ele podia prever e proposto pelo filósofo francês René Descartes (1596. con- forme estudaremos no capítulo 4. não resultavam No fim do século XVIII. O Iluminismo foi protagonizado pelo pensamen- to de filósofos observadores dos comportamentos sociais. e por apresentar o lucro como principal objetivo. Paris. de 1789. a expansão dos direitos civis e a perda de influência de instituições. Marcaram o período também grandes transformações políticas. banqueiros e indus- que veio a ocorrer de forma mais ampla com o fim do absolutismo. o surgimento dos Estados-nação. publicada em quatro volumes entre 1867 e 1905. entre eles. As bases para uma nova ciência No século XVII. aprovada pelos franceses revolucionários durante o processo da derrubada da monarquia absolutista. ainda hoje embasa os estatutos dos Estados democráticos contemporâneos. o francês Claude buscada por meio de investigação que os comprovas. ou seja. da socie- plicação para os fenômenos da natureza passou a ser dade e da cultura. movimento intelectual e filosófico que elegeu a razão como a principal forma de ex- plicação da realidade. O capital. embasado no produção. Saint-Simon (1760-1825) expressou seu pensamento se cientificamente e os atestasse como “verdades ab. e não em alguma instância transcendente. donos dos meios materiais de lução Francesa (1789). Os va- lores nela expressos tiveram como fundamento o Iluminismo. pressentia que uma grande revolução científica -1650). de que as revoluções científicas acompanham de solutas” dentro da razão e da lógica empírica. de novos mercados. assentadas em forte e rígida hierarquia. de 1789. o escocês David Hume (1711--1776) e o francês Charles de Montes- quieu (1689-1755). Essa é a perspectiva do filósofo alemão Karl Marx em sua principal obra. premacia com relação aos demais. tornou-se o grande símbolo dessa mudança e um marco na história do Ocidente. Somente quando o pensamento revolucionário intro- duziu a ideia da igualdade entre os seres humanos e a primazia da raciona- lidade lógica sobre as explicações religiosas.indd 41 5/27/13 5:18 PM . 42 • capítulo 2 Sociologia_vu_PNLD15_037a064_C02. a Sociologia nasceu de uma sociedade que se desenvolvia com base na razão. na emancipação. pensava-se que a socieda- de estava sujeita a uma evolução crescente que levava ao aprimoramento. que sistematizou a abordagem dos fenômenos sociais. na econo- mia. com existência própria. Antropologia e Ciência Política – foram influenciadas pelas Ciências Naturais. de que era capaz de se pensar e de provocar mudanças de diversas ordens. A Sociologia foi proposta inicialmente como uma forma de Filosofia Social para compreender a origem. econômicos. nas artes e nas ideias. os autores do século XIX partiam das mudanças para entender a realidade social. �h Nasce a Sociologia Com movimentos revolucionários acontecendo na política. dando-lhe ou- tro sentido. diagnósticos dos sintomas de suas “doenças”: sistemas de ideias diferentes e incoerentes. Os primeiros pensadores das Ciências Sociais concebiam a sociedade como uma totalidade objetiva. na explicação religiosa e no domínio da política por um soberano absoluto. Todos esses movimen- tos que abalaram os valores e o modo de vida naqueles séculos trouxeram a necessidade de uma teoria social para explicar a nova realidade. a mudança e o destino da socieda- de. Bill Watterson © 1995 Watterson / Dist. Calvin & Hobbes. religiosos que intervêm nas diversas dimensões da sociedade.indd 42 5/27/13 5:18 PM . como veremos neste capítulo. com seu rigor nos métodos e a busca da objetividade do cientista. Na busca por sistematizar um conhecimento sobre como os se- res humanos se organizam na sociedade. Em fins do século XIX. Na visão corrente em meados do século XIX. De modo geral. A própria sociedade passou então a ser objeto de conhecimento científico. as Ciências Sociais – hoje compreendidas pela Sociolo- gia. políticos. a sociedade da qual somos herdeiros tornou-se consciente de seu protagonismo histórico. Havia. rebeliões de insatisfeitos. no progresso e na representação política. tal qual um organismo vi- vo. de Bill Waterson. e não mais apenas na tradição. também. As mudanças sociais resultam de fatores culturais. isto é. períodos de crise. by Universal Uclick Tirinha de 1989 com a personagem Calvin. ela se constituiu como uma ciência autôno- ma a partir da contribuição do francês Émile Durkheim (1858-1917). estando alguns em graus “mais avançados” do que outros. por isso uma ciência da sociedade seria capaz de prevê-las. Pode-se dizer que procuravam um meio. Os primeiros pensadores sociais acreditavam que a investigação me- tódica e sistemática de uma ciência própria para a sociedade poderia identificar possibilidades de ação para intervir na sociedade e. Sociologia: uma ciência da modernidade • 43 Sociologia_vu_PNLD15_037a064_C02. Entendiam por ordem social tanto a ten- dência ao funcionamento harmonioso da vida social. A busca por leis invariáveis e inde- Bianchetti/Leemage/Agência France-Presse pendentes da ação humana para a so- ciedade era própria do pensamento positivista. os estudos dos primeiros pensadores da sociedade visavam conciliar a manutenção da ordem social e a aceitação das mudanças ocorridas naquela época. a mudança so- cial aconteceria dentro da ordem. assim.indd 43 5/27/13 5:18 PM . Entre o fim do século XIX e o início do XX. divulgada na Exposição Universal de Paris e que foi publicada no Le Petit Journal em 1891. Durkheim concebia as mudanças so- ciais como regularidades que compor- tam ordenação e evolução. Para Comte. a coexistência pa- cífica dos indivíduos e grupos em dada sociedade (como sinônimo de consenso). Imagem que mostra guerreiros de Daomé (atual Benin). segundo os critérios da ciência nascente. quanto uma forma de ordenação das relações sociais funda- mentais. seria ne- cessário preservar a ordem social. que já estavam consolidadas. Eram adeptos do evolu- cionismo. que são os mesmos para todos os seres humanos. autores como os franceses Auguste Comte (1798-1857) e Alfred Espinas (1844-1922) e o inglês Herbert Spencer (1820-1903) pensavam a ciência da sociedade como uma Física ou uma Biologia social. desenvolvendo- -se continuamente rumo a estágios mais aperfeiçoados. restabelecer a ordem quando conflitos e crises abalassem a sua estrutu- ra. alguns estudiosos da sociedade criaram teorias para tentar embasar a ideia de que haveria uma evolução dos povos. Sob forte influência das Ciências Naturais. de ordenar as mudanças sociais que fugiam à previsi- bilidade de normas e regras. para haver progresso (entendido como mudança para melhor). corrente de pensamento que considera a sociedade e sua cultura resultantes de um permanente processo de evolução. isto é. ou seja. A essa visão calcada em regularidades e na manutenção da ordem con- trapuseram-se. Friedrich Engels (1820-1895). Durkheim. dois outros autores “clássicos” da Sociolo- gia: os alemães Max Weber e Karl Marx. para citar alguns pensadores. pesquisador do materialismo histórico e das origens da família. Alexis de Tocqueville (1805-1859). -1942) e o polonês Bronislaw Theodore Chasseriau. tende à integração e se de uma época. em pintura de Friedrich Hegel. respectivamente. em gravura de 1854. Uma ciência se faz com produção de conhecimento que é comparti- lhado. transformação. normativo. condiciona a vida social. Acompanhemos. As Ciências Sociais se institucionalizaram quando questionaram seus próprios fundamentos. e o escritor político francês. Weber e Marx. Vilfredo Pareto. Bildarchiv Hansmann/Interfoto/Latinstock Akg-Images/Latinstock que discutiu as condições de uma sociedade democrática. na Inglaterra. as diferentes concepções de socie- dade e da ciência que a estuda para Comte. toda ação social. devido à diversidade cultu- ral dos valores. Entre os precursores da Antropologia en- contram-se o francês Marcel Mauss (1884-1942) e os etnólogos: o nor- te-americano Franz Boas (1858- Alexis de Tocqueville. a si e a seu mundo. Entre os pensadores sociais que precedem o surgimento da Sociologia estão os alemães Friedrich Hegel (1770-1831). criticado e revisto pela comunidade científica. com sentido consciências individuais. As concepções dos primeiros pensadores de uma ciência para a sociedade Comte Durkheim Weber Marx Sociedade A sociedade é tão real A sociedade resulta da A sociedade é o A sociedade é quanto um organismo combinação das complexo de determinada pelas vivo. da propriedade privada e do Estado. no quadro a seguir. Ferdinand Tönnies (1855--1936) e Georg Simmel. sobre a realidade social. Contribuíram para construir o patrimônio científico da Sociolo- gia: Herbert Spencer. na Itália. de 1850. Malinowski (1884-1942). O modo organiza pelas normas e de produção (economia) costumes. as ações a sociabilidade humana. que se 44 • capítulo 2 Sociologia_vu_PNLD15_037a064_C02. são muitas as possibilidades históricas de mudanças. coautor em muitas obras com Marx.indd 44 5/27/13 5:18 PM . concretas e históricas do uma ciência universal adquirindo um caráter ser humano que constrói da civilização. No pensamento de Weber. filósofo. enquanto para Marx a história é um processo contínuo vivi- do pela humanidade sujeito a mudanças resultantes da forma como os ho- mens se associam para produzir. na Alemanha. com seus princípios do ser e uma filosofia do direito. significados dos valores condições materiais em científico e moral. ou seja. Sociologia A Sociologia é uma A Sociologia objetiva A Sociologia interpreta A Ciência Social realiza a reflexão filosófica sobre chegar a leis gerais o sentido que orienta práxis. A locomotiva – símbolo da Revolução Industrial do século XVIII – é retratada em óleo sobre tela. da cultura de nova ordem social. ção. lidade racional diante da realidade. No século XX. da padronização do conhecimento e da produ- ciais a que estavam habituadas. poste- Karl Marx com a frase “tudo o que é sólido se desman. Sociologia: uma ciência da modernidade • 45 Sociologia_vu_PNLD15_037a064_C02. Paris. razão. A expressão faz referência às intensas trans. e que rompe. nos séculos XVIII e XIX. da transição. nas possibilidades do progresso linear (ascen- formações das revoluções econômica. ao positivismo. a Sociologia surgiu como uma ciência da modernida- de. O que é modernidade? A modernidade foi definida pelo filósofo alemão ao filósofo racionalista francês René Descartes e. que. a realidade social poderia ser estudada de modo científico tanto quanto os fenômenos da natureza. massa. Album/akg-images/Latinstock/Museu Marmottan Monet. faz parte do hoje e é pagã. sociais cada vez mais aceleradas. no processo da Re. do fragmen- dirigiam para as cidades. Por exemplo. Enfim. Na con- O termo moderno foi usado pela primeira vez no cepção atualizada de “modernidade” está embutido o século V para distinguir a Roma cristã da antiga Roma sentido de tudo o que é recente. França. ramo das Ciências Sociais que estuda os caracteres das etnias para apreender como as sociedades se estruturam e evoluem. em detrimento das condições so. ram com as condições históricas anteriores represen. que defendiam a crença na cha no ar”. Ao se constituir como ciência para explicar por que as sociedades mu- dam e permanecem. da racionalidade. a modernidade pas- volução Industrial. riormente. política e do dente e evolutivo) e na formação de uma nova sensibi- conhecimento. pelo pintor impressionista Claude Monet.indd 45 5/27/13 5:18 PM . passaram a enfrentar uma tado. em rápidas pinceladas. da tecnologia. em 1875. sob o impacto de transformações tadas pela tradição. Já a ideia de “modernidade” pode ser relacionada passageiro. dedicaram à Etnologia. do planejamento racional. registrou os momentos de uma sociedade em constante transformação. quando as populações rurais se sa a se relacionar com a ideia do efêmero. 46 • capítulo 2 Sociologia_vu_PNLD15_037a064_C02. por exemplo. os primei- ros cientistas sociais. Anna M. como vimos. É ele que nos dá confiança para continuarmos vivendo.). percebemos como o nosso microuniverso individual é afetado pelo movimento das estruturas sociais. baseado no mode- lo das ciências da natureza. De acordo com o texto. responda às questões. Esse conhecimento é limitado porque se baseia em observações espontâneas. Apud CASTRO. inspiraram-se nos métodos das ciências da natureza. nas aparências dos fenômenos e em ideias preconcebidas e não refletidas. ou seja. Introdução ao pensamento sociológico. afirmam os sociólogos peter Berger (austro-americano. nascido em 1927). seja pelo lançamento de um novo produto eletrônico. aquele conhecimento com base na ex- periência cotidiana e na opinião dos homens em sociedade. As inovações e a intensidade dos eventos tornam a vida social mais complexa e a vida individual mais sujeita a mudanças e a novas formas de limitações. vendo televisão. ao construírem a realidade por meio de suas relações sociais. Essas ideias concebidas sobre os hábitos cotidianos e a nossa sociedade. a de um conhecimento propriamente científico. Quando levantamos pela manhã. de. Raymond. p. 24. mas original por seu radicalismo. pausa par a r E f l E t i r Filipe Rocha/Arquivo da editora O fragmento abaixo retrata a Sociologia em seus primeiros momentos. que não passam por indagações profundas. Depois de ler o texto. manifestavam o desejo de ultrapassar o senso comum. lendo revistas. Ela também exprime uma intenção não radicalmente nova. fazem parte do senso comum. Na ânsia de chegar ao conhecimento científico da sociedade. não questionamos a composição química da pasta de dentes nem a procedência do pó usado para fazer o café. pois nos sentimos seguros dentro de uma lógica de probabilidades que nos for- nece expectativas a respeito de nós e dos outros. 1. Em sua opinião. Rio de Janeiro: Eldorado. qual é o papel da Sociologia no século XIX? 2. Ao propor um conhecimento objetivo. O senso comum nasce da experiência cotidiana compartilhada e se relacio- na ao nosso espaço social. ao lugar de onde observamos os acontecimentos. conversando com as pessoas.. Edmundo (Org. seja por uma crise econômico- -social. ARON. A Sociologia do século XIX marca incontestavelmente o momento da reflexão dos homens sobre eles mesmos. o modelo de análise para as Ciências Sociais pode ser o mesmo das ciências da natureza? Por quê? Senso comum e ciência No cotidiano. aquele em que o social como tal é posto em ques- tão [.]. ao mesmo tempo. navegando na internet. tendo em vista o mesmo objetivo: o conhecimento científico deveria dar aos homens o controle de sua sociedade e de sua história as- sim como a Física e a Química lhes possibilitaram o controle das forças naturais. DIAS.indd 46 5/27/13 5:18 PM .. os homens são. 1974. produtores e produtos da sociedade. por exemplo. nascido em 1929) e thomas luckmann (alemão. das relações entre os fenômenos e os motivos que as justificam e expli- cam. se o primeiro salto qualitativo da ciência moderna e neutralidade diante dos fatos ocorreu ao afastar-se do senso comum para chegar ao conhecimento cientí. A abordagem positivista toma os métodos e os critérios das Ciências Na- turais. nos séculos XVIII e XIX. em retrato de Tony ceitos. fico. recomendava es- tudar a sociedade com o mesmo espírito que se estudam as ciências da Auguste Comte. estudados. nos fatos verifica- dos. o riquecer a nossa relação com o mundo. a fim de alcançar um conheci- mento neutro. antropólogo Bronislaw Malinowski com nativos das ilhas Trobriand. a Sociologia foi marcada pela visão de que a sociedade e os seus fenôme- nos também poderiam ser apreendidos e explicados de forma objetiva. livre de juízos de valor – sem a interferência de pré-con. positivismo. privilegiando a evidência dos fatos. Toullion. sobretudo a Biologia. Na foto de 1918. testados e quantificados. com o ideal de distanciamento tura de Sousa Santos. Os estudos científicos pressupõem que conhecer é uma forma de viver e transformar a realidade social. �h O positivismo na proposta de Comte SPL/Latinstock A emergência do sistema capitalista e da burguesia. o primeiro autor a utilizar o termo Sociologia. isto é. novas formas de pesquisa surgiram. com neutralidade da parte do investigador. Vejamos como esses métodos propõem um pensamento sobre a realidade social. No caso das Ciências Sociais. opiniões e valores do pesquisador nas suas análises. Em sua origem. Embora o senso comum seja um tipo de saber limitado ao coti- diano. A ciência é a busca e a descober- British Library of Political and Economic Science/London School of Economics and Political Science ta. com base em métodos definidos. Posteriormente. encontrou suporte teórico no positivismo. Auguste Comte. participante. como a observação mento do senso comum.indd 47 5/27/13 5:18 PM . considerava que a ciência tem normas preestabelecidas e se constitui num instrumento de transformação e domínio da realidade física e social. “positivo”. Essa filosofia social prima pela obser- vação e experimentação dos fenômenos. para explicar a sociedade. de cerca de 1850. reabilitando-o como uma dimensão que pode en. Comte. hoje a ciência busca se aproximar e reconhecer também o conheci. Segundo o sociólogo português Boaven. fundador do natureza. métodos próprios procuram expli- car a realidade social mediante a construção de teorias coerentes. atualmente a ciência tende a valorizá-lo como ponto de partida As Ciências Sociais nasceram para o conhecimento sociológico. que lhe garantiu o título de fundador do positivismo. Vem dessa ideia de controle da ordem social o lema “prever para prover”. Sociologia: uma ciência da modernidade • 47 Sociologia_vu_PNLD15_037a064_C02. Métodos para pensar a realidade social Duas grandes vertentes metodológicas marcam os estudos da Sociologia clássica: o positivismo e a dialética. fundamentado na experiência. au- tor da obra Curso de filosofia positiva (publicada entre 1830 e 1842). realidade e testavam-nas com observações e experimentações.indd 48 5/27/13 5:18 PM . Assim. Como explicar os fenômenos sociais. acontecem numa realidade concreta. ele propôs submeter os chamados “fatos sociais” a métodos científicos próprios do estudo sociológico para compro- var esses fatos como algo externo aos indivíduos. uma realidade tão distinta da realidade dos fenôme- nos naturais? A influência do positivismo permanece na ciência. tais como combater a criminalidade sem eliminar a desigualdade social. no segundo estágio. seguindo os passos das demais ciências. levantavam hipóteses acerca da chamada Sociologia clássica. o metafísico (transitório). esse é um tipo de pensamento evolucionista-social. qual conhecimento objetivo e verdade absoluta são equivalentes. algo que lhes é imposto Bettmann/Corbis/Latinstock para que sigam determinados costumes e se comportem de acordo com va- lores e normas vigentes. o terceiro estágio. o positivo. respecti- vamente. As ações gras. admitir explicações gerais. cias Sociais. dos por uma ciência. no entanto. Em seu livro As regras do método sociológico. são históricas. teorias abrangentes. entidades abstratas. que pressupõe uma ideia de progresso. ou seja. em um conjunto de parâmetros teórico-metodológicos no cos: critérios estabelecidos pelas re. �h Durkheim e um método próprio para a Sociologia O emprego de métodos das ciências da natureza para testar o conhe- cimento sobre a realidade social implicava verificar os dados. como estudaremos no capítulo 6. na história da humanidade. culminaria na busca de leis científicas para descrever e explicar os fenômenos sociais. 48 • capítulo 2 Sociologia_vu_PNLD15_037a064_C02. publicados em 1897 e 1912. tirado por volta de 1900. a abordagem positivista pode ser observada ainda hoje. Ele também foi o fundador de L´Année Sociologique. Ao buscar estabelecer os fundamentos gerais das explicações acerca da ordem e da mudança social. as informa- ções. organizado em estágios universais. destacam-se O suicídio e As formas elementares da vida religiosa. Por isso o francês Émile Durkheim é considerado pioneiro ao ter pro- posto uma metodologia própria para a ciência da sociedade. e chegar a “verda- des” ou certezas das afirmações sobre a realidade. primeiro perió- dico francês de teoria e pesquisa sociológica. avaliá-los e um dos principais nomes da submetê-los ao rigor do método positivista. o teológico. Retrato de Émile Durkheim. as explicações associariam os acontecimentos “às ações de um ou mais deu- ses”. ações/relações sociais demandam métodos próprios para captar a sua complexidade. de 1895. as métodos aplicados por ela. Como vimos. e. referindo-se à evolução da estrutura social e política e aos ramos do conhecimento humano. sociais. finalmente. Comte elabora a Lei dos três estados (ou es- tágios) da história. Apesar de sofrer críticas nas Ciências Sociais. como quando se busca um conhecimento definitivo sobre a realidade em mutação ou quando se aplicam medidas simplificadoras da realidade social. os elementos explica- tivos da evolução seriam a natureza e a razão. no primeiro estágio. Como acontecimentos únicos. Entre as obras de Durkheim. até mesmo nas Ciên- � parâmetros teórico-metodológi. bem como pelos contextualizada e em contínuo processo. os primeiros cientistas sociais propunham-se a observar os fatos. leis e hipóteses (teoria) adota. O filósofo grego Platão (427-347 a. alimentam a multiplicidade de me- todologias nas Ciências Sociais. a economia. aplicada à realidade material. não podem ser separados. a política e outras dimensões. A lógica dia- lética pressupõe a mudança incessante da realidade social e distingue os fenô- menos. o qual já traz em si a semente do novo. existem contraposições e contradições. esse choque de partes contrárias. que corresponde à síntese. como a natureza. Para a dialética moderna. para chegar à verdade. apesar de distintos. transformam-se e nunca se apresentam como acabados. �h A dialética como método de análise De certo modo contrário ao positivismo. um mé- todo de argumentação que remonta à Antiguidade. a cultura. move o mundo. a abordagem dialética. são produtos históricos. As abordagens positivista e dialética continuam validando o conheci- mento nos dias atuais e. sociedade e conhecimento. à essência de algo. de certo modo. identifica as contradições e os conflitos. De diferentes perspectivas de análise. O pensamento dialético é constituído dos seguintes princípios: • Tudo se encontra inter-relacionado e se transforma de modo permanente. o método dialético concebe que nem a realidade e tampouco o conhecimento podem ser pensados como ele- mentos separados. O objeto de estudo da Sociologia Algumas condições são exigidas para que um conjunto de conhecimen- tos possa ser considerado ciência: a existência de um método de investiga- ção. Por exemplo: a Revolução France- sa seria a síntese da luta entre a nobreza (tese) e a burguesia (antítese). O desenvolvimento desses contrários (que podem ser definidos como tese e antítese) resulta em uma unidade nova transformada. os autores definem o seu objeto de estudo e produzem ciência.indd 49 5/27/13 5:18 PM . ou seja. explicando-os historicamente e criticando a ideologia dominante. A teoria de Karl Marx é a mais conhecida abordagem dialética da sociedade. a constituição de um objeto de estudo e a construção de teorias expli- cativas da realidade estudada. • Há uma luta dos contrários. a metodologia que utilizam mostra coerência entre o pensamento do investigador e os conceitos teóricos com que explicam a realidade histórica. era necessário contra- por ideias contrárias para chegar a uma ideia una. como veremos adiante. • Um novo acontecimento nasce do velho. o termo ‘dialética’ significa ‘a arte do diálogo’. • Os conhecimentos articulam-se e confrontam-se. A abordagem dialética capta as ambiguidades da vida dos seres humanos ao procurar entender os fenômenos em sua totalidade e multiplicidade. Mas o que é dialética? Historicamente.C. Ambos.) acreditava que. • Mudanças qualitativas nos fenômenos podem ocorrer em diferentes ritmos. e complementares ao Filipe Rocha/Arquivo da editora mesmo tempo. Sociologia: uma ciência da modernidade • 49 Sociologia_vu_PNLD15_037a064_C02. • Sujeito (aquele que investiga) e objeto de conhecimento (a realidade investiga- da). dos quais se origina algo novo. Nas Ciências Sociais. pensar e sentir que são exteriores ao indivíduo e exercem pressão ou coerção social. pensa que o sujeito que conhece é capaz de intervir na realidade social. seus diferentes modos de apreender a realidade. Para definir o seu objeto. eles são uma realidade sui gene- ris. 50 • capítulo 2 Sociologia_vu_PNLD15_037a064_C02. Também apresentam a característica de serem gerais na exten- são de uma sociedade. Isso prova que o processo de conhe- cimento é histórico. Sociologia O conhecimento Conhecer é Conhecer é uma forma científico é uma compreender o histórica de se representação teórica significado de uma apropriar do real. Vejamos. Foto de 2012. muda com o tempo tal qual a própria sociedade.indd 50 5/27/13 5:18 PM . em São Paulo. dian- te dela se posicionam e com ela se relacionam e projetam um caminho para conhecer a sociedade. Para Durkheim. Marx. Weber considera que apenas uma parte da realidade pode ser estudada. de fazer ciência. Alexandre Tokitaka/Pulsar Imagens Alunos de escola particular acompanhados por monitores em rua do bairro Perdizes. �h Durkheim e a análise dos fatos sociais Na produção sociológica do francês Émile Durkheim. sobre sua consciência. uma ciência traça parâmetros para observar e analisar a realidade. tem significado constante movimento. pelas instituições. conforme os valores de uma época. uma realidade peculiar. fatos sociais são maneiras coletivas de agir. ou seja. por sua vez. os indivíduos apresentam maneiras de pensar e agir que estão além de suas próprias consciências. por exemplo. Chegar a interpre- tações implica ter uma concepção do que é a realidade social e de um modo de conhecê-la. transformando-a. Os fundadores da Sociologia são observadores da realidade social. no quadro a seguir. afastando as ideias preconcebidas sobre a realidade. pois se relacionam à coerção exercida. essa dinâmica do pensamento de- senvolve teorias que interpretam e explicam a realidade. realidade cultural. O conhecimento sociológico da realidade Durkheim Weber Marx Sociedade A realidade social A realidade é infinita e A realidade está em antecede o indivíduo. da realidade. na medida em que são comuns à maioria dos indiví- duos. ainda que não se perceba. Se Durkheim procura a objetividade do conhecimen- to. Durkheim considera que os fatos sociais não se confundem com as manifestações das consciências individuais. dependendo das re- gras da escola. Possivelmen- te ele receberia alguma sanção da turma.. a limpeza. p. por conseguinte. [. sobre como reagiriam diante do relato.] a sociedade não é simples soma de indivíduos. Há inúmeros outros exemplos parecidos na vida social. com a turma.. 90. mesmo que indireta. debatam. olha a vista da jane- la. Émile. 14. É preciso ainda que as consciências estejam associadas. satisfazendo a curiosidade de sempre: a primeira impressão.. como um olhar reprovador ou uma zombaria da editora (coercitividade).. a/Arquivo Embora se distingam dos fenômenos biológicos. Observa a decoração. e cheia de dólares! 1. pois existe um modo de vestir mais ou menos comum. que pode ser com o uniforme. que representa uma realidade específica com seus caracteres pró- prios. os armários e os móveis. De que maneira as atitudes tomadas por você podem ser relacionadas à análise de Durkheim sobre os fatos sociais? Sociologia: uma ciência da modernidade • 51 Sociologia_vu_PNLD15_037a064_C02. é desta combinação que resulta a vida social e. Espera-se que todos. combinadas. e sim sistema formado pela sua associação. Passa os olhos rapidamente nas instalações. Depois de lerem a proposta a seguir. com roupas de outras épocas ou típicas de outros grupos sociais. nada se pode produzir de coletivo se as consciências particulares não existirem. físicos e psicológicos. o banheiro. a moda.. basta olhar ao seu redor. estejam vestidos mais ou menos de acordo com a maioria (generalidade). Você acaba de se hospedar em um hotel. o quarto equipado. pois imagine algum colega chegando à sala de aula vestido de modo completamente diferente do grupo. abre a gaveta do criado-mudo. ed. Sem dúvida. pode ser considerada um fato social no sentido durkheimiano? Sim. Durkheim alerta sobre a força dos costumes e valores vigen- tes que internalizamos no processo de socialização.indd 51 5/27/13 5:18 PM . coercitivas e exteriores à consciência individual. e combinadas de determinada ma- neira. Pense em outros a que se aplicam essas regras. é esta com- binação que a explica. Levando em consideração o contexto acima. dE batE Ao conceber os fatos sociais como realidades objetivas.. Opa! Uma carteira de dinheiro. liga a televisão. por exemplo. situa-se no ambien- te. mas esta condição necessária não é suficiente. As regras do método sociológico. Leia como Durkheim os concebe formando uma realidade distinta: a so- ciedade. numa sala de aula. DURKHEIM. instituído socialmente. Está só. São Paulo: Nacional. e aquele que se vestir de maneira muito diferente do grupo pode sofrer alguma sanção. É a sociedade que define os padrões e normas do vestuário (exterioridade). 1990. responda: a) O que você faria nesta situação? Qual seria sua primeira reação? b) Que decisão tomaria ao final? Por quê? 2. Testa o ar-condicionado. Filipe Roch os fenômenos sociais também são reais e passíveis de observação científica. A maneira de nos vestirmos. Chegou ao apartamento que lhe foi destinado. b) Ação racional com relação a valor: nesse caso. se o seu sentido é racional. transformando-se numa espécie de segunda natureza. Nem toda ação é considerada social. costumes e crenças de uma sociedade. um comandante que não abandona o navio que está afundando com os passageiros. Weber identifica quatro tipos principais de ação: a) Ação racional com relação a um objetivo: trata-se. o sociólogo alemão Max Weber elegeu a Sociologia como a ciência da ação social. c) Ação afetiva: é aquela definida pelo estado de consciência ou o hu- mor do sujeito. só aquela que leva em conta o comportamento de outros. esta ação é definida por uma reação emocional do ator (quem xinga).indd 52 5/27/13 5:18 PM . capital do Pará. Compreender uma ação social é apreender o seu significado. por exem- plo. em Belém. 52 • capítulo 2 Sociologia_vu_PNLD15_037a064_C02. a ação é racional não porque tende a alcançar um objetivo definido e exterior. Manifestações religiosas como esta são consideradas. d) Ação tradicional: consiste na ação ditada pelos hábitos. As ações sociais são dotadas de significado quando os indivíduos impri- mem a elas um sentido conforme os valores culturais predominantes em cada período. emocional ou baseado em tradições. explicado anteriormente. é considerado por Durkheim o objeto sociológico por excelência. ações tradicionais. Mas o que é uma ação social? Weber concebe a ação social como aquela que se guia pela conduta do outro. Exemplo: uma pessoa xinga outra no trânsito. Ricardo Lima/Futura Press Fiéis católicos na celebração conhecida como Círio de Nazaré. Por exemplo. em foto de 2012. mas porque seria desonroso deixar de responder a um desafio. pela teoria weberiana. da ação do engenheiro que constrói uma ponte e combina os meios para atingir esse fim. É a ação que obedece a reflexos enraiza- dos por uma prática desenvolvida há longo tempo. �h Weber e a compreensão da ação social Se fato social. sendo capaz de compreendê-la e explicá-la. por exemplo. aqueles que vendem aos primeiros sua força de trabalho (os trabalhadores). 1977. para. jogos de azar. Pensando na definição dada acima. Max. Economía y sociedad: esbozo de sociología comprensiva. etc. Max Weber. seja em omitir ou permitir) sempre que o sujeito ou os sujeitos da ação deem a ela um sentido subjetivo. portanto. E ncon tro com os ciEn tis tas s oc i ai s Leia o trecho abaixo e depois responda às questões. dessa maneira. em 1842. Elas se estabelecem em diferentes tempos e modos de produção. Sociologia: uma ciência da modernidade • 53 Sociologia_vu_PNLD15_037a064_C02. Qual a relação dessas ações com o conceito de ‘sociedade’? Você imagina que elas possam ser estudadas pela Sociologia? Por quê? �h Marx analisa a realidade histórica Em que consistiria o objeto de estudo da Sociologia na obra de Karl Marx? De sua perspectiva teórica. por corres- ponderem a determinado grau de desenvolvimento da sociedade. (Texto publicado originalmente em 1922. Dizia não ser a vontade dos homens que dava estrutura ao Estado. publicado em 1859. os indivíduos tendem a pautar suas ações com base em avaliações racio- nais. Ou seja. interpretando-a. os proprietários dos meios materiais de produção (capitalistas) e. Em uma nota introdutória ao livro Contribuição à crítica da economia políti- ca. o indivíduo que quer “melhorar de vida” – ou seja. Marx relata que passou a dar importância às relações econômicas ao estudar a legislação sobre roubos de lenha e ao pesquisar a situação dos camponeses da região do rio Mosela. p. trabalho. ascender socialmente – vai buscar os meios (escolarização. explicá-la causalmente no seu desenvolvi- mento e efeitos. em foto de 1910. de outro. pode-se extrair que são as relações sociais. WEBER. as quais se estabelecem independentemente da vontade dos homens e são históricas. É claro que não existem tipos puros de ações. determinadas historicamente. a sociedade moderna tem por base relações de propriedade: de um lado. na Alemanha. mas sim a situação objetiva das relações entre eles.indd 53 5/27/13 5:18 PM . 5. 2. I. Por “ação” entende-se uma conduta humana (um fazer externo ou interno. Denomina-as relações de produção. cite alguns exemplos de ação social que você O pensador alemão identifica no seu dia a dia. Deve-se entender por Sociologia (no sentido aqui aceito desta palavra empre- Hulton Archive/Getty Images gada com tantos significados): uma ciência que pretende entender a ação social. Tradução própria.) para atingir tal objetivo. Para ele. nos quais os homens produzem a realidade histórico-social e dela são produto. Bogotá: Fondo de Cultura Económica. ele adota um comportamento racional con- siderando a eficiência dos meios e as consequências futuras de suas ações. Nessa lógica.) 1. e Weber considera isso. A “ação social”. As re- lações sociais são. Para Marx. v. portanto. é uma ação na qual o sentido pensado por um sujeito ou sujeitos toma por referência a conduta de ou- tros e por ela orienta o desenvolvimento de sua ação. Marx procura ir além das aparências da realidade social. p. quanto a vida em conjunto é determinada historicamente. um dzôon politikhón [animal político]. livre? Palácio Gustavo Capanema.. [. pausa par a r E f l E t i r Ao analisar a complexidade da existência do indivíduo e da sociedade em uma pers- pectiva histórica. pela análise de Marx.indd 54 5/27/13 5:18 PM . Rio de Janeiro/Fundação Portinari Colheita de cana (1938). mas um animal que só em sociedade pode isolar-se. A pro- dução realizada à margem da sociedade pelo indivíduo isolado – fato excepcional que pode muito bem acontecer a um homem isolado transportado por acaso para um lugar deserto. Contribuição à crítica da economia política. em tese. sempre que falamos de produção. 202. tela de Candido Portinari.] Assim. Karl. o escravo. mas já levando consigo. não só um animal sociável. as forças próprias da socie- dade – é uma coisa tão absurda como o seria o desenvolvimento da linguagem sem a presença de indivíduos vivendo e falando em conjunto. 54 • capítulo 2 Sociologia_vu_PNLD15_037a064_C02. em potência. até che- gar ao trabalhador moderno na sociedade em que a concorrência é. o servo da terra do senhor feudal. São Paulo: Martins Fontes. é à produção num estágio determinado do desenvolvimento social que nos referimos – a produção de indivíduos vivendo em sociedade. • O que aparece como uma questão banal – o indivíduo em sociedade – pode revelar. no sentido mais literal. 1977. MARX.. Leia o texto a seguir e responda à questão por escrito: O homem é. Como você interpreta esta questão reportando-se a épocas históricas anteriores: o caçador e o pescador isolados. mostrando como as partes da sociedade (suas instituições e/ou indi- víduos) se relacionam de forma harmoniosa e estável. Estas. v. matrimônio. Sua teoria da ação social procura reconhecer o sentido (significado) da ação social no conjunto dos acontecimentos histórico-cultu- rais. Igreja. de forma durável. estudaremos as principais teorias sociológicas. Weber concebe a ação social como uma ação humana que se deixa guiar pela conduta de outrem. e não do seu somatório. Ao longo do livro. exista ou possa existir. um sistema de direitos e deveres entre os homens. embora o conjunto dos grandes traços da vida em sociedade não mude de forma tão rápida. Econo- mia e sociedade. levando em conta o contexto histórico. por serem fenômenos ob- jetivos e exteriores ao indivíduo. Bogotá: Fondo de Cultura Econômica. corporação. como Estado. 1977. – na probabilidade de que uma forma determinada de conduta social. �h A integração social sob o olhar de Durkheim O sociólogo francês Émile Durkheim formula uma teoria da integração social. de caráter recíproco por seu sentido. As teorias sociais são transitórias: variam conforme as mudanças nas so- ciedades e conforme o avanço do conhecimento. Em sua obra clássica de 1922. na qual confirma a ideia de coerção social. uma corrente de pensamento que compreende que as instituições exercem funções específicas e necessárias em uma sociedade. de acordo com as temáticas tratadas. sua teoria afirma ser possível observar com isenção os fatos sociais. explicam e aplicam-se a um momento histórico. Durkheim acredita na prioridade do social sobre o indivíduo e na separação entre realidade psíquica e realidade de natureza social. que podem ser observadas e comparadas com objetividade. assim expressa a relação entre indivíduo e sociedade: A relação social consiste única e exclusivamente – ainda que se trate de forma- ções sociais. Sociologia: uma ciência da modernidade • 55 Sociologia_vu_PNLD15_037a064_C02. etc. Nesse sentido. I. As ideias de Durkheim estão em sintonia com o funcionalismo. por sua vez. Max. Economía y sociedad. A partir de uma de suas proposições – “tratar os fatos sociais como coisas” –. Resultantes de pesquisas e análises criteriosas. no sentido de que a solidariedade produzida pela divisão do trabalho cria tam- bém.indd 55 5/27/13 5:18 PM . p. A produção teórica dos clássicos da Sociologia Os métodos são ferramentas indispensáveis para a construção das teorias sobre a realidade social. veremos as linhas teóricas gerais de alguns autores clássicos que apresentam sua visão do fenômeno socieda- de e. 22. em 1893. ele é considerado um representante positivista. �h Teoria da ação social em Weber O sociólogo alemão Max Weber tem uma concepção mais subjetivista da realidade social. A seguir. as teorias sociais são explicações científicas para as relações e as transforma- ções que ocorrem na sociedade e nas suas instituições. tenha existido. Produziu. WEBER. a obra Divisão do trabalho social. são propostas que os cientistas produzem para explicar e interpretar o objeto em estudo. por esta última resultar da combinação das consciências individuais. Como vimos. por decorrência. da realidade dos indivíduos. como as ações interindivi- duais e sociais movem e constituem a sociedade. etc. �h Marx e a teoria da acumulação O filósofo alemão Karl Marx. na obra A ideologia alemã. É considerado um relativista por propor que os valores de uma cultura con- dicionam o conhecimento. o processo da história tem sido explicado como uma sucessão de diferentes modos de produção – o primi- tivo. na ilustração a seguir. pois se vale da constru- ção de tipos ideais (conceituais) que expressam a singularidade de cada fenômeno e procuram compreender o sentido da ação. religiosa. o capitalista –. Podemos observar. no livro A ética protes- tante e o espírito do capitalismo (1905). o escravista. portanto. cada qual com suas relações sociais. É o que Marx denomina modo de produção. escrita em parceria com Friedrich Engels. A forma com que os homens produzem socialmente sua sobrevivência material se acha con- dicionada por determinado desenvolvimento das forças produtivas e pelas relações que a ele correspondem. é definido como histórico-comparativo. Há reciprocidade nas ações so- ciais. de 1845. mutável. jurídica. Essa é uma realidade histórica e. o asiático. desviam um do outro. para evitar um acidente. We- ber exemplifica: dois ciclistas vêm em sentidos contrários numa rua e. As ações sociais são. portanto. Filipe Rocha/Arquivo da editora O método de análise de Weber da ação social. Um exemplo disso está em sua pesquisa sobre a religião e o capitalismo. o feudal. científica. Assim. no qual ele buscou compreender a relação entre determinada ética religiosa e a formação do capitalismo. 56 • capítulo 2 Sociologia_vu_PNLD15_037a064_C02. recíprocas. porque os indivíduos impri- mem a elas um sentido levando em conta o comportamento de outros.indd 56 5/27/13 5:18 PM . sintetiza a dinâmica da vida em socieda- de da seguinte forma: os homens produzem suas representações e suas ideias sobre as relações sociais que vivem concretamente. Esse conjunto de relações de produção que os homens estabelecem para sobreviver é a base econômica da sociedade sobre a qual se assenta o aparato de relações de natureza política. em sua Sociologia Com- preensiva. Vincent West/Reuters/Latinstock Polícia e manifestantes entram em confronto na Espanha. não só em volume. Assim. ou mesmo em compreender o anta- gonismo complementar que se encontra nas relações de classe. ou seja. em contínuo movimento. Basicamente. Esse “valor a mais” que ele produz é apro- priado pelo capitalista. Em seu pensamento. na luta Karl Marx.indd 57 5/27/13 5:18 PM . o conjunto dos meios de produção. Na medida em que o trabalhador aluga a sua força de trabalho ao capital para produzir. so produtivo. de P. esta teoria explica como ocorre o crescimento do capital na sociedade capitalista. são relações entre proprietários e não proprietários dos meios de produção. mas também em ní- vel técnico e tecnológico. como dissemos ante- riormente. capitalismo. por interesses diferentes que disputam a riqueza acumulada no proces. Marx produz uma teoria da acumulação tomando as características das relações de produção na sociedade capitalista – que. Gereljuk. Foto de 14 de novembro de 2012. durante greve em protesto contra a crise econômica que atingiu vários países da Europa. em pintura de 1920. Destaque as diferenças entre as duas formas de observar a realidade social e apresente o resultado de sua pesquisa à turma. transforma os Akg-Images/Latinstock meios materiais de produção em mercadorias com o seu trabalho. Nasarov e N. feuda- lismo. não re- cebe tudo o que lhe é devido. o movimento dos contrários é encontrado na supera- ção de um modo de produção histórico para outro (escravismo. Marx adotou a dialética como método de análise da realidade. cresce o capital. Sociologia: uma ciência da modernidade • 57 Sociologia_vu_PNLD15_037a064_C02. por exemplo). p E sQuisa Observe a fotografia abaixo e pesquise como a realidade retratada na imagem pode ser explicada pela produção teórica da Sociologia de um dos clássicos e como o senso comum pode a ela se referir. Ancoradas ou não nos autores clássicos. trabalho. �h Teorias e métodos das Ciências Sociais no século XX As teorias sociais costumam ser divididas em clássicas e contemporâneas. Ação social. redimensionar ou mesmo romper com elas. novas teorias e abordagens das Ciências Sociais são concebidas no compasso das mudanças sociais. Quando a Teoria Crítica elege a razão e a sociedade contemporâneas como objeto de estudo. capitalismo social. produção. as nor- da chamada Teoria Crítica. Max Horkheimer (1895-1973). numa ação hu- mana que é individual e também coletiva. permanecem válidas. social. conflito. São represen- tantes da Teoria Crítica. nos anos 1950. A Sociologia mais recentemente pro- Baptistão/Agência Estado duzida pensa a sociedade pela óptica de sujeitos ativos em relações. Bourdieu. Erich Fromm (1900-1980) e Jürgen Habermas (1929-). uma teoria geral dos siste- mas sociais. humanidade. relações de instituição social. Veremos a seguir características gerais do pensamento de alguns dos sociólogos mais representativos do século XX: o norte-americano Talcott Parsons (1902- -1979). práxis. o francês Pierre Bourdieu e os autores alemães da chamada Teoria Crítica. racionalização. denominada Escola de Frankfurt. classes sociais. Todas as teorias. mostra como os ato- Eduardo Baptistão de 2009. apresentadas neste livro estão atreladas a grandes metodologias. na década de 1920. As primeiras. Walter Benjamin (1892-1940). luta de classes. estágios teológico. As teorias valem-se de conceitos inter-relacionados. Benjamin foi um dos fundadores res sociais internalizam os valores. Ao desenvolver. clás- sicas ou contemporâneas. As teorias mais recentes partem muitas vezes das proposições dos clássicos para reafirmar. ocidental. tece críticas a uma concepção do mundo que não respeita a liberdade e a O sociólogo alemão Walter autodeterminação. Fatos sociais.indd 58 5/27/13 5:18 PM . dominação. uns ajudam a compreender outros com argumentos coerentes que explicam como e por que as coisas acontecem na sociedade. contradição ou científico da sociais. com sua teo- Benjamin. coesão social. ou seja. consciência coletiva. em diversos momentos do século XX: Theodor Adorno (1903-1969). mas e os princípios. capital. embora datem de mais de um século. relação Modo de produção. Herbert Marcuse (1898-1979). integração social. evolução da solidariedade. Tomemos conhecimento dos concei- tos presentes na produção teórico-metodológica dos autores clássicos: Alguns conceitos básicos da Sociologia Comte Durkheim Weber Marx Ordem social. metafísico e positivo representações burocracia. em caricatura de ria das práticas sociais. Parsons está pensando na in- ter-relação entre as partes. na sociedade global. 58 • capítulo 2 Sociologia_vu_PNLD15_037a064_C02. podemos afirmar que aquele que desenvolve consciência do espaço social que ocupa pode ser considerado um crítico da sociedade. sociólogo timação. francês. da razão para resgatar o passado e compreender as limitações do presente. transformação. A orientação de inscrita nas relações de cada ator nesse processo poder. O filósofo italiano Antonio Gramsci (1891-1937) dizia que todo ser humano é um intelectual. Bourdieu embasa seu pensamento na ideia de reprodu- ção social. estudadas no capítulo 9. pondera que um sistema social complexo não é totalmente estável nem muda como um todo. com base sistematizar a ação nas relações de poder social. e não apenas os cientistas. Por meio do conhecimento. A Sociologia pelos autores contemporâneos Parsons Teoria crítica Bourdieu Sociedade Uma coletividade de Dimensão histórica com Existe na ação de pessoas em interação suas normas e formas sujeitos que se constitui um sistema simbólicas. de diosos da Teoria Crítica empregam uma metodologia dialética que se vale Louis Monier. entre os agentes. significados. como as transformações culturais que acontecem na educação e na sociedade de massa. Assim. relacionam e está social. razão. con- cebido como lógica da contradição social.indd 59 5/27/13 5:18 PM . etc. Pierre Bourdieu afirma que o conhecimento exerce um efeito libertador. capaz de contemporâneas. Talcott Parsons. Vejamos como as propostas teóricas desses autores concebem a socieda- de e. professor. Tal qual a produção dos clássicos. e seus agentes sociais descobrem quem realmente são e o que fazem. considera que o sistema social é mantido pelas forças institucionais e padrões culturais. Estado. a Sociologia contemporânea enfoca a questão da mudança social. Nesse caso. O estudo das Ciências Sociais nos revela os mecanismos de poder que nos fa- zem acreditar serem “naturais” muitos fenômenos que caracterizam a socie- dade. em decorrência. Sociologia Uma ciência ligada a Questiona a ciência e a Ciência que estuda a outras ciências do sociedade ação subjetiva e seus homem. pós-modernidade. legi. interativo – como pai. – é o papel social. ou seja. Utilizando-se de conceitos como cultura. Esse pensamento é compatível com a metodolo- gia estrutural-funcional que ele desenvolve. a sociedade reflete. autoridade. os estu. irmão. em obras como A estrutura da ação social (1937). Pierre Bourdieu. situam a ciência Sociologia. O sistema social (1951) e Teoria sociológica e sociedade moderna (1967). Sociologia: uma ciência da modernidade • 59 Sociologia_vu_PNLD15_037a064_C02. Louis Monier/Gamma-Rapho/Getty Images as metodologias mostram haver coerência entre a posição social e de pensamento do investigador e os conceitos construídos para explicar a realidade. pois participa do mundo em que vive e pensa sobre ele. toda mudança social é acompanhada de um saber histórico. em foto de 1991. Conhecer é desenvolver o espírito crítico e também a crítica social. crise. Por essa razão. indústria cultural. volta o olhar sobre si mesma. a Sociologia procura dar entendi- mento à condição de “estarmos no mundo”. A emenda propõe isenção fiscal para gravações de obras de artistas e/ou compositores brasileiros. e não prover certezas absolutas. além da Sociologia. pelas quais o ser humano constrói a si e seu mundo social. o conhecimento sociológico tem um compromisso com o de- senrolar das ações concretas. Desse modo. 1. pois todas foram influenciadas pela mesma base de pensamento. como vimos nas páginas anteriores. econômico. É importante descobrir-se como sujeito portador de uma herança social e perceber que indivíduo e sociedade são elementos que se influenciam mutuamente. Foto de 2011. exatas e biológicas. diálogo s i n t E r d i s c i p l i nar E s Neste capítulo. A ideia deste projeto é elaborar um olhar sociológico sobre as outras ciências. o que implica desenvolverem um conjunto de conceitos capazes de interpretar a realidade e derivarem esse conhecimento de uma concepção de mudança que lhe é implícita. conhecemos um pouco mais da Sociologia como ciência e de sua história. de certa forma.indd 60 5/27/13 5:18 PM . seme- lhante. Individualmente ou em grupos. históricas.A Press Artista durante apresentação no ato político e artístico pela aprovação da PEC 98/2007 (proposta de emenda à Constituição). A história das ciências modernas é. escolha uma das seguintes disciplinas: História – Geografia – Física – Matemática – Biologia – Química – Filosofia 2. Faça uma pesquisa em bibliotecas e na internet para saber um pouco mais sobre a história desta ciência. político. Monique Renne/CB/D. cultural. Preste atenção especial aos fatos ligados aos séculos XVIII. Com um corpo organizado de saberes. Este é um dos exemplos de como indivíduos em sociedade exercem a crítica social. Essa é uma das condições para os cientistas sociais produzirem ciência. 60 • capítulo 2 Sociologia_vu_PNLD15_037a064_C02. XIX e XX. em palco montado na Câmara dos Deputados. humanas. etc. escolham um dos autores clássicos da Sociologia (Durkheim. teatro. Sociologia História Geografia Física Matemática Biologia Química Filosofia Primeiros cientistas: nome. 5. seguindo o modelo abaixo. Com base no que estudou no capítulo. Observando o quadro. sexo.indd 61 5/27/13 5:18 PM . discuta com seus colegas: a) Que ciências são mais antigas e que ciências são mais novas? Como vocês expli- cam essa diferença? b) O que essas ciências têm em comum umas com as outras? E entre todas? Por que motivo você acha que estes aspectos são semelhantes entre elas? r E v i s a r E s i s t E m atiza r 1. mostrando quan- do e por que elas se afastaram ou se aproximaram. 6. história em quadrinhos. Em equipe. Analise as condições histórico-sociais que explicam o aparecimento da Sociologia. Levando em consideração o conteúdo do capítulo. nacionalidade Época em que se firmou como ciência Primeiro curso em universidade (quando. como música. monte um quadro comparativo da Sociologia com estas outras ciências. quem inaugurou/ criou) Principais descobertas e invenções da época Fatos históricos interessantes e curiosos 4. qual a importância do conhecimento sociológico para entender a sociedade e poder trans- formá-la? Sociologia: uma ciência da modernidade • 61 Sociologia_vu_PNLD15_037a064_C02. 3. A apresentação pode utili- zar formatos diferentes. Por que se diz que a Sociologia é uma ciência histórica? 4. Escreva sobre a relação entre senso comum e ciência. como você definiria sociedade? Em que momento de sua vida há evidência de sociedade? 2. 3. Weber ou Marx) e apresentem a concepção do autor escolhido acerca do seu método de apreensão da realidade social. Com a ajuda de colegas que pesquisaram outras disciplinas. onde. conceitos-chave: Sociedade.br>. disponibilizando-os para acesso na internet. Zygmunt. Edmundo (Org. direção de Michael Moore. Esse novo contexto de sobrevivência provoca conflitos na família. MAY.org>. em plena crise financeira global de 2008. relações de poder. Capitalismo: uma história de amor. Centro Brasileiro de Análise e Planejamento (Cebrap). de forma concisa. os autores mostram como a Sociologia pode ampliar o olhar sobre aspectos aparentemente triviais. Acesso em: 9 out. de 1960. Disponível em: <www. O que é Sociologia. modernidade. 1974.cebrap. e o seu impacto na vida dos norte-americanos. senso comum. 1960. ed. 62 • capítulo 2 Sociologia_vu_PNLD15_037a064_C02. irmãos. funcionalismo. Centro Edelstein de Pesquisas Sociais. DIAS. 2001. interação social. Anna M. direção de Luchino Visconti. Estados Unidos. Itália. teoria da ação social. desenvolve importantes estudos. 2009. mudanças sociais. Apud CASTRO. 2012. modo de produção. Este site disponibiliza livros e artigos sobre a sociedade da informação em várias línguas. São Paulo: Brasiliense. 1995. In: ARON. Aprendendo a pensar com a Sociologia. capitalismo. fatos sociais. p. bibliog r af i a ARON. Disponível em: <www. Este livro explicita. teoria da integração social. Grupos e sociabilidade.). relações sociais.com. Referência entre os centros de pesquisa da área de ciências humanas no país. 2010. Introdução ao pensamento sociológi- co. Revista Brasileira de Ciências Sociais. Acesso em: 9 out. Entidade jurídica sem fins lucrativos que busca promover o ensino e a pesquisa na área da Sociologia. Rio de Janeiro: Eldorado. dialética. BAECHLER.php?pid=0102-6909&script=sci_ serial>. As Ciências Sociais na rede Cena do filme Rocco e seus Biblioteca Virtual de Ciências Humanas. em que consiste a disciplina da Sociologia e o seu objeto de estudo. 65-89.org. 2012. Tratado de Sociologia. As Ciências Sociais no cinema Rocco e seus irmãos.indd 62 5/27/13 5:18 PM . Jean. O cenário é o do capitalismo recente sob o domínio das corporações. Longa-metragem de ficção que conta a saga de uma família italiana que migra para o norte do Photononstop/Agência France-Presse país. fugindo da miséria. relações de produção.). Partindo de temas do dia a dia. Acesso em: 9 out. ação social. sociabilidade. de. Tim. teoria da acumulação.bvce. positivismo.sbsociologia. 2012. Disponível em: <www. Disponível em: <www. Raymond (Dir. Sociedade Brasileira de Sociologia.br>. dEscubr a m ai s As Ciências Sociais na biblioteca MARTINS. Carlos. Acesso em: 7 set. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editor. Todos os textos podem ser consultados gratuitamente.scielo. BAUMAN. 1. Periódico on-line que reúne trabalhos e pesquisas desenvolvidos recentemente na área de Ciências Sociais. ordem social. 2012. evolucionismo.br/scielo. Rio de Janeiro: Jorge Zahar. Raymond. Durkheim e Max Weber. FICHTER. O capital: crítica da economia política. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira. ed. Milano: FrancoAngeli. IANNI. Reprodução/Editora Civilização Brasileira HABERMAS. 1994. DIAS. Octavio. ed. MARX. Gabriel (Org. São Paulo: Ed. Friedrich.) DOMINGUES. 1993.134-137. v. Rio de Janeiro: Eldo- rado. Einleitung in die Soziologie. IANNI. Capa do livro Enigmas da modernidade-mundo. Thomas. FERNANDES. XXXV. Barbara. ed. Jonathan (Org. (Introdução à Sociologia). São Paulo: Loyola. _. XXXIII. GRAMSCI. Rio de Janeiro: Zahar Editores. São Paulo: Abril Cultural. A divisão do trabalho social. 1972. Torino: TEA. A ideologia alemã. Fernando H. KONDER. São Paulo: Pedagógica Universitária. sociologia e teoria social: encontros com o pensamento social clássico e contemporâ- neo. Nanci Valadares (Org. Carlos. 3. de Octavio _. São Paulo: Nacional. ENGELS. Edmundo (Org. 14. Ianni (ed. Razões práticas: sobre a teoria da ação. Rio de Janeiro: Martins Fontes. 2001. ELIAS. Incontro con la sociologia. vol. da Unesp. L`integrazione sociale. 3. Reprodução/Jorge Zahar Editor BAUMAN. Luciano. Leandro. Anthony. Alessandro. Zygmunt. LAZZARINI. Fundamentos empíricos da explicação sociológica. Joseph. In: Os pensadores. Rio de Janeiro: Jorge Zahar. 1973. Teoria social hoje. Antonio. Karl. da Unesp. BERGER. (Jorge Zahar Ed. CARDOSO. ed. Por uma sociologia crítica: um ensaio sobre o senso comum e emancipação. Dizionario di Sociologia. São Paulo: Abril Cultural. 1981. FREITAG. MARX. Alberto. São Paulo: Martins Fontes. Aprendendo a pensar com a Sociologia. 1974. Guido. 1991. _. Rio de janeiro: Livros Técnicos e Científicos. vol. GALLINO. 2001. Lisboa: Editorial Presença. ed. 1990.). As formas elementares da vida religiosa. v. de. Jürgen. David.indd 63 5/27/13 5:18 PM . 1986. Pierre. Leituras sociológicas. 1999. 1973. _. Bologna: Il Mulino.). 1977. Sociologia. 1. Homem e sociedade: leituras básicas de sociologia geral. São Paulo: Moraes. São Paulo: Nacional. 1998. Editor. Mudança estrutural na esfera pública: investigações quanto a uma categoria da socie- dade burguesa. 2005. Manuscritos econômico-filosóficos. A construção social da realidade: tratado de sociologia do conheci- mento. 2001. Octávio. O que é Sociologia. 1977. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira. p. As regras do método sociológico. 1977. Tim. COHN. Petrópolis: Vozes. MAY. Campinas: Papirus. 1973. CAVALLI. _. HARVEY. 1989. MARTINS.). 1984. São Paulo: Nacional. Política. de Norbert Elias COMTE. A teoria crítica: ontem e hoje. 1996. 1987. IZZO. DURKHEIM. Hans. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editor. BOURDIEU. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira. São Paulo: Brasiliense. Capa do livro A sociedade dos indivíduos. LUCKMANN. _. São Paulo: Brasiliense. Verlag Von Quelle & Meyer in Leipzig. 1974. São Paulo: Brasiliense. Anna M. 1973. 1931. 1. Capitalismo e moderna teoria social: uma análise das obras de Marx. Curso de Filosofia Positiva. Florestan. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro. 2. Karl. Civilização Brasileira). GIDDENS. O que é dialética. In: CARVALHO. Sociologia: para ler os clássicos. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira. 1993. Norbert. Émile. 2000. FREYER. 8. Enigmas da modernidade-mundo. Os intelectuais e a organização da cultura. 1990. 2010.). Peter. 1996. A condição pós-moderna: uma pesquisa sobre as origens da mudança cultural. TURNER. 1984. A sociedade dos indivíduos. Storia del pensiero sociologico. José. São Paulo: Ed. Bologna: Il Mulino. Teorias sociológicas no século XX. Introdução ao pensamento sociológico.. In: Os pensadores. Auguste. CASTRO. São Paulo: Vértice. Sociologia: uma ciência da modernidade • 63 Sociologia_vu_PNLD15_037a064_C02. 1975. indd 64 5/27/13 5:18 PM . 1987. WRIGHT. 1. Porto: Afrontamento. 1978. Dialettica e positivismo in sociologia. Erik Olin. 1977. The social system. SOUSA SANTOS. Glencoe: The Free Press. ed. 1969.. WEBER. Sociologia: Comte. Crítica da modernidade. Evaristo de (Org. 10. Boaventura de. Nanci Valadares (Org. Torino: Giulio Eunadi Editore. Um discurso sobre as ciências. Bogotá: Fondo de Cultura Económica. Lisboa: Editorial Presença. Imagem crítica da sociologia. São Paulo: Livraria Pioneira Editora. São Paulo: Cultrix. 1977. Duncker & Humblot. [Soziologie. ed.). v. Leituras sociológicas. MAUS. _. 1923. PARSONS. 1974. München und Leipzig. São Paulo: Vértice. MARX. _. Petrópolis: Vozes. 1967. MORAES FILHO. Sociedades: perspectivas evolutivas e comparativas. Carlos. 1977.). Contribuição à crítica da economia política. 3-7). TOURAINE. As formas sociais como objeto próprio da Sociologia. Talcott. Classe. São Paulo: Ática. Max. A ética protestante e o espírito do capitalismo. Rio de Janeiro: Zahar. São Paulo: Martins Fontes. SIMMEL. 1981. FÜRSTENBERG. 3. Friedrich (Org. Georg. MOYA. São Paulo: Pioneira. 1951. Sobre a teoria das Ciências Sociais. 1977. ed. Filipe Rocha/Arquivo da editora 64 • capítulo 2 Sociologia_vu_PNLD15_037a064_C02.). crise e estado. Karl. In: CARVALHO. 1998. Alain. 1994. Heinz. p. 3. _. Economía y sociedad: esbozo de sociología comprensiva. com novos arranjos familiares. Além das mudanças sociais que levam ao fenômeno de famílias em transição. os meios de comu- nicação e outras instituições sociais. Vamos conhecer as origens da família patriarcal no Brasil e per- ceber como a ideologia patriarcal influenciou a configuração da família nas sociedades ocidentais. analisaremos como as famílias contemporâneas dividem a socialização (transmissão de valores e comportamentos) com a escola. Salmo Dansa /Arquivo da editora Capítulo 3 A família no mundo de hoje EstudarEmos nEstE capítulo: por que a família é considerada uma instituição social. 65 Sociologia_vu_PNLD15_065a088_C03.indd 65 5/27/13 5:19 PM . e nos dizem quem tem direitos sobre quem. muitas vezes. mãe e filhos morando juntos? Ou você incluiria avós. Há uma grande variedade de situações e arranjos familiares no mundo. 66 • capítulo 3 Sociologia_vu_PNLD15_065a088_C03. como sentimentos e interesses semelhantes e/ou a necessidade de sobrevivência. composta pelas figuras paterna e materna. todos vivendo sob um mesmo teto. O registro formal de casamento. 61. e não somente pelo casamento ou pela filiação. GIDDENS. tios e primos. pela Igreja católica ou pelo Estado. Anthony. que varia entre os dife- rentes grupos. segundo o antropólogo francês Claude Lévi-Strauss. uma mãe tem direitos sobre seu filho. nenhuma é mais importante do que aquelas que acontecem em nossas vidas pessoais – na sexualidade. As muitas configurações da família Filipe Rocha/Arquivo da editora Entre todas as mudanças que estão se dando no mundo. Como é sua família? Que imagem vem à sua mente quando pensa nesse assunto? Será que família é apenas um pequeno grupo formado por pai. Durante muito tempo. eram as famílias mais ricas. 2003. somente esse modelo de família era considerado legítimo. As rela- ções de parentesco também determinam. O que aproxima e mantém unidos os mem- bros de uma família são laços de parentesco e vínculos de afinidade. além dos filhos. e esse direito é regulado pelo Estado. garantindo uma ampliação dos direitos de pensão. que vão além da estrutura “nuclear”. Isso significa que apenas as pessoas vivendo em famílias formadas por um casal heterossexual e filhos tinham acesso a direitos como a herança. o que significa dizer que a família é uma institui- ção social? Que papéis sociais desempenha cada um de seus membros? O que mantém a unidade familiar e como ela se configura em diferentes socie- dades? Que tipos de família podem ser identificados? A palavra família é usada para designar grupos bastante distintos. por exemplo. porém. O parentesco é um sistema de alianças que ordena e classifica a vida social.indd 66 5/27/13 5:19 PM . com especificidades no tempo e em diferentes sociedades. Rio de Janeiro: Record. adoção e herança. no casamento e na família. também era necessário para que se considerasse uma família aos olhos da lei. No caso da sociedade brasileira hoje. por exemplo. Os integrantes de uma rede de parentesco não se reconhecem biologicamente. Mundo em descontrole. Uma definição mais ampla caracteriza a instituição familiar como um conjunto de pessoas relacionadas entre si por laços afetivos. 3. modelos de família que sempre existiram estão começando a ser reconheci- dos pelo Estado. Hoje. que tinham propriedades e bens a serem herdados. perante o Estado brasileiro. p. mas sim por meio de uma complexa lógica de classificação social. ed. nos relacionamentos. Não obrigatoriamente esses indivíduos coabitam. a distribuição de po- der econômico ou político numa sociedade. Apenas uma parcela pequena da população vivia nessas condições: em geral. ainda que nem todos habitem a mesma casa? Quem mais você considera parte do seu núcleo familiar? As Ciências Sociais lançam também questionamentos em relação ao te- ma família. entre outros. divisão de bens. Gerson Gerloff/Pulsar Imagens Gerson Gerloff/Pulsar Imagens 1 2 Rita Barreto/Acervo da fotógrafa Renato Soares/Pulsar Imagens 3 4 Gerson Gerloff/Pulsar Imagens Stringer/Agência France-Presse 5 6 Não há um único modelo de família, podendo variar o número de membros e a composição de cada uma, como podemos ver nestas imagens: 1. Três gerações numa mesma foto: avós, mãe e neto representando uma família de Custódia (PE). Imagem de 2011. 2. Pai e filhos na zona rural de Restinga Seca (RS). Foto de 2011. 3. Família da etnia Kuikuro no Parque Indígena do Xingu (MT). Foto de 2012. 4. Família da etnia Kambeba em Manaus (AM). Foto de 2011. 5. Casal homoafetivo espanhol com filhas recém-nascidas em hospital na Índia. Foto de 2011. 6. Uma família de Santa Maria (RS) composta por avó, mãe e filhas. Foto de 2010. É possível afirmar que o parentesco quase sempre engloba relações de poder, dominação e subordinação. Além de estarem presentes na esfera fami- liar, as relações de dominação são encontradas na política, na economia, no trabalho. São relações assimétricas em que os indivíduos, para impor autori- dade e influenciar outros indivíduos e grupos, podem se valer de meios físi- co-materiais e simbólicos, como a violência, a persuasão, a pressão, o assédio, a sedução e até a própria educação, os valores, a moral. Essas relações impli- cam dependência e obediência, na concepção de dominação de Max Weber. Certas relações de dominação típicas da tradição da elite europeia deram origem à família moderna, cujo modelo ainda hoje é referência no Ocidente. A família no mundo de hoje • 67 Sociologia_vu_PNLD15_065a088_C03.indd 67 5/27/13 5:20 PM A concepção hegemônica de família que Fernando Favoretto/Criar Imagem persistiu nos últimos dois séculos é a de um gru- po social constituído, basicamente, pelas figuras do pai, da mãe e dos filhos, o que se convencio- nou denominar família nuclear. Nos dias de ho- je, porém, o Estado reconhece como famílias outros tipos de grupos: mães solteiras e pais sol- teiros com seus filhos, crianças criadas por seus avós, e até mesmo casais sem filhos. Outra con- figuração familiar que está sendo reconhecida pelo Estado somente agora são aquelas em que a relação afetiva se dá entre pessoas adultas do mesmo sexo. Acima vemos o que poderia ser chamado de exemplo de uma O grupo familiar tende a se manter unido por relações sociais, econô- família nuclear tradicional em micas e afetivas, mesmo quando seus membros não residem no mesmo São Paulo. Hoje em dia sabe-se domicílio. Se incluirmos nesse conjunto os ascendentes, descendentes e que tal modelo não é os que se agregam ao grupo familiar indiretamente, estaremos nos refe- hegemônico, sendo bastante comuns os núcleos em que um rindo à família extensa. Também se discute nas Ciências Sociais se outros dos pais não está presente ou tipos de relação – como as relações profissionais – poderiam ser incluídos em que eles são do mesmo na ideia de família. Um exemplo disso são casos em que empregadas do- sexo. Foto de 2011. mésticas vivem junto à família que as contrata, participando da vida fami- liar ativamente. A família como instituição social Como vimos nos capítulos 1 e 2, a Sociologia estuda a mudança social. Em diferentes ritmos e momentos, vivemos transformações em todas as áreas – política, econômica, social, cultural – e, embora sejam estudadas separada- mente, elas estão todas inter-relacionadas. Ao analisarmos as mudanças eco- nômicas, por exemplo, é necessário levar em conta o contexto social em que elas ocorreram, suas razões e implicações sociais. As mudanças na família – seu tamanho, seus valores e os papéis sociais desempenhados por cada indivíduo que a compõe – nos remetem a outros aspectos da sociedade, como os novos hábitos e estilos de vida, a acelerada urbanização, as metamorfoses no mercado de traba- Shutterstock/Glow Images lho, a melhoria dos níveis de escolarização, a emer- gência de novos valores e culturas, a massificação dos meios de comunicação, entre outros. Com essas ques- tões em mente, podemos analisar de forma mais ade- quada a instituição família, compreendendo as trans- formações pelas quais passou nos últimos tempos. Uma prática social repetida e aceita por indiví- duos e grupos se torna um padrão de comporta- mento, ao menos durante certo período; assim acontece com os grupos familiares em diversas cul- turas. Ainda que a família esteja em contínuo pro- cesso de mudanças, ela não é uma organização sim- O afeto é um componente importante da instituição família, ples, nem tende a desaparecer facilmente. Nas como se pode observar nos bilhetes acima. palavras do sociólogo francês Pierre Bourdieu: 68 • capítulo 3 Sociologia_vu_PNLD15_065a088_C03.indd 68 5/27/13 5:20 PM [...] a família é produto de um verdadeiro trabalho de instituição, ritual e téc- nico ao mesmo tempo, que visa instituir de maneira duradoura, em cada um dos membros da unidade instituída, sentimentos adequados a assegurar a integração que é a condição de existência e de persistência dessa unidade. Os ritos de insti- tuição (palavra que vem de stare, ‘manter-se, ser estável’) visam constituir a família como entidade unida, integrada, unitária, logo, estável, constante, indiferente às flutuações dos sentimentos individuais. Esses atos inaugurais de criação (imposi- ção do nome de família, casamento, etc.) encontram seu prolongamento lógico nos inumeráveis atos de reafirmação e de reforço que visam produzir, por uma espécie de criação continuada, as afeições obrigatórias e as obrigações afetivas do sentimento familiar (amor conjugal, amor paterno e materno, amor filial, amor fraterno, etc.) BOURDIEU, Pierre. O espírito de família. In: _____. Razões práticas: sobre a teoria da ação. Campinas: Papirus, 1996. p. 126. O que Bourdieu quer dizer nesse trecho é que a família se torna uma ins- tituição quando suas regras são colocadas em prática, cotidianamente, por muitas pessoas. As regras da família também asseguram sua existência e conti- nuidade como estrutura social instituída. Um bom exemplo é a regra social – hoje questionada – de que uma família precisa ter filhos. Ao colocar essa regra em prática (ou seja, ter filhos), ela é reforçada, e reforça a existência de um modelo de família com filhos. As instituições sociais são maneiras duradouras e legitimadas de fazer, sen- tir e pensar, estabelecidas para atender necessidades e objetivos das pessoas organizadas em sociedade, exercendo uma espécie de controle social, diz Émile Durkheim, um dos teóricos clássicos que abordaram a família como instituição. De acordo com ele, a família, o Estado, a escola e o Direito são instituições básicas da nossa sociedade, porque promovem a coesão social, dando certo grau de solidariedade e de interdependência entre indivíduos e grupos. As instituições são responsáveis pela preservação e transmissão dos valores, das tradições e da cultura. Essa é a perspectiva da integração social, que estudaremos mais detidamente no capítulo 8. Para Durkheim, o ser humano é, em grande parte, fruto do meio social em que vive e o convívio familiar tem papel fundamental na sua formação. Desse modo, a sociedade é uma realidade externa e anterior ao indivíduo, pois, quando este nasce, aquela já está pronta, com seus costumes, conheci- mentos e outros bens culturais. Essa forma de pensar atribui à família e a outras instituições, como a escola e a religião, o papel de promover a socia- Orlando Pedroso/Arquivo da editora lização do indivíduo e de fornecer instrumentos para seu aprendizado cul- tural. O processo de socialização é a transmissão da cultura ao longo do tempo e das gerações com a finalidade de inserir e ajustar o indivíduo à so- ciedade. Há a socialização primária, que ocorre na infância e passa condi- ções fundamentais para a vida social, e a socialização secundária, um proces- so contínuo de novas aprendizagens para conviver. A família desenvolve estratégias para que variadas questões, como as re- lativas a matrimônio, herança, economia e educação, se reproduzam de uma geração para outra. Desse modo, a família tem um caráter conservador, pois nos leva a preservar e a reverenciar as tradições. Entretanto, ela tam- bém nos ensina a enfrentar os desafios que se colocam à vida social: confli- tos, diferenças, desigualdades. A família no mundo de hoje • 69 Sociologia_vu_PNLD15_065a088_C03.indd 69 5/27/13 5:20 PM Na análise de Pierre Bourdieu, a família aparece para os indivíduos como um universo social separado, portador de um espírito coletivo que demarca fronteiras com o que está fora, de modo a idealizar e preservar as relações em seu interior. A ela associam-se a noção de residência, do lar como lugar está- vel, e o caráter de permanência do grupo doméstico – também conhecido por grupo familiar, que reúne seus membros por laços de sangue ou afinidades e valores sociais comuns, ainda que não habitem sob o mesmo teto. [...] a família é o lugar da confiança e da doação – por oposição ao mercado e à dá- diva retribuída – [...]; o lugar onde se suspende o interesse no sentido estrito do termo, isto é, a procura por equivalência nas trocas. O discurso comum frequentemente (e, sem dúvida, universalmente) inspira-se na família de modelos ideais das relações humanas (em conceitos como os de fraternidade, por exemplo), e as relações familiares em sua definição oficial tendem a funcionar como princípios de construção e de avaliação de toda relação social. BOURDIEU, Pierre. O espírito de família. In: _____. Razões práticas: sobre a teoria da ação. Campinas: Papirus, 1996. p.126. Na família, as vidas de várias pessoas assumem diferentes papéis inter- -relacionados. Os papéis sociais são expectativas de comportamento que os indivíduos carregam em suas relações uns com os outros e dizem respeito às funções a serem exercidas nos grupos sociais, na concepção do sociólogo estadunidense Talcott Parsons (1902-1979). Por meio dos papéis, os mem- bros de uma família se adaptam a novas situações e lutam por melhores condições de vida, auxiliando-se mutuamente, como quando os jovens esta- belecem um lar independente, tornam-se pais, etc. Família é um grupo de pessoas cujos membros possuem entre si laços de parentesco – consanguíneo ou por afinidade – e podem habitar ou não o mesmo domicílio. pausa par a r E f l E t i r Observe a imagem e faça as atividades. 1. Descreva como as personagens estão posicio- Coleção Banco Safra/Pinacoteca do Estado de São Paulo, São Paulo, SP. nadas no ambiente. 2. Que papel social você atribui a cada uma das personagens retratadas? 3. Você identifica relações de dominação nessa família? Justifique sua resposta. 4. Explique as diferenças entre as ações desem- penhadas por homens e mulheres retratados na tela. Cena da família de Adolfo Augusto Pinto (óleo sobre tela), 1891, do pintor e desenhista brasileiro Ferraz de Almeida Júnior. 70 • capítulo 3 Sociologia_vu_PNLD15_065a088_C03.indd 70 5/27/13 5:20 PM A família patriarcal no Brasil e seus desdobramentos O grupo familiar é dinâmico e tanto sofre influências do contexto social em que se insere quanto contribui para promover ou apoiar mudanças no meio. Dessa forma, entende-se por que a família nem sempre foi como a vi- vemos hoje. Hoje ela divide a função de socialização e de transmissão de valores e comportamentos com a escola, as creches, os meios de comuni- cação, as redes sociais e outras instâncias sociais. No período do Brasil colonial e imperial, por exemplo, a situação era diferente. Ao analisar a formação das sociedades indígenas do continente americano, o antropólogo Claude Lévi-Strauss indicou algumas ca- racterísticas comuns, entre as quais o sistema de circulação de mu- lheres, como regra de convivência entre os grupos. Tal costume consiste na cessão de uma mulher de um grupo familiar para ser cônjuge de um indivíduo de outro grupo, que retribui cedendo, tam- bém, uma mulher para casar-se com um homem do primeiro grupo. Esse sistema estabelece as alianças que organizam essas sociedades. No Brasil, houve um tipo de dominação entre colonizadores e indí- genas em que a união entre homens portugueses e mulheres indíge- nas significou a multiplicação de filhos fora do casamento. A explo- Filipe Rocha/Arquiv o da editora ração sexual e do trabalho das mulheres negras pelos colonizadores também foi uma relação desigual que resultou em inúmeras relações interétnicas. Os grupos de elite entre colonizadores portugueses importaram para o Brasil o que chamamos de família patriarcal, um modelo em que a autoridade é do patriarca e passa apenas a seus filhos homens. Gilberto Freyre ressaltou que o grande fator colonizador do Brasil desde o século XVI não é o indivíduo nem o Estado ou qualquer companhia de comércio, mas a família, “a unidade produtiva, o capital que desbrava o solo, instala as fazendas, compra escravos, bois, ferramentas, a força social que se desdobra em política, constituindo-se na aristocracia colonial mais poderosa da América” (1997, p. 18). Até o período do Brasil republicano, as famílias de elite eram bastante numerosas, com muitos filhos. Tendo por objetivo evitar a divisão das fortu- nas, mantendo ou melhorando as condições econômicas, eram estabeleci- dos casamentos e contratos sociais entre membros de famílias ricas – gran- des proprietários de terras ou ocupantes de cargos de prestígio. Até o século XVIII, o processo de colonização do território foi marcado pela dificuldade de administração do governo colonial, diante da extensão do território, da distância da metrópole. As famílias contavam apenas com seus membros e vizinhos, o que favoreceu o desenvolvimento de relações de compadrio e a prática do apadrinhamento, que estabelecem vínculos mui- tas vezes mais fortes do que os consanguíneos. Esse tipo de relação predomi- hh consanguíneo: laço determinado nou de modo ostensivo até 1930, permanecendo em várias regiões coman- por origem biológica comum. dadas política e economicamente por famílias oligárquicas centenárias. Caracterizavam essas famílias a posse de terras, de gado e de mão de obra (até a abolição da escravidão, em 1888), conferindo status social a muitos líderes locais e seus familiares, fato que favorecia o exercício do poder. Isso A família no mundo de hoje • 71 Sociologia_vu_PNLD15_065a088_C03.indd 71 5/27/13 5:20 PM ajuda a explicar o caráter patrimonial ainda presente na política brasileira, em que a distinção entre a esfera pública e a esfera privada praticamente inexistem. Acervo Iconographia/Reminiscências Núcleo familiar típico da elite brasileira no século XIX: Os chefes políticos locais agiam segundo sua conveniência, guiando-se pe- Martinho Prado Jr. e sua família, la posição social e fortuna das pessoas na escolha tanto do noivo para as filhas em 1890. quanto da profissão dos filhos. Os patriarcas interferiam na vida social da lo- calidade e nos cargos e jogos políticos. Na época, as relações de gênero ti- nham nas esferas pública e doméstica um significado mais opressor e conser- vador do que podemos encontrar hoje. A autoridade dos homens sobre as mulheres estava não apenas nas práticas sociais, mas legitimada na legislação e no funcionamento do Estado. O fato de apenas homens poderem votar du- rante mais de um século no Brasil independente é um exemplo disso que chamamos “sistema patriarcal”. No período de maior influência desse sistema, era marcante o desequilí- h relações de gênero: diz-se das rela- brio nas relações de gênero; para citar um exemplo, pode-se lembrar que as ções sociais de poder determinadas mulheres, em especial as filhas, eram mantidas nos espaços privados da casa, pelas ideias culturais de masculino e afastadas da sala e da varanda, considerados locais públicos em que os pro- feminino. prietários recebiam os convidados e onde entravam somente se chamadas ou autorizadas pelo fazendeiro. o poder patriarcal é exercido pelo homem sobre sua família e sobre a sociedade. O patriarcalismo dificultava o reconhecimento de outras estruturas familiares. Os africanos trazidos para o Brasil na condição de mão de obra escrava, por exemplo, enfrentavam dificuldades para manter suas famílias unidas e para transmitir e manter seus próprios valores e costumes. 72 • capítulo 3 Sociologia_vu_PNLD15_065a088_C03.indd 72 5/27/13 5:20 PM a organização familiar no Brasil recebeu influência dos imigrantes vindos de vários países europeus e do Ja- pão. começando pelo fato de viverem em senzalas sem qualquer privaci- dade.indd 73 5/27/13 5:20 PM . Esses imigrantes constituíram famílias numerosas e procuraram mantê- -las unidas. ao mes- mo tempo que se adaptavam a novos modos de vida. Essas famí- lias atuaram como agentes de mudança no Brasil que se urbanizava. A família como espaço de reprodução social No final do século XIX e início do XX. em busca de melhores oportunidades. estudado pela antropóloga em co- pos de comunicadores. A antropóloga o interesse do coletivo família pode se sobrepor ao brasileira Cynthia Sarti (1941-) observou algumas famí. Na segunda metade do século XX. Isso sig. Ao serem capturados na África. com as modificações no campo (mo- dernização e mecanização da agricultura. no momento da venda. Esse exemplo. Outros trabalhos de Sociologia lias de trabalhadores de baixa renda e percebeu que mostram que o mesmo acontece em famílias de clas- aquele que é responsável por prover o sustento da ca. se média e de elite: existem sempre formas de a famí- sa teria a preferência para alimentar-se (quando há ali. Quando constituíam novas famílias. ao trabalho industrial ou em serviços e à moradia nas cidades. Elas se valem do sim. condições mínimas necessárias para o trabalho e. além de contribuírem para o desenvolvimento industrial do país. ilustra bem a forma como bairro. mentos). preservando e recriando costumes e tradições de sua origem. dependendo da idade. interesse individual. que. eram separados de seus familiares. passaram a ser cuidados pelos irmãos mais velhos ou por alguém da vizinhança. os filhos menores de famílias pobres. Eles tiveram papel importante na produção agrícola de exportação e de subsistência. nem sempre eram respeita- dos. como clubes e associações de munidades de baixa renda. por exemplo. ficavam sozinhos em casa. para garantir sua manutenção. eram encaminhados para distintas regiões. lia fazer um investimento coletivo em seus indivíduos. agregaram à cultura local valores sociais e novas formas de educar e socializar as crianças. e também da vizinhança e outros ti. e os demais comeriam depois. Diante da impossibilidade de produzir para a própria subsistência no ambiente urbano e das dificuldades por que passavam por conta da baixa remuneração. garantir a sobrevivência de toda a família. Assim. se não houvesse essa pos- sibilidade. Tal costume nifica que elas envolvem os parentes em uma trama de seria uma forma de assegurar àqueles indivíduos as obrigações morais e laços de solidariedade que viabili. esses grupos familiares se reorganizaram para viabilizar a participação de seus membros no mercado de trabalho. A família no mundo de hoje • 73 Sociologia_vu_PNLD15_065a088_C03. muitas vezes. Os filhos nascidos da união entre fazendeiros e escravas não eram reconhecidos legalmente. iam para creches ou. muitas famílias migraram para os centros urbanos. grupo doméstico. Assim. desenvolvimento da agroindústria e diminuição da necessidade de mão de obra). as- zam a sobrevivência dos indivíduos. A família é um coletivo As famílias em geral constituem uma rede. embora muitos tenham sido declarados filhos nas confissões deixadas em testamento pelos fazendeiros. • Esse trecho de Durkheim. as famílias são “unida- des de reprodução social”.indd 74 5/27/13 5:20 PM . crianças brincam na rua na região administrativa de Ceilândia. fundada em relações sociais que reproduzem ideologicamente e perpetuam determinados costumes.A Press Em muitas famílias. sentimentos e interesses. a noção de comunidade é importante. a necessidade de se unir para lutar contra um perigo comum. por exemplo. Isso pode ser feito priorizando que apenas um por não dar continuidade a suas carreiras. De la división del trabajo social. Outro exemplo disso dos filhos. Texto traduzido. o que garante a manutenção ou ascensão de seu status são algumas mães de classe média alta que optam social. Iano Andrade/CB/D. DURKHEIM. por uma identificação particularmente estreita entre suas ideias. Mas muitos outros fatores intervieram: a vizinhança material. ou sim- plesmente para se unir.. pois os pais entendem que esse investimento re. 1973. foram causas igualmente fortes de aproximação. Foto de 2012. mostra que o que mantém uma família unida muitas vezes não é necessariamente a consanguinidade. por exem.. a solidariedade dos interesses. no centro da sociedade política. Nos espaços de convivência familiar. dando de perto das atividades e do desenvolvimento tornará frutos para toda a família. no Distrito Federal. para criar vínculos que permitam que os pais trabalhem enquanto os filhos ficam em casa. Na foto. En con tr o c om os c i E n t i s tas s oc i ai s A família não deve suas virtudes à unidade de descendência: é simplesmente um grupo de indivíduos que se encontram próximos uns dos outros. 27. sam que seu tempo pode ser mais bem investido cui- plo. p.]. escrito em 1893. pois pen- dos filhos frequente uma escola particular. ocorre a socialização permanente de seus membros. Émile. Relacionando essa leitura da obra Da divisão do trabalho social com o boxe iniciado na página anterior. você consegue pensar em exemplos e situações em que a família facilita sua vida? Lembra também de exemplos de como ela dificulta em outros momentos? 74 • capítulo 3 Sociologia_vu_PNLD15_065a088_C03. Mais que responsáveis pela reprodução biológica. Buenos Aires: Schapire. hábitos e padrões de comportamento. A consanguinidade pôde facilitar essa concentração [. indd 75 5/27/13 5:20 PM . Um dos achados mais curiosos sobre parentesco é descrito pela antropó- loga inglesa Marilyn Strathern (1941-) em um livro chamado After Nature [“Após a natureza”. ou a forma como seus habitantes fazem as refeições ou dividem tarefas. no século XIX. diz em seu livro After Kinship [“Após o parentesco”] que a “casa” tem uma dimensão física – o espaço. com exceção de algumas posições conjugais. na nossa sociedade. Janet Carsten. A família no mundo de hoje • 75 Sociologia_vu_PNLD15_065a088_C03. Em uma dessas socie- dades. a Antropologia e a Sociologia são aquelas que têm estudado com mais afinco todo tipo de questão ligada a famílias. No volume. ela comenta etnografias – estudos descritivos das características culturais e so- ciais de etnias – feitas na Papua-Nova Guiné. senta-se à cabeceira da mesa durante a refeição. em grupos de parentesco ou “famílias”. Segun- do essa autora. de 1992. por exemplo.físicas. centenas de autores abordaram o assunto. “filho” num hh simbólicas: que não são materiais. a Antropologia do paren. Esta é formada pelas pessoas e pelas visões de mundo que orientam suas relações umas com as outras. o parentesco é em geral fixo. As Ciências Sociais observam a família Dentre as Ciências Sociais. Francisco (W. Além das relações simbólicas que nos tornam “pai”. J. sem publicação em português]. de Kleber Mendonça Filho. os objetos – mas também uma dimensão simbólica. seu filho deixa de ser “filho” e ela deixa de ser “mãe” e ambos perdem qualquer status associado com essas posições. Divulgação/CinemaScópio Cena do filme O som ao redor (Brasil. as paredes. patriarca de uma família da elite tradicional pernambucana. Essas relações são executadas nos rituais do dia a dia. influencia a constru- ção de nossas visões de mundo. pela importância que damos a ela. mas sim decorrentes de inter- tesco tem se dedicado também a entender de que forma a organização da pretação. descrevendo sociedades em que as relações com as pessoas são desfeitas após sua morte. com os objetos e com o espaço. É possível ser “ex- -marido”. 2012). conceitos e visões de mundo. arran- jos familiares e parentesco. Isso nos faz perceber que. antes mesmo de a Sociologia ser “inaugu- rada” como ciência. a forma como a casa está organizada. se uma mãe vier a falecer. “mãe”. vida comum. transmitir e reafirmar valores. uma importante antropóloga britânica. são importantes momentos de construir. Como a família é uma instituição central para compreender nossa sociedade. mas de maneira geral não é possível ser “ex-pai” ou “ex-filho”. sistema de parentesco e de muitos papéis sociais. Solha). Alteraram-se os papéis tradicionais do pai e da mãe nas famílias de elite nas sociedades oci- dentais e surgiram novas formas de gestão da vida doméstica. Talcott Parsons. 76 • capítulo 3 Sociologia_vu_PNLD15_065a088_C03. No entanto. Estudos recentes e críticos alertam para o fato de a família estar vinculada ao processo geral de constituição da sociedade. pais e filhos. criando uma iden- tidade própria que lhes permite dizer quem são seus “semelhantes”. originaram-se. refletem sobre interesses conflitantes na instituição familiar. Em geral. irmãos. Informações sobre a vida familiar e cotidiana das pessoas foram ferra- mentas centrais para Bourdieu e os demais sociólogos e sociólogas que partem de suas teorias. é possível manter a função protetora da família e eliminar seu aspecto disciplinar? Famílias em transição As mudanças na família. chamado habitus. por exemplo) e da maior mobilidade das populações. etc. Outros estudiosos consideram a família uma unidade na qual se encontram diferentes tensões que podem controlar o convívio no seu in- terior. da Revolução Industrial – que trouxe distinção entre a casa e o local de trabalho –. a socialização. nos dias de hoje. o pai ou a mãe é o instituição. sociais. mãe e filhos. de luta pela sobrevivência ou mesmo por herança. baseada no modelo oci- dental monogâmico heterossexual (aquele em que uma pessoa pode ter apenas um cônjuge do sexo oposto enquanto dura a união). sobre como a estrutura desigual da sociedade consegue se manter de forma tão sólida. co- mo o controle da sexualidade e a procriação. nas sociedades modernas avançadas tem-se estabelecido a paridade entre os cônjuges. o sustento dos seus membros e a garantia de um status social a eles. A trans- missão desse conjunto de propriedades simbólicas. sem mediação de uma tam somente com um dos pais vivendo com seus filhos. é uma das formas que os grupos com mais poder na sociedade têm para manter seu status. como as relações entre cônjuges. Os funcio- nalistas procuram ver na família as necessidades sociais que ela satisfaz. único responsável pela prole. Se- gundo ele. ainda que outros parentes residam na casa). de fatores demográficos (redução da mortalidade e da natali- dade.indd 76 5/27/13 5:20 PM . famílias monoparentais (aquelas que con- tre as partes. entre eles. outros arranjos são bastante comuns em todos os contextos h consensuais: de comum acordo en. mais evidentes no século XX. Sociólogos da Teoria Crítica. quando pensamos em família logo nos vem à mente a imagem da família nuclear. pessoas casadas vivendo em casas separadas. Vertentes da Sociologia veem a família por diversos ângulos. por exemplo. Por esse motivo. nesse sentido. sustenta que a família nuclear surgiu co- mo resposta às exigências do sistema econômico da sociedade industrial. Pierre Bourdieu partia dessa mesma percepção. Essas situações podem desencadear disputas de poder em processos de socialização. o cuidado e a proteção das crianças. formas de se comportar e visões de mundo. como os alemães Theodor Adorno e Max Horkheimer. em parte. as famílias e outros grupos sociais transmitem a seus membros uma série de valores. Indagam: uma vez que deve proteger seus membros de um mundo no qual é inerente a pressão social. utilizou a família em estudos sobre os mais variados assuntos. como uniões consensuais. composta por pai. pode estar inserida em duas re- des diferentes. doentes ou pessoas com deficiência.7 em 2011 o número de crianças nascidas. Esses dados inserem o país em um quadro de tran- sição demográfica. primos. é crescente e sólido o número de famílias chefiadas por mulheres. Acesso em: 15 out. zinhos ou parentes que os levem até lá e/ou os Séries estatísticas & Séries históricas. de um contexto de altas taxas de fecundidade e de mortalidade para a redução de ambos os índices. tios) e vizinhos. Durante o expediente ela pode ser parte da rede de apoio de uma família mono- parental em que a responsável trabalha fora de casa e não deseja despender parte de seu tempo livre na faxina. Disponível em: dos nos dois gráficos ao lado. Além disso. ele também acontece Brasil: taxa de mortalidade (1960-2011) Gráficos: Cassiano Röda/Arquivo da editora com idosos. 2012. Disponível em: <www. também foram fundamentais para que isso ocorresse. baixou de 2. Por ou- tro lado. e às vezes pede a vi- Adaptado de: INSTITUTO Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). tragam de volta para casa. 2011. Podemos conferir esses da. de “sistema de gênero”.br/series_estatisticas/>. Mesmo no caso das famílias monoparentais. por mulher. separadas ou divorciadas predominam nas famílias monoparentais.indd 77 5/27/13 5:20 PM . Isso acontece não ape- nas porque mais mulheres têm trabalho remunerado nos dias de hoje. por exemplo. muitas famílias recorrem a serviços profissionais para suprir os cuidados básicos com a casa e o desenvolvimento dos filhos. para que a faxineira possa realizar esse trabalho. <www. o que chamamos. mas também porque houve uma série de mudanças nas concepções da nossa socie- dade sobre o que significa “ser mulher” e “ser homem”. Mais recente- mente. Acesso em: 15 out. na década de 1970. Porém. para 15. Naquela época.ibge. as reformas legislativas que passaram a permitir o divórcio por livre e espontânea vontade do casal (ou de um de seus integrantes).6 mortes. A família no mundo de hoje • 77 Sociologia_vu_PNLD15_065a088_C03. as mulheres que chefiavam famílias eram principalmen- te viúvas ou aquelas cujos maridos migravam para outras regiões em busca de trabalho – como as “viúvas da seca” do Nordeste brasileiro. É importante lembrar Brasil em números – volume 19. deixando seus filhos pequenos numa cre- che municipal ou particular.3 em 2000 para 1. em 2000.gov. No Brasil. 2012.gov. Além da ajuda de parentes (co. Séries estatísticas & Séries históricas.Brasil: taxa de fecundidade (1960-2011) mo avós.ibge. Adaptado de: INSTITUTO Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). que o trabalho de cuidados nem sempre se diri- ge às crianças da família. Um fenômeno demográfico recente despertou a atenção de cientistas so- ciais de diversos ramos: no Brasil. Rio de Janeiro: IBGE. há uma rede familiar e profissional mais extensa que apoia as necessidades cotidianas das mães e pais “solteiros”. Uma mãe que trabalha como faxinei- ra. ela recorre a outra rede de apoio. o Censo de 2010 mostrou que a taxa de mortalidade infantil no país decresceu de 29. 2011. para cada mil crianças com menos de um ano nascidas vivas. mães solteiras. grosso modo. em especial as monoparentais. em 2010. Outra característica das famílias brasileiras é a diminuição do tamanho médio de seu núcleo.7.br/series_estatisticas/>. não apenas no âmbito doméstico como em outras esferas sociais. In: POLETTO.] fundamental é ser mulher e ponto.. as quais. manifestas em tensões tanto por diferenças bioló- gicas quanto psicoculturais..] mulher é homem que volta do me perdoe poeta e contista trabalho e alimenta os filhos nem beleza homem é mulher que põe pra nem mulher dormir e conta histórias são fundamentais essa androginia das funções por que sobrepor o epíteto ensina novo conceito: ou o gênero à espécie? essência é mais [. as participantes reivindicaram igualdade de direitos. tais como o intenso processo migratório campo-cida- de. Essa realidade do campo resultou na redução do número de filhos por família também nas áreas rurais brasileiras.. há um aumento na idade média da população. com seu tempo e espaço. A alte- ração do índice de natalidade levou a um menor número de membros com- pondo uma família. A ideologia patriarcal difundiu atitudes de dominação masculina e de sub- missão da mulher. envol- vendo relações de poder entre ho- mens e mulheres. requisitada apenas para trabalho temporário ou sazo- nal. a popularização do uso da pílula anticoncepcional. Vaidade. as dificuldades habi- tacionais e de subsistência para os trabalhadores das cidades. principalmente após a década de 1970. As famílias que permaneciam no meio rural tinham dificuldades para se manter com a redução das propriedades voltadas à subsistência e à agricul- tura familiar. são próprias de cada contexto social. Como resultado. Como já foi dito. A concentração de terras para o plantio mecanizado dispensou mão de obra familiar. Curitiba: Mileart... [. Além de comemorar o Dia Internacional da Mulher.indd 78 5/27/13 5:20 PM . mudanças nas ideias e nos costumes de uma socieda- Anderson Barbosa/Folhapress de são processos lentos. 59. Isso ocorreu graças a uma conjugação de fatores.] Trechos do poema de Juarez Poletto. hh Movimentos de mulheres e relações familiares 8 de março [. Estima-se que nas áreas urbanas o número de filhos por núcleo familiar tenha caído de uma média de 5 a 3 para uma média de 3 a 2. melhores condições de trabalho e o fim da violência contra a mulher. Manifestação nas ruas de São Paulo (SP) em 8 de março de 2012.. p. 78 • capítulo 3 Sociologia_vu_PNLD15_065a088_C03. 2002. Juarez. Isso tam- bém vale para a transformação nas relações de gênero. expressão estava em vigor desde 1916) conferia ao homem a con. segundo os estudiosos desses te- mas. sabe- Capa de edição publicada mos que a cultura de uma sociedade não se transfor. Em busca da igualdade nas relações de gênero. muitos países. Tal mãe. Além disso. a mulher brasi. apesar dos avanços nas leis. para além dessas questões mais concretas. como o direi- to ao exame de DNA e o reconhecimento de paternidade. mas em Do ponto de vista jurídico e social. além de não fazer diferença com relação aos filhos desse tipo de união e aos novos vín- culos. estabelecido em nas relações entre seus membros e na concepção de 2002. Na família. cuidar da família. A família no mundo de hoje • 79 Sociologia_vu_PNLD15_065a088_C03. a COP 18. da mulher de forma igualitária nas diversas ins- tâncias da sociedade. em 2012 do Código Civil e ma da noite para o dia. seja no ambiente doméstico (on- de raramente os homens partilham a sobrecar- ga de tarefas com as mulheres). Os movimentos feministas têm atuado em A advogada Joênia Batista Carvalho Wapichana durante a conferência climática da ONU. os movimentos feministas e os movi- mentos sociais conquistaram vitórias contra a opressão. outra mudança importante é que Até 2002. em geral.indd 79 5/27/13 5:20 PM . Esses movimentos têm promo- vido modificações importantes em diversas instituições sociais. No entanto. da Constituição Federal. a valorização dos serviços domésticos. que remete à figura Reprodução/Editora Saraiva dição de chefe nas configurações familiares. Ela se destaca em sua profissão. As lutas feministas transformaram. tos iguais. visando assegurar a participação principalmente na defesa da demarcação de terras indígenas. pelo leira era considerada incapaz. cípio da isonomia: homens e mulheres possuem direi- tante arraigada em suas bases a ideologia patriarcal. a institui- ção da licença-paternidade e a ampliação da licença-maternidade. por exemplo. reforçada pela educação. seja no traba- lho (onde a mulher ainda tem dificuldade de acesso a cargos e funções de altos salários). tam- bém o campo simbólico: por causa delas. o direito sobre o próprio corpo. devendo ser represen. em igual medi- da. masculina. ainda há muito a fazer para a construção da igualdade. encontra-se ainda bas. universal. “poder familiar”. situação foi alterada apenas pela Constituição de 1988. o combate à violência e à opressão. Um novo texto do Código Civil. o Código Civil Brasileiro (que hoje não se fala mais em “pátrio poder”. Mas. Algumas de suas principais bandeiras são: o sufrágio hh sufrágio: direito de voto. que reconheceu a união estável entre um ho- mem e uma mulher como uma família e equiparou a posição dos sexos. distingue-se dos anteriores sobretudo pelo prin- seu amparo político e jurídico. a criminalização da violência doméstica (no Brasil. mudamos a forma de compreender o que significa ser mulher na sociedade. a diferenciação de papéis mas- Joênia Wapichana/Acervo pessoal culinos e femininos é. em 2012. mediante a Lei Maria da Penha). a participação em igualdade de condições no mercado de traba- lho. Relações de igualdade na família Apesar das mudanças pelas quais passou a família. qual cabe ao pai e à tada pela figura masculina do pai ou do marido. entre outras. uma relação estável é compatível com o que denomina “democracia das emo- ções”. Os movimentos so- ciais.gov. como quando uma mulher solteira que tem filhos adotados ou biológicos constitui propositalmente uma família monoparental. em que os pais devem prover a subsis- tência dos filhos. em grupo. tendência que..1% para 2. em 1993.br/003/00301009. [. 2008. Com base nas transformações em termos de estrutura familiar indicadas pelo es- tudo do Ipea.jsp?ttCD_CHAVE=5954>. Desde o século XX. discutam suas prováveis implicações sociais e culturais. Na última década.indd 80 5/27/13 5:20 PM . tendo como fundamento da união. especialmente os feministas. Quais as características e dimensões das mudanças recentes na família brasileira? 2. o direito à herança. Mulher é a nova chefe do lar O homem está deixando de ser o chefe da casa. também colaboraram com as mudanças nas relações de gênero. Em 13 anos. Ainda na visão do sociólogo. discu- tam e façam as atividades propostas.. 2012. Brasília: Ipea. uma situação que aceita as obrigações e os direitos previstos nas leis e contempla a proteção das crianças co- mo política pública. embora não se apliquem exatamente àque- las que não são baseadas em um casal. se deve às mudanças no mundo do trabalho e na educação. 80 • capítulo 3 Sociologia_vu_PNLD15_065a088_C03.7%. Depois.] Dentre os novos arranjos familiares. na sociedade contemporânea. 1. dEBatE Leia esta notícia e verifique suas dúvidas de vocabulário.2 milhões em 2006. Durante esse período. Estado de Minas (MG): mulher é a nova chefe do lar. em parceria com o Fundo de Desenvolvimento das Nações Unidas para a Mulher. segundo o sociólogo espanhol Manuel Castells (1942-). à educação superior. o total de famílias formadas por casais com filhos e chefiadas por mulheres cresceu de pouco mais de 200 mil. Disponível em: <http://desafios. afetando diretamente a legitimação de diversas configurações familia- res. a família patriarcal tem se modificado e perdido terre- no. Sandra. Um casal face a face.4% para 14. No Brasil. entre outras coisas. Revista Desafios do Desenvolvimento. dividindo esse papel com a mulher e até transferindo para ela as responsabilidades de sustentar e cuidar dos filhos. Acesso em: 13 dez. a pesquisa detectou também um ligeiro aumento das famílias formadas por homens cuidando sozinhos dos filhos. esse modelo cresceu de 2. elaborada pelo Instituto de Pesquisa Econômica Apli- cada (Ipea). O sociólogo britânico Anthony Giddens (1938-) consi- Trina Dalziel/Illustration Works/Getty Images dera o casal como o centro da vida familiar. sejam quais forem os arranjos de vida. e a rapidez na difusão das ideias. KIEFER. o registro de bens em seus nomes. hh O que há de novo nas famílias? ilustração de Trina Dalziel. a in- timidade. garantindo o recebimento de salário e direitos trabalhistas. Essas ideias são úteis para compreender a dinâmica de muitas famílias. para 2. em tem- pos de globalização. esse novo modelo da família brasileira expandiu 10 vezes.ipea.2% do total de lares brasileiros. segundo a pesquisa Retrato das Desi- gualdades de Gênero e Raça. evoluindo de 3. as mulheres conquistaram a cidadania. ideologias e visões de mundo afetaram diretamente o direito e o Estado e acabaram trazendo novas possibilidades às famílias e aos relacionamentos conjugais. principalmente por meio da Organização das Nações Uni- das (ONU). Um exemplo claro dessas modificações é o Estatuto da Criança e do Ado- lescente. No Brasil.indd 81 5/27/13 5:20 PM . possíveis em alguns países. via memória e linguagem. Até o século XIX. imagem do primeiro casal homossexual a que dispõem os casais heterossexuais. em 2011. pois passam a reconhecer e a respeitar a diversidade. Lucas Lacaz Ruiz/Futura Press Também os movimentos pela diversidade sexual co- laboram com as mudanças no âmbito familiar. pois questionam a heterossexualidade como norma social. Até relativamente pouco tempo atrás. Isso abriu espaço para o reconhecimento de arranjos fa- miliares fundados em relações homoafetivas. Giddens refere-se à família como um local de luta entre a tradição (repre- sentada pela transmissão fiel dos comportamentos coletivos e do patrimônio cultural. o uso de técnicas contraceptivas. valores. a formalizar seu casamento no Brasil. que trabalhavam legalmente e. Dessa forma. e do reforço desse ponto de vista por parte de diversos países. os relacionamentos informais. Essas novas informações. o que hoje consideramos “crianças” eram pessoas consideradas “miniadultos”. concedendo-lhes os mesmos direitos civis de Acima. no caso das meninas. A ideia de uma infância que deve ser protegida pela sociedade como um todo – inclusive pelo Estado – não existiu desde sempre. crianças até podiam ser vendidas como mão de obra para trabalhos de lavoura ou domésticos. que podemos constatar hoje. modificando al- guns dos valores sociais. Tal fato ocorreu em herança. casavam por vontade de suas famílias. A união civil de duas pessoas do mesmo sexo e a adoção de crianças por elas. Jacareí (SP). as práticas em relação à infância se modificaram em grande parte do mundo e também no Brasil. a união entre homos- sexuais. a adoção do planejamento familiar e a primazia concedida pela mulher à carreira profissional contribuíram para as mudanças na família moderna. em 28 de junho de 2011. o Supremo Tribunal Federal legi- timou pela primeira vez. são: o crescimento do número de separações e divórcios. A partir da difusão de um ideal de infância. ao longo das gerações) e a modernidade (uma nova sensibilidade racional diante da realidade). refletem alterações nos valores das sociedades referentes às rela- ções familiares. o processo de redução da influência do patriarcalismo foi acelerado com a di- fusão das novas informações e ideologias em escala mundial. Algumas consequências dessas novas possibilidades. o envelhecimento da população e a maior mortalidade entre os homens. A família no mundo de hoje • 81 Sociologia_vu_PNLD15_065a088_C03. a dificuldade em compatibilizar o traba- lho com a rotina da família e a distinção entre sexualidade e reprodução. termo usa- do para referir-se aos sentimentos de afeto e aos relacio- namentos amorosos entre pessoas do mesmo sexo. por exemplo. Outros fatores que influenciam a formação de novos arranjos domésticos são as uniões tardias. Os conflitos geracio- nais dentro das famílias são um exemplo concreto dessas tensões. a família vem mudan. é um espaço. A possibilidade de ter aber- tamente relacionamentos curtos e “experimentais” também é um fenômeno recente. outras mudanças podem ser observadas no que diz respeito aos relacionamentos e às ideias que temos hoje sobre conjugalidade. e não um trabalho meramente técnico. não ocorre mais exclusi- ação política. família e casamento. Hoje há famílias em que os cônjuges já desfizeram uniões anteriores e constituem uma nova família – chamada família recomposta. A manutenção do status des e hábitos. por exemplo. aquisição de uma experiência social acumulada e lham a socialização da criança. ensinar valores e atitudes morais. Na família recomposta pode ocorrer a pluriparentalidade – compartilhamento entre pais biológicos e sociais – ficando divididas as prin- cipais funções parentais. vestimento na escolarização. que marcaram as últimas gerações. a madrasta. hh As relações familiares transformadas e os jovens As questões relacionadas às novas formas de sociabilidade e de socializa- ção das crianças. afirma o educador Jean-Claude For. Observando os relacionamentos contemporâneos percebemos que muitos casais jovens têm preferido manter relações duradouras e estáveis sem a imediata oficialização contratual por meio de matrimônio. muda a forma como ocorrem a transmissão de valores e a dedicação de afeto entre pais e filhos. de transmissão entre família e escola diferencia-se sociologicamente cultural e de aquisição de conhecimentos. deixando a educação de seus filhos a cargo da creche. a relação quin. nesse mento. principalmente entre os jovens. educar nesse espaço é uma social das elites. O fato de os pais ausentarem-se de casa para trabalhar. Muitas mudanças nas famílias. vizinhos ou profissionais. alimentar. de familia- res. por excelência. a outras instâncias. Já nas classes populares. Nesse caso. como possibilitar ao filho uma identidade ao nascer. Socialização e educação: o papel social da família e da escola Como vimos neste capítulo. convivem o padrasto. os papéis sociais se misturam e modificam o cotidiano: além de pai. capacida. 82 • capítulo 3 Sociologia_vu_PNLD15_065a088_C03. em seu papel social: ela precisa considerar a di- do seu papel social. A escola. e parte deles opta por oficializar sua união apenas mais tarde. mãe e fi- lhos. afetam os relaciona- mentos familiares. ajudar a desenvolver conhecimentos técnicos e fazê-lo chegar à idade adulta.indd 82 5/27/13 5:20 PM . Além dessas. As crianças recebem influências diversas ao circularem em diferentes ambien- tes familiares. conforme suas origens sociais. decorrem da maior liberdade conquistada por seus membros. da escola. uma vez que a educação deve assegurar a contexto. culturalmente organizada. ção por meio de diplomas – daí a necessidade de in- Atualmente as famílias esperam ainda mais da esco. até versidade cultural e fornecer padrões de comporta- então suas. essas instituições disputam ou comparti. Assim. atribuindo algumas funções. no ambiente doméstico e fora dele. la. vamente pela herança. Tanto a recusa/adiamento da formalização da aliança conjugal quan- to a brevidade de muitos relacionamentos são indicativos da mudança de va- lores. Segundo o sociólogo Pierre Bourdieu. os meios-irmãos e meias-irmãs. como a escola. sendo necessária sua legitima- pois exige um projeto de sociedade para alcançá-lo. do jornal Folha de S. v. as regras e as responsabilidades estão sendo renegociados entre seus membros. no limite da sobrevivência ou como dependentes das políticas públicas de complementação de renda e de outros programas assistenciais. Nesse contexto. “O Pintinho”.indd 83 5/27/13 5:20 PM . na qual os papéis sociais. percebe-se que há hoje famí- lias mais complexas. Alteram-se as ma- neiras de criar. CASTELLS. incluindo o diálogo e as relações mais democráticas. adotam a contenção de gastos e a limitação do número de fi- lhos para oferecer-lhes uma educação de qualida- de. as classes médias. de Alexandra Moraes. os investimentos que A escola tem ganhado um espaço cada vez maior na formação realizam chegam a ser excessivos em relação aos dos jovens na atualidade. educar e socializar os filhos. Um dos maiores desafios que as famílias enfrentam é o de criar e educar os filhos. implícita na vida instável de milhões de crianças. Entre as mais pobres. normas e exigên- cias escolares. 2. A família no mundo de hoje • 83 Sociologia_vu_PNLD15_065a088_C03. 2003. Charge publicada em 26 de outubro de 2012 no caderno especial Eleições. Manuel. Nesse caso. aceitam-na como fonte legítima de aquisição de conhecimento e como uma das poucas possibilidades de ascensão social. Leo Drummond/Agência Nitro a relação com a escola é ambígua. O poder da identidade. sem recursos suficientes para sustentar os filhos. por exemplo. São Paulo: Paz e Terra. p. aderem aos valores. a reconstrução da família em condições de igualdade e a responsabilidade das instituições públicas em assegurar apoio material e psicológico às crianças são as medidas capazes de alterar o curso da destruição total da psique humana. Segundo a socióloga brasileira Maria Alice No- gueira. as famílias podem até mesmo perder sua custódia. alunos de seus recursos. por sua vez.Paulo. por isso. O fato de as pessoas poderem permanecer juntas apenas enquanto assim o desejarem reduz a vulnerabilidade das mu- lheres no grupo doméstico como um todo. pois. Parte dessas inúmeras mudanças registradas no âmbito familiar resulta de saídas criativas diante das novas necessidades e valores. Na imagem acima. Outras mudanças de atitudes revelam a Alexandra Moraes/Folhapress conscientização feminina com relação aos seus direitos. uma escola em Belo Horizonte (MG). 283. de 2010. quando a criança e o jovem passam a ter abertura para expor suas ideias e explicitar suas escolhas no âmbito da família. Isso conduz a um círculo vicioso que mantém algumas mães. há dificuldade em conciliar a maternidade/ paternidade e o emprego e. embora te- nham certo distanciamento. são uma instituição social e uma organização centrais em nossa sociedade. por sua vez. separado ou viúvo)? b) Em sua opinião. união consensual. Essas perguntas servem para obter informações sobre aquela família e seus membros. qual é o papel do pai e qual é o papel da mãe na família? c) O que você acha do trabalho do homem e da mulher fora de casa? d) Quem cuida de seus filhos? e) Como você contribui para a educação de seus filhos? f) Caso a pessoa seja separada ou viúva. casado. reúnam as respostas e verifiquem as coincidências e as diferenças entre os depoimentos dos pais mais velhos e dos mais jovens. simbólicos. você constituiu ou pretende constituir uma nova família? Por quê? 2. também nos fazem ocupar um determinado lu- gar social: nascer e crescer em uma família com pouco acesso à educação e a empregos estáveis não é o mesmo do que nascer numa família proprie- tária de grandes empresas.indd 84 5/27/13 5:20 PM . Durante a coleta. Depende também das famílias a coleta de informações mais importan- te que o Estado brasileiro realiza. Analisem as tendên- cias de comportamento dos dois grupos e. conforme segue: a) Qual é seu estado civil (solteiro. sociais. É nas famílias que entra- mos em contato com uma série de códigos culturais. sigam o roteiro de entrevista. um agente treinado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) faz uma série de perguntas para a pessoa apontada como responsável pelo domicílio. esses códigos. acesso à educação e hábitos de consumo. pEsquisa Em equipes de quatro pessoas. que vão desde o sexo e idade das pessoas que mo- ram ali até condições de trabalho e renda. 1. orçamento da casa. 84 • capítulo 3 Sociologia_vu_PNLD15_065a088_C03. para pesquisa explora- tória. É com entrevistas feitas nos domicílios das famílias brasileiras que começa esse processo de produção de dados e informações sobre a população do país. como sugere a poesia 8 de março. diálogo s i n t E r d i s c i p l i nar E s As famílias. Em sala de aula. pergunte: depois da separação ou da perda de seu(sua) companheiro(a). o Censo. Cada membro da equipe deve realizar entrevistas com dois pais ou mães de ida- des distintas – um com 60 anos ou mais e outro com idade entre 20 e 30 anos. depois. sistematizem por escrito o re- sultado. Uma das tendências para as relações familiares está em parcerias econô- micas e afetivas nas quais o trabalho doméstico e a responsabilidade pelos filhos sejam compartilhados integralmente. como vimos neste capítulo. apresentada neste capítulo: “mulher é homem que volta do trabalho e ali- menta os filhos / homem é mulher que põe pra dormir e conta histórias”. sobre papéis sociais no âmbito das famílias. etc.A Press Agente recenseador do IBGE realiza entrevista para o Censo 2010 em Parnamirim. são estratégicas para a elaboração de políticas públicas que visem me- lhorar a vida da população brasileira. Para as Ciências Sociais. você vai encontrar informações população”. da Economia ou da Sociologia. da br/ibgeteen>. que podem ser utilizadas para analisar a sociedade brasileira pela perspecti- va da História. esses dados são essenciais. Fábio Cortez/DN/D. Ao mesmo tempo. Elas também são usadas por em- presas para identificar seu público-alvo e caracterizá-lo. hh Demografia: palavra originada dos Para conhecer as ciências que pensam os fenômenos da vida em socieda. grafia seria o “registro do povo. O tratamento estatístico dos dados é que nos permite compreendê-los de forma mais geral.ibge. a Geo- grafia e a Economia. a área que se dedica ao estudo massivo de populações inteiras se chama Demografia. como a História. Se fôssemos ler. o que lhes per- mite adequar seus produtos ao interesse dos consumidores a fim de garantir sua permanência ou crescimento no mercado. para obter dados empíricos fundamentais aos seus estudos. Por isso. sem as teorias e percepções dos estudiosos da socieda- de. Dentro das Ciên- cias Sociais. A demo- net dedicada a estudantes de Ensino Fundamental e Médio: <www.indd 85 5/27/13 5:20 PM . O Censo mapeia a realidade socioeconômica brasileira buscando entrevistar. em cada domícilio do país. e graphia.termos gregos demos. que significa de. é provável que não conseguíssemos identificar rapidamente as tendências e perfis comuns a elas. visite o site do IBGE Teen. no Rio Grande do Norte. que é parte do campo da Matemáti- ca. Explorando as seções do site. bairros. o responsável pela família. classes sociais. realizado a cada 10 anos. ‘registros’. Outras ciên- cias humanas também utilizam dados dos estudos populacionais para pensar questões e elaborar explicações sobre a sociedade. As informações colhidas durante o Censo. pois ajudam pesquisadores e pesqui- sadoras a elaborar perguntas sobre a sociedade e traçar perfis de alguns grupos sociais específicos.gov. nem a certas regiões geo- gráficas. as Ciências So- ciais aliam-se à disciplina da Estatística. os questionários respondidos pelas famílias brasileiras durante o Censo. uma seção da página oficial do IBGE na inter. da Geografia. esses tipos de dados não começariam sequer a ser produzidos de forma consistente e relevante para a compreensão da vida social. A família no mundo de hoje • 85 Sociologia_vu_PNLD15_065a088_C03.‘povo’. um a um. . c) Economia. 2. b) História. apenas com suas experiências de vida. c) Elaborem. tabelas. isto é..br/ Filipe Rocha/Arquivo da editora ibgeteen/pesquisas/index. anotem em seus cadernos e discutam com colegas: • As informações que vocês acharam mais curiosas. etc.) para ilustrar o que vocês querem dizer. mapas.. à composição e características da popu- lação..ibge. à democracia.. e) Biologia. etc. Em seguida: a) Abram as páginas correspondentes aos três tópicos. 1. aos hábitos e condições de trabalho.. Identifique que conteúdos parecem estar mais relacionados a.indd 86 5/27/13 5:20 PM . gráficos. três perguntas sobre a sociedade bra- sileira e a vida das pessoas no Brasil. Observem cada uma.html). d) Geografia.)? • Por que vocês acham que os técnicos do IBGE escolheram apresentar essas informações dessa maneira? • A apresentação das informações facilita a compreensão em alguns casos? Quais? Também é possível que a apresentação torne-os mais difíceis de en- tender? Vocês conseguem dar exemplos disso? b) Leiam atentamente as informações disponíveis sobre os assuntos que vocês escolheram.gov. • Apresentem as perguntas que vocês elaboraram. quadros. • As informações que vocês já conheciam ou já tinham percebido intuitiva- mente. ines- peradas. escolham um tópico relacionado à Sociologia e outros dois tópicos liga- dos a outras ciências. Organizados em duplas ou trios. estranhas. às famílias. Falem um pouco sobre como os dados estavam na página (texto. às desigualdades. Analisem.? Quem são. a grupos sociais específicos (como as populações indígenas). com base nessas informações.. Elas podem ser perguntas que buscam: • explicações (Por que acontece?) • compreensão (Como acontece?) • exploração aprofundada (Quais são.?) d) Planejem no caderno e depois realizem oralmente uma apresentação curta.. • Expliquem se foi fácil ou difícil entender as informações. Os dados mais fortemente ligados à Sociologia são aqueles relacionados à estru- tura política. com- parem e reflitam: • Como as informações estão sendo apresentadas (textos. seguindo o roteiro proposto: • Digam quais foram os temas escolhidos.. sem conhecer os dados.? Qual é. 86 • capítulo 3 Sociologia_vu_PNLD15_065a088_C03. diferentes. Clique no ícone da prancheta e visite a seção “Mão na Roda!” (www. à cidadania. a) Sociologia.. gráficos. mapas. • Falem brevemente quais foram as principais informações que vocês leram nas páginas disponíveis sobre o tema. e se essa facilida- de/dificuldade está relacionada com o jeito com que a página apresentava os dados. tabelas. família nuclear. Kramer vs. abre para reflexão sobre a origem do universo e o sentido da vida. O relacionamento entre pai e filhos em uma família comum da década de 1950. 3. Manuel Antonio de. 2008. tratando-o como um critério de passagem da natureza à cultura. 2003. 1999. LÉVI-STRAUSS. GIDDENS. O impacto da notícia. da FGV. papéis sociais. ed. r E v i s a r E s i s t E m atiza r 1. 2.). instituição social. 2006. História de um menino e seu relacionamento com o pai em uma área rural italiana. Romance autobiográfico da relação entre um pai e um filho com síndrome de Down. Mundo em descontrole: o que a globalização está fazendo de nós. Petrópolis: Vozes. processo com consequências na vida tanto dos pais quanto do filho. Textos que tratam das transformações nas relações familiares nas últimas décadas e das condições de mudança na iniciação dos jovens à sexualidade. 1979. Kobal/The Picture Desk/Agência France-Presse História de um garoto que busca seus pais verdadeiros.indd 87 5/27/13 5:20 PM . Espanha. Anthony. Relacione as transformações econômicas e sociais ocorridas no século XX com a instituição social família. Cristovão. principalmente nos últimos tempos. ed. 2010. Sem família. As estruturas elementares do parentesco. Itália. Pai patrão. A saga das personagens ajuda a entender a família patriarcal brasileira do início do século XIX. De acordo com o sociólogo Émile Durkheim. 2009. Rio de Janei- ro: Record. TEZZA. Manuela vai atrás do pai dele – uma travesti que nunca soube do filme Pai patrão. socialização. ed. 1977. São Paulo: Saraiva. direção de Pedro Almodóvar. Quais as implicações dessas alterações? Qual o papel da escola e da família na socialização das crianças? conceitos-chave: Família. o tempo e o futebol aproximam os dois. Rio de Janeiro: Record. no Texas. HEILBORN. Rio de Janeiro: Ed. Maria Luiza (Org. 3. direção de Robert Benton. O ator Fabrizio Forte em cena Após a morte de seu único filho. Claude. 2. de Paolo e que a engravidara. relações de dominação. Cynthia Sarti identificou entre as famílias pobres uma organização em rede. Hector. que acontece também nas elites. 2011. Tudo sobre minha mãe. direção de Paolo Taviani e Vittorio Taviani. Memórias de um sargento de milícias. MALOT. Explique o que significa falar em “família patriarcal” no Brasil. 2007. direção de Terrence Malick. Estados Unidos. Curitiba: Chain. Análise das mudanças no âmbito da família no contexto da globalização. Que fatores têm contribuído para o enfraquecimento do modelo de família nuclear pai-mãe-filhos? 5. Estados Unidos. Relato do divórcio de um casal com hábitos culturais e estilo de vida contemporâneos. Qual é a importância desse tipo de organização? 6. Aponte alguns dos novos arranjos familiares na sociedade brasileira. As Ciências Sociais no cinema A árvore da vida. o autor analisa a proibição do incesto. A família no mundo de hoje • 87 Sociologia_vu_PNLD15_065a088_C03. O filho eterno. dE scuBra m ais As Ciências Sociais na biblioteca ALMEIDA. Vittorio Taviani. Família e sexualidade. qual é o papel social da família como instituição? 4. família patriarcal. relações de gênero. 5. A família tem passado por muitas transformações. família extensa. Nesse livro. Kramer. br>. Peter. 1991. SCOTT. Cadernos de Sociologia. Tese de Doutorado. São Paulo: Fundação Perseu Abramo/Instituto Cidadania. p.gov. Constituição da República Federativa do Brasil de 1988. A família das mulheres. 1º. Branco. In: Ipea. n. Cynthia. WOORTMANN.indd 88 5/27/13 5:20 PM . Dicionário crítico de Sociologia. O que é uma instituição social? In: FORACCHI. Manuel. Família. 93-98. Maria Alice. Rio de Janeiro: Record. Claude. 1992. São Paulo. BILAC. JACQUET. 58. ANPOCS. As Ciências Sociais na rede IBGE Teen. 167-292. Rio de Janeiro: Livros Técnicos e Científicos. Jean-Louis. BRUSCHINI. Acesso em: 9 out. p. gênero e poder no Brasil do século XX. São Paulo: Ática. SARTI. Mulher. 2004. Lisboa: Presença. Émile. Campinas: Papirus. A Sociologia francesa diante das relações entre beaux-parents: enteados nas famílias recompostas após divórcio ou separação. M. 88 • capítulo 3 Sociologia_vu_PNLD15_065a088_C03. Marilyn. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro/Brasília: CNPq. Janet. Sandra. Porto Alegre: Vila Martha. história e cultura. BRANCO. Revista Desafios do Desenvolvi- mento. Acesso em: 2 jan. Traz informações que permitem análises amplas da sociedade brasileira. p. 1993.ipea. por Helena Abramo e Pedro DURKHEIM. Rio de Janeiro: Ed.gov. Número especial: Natureza. Séries estatísticas & Séries históricas. José de Sou- za.sem. Família e sexualidade. 89-112. 1981. 2003. SPIRO. da FGV. NOGUEIRA. Klaas. organizado por Maria Luiza Heilborn. Cambridge: Cambridge University Press. In: ____. n. 2013. juventude brasileira. Juarez. FFLCH. n. Disponível em: <www.gov. Elisabete. Porto Alegre: Artes Médicas. Departamento de Antropologia. GIDDENS. BOUDON. 1987.br/ibgeteen>. organizado CASTELLS. casa e família: cotidiano nas camadas médias paulistanas. 1997. Jean-Claude. Disponível em: <www. Mundo em descontrole: o que a globalização está fazendo de nós.planalto. Sociologia e sociedade. Helena. FREYRE. LÉVI-STRAUSS.br/series_estatitiscas/>. 2000. BIB. São Paulo: Fundação Carlos Chagas/Vértice/Revista dos Tribunais. Maria Luiza (Org. Gilberto. Cambridge: Cambridge University Capa do livro Família e Press.br>. estratégias culturais e classes sociais. 57. 2003. 1996. 124-133. POLETTO. Brigitte. FLANDRIN. BERGER. STRATHERN. 1973. ATHAYDE. Programa de Pós-graduação em Sociologia. Famílias: parentesco. 1994. Acesso em: 30 set. ed. Russell Parry. 29-78. Pierre. Retratos da juventude brasileira: análises de uma pesquisa nacional. 3. Capa do livro Retratos da CARSTEN. casa e sexualidade na sociedade antiga. 1992. Casa-grande & senzala. 2002.gov. A família e a fragmentação do social. 2004. Lívia da. Página do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística dedicada a estudantes de Ensino Fundamental e Médio. 9 de julho de 2008. MARTINS. BERGER.ibge. São Paulo. p. 2004. GOUGH. BOURDIEU. 2012. Anpocs. Phydia de. BIB. After Kinship. vol.). 2005. p. O poder da identidade. sexualidade. 1990. 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KIEFER. Disponível em: <www. Na so- ciedade ocidental. Disso resultaram a redução.indd 89 5/27/13 5:22 PM . Essas mudanças implicam alterações no perfil dos trabalhadores e novos desafios às organizações sindicais. as empresas reestruturam sua produção. por exemplo. Salmo Dansa /Arquivo da editora Capítulo 4 Trabalho e mudanças sociais EstudarEmos nEstE capítulo: que o significado e as características do trabalho variam conforme o tempo e as diferentes organizações sociais. do contingente de trabalhadores empregados e a ampliação dos lucros. introduzindo novas formas de gestão da mão de obra. em diversos setores. do controle e da subordinação do trabalhador ao processo produtivo. 89 Sociologia_vu_PNLD15_089a118_C04. a robótica e a informática. a moderna racionalização teve como consequência o aumento da produtividade. Com as inovações tecnológicas propiciadas pela mi- croeletrônica. às quais se somaram outras formas de flexibilização resultantes das políticas neoliberais. Outras medi- das. como o estabelecimento de metas diárias e prêmios por produtividade.. pondo em risco suas próprias vidas e as de outros. O trabalhador e o trabalho Eu às vezes fico a pensar Em outra vida ou lugar Estou cansado demais ora Eu não tenho tempo de ter edit a/Arquivo da O tempo livre de ser De nada ter que fazer e Roch É quando eu me encontro perdido Filip Nas coisas que eu criei [. distanciando-se de seus familia- res. nos 90 • capítulo 4 Sociologia_vu_PNLD15_089a118_C04. Elas podem levar a um trabalho alienado. por exemplo. intensif icando sua atividade. Os contatos por e-mail ou telefone celular também os mantêm conectados à empresa. Marcos. ou seja. Essa sobrecarga de trabalho não leva em conta as necessidades do indivíduo e de sua família. EMI.indd 90 5/27/13 5:22 PM . seu trabalho e sua vida: “É quando eu me encontro perdido / Nas coisas que eu criei”. A letra da música remete também às incertezas que rondam o trabalha- dor. Capitão de indústria. As condições de trabalho reduzem o espaço da criati- vidade. além de cumprirem a jor- nada normal de trabalho. Por estar intensamente integrado ao trabalho. os caminhoneiros que f icam mais de 24 horas sem dormir para cumprir os prazos das entregas e garantir a rentabilidade das empresas que os contratam. o trabalhador tende a dei- xar de lado aspectos importantes de sua vida. In: OS PARALAMAS do Sucesso. aperfeiçoam os métodos de controle sobre o trabalhador que.] Eu acordo pra trabalhar Eu durmo pra trabalhar Eu corro pra trabalhar VALLE. desenvolvida originalmente por Karl Marx. as empregadas e os empregados domésticos que pernoitam em seus locais de trabalho. VALLE. A letra dessa música nos alerta para o fato de o trabalho poder criar um conflito entre o ser. ainda.. Ele não se vê como semelhante a outros trabalhadores e não se identif ica com eles. Considere-se. aumenta a produtividade das empresas. 9 Luas. A teoria da alienação. O re- frão da música revela essa imposição da rotina de trabalho que interfere nas outras atividades: “Eu acordo pra trabalhar / Eu durmo pra trabalhar / Eu corro pra trabalhar”. Paulo Sérgio. Muitas dessas questões decorrem de pro- blemas históricos da formação do país e do sistema capitalista. cresce a produção. como sugere a música: “Eu não tenho tempo de ter / O tempo livre de ser”. 1 CD. Hoje em dia. aquele em que o trabalhador não se reconhece no produto do seu traba- lho nem consegue apreender o processo de produção como um todo. 1996. do aperfeiçoamento. principalmente nas metrópoles. do livre pensar. o ter e o fazer. muitos trabalhadores carregam o notebook (ou uti- lizam o computador pessoal) para terminar tarefas em casa. e parecem impedir o traba- lhador de viver plenamente. mais recentes. em menor tempo e com menos recursos. ou. instrumento de suplício composto por três estacas. o controle do traba- lho. sendo apenas posteriormente empregado com fins de tortura. o tra- balho é necessário para que se obtenha. ao longo da História. estratégias típicas das novas formas de gestão do trabalho. uma réplica. uma remuneração que permita ter uma vida digna. Marcus Pedrosa/Acervo do artista A origem latina da palavra trabalho está rela- cionada ao tripalium. Isso porque. envolve elementos organizados não somente no local de trabalho como fora dele. utilizado para f ins de acumulação. Foto de 2010.indd 91 5/27/13 5:22 PM . mostra que o trabalhador não se apropria de toda a riqueza que gera no processo produtivo. em tro- ca. Mas trabalho é só isso? Inicialmente. a socialização do trabalhador envolve o controle social amplo das suas capacidades físicas e mentais. O sentido do trabalho hh suplício: tortura. O geógrafo britânico David Harvey (1935-) alerta que. em muitas sociedades. estimulando a familiarização do trabalhador com os objetivos da empresa e convencendo-o a participar e a cooperar com o processo produtivo. o trabalho tem sido relacionado a esforço físico e cansaço e. Na foto de 2012. nas condições de produção capitalista. Ou seja. punição corporal. William Andrew/Photographer’s Choice/Getty Images Na imagem ao lado vemos um pai estadunidense dividindo-se entre os cuidados com o filho e as atividades de trabalho. o tripalium era um instrumento utilizado na agricultura. Atualmente. Essa imagem exemplifica como os computadores ampliaram as possibilidades de trabalho para além do espaço da empresa. ele constituiu uma obrigação à qual os seres hu- manos deveriam se submeter. Trabalho e mudanças sociais • 91 Sociologia_vu_PNLD15_089a118_C04. dizemos que o trabalho incorpora valor aos bens. f ir- mou-se o trabalho assalariado. por sua vez. O trabalho político. é denominada mais-valia por Marx.) que são valorizados e multiplicados graças ao trabalho. político e artístico. O capital é o conjunto dos bens e meios de produção (como as máquinas. as ferramentas e recursos necessários para produzir qualquer coisa. Aos poucos. Naquelas duas sociedades também não exis- tia remuneração para o trabalho intelectual. peças de teatro. que acumulavam riqueza. ou seja. ou seja. Também é importante ressaltar que as mulheres. que é apropriada pelo detentor dos meios de produção. eram excluídas tanto do trabalho político quanto da f ilosof ia. o pagamento que o trabalhador recebe não corresponde ao valor daqui- lo que ele produziu. a nobreza e o clero. Por isso. Naquela época. mercantiliza. Isso Filipe Rocha/Arquivo da editora signif ica que sua função era trabalhar para que as camadas sociais mais altas. que transmitiam esses bens por meio de herança aos f ilhos homens e/ou dotes de casamento aos que desposassem suas f ilhas. as instalações. etc. incluindo os contextos revolucionários estudados no capítulo 2. o dinheiro. O momento histórico de transição do regime feudal para o modo de produção capitalista. como um sistema de organização da produção material baseado na propriedade privada. O trabalho manual era considerado indigno pelas elites. era realizado pelos mecenas e pelos intelectuais. desprovidos dessas coisas. desde alimentos até objetos. etc. físico e/ou mental. f ilósofos e artistas. os equipamentos.indd 92 5/27/13 5:22 PM . No entan- to. que usavam os escravos para a produção. nas sociedades feudais europeias. tornavam-se mecenas dos intelectuais. conjuga capital e trabalho. por meio do trabalho o ser humano transforma a natureza e a si próprio. da arte e da intelectualidade. sustentavam-nos com seus bens para que continuassem produzindo pensamento. por exemplo. as ferramentas. incluindo as de trabalho. constituída geralmente por prisioneiros de guerra ou escravizados por dívida. O signif icado atribuído ao ato de trabalhar tem variado ao longo do tempo. transforma em mercadoria mui- tas de suas relações sociais. Na Idade Média. a base da mão de obra era escrava. numa relação de dominação de classe da qual somos ainda herdeiros. estavam na posição mais baixa da estrutura social. como as bata- lhas e os compromissos ligados à religião. 92 • capítulo 4 Sociologia_vu_PNLD15_089a118_C04. chamados servos. ou seja. sendo capitalista. Os proprie- tários de terras e escravos. O capitalismo. políticas e artísticas. Nas antigas Grécia e Roma. apenas dispõem de sua força como moeda de troca. f ilósofos e artistas. A maioria da população trabalhava para esses proprietários. pudessem se dedicar a outras atividades. salvo exceções. obras de arte. reservado aos indivíduos que não dispunham de posses (leia-se: de meios de produção). o que depois Marx chamou de meios de produção (ou seja. realizado por aqueles que. a sociedade europeia era hierarquizada e os trabalhado- res. no século XVIII. Durante a constituição do capitalismo industrial. eles precisavam vender ou alugar sua força de trabalho – energia despendida para realizar ativida- des – em troca de uma remuneração que garantisse seu sustento. Por isso.) já se encontravam concentrados nas mãos de alguns poucos homens. etc. Essa diferença. a terra. dedicando seu tempo às atividades in- telectuais. marcou uma fase de profundas transformações institucionais que resultaram no chamado capitalismo industrial. máquinas. essa transformação envolveu toda a estrutura da sociedade que. como faziam os monarcas absolutistas e a nobreza. seja “natural” e se aplique à humanidade como um todo. após sua morte. Max Weber mostra de que forma tais ideias impulsionaram o capitalismo em países protestantes. dependendo da relação que tivessem com a prática re- ligiosa institucionalizada. A noção de que o trabalho é uma atividade dignificante foi construída historicamente. como seu sogro. Independentemente de traba- lhar ou não trabalhar (sustentar-se com o trabalho dos outros. O direito à preguiça. o catolicismo não valorizava o trabalho da forma como ele é valorizado hoje. O acúmulo de riquezas e a ascensão social por meio do trabalho são frutos da mesma disputa. as pessoas ganhariam o Pa- raíso. que mostra a alimentação de escravos romanos. Por esse motivo. Antes da Reforma protestante. era genro de Marx. o trabalho manual era considerado indigno para as classes dominantes. surgiu a ideia de que o acúmulo de riqueza ao longo da vida garantiria um lugar no céu. Analisan- do sociedades consideradas “primitivas”. em diversas socie- dades estudadas por etnógrafos na Antropologia. O francês Paul Lafargue (1842-1911). propriedades privadas e poder econômico e político. por exemplo). do século XIX. curio- samente. o antropólogo político francês Pierre Clas- tres (1934-1977) publicou a famosa obra A Sociedade contra o Estado. criticando justamente o que chamava de “culto ao trabalho” por parte dos trabalhadores e de alguns f ilósofos socialistas. ele recusa a ideia de que o caminho tomado pelas sociedades europeias.indd 93 5/27/13 5:22 PM . Na clássica obra A ética protestante e o espírito do capitalismo. Com a Reforma protestante. o entendimento do “traba- lho” e da “produção” são tais que não existe nem o trabalho individual nem o Trabalho e mudanças sociais • 93 Sociologia_vu_PNLD15_089a118_C04. Na Antiguidade. muitos sociólogos discutem hoje se a verdadeira emanci- pação dos indivíduos não estaria mais ligada ao ócio. Essa ideologia do trabalho contribuiu e contri- bui ainda para que os detentores do capital mantenham privilégios. a sociedade moderna ficou conhecida como a sociedade do trabalho. publicou no f inal do século XIX um livro. Album/akg-images/Latinstock Ao lado. ao lazer e ao tempo livre do que a um domínio maior do próprio trabalho (“desalienação”) e à reali- zação social pelo trabalho. ou seja. que se institui e se organiza pelo e para o trabalho. no que diz respeito à concentração de bens. Cerca de um século mais tarde. Essa mudan- ça de valores foi acompanhada da luta dos grupos burgueses para se firmarem na sociedade. Clastres ressalta que. xilogravura de Heinrich Leutemann. que. O capital: crítica da economia política. segundo ele. Conside- rando as explicações e teorias comentadas até este momento no capítulo e que grande parte do trabalho realizado hoje em dia ainda é alienada. Mas o que distingue o pior arquiteto da melhor abelha é que ele figura na mente sua constru- ção antes de transformá-la em realidade. e con- siderando que a outra parte é composta de muitas pessoas que dependem de trabalho informal no setor de serviços. e a abelha supera mais de um arquiteto ao construir sua colmeia. Embora o trabalho continue sendo um dos pilares sobre o qual se sustenta a nossa sociedade. as inovações tecnológicas. processo em que o ser humano. Livro 1. e tão logo a necessidade seja atendida. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira. trabalho pelo trabalho: trabalha-se coletivamente para suprir certa necessida- de do grupo. o trabalho é um processo de que participam o homem e a natu- reza. como o conhecimento. que o diferencia do trabalho dos demais ani- mais. p. Uma aranha executa operações semelhantes às do tecelão. (Texto publicado originalmente em 1867). ou seja.. as relações laborais. [. impulsiona. e afazeres não relacionados ao tra- Filipe Rocha/Arquivo da editora balho. com sua própria ação. 3. o f ilósofo austríaco André Gorz (1923-2007) propu- nha que a verdadeira emancipação e autonomia dos indivíduos em nossa sociedade só poderiam ser alcançadas diminuindo-se o tempo de trabalho e aumentando-se o tempo de ócio e lazer. En con tr o c om os c i E n t i s tas s oc i ai s Marx é considerado um autor de grande importância nas Ciências Sociais por ter desenvolvido a concepção do trabalho como um processo subjetivo que se concreti- za materialmente. o ambiente de trabalho. Esse foi. outros fato- res têm contribuído para o desenvolvimento das relações sociais e para a manutenção e integração das pessoas. ed. percebemos que esse ideal está longe de ser alcançado. responda à pergunta no caderno. Considerando a grande imersão no trabalho que as tecnologias de comunicação e informação trouxeram para uma parte da população. regula e controla seu intercâmbio material com a natureza.] Pressupomos o trabalho sob forma exclusivamente humana. O signif icado do trabalho e o processo a ele relacionado alteraram-se consideravelmente no século XX graças às modif icações ocorridas no mun- do do trabalho – designação ampla que engloba a organização do trabalho. muitas vezes também realizando trabalho no que deveriam ser “horas livres”. Antes de tudo. v. Na mesma época. entre outros. Karl. um dos pontos de conflito entre sociedades indígenas e coloni- zadores europeus nos territórios que hoje chamamos Brasil e América do Sul. que o trabalhador deixaria de possuir total controle sobre o próprio trabalho. o trabalho cessa. Se. por um lado. 1975. as organizações dos trabalhadores.. I. ele def ine que o resultado do trabalho é imaginado e pla- nejado pelo trabalhador. Karl Marx reflete sobre o que existe de específ ico no trabalho humano. Leia o texto e. destacado acima. etc. No fim do processo do trabalho aparece um resultado que já existia antes idealmente na imaginação do trabalhador. 202. o lazer. MARX. • No trecho da obra O capital.indd 94 5/27/13 5:22 PM . a seguir. ele mesmo reflete em outros momentos de sua obra que o trabalho pós-Revolução Industrial é “alienado” do trabalhador. você consegue pensar em outras características que diferenciam o trabalho humano em nossa sociedade do trabalho dos outros animais? Quais? 94 • capítulo 4 Sociologia_vu_PNLD15_089a118_C04. retrata de ma- neira instigante o trabalho de tipo fordista-taylorista. ao mesmo tempo que demonstra suas consequências para os indivíduos. O consagrado f ilme de Charles Chaplin. Organização do trabalho no século XX As crises econômicas. O taylorismo.indd 95 5/27/13 5:22 PM . significa produzir mais em nas primeiras décadas do século XX. a separação entre concepção e execução das tarefas. um sistema específ ico de produção denomina- do fordismo. Tempos modernos. United Artists/The Kobal Collection/The Picture Desk/Agência France-Presse O filme Tempos modernos (1936). foi desenvolvido pelo engenheiro norte-americano Frederick Winslow Taylor (1865-1915). no início do século XX. cada trabalhador executava apenas uma eta- pa do processo de trabalho. Trabalho e mudanças sociais • 95 Sociologia_vu_PNLD15_089a118_C04. No contexto de -1947) em sua fábrica de automóveis. ainda que não de modo uniforme. que de tempos em tempos assolam a sociedade capitalista. Essa racionalização científ ica do tempo e dos movimentos leva à especializa- ção e à intensif icação do ritmo de trabalho. expressa uma crítica à produção fordista. Os trabalhadores são treinados para a alta produtividade mediante o uso ef iciente do tempo. Esse sistema que articula inovações técnicas e organizacionais visando à otimização da hh otimização: forma de obter melhores produção e ao consumo em massa foi empregado por Henry Ford (1863. a economia de movimentos exercidos em cada função. monótono e alienante. a divisão de atividades. predominou em nossa sociedade. também com vistas a otimizar a produ- ção.menos tempo ou com menos recursos. produção. Em parte do século XX. de Charles Chaplin. Por meio da criação de linhas de mon. sistema ao qual o fordismo é constantemente associado. sediada em Detroit (Estados Unidos).condições para algo. O fordismo consiste em um sistema de produção em massa cuja palavra- -chave é padronização (tanto das tarefas quanto do produto). promovem alterações nas formas de produzir e de controlar o trabalho. tagem. que torna o trabalho repetitivo. nas quais os operários f icavam parados enquanto as peças se movi- mentavam em esteiras rolantes. Inaugura-se um tempo de grande flexibi- lidade não apenas na produção. há controle visual da produção. baseada na inovação de equipamentos. o processo de trabalho é flexibilizado: a mão de obra é multifun- cional. Algumas dessas mu- danças podem ser vistas no quadro a seguir. processos e novas formas de administrar os empregados levou à diminuição geral dos custos. Essas formas de produção coexistem e. 96 • capítulo 4 Sociologia_vu_PNLD15_089a118_C04. com a supervisão de todas as etapas. para a flexibilização na produção. diferenciando-se da produ- ção fordista. na redução do custo e no con- trole da qualidade. é denominada reestruturação produtiva. uti- liza técnicas que produzem mais em menos tempo e com menor número de traba- lhadores. ou seja. em uma mesma empresa. período marcado por ajustes políticos e sociais nas relações de trabalho. Isso não signif ica que a pro- dução fordista tenha desaparecido. nas quais cada homem detinha um posto de trabalho e uma máquina. A maneira de produzir transitou da rigidez das formas de organização taylorista-fordistas. mas também nas relações sociais e do traba- lho. programas. equipamentos. nas bases econômicas e geográf icas. do taylorismo e de sistemas flexíveis de produção. em que são comparadas as principais ca- racterísticas dos dois sistemas de produção. É importante conhecer as alterações que aconte- cem nas relações de trabalho. deve se adequar a diferentes funções. combinam-se elementos do fordismo. ela chegou ao Brasil com intensidade nos anos 1990. Nos anos 1960 e 1970. e a produção é estabelecida segundo a demanda e a necessi- dade de produtos personalizados. buscando a qualidade do produto f inal. a pro- dução flexível acontece por encomenda. na flexibilidade de tempo e de mão de obra. também denominado toyotismo. Nesse modelo de produção. as empresas implan- taram um conjunto de inovações tecnológicas (derivadas da informática e da robótica) e organizacionais que alteraram a maneira de gerir o trabalho. no trabalho e nos mercados. ocorreram importantes mudanças no âmbito do trabalho. Presente na indústria e nos serviços. de origem japonesa. Essa reorganização da produção.indd 96 5/27/13 5:22 PM . em países de ca- Salmo Dansa/Arquivo da editora pitalismo avançado. muitas vezes. A introdução de máquinas. uma vez que essas se compõem de um conjun- to de leis e normas sociais que regulam a compra e a venda da força de tra- balho e também os conflitos que delas resultam. que é baseada na pro- dução em massa e com altos níveis de estoque. a um maior controle sobre os trabalhadores e à redução de mão de obra utili- zada – correspondendo ao que se convencionou chamar produção enxuta. Desenvolvida nos países centrais nas décadas de 1970 e 1980. Para adaptarem-se às oscilações do mercado. São Paulo: Loyola. – Trabalho em equipe. Manuel. David. 1999. responsabiliza o trabalhador pelos equipamentos e pela qualidade do produto. entre outras – Intensificação do ritmo de trabalho – Novas ferramentas de controle do trabalho – Introdução de formas de remuneração variáveis.indd 97 5/27/13 5:22 PM . por tempo determinado. como trabalho em domicílio. fixas e bem definidas – Flexibilidade e multifuncionalidade trabalho – Hierarquização de cargos e salários – Redução das hierarquias internas – Fixação do trabalhador no posto de trabalho.) Fábricas – Grandes estruturas de produção exigem elevados – Fábricas espalhadas pelos mercados mundiais investimentos – Reorganização do espaço físico das empresas – Concentração da produção em um único espaço – Descentralização da produção. O sistema de produção taylorista-fordista e o sistema de produção flexível Aspectos Sistema taylorista-fordista de produção Sistema de produção flexível considerados Predominante no período de 1930 a 1970 Predominante a partir da década de 1970 Mercado – Objetiva o consumo de massa – Objetiva atingir nichos específicos de mercado Produção – Produção em massa – Produção especializada – Rigidez e controle das etapas – Produção flexível em relação à organização e ao – Integração vertical. A sociedade em rede. 1993. rodízio de tarefas. todas as partes do trabalho produto são fabricadas na mesma empresa – Terceirização: transferência de parte da produção – Utilização de mão de obra intensiva para outras empresas. São Paulo: Paz e Terra. programas de participação do trabalhador (círculos de qualidade. integração entre trabalho empresas – Relativa integração entre concepção e execução do trabalho. etc. ou seja. como prêmios por produtividade e participação nos resultados Adaptado de: HARVEY.) Inovações – Administração científica e centralizada – Administração científica técnicas e da produção – Organização da produção com tecnologia de organizacionais – Linhas de montagem e esteiras rolantes no base microeletrônica e células de produção processo produtivo associadas à linha de montagem – Produção em série – Produção por demanda – Separação entre a concepção e a execução do – Automação e robotização. funções exercendo uma única função genéricas – Disciplinarização e controle do trabalhador – Intensificação do controle sobre o trabalhador – Contrato de trabalho formal por tempo por meio de equipamentos e autocontrole indeterminado – Diversificação das formas de contrato de trabalho (autônomo. por produção. protegido – Crescimento da subcontratação e da consultoria trabalhador – Distribuição dos ganhos de produtividade por – Redução do número de trabalhadores protegidos. meio dos salários o que causa a precarização do trabalho – Grandes contingentes de trabalhadores – Novas formas de organização industrial e retorno – Rígido controle de tarefas de formas antigas. CASTELLS. constituindo redes integradas de empresas – Redução dos postos de trabalho Organização do – Tarefas mecânicas. sugestões. etc. Trabalho e mudanças sociais • 97 Sociologia_vu_PNLD15_089a118_C04. – Remuneração salarial regular por tempo parcial. apenas com – Concentração da produção e das decisões decisões centralizadas na matriz Perspectiva do – Emprego estável. Condição pós-moderna. p. O aprofundamento da flexibilização das relações de trabalho no Brasil nos anos 90. fazendo com que um mesmo funcionário concen- trasse mais tarefas. a partir da introdução de inovações tecnológicas ou de processos. da atuação do Estado. A revolução microeletrônica possi- bilitou a informatização do controle da produção. a indústria automobilística e o setor bancário são exemplos de ra- Carlos Barria/Reuters/Latinstock mos em que foram implantados siste- mas flexíveis de produção. KREIN. Os sistemas flexíveis reduzem os estoques ao aprimorarem a logística jamento e da organização dos proces. além da gestão Chongqing. Com essa reestruturação da produção. concorrência. Por outro lado. 28. Campinas: Ed. o capital se prepa- ra para enfrentar crises. oscilações econômicas e impasses téc- nicos. que podem ser negociados legitimamente entre os hh discricionário: isento de restrições. na China. por exemplo. Essa flexibilização pode ser compreendida como: [. incluin- automotivo. da Unicamp. Embora a forma como é organizada a produção não dependa do Estado. do o chamado “recurso humano”.. Atualmente. oferece forma- ção técnica ao trabalhador e regula as atividades capitalistas e de interesse nacional. 98 • capítulo 4 Sociologia_vu_PNLD15_089a118_C04. parte dos trabalhadores é substituída por máquinas e robôs. 2001. a flexibilidade pode significar a depres- são dos direitos com a finalidade de redução dos custos. ou ainda através independente de regras. Aliás. a introdução de equipa- mentos de microeletrônica e robótica trouxe para os trabalhadores maior responsabilização pelo processo de tra- balho e pelos resultados da produção. o Estado tendeu a reformular seu papel. como quando variados modelos de carros são produzidos simultaneamente. atores sociais ou impostos pelo poder discricionário da empresa. ela pode ser uma forma de adaptar as equipes e os processos produtivos às inovações tecnoló- gicas ou à mudança de estratégia da empresa. Quando a produção se tornou mais flexível. a agilização das compras e Funcionários trabalham em linha de montagem de fábrica de automóveis em do fluxo f inanceiro. em 2012. Na indústria de veículos. A informatização do trabalho agilizou as atividades bancárias. investindo e capacitando os recursos humanos ou até melhorando as condições de trabalho. em muitas fábricas do setor planejada de todos os recursos. Ser flexível signif ica realizar diferentes tarefas e fabricar diversas merca- dorias na mesma linha de produção. (Dissertação de Mestrado).] a possibilidade de alteração da norma como forma de ajustar as condições contratuais. hh logística: área que se ocupa do plane. além de poder regular o uso da força de trabalho em face de tantas mudanças. José Dari. interna e externa das empresas. Assim. de abastecimento. Assim. no sistema taylorista-fordista de produção há maior intervenção do Estado na econo- mia: ele regulamenta as negociações entre capital e trabalho. este exerce um papel no desenvolvimento da economia. em princípio.indd 98 5/27/13 5:23 PM . por meio da organização de transportes e sos envolvidos em uma dada operação. a uma nova realidade. mimeo.. buscando atrair investimentos externos e legislar pela desregulamentação e/ou flexibilização das relações de trabalho. 1990. desenvolvendo a capacidade de acumular. distribuir renda e ampliar o mercado consumidor. analisa o sociólogo co que concebe a sociedade assentada na liberdade brasileiro Giovanni Alves. mento capitalista identificado principalmente com mento da riqueza e o desenvolvimento humano. indica que o capital f inanceiro exerce um papel supervalorizado na sociedade contemporânea: ele movimenta os negócios e gera riquezas. o neoliberalismo rejeita a interven. Inspi. As políticas governamentais dos países em desenvolvimento. Com isso. a comunicação on-line permite que o capital seja investido e transferido de diversas partes do mun- do em tempo real. ção dos gastos públicos. Outro recurso bastante comum nos dias de hoje. O uso desses sistemas tecnológicos integrados permite controlar a pro- dução com acelerada comunicação e transferência de dados em tempo real. Esses investimentos externos nem sempre foram aplicados na produção de bens e de servi- ços locais. como a redu- Considerado como ideologia política da classe ção da atividade econômica do Estado (por meio da que detém o capital na globalização. armazenar. incentivando a concorrên. um conjunto de medidas econômicas. Nesses termos. em fevereiro de 2013. processar e distribuir informações. mas reconstituí-lo segundo a lógica lamentação financeira e do mercado de trabalho. as ideias neoliberais passaram a ter in- do mercado na vida social. fluência nas políticas governamentais na década de cia e a liberdade de iniciativa como mecanismos capa. o neoliberalismo privatização de empresas estatais). o que o torna mais volátil. cabe ao Esta- dos indivíduos e de funcionamento do mercado. ocorreu maior concentração de riqueza. Corretores trabalham na Bolsa de Valores de Nova York. a reestruturação das políticas sociais e a desregu- nomia capitalista. automatizou o trabalho e introduziu a informática e a robótica. denominado f inanceirização do capital. Trabalho e mudanças sociais • 99 Sociologia_vu_PNLD15_089a118_C04. rias e dos salários e atentar para temas como a redu- mo livre de regras. a chamada terceira Revolução tecnológica. Tal cenário. influencia- das pela ideologia política neoliberal. o cresci. nos Estados Unidos. Neoliberalismo O neoliberalismo é um movimento político e teóri. das corporações transnacionais. cial. sem necessariamente aumentar a produção de bens. procuraram atrair recursos vindos dos Brendan McDermid/Reuters/Latinstock países mais ricos (via bolsa de valores) para o seu desenvolvimento nas últimas décadas do século XX. que defende um capitalis. com uma minoria da população consumindo parte signif icativa da produção e a maioria tendo acesso restrito aos bens produzidos. inaugurando um novo padrão de desenvolvi- zes de assegurar a soberania do consumidor. desvinculando-se da necessidade de criar empregos. a abertura comer- não implica “negar” o papel central do Estado na eco. do manter o equilíbrio entre os preços das mercado- rado no liberalismo clássico. ocorrida nos anos 1970. ção do Estado na economia e valoriza a superioridade No Brasil.indd 99 5/27/13 5:23 PM . mer- cadológicas e organizacionais. Orlando Pedroso/Arquivo da editora a partir dos anos 1980. a economia obter lucro rápido. analisa André Gorz.indd 100 5/27/13 5:23 PM . desdobrando- -se numa grave crise político-econômica com reflexos em diferentes setores. a política econômica neoliberal avançou em muitas partes do mundo visando garantir amplas liberdades ao mercado. As consequências nos anos seguintes atingi- ram os países da União Europeia e os chamados emergentes. 100 • capítulo 4 Sociologia_vu_PNLD15_089a118_C04. Trabalhador: a chave dos sistemas flexíveis de produção? A tendência de flexibilizar a produção. tecnológicas. aspectos fundamentais do fenômeno que Da- vid Harvey denomina acumulação flexível. levando milhões de trabalhadores de todos os níveis de escolaridade e qua- lif icação ao desemprego. As condições de trabalho tornam-se precárias devido à redução do número de trabalhadores contratados e a sua incorporação como terceiriza- dos à cadeia produtiva – nome dado ao conjunto de unidades que atuam de forma integrada na produção. distribuição e comercialização das mercado- rias. no f inal dos anos 2000. vale lembrar que. que os contratam. muitas vezes. hh especulativo: que se aproveita da Com relação ao capitalismo f inanceiro com forte caráter especulativo oscilação do mercado financeiro para que tem prevalecido. Os estagiários exem- plif icam esses trabalhadores que podem ser dispensados mais facilmente pelas empresas. contratando-os sem proteção nem garantias de estabilidade no cargo ou assistência social. o trabalho e os produtos perpas- sa todas as esferas da sociedade e a própria vida dos indivíduos. mundial sofreu um forte abalo provocado pela crise f inanceira e imobiliária ocorrida nos Estados Unidos. em substituição a trabalha- dores efetivos com melhores condições salariais. o que. afetou a regulação do trabalho. surgem novos setores de produção e as empresas intensif icam os investimentos em inovações comerciais. do mercado de trabalho aos padrões de consumo. Os trabalhadores flexíveis têm menor remuneração e os empresários se desobrigam de alguns encargos sociais. em contrapartida. Com o intuito de atingir outros mercados. ou fornecem componentes vas e serem contratadas. É o que acontece. mental da empresa contratante. de utilização e mesmo Leticia Moreira/Folhapress de demissão da mão de obra do trabalha- dor. a terceirização contribui para a precarização fora dela. a fim de se mostrarem competiti- rança. sos. a seus funcionários. repouso se- manal remunerado. de crises econômicas e do índice de desemprego. Como consequência da flexibilização das relações de trabalho. Terceirização Terceirização é o recurso mediante o qual uma de telecomunicações transfere para outras empresas empresa (em geral. Em outros. descanso sema- nal remunerado.salário. Foto de 2010. Esse processo atingiu os trabalhado- res brasileiros de maneira contundente. Trabalho e mudanças sociais • 101 Sociologia_vu_PNLD15_089a118_C04. alterando. de remuneração. as contratantes exigem que o trabalhador abra ceirização da atividade-fim. quando uma empresa prestadora de serviços sas de manutenção de uma empresa. contemporâneo. Porém. de grande porte) transfere a res. para dar contor- prontos (por exemplo. as terceirizadas oferecem salários abaixo da média liares nas empresas contratantes. a qual teria seus serviços contratados. com alterações na previdên- cia social. os governos do Brasil e de outros países criaram medidas para adequar o trabalho à produção flexível. cada vez maior no capitalismo vas para uma empresa “terceira”. fornecendo peças para uma nos de legalidade ao trabalho de indivíduos sem regis- indústria automotiva). além de ficar desprovido dos direitos mo exemplifica o sociólogo brasileiro Sandro Ruduit trabalhistas. no auxílio-saúde e em outros be- nefícios. Reflexo da pressão.indd 101 04/06/2013 09:52 . seguro-desempre- go e outros. segu. muitas vezes há a ter. A legislação trabalhista brasileira assegura uma série de direitos: carteira de trabalho assinada. das condições de trabalho e de salários. As políticas de trabalho neoliberais adotadas traduziram-se numa série de leis e medidas favoráveis à flexibilização dos contratos de trabalho. as tarefas de instalação de terminais telefônicos. as terceirizadas assumem funções auxi. os setores empresariais passaram a acusar o Estado de “excesso de proteção ao trabalhador”. Alguns direitos trabalhistas previs- tos na Consolidação das Leis do Trabalho (CLT) – como 13º. tomando isso como obstáculo para novos negócios. licença-mater- nidade. ponsabilidade de serviços ou de atividades produti. Em alguns ca- Em geral. para isso. exames médicos de admissão e demissão. transporte. Nesses casos. como limpeza. Essas atividades po. diminuiu a prote- ção social do trabalhador e aumentaram a instabilidade e a insegurança no mercado de trabalho. tro. cozinha. trabalho no Brasil. nas últimas décadas do século XX. Porém. co. uma empresa. o trabalhador precisa arcar com as despe- Garcia. salário pago até o quinto dia útil do mês. ou seja. férias. dando maior liberdade às empresas para determinar as condições de contratação. a atividade funda. pela redução de gastos e aumento dem ser feitas no interior da empresa contratante ou de lucros. aviso prévio de trinta dias (em caso de demissão). devido à pressão das empresas. salário-família e A carteira de trabalho é o documento em que fica registrado o contrato formal de outros – se mantêm regulados pelo Estado. Sob influência do neoliberalismo. os direitos do trabalhador. principalmente nos anos 1990. indd 102 5/27/13 5:23 PM . além de realizar as tarefas que lhe cabem diretamente. expondo os trabalha- dores às chamadas forças do mercado. como podemos observar na charge de Bruno Galvão. nos momentos de queda da produção. Nesse contexto. as exigências das empresas quanto à formação dos prof is- sionais aumentaram e a preferência recai. sobre prof issio- nais com conhecimentos de informática e domínio de língua estrangeira. 102 • capítulo 4 Sociologia_vu_PNLD15_089a118_C04. valoriza-se um novo perf il de trabalhador. Exemplos de flexibilização são a modalidade de contratação por prazo determinado e a adoção do sistema de compensação de horas extras por meio de uma lei de 1998. observam as metas estabelecidas pela empresa. Para evitar esse pagamento adicional. para poste- rior compensação. ser criativo. Nessa sábado e. embora certos direitos consagrados já sejam negociados entre empre- gado e empregador. em sua maioria. de 2008. É um modo de estender a jornada de trabalho quando cresce a demanda e de diminuí-la em épocas de pouco movimento. muitos trabalhadores se ocupam com a manutenção dos equipamentos que usam para trabalhar. Horas extras e banco de horas Pela CLT. São-lhe cobradas habili- dades como trabalhar bem em equipe. cujo controle se inicia já na concepção do processo de produção. Direitos trabalhistas que eram garantidos aos trabalhadores há muito tempo hoje não são mais tão certos. escolarizado e com conhecimento tecnológico. as empresas computam essas horas a mais para Bruno Galvão/Acervo do artista serem compensadas na forma de folgas. as horas trabalhadas além de oito horas do valor normal da hora-trabalho de segunda-feira a diárias são caracterizadas como horas extras. o acréscimo pas- condição. mostrar empenho e iniciativa para resolver imprevistos. A Justiça do Trabalho continua a regular e a f iscalizar as relações de traba- lho. Novo perfil do trabalhador Na atualidade. está previsto o pagamento de 50% a mais sa a 100%. aos domingos ou feriados. adaptar-se facilmente às mudan- ças. que permite que as horas trabalhadas fora do expediente sejam computadas em um banco de horas. Pa- ra atender a esses requisitos. da hora extra e dos salários. assumindo o compromisso de concretizá-las. como é o caso da jornada de trabalho. cooperam com os colegas da equipe e também são corresponsáveis pela qualidade f inal do produ- to. além de acompanhar as mudanças na produção de bens e na prestação de serviços. capacidade de gerenciamento. sendo exigidos dele. por exemplo. os trabalhadores precisam se capacitar constantemente para conseguir (e manter) um posto razoável no mercado de trabalho formal. sistemas de melhoria contí- nua e treinamentos comportamentais. Com o objetivo de aumentar a produção. selecionam os trabalhadores com mais credenciais. em 2011. Minas Gerais. como sistemas de controle de qualidade. Bruno Galvão/Acervo do artista Charge de Bruno Galvão retratando a multifuncionalidade exigida dos trabalhadores nos dias atuais. jovens de Belo Horizonte. para tanto. Nos dias de hoje. que antes era operador de caixa. Charge de 2010. concorrendo com os efetivos em busca de vagas. Euler Junior/EM/D. estra- tegicamente. além do cumprimento de metas. Algumas formas de as empresas pes- quisarem sobre jovens talentos para prof issões de nível universitário é a sele- ção deles na condição de estagiários e a contratação de trainees. Trabalho e mudanças sociais • 103 Sociologia_vu_PNLD15_089a118_C04.A Press Na imagem. que favorecem o trabalho em equipe e o atingimento de metas corporativas. Na prática. habilidades de venda. ainda que o cargo ou função não necessite disso. agora também vende seguros. títulos e produtos f inanceiros. com- preensão do mercado f inanceiro e aptidão para oferecer atendimento per- sonalizado. Essas modernas técnicas de gestão do trabalho convocam o traba- lhador a aderir às estratégias mercadológicas da empresa e a assumir suas tarefas como uma missão. em aula de informática. Durante esses programas e treina- mentos os trabalhadores dão sugestões.indd 103 04/06/2013 09:53 . prof issionais formados que passam por “aprendizado em serviço”. isso faz com que os trabalhadores precisem desempenhar várias tarefas: o bancário. Para alguns trabalhos é exigida formação superior. as empresas adotam progra- mas. testam suas habilidades e realizam projetos. A busca de qualif ica- ção e de formação permanentes é até incentivada pelas empresas que. cursos da informática. o trabalho A ideia de trabalho eletrônico data dos anos 1970. suas garantias. conectados ao banda larga e um computador pessoal dedicado ao negócio por meio dos computadores. rio e no tempo de trabalho. alterações nas formas contratuais. O teletrabalho rias. no horá- da grande indústria. Todos os membros economizar combustível e a preocupação com os des- da família se envolviam na produção das mercado. quando a crise do petróleo trouxe a necessidade de dalidade amplamente difundida. agora. situações física e psico- logicamente extenuantes para o trabalhador. máquinas e equi. A nova geração de trabalhadores multifuncionais trabalha mais horas e em um ritmo mais intenso. o funcionário precisa desenvolver novas competências. O espaço do tra. à ampliação do trabalho assa. como é o caso dos chamados temporários. tagens e as desvantagens dessas “novas” formas de pamentos integravam o ambiente próprio para as trabalho. essa distância física foi quebrada com o avanço ciedade brasileira. e não apenas no local. 104 • capítulo 4 Sociologia_vu_PNLD15_089a118_C04. processo que transfere para o trabalhador a responsabilidade de manter-se empregado. nas empresas e fora delas. como internet via surgiram os trabalhadores a distância. a É importante ressaltar que o teletrabalho é mais oficina. assim. ainda que não estivessem diretamente ligados era apresentado com as vantagens de maior convi- a ela. locamentos para o local da empresa. a chamada individualização no tra- balho. Teletrabalho: mais trabalho? No contexto da Revolução Industrial. etc. O controle do tempo de trabalho. excelência. Por demandar competências específicas do tra- Devido à concentração do capital. instabilidade em suas condições gerais e mudanças na atividade laboral. a fábrica. aumentos exagerados da jornada diária. aumentam a sensação de insegurança no trabalhador. As fronteiras entre trabalho e família quase vência familiar. que combina um salário f ixo e um ganho extra variável. sobretudo do vínculo do emprego e de balho já não se confundia com a moradia do traba. ao facilitarem os trâmites e a burocracia para a demissão de emprega- dos. à expansão balhador. desde as últimas décadas do século em geral executado pelas classes médias e altas da so- XX. de acordo com a produtividade do funcionário. Os trabalhadores podem ser chamados a qualquer momento para tarefas de emergência. Sob influência das estratégias flexíveis de trabalho praticadas pelas em- presas.indd 104 5/27/13 5:23 PM . realizado pelo trabalhador em sua casa era uma mo. além do domínio da língua escrita e de re- instalados em domicílio. Ele pressupõe que o trabalhador das tecnologias de informação e comunicação (TICs): tenha infraestrutura em sua casa. o lariado e às conquistas trabalhistas. Reforça-se. como a remuneração variável. Diversas pesquisas discutem as van- lhador: instrumentos de trabalho. a loja. está incorporado aos equipamentos e às máquinas. comum em ocupações ligadas ao trabalho intelectual. o trabalho em teletrabalho apresenta-se como a flexibilização por domicílio tenderia a desaparecer. muitas vezes trabalho. Também caracterizam o traba- lho precário a introdução de novas regras salariais. disponibilizando seu tempo livre para o trabalho. como ritmos in- tensif icados. Há ainda as alterações contratuais que. estar física e emocionalmente saudável e engajar-se nos ob- jetivos da organização. Essa nova modalidade emergiu com o advento dos computadores e da internet e a popularização das linhas telefônicas móveis: é o teletrabalho. entre outras coisas. inexistiam. Entretanto. qualif icar-se constantemente. atividades laborais – o escritório. A precarização do trabalho signif ica. o trabalho é um dos principais fatores estruturantes das relações sociais. o Japão e os da Europa Ocidental. pode intervir diretamente no processo de trabalho e recuperar sua autonomia. Para ele. comunicação e de informática reduziu o uso do trabalho humano. A primeira. Jean/Arquivo da editora Acima. nas formas flexíveis o trabalhador. Em alguns casos. é a de que o trabalhador flexível é ainda mais explorado e gera uma mais-valia ainda maior para o capitalista. sem a incumbência de tarefas mecânicas do fordismo-taylorismo. Continuamos a ser uma sociedade produ- tora de mercadorias. hh O trabalho em crise É fato que a sociedade contemporânea continua se estruturando. e compartilha essa condição com outras dimensões da vida. como os Estados Unidos. Vale destacar. como o consumo e o lazer. gerou a necessidade de novas funções assalariadas. Autores como os italianos Antonio Negri (1933-) e Maurizio Lazzarato (1955-) e o norte-ame- ricano Michael Hardt (1960-) acreditam que as características dos sistemas flexíveis de produção permitem a libertação do trabalho material. O trabalho é central na vida em sociedade contemporânea? As mudanças no mundo do trabalho nas últimas décadas levaram cientis- tas sociais europeus a questionar se o trabalho ainda detinha uma posição central na organização da vida social. conceitos como trabalho e capital tinham perdido espaço para ou- tros como informação e conhecimento. porém. A se- gunda é a de que nem mesmo nos países do capitalismo central. Essa posição foi rejeitada por autores como o sociólogo brasileiro Ricar- do Antunes (1953-). informática e serviços. As transformações decorrentes das novas tecnologias também levaram pensadores a questionar o futuro do trabalho material. Habermas considera que é o plano do sim- bólico (propiciado pela comunicação) que organiza a vida social na contem- poraneidade. Para alguns. em boa medida. as duas principais críticas a essa visão. pelo trabalho organizado socialmente. O desenvolvimento de moder- nas tecnologias de automação. charge de Jean sobre a crise mundial e o desemprego.indd 105 5/27/13 5:23 PM . mas não o substituiu. enquanto o trabalho garantiria apenas a subsistência. o trabalho ainda é essencial para a organiza- ção da sociedade. por sinal. pois continua sendo responsável pela produção tanto de riquezas (apropriadas pelos capitalistas) quanto de sentido simbólico (para os trabalhadores). Trabalho e mudanças sociais • 105 Sociologia_vu_PNLD15_089a118_C04. como o alemão Jürgen Habermas. como nas áreas de tecnologia da informação. feita por pensadores marxistas. o trabalho material está perto de desaparecer – vide setores como a construção civil. Para eles. bens e serviços que são trocados continuamente. Esse processo não se limita à esfera industrial e urbana. remunerada formal. podemos interpretar a realidade que vivemos da mo aconteceu com os países europeus em período seguinte forma: enquanto o emprego. nas últimas décadas. resul- tante das mudanças na estrutura mesma da economia. já que se qualquer tipo de atividade econômica. prego pode acontecer de forma rápida e atingir gran- Segundo essa distinção entre trabalho e empre. Persiste. do emprego precário e instável). co- go. O Brasil. foi um dos países mais afetados por esse processo. autônomo ou prestador de serviços. regulamentada. no lon- go prazo. os pequenos pro- prietários veem-se sem condições de compe- Yasuyoshi Chiba/Agência France-Presse tir com os grandes produtores. designa o pos. muito acima da quantidade de vagas disponíveis. emprego e desemprego Os termos trabalho e emprego são usados. De que viverão as pessoas que não encontrarão emprego quando os sistemas flexíveis de trabalho predominarem? Desenha-se. As máquinas reduziram a necessidade de mão de obra no campo. Nas situações de de- semprego estrutural. mui. Enquanto os grandes proprietários de terras contratam menos traba- lhadores porque investem em tecnologia e maquinário. Tra. Mato Grosso. mas nem sempre isso é termos relativos (quando comparado ao crescimento correto. ou produza bens e serviços. como sinônimos. grande produtor e exportador de produtos agropecuários. tende a decrescer em tas vezes. em 2012. mais estável e recente. to ocupado por um trabalhador que realiza atividade segundo Karl Marx. milhares de trabalhado- res rurais e pequenos agricultores trocaram o meio rural pela busca por emprego nas médias e grandes cidades. Colheitadeiras em plantação de soja no município de Campo Novo do Parecis. independentemente da Em períodos de crise econômica. Assim. 106 • capítulo 4 Sociologia_vu_PNLD15_089a118_C04. pois não têm como f inanciar máquinas e insumos. para se ter ideia do cenário atual.indd 106 5/27/13 5:23 PM . ou seja. Basta notar a diminuição do número de trabalhadores formais em um mundo em que a população dobrou em pouco mais de 20 anos. Enquanto o tempo de trabalho se estende para alguns poucos trabalhadores multifuncionais. o número de pessoas sem emprego mantém-se. gas remuneradas suficientes para o total de trabalha- balho é qualquer atividade que transforme a natureza dores disponíveis e que estão em busca de emprego. Trabalho. des dimensões. um quadro de desemprego estrutural. trata da condição para a reprodução da própria vida. Pelo contrário: no campo. mesmo em países desenvolvidos. pode-se afirmar que Emprego se refere ao vínculo de trabalho em o trabalho não corre o risco de desaparecer. e que pode ser Desemprego é a situação em que não existem va- assalariado. típico da era fordista. milhões de outros indivíduos f icam desem- pregados. seguro. assim. o decréscimo do em- existência de contrato formal. a mecanização agrária e o desenvolvimento de técnicas e insu- mos visando aumentar a produtividade na agricultura e na pecuária f izeram com que se produzisse cada vez mais com cada vez menos trabalhadores. a preocupação com o futuro do trabalho. no entanto. com reduzidos direitos sociais e políticos. 3. não há relação estrutural siste- mática entre a difusão das tecnologias da informação e a evolução dos níveis de emprego na economia como um todo. v. Os sindicatos – entidades nascidas para organizar os trabalhadores. paus a para rEflEtir Leia os fragmentos abaixo e depois responda por escrito às questões propostas. Essa situação é reforçada por múltiplas estratégias que individualizam o trabalhador: ele se torna flexível. como tendência geral. Manuel. As mudanças no mundo do trabalho. setores. CASTELLS. Um levantamento recente de desenvolvimento e de tendências tecnológicas nos setores agrícola. TexTO 2 Em resumo. São Paulo: Paz e Terra. ed. desloca- do de estruturas sindicais de defesa. ambientais. Levando em consideração tudo o que vimos até agora no capítulo. encami- nhar suas reivindicações e representar seus interesses junto aos empregadores – tiveram seu poder de pressão reduzido.indd 107 5/27/13 5:23 PM .]. industrial e de serviços sugere que o mundo quase sem trabalhadores está se aproximando rapidamente e pode chegar muito antes de a sociedade ter tempo suficiente. p. ambientes institucionais e posição relativa no mercado global. tanto para discutir a abran- gência de suas implicações quanto para preparar-se para seu impacto total. você diria que os seres humanos podem viver sem trabalho? Por quê? Os sindicatos e seus desafios na atualidade O trabalhador contemporâneo vive no contexto de transição do trabalho regulamentado e duradouro para formas de negação do trabalho-emprego. RIFKIN. 1. TexTO 1 O processo da reengenharia nas corporações está apenas começando e o de- semprego já está aumentando [. decorrentes das políticas neoliberais. como você avalia essas duas teses? 3. Os autores têm posições semelhantes? O que os aproxima e o que os distingue? 2. mas a relação quantitativa entre as perdas e os ganhos varia entre empresas. estratégias empresariais. regiões e países em função de competitivi- dade.. São Paulo: Makron Books. 284. hoje os sindicatos en- frentam desafios para garantir os direitos já alcançados pelos trabalhadores. Albari Rosa/Gazeta do Povo/Futura Press Trabalhadores metalúrgicos no Paraná fazem paralisações e discutem melhoria de salário durante assembleia realizada em 2011. Assim. O fim dos empregos. políticas governamentais. indústrias. Empregos estão sendo extintos e novos em- pregos estão sendo criados. Pensando na realidade social brasileira. interromperam o processo de conquista de direitos e de ampliação da cidadania no país. parece que.. sua escassez e precarização. 1. Trabalho e mudanças sociais • 107 Sociologia_vu_PNLD15_089a118_C04. p. A sociedade em rede. clandestino. Jeremy. 113. em São José dos Pinhais. 1995. 2000. entre empresários e trabalhadores. 108 • capítulo 4 Sociologia_vu_PNLD15_089a118_C04. um dos maiores desafios dos trabalhadores e de suas organizações é universalizar os direitos. Já os trabalhadores terceirizados não dispõem. posicionar-se com relação à reestruturação produtiva e garantir a negociação coletiva. dos termos e das condi- ções do emprego.indd 108 5/27/13 5:23 PM . Os trabalhadores desse grupo. ou seja. de acordo com o IBGE – índice bem menor que o de 55. um segmento não organizado do mercado de trabalho. 45. em 2011. incorporar os trabalhadores informais e ajustar a agenda para defender questões mais amplas da sociedade. via de regra. pois operam para uma empresa que pode ser uma prestadora de serviços ou produtora de partes do produto. alguns dos quais vi- vendo em regime semelhante ao de escravidão em pleno século XXI. No Brasil. A falta de oportunidades ou de condições de disputar uma vaga de trabalho formal leva alguns trabalhadores a se submeterem a condições de trabalho precárias. Um dos problemas enfrentados pela organização sindical é que ela tem representado majoritariamente os trabalhadores efetivos ou formais. A redução das vagas de emprego e as no- Bianca Pyl/Repórter Brasil vas condições de trabalho f izeram crescer a competição entre os trabalhadores. Trata-se de uma tentativa de conter o avanço da precarização do traba- lho. porém. Flagrante de trabalho escravo contemporâneo em oficina de confecção na cidade de São Paulo. Há. carteira de trabalho assinada. de represen- tação sindical. em 2011. responder ao cenário de flexibilidade e estimular a construção de identidades coletivas. vivem sem registro e/ ou remuneração f ixa e direitos trabalhistas. uma vez que os instrumentos de flexibilização do trabalho aumentaram as desigualdades sociais. desumanas e inseguras. aqueles que têm vínculo formal. são facilmente substituídos e f icam mais tempo desempregados. Esse é o caso dos car- voeiros. Muitos dos trabalhadores informais encontram-se submetidos a péssimas condições de trabalho e recebem baixíssimos salários.4% dos trabalha- dores brasileiros em idade produtiva estavam na informalidade. a saúde e a ecologia. pertencendo of icialmente a determinada categoria ou empresa. mas ainda assim muito elevado. a regu- lação conjunta. constatado dez anos an- tes. que estão nas pequenas empresas ou trabalham por conta própria. isto é. São desaf ios sindicais: combinar estratégias de proteção do emprego e melhoria das condições de trabalho. ou seja. no Brasil. o que levou alguns sindicatos a aglutinar diferen- tes interesses. que está na informalidade. e de trabalhadores de outros setores. como a previdên- cia.3%. Entrevistem três trabalhadores que se encontram na informalidade. com base nos dados colhidos por todos. Para isso uti- lizem as perguntas sugeridas abaixo: – Que tipo de trabalho você realiza? Especif ique algumas das atribuições desse trabalho. Bruno Galvão/Acervo do artista Charge de 2011 retratando o sindicato como entidade responsável por proteger e garantir os direitos do trabalhador. Após a entrevista. em 2013. 1. Façam uma lista das atividades informais que vocês conhecem. p E squisa Reúnam-se em grupos e realizem a atividade proposta a seguir. 3. Trabalho e mudanças sociais • 109 Sociologia_vu_PNLD15_089a118_C04. leve caneta e caderno. Não esqueça de agradecer ao f inal. em Jequié. Identif ique-se como aluno do colé- gio e pergunte se o entrevistado pode conceder-lhe um tempo para responder a uma pesquisa sobre trabalho informal. Conversem com os demais grupos e. Discutam o que é trabalho informal. apontem propostas e sugestões para mudar a realidade encontrada. elaborem um pequeno relatório sobre o que descobriram. – Você já trabalhou com carteira assinada? Por quanto tempo? Em caso positivo: por que saiu desse emprego? – Qual o seu grau de instrução? Fez algum curso de qualif icação? 4. Recomendação: Para fazer a entrevista. na Bahia. Mário Bittencourt/BA Press/Futura Press Vendedores ambulantes oferecem bananas a motoristas em trecho urbano da BR-116. 2.indd 109 5/27/13 5:23 PM . pelo menos. e há setores que geram relativamente poucos empregos. dos indivíduos aptos ao trabalho. pois essas são exerci- das por prof issionais de áreas e prof issões distin- tas que aplicam seus conhecimentos e habilida- des em tarefas complexas. ou seja. sobre a juventude).indd 110 5/27/13 5:23 PM . e com frequ- ência as pessoas têm exercido funções não com- patíveis com sua formação. o mercado de trabalho é complexo e depende de muitos fatores: da necessidade e disponibilidade de mão de obra até a criação de postos de trabalho. Esse é o nome dado ao arranjo de instituições sociais. embora tenham sido contratados para uma atividade específica. em- bora isso não garanta bons salários. o jovem tem dif iculdade para se inserir no mercado de trabalho. Atualmente. Esses requisitos visam selecionar prof issionais qualif icados que estão disponíveis no mercado de trabalho. por não ter experiência (assunto que será retomado no capítulo 10. especialmente no primeiro emprego. não é suf iciente para tal. Ao lado. A proporção de estagiários tem aumentado. Atualmente. as respostas a essas questões expõem a indecisão dos jovens sobre qual prof issão escolher. Hoje. profissionais de áreas e formações distintas desempenham funções diversificadas. mas ainda faltam empregos efetivos. jurídicas e políticas que possibilita a compra e venda da força de trabalho. As empresas costumam exigir também uma formação mínima. o Ensino Mé- dio completo. O tra- balhador com mais anos de estudo tem mais chances de conseguir um emprego formal. O desen- volvimento econômico. em razão das mudanças ocorridas no âm- bito do trabalho. As saídas para um mercado de trabalho in- certo não se apresentam de imediato. da diversidade nas relações entre as empresas de diferentes níveis à posição do país no cenário econômico global. trabalhadores de empresa de reatores em Varginha. 110 • capítulo 4 Sociologia_vu_PNLD15_089a118_C04. Leo Drummond/Agência Nitro Com o aumento da concorrência entre os trabalhadores. no estado de Minas Gerais. O labirinto do mercado de trabalho Quantas vezes perguntaram a você: o que vai ser quando crescer? Para qual curso vai prestar vestibular? Que prof issão gostaria de exercer? Muitas vezes. econômicas. em foto de 2010. Os pos- tos de trabalho praticamente não correspondem mais a funções delimitadas. os salários tendem a ser rebaixa- dos e os menos preparados são excluídos. quem tem uma formação ou uma carreira única perde espaço no mercado de trabalho em favor daqueles com trajetó- rias prof issionais mais complexas. que inclui. ainda que represente condição necessária para a geração de empre- gos. dE batE Leia o trecho abaixo. Quando um quarto de milhão de mineiros estão de- sempregados.indd 111 5/27/13 5:23 PM . estiver empregado.. A tendência tem sido o trabalho executado por equipes multidisciplina- res e trabalhadores polivalentes. como programação. eram afinal jovens minei- ros e operários têxteis respeitáveis que encaravam o seu destino com a expressão perdida de um animal apanhado numa armadilha. banco comunitário e organizações em assentamentos agrá- rios são algumas das atividades da economia solidária.. como af irma o sociólogo francês Jean- -Louis Laville. como a do tra- balho solidário. na medida em que os cidadãos se mobilizam para construir sua independência econômica por meio da associação e de cooperação. surgem experiências alternativas. além de cobrarem e executarem metas de qualida- de e de produtividade f ixadas pela empresa. numa primeira fa- se. perseguidos por um sentimento de fracasso pessoal. que implica autonomia de tarefas. Daí o terrível sentimento Trabalho e mudanças sociais • 111 Sociologia_vu_PNLD15_089a118_C04. Feiras solidárias. Tinham sido trazidos ao mundo para trabalhar e. pois o objetivo é atender aos interesses coletivos. um dado estatístico. Depois. talvez um quarto. Era a atitude que prevalecia entre os desempregados [. preparação. tudo se passava como se nunca mais viessem a ter a mínima hipótese de encontrar trabalho. os laços sociais são valorizados. no Brasil. Lembro-me do choque e do espanto que senti quando convivi pela primeira vez com vagabundos e mendigos. Nestas condições. Alf Smith será irremediavelmente levado a sentir-se desonrado. que mora na casa em frente. faz parte da ordem das coisas que Alf Smith. naturalmente. que me haviam ensinado a considerar como parasitas desavergonhados. fique sem trabalho. Não passa de um indivíduo entre um quarto de milhão. Diante desse quadro.] As classes médias ainda falavam “desses preguiçosos que vivem de subsídios”. Simplesmente não compreen- diam o que lhes acontecera. [. Grupos de trabalhadores são responsáveis por etapas da produção. reciprocidade e solida- riedade em empreendimentos econômico-sociais e públicos. essas opi- niões infiltravam-se na própria classe operária.. Tomei consciência do problema do desemprego em 1928.. redes de solidariedade. mineiro a viver nas rue- las esconsas [da cidade inglesa] de Newcastle. escrito em 1937 pelo jornalista e escritor inglês George Orwell (1903-1950). Nele. a considerar-se um falhado. moeda social.]. e observe como se retrata o indivíduo desempregado nessa época. Enquanto Bert Jones. era inevitável sentirem-se... cooperativas populares. num modelo de produção mais voltado para a colaboração que para a con- Filipe Rocha/Arquivo da editora corrência. Era um desastre que acontecia a você como indivíduo e a culpa era sempre sua [. limpeza e inspeção de uma máquina ou célula de trabalho. dizendo que “todos es- ses homens podiam encontrar trabalho se quisessem”. desses seres. reunidos em grupos. e que somente a ação pública é capaz de estabelecer direitos e def inir normas de uma redistribuição da riqueza que reduza desigualdades. de repente. discutam e respondam às questões propostas. A polivalência de um trabalhador signif ica que ele opera várias máquinas ao mesmo tempo ou realiza múltiplas tarefas simultâneas. ao desco- brir que uma proporção razoável. e.]. A economia solidária contribui para a democratização da economia por sua dupla dimensão – a econômica e a política –. envol- vem a diversidade de gênero. O caminho para Wigan Pier. qualif icado e não qualif icado. Filipe Rocha/Arquivo da editora As mulheres representam mais da metade da população do Brasil. Embora as mulheres sempre tenham trabalhado. que era de 191 milhões de habitantes. pior do que a desmoralização causada pela ociosi- dade forçada. entre outros fatores. 2003. trabalhadores efetivos ou terceirizados. converse com seus colegas e responda: essa visão sobre o desempregado ainda é comum nos dias de hoje? Por quê? hh Desigualdades no mercado de trabalho: questões de gênero e étnico-raciais Você já percebeu que em algumas prof issões predominam mulheres e que certas atividades costumam f icar a cargo dos homens? Observe também como em determinados nichos do mercado de trabalho os afrodescenden- tes são maioria. e após a década de 1970. talvez um dos piores males do desemprego – muito pior do que qualquer privação. Lisboa: Antígona.3% das famílias têm mulheres como responsáveis. em 2010. p. No século XVIII. O que produz essa participação desigual dos segmentos so- ciais no mercado de trabalho? A desigualdade social não se dá somente entre empregados e desempre- gados. Agora. salários inferiores aos dos homens. trabalhadores experientes ou jovens buscando o primeiro emprego. devido à ne- cessidade de melhorar suas condições de vida. na média. por exemplo. com altos ou baixos salários. raças e etnias. dos serviços e o surgimento de novas tecnologias. embora elas recebam. principalmente as mais pobres. o trabalho de mulheres e crianças era uti- lizado nas fábricas na Europa. nascidos quando ele já era subsidiado pelo PAC [sigla em inglês para Comitê de Assistência Pública]. Outras formas de desigualdade. patrões e empre- gados. ORWELL.indd 112 5/27/13 5:23 PM . de impotência e de desespero. que permitiu o planejamento familiar. George. segundo o IBGE. no século XX a mão de obra feminina entrou maciçamente no mercado de trabalho: no período das duas guerras mundiais. historicamente construídas. 116-118. 1. De acordo com o Censo 2010. assim como o dos homens. para suprir a escassez de mão de obra. 112 • capítulo 4 Sociologia_vu_PNLD15_089a118_C04. e pouco melhor do que o lamentável estado de degenerescência físi- ca dos filhos de Alf Smith. propiciada pelo uso da pílula anticoncepcional. Como era visto o desempregado no contexto da crise capitalista europeia do iní- cio do século XX? Na sua opinião. Contribuíram também para inserir a mulher no mercado de trabalho os movimentos feministas e a chamada liberação feminina. essa imagem é condizente com a realidade ou trata-se de uma visão preconceituosa e estereotipada? 3. Dados da Organização Mundial do Trabalho (OIT) mostra- ram que em 2005 as mulheres já eram 45% da mão de obra no mundo e que essa proporção era maior nas famílias com rendas mais baixas. 37. com o cresci- mento da indústria. Quais são as constatações de Orwell ao deparar com a questão do desemprego na Grã-Bretanha da década de 1920? 2. mas o valor da remu- neração delas era inferior. trabalhador formal e informal. somente 45. Além disso. de acordo com dados da Pnad 2011. trabalham em casa (cuidando dos f ilhos e dos afazeres domésti- cos) e. Habilidades como coordenação motora f ina. na qual predomina a mão de obra feminina. Moacyr Lopes Junior/Folhapress Linha de produção de ovos de Páscoa em fábrica de chocolate. por exemplo. sendo raras entre diretorias de grandes empresas.indd 113 5/27/13 5:23 PM . muitas vezes.5% se Grosso do Sul. serviços comunitários. como se fossem características do gênero feminino. domésticos e pessoais. é maior o desemprego entre as mulheres do que entre os homens. Entre os homens que se encontravam Marido e esposa dividem afazeres domésticos em Itaporã. 89. paciência. A taxa. uma vez que tais habilidades podem ser desenvolvidas por qualquer um e foram adquiridas nas relações sociais his- tóricas entre homens e mulheres. Pesquisas apontam que 28% das mulheres trabalhadoras no país se con- centram em algumas áreas do setor de prestação de serviços: saúde. tanto para homens como para mulheres. elas compunham 59% da população brasileira desocupada. mas que esta- va à procura de um. boa observação. Cenas como essa ainda são pouco comuns nos lares brasileiros. Segundo a Pnad 2011. Isso é um mito. educa- ção. prof issionais responsáveis pelo aten- dimento ao público. As relações de gênero influenciam a inserção no mercado de trabalho. Foto de 2009. Foto de 2012. dedicação. ainda frequentam cursos com vistas a melhorar sua carreira e remuneração. pois trabalham fora. pelo senso comum. as mu- lheres ocupam cargos mais baixos em prof issões valorizadas. cuidadoras de crianças e de idosos. A mesma pesquisa indica que a taxa de desocupação en- tre mulheres era de 9. enquanto entre homens era de 5. A desigualdade na distribuição das tarefas do- mésticas ainda é enorme: dados da Pesquisa Na- cional por Amostra de Domicílios (Pnad) de 2011 mostram que. em São Paulo.3%. sem trabalho. Algumas prof is- sões são consideradas. era mais alta entre a população negra. ou seja. afetando a atividade da mulher. enfermeiras. en- quanto apenas 47% dos homens na mesma situa- ção o faziam. Wesylle Santana Silveira/Acervo do fotógrafo Além de desvantagem na remuneração.4% tam- bém se ocupavam dos afazeres domésticos. comércio. Trabalho e mudanças sociais • 113 Sociologia_vu_PNLD15_089a118_C04. responsabilizavam por atividades domésticas. De modo geral. elas enfrentam também o problema da dupla (ou tri- pla) jornada. entre as mulheres acima de 18 anos empregadas no mercado de trabalho.9%. Mato fora do mercado de trabalho. atenção e exercício simultâneo de várias tarefas são tradicionalmente atribuídas às mulheres. concentração. “tipicamente” femininas: trabalhadoras domésticas. Assim. Aproximadas. POCHMANN. a seguir. Desempregados do Brasil. o preconceito racial atuou como um requisito decisivo na contra- tação. a discriminação social foi reforçada. Pesquisas indicam que. demarcaram uma herança histórica de desigualdades. a entrada dos jovens no mercado de trabalho costuma ser precoce. São Paulo: Boitempo. Assim.indd 114 5/27/13 5:23 PM . Outras distinções e desequilíbrios no mercado de trabalho se baseiam em fatores étnico-raciais. 64-65. entre 2007 e 2010.7%). aumentou 68%. depois de muito esforço. A população negra está mais sujeita ao desemprego. Nas classes de maior rendimento. 114 • capítulo 4 Sociologia_vu_PNLD15_089a118_C04. indicam um maior número de desempregados negros. A forma velada de racismo dif iculta seu combate e impede a meta de participação igualitária desse segmento no mercado de trabalho. quando estão empregados. em geral. e também são maioria no setor informal. os negros precisam permanecer mais tempo trabalhando devido aos entraves para obter o direito de aposentadoria. Mecanismos de discriminação étnico-racial no país se revelam na dinâmica do mercado de trabalho.5%) é pouco maior que a verificada para a população negra nessa faixa (46. quando comparada com a dos não negros no trabalho principal. enquanto o desemprego dos negros de média e alta renda explodiu. ocorreu justamente o contrário. após a abolição. provavelmente porque. em um contexto de escassez de empre- gos especializados. De acordo com o com- portamento do desemprego. A temática das desigual- dades é trabalhada com mais detalhes no capítulo 1. entre 1992 e 2002. uma vez que estes tenderam a estar associados. embora seja veiculada uma imagem do Brasil como uma democracia racial. muitas vezes infor- mal. da taxa de desemprego da população branca de baixa renda (49. Riqueza e miséria do trabalho no Brasil. p.2%. In: ANTUNES. permanece mais tempo em busca de trabalho e costuma ocupar postos de menor prestígio e remuneração e na base da hierarquia das empresas. ainda mais sofisticadas. Em razão do trabalho precário exercido. Leia. Marcio. Pesquisa do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioe- conômicos (Dieese) realizada em 2010 mostra que a população negra brasi- leira tem uma trajetória desfavorável para se manter ou ascender no empre- go. enquan- to o dos brancos dessa classe de rendimento cresceu 46. a desigualdade entre as raças na variação do desemprego foi ampliada. Ricardo (Org. a discriminação racial passou a excluir de ocupações mais nobres aque- les que. A escravização de africanos e descendentes até o f inal do século XIX e as dif iculdades de integração social e econômica im- postas aos libertos. 2006. dif icultando a conclusão dos estudos de nível básico e o ingresso no ensino superior ou em cursos de qualif icação. A variação.). A taxa de desemprego dos negros pobres cresceu menos. o desemprego dos negros de renda alta. as taxas de desemprego por cor. nas principais Regiões Metropolitanas. Dessa forma. Em função da pobreza de parte dessas famílias. às ocupações mais precárias. ou seja. entre 1992 e 2002. haviam alcançado maior renda e escolaridade. os afrodescendentes ganham menos que os tra- balhadores brancos. uma análise do economista Marcio Pochmann (1962-) sobre a discriminação no mercado de trabalho brasileiro. pode-se observar que a discriminação racial alcançou novas formas de manifestação. mesmo quando têm idêntica formação. Associou-se a cor da pele à condição de escravos e a determi- nadas funções. Portanto. Com- pare as seguintes def inições de “trabalho”. cada vez mais políticas públi- cas de cotas e outras ações af irmativas que visam ampliar o acesso a bens ou serviços essenciais para a parcela menos favorecida da população. Sísifo é representado cumprindo sua sina: empurrar inutilmente uma pedra que sempre voltará a rolar montanha abaixo. A criação de mais vagas em universidades públicas e os programas públicos de f inanciamento da educação são formas capazes de compensar. soltá-la de volta para baixo. o trabalho assalariado objetivado é o trabalho da época capitalista. A noção de trabalho em Karl Marx. você pôde conhecer a abordagem sociológica para esse conceito. Ao longo do capítulo 4. O trabalho na história do pensamento ocidental. Sísifo foi condenado. dadas por três diferentes disciplinas: Sociologia/Ciências Sociais O trabalho é uma relação social produtiva submetida às exigências técnicas e mate- riais da produção. Trabalho e mudanças sociais • 115 Sociologia_vu_PNLD15_089a118_C04. In: MERCURE. embora amenizem o problema. SPURK. con- centram-se nas consequências e não na causa do problema. Arte. por exemplo. 171. • Com base nos temas abordados no capítulo. e depois res- The Art Archive/Musée Archéologique Naples/Gianni Dagli Orti/The Picture Desk/Agência France-Presse ponda à questão. responda: de que modo o mito de Sísifo manifesta-se na vida cotidiana dos traba- lhadores? Neste vaso grego datado do século IV a. repetindo o processo ininterruptamente.] Você certamente já ouviu falar muito em “trabalho”. as dif iculdades de acesso da população em geral à educação de qualidade. Jan (Org. Jan. promoven- do uma participação mais efetiva desses segmentos nas esferas de poder da sociedade. Fonte: SPURK. p. Essas políticas de inserção. em parte. sucessivas vezes.). [As disciplinas tra- balhadas em conjunto são Língua Portuguesa. em especial o conceito de trabalho alienado. Sociologia. A segmentação do mercado de trabalho e as diversas formas de discrimi- nação estão associadas à má distribuição da renda e à falta de políticas sociais que valorizem o trabalhador.. Filosof ia e Física. a em- purrar uma pedra para o topo de uma montanha e. porém. Com isso. por exemplo. sobre o mito de Sísifo. Petrópolis: Vozes. Ela não é a única. Daniel. diálogos in tErdisciplinar E s Produção de um conteúdo artístico-lúdico com base na comparação de conceitos li- gados à palavra “trabalho” na Sociologia. São Paulo: Abril. Existem. Para Marx. lá do alto. por toda eternidade. 2005. Adaptado de: GUIA visual da mitologia no mundo. deus da morte. paus a para rEflEtir Leia o trecho abaixo. tornou-se um símbolo do trabalho humano feito em vão. Por ter enganado Tânatos.C. na Filosof ia e na Física. o trabalho deve ser explicado no âmbito das especificidades de uma dada sociedade.indd 115 5/27/13 5:23 PM . 2010. 1975. reestruturação produtiva. Descreva as principais características do fordismo e do taylorismo e iden- tifique elementos deles na organização do trabalho na indústria brasileira. 4. In: Textos escolhidos. Pode-se dizer que as relações de trabalho permanecem as mesmas ao longo da História? Justif ique sua resposta utilizando exemplos. por meio da qual homens e mulheres se apropriam da natureza em busca da sobrevivência e interagem comunicativamente entre si. ensaiar e apresentar uma cena curta (esquete) de teatro. 3. São Paulo: Moderna. Ricardo Helou. c) compor uma música e sua letra. conceitos-chave: Trabalho. informalidade. escrever o roteiro e gravar um programa de rádio. Filosof ia Para o filósofo alemão Jürgen Habermas. força de trabalho. financeirização. mais-valia. para que isso ocorra. escolha um dos projetos a seguir para realizar indivi- dualmente ou em grupo: a) escrever um poema. organizem uma sessão para apresentá-los aos colegas de sala ou aos demais alunos da escola. 116 • capítulo 4 Sociologia_vu_PNLD15_089a118_C04. VILLAS BÔAS. mundo do trabalho. O seu projeto deve estabelecer uma comparação ou relação entre as três definições apresentadas anteriormente. Caso tenha outra ideia de projeto artístico-lúdico para trabalhar o tema. 2010. Gualter José. Quando todos os projetos estiverem prontos. i) tirar fotograf ias. Técnica e ciência enquanto ideologia. Explique as razões do crescimento do desemprego. desenho. Jürgen. Analise a permanência de antigas formas de discriminação e desigual- dades no trabalho. converse com o professor sobre a possibilidade de realizá-la. flexibilização. g) fazer uma obra de artes visuais (pintura. precarização do trabalho. Fonte: DOCA. d) escrever. f) elaborar. mercado de trabalho. Indique algumas implicações dos sistemas flexíveis de produção para o mercado de trabalho. nas últimas décadas. 310-311. cadeia produtiva. r E v i s a r E sistEm atiza r 1. emprego. no mundo. Física. são necessários uma força e um deslocamento adequados. neoliberalismo. sindicato. BISCUOLA. trabalho alienado. 5. 2. e) fazer um vídeo curta-metragem de um minuto. XLVIII. São Paulo: Abril Cultural. instalação). taylorismo. selecioná-las e realizar uma exposição. Newton. charge ou tira. Utilizando sua criatividade. toyotismo.indd 116 5/27/13 5:23 PM . v. fordismo. desemprego. b) escrever uma paródia de uma música famosa. trabalho solidário. o trabalho é uma ação racional com respei- to a fins. p. capital. Fonte: HABERMAS. h) elaborar uma história em quadrinhos. (Os Pensadores) Física Realizar trabalho em Física implica a transferência de energia de um sistema para outro e. relações de trabalho. org. da Unicamp. Disponível em: <www. São Paulo: Fapesp/Boitempo Editorial. são comentados alguns filmes que tratam do trabalho.br>. além de normas e convenções do trabalho e publicações. Ricardo (Org. Lorena.br/portal>. HOLZMANN. Boitempo). 1989. cena do filme Eles não usam Filme clássico do cinema mudo que se tornou uma referência também por retratar a sociedade black-tie (1981).). Valendo-se do cinema como meio de comunicação. Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea). ed. As Ciências Sociais no cinema Coisas belas e sujas. As Ciências Sociais na rede Ministério do Trabalho e do Emprego. Organização Internacional do Trabalho (OIT). Disponível em: <www. Fernanda Montenegro e que deixou dezenas de milhares de pessoas sem trabalho.br>. 2013. em que prevalecia o sistema fordista de produção. Riqueza e miséria do trabalho no Brasil. Leon Hirszman. Disponível em: <www. direção de Michael Moore. Giovanni. Acompanha breve glossário. emprego. o acesso das mulheres.mte. 2012.oitbrasil. Adeus ao trabalho? Ensaio sobre as metamorfoses e a centralidade do mundo do trabalho. 2. Tendo como tema principal o trabalho e o sindicalismo no Brasil atual.org. 2002. Acesso em: 28 abr.gov. Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). 2012. 2000. direção de Charles Chaplin. em Londres. o filme discute a situação daqueles que lá trabalham ilegalmente. Porto Alegre: Tomo Editorial.br>. Roger & eu.gov. Campinas: Ed. CARDOSO. Reprodução/Editora Boitempo proteção social. Apresenta dados sobre o mundo do trabalho no Brasil.br>. trabalho infantil. Adalberto Moreira. Capa do livro Riqueza e miséria CACCIAMALI. Instituto Observatório Social. emprego e renda. trabalho escravo e forçado. O que acontece com o trabalho? São Paulo: Senac-SP. os autores buscam compreender as transições por que tem passado o trabalho urbano.indd 117 5/27/13 5:23 PM . Disponível em: <www. 2013. _______. 2006. seus conflitos e mudanças. Acesso em: 28 abr. TATEI. Acesso em: 28 abr. São Paulo: Cortez. 1981. 2006. Trabalho e mudanças sociais • 117 Sociologia_vu_PNLD15_089a118_C04. do mercado de trabalho e da organização dos trabalhadores no Brasil. Eles não usam black-tie.). Riqueza e miséria do trabalho no Brasil. DOWBOR. estatísticas e notícias sobre trabalho. Leitura com discussões atuais sobre as macrotendências de mudanças no trabalho. gênero e raça. Antunes (ed. Estados Unidos. Rio de Janeiro: Ed. Fábio. Ricardo (Org. Inglaterra. da FGV. Trabalhar.observatoriosocial. Portal do Ministério disponibiliza dados. o filme retrata a angústia pessoal e de cunho político do trabalhador em participar do movimento grevista no ABC paulista. 2013. Na conjuntura do final da década de 1970. Documentário que relata o fechamento de onze fábricas de automóveis na cidade de Flint (EUA). dirigido por industrial do início do século XX. São Paulo: LTr.ibge. do trabalho no Brasil. b i b liografia ALVES. dE scubra m ais As Ciências Sociais na biblioteca ANTUNES. Acesso em: 28 abr. direção de Stephen Frears.gov. e tomando por base pesquisas recentes. O site traz informações atualizadas sobre temas como diálogo social. São Paulo: Boitempo. Estados Unidos. 2000. São Paulo: Boitempo. 1936. de Ricardo pretos e pardos no ensino superior e a persistência da desigualdade. Brasil. ANTUNES. O novo (e precário) mundo do trabalho: reestruturação produtiva e crise do sindicalismo. direção de Leon Hirszman. Ladislau. Disponível em: <www. Leon Hirszman Produções/Embrafilme Com base na história de um médico nigeriano e uma jovem turca. Maria Cristina. Acesso em: 28 abr. 2013. verbo transitivo: destinos profissionais dos deserdados da indústria automobilística. O trabalho no cinema (e uma socióloga na plateia). Traz informações sobre o panorama do trabalho e dos salários. A transposição do umbral da universidade. 1995. Gianfrancesco Guarnieri em Tempos modernos. Informações atualizadas e resultados de pesquisas sobre a realidade socioeconômica brasileira.ipea. 2013. 2002. Lorena (Org. HOLZMANN. Mercado de trabalho. INSTITUTO Observatório Social. 1996. André. HORN. A década dos mitos: o novo modelo econômico e a crise do trabalho no Brasil. São Paulo: Loyola. Sadi. ________. FRANÇA FILHO. Rio de Ja- neiro: Record. Os Paralamas do Sucesso. Riqueza e miséria do trabalho no Brasil. Rio de Janeiro: DP&A. O caminho para Wigan Pier [1937]. 59-76. 2011. 2005.ibge. Capa do livro Capitalismo RIFKIN. LAFARGUE. 2.indd 118 5/27/13 5:23 PM . setembro de 1987. Dicionário de trabalho e Reprodução/Editora Brasiliense tecnologia. 2011. O capital. Lorena (Org. 2002.gov. SPURK. (Edusp). 1982. O fim dos empregos. ORWELL. OBSERVATÓRIO Social em Revista. Novos Estudos Cebrap. p. HABERMAS. A corrosão do caráter: consequências pessoais do trabalho no novo capitalismo. VALLE. desorganizado. 245-250. Dicionário de Reprodução/Edusp trabalho e tecnologia.org. uma pesquisa sobre as origens da mudança cultural. Paulo Sérgio (Compositores).). Petrópolis: Vozes. 47. da UFRGS. Porto Alegre: Ed. In: CATTANI. 1999. 2004. Porto Alegre: Ed. 1990. Sandro Ruduit. Condição pós-moderna. empregos precários?: uma comparação Brasil. A nova intransparência. Kurumi (Org. In: O direito à preguiça e outros textos. Paul. 137-140.com. O direito à preguiça. In: ANTUNES. 1994. Márcio. A contribuição das abordagens institucionais-normativas nos estudos do trabalho. Paulo Sérgio. São Paulo: Cosac Naify. Acesso em: 14 set. 2. Richard.1. 2004. 2012. Antonio. 3.). CASTELLS. França.ed.ed. São Paulo: Brasiliense.). p. KREIN. Rio de Janeiro: Forense Universitária. DOWBOR. GORZ. A ética protestante e o espírito do capitalismo. p. Lisboa: Antígona. 2006. 2011. Terceirização. GARCIA.).).br>. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira. Maria Inês. n. Lorena (Orgs. Karl.br/os-paralamas-do-sucesso/47931>. mar. 2011. MARX. 18. _____. George. da UFRGS. LAVILLE. p. HIRATA. CLASTRES. Jean-Louis. LAZZARATO. E. v. 1993. In: CATTANI. A sociedade em rede. OFFE. Antonio David. Trabalho imaterial: formas de vida e produção de subjetividade. José Dari. DIEESE – Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos. 13-60. Acesso em: 20 ago. Dicionário de traba- Helena Hirata e Kurumi Sugita lho e tecnologia. Ricardo (Org. Adeus ao proletariado: para além do socialismo. CARMO. POCHMANN. São Paulo: Moderna. David. Marco Aurélio. In: CATTANI. 423-426.3. Jürgen. 2004. a crise do Estado de Bem-Estar Social e o esgotamento das ener- gias utópicas. A economia solidária: uma abordagem internacional. 2011. LAVILLE. 1999. ano 2. Campinas: Ed. NEGRI. 2001.ed. DAL ROSSO. 2004. 2. Dis- ponível em: <http://letras. Jeremy. n. São Paulo: Mandacaru.observatoriosocial. 1998. São Paulo: Annablume. Nadya Araújo. In: CATTANI. Antonio David. BIB – Revista Brasileira de Informação Bibliográfica em Ciências Sociais. Manuel. Anuário dos trabalhadores 2010-2011. sociedade e cultura.terra.).ed. 2001. CATTANI. p. 2. n. Brasiliense). 2012. Acesso em: 20 ago. São Paulo: Edusp. Metamorfoses do trabalho: crítica da razão econômica. Porto Alegre: Zouk. Capa do livro Trabalho flexível. GUIMARÃES. HOLZMANN. A mulher no mercado de trabalho. 118 • capítulo 4 Sociologia_vu_PNLD15_089a118_C04. 2006. Dicionário de trabalho e tecnologia. Dicionário de trabalho e tecnologia. Desempregados do Brasil. Maurizio. 179-182. RAMALHO. WEBER. 5. Rio de Janeiro: Jorge Zahar. Trabalho flexível. História e ética do trabalho no Brasil. Jean-Louis. 1995. Usos de si e testemunhos de trabalhadores. Porto Alegre: Zouk. por Nadya Araújo Guimarães. SANTANA. p. Marcos. São Paulo: Letras & Letras. de Claus Offe ROSA. Capitão de indústria. A era da informação: economia. A sociedade contra o Estado. (ed. 2000. Economia solidária. HOLZMANN. HOLZMANN. Disponível em: <www. v. 1º. Disponível em: <www. SUGITA. Porto Ale- gre: Editora da UFRGS. SENNETT. Pierre.ed. Genauto. O aprofundamento da flexibilização das relações de trabalho no Brasil nos anos 90. São Paulo: Pioneira. NORONHA. Mais trabalho! A intensificação do labor na sociedade contemporânea. 2012. HOLZMANN. Antonio.).sem. 3 v. 2004. Capitalismo desorganizado. Antonio. MERCURE. 2006. 2012.br>. Porto Alegre: Ed. Jan (Org. São Paulo: Contexto. Max. Porto Alegre: Zouk. Lorena (Org. da UFRGS. Claus. 103-124. São Paulo: Boitempo. organizado tação de Mestrado). Antonio David. ________. 2003. A economia solidária: uma abordagem internacional. Ladislau. Helena. HARVEY. Sociologia do trabalho. 1975. Carlos.ed. 2003. O trabalho na história do pensamento ocidental. VALLE. da Unicamp. 5-94. O que acontece com o trabalho? São Paulo: Senac-SP. 2009. Neoliberalismo e trabalho. 2.). 11. São Paulo.ed. p. Rio de Janeiro. José Ricardo. São Paulo: Paz e Terra. 2001. Lorena (Org. 1967. p. Japão. IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. São Paulo: Boitempo. São Paulo: Makron Books. ______. (Disser- empregos precários?. Daniel. aprofundar as diferenças sociais. um aprendizado social que compreende a produção de bens materiais e simbólicos. alternativas ou contra-hegemônicas. e veremos que a identidade cultural envolve a experiência e a consciên- cia de pertencer a um coletivo. e os grupos sociais minoritários produzem culturas pró- prias. Ao analisar o novo sistema tecnoló- gico de comunicação da sociedade global. ao mesmo tempo. Desde que se firmou a sociedade de massas. Trataremos sobre a diversidade cultural na sociedade brasileira. nossos hábitos culturais também passaram a ser influenciados pelos meios de comunicação de massa. sinal de que a cultura é um fenômeno heterogêneo.indd 119 5/27/13 5:24 PM . Salmo Dansa/Arquivo da editora Capítulo 5 A cultura e suas transformações EstudarEmos nEstE capítulo: a cultura. aprenderemos como ele pode aproximar grupos geograficamente distan- tes e. 119 Sociologia_vu_PNLD15_119a148_C05. Todos produzem cultura. segundo alguns historiadores e sociólogos. lá. Leila (Org. instituições. de uma Revolução Tecnológica que ocorreu na metade do século XX. mas é realidade virtual. na expressão de Castells. Essas grandes mudanças resultaram. A realidade virtual é a ge- ração de um mundo artif icial com base na relação ser humano-máquina. possibilitando SANTOS. empresas e mão de obra qualif icada dá ensejo à era da informática. a palavra tem sido diz ela. que não se encontra no mapa. Os novos sistemas de comunicação transformam o espaço e o tem- po. porque avatara. de 32 anos. cuja meta é envolver todos os sentidos do usuário. assim denominada pelo sociólogo espanhol Manuel Castells (1942-). largamente utilizada nos meios de co. sua aparência e seu sexo. Considerações sobre a realidade virtual. depois de ter se municação e na informática para de- registrado como avatar ou residente. optando entre os 1 100 rostos possíveis. As alterações em ritmo acelerado nos meios de comunicação contribuí- ram para transformar o nosso estilo de vida. consumirmos. Que cul- da e uivo /Arq Filip e Roch a turas emergirão dessas realidades vividas virtualmente? O mundo de Mariko Ito. como o circuito integrado. reintegrando-os em redes funcionais na cultura moderna. do signar personagens que são criadas virtualmente à semelhança de seu outro lado. que significa ‘descida do céu à é uma cidade virtual fabricada pela Fujitsu e lançada na rede Nifty-Serve. produzirmos. moradora de Tóquio. isto é. em 1990. 2002. o modo de nos relacionarmos. Lá. porque. de vivermos e até de morrermos. Atualmente. A Sociologia no horizonte do século XXI. uma reen- criador (o usuário desses programas e carnação. 20th Century Fox/Divulgação Na foto ao lado.). que destina algum tempo do seu dia para ditora vivenciar outra identidade em um cenário de um mundo paralelo. Terra’ em sânscrito. usuária de Habitat. diana. Mariko Ito vai à Habitat ciberespacial. cena do filme Avatar. antiga língua in. Acompanhemos a narra- tiva sobre uma mulher. 113-114. por uma ou duas horas todos os dias. 2009) A concentração de conhecimentos tecnológicos.indd 120 5/27/13 5:24 PM . no Japão. jogos de computador). hh avatar: é uma palavra derivada de essa cidade japonesa de dez mil habitantes. num mundo ciberespacial. Mariko torna-se um avatar. Mariko pode escolher sua roupa. Atravessando o espelho da tela e entrando. p. Laymert. esta revolução surgiu a partir de inovações na microeletrônica. sua “entrada” no mundo virtual. In: FERREIRA. ou uma metamorfose. “é fantástico. dirigido por James Cameron (Estados Unidos. posso ser outra pessoa”. São Paulo: Boitempo. o microproces- sador e o microcomputador. Originada nos Estados Unidos e centrada na informação. Parece ficção. Comunicação e cultura Se você é um usuário da internet ou de jogos eletrônicos. 120 • capítulo 5 Sociologia_vu_PNLD15_119a148_C05. saiba que par- ticipa de uma nova cultura – a “cultura virtual do real”. A ligação entre os mercados do mundo em tempo real também só foi possível com as tecnologias de informação. pagar contas bancárias. e pode ser responsável por crises e mudanças com desdobramentos globais imediatos. comunicar-se com familiares e amigos a distância. pagar con- Alex Silva/Agência Estado tas. entre outras facilidades. Em toda relação que os seres humanos estabelecem com o seu en- torno. Quem dispõe de te- lefone ou internet já não precisa mais se deslocar f isicamente para falar com pessoas. eles criam uma cultura plena de signif icados que Atualmente. passaram a ser realizadas diretamente entre o cliente e a máquina. Retirar e depositar dinheiro. Os sistemas de comunicação modif icam nossa vida. porque quase todos os demais serviços podem ser realizados por meio de máquinas eletrônicas. Foto de 2011. financeira utilizando o celular. verif icar saldos: todas essas atividades. Você já entrou em uma agência bancária e observou seu movimento? A pessoa se despoja de seus pertences metálicos para passar pela porta girató- ria. produzem meios para se comunicar. A cultura e suas transformações • 121 Sociologia_vu_PNLD15_119a148_C05.uma fatura bancária ou consultar a movimentação nislaw Malinowski (1884-1942). a partir dos anos 1990. Alberto Pomares/E+/Getty Images As tecnologias da informação e da comunicação contemporâneas permitem conciliar atividades de lazer e de trabalho. As sociedades humanas se produzem e reproduzem em um ambiente simbólico por meio do processo de socialização. em uma roda de batuque compõem músicas. dos números. comprar ou vender produtos. Transações antes feitas entre duas ou mais pessoas agora são mediadas por máquinas. com os me- tais elaboram utensílios domésticos. modif icando-o – das árvores fazem móveis. O sistema f inanceiro internacional habi- ta o ciberespaço – aquele espaço virtual em que se dá a comunicação entre indivíduos e grupos sem a presença física –. etc. co- mo é o caso da linguagem. retira uma senha que lhe dá acesso a um atendente apenas se pretender abrir uma conta-corrente ou resolver um problema específ ico. Mesmo que uma pes- soa não utilize os meios de comunicação virtuais. Data desconhecida. Isso signif ica que in- ternalizamos sistemas de signos produzidos culturalmente.indd 121 5/27/13 5:24 PM . resolver pendências como pagamentos em tempo real. seu cotidiano está ligado de alguma forma a eles.. co- mo estudamos no capítulo 3 deste livro. registrar momentos de lazer. é possível efetuar o pagamento de dá sentido à sua existência. depois. da escrita. ajustando-nos aos padrões de comportamento vigentes. por exemplo –. af irma o antropólogo polonês Bro. à qual se somam as regras estabelecidas. os f ilmes a que assistimos.. crença e expressão emocional. por ser o cuidado com a educação. dade e a beleza. ao cuidado com os deuses. o modo como trabalhamos. CHAUI. 122 • capítulo 5 Sociologia_vu_PNLD15_119a148_C05. culto [na antiga Grécia]. donde. ainda. o modo de nos relacionarmos com fatos como nascimento. Em latim. mas não existe diferença em termos de importância entre a chamada “alta cultura” e as expressões culturais populares. ligando-se à me- mória e. Na Sociologia e na Antro- pologia. a primeira ideia que nos vem à mente é algo relacionado ao teatro. o cinema. as músicas que ouvi- mos.. as lendas. quando falamos em cultura. a internet.] era o cuidado com a terra para torná-la habitável e agradável aos homens. era também o cuidado com os deuses. etc. As conversas cotidianas. os animais e tudo que se relacionava com a terra. o rádio. como a televisão. comportamentos e habilidades adquiridas no con- vívio dos membros de uma sociedade. p. Cultura. Mas também são considerados como elemen- tos culturais de grande relevância as festas tradicionais. São Paulo: Brasiliense. à pintura. Na foto acima. A Cultura [. às tradições e aos hábitos de uma dada coletividade. crescimento e morte são cultu- ra. Em toda relação que os seres humanos estabelecem com o seu entorno. pois am- bas (cada uma a seu modo) são criadas e cultivadas pela participação efetiva do ser humano na sociedade. modificando-o. o conceito de cultura também está relacionado aos conhecimentos. à literatura. agricultura. era usada para referir-se ao cuida- do com as crianças e sua educação. às ideias e às crenças de uma sociedade e/ou das diversas sociedades. não se resume às manifestações artísticas. à música. Conformismo e resistência: aspectos da cultura popular no Brasil. Mas.indd 122 5/27/13 5:24 PM . donde. Vinda do verbo latino colere. o que podemos entender por cultura? O que é cultura? Geralmente. O termo cultura foi aplicado em português por bastante tempo como si- nônimo de erudição. Seu signif icado abrange ainda os meios de comu- nicação de massa. enf im. referia-se ao cultivo do Os hábitos alimentares também são manifestações culturais. os ancestrais e seus monumentos. nos vestimos. O vo- cábulo estendia-se. prato muito espírito. nos divertimos. inseparáveis da Natureza e do Sagrado. A maneira de prepararmos as refeições e lidarmos com os alimentos. o relacionamento com aquilo que nos rodeia: tudo que pode ser aprendido e ensinado faz parte da cultura. a mídia impressa. af inal. tudo que pode ser aprendido e ensinado faz parte da cultura. as coisas sobre as quais falamos. cultura animi era o espírito cultivado para a ver- apreciado da culinária brasileira.1986. feijoada completa. eles criam uma cultura plena de significados que dá sentido à sua existência. Marilena. donde. Foi pensando dessa forma que o antropólogo britânico Edward Tylor (1832-1917) concebeu cultura como a totalidade de conhecimento. o folclore e os costumes de um povo. à escul- tura e a outras áreas das artes. para o desenvolvimento de suas qualidades e faculdades naturais. puericultura. portanto. Cultura era o cultivo e o cuidado Mauro holanda/Arquivo da editora com as plantas. Por extensão. 11. os hábitos. Os três principais axiomas sobre esta esfera da vida em sociedade. A cultura e suas transformações • 123 Sociologia_vu_PNLD15_119a148_C05. numa linha de pensamento relativista (há relações entre os da Antropologia Cultural. presentes em tradições. evolui.a cultura designa o modo de vida das diversas comunidades. um comportamento aprendido. Acompanhemos as interpretações que alguns cientistas sociais fa- zem do fenômeno cultural que. ao contrário. não são determinados antes do nasci- mento. entende a cultura como resultado das experiências comuns das pessoas (herdadas ou partilhadas). O sociólogo britânico Anthony Giddens (1938-) vê. Estruturalismo Para o antropólogo francês Claude Lévi-Strauss (1908-2009): (as culturas se . Os nossos gostos. por ser heterogêneo. misturam-se na cultura os elementos materiais e os ideológicos com o fenômenos) declínio das crenças mágicas.a cultura é uma forma universal da linguagem pela qual os seres humanos buscam diferenciar-se da estruturam por natureza e apresenta variações baseadas em pares de oposições (discrição e excesso. Cultura: algumas leituras teóricas Metodologia Representantes Funcionalismo Para o antropólogo polonês Bronislaw Malinowski (1884-1942) e para o antropólogo inglês (as instituições sociais Radcliffe-Brown (1881-1955): são vistas pela função . como os objetos produzidos pelo ser humano. delimitam a cultura) Tendências recentes Para o antropólogo estadunidense Alfred Kroeber (1876-1960). são: • A cultura é uma característica do ser humano como ser social. como um patrimô- nio social. também a cultura é estudada por diferentes visões e meto- dologias.a cultura de um povo ganha sentido na rede de relações sociais. sociedade) Para o antropólogo estadunidense Ralph Linton (1893-1953): . desde as necessidades primárias às para estabilizar a emocionais e aquelas das atividades econômicas e políticas. as necessidades humanas são que desempenham universais e toda cultura cria instituições para atendê-las. • A cultura é adquirida. O historiador britânico Edward Thompson (1924-1943). e aspectos tangíveis (objetivos). na cultura. de sair com os amigos e até de consumir certos tipos de alimentos em vez de outros. assim. durável. o qual se dá pela comunicação e pela ação recíproca entre os indivíduos e os grupos sociais. por exemplo. suas técnicas e tecnologias. Eles são construídos cultural- mente no contínuo processo de interação social. etc. moradia. teve muitas tentativas de def inições. a interdependência de aspectos intangíveis (subjetivos).a cultura é um fenômeno universal e diferencia os grupos.sociedade e cultura são partes interdependentes do sistema social. resultam das relações que estabelecemos com os ou- tros indivíduos e com o meio em que vivemos. • Por meio da cultura se estabelece uma parte da relação ser humano-socie- dade-mundo. Alguns entendimentos são fundamentais para o estudo da cultura. cru e cozido. ideias e formas institucionais. mas em contínua transformação.). como ideias. de f ilmes de ação. (as estruturas sociais . Estrutural. aprendemos a gostar de rock. ao fazer a crítica ao materialismo histórico radical. padrões implícitos) etc. para as Ciên- cias Sociais. sistemas de valores. Assim como outras dimensões da vida social são interpretadas de dife- rentes maneiras. trabalho. crenças e valores. Assim.indd 123 5/27/13 5:24 PM . Para os sociólogos estadunidenses Talcott Parsons (1902-1979) e Robert Merton (1910-2003): -funcionalismo . ele argumenta que a cultura progride. cultural e f inanceiro exercida por uma nação sobre outra. pois suas dimensões objetiva e subjetiva não se contrapõem. por outro lado. polido e à ordem social (donde o surgimento da expressão Sociedade Civil). do lícito e do ilícito. Nesse sentido. nem sempre se com- portaram da maneira como o fazem hoje: alguns atributos que considera- mos típicos do indivíduo “civilizado” resultaram de lentas transformações. Este. outros os distinguem. o saber. ao contrário. O fa- zer. Civilização possuía um sentido mais amplo que civil. o sociólogo Norbert Elias defende que. Então. Alguns cientistas sociais def inem os termos civilização e cultura como si- nônimos. para quem civili- zação é a consciência que as sociedades ocidentais têm em relação a si pró- prias. ou a este ou àquele segmento social. do justo e do injusto. Conformismo e resistência: aspectos da cultura popular no Brasil. não se aplica a um grupo. p. o indivíduo pode se adaptar. a tecno- logia e o conhecimento científ ico. Envolto nessa relação com sua cultura. ou seja. Cultura. o ponto final de uma situação histórica. a noção de progresso. elas se complementam e estão relacionadas numa organicidade vital. produzem cultura. O historiador inglês Eric Hobsbawm (1917-2012) concebe como socie- dade “civilizada” aquela que determina regras e comportamentos de contro- le para seus membros e para os de outras sociedades. Filipe Rocha/Arquivo da editora A cultura é um nível particular da realidade social muito importante. Significava.indd 124 5/27/13 5:24 PM . o ser humano se humaniza porque necessita da família e das relações sociais típicas do seu grupo para se constituir. 11-12. por meio das quais suas condutas. os ocidentais. comportamentos e costumes foram sendo condicionados socialmente. o qual nada mais era do que a supremacia de caráter territorial. mais do que pela “natureza humana”. Desse tipo de prática pode-se citar o imperialismo do século XIX e início do XX. um estágio ou uma etapa do desenvolvi- mento histórico-social.] o termo Cultura articula-se.. Incompleto e dependente. com o termo Civilização. portanto. até no aspecto biológico. de seu con- texto cultural e social. o conviver dos seres humanos produzem padrões particulares de estar na sociedade. seu aca- bamento ou perfeição. um termo que designa as alterações especif icamente ocidentais em dimensões de relacionamento e criatividade. portanto. e. referia- -se ao civil como homem educado. civilização e cultura coincidem? Aliás. assim. CHAUI. mas está em nível global. é a cultura de uma sociedade que def ine os parâmetros do bem e do mal. o ser humano se def ine por meio da relação com o outro – ou seja. derivando-se do latim cives e civitas.. ora positiva ora negati- vamente. São Paulo: Brasiliense. Marilena. dada a amplitude do campo da experiência existencial. É o caso de Norbert Elias. 1986. como os costumes. ele se faz humano e se torna membro da hu- manidade. Nessa época. pressupondo. Ele depende. o que signif ica exatamente civilização? A partir do século XVIII. por exemplo. Entretanto. [. por um lado. os europeus def iniam a si mesmos 124 • capítulo 5 Sociologia_vu_PNLD15_119a148_C05. hh Cultura e civilização Em seu livro O processo civilizador. ao nascer. se sujeitar ou se rebe- lar. Ainda segundo Elias. KIPLING. p. Tendo em vista que o ser humano se coloca no mundo. da década de 1910. São Paulo: Duas Cidades. Tal atitude é denominada etnocentrismo.indd 125 5/27/13 5:24 PM . José. Despertar a alma da Ásia e África para as ideias morais da Europa. France/Archives Charmet/the Bridgeman Art Library/Keystone Na foto ao lado. todos aqueles con- siderados diferentes deles. 1988. Cultura: um conceito antropológico. Joseph apud COMBLAIN. 240. Nação e nacionalismo. os asiáticos e os latino-americanos. em oposição aos povos considerados por eles “selvagens” – os africanos. 75. A cultura e suas transformações • 125 Sociologia_vu_PNLD15_119a148_C05. é responsável em seus casos extremos pela ocorrência de numerosos conflitos sociais. Esse compor- tamento explica a sensação de estranhamento causada por hábitos e valores diferentes daqueles com os quais estamos acostumados e que são preconiza- dos por nossa cultura. p. do escritor britânico Joseph Kipling (1865- -1936). Como analisa o antropólogo brasileiro Carlos Brandão (1940-). Alguns povos do continente africano foram explorados pelos europeus visando atender aos interesses destes. Conforme nos diz o antropólogo brasileiro Roque Laraia (1932-): O fato de que o homem vê o mundo através de sua cultura tem como conse- quência a propensão em considerar o seu modo de vida como o mais correto e o mais natural. Esse discurso da superioridade europeia caracterizava o outro (o dife- rente) como algo fora do padrão. Centre historique des Archives Nationales. nem a segurança. Tal tendência. ou seja. denominada etnocentrismo. tornando-o um inimigo a ser vencido. tomando-o como padrão de análise na comparação com outras culturas. essas condições prévias do progresso humano. LARAIA. uma tendência comum em nossa sociedade tem sido naturalizar o nosso próprio modo de vida como se fosse o único correto. o argumen- to utilizado era o de que os outros povos precisavam também se tornar parte da “civilização”. 1965. o vê e o interpre- ta pela perspectiva da cultura em que se insere. dar a milhões de homens. O texto abaixo. que sem isso não conheceriam a paz. habitantes da atual República dos Camarões trabalham em plantação de café. Roque. como “civilizados”. Rio de Janeiro: Zahar. Paris. ilustra como era vista essa “missão” europeia com relação aos povos considerados não civilizados: A nós – não aos outros – incumbe um dever precioso: levar a luz e a civilização aos lugares mais distantes do mundo. John. podemos passar a ver que nossas soluções para os problemas comuns da vida em comunidade não são as únicas possíveis. pEsquis a Compreendendo outras culturas. – a Antropologia propõe uma análise sobre aquele que é diferente de nós fundada no chamado rela- tivismo cultural. ao falarmos sobre outros povos e grupos. desvendar alguns aspectos da nossa cultura que antes nos passavam des- percebidos. As Ciências Sociais. distinto. O modo como vemos o mundo.indd 126 5/27/13 5:24 PM . ou tendenciosa? Cabe refletir e entender que outras sociedades ou grupos sociais têm concepções e valores diferentes dos nossos acerca da vida e do mundo. Nossa perspectiva cultural (a educação do nosso olhar) normalmente está relacionada com o lugar social ocupado por nós e as relações estabele- cidas com os demais. Essa é uma forma de rente. podemos passar a compreender melhor as nossas próprias. precisamos antes nos indagar: como concebemos a sociedade da qual fazemos parte? Podemos def inir outros povos e culturas como primitivos ou arcaicos.. ao ampliar nosso conhe- cimento acerca de outras culturas e suas expressões. fazem refletir sobre as diferenças entre as diversas culturas e aprimoram a perspectiva por meio da qual per- cebemos e interpretamos a própria cultura. São Paulo: Companhia Editora Nacional/Edusp. analisa Laraia. a aceitação das diferenças. Relativizar culturalmente signif ica que. implica a experiência do conta- indica a condição daquilo que é dife. 1971. por exemplo – nem melhores. nos ajudam a relativizar nossa visão de mundo. Esse processo também nos ensi- na que muitos comportamentos e visões de mundo que nos parecem “natu- rais” ou “biológicos” na verdade são produtos da cultura. O reconhecimento da existência do outro. aprendendo a impor- tância prática das crenças de feitiçaria para os Azande [grupo étnico do Norte da África Central. 322. Isto pode ser explicado por inúme- ros fatores inter-relacionados. constituídas historicamente no âmbito de cada cultura. na sociedade. Cada sociedade humana é única. já que variam em diferentes grupos e sociedades. fruto das distintas experiências e de uma com- plexa teia de relações sociais. Assim. mas as instituições que ela compreende são variações de temas que são compartilhados por todas.]. BEATTIE. não faz muito tempo que os europeus ocidentais também acreditavam em feiticeiras e as destruíam quando eram descobertas. grupos. p. de culturas de diferentes hh alteridade: do latim alteritas (‘outro’). anteriormente. o ocidental pode vir a compreen- der algo de seu próprio passado. hh O relativismo cultural Para evitar visões distorcidas e etnocêntricas sobre o “outro” – como a expressa na citação de Kipling. Em outras palavras.. aprecia- mos as coisas de forma valorativa e moral. civilizados ou não? Quais parâmetros seriam utilizados para tal def inição? Até que ponto uma classif icação desse tipo se- ria adequada. to com outras culturas. Introdução à Antropologia Social. [. nossos comportamentos sociais e até posturas corporais são produtos de uma herança cultural. nem piores. República Democrática do Congo]. 126 • capítulo 5 Sociologia_vu_PNLD15_119a148_C05. em especial a Antropologia. povos e sociedades (a alteridade). Aprenden- do alguma coisa sobre estas variedades podemos aprender a nos ver no contexto etnográfico. Vivências em outras sociedades. Roque. seus valores e costumes. mas modificado na Europa Setentrional. nos faz pensar sobre o aprendizado da convivência e do respeito in- tercultural. Constatada a coexistência e a convivência de dife- rentes culturas. Pesquise e apresente na turma alguns traços de outras culturas que se aproximam da nossa. Esses são apenas exemplos de conflitos de interesses que podem impli- ora car a luta por um espaço físico e cultural com os quais os grupos sociais se od ae dit rquiv a/A identif icam culturalmente. O resultado da influência cumulativa e da imbricação entre diferentes culturas pode ser identif icado no trecho a seguir. LINTON. ou de linho ou de lã de carneiro. Todos estes materiais foram fiados e tecidos por processos inventados no Oriente Próximo. ou de seda. faz a barba. Ralph. É como se sociedades distintas convivessem no interior de um mesmo grande grupo social. Ao levantar da cama faz uso dos “mocassins” que foram inventados pelos índios das florestas do Leste dos Estados Unidos e entra no quarto de banho cujos aparelhos são uma mistura de invenções europeias e norte-americanas. viagens. leituras variadas. Rio de Janeiro: Zahar. porém. que é vestuário inventado na Índia. f ilmes retratando diferentes costumes podem se constituir em instrumentos que nos permitem refletir sobre o quanto somos diferentes ou iguais em relação a outros povos e culturas. cabe às Ciências Sociais não apenas estudá-las e compará-las de maneira a evidenciar as diferenças nos modos de vida. ocorrem também processos de interação cultural que implicam difu- são e reconf iguração da cultura. Tira o pijama. pe Ro ch Fili Em decorrência de processos históricos de dominação e migração. muitas vezes. nos diferentes locais de moradia. Sai debaixo de cobertas feitas de algodão cuja planta se tor- nou doméstica na Índia. Os interesses e as visões de mundo são distintos. que é um rito masoquístico que pa- rece provir dos sumerianos ou do antigo Egito. Nós e os outros A diversidade cultural diz respeito às distintas maneiras segundo as quais sociedades e grupos sociais se organizam e se relacionam entre si e com a natureza. Tantas são as culturas quantos são os povos. Discutam sobre os contrastes e semelhanças no modo de viver desses povos. antropólogo so- cial irlandês. p. mas favorecer a reflexão sobre a própria sociedade. um e outro domesticados no Oriente Próximo. os grupos sociais e as etnias existentes. Cultura: um conceito antropológico. na necessidade de povos se deslocarem e/ou se abrigarem em acampamen- tos. cujo emprego foi descoberto na China. entre outros. O cidadão norte-americano desperta num leito construído segundo padrão originário do Oriente Próximo. Apud LARAIA. e lava-se com sabão. antes de ser transmitido à América. A cultura e suas transformações • 127 Sociologia_vu_PNLD15_119a148_C05. que foi inventado pelos antigos gauleses. na busca por emprego. as relações entre as diferentes culturas são marcadas pela desigualdade. gerando tensões no âmbito das sociedades e certa hierarquização entre povos e nações decorrentes de disputas de fundo político e econômico. umas e outras recen- tes.indd 127 5/27/13 5:24 PM . 110. Para além da diversidade de culturas. Essa diferenciação social está explicitada. • A leitura deste fragmento da obra de John Beattie (1915-1990). traços ou manifestações culturais espe- cíf icos. 1988. Buscapé (interpretado por Alexandre Rodrigues) se vê em crise de identidade depois que começa a conviver com uma realidade muito diferente daquela em que cresceu. passa a conviver com pessoas brancas da classe média do Rio de Ja- neiro. A identidade cultural de um grupo (independentemente de seu tamanho) é de extrema importância para seu reconhecimento social e político e assenta- -se em ideias e representações sociais. A interação cultural gera novas formas de identidade cultural. o tipo de roupa que preferimos. 128 • capítulo 5 Sociologia_vu_PNLD15_119a148_C05. provocando disputas. identif icamos “semelhantes” e “outros” nas pessoas com quem compartilhamos a vida social. formavam as chama- das “teorias” sociais racistas. Em vários momentos do filme ele se questiona se deveria “ficar de um lado ou de outro”. O protagonista Buscapé encontra-se em diferentes crises de identidade cultural. Um exemplo é o filme brasileiro Cidade de Deus. atividades realizadas. aliadas a tendências etnocêntricas que reproduzimos até hoje – em- bora tenham sido mais populares antes do século XX –. “nós” e “outros”. inspirado no roman- ce de mesmo nome escrito pelo jornalista Paulo Lins e que se baseia em notí- cias de jornais sobre a comunidade carioca que batiza as obras. os grupos sociais podem desenvolver ideias de aceitação ou não de outros grupos. prof issão. A consciên- cia de pertencer a determinado grupo social – seja por caracteres comuns de gênero ou de origem étnica. Quando começa a trabalhar no jornal. Algumas dessas fronteiras sociais. pobre e negro. se deveria se identificar mais com um grupo ou outro. O2 Filmes/VideoFilmes/hank Levine Film Protagonista do filme Cidade de Deus. ao gênero. Por meio destes e de muitos outros elementos combinados. etc. Por um lado. seja por interesses específ icos. A forma como o fazemos muitas vezes constrói fronteiras sociais ligadas à classe socioeconômica. crenças e costumes semelhantes – aproxima os indiví- duos em determinada sociedade. levando à formação de agrupamentos de diversos tamanhos. ou mesmo a ou- tros fatores como o bairro onde moramos.indd 128 5/27/13 5:24 PM . ele é morador da Cidade de Deus. Ao se defrontarem. Nesse sentido. os programas de TV de que gos- tamos. costumes e comportamentos formados ao longo da sua história. É a partir da nossa identidade cultural que construímos a ideia de “eu”. à raça. a identidade cultural é aquela marca ca- racterística de um grupo social que partilha um ideal. valores. judeus e ciganos. é estrangeiro. Vejamos algumas dessas “teorias”. As descobertas dos horrores provocados durante a Segunda Guerra Mundial (1939-1945) – com os campos de concentração e a eliminação de judeus. ratif icando a ideia de que o outro (não branco) é ameaçador. declaravam-se teorias. experiên. Essas correntes de pensamento desenvolvidas no século XIX tiveram reper- cussão social. Acreditando ser possível a “purificação” da raça. Na Europa. com desenvolvimento desigual e Trabalha com o conceito de evolução diferentes formas de organização. de jovens saudáveis e fortes. criminosos. a adesão dos brancos a tais ideias dif icultou a acei- tação da diversidade étnica e cultural. do naturalista britânico Charles Defende a sobrevivência dos mais Darwin (1809-1882). a sociedade europeia tinha da humanidade. forçando-os ao tra- balho doméstico e na lavoura. as teorias sociais racistas desobriga- vam os grupos dominantes europeus de tratarem como humanos os indígenas e negros escravizados. Um representante deste selvageria. barbárie e civilização pensamento foi o filósofo inglês Herbert Spencer (1820-1903). Evolucionismo social Essa teoria pensava a espécie humana como única. diferente. Um de seus teóricos foi o filósofo francês Joseph Gobineau (1816-1882). com o aumento da imigração vinda das ex-colônias. e sim “inferiores”. enquanto povos indivíduos em categorias. fundados no racismo. que hoje são totalmente rechaça- das e recusadas pelas Ciências Sociais. afirmando que só os mais capazes sobreviveriam. a um grupo social. durante a colonização das Amé- ricas. Nestes casos. na Alemanha. na intolerância e na xenofobia. os quais seriam física. pois não têm validade científica alguma. sobretudo nos anos 1980. Essas ideias inspiraram as terríveis experiências pseudocientíficas do Terceiro Reich na Alemanha. defendia a Defende a pureza das raças seleção. uma vez que os países euro- peus precisavam do aval da ciência para justificar suas ações imperialistas na África e na Ásia. Quan. partilhar um sistema de valores. Bases teóricas do racismo – século XIX Denominação Justificativa Arianismo Justificava a desigualdade entre os seres humanos e advertia contra o cruzamento das Classifica uma população em “limpos raças.indd 129 5/27/13 5:24 PM . teóricos sociais buscaram aplicar a mesma ideia à sociedade aptos humana. aptos para procriar seres mais capazes. tradições e a mesma língua) se torna exacerbada. pelo Estado. essa teoria chegou a propor a esterilização de doentes. como “menos evoluídos” eram considerados “primitivos”. No decorrer do colonialismo do século XIX. A cultura e suas transformações • 129 Sociologia_vu_PNLD15_119a148_C05. uma vez que não eram considerados “semelhantes”. Essa teoria foi apropriada no século XX em defesa da superioridade germânica e induziu as experiências do Terceiro Reich. Eugenia Inspirada na proposta do cientista inglês Francis Galton (1822-1911). ponto máximo da evolução – a “civilização” –. Darwinismo social Inspirados na teoria da seleção natural das espécies. que de sangue” e “infectos” distinguiu os semitas dos arianos. ciganos e doentes – não foram suf icientes para derrotar o precon- ceito e o racismo. estrangeiro. emergiram diversas “teorias” racistas que tomaram a forma de “teorias sociais”. com desdobramentos políticos entre as nações. no século XX. muitas formas de violência vêm à tona. hh xenofobia: nome dado ao senti- do a sensação de pertencimento (o sentimento coletivo de pertencer a mento de ódio ou aversão ao que uma nação. mas sempre foram ideologias. dividindo os atingido o progresso. moral e culturalmente superiores. reemergiram nacionalismos de caráter conservador. bem como as ações pregressas. Para seus teóricos. Em diversos momentos. estranho. quando os europeus subjugaram indígenas e negros. cias. Ela se manifesta nas representações sociais. estudada no capítulo 1. A ideologia nos dá a visão que as classes terminadas posições políticas e justifica práticas so. fatos da realidade. para ocultar ou dissimular os ciais que reproduzem as relações de dominação. Essas “teorias” desempenharam o papel de ideologias. porque ela explica o fato de a sociedade ser de um modo e não de outro. Com a força de trabalho semiescrava branca dos imigrantes. sentimentos e condutas que se cristalizam nas crenças. portanto. pelo filósofo francês Destutt de Tracy (1754-1836). os proprietários de terra não pre- cisavam pagar salários aos seus ex-escravos. etc. Em meados do século XIX. os proprietários de terra recu- savam-se a vendê-las a negros. Um exemplo de política racista foram os acordos de imigração. que a empregou como ciência das ideias (fatos da consciência). ela faci- Cartaz de propaganda oficial do governo militar brasileiro. e por este motivo não teriam direitos como os bran- cos. na filosofia. em 1801. Ideologia também pode designar uma doutrina. Ele expressa um fenômeno que ocorre no plano das ideias e pensamentos sobre a realidade material. legitima de- veiculado em 1976. coisa que era vetada socialmente aos negros. No Brasil. em palavras. Ou seja. Ao instaurar essas crenças. na política. legitimando formas de ação: doutrinas econômicas. Com isso. entre suas f inalidades políticas e econômicas. um conjunto de ideias que influencia grupos sociais. no direito. podendo pagar salários àqueles que eles julgavam dignos disso – seus “seme- lhantes” brancos. a dominação. a ideologia justifica as posições que assumimos e nos dá sua visão das relações sociais. Na época. “forjados” pa- ra o trabalho braçal. diversas fontes supostamente “científicas” defendiam que os negros eram “naturalmente” mais fortes do que os brancos e. que têm. Ideologia e cultura Muitas manifestações culturais são expressões Acervo Iconographia/Reminiscências da ideologia. A palavra ideologia tem muitos sentidos e foi criada. lita a aceitação dessa realidade desigual. um conceito importante e polêmico. As mesmas “teorias” defendiam que eles não seriam hu- manos. e os imigrantes brancos recém-chegados tinham mais direitos sociais que eles. Os escravos libertos ficaram à margem da sociedade. po- dendo inclusive comprar terras quando acumulassem algum dinheiro. priorizando os imigrantes europeus brancos. dominantes querem que tenhamos. etc. o controle e a subor- dinação de indivíduos e grupos sociais. filosóficas. 130 • capítulo 5 Sociologia_vu_PNLD15_119a148_C05. Marx e Engels deram ao termo sua concepção política. Presente no dia a dia. feitos com países europeus para trazer imigrantes e “branquear” a população. valendo-se de justificativas convenientes aos que ocupam postos de mando. políticas. o período de escravidão também era embasado nestas “teorias”. políticas racistas continuaram a ser colocadas em prática pelo Estado. a ideologia sustenta a dominação social. mas uma sub-raça. coisa que eles se recusavam a fazer. nas reli- giões.indd 130 5/27/13 5:24 PM . Embora a abolição da escravidão no Brasil tenha acontecido em 1888. Alemanha. No Brasil. por exemplo. na década de 1930. O antropólogo estadu- nidense Clifford Geertz (1926-2006) observou como algumas identif icações do tipo “sou indiano” ou “sou xiita” se difundiram em várias partes do mun- do. Como cada indivíduo pertencente a um grupo com cultura própria tem sua concepção desse grupo e do sentimento de pertencimento a ele.indd 131 5/27/13 5:24 PM . apesar da linha de pensamento sociológico que. minorias populacionais no mundo todo enfren- tam a discriminação e os ataques de grupos racistas. especialmente na segunda metade do século XX. aquarela de Johann Moritz Rugendas que retrata um comboio de escravos durante parada em um rancho no interior do Brasil do século XIX. Dessa forma. não foi suficiente para derrotar o preconceito e o racismo. Rio de Janeiro. A cultura e suas transformações • 131 Sociologia_vu_PNLD15_119a148_C05. as questões étnico-religiosas e os conflitos cultu- rais ganharam espaço novamente na esfera pública. pode- -se dizer que essa construção mental depende mais de fatores coletivos gru- pais do que somente do indivíduo. No f inal do século XX. fenótipo ou aparência física (negro. como nacionalidade (brasileiro). cunhou o mito de existir uma “democracia racial” – uma sociedade multirracial e livre de preconceitos –. indígenas e negros ainda são alvos de discriminação social. mas também por meio de marcadores coletivos/sociais. Nossa associa- ção com estes marcadores também acontece pelo contexto em que nos identif icamos. Hitler durante comício em Dortmund. RJ. muito provavel- mente não nos identif icaremos com esse marcador. hulton-Deutsch Collection/Corbis/Latinstock A descoberta dos horrores provocados nos campos de concentração. oriundos da não aceita- ção da diferença e de uma visão deturpada de superioridade cultural que desrespeita o outro. uma pessoa geralmente se identif ica não só por seu nome e sobrenome. O viés racista da sociedade brasileira nos períodos colonial e imperial deixou resquícios em formas de discriminação racial vistas na atualidade. bem como os nordestinos que mi- graram devido ao contexto econômico desfavorável em seus estados de ori- gem. Se estamos num grupo apenas de brasileiros. Transporte de um comboio de negros. Mesmo nos dias de hoje. ruiva). Reprodução/Fundação Biblioteca Nacional. etc. prof issão (socióloga). Na foto colorizada ao lado. nos anos 1930. mui- tos sociólogos. [. Assim foi até se definir como uma nova identidade étnico-nacional.. intelectuais e pensadores brasileiros dedicaram-se a investigar a cul- tura brasileira. O Brasil é um país culturalmente muito diverso. por exemplo. na dura busca de seu destino. investiga a trajetória de nossa identidade cultural nacional. apesar de feitos pela fusão de matrizes tão diferenciadas. p. afundada na ninguen- dade. No caso dos países que foram colonizados. hoje. (Cia. o Estado se instituiu antes que houvesse uma identidade nacional popular. En con tr o c om c i E n t i s tas s oc i ai s A identidade cultural também tem um propósito político. Nela fomos feitos e ainda continuamos nos fazendo. Também foram feitos esforços em vários governos (co- mo no Estado Novo de Getúlio Vargas) para instaurar símbolos de uma cultura na- cional. perguntando-se o que teríamos de específ ico em nossa identidade. muitas vezes. Você consegue dar exemplos de diversidade cultural entre bairros. entre os proprietários de terras. a criação de uma identidade cultu- ral nacional teve e tem um papel fundamental para que o Estado se f irme após a in- dependência. nem se apegam a nenhum passado. Nós. Em muitos países da América Latina. Podemos observar essa diversidade e suas variações. e depois responda às questões no caderno. Que características identificam você como brasileiro/a? Será que estas caracterís- ticas são comuns a todos os brasileiros e brasileiras? 3. No Brasil. RIBEIRO. ou nas coisas que vê na televisão. Uma das obras clássicas da Antropologia brasileira. no cinema. composta por diversas formas de organização social em diferentes grupos. a de bra- sileiros.) 2. abaixo. até hoje. brasileiros. o que nos tornaria brasileiros. em ser. Falam uma mesma língua. impedido de sê-lo. 410. São Paulo: Companhia das Letras.. Um povo mesti- ço na carne e no espírito.indd 132 5/27/13 5:24 PM . Essa massa de nativos oriun- dos da mestiçagem viveu por séculos sem consciência de si. os moradores das favelas nas 132 • capítulo 5 Sociologia_vu_PNLD15_119a148_C05. No início do século XX. nos jornais e livros.. um dos povos mais homogêneos linguística e culturalmente e também um dos mais integrados socialmente da Terra. Segundo Darcy Ribeiro. Darcy. regiões do país? Que costumes são si- milares e diferentes entre esses lugares que você conhece? (Se você nunca tiver saído da sua cidade. de Bolso) 1. já que aqui a mestiçagem jamais foi crime ou pecado. cidades. os esforços para construir no Brasil uma identidade cul- tural nacional teriam dado certo? Qual a sua opinião. Leia um trecho da conclusão desta obra. pense nas pessoas que já conheceu que vinham de outros locais. O povo brasileiro (1995). os brasileiros são. Estamos abertos é para o futuro. num processo “de cima para baixo”. Um povo. sem dialetos. a identidade cultural dos povos formou o Estado. 2007. O povo brasileiro. [. os dirigentes e os representantes políticos. Não abrigam nenhum contingente reivindicativo de autonomia.. de Darcy Ribeiro (1922-1997).] É de assinalar que.] somos um povo em ser. como o Brasil. pensando na realidade brasileira dos dias de hoje? Diversidade cultural na sociedade brasileira O Brasil é uma nação pluriétnica e multicultural. muitas vezes acabando com a sustentabilidade dos recursos naturais que as tribos utilizariam como forma de subsistência. etc. em 2008. novas formas de exclusão social derivam hoje do desemprego. assim como os códigos de conduta e de sobrevivência entre as populações marginalizadas – moradores de rua. pela classe social a que se integram.indd 133 5/27/13 5:24 PM . porém efetivos. nos impede de perce- ber que a desigualdade social e a discriminação restringem o acesso aos bens materiais e culturais por amplos setores da população. seja no trabalho. – existem um racismo difuso e uma discriminação velada. pela demarcação de suas terras. A falta de respeito à sua cultura tam- bém faz com que empresas multinacionais e fazendeiros se aproveitem ilegal- mente de suas terras. Lula Marques/Folha Imagem Na foto ao lado. Esses sentimentos perpassam as relações sociais. protestam em frente ao Congresso Nacional (Brasília). do trabalho precário. Os povos indígenas que sobreviveram ao genocídio causado pela colonização foram limitados a espaços onde não con- seguem viver sua cultura de forma plena. muitas vezes. das exi- gências da tecnologia informacional. Durante muitos séculos. a população jovem que cursa o Ensino Médio em escolas públicas. de costumes ou de aparência. surgem diferentes con- cepções e representações da realidade nacional. A cultura. seja ela de cor de pele. de comportamento. grandes cidades. pela gera- ção a que pertencem. Desconsiderar a diversidade cultural. O caso das comunidades in- dígenas brasileiras é signif icativo para pensarmos na marginalização de certas culturas. expressam modos de vida muito particulares. desempregados –. pela região onde moram. seja na escola. próprias do moderno processo de pro- dução capitalista. e se expressam na intolerância cotidiana e na não aceitação da diferença. em Roraima. A cultura e suas transformações • 133 Sociologia_vu_PNLD15_119a148_C05. Devido à desigualdade social marcante no Brasil. indígenas da Reserva Raposa Serra do Sol. os indígenas não foram respeitados em seus costu- mes e no seu direito ao uso das terras. Desencadeadas pelo preconceito e pela concentração de renda (e de poder). de comunidades de baixa renda. Neste país com indivíduos tão diferentes entre si – pela cor da pe- le. Aos africanos trazidos e a seus descendentes foram impostas a língua e a religião dos colonizadores para que pudessem entender as ordens recebidas e obedecer. cuja Índios Kuikuro em festa do chegada ao Brasil se relaciona aos Kuarup na aldeia Afukuri.indd 134 5/27/13 5:24 PM . e de Octavio Ianni. alguns sociólogos se dedicaram ao tema. dispostos a abolir a domi- nação dos senhores brancos. Basta lembrar que a discriminação é considerada crime desde a Constituição de 1988. A importância dos africanos e seus descendentes para a história do Bra- sil. dos europeus e seus descen- dentes foram (e são) julgadas superiores às outras. de sua cultura e de seu trabalho – fun- damentais para nossa economia – estão muito aquém da riqueza e da diversidade de sua participação. como foi o caso de Florestan Fernandes. Renato Soares/Pulsar Imagens A Constituição brasileira de 1988 garante a demarcação das terras in- dígenas com o objetivo de reverter algumas injustiças e proporcionar condições de subsistência para o modo de vida de suas populações. ou seja. tornado “igual” para melhor servir aos interesses dos grandes proprietários de terra. ilustra uma resistência. como alertam diversos estudos culturais. desde que ocupadas por 134 • capítulo 5 Sociologia_vu_PNLD15_119a148_C05. Um episódio histórico de 1835. escravos africanos de religião muçulmana. esse grupo étnico também foi 2012. “educado” pelos europeus. por exemplo. com As metamorfoses do escravo (1962) e Raças e classes sociais no Brasil (1966). Muitas vezes as culturas do branco. a dos Malês. Um processo semelhante ocor- reu com os negros escravizados. Os registros de sua trajetória. Visando reparar essa situação e expor o preconceito existente na nossa sociedade. Esses estudos mostram que o preconceito e o racismo têm raízes em condições sociais históricas. em A integração do negro na sociedade de classes (1964). no processos de escravização e deportação de pessoas da África para a América. reco- nhecendo a propriedade def initiva sobre elas. o que resultou no passa- do e no presente em diversas formas de resistência à dominação cultural. Ainda que muitos de seus traços culturais estejam presentes em nosso cotidiano e seja signif icati- va a sua contribuição para o desen- volvimento do país. mas nem por isso ela deixou de existir. Os direitos conquistados na legislação por esses grupos não têm sido suf icientes para constituir uma sociedade de justiça e democracia. precisa ser reconhecida e valo- rizada. ou seja. a participação desses povos em nossa história conti- nua pouco valorizada pela maioria das pessoas. A revolta foi duramente reprimida pelas for- ças of iciais. em Na visão do antropólogo Carlos Brandão. na Bahia. Parque Indígena do Xingu. embora o conflito com fazendeiros e representantes do agronegócio seja constante. a Constituição discorre sobre a possibilidade de regulariza- ção de terras para as comunidades remanescentes de quilombos. Em seus artigos 215 e 216. O diverso e o diferente se ampliam para além das questões étnico-raciais. a construção de uma identidade nacional está ligada à ideia de pertencimento a um território. no mundo atual. como no caso das terras indígenas. a um país ou a um povo. O racismo é uma construção histórica que resiste no campo simbólico. Há. superando preconceitos. com o objetivo de desenvolver a cidadania plena. os dados estatísticos brasileiros revelam a persistência da desigualda- de social racial. seja pelo desen- volvimento do mercado de consumo – moda. assim. com todos os direitos sociais e políticos assegurados. Porém. isto é. especialmente as europeias e a estadunidense. devido à pressão de grupos econômicos. ou seja. Os estudos sobre esse tema sugerem que o combate ao preconceito precisa ser enfrentado pelo Estado por meio da educação e de políticas af irmati- vas. como veremos no capítulo 7. Ainda que indivíduos e famílias pertencentes aos grupos denomina- dos minorias estejam conseguindo galgar posições valorizadas social e economicamente pela conquista de um emprego formal ou de melhores condições de vida. nas ideias que as pessoas têm sobre “ser negro” e “ser branco”. descendentes de escravos.indd 135 5/27/13 5:24 PM . Alex Almeida/Folhapress Acima. conhecimentos variados – e dos meios de comunicação de massa. A cultura e suas transformações • 135 Sociologia_vu_PNLD15_119a148_C05. seja pela presença do imigrante em nossa história. descendentes de japoneses no monumento em homenagem ao Centenário da Imigração Japonesa. intenso imbricamento cultural entre as realidades locais e a global. muitos processos de regularização demoram anos para serem concluídos. As demais culturas estrangeiras. concebido pela artista plástica Tomie Ohtake e instalado no Aeroporto Internacional de Guarulhos (SP). tecnologia. as diferenças culturais estão presentes na formação da sociedade. barreiras econômicas e cultu- rais. influenciam na constante transformação da cultura brasi- leira. artes. Foto de 2008. Araquém. dEbatE A cultura brasileira deve tributo aos primeiros habitantes das nossas terras e. revelam traços culturais semiáridas devido às secas. entre outras atividades. previs- tos por nossa Constituição. • Por meio desse texto f ica claro que.. na Bahia. discutam a ques- tão colocada.indd 136 5/27/13 5:24 PM . que atendem pe- los nomes de Tucan. a Funai resgatou em agosto [de 2007] dois índios isolados no meio de uma área tomada pela extração ilegal de madeira. chamados de piripkuras. construtores. exploração dos recursos minerais. Muitos desses imigrantes também contribuíram com a própria or- ganização dos trabalhadores e de seus movimentos associativos. nossos hábitos. os objetos do dia a dia? Por que o Brasil se apresenta tão diverso regionalmente? A ocupação das terras pelos colonizadores. até hoje há dif iculdades para garantir aos povos indígenas os direitos que lhes foram assegurados pela Constituição brasileira de 1988.. com mais ou menos 35. como agricultores. comerciantes. muito além do direito de expressão da pró- pria cultura. o uso de mão de obra africana e indígena e a vinda de imigrantes a partir do século XIX trouxeram contri- buições que fizeram a diversidade cultural do país. p.. em Mato Grosso]. vieram costumes. conseguiram desenvolver estratégias de sobrevivência extremamente sofistica- das para uma vida sem contato em uma floresta. Felipe. grupos sociais. os índios. antes um país de base econômica predominantemente rural. marceneiros. em equipe. Esses fluxos de população ocor- 2008. culinárias. como evasão das regiões usados. expansão da fronteira agrícola. discorra em algumas linhas sobre a integração dos povos indígenas na construção do Brasil. Acima. Palê Zuppani/Pulsar Imagens hh As dinâmicas culturais Ao observarmos nosso país. e Mande-I. 10. operários que eram. tradições. na região mais violenta do Brasil [Colniza. Contato na selva. Falantes da língua tupi kawahib. MILANEZ. à espreita do movimento de madeireiros [. 2007. além de conhecimentos próprios de suas ocupações profissionais. [.] na Amazônia. os indígenas estão sendo privados de outros direitos básicos. Nunca haviam feito contato tão próximo com sertanistas da fundação [Funai]. manifestações artís- ticas. entre outros. Pensando sobre isso. crenças e ritos religiosos de suas culturas de origem. Os diferentes trajes reram em diversos momentos e por razões distintas. podemos nos perguntar: de onde vêm nosso modo de vida. criação e transporte específicos de determinados de gado. conforme as regiões do país. artistas. transitava para uma economia urbano-industrial. A matéria jornalística abaixo é um convite a essa reflexão. Foto de como trocas e o aprendizado intercultural. quando o Bra- sil.. artesãos. o convívio de povos tão diferentes em regiões diversas é responsável pela variedade de características culturais no cenário nacional. ourives. Depois da leitura. ALCâNTARA. com cerca de 50 anos. 136 • capítulo 5 Sociologia_vu_PNLD15_119a148_C05. no entanto. Com os imigrantes euro- peus e asiáticos. modernização da agricultura. Especial de CartaCapital. Ao contrário do resto de seu povo. em Juazeiro. vaqueiro vestindo roupa As migrações internas propiciaram não apenas crescimento econômico tradicional: o gibão. são os últimos sobreviventes de massacres perpetra- dos ao longo dos últimos 20 anos. 31 out. Viviam escondidos.]. As migrações, porém, não ocorreram sem conflitos. Muitas foram as dis- putas e as dificuldades por que passaram os migrantes: enfrentamentos com o poder local, a luta pela terra, a procura por trabalho, os problemas de adap- tação às regiões receptoras, a exploração do trabalho. Os nordestinos que fo- ram para São Paulo e para os estados da Amazônia; os gaúchos e catarinenses instalados no sudoeste do Paraná; os sulistas nos estados de Rondônia e Mato Grosso; os paulistas e mineiros no norte do Paraná e no Rio de Janeiro; são exemplos que reconfiguram a diversidade dos costumes e das tradições. Essa dinâmica cultural é resultado do movimento da sociedade e nela interfere. Ela leva a culinária, os valores, as tradições artísticas, os modos de vida típicos de uma região para outra. Por exemplo, o pão de queijo, o chur- rasco, a tapioca, a polenta, a pizza, o vatapá, a feijoada, o quibe e outros qui- tutes são elementos portadores de identidade cultural. O mesmo intercâmbio cultural ocorre com manifes- Pedro Carrilho/Folhapress tações como o bumba meu boi, a Festa do Divino, o fan- dango, entre outras, quando levadas de seus locais de origem para outras regiões. Quando se pensa em cultura, é preciso considerar as influências mútuas e de como elas coexistem e subsistem. A cultura e sua relação com as classes sociais é um te- ma recorrente nas Ciências Sociais, gerando muitos e ca- lorosos debates, como estudado no capítulo 1. Para a psi- cóloga brasileira Ecléa Bosi, a cultura formada por expressões típicas e espontâneas vindas do povo articula uma concepção do mundo que é diferente das visões da elite, a chamada cultura erudita. A f ilósofa Marilena Chaui (1941-) pondera que, quando determinada prática cultural é def inida como “popular”, ela assimila as divi- sões da sociedade em classes e tende a ocultar as ideias dominantes. Não é possível definir manifestações culturais de mo- do fragmentado, pois os diversos grupos coexistem e ex- pressam sua visão de mundo e representações sociais com base também nas relações estabelecidas com os demais. A crítica social da literatura de cordel no Nordeste brasileiro é um exemplo disso. Outro exemplo se refere à capoeira, criada pelos africanos escravizados no Brasil colonial. Co- mo uma dança/luta, ela está diretamente relacionada à Literatura de cordel no Mercado de Artesanato Paraibano, oposição estabelecida entre escravos e seus senhores. em João Pessoa (PB). Foto de 2008. Mudanças culturais na sociedade global Como produtores e consumidores de cultura, os grupos socioculturais se diferenciam e podem reproduzir simbolicamente as relações de poder vigen- tes, e até contestar determinadas formas culturais no interior de sua comuni- dade e da sociedade. De que modo distinguimos uma comunidade de uma sociedade, ainda mais quando as relações entre as realidades locais e a global tendem a ser mais intensas e interinfluentes? A cultura e suas transformações • 137 Sociologia_vu_PNLD15_119a148_C05.indd 137 5/27/13 5:24 PM Comunidade e sociedade O sociólogo alemão Ferdinand Tönnies foi o pri- Por ser um representante da Sociologia clássica, meiro a empregar o termo comunidade, contrapon- Tönnies conceitua sociedade contrapondo-a ao con- do-o ao conceito de sociedade, dentro da tradição ceito de comunidade. Assim, ele classifica sociedade sociológica de classificar os fenômenos sociais. como um fenômeno em que há relações contratuais, Segundo Tönnies, comunidade refere-se a uma regidas por interesses econômicos, culturais, políticos, coletividade na qual é alto o grau de coesão com base tomando por modelo a sociedade industrial, da qual em valores, interesses, normas e costumes partilhados as fábricas, as organizações e o Estado moderno são as pelos indivíduos e grupos que a integram. Em termos principais expressões. físico-territoriais, comunidade corresponde a um A análise de Tönnies exclui, porém, outros mode- agrupamento cujos laços de vizinhança, consanguini- los de sociedade, sendo, portanto, eurocêntrica. Ela dade e/ou étnicos criam condições de afinidades en- nos serve aqui para compreender o contexto em que tre os membros. vivemos hoje, e não para generalizações. O desenvolvimento da sociedade moderna mostrou que as relações so- ciais tendem a mesclar o que é comum (partilhado em pequenos grupos) com o que se apresenta na extensão da sociedade. Comunidade também pode se referir, genérica e idealmente, a um modelo de vida coletiva, não necessariamente delimitado no espaço geográf ico (caso das comunidades que não estão próximas, mas se apoiam), que apresentam interesses comuns e ligações afetivas. O processo de globalização, visto no capítulo 1, no que se refere às diver- sas culturas, apresenta uma ambivalência: por um lado, pode representar algum risco para as identidades culturais de variados grupos sociais locais quando em contato ou sob o domínio de uma outra cultura (certa tendên- cia de homogeneização); por outro, a diversidade tende a se reaf irmar tam- bém, seja pela via de resistência, seja pelo uso de suas tecnologias (como a internet) para a difusão de suas manifestações. De fato, com a globalização emergiu o debate sobre “cultura global”. Alguns autores consideram que a globalização levaria à homogeneização cultural. No entanto, as relações em sociedade são mais complexas. Não podemos af irmar que há uma cultura global de modo def initivo nem que a globalização padronizou os povos culturalmente, já que estes se apropriam da “cultura global” de várias formas. Na contramão das mudanças acarretadas pela globalização, alguns gru- pos sociais tendem a criar resistências à homogeneização da cultura. A ques- tão da identidade desponta como um elemento-chave nesse processo de af irmação. As minorias sociais alimentam a ideia de identidade para buscar reconhecimento e inserção social quando grandes transformações as atin- gem e menosprezam seus modos de vida ou suas “comunidades”. As minorias sociais não são def inidas pela questão numérica, mas pelas dif iculdades impostas a esses grupos no acesso às instâncias de poder e pela situação discriminatória e excludente em que se encontram. Por exemplo, o número de indivíduos que se consideram negros e pardos no Brasil, se- gundo o IBGE, corresponde proporcionalmente à população que se diz branca. Entretanto, se comparados aos brancos, apresentam reduzida pre- 138 • capítulo 5 Sociologia_vu_PNLD15_119a148_C05.indd 138 5/27/13 5:24 PM sença em funções socialmente mais valorizadas e com melhores salários. Co- locadas em situações como essas, sobretudo por fatores históricos, tais mino- rias enfrentam dif iculdades em manter ou melhorar sua condição socioeconômica e em expressar suas tradições culturais. Muitas manifestações culturais alternativas são consideradas contra- -hegemônicas, por serem reações à cultura dominante e à sua visão do mundo. Hegemonia cultural é o conceito utilizado pelo cientista político italiano Antonio Gramsci para designar a dominação de uma classe social sobre outra fundada na ideologia e, portanto, no convencimento (e não na coerção). Resistência e culturas alternativas Muitas vezes, grupos considerados minorias sociais contestador, que procura mostrar a cidade em seus propõem culturas alternativas ou formas diferenciadas diversos aspectos. Os jovens que o integram consi- de expressão, criando processos de resistência e afirma- deram-no uma filosofia de vida que difunde a “voz da ção. Alguns exemplos desse tipo de manifestação são o periferia”. Mediante suas narrativas, propõem a revi- movimento hip-hop e o funk, entre outros. talização do espaço urbano com práticas que propi- O funk carioca surgiu na década de 1970 com os ciam a criação de grupos artísticos e políticos. O hip- denominados bailes “da pesada”, festas populares com -hop tem várias manifestações em artes distintas, potentes equipamentos de som. Seu impacto decorre como o grafite, o rap ou a dança break, embora não do fato de reunirem milhares de jovens para encon- tros musicais e dançantes. Os grupos de “funkeiros”, se limite a elas. antes concentrados no Rio de Janeiro, difundiram-se Ao contestarem as organizações dominantes e os para outras regiões do país. mecanismos de dominação cultural, esses movimen- Hip-hop é um movimento social com traços de tos constroem identidades coletivas baseadas em rei- cultura de rua, definição que enfatiza seu caráter vindicações, aspirações e desejos comuns. Christophe Simon/Agência France-Presse thiago Domingos/Futura Press DJ toca em baile funk da comunidade Rocinha, na capital do Rio Apresentação de hip-hop em galeria no centro de São Paulo (SP), de Janeiro, em março de 2012. em 2009. A cultura e suas transformações • 139 Sociologia_vu_PNLD15_119a148_C05.indd 139 5/27/13 5:24 PM Indústria cultural e práticas sociais Nos dias de hoje, as culturas são influenciadas tanto pelos costumes locais como por comportamentos que, em certa medida, tendem a uniformizar as expressões culturais pelo mundo. Contudo, apesar de sofrerem modificações, as diferentes culturas locais não desaparecem. A cultura é um processo social refeito e renovado continuamente. Analisemos como isso ocorre. hh hábitos culturais: são manifesta- Os hábitos culturais são influenciados por modismos, imposições e estí- ções e costumes que dão significado às mulos ao consumo, que é um comportamento social ligado ao estilo de vida práticas sociais de grupos da popula- na sociedade contemporânea e envolve aquisição, troca ou obtenção de ser- ção. Uma parte desses hábitos se for- viços e bens materiais ou simbólicos, supondo seu uso, gozo e fruição. ma pela maneira como os indivíduos O consumo na atualidade é proporcionado por um sistema flexível de utilizam seu tempo, no modo de con- viver e agregar prazer àquilo que fa- produção e de ampla circulação de mercadorias e tem provocado mudanças zem e nas relações que estabelecem. nos hábitos culturais e nos espaços de comercialização. Desse modo, nos free shops, shopping centers, parques temáticos, nas redes de hipermercados, cida- des turísticas, no mercado virtual on-line, o consumo ocorre sem fronteiras para a origem das mercadorias e o tempo de funcionamento é liberado ao ritmo da acumulação capitalista. Certos gostos e hábitos são associados pela publicidade a determinadas faixas etárias; outros, aos mundos “masculino” ou “feminino”; alguns se constituem como preferências prof issionais; há ainda a diferenciação decor- rente da renda e das classes sociais. Isso mostra que o consumo é diferencia- do e os produtos e serviços são destinados a públicos determinados, segundo o que a cultura hegemonicamente atribui a cada grupo social. Segundo o sociólogo francês Pierre Bourdieu, em nossos tempos a posição econômica não necessariamente garante a distinção social. Sendo assim, muitas vezes recorremos ao gosto, associado à classe socioeconômica, como forma de nos distinguirmos de uns e nos identif icarmos com outros grupos. A formação de hábitos e práticas culturais não é igual para todos os seg- mentos sociais, sendo diferenciada culturalmente (e não biologicamente) por fatores como idade, etnia, sexo, ocupação prof issional, pertencimento a as- sociações, organizações, agrupamentos def inidos e outros. A variedade de perf is pode ser observada quando nos referimos, por exemplo, ao segmento social de “jovens estudantes da escola pública brasileira”. Os hábitos culturais recebem influência dos meios de comunicação de massa em sua formação e transformação, devido à sua possibilidade de co- municação com milhões de pessoas para informar, entreter e educar. A tele- visão, o rádio, o jornal impresso, o cinema, etc. são considerados veículos de ampla difusão porque atingem a massa, ou seja, uma quantidade indetermi- nada de indivíduos que, de maneira anônima e difusa no espaço-tempo, congrega-se numa mesma atividade e/ou interesse. Quando se refere à pro- dução industrial e/ou ao consumo, o termo faz referência a algo que busca atingir a maioria da população. Esse potencial quantitativo também está nas expressões “massa revolucionária” ou “democracia de massas”. Normalmente, no Brasil, os conteúdos veiculados pelos meios de comu- nicação de massa são def inidos pelas emissoras, privadas ou estatais, e repro- duzem a ideologia e os interesses dos grupos que os administram. O rádio, hoje em dia, é um meio que se conjuga a outras atividades, como ao trajeto de automóvel entre a residência e o trabalho, e é muito ouvido por aqueles 140 • capítulo 5 Sociologia_vu_PNLD15_119a148_C05.indd 140 5/27/13 5:24 PM que exercem atividades solitárias e isoladas. A televisão, por sua vez, é cons- tante em moradias, lanchonetes e até nas salas de espera de consultórios médicos, funcionando também como mediadora de transações comerciais de objetos e serviços. Já o cinema, um hábito cultural ainda restrito a alguns segmentos sociais, tem se popularizado por meio dos aparelhos de DVD, das locadoras de f ilmes e de sua exibição em canais de TV. Zanone Fraissat/Folha Imagem Os hábitos culturais são influenciados pelos meios de comunicação de massa. Ao lado, consumidores em loja de eletrodomésticos aproveitam para assistir à televisão. Foto de 2009. Esses meios de comunicação e outros mais são representativos da indústria cultural, um termo empregado pela primeira vez, em 1947, pelos sociólogos alemães Max Horkheimer e Theodor Adorno, para dizer que a produção ar- tística e cultural veiculada pelos meios de comunicação de massa insufla o consumo por ser transformada em mercadoria. Os produtos culturais – publi- cações impressas, DVDs e filmes, obras de arte, composições musicais, etc. – se assemelham assim, de certa forma, aos produtos industriais. A sociedade contemporânea institui uma cultura do lazer padronizada pelos meios de comunicação de massa. Essa aproximação da cultura com o produto industrial estimula o público a esperar por próximos lançamentos – de músicas, f ilmes, equipamentos de som e imagem – que se tornam bens rapidamente obsoletos. Logo, a cultura tem, na atualidade, sua face mais visível na forma de bens e serviços e, muitas vezes, nem percebemos sua di- mensão de uma produção acumulada, transmitida, herdada socialmente, como nos alerta o texto do crítico literário Alfredo Bosi (1936-): [...] ficamos irritados quando falta luz. Aí telefonamos para reclamar que está faltando luz. Parece que é um dever que os outros nos forneçam esse milagre. São realmente poucos os que podem entender todo o mecanismo que vem desde as águas da represa até os fios da nossa casa e produz para nós o fenômeno da luz. Digo que todos esses exemplos ilustram a ideia de que ter cultura é possuir uma alta soma de objetos da civilização. É uma ideia (ou uma atitude) que nos barbariza; no fundo, somos bárbaros no sentido de que usamos os bens, mas não consegui- mos pensá-los. No entanto, cultura é vida pensada. [...] Em vez de tratar a cultura como uma soma de coisas desfrutáveis, coisas de consumo, deveríamos pensar a cultura como o fruto de um trabalho. Deslocar a ideia de mercadoria a ser exibida para a ideia de trabalho a ser empreendido. Acho que é essa a ideia-chave, o projeto que eu diria recuperador. BOSI, Alfredo. Cultura como tradição. In: Cultura brasileira: tradição/contradição. Rio de Janeiro: Jorge Zahar/Funarte, 1987. p. 38. A cultura e suas transformações • 141 Sociologia_vu_PNLD15_119a148_C05.indd 141 5/27/13 5:24 PM O pensamento expresso por Bosi nos mostra que a cultura é fruto do empenho acumulado de diversas gerações e de vários grupos sociais que dela participam de diferentes formas – produzem, compartilham e reproduzem cultura, em seus aspectos materiais e imateriais. O autor nos diz mais: ele nos convida a pensar a cultura como trabalho de muitas gerações. A cultura que se mundializa A produção de bens de consumo se tornou flexível, como estudamos no capítulo 4, quando foram introduzidos, na década de 1970, processos de automação e inovações na organização do trabalho, responsáveis pela redu- ção do tempo de produção e do tempo de consumo. Essas transformações levam à mundialização da cultura, analisada pelo sociólogo brasileiro Rena- to Ortiz (1947-) como um acontecimento histórico, no qual as formações nacionais rompem com as realidades locais e as tradições regionais. Nesse processo chamado de desenraizamento cultural, algumas referências socio- culturais são retiradas dos indivíduos. A cultura que ganha ares de fenômeno mundializado desestabiliza a tra- dição, destituindo-a de seu papel legitimador das práticas e concepções de mundo tradicionais. A cultura se torna flexível. Para designar esse grande processo sociocultural que não é homogêneo nem se explica territorialmente, mas impõe uma nova lógica de tempo e espaço, o sociólogo brasileiro Octavio Ianni emprega a expressão “moderni- dade-mundo”, que é a sociedade global, o world system, onde as relações dos universos micro e macrossocial, entre as dimensões local e global, são inten- sas, mútuas e extensivas. Na transição do século XX para o XXI, uma cultura mundializada, sob efeito das comunicações e da informatização, atravessa as fronteiras nacionais. o consumo passa a ser seu traço dominante. Karina tengan/Acervo da fotógrafa Consumidores fazem compras de Natal em shopping de Belo Horizonte, Minas Gerais. Foto de 2011. 142 • capítulo 5 Sociologia_vu_PNLD15_119a148_C05.indd 142 5/27/13 5:24 PM A nova conf iguração da cultura transnacionalizada. Assim. mas se combina com uma pluralidade de esti- los. o nosso corte de cabelo. A cultura e suas transformações • 143 Sociologia_vu_PNLD15_119a148_C05. avalia o crítico literário inglês Steven Connor (1955-). O rock é um exemplo de fenômeno de influên- cia global que unif ica gostos. Isso signif ica que as esferas do cultural. em 1957. as compras. os rituais sociais – nivelam a cultura dos setores sociais. segundo o sociólogo Renato Ortiz. do social e do econômico deixam de ser distinguíveis umas das outras. sentir. mantendo aspectos locais. pro- voca a ocidentalização. ou seja. agir. nos bancos. os estilos de penteados. nas famílias. a indigenização. provocando um “etnocentrismo às avessas”. tribais. em que tudo é comercializado. Determinadas práticas culturais – como o esporte. mas também aprofunda distâncias sociais pela desigualdade no acesso a bens materiais e simbólicos. Album/Latinstock Centenas de fãs assistem a show de Elvis Presley. sobrepondo hierarquias sociais e extrapolando as fronteiras físicas e sociais. Chamamos contradições sociais às diver- gências e contraposições existentes nas relações sociais dentro da sociedade capitalista. de mídias e de identidades étnicas espalhadas pelo mundo. a linguagem com que nos comunicamos usualmente. Nossa sociedade sofre as consequências de um modo de vida em que persiste um desenvolvimento desigual. a moda. por ultrapassar fron- teiras. aproxima grupos distantes geograf icamente. regionais e nacionais. São múltiplos os processos socioculturais que atravessam territórios e ocea- nos. pensar e imaginar já não se encontram distantes. que vão acentuan- do traços culturais ao mesmo tempo que reinterpretam a realidade social a que se referem. submetendo o ser humano à ló- gica determinista das máquinas no trabalho. mistas. Essas mani- festações fazem surgir expressões sociais sincréticas. a africanização.indd 143 5/27/13 5:24 PM . basta observar as pulseiras de adorno que usamos. modos de ser. O processo de transculturação – pelo qual as diferentes culturas transitam entre as nações – tem criado novas configurações com elementos de várias culturas. a orientalização. nos edifícios. os jogos. mesclando culturas. Co- mo exemplo. em que a técnica domina as energias naturais. na infraestrutura da vida urbana. mo laços de coesão social. com a divisão do de. na qual indivíduos e grupos são chamados a participar. que torna próximo o que antes era distante. da técnica. Pode-se dizer que a mercantilização da vida tem sufocado manifestações so- lidárias. Ele concebe a individualiza- ção provocada pelo processo de modernização contínua e inacabada da nossa sociedade. mas não há redes de segurança socialmente construídas. entre eles. mantendo a vida social estável e em harmonia. Em termos culturais. ses. da urbanização. a solidariedade orgânica responde. As sociedades são afetadas por culturas próximas às suas. Mas essa solidariedade de resistência em moldes mais coletivos não é o mesmo fenômeno tratado pela Sociologia. grupos são mais semelhantes e intercambiáveis. nas quais os indivíduos e sociais.indd 144 5/27/13 5:25 PM . que se fecha a iniciativas da coletividade. a razão e a autonomia individual são fontes do comportamento individualista. o individualismo cresce à medida que as relações sociais são renegociadas cotidianamente e os indivídu- os vendem sua força de trabalho cada qual separadamente. da economia. mas também são influenciadas internacionalmente em razão do acesso digital e da comunicação. fronteira com o Peru. surgiram outros sentidos para solidarieda- na sociedade industrial moderna. a sociedade moderna tende a ser individualizadora. o sentimento de comunhão de interes- trabalho social. como o que acontece em regiões de fronteira. enquanto complexas. afirma o sociólogo alemão Ulrich Beck (1944-). no Acre. São muitas as ambivalências da trajetória histórica da ciência. nas so. Devido à maior densidade das relações nas sociedades prevaleceria a solidariedade mecânica. em campanha social para registrar os cidadãos acrianos. tiago Queiroz/Agência Estado Ao lado. moradores da aldeia Kaxinawá em Santa Rosa do Purus. da tecnologia. o conceito de solidariedade foi ria pela diferenciação e interdependência entre in- pensado pelo sociólogo francês Émile Durkheim co. conforme o tipo de so. Foto de 2009. pos cumpririam diferentes funções ou necessidades ciedades ditas simples. divíduos e grupos. 144 • capítulo 5 Sociologia_vu_PNLD15_119a148_C05. mesmo. indivíduos e gru- ciedade. de uma individualização generalizada. Solidariedade social Originalmente. por instalar a reciprocidade nas relações sociais. Valorizadas excessivamente. Organizados institucionalmente. da burocracia e. que visam à sua integração. Assim. Assim. o f ilósofo Edgar Morin propõe a adoção de uma “política de civilização”. di á logos in tErdisciplinar E s Considerando o exposto neste capítulo. reúnam algumas ilustrações). de caráter etnocêntrico. internos e externos. Pesquisem e elaborem uma síntese sobre os costumes. se possível. especif icamente a sua região (cidade ou estado). Cortejo de encerramento da Mostra Artística da Teia Brasil 2010 – Tambores Digitais. denominação e grupos envolvidos. sua origem e principais motivações. sobre os sites a se- rem consultados e outras dúvidas e. Diante disso. escolham um destes fenômenos/eventos históricos e pesquisem sobre: o tipo de conflito. O que vem a ser essa política? Uma política de civilização propõe tomar consciência das ameaças à vida física e psíquica do ser humano em sociedade. individualista. Eventos como esse valorizam a diversidade e a solidariedade nas manifestações culturais. as influências e contribuições das etnias que povoaram o Brasil. História e Geograf ia (peçam orientação aos professores dessas disciplinas. formem equipes e escolham uma das se- guintes pesquisas aqui propostas. p E squisa 1 O Brasil é conhecido por abrigar grande diversidade cultural. registram-se alguns conflitos sociais (interculturais). procuran- do identif icar traços dessas culturas e o contexto histórico e geográf ico em que se inserem. Para conhecer mais. A cultura e suas transformações • 145 Sociologia_vu_PNLD15_119a148_C05. vencer o pensamento compar- timentado. implicações sociais e econômicas. p E squisa 2 No passado e na atualidade. devido ao seu proces- so de colonização. entre outros fatores. do Estado em prol de avançar em solidarie- dade e ética. as tradições. ao tamanho de seu território e às diferenças regionais. a André Goldman e Marina Cavalcante/Ad2m Comunicação necessidade da modernização contínua. das técnicas. que envolvem questões étnicas e/ou religiosas. capital do Ceará. aos movimentos migratórios.indd 145 5/27/13 5:25 PM . em Fortaleza. o contexto histórico e geográf ico em que se insere. vocês devem pesquisar na internet e consultar os livros de Sociologia. sobre diversidade cultural e etnocentrismo. Para enriquecer sua pesquisa e ampliar seus conhecimentos sobre a nossa e outras cultu- ras. Morin convida-nos a utilizar os aspectos positivos das ciências. construir resistências e deter o ritmo desenfreado do progresso a qualquer custo. O que você entende por diversidade cultural? Cite alguns exemplos deste fenômeno e como ele se apresenta no Brasil. 2012. comunidade. religião e história afro-brasileira. arte. Serras da desordem. desenraizamento cultural. Povos Indígenas no Brasil. ideologia. direção de Andy e Larry Wachowski. Kayapó. Acesso em: 23 nov. identidade cultural. São Paulo: Brasiliense. Quais concepções sobre cultura aprofundam as desigualdades sociais? Justif ique. 6. 146 • capítulo 5 Sociologia_vu_PNLD15_119a148_C05. 7. Disponível em: http://pib. direção de Andrea Tonacci. no Maranhão. 2008. etnocentrismo. As Ciências Sociais na rede Cultura Afro-Brasileira.br/>. solidariedade. Quilombo. José Luiz dos. Site com informações diversas sobre a cultura. direção de Cacá Diegues. visão de mundo. Destaque as bases das ideologias racistas e explique suas distinções. Um madeireiro inglês reflete sobre demonstrações de racismo na ex-colônia britânica. Kaiowá e outras.org/pt> Acesso em: 11 dez. 1984.indd 146 5/27/13 5:25 PM . Site com várias informações sobre os imigrantes vindos para nosso país. organizam uma república livre. dEscubr a m ai s As Ciências Sociais na biblioteca ORWELL.com/temas/cultura_afro_brasileira. Xingu. Escravos fugidos das plantações canavieiras do Nordeste. meios de comunicação de massa e indústria cultural. Dias na Birmânia. 2012. diversidade cultural. indústria cultural. Guarani. Yanomami. Memorial do Imigrante. r E v i s ar E sistEm atiza r 1.htm>. distinção social. Que processos levam à formação de uma identidade cultural? Arquivo da editora 4. Brasil. O que é cultura. Acesso em: 23 nov. 2. massa. representações sociais. Em que consiste o etnocentrismo? Filipe Rocha/ 5. Brasil.socioambiental. Disponível em: <www. consumo. civilização.suapesquisa. Índio Carapiru. 1984. Um hacker descobre que máquinas dotadas de inteligência artificial dominam a humanidade. Estabeleça as diferenças entre cultura e civilização. expulso de sua aldeia natal. O autor analisa de modo abrangente o conceito e as visões de cultura. SANTOS. sociedade. George.org. 2008. que sobreviveu por mais de 70 anos. São Paulo: Companhia das Letras. Site aborda questões atuais das culturas indígenas Bororo. As Ciências Sociais no cinema Matrix. Estados Unidos. 3. conceitos-chave: Cultura. segue um périplo de perda de identidade. 2012. 1999. minorias sociais. o Quilombo dos Palmares. no século XVII. Estabeleça uma relação entre hábitos culturais. Disponível em: <www.memorialdoimigrante. 1990. São Paulo: Brasiliense. CartaCapital. JAMESON. São Paulo: Cortez. p. Constituição da República Federativa do Brasil: texto constitucional promulgado em 5 de outubro de 1988. O que é cultura popular. In: _. CARNEIRO. CONNOR. BRAUDEL. São Paulo: Paz e Terra. Marxismo e filosofia da linguagem. 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Filipe Rocha/Arquivo da editora 148 • capítulo 5 Sociologia_vu_PNLD15_119a148_C05.gov. p. Textos em representações sociais. Darcy. 2002. 1975. O conceito de representações sociais dentro da sociologia clássica. Acesso em: 9 dez. Sandra (Org. 2005. 2007. Felipe. Brasília: Ministério da Educação. José Luiz dos. de Bolso). Laymert. 1997. Uma teoria científica da cultura.). In: FERREIRA.). O Povo Brasileiro. 2. 10-15. O que é cultura. A Sociologia no horizonte do século XXI.mec. p.). Emerson. MORIN. Petrópolis: Vozes. A política de civilização. (Org. Considerações sobre a realidade virtual. 2012. MARTINEZ. Identidades e crises sociais na contemporaneidade. p. ed. Sami. Secretaria de Educação Básica. São Paulo: Contexto. 31 out. 1995. In: NAÏR. In: MORAES. 489-518. Maria Cecília. Heróis vencidos. Julio Assis.). 113-121. 1996. GIUMBELLI. 1994. 89-112. ZUGUEIB NETO. 1995. 410 (Cia. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editores. 3. Companhia das Letras. Leila (Org. além de analisar a natureza de alguns conflitos em diferentes partes do mundo. que também é uma instituição social. Debateremos o significado do crescimento das religiões e o sentido da religiosidade contemporânea.indd 149 5/28/13 8:42 AM . mas não a descaracteriza como fenômeno social. Salmo Dansa/Arquivo da editora Capítulo 6 Sociedade e religião EstudarEmos nEstE capítulo: a religião. no mundo e no Brasil. está entre os objetivos da discussão deste capítulo. Compreender a real natureza de tais conflitos. 149 Sociologia_vu_PNLD15_149a170_C06. sob a óptica das Ciências Sociais. Veremos que a modernidade traz alterações para o papel da religião. noticiados cotidianamente como de origem religiosa. Indagaremos também se existe alguma relação entre o funda- mentalismo religioso e a globalização. cultura. além de autoridades governamentais – prestigiaram o lançamento do livro e do DVD Ca- minhando a gente se entende. Seguin- do tal linha de pensamento. Acesso em: 7 nov. 11 635. Valendo-se das teorias para explicar a dimensão social (como vimos no capítulo 2). 2012. considera necessário esse tipo de ação? Você deve se lembrar de estudos nas aulas de História em que o papel determinante da religião. [.. [.] O lançamento do livro integrou as comemorações pelo 21 de janeiro – Dia Nacional de Combate à Intolerância Religiosa.. Por meio do processo de desnaturalização. o objetivo da Comissão era “compartilhar mo- mentos de reflexão sobre o sentido da liberdade religiosa”. as pessoas hoje estão mais ou menos descrentes em uma esfera di- vina? Podemos atribuir à religião a responsabilidade por alguns dos grandes conflitos ocorridos na atualidade? Existe alguma relação entre globalização e fundamentalismos? Como as Ciências Sociais analisam o papel da religião nas relações sociais contemporâneas? Essas são algumas das indagações ana- lisadas neste capítulo.br/site/2012/01/24/caminhando-a-gente-se-entende>. A religião como instituição social DIA NACIONAL DE COMBATE À INTOLERÂNCIA RELIGIOSA Com apoio da Fundação Cultural Palmares. a Sociologia procura compreender quais elementos da realidade empírica e histórica e quais do pensamento lógico justificam (“tornam natu- ral”) um modo de ser de uma sociedade. no auditório Gilberto Freyre. no Brasil. A comemoração na data de 21 de janeiro lembra o enfrentamento do preconceito e as for- mas de estimular a sociedade a valorizar a diversidade religiosa. econômicos e religiosos. 23/1 [de 2012]. em diferentes períodos. anunciou que. interlocutor da CCIR e mediador da solenidade. isto é. que criou o Dia Nacional de Combate à Intolerância Religiosa. As Ciências Sociais desmitif icam ideias.gov. culturais. de um grupo e mesmo de uma classe 150 • CAPítulo 6 Sociologia_vu_PNLD15_149a170_C06. Em dezembro de 2007 foi of icializada.. realizado na última segunda-feira. a Lei n.. no Palácio Gustavo Capanema.indd 150 5/28/13 8:42 AM . Disponível em: <www. são produtos de relações sociais contextualizadas no tempo e no espaço. vamos analisar a religião como instituição social. Comissão de Combate à Intolerância Religiosa lança livro e DVD sobre o tema Cerca de 300 participantes – religiosos das mais diversas vertentes. no Rio de Janeiro.] Filipe Rocha/Arquivo da editora O babalaô Ivanir dos Santos. concepções e preconceitos acerca das relações sociais e dos acontecimentos políticos. ela demonstra que fe- nômenos aparentemente naturais têm caráter social e histórico. era destacado tanto na vida íntima das pessoas quanto nas relações políticas e econômicas da socie- dade. com esse evento. Será que isso mudou? É possível que o avanço da Ciência e seus des- dobramentos na vida social tragam consigo o declínio da religião? Em sua opinião. Você imagi- na qual foi a razão que levou à criação dessa data? Pensando na realidade mundial. Sua existência social tem por base a vontade de crer das pessoas e a construção de uma manifestação coletiva vinda dessa crença. o fenômeno religioso é um impulso que impele o indivíduo a superar sua condição hu- mana para se abrir a algo que o supera e ao mesmo tempo o engloba. então. Ainda segundo Baechler. pelos indivíduos e grupos sociais em sua rotina. de forma aparentemente espontânea. ainda que trate de algo não palpável ou visível: a ligação do indivíduo com o sagrado. além da experiência concreta. Os gestores (líderes e di- rigentes religiosos) organizam. como os produtores. O termo religião vem do latim religare e signif ica ‘algo que liga o ser hu- mano ao sagrado’. a possibilidade de transcendência. é exterior aos indivíduos. costumes. A religião é considerada uma instituição social por ser constante ao lon- go da nossa história e exercer um padrão de controle na sociedade e uma programação da conduta individual. Buda. a rela- ção entre indivíduo e natureza. gestos. as dimensões do natural e do sobrenatural. manifesto concretamente. aceito e legitimado coletivamente por determinado grupo. detém autoridade moral. Na def inição dos sociólogos Peter Berger e Thomas Luckmann. os gestores lançam mão de práticas como crenças. problematizando-os e mostrando sua origem. A religião é um dos principais objetos de estudo das Ciências Sociais. Dessa forma. Para a Sociologia. é um fenômeno social. a religião é passível de explicação cien- tífica como um acontecimento presente em muitas sociedades. Maomé. as produções sociais da religião – agrupamentos. crenças. De um lado. a consti- tuição da matéria e do espírito. do islamismo. o mistério da vida e da morte. a religião é uma das dimensões da cultura. possui objetividade e historicidade. regras de conduta – por meio das quais os seres humanos procuram a harmonia de sua existência. O trabalho da Sociologia é “desnaturalizar” os fenôme- nos sociais. ela apresenta característi- cas próprias das instituições sociais: é socialmente coercitiva. seja esse “algo” imanente. a religião é um fenômeno vivido muitas vezes sem questio- namentos. Já os responsáveis pela fonte original do conjunto de crenças religiosas são personagens místicos. como Jesus Cristo. os primeiros antepassados. Émile Durkheim diria que a religião é um fato social por ser observável e assimilada pelos indivíduos e grupos. social. Revelam-se. Sociedade e religião • 151 Sociologia_vu_PNLD15_149a170_C06. De acordo com o sociólogo francês Jean Baechler (1937-). do budis- mo e de muitas religiões indígenas. isto é. aqueles que buscam entrar em contato com a esfera di- vina. seja transcendente. ritos. consistindo em um sistema de símbolos que propi- ciam intensas motivações aos indivíduos. Para o antropólogo Clifford Geertz.indd 151 5/28/13 8:42 AM . no processo de repetição de uma ação que def ine um padrão de conduta so- cial. a difusão da fé entre os crentes. seus elementos constitutivos e suas relações com outros fenômenos. ela é um fenômeno social. de outro lado. para citar exemplos do cristianismo. por meio das práticas religiosas. existindo na extensão de uma determinada sociedade. O surgimento das religiões relaciona-se à vontade humana de explicar questões como a origem do Universo. formação de comunidades e regras de conduta. no processo de institucionalização social. nesse caso. o fenômeno religioso implica a ação de atores sociais. ou seja. os gestores e os f iéis. do representa o profeta Maomé. Uma crença pode se cristalizar em mitos. Berlinck feita em 2011. Madri. por serem consideradas de origem di- vina. transes. [. Raymond (Org.. dogmas ou construções teoló- gicas.. Jean. que são dirigi- das a uma comunidade congregada por cerimônias.indd 152 5/28/13 8:42 AM . Tratado de Sociologia.. 1632). Rio de Janeiro: Jorge Zahar. 465. ritos.] Algumas são pontuais ou referem-se às consequências diretas de uma de- terminada prescrição religiosa relativa a um determinado aspecto de uma dada sociedade. dan- ças. A partir do momento que o vinho é indispensável à celebração da missa. geralmente ligadas à nature- za.. que marcam o tempo e o espaço com simbolismo próprio. pela religião. a vinha é cultivada nos países cris- tãos. mostra Buda fundador do islamismo. Já as construções teológicas são regras. Espanha. gestos sistematizados. orações. 152 • CAPítulo 6 Sociologia_vu_PNLD15_149a170_C06. Religião. que revelam soluções para problemas existenciais e sociais. 1995. daí resulta que o porco está ausente das comunidades judaicas e muçulma- nas.. no decorrer do tempo. por exemplo. os mitos são narrativas fantasiosas e alegóricas. O orixá Oxóssi. Teresa Berlinck/Acervo da artista Biblioteca Nacional de Paris/Archives Charmet/ The Bridgeman Art Library/Getty Images Popperfoto/Getty Images Gravura de data desconhecida Detalhe de Cristo na cruz (c. o judaísmo e o islã proíbem o consumo de carne de porco. Se. mais ou menos decisivamente. como o sofri- mento. traduzindo-se em práticas religiosas. Museu do Prado. em oposição ao componente racional. com base em documentos. representado Esta ilustração chinesa. em virtude de um dogma central do cristianismo. sentado em cima de uma flor cena de combate.] propõem regras de vida sob a forma de obrigações e de proibi- ções. Quando assumem. de lótus. Os mitos estão presentes em todas as culturas e representam simbo- licamente fenômenos humanos ou da natureza. As bases de uma crença mobilizam as emoções e a sensibilidade dos f iéis. do pintor espanhol Diego acima em aquarela de Teresa século XVIII. BAECHLER. Frutos da imaginação humana.] podemos demonstrar. In: BOUDON. o caráter de verdades doutri- nárias a serem aceitas sem discussão. em Velázquez. sacrifícios. como o mito da criação do mundo.. As religiões [. procedimentos e interpretações elaboradas.). que não há um único domínio da vida social que não tenha sido afetado. tais como celebrações. em uma religião. por aqueles reconhecidos como intermediários entre a divindade e o mundo profano. [. p. as crenças constituem dogmas. acerca da origem do ser humano (fase filosófica). Nessa fase. cura demonstrar que a História é o desenvolvimento evolutivo-temporal em Jammu. muitas facetas. iden- tif ica o fenômeno religioso como um estágio relativa- mente “primitivo” da evolu- Mulheres hindus seguram ção social e cultural da humanidade. durante o festival de Maha Shivratri. por consolidar costumes e pelo caráter ideológico de suas ações. da humanidade. e o espaço público. Estágio mais evoluído da humanidade. classif ica. por exemplo. uma das principais crença em muitos deuses (politeísmo) para a crença em um Deus único divindades do hinduísmo. hh Auguste Comte A obra do francês Auguste Comte. relativo à intimidade. Milhares de hindus de do”. A religião na visão dos autores clássicos da Sociologia Yawar Nazir/Getty Images Um dos desaf ios da So- ciologia ao tratar do fenôme- no religioso é que ele abarca dois universos: o espaço pri- vado. Os autores clássicos voltaram seu olhar para a religião como um fe- nômeno social e procuraram interpretá-lo. diversas partes da Índia lotam os templos em celebração à ma analítico de Comte. que procuram justif icar uma ordem social como se ela fosse natural. “Lei dos três estados ou estágios”. entendendo que. deusa. “mais aprimora. da deusa Shiva. Metafísico Indagações ontológicas. Comte pro. correspondendo ao uso da razão e da Positivo política (fase científica). fundado na razão e na ciência. as re- ligiões destacam-se por sua função moral. Caxemira administrado pela da por ele como metafísica. após uma segunda fase. no território da do espírito humano. Índia. haveria um terceiro estágio. que ele chama de “estado teológi- oferendas de água e leite para a co”. Para elaborar tal teoria de caráter evolutivo. que lhe dá o caráter social. Sociedade e religião • 153 Sociologia_vu_PNLD15_149a170_C06. gradativamente. portanto. O fenômeno religioso tem. Nas diferentes interpretações sobre sua existência. o ser humano tenderia a passar. de Auguste Comte Estágios Características O ser humano acredita em muitos deuses e evolui para a crença em um só Teológico Deus (fase religiosa). em fevereiro de 2012. e é heterogêneo por se basear em diversas fontes de inspiração e interesses relacionados à condição humana. (monoteísmo). Veja abaixo o esque.indd 153 5/28/13 8:42 AM . religiosas e místicas um sistema de ideias que desempenharam ao longo da história um impor- relacionadas ao seu tradicional tante papel de integração social. O autor propõe em seu livro As formas elementares da vida religiosa. Para Durkheim. regida por princípios e valores específ icos. A esse processo de declínio do poder da religião nas diferentes dimen- sões da vida social. em conhecimentos científ icos ganharam mais espaço. os chineses ele. construíam uma identidade e controlavam o ambiente como um todo. como a curiosidade. superior e separada do que é mundano (profano). Embora preservem as comemorações como centro da vida social. Durkheim explica o fenômeno religioso pela garantia da ordem social. como culturais. A secularização é a passagem de fenômenos que até então eram do domínio religioso ou sagrado para a esfera mundana. costumes e hábitos ancestrais como um todo. Weber via a religião como uma dimensão social depositária de signif icados culturais por meio dos quais indivíduos e coleti- vidades interpretavam sua condição de vida. que passa a ser explicada também pela ciência. assegurando a esta- bilidade da sociedade por meio de relações harmoniosas. ou 154 • CAPítulo 6 Sociologia_vu_PNLD15_149a170_C06. hh Max Weber O pensamento do sociólogo alemão Max Weber segue uma linha distin- ta daquela de Durkheim. solar) no dia a dia. decorrentes do desenvolvi- mento da ciência. Weber denominou secularização. fosse um mero conjunto de ilusões. mas na distinção entre os conceitos de sagrado e profano. a religião perdeu força fevereiro de 2013. na modernidade ocorria uma crescente racionalização e consequente afastamento do campo religioso. religiões. ressaltando seu fundamento moral em diferentes culturas. protegida. em sociedades tradicionais a religião organizava as relações sociais e o pró- Chineses celebram o Ano-Novo prio tempo. Para calendário lunar. a tendência à vida em comunidade. a moral e a própria ciência não somente nasceram da reli- utilizam o calendário gregoriano (ocidental e de base gião como foram com ela confundidos por muito tempo. os problemas de consciência e o estabelecimento de normas. à medida que essas sociedades se modernizaram e os Chinês em Shangqiu. Weber acreditava que a força da religião estaria em declínio. ou seja. Durkheim duvidava de que a religião. o desejo de segurança. enquanto nas sociedades tradicionais a religião e as crenças a ela relaciona- das eram centrais. de 1912. Nessa linha de pensamento. que uma das principais funções sociais da religião é de natureza moral. O sagrado indica uma realidade diferente. na qual a coletividade projeta e objetiva a própria consciência religiosa e à qual presta reverência. na medida em que a sociedade moderna se afastava das crenças fundadas em supersti- ções. da tecnologia e da burocracia.indd 154 5/28/13 8:42 AM . manter a coesão social. Desse modo. Porém. 06_f007A_SOCg15S A religião satisfaz necessidades do ser humano. o Direito. hh Émile Durkheim Já a abordagem funcionalista de Émile Durkheim considera o conteúdo das doutrinas e os sentimentos religiosos como impedimentos ao progresso. a união dos seus membros. Defende ainda que seu funda- mento não está no sobrenatural ou na ideia de Deus. a religião consiste em um sistema de crenças e de prá- Cui Shenyi/Xinhua/Agência France-Presse ticas relativas ao sagrado que une indivíduos em uma comunidade moral. pode-se perceber que esses quatro autores clássicos – Comte. resultando na separação entre reli- gião e Estado. de certas representações do mundo e do lugar do Imagno/Getty Images/Museu do Louvre. A secularização favoreceu o movimento histórico ocorrido com as Revoluções Burguesas. Bíblia para ver as moedas. hh Karl Marx O pensador alemão Karl Marx concebia a religião como responsável pe- la alienação do indivíduo na estrutura da produção material da sociedade capitalista. Marx e seu colega Friedrich Engels propunham a história como uma série de transformações sociais e materiais. considerada na Europa como contrária aos valores religiosos. ou seja. que traz consolo. a usura era “ética protestante”).indd 155 5/28/13 8:42 AM . afastar-se da vida moderna. seu destino. Weber. publicada em 1905. de 1845. mas como homem social. como se pode observar na tela: a mulher desvia o olhar da do por meio de trabalho racional como virtude. seu país. no século XVI. demonstra na obra A ética protestante e o es- pírito do capitalismo. daí a sua crítica de que toda ideologia (conceito estudado no capítulo 5). Ao fazer isso. como estuda- do no capítulo 2. seja. das e preconizadas pela religião protestante (a chamada Antes da Reforma protestante. de 1844. No livro A ideologia alemã. Nessa obra. O banqueiro e sua esposa (1444). Sociedade e religião • 155 Sociologia_vu_PNLD15_149a170_C06. que está no livro Crítica da filosofia do direito de Hegel. Para o pensamento marxista. no acalma. para rea- lizar a f inalidade a que se propõe – satisfazer-nos com ideias em detrimen- to do real conhecimento da realidade –. naturalizando-os. ele defende que o surgimento do “espírito do capitalismo” – um conjunto de qualidades intelec- tuais e morais indispensáveis à racionalização econô- mica – foi possível graças a algumas qualidades exalta. Durkheim. a proximidade entre os valores apregoados pelo protestantismo e a moral veiculada pela sociedade capitalista moderna. desenvolve-se com base em cren- ças preexistentes a f im de mascarar a realidade social. França. sua sociedade. Considerava a religião uma expressão da imper- feita consciência de si do homem: não do homem como indivíduo abstrato. que do povo”. e de transformarem a realidade. à possibilidade de os homens organizados mudarem as estruturas sociais. perguntando-se como as religiões afetavam a economia. A realidade pesquisada por Marx era a luta de classes provocada por interesses materiais conflitantes. Paris. científ ica e técni- ca. a religião era um obstáculo ao progresso e à emancipação político-social. Weber e Marx – caracterizaram a reli- gião como uma instituição de grande influência nas relações sociais ao longo da história. homem no mundo deixam de ser sagradas ou místicas e ganham uma explicação racional. em especial a visão do lucro obti. pintura de Quentin Metsys. qual af irma que a religião é uma forma de o ser humano se tornar alheio. a religião nega aos seres humanos a capacidade de decidirem sobre si. Ainda que difiram em sua abordagem. Nesse sentido. Ele criou a famosa expressão “a religião é o ópio – ou lenitivo – hh lenitivo: aquilo que abranda. as religiões poderiam ocultar as forças de mudança e encobrir os conflitos sociais ao tomá-los como desígnios divi- nos. muitos autores defendem a ideia de que vivemos um retorno ao sagrado. constituem-se à parte e tomam um Filipe Rocha/Arquivo da editora caráter temporal cada vez mais patente. as funções políticas. Porém. reavivando o confronto entre revelação e razão para expli- car a realidade social. vale indagar se nos depara- Lidove Noviny/Ondrej Nemec/Getty Images mos com o declínio. retira-se delas progres- sivamente. Deus. Ora. o espaço ocupado pela magia fazem com que a religião deixe de ser o elemento central de organização da sociedade. científicas desvinculam-se da função religiosa. da divisão do trabalho social. tudo que é social é religioso. a transformação ou o renascimento da religiosidade. Hoje. foi cunhada por Weber em sua análise sobre a rela- ção entre religião e modernidade. opinião. pela qual elas se desprenderam da explicação religiosa e se tornaram laicas. Entretanto. En con tr o c om os c I E n t I s tas s oc I aI s Na Sociologia clássica prevaleceu a ideia de que a religião era uma força que decres- cia na medida em que as sociedades atingiam a modernidade. Seguindo essa linha. diversas teorias con- ceberam o término da religião como decorrência dos avanços científ icos e consideraram as sociedades tradicionais “arcaicas”. e responda à questão a seguir. A secularização das instituições e das re- lações sociais. como expõe o sociólogo francês Jean Baechler: 156 • CAPítulo 6 Sociologia_vu_PNLD15_149a170_C06. alguns pensadores refutam tal Bauman. • Com base nesse trecho. como sugere o sociólogo polonês Zygmunt Bauman (1925-). econômicas. a religião nunca deixou de estar presente na sociedade. ela estende-se a tudo. por se orientarem pe- O sociólogo polonês Zygmunt los valores morais da religião. Pensando sobre isso. em retrato de 2010. que no princípio estava presente em todas as relações humanas. se assim nos podemos exprimir. São Paulo: Martins Fontes. diante de novas religiões. abandona o mundo aos homens e às suas disputas. discuta com seus colegas o lugar que a religião ocupa nas relações sociais na sociedade atual. A religião em tempos de globalização A expressão “desencantamento do mundo”. muitas vezes. por exemplo. do fundamentalismo. Depois. Na visão do sociólogo brasileiro Renato Ortiz. dos conflitos re- ligiosos e dos fanatismos. DURKHEIM. leia o trecho abaixo. não se trata de um consenso. que consiste no movimento pelo qual a esfera do sagrado vai sendo invadida por manifestações profanas e explicações racionais. pouco a pouco. Nesse sentido. p. aos poucos. Émile. A ideia do f im da religião ou do seu enfraquecimento nas relações so- ciais está associada. a separação entre a Igreja e o Estado e a emergência da ciência substituindo.indd 156 5/28/13 8:42 AM . Muitas vezes esse debate levou (e ainda leva) a discussões sobre um possível “f im da religião”. 1977. 197. Inicialmente. se há uma verdade que a história pôs fora de dúvida é que a religião abarca uma porção cada vez menor da vida social. Esse pensamento considera o desenrolar da história como uma escala evolutiva crescente de aconteci- mentos em direção ao progresso. à perspectiva positivista que prevê etapas sucessivas de desenvolvimento na sociedade. escrito por Durkheim em 1893. 64. nas sociedades tradicionais. Hoje em dia. uma constatação se impõe: o lugar que o universo religioso ocupava nas sociedades tradicionais foi definitivamente remodelado pela modernidade. a maiúscula do Progresso. A consciência coletiva. nas quais indi- Sociedade e religião • 157 Sociologia_vu_PNLD15_149a170_C06. out. reforçando hábitos. refere-se a valores. Renato. 2001. São Paulo. 47. da intensificação de uma religio- sidade individualizada. da vitalidade de religiões que pareciam extintas. sobretudo. Tratado de Sociologia. Podemos af irmar que a modernidade abriu espaço para uma maior diversidade de práticas reli- giosas. onde o pre- domínio da religião. 483. no mundo árabe. para o Homem. ORTIZ. Ape- sar do florescimento de novas crenças religiosas. o Homem recorre mais prontamente aos antibióticos do que aos amuletos. Sobretudo. n. Revista Brasileira de Ciências Sociais. por exemplo. a vida de cada um é dominada pela incerteza radical que afeta tudo aquilo que advém da ação: nin- guém controla jamais o resultado nem as consequências de qualquer empreendi- mento. que discute meio ambiente. [. Mas as coisas nem sempre são assim tão simples. sentimen- tos. como se a primeira f izesse parte da irracionalidade e a ciência se inserisse no ter- reno do racional.indd 157 5/28/13 8:42 AM . abrigam um número elevado de religiões simultaneamente. Entretanto. ou seja.). Essa incerteza faz a fortuna das cartomantes. citada por Ortiz. A eficácia nunca vai a ponto de excluir o fracasso. p. como “consciência coletiva”. BAECHLER. a consciência co- letiva é perceptível. Será que a ciência. Raymond (Org. Jean.. Anotações sobre religião e globalização. dos faze- dores de horóscopos. Ao contrário do que haviam suposto alguns autores no passado. In: BOUDON. não se pode deixar de entender que a ação das religiões num mundo globalizado adquire uma outra configuração. A relação de contraposição comumente estabelecida entre religião e ciên- cia tem sua base na ideia de que a fé se opõe à consciência científ ica. por ser tomada como um processo “natural”). Rio de Janeiro: Jorge Zahar. a consciência coletiva exerce coerção sobre as consciências individuais (ainda que. dado que a matéria tratada é racionalmente incerta. muitas vezes. é sempre racional? O capítulo 11. p. Com efeito. a socie- dade industrial não trouxe necessariamente o desaparecimento da religião. v.. Apesar de todos os progressos da Medicina. 1995. As técnicas eficazes podem ser inacessíveis. vai lhe permitir refletir mais profundamente sobre isso. de todos os que prometem reduzir ou suprimir a incerteza através de métodos que só podem ser irracionais. apenas limitou-a como forma de organização social. a magia e o recurso aos deuses retrocederam perante a eficácia técnica. Prova disso é que as sociedades modernas globalizadas são conside- radas multirreligiosas. não tenha um peso capital). em suas descobertas e aplicações. os homens contraem doenças e acabam por morrer. costumes e representações sociais nas sociedades. Segundo Durkheim. Este “normalmente” proporciona- -nos uma outra maiúscula. Como fenômeno.] Normalmente. crenças e tradições que são legitimados e repetidos ao longo das ge- rações. 16. o progresso técnico contemporâneo deveria fazer recuar e desaparecer o recurso à magia e à intercessão. A modernidade-mundo não se organiza segundo princípios religiosos (o que não significa que não existam países. de forma velada. e aos adubos químicos do que à bênção dos campos. das quiromantes. Religião. gera desigualdades e diversidades entre grupos e nações. revistas. estudada no capítu- lo 1. Se antes a pregação era li- mitada pelo espaço físico. ORTIZ. soldando os indivíduos no seio de uma mesma missas. 47. out. ve- rif icamos o crescimento de algumas religiões e o avanço do fundamentalis- mo religioso. particulares. cria af inidade de pensamentos e permite compartilhar experiên- cias entre os integrantes de um determinado grupo social. os meios de comunicação não apenas permitem a articulação das ações dos grupos religiosos como também as potencializam. editoras. CDs. vídeos. Uma prática religiosa. esses elementos se caracterizam como atividades econômicas desenvolvidas pelas organizações religiosas para atingir públicos específ icos de adeptos/clientes. por outro lado. n. na crucial. por ser uma dimensão que confere identidade ao ser humano. A crise das identidades nacionais abre espaço para a explosão de identi- dades étnicas. aproxima o passado. objetos religiosos e lembran- ças. a temática da parcela da diversidade da identidade transforma-se radicalmente com o processo de globalização. A difusão dos meios de comunicação favoreceu a expansão das religiões e até a multiplicação de manifestações religiosas. 65-66. segundo Durkheim. [. como todo grande processo sociocultural. Foto de 2007. em meio aos avanços tecnológicos e científ icos. As religiões puderam diversif icar seus meios de divulgação com emissoras de rádio e televisão. serviços de terapia e aconselhamento. Ela se tor- religiosidade no Brasil contemporâneo. Esse cenário desafia as Ciências Sociais a refletir sobre a exis- tência. de um novo papel da religião na sociedade. a religião concentra essa pressão conformadora das consciên- cias individuais para preservar a ordem social. 2001. Localizada em São Paulo. ao reunir as pessoas e fornecer um referencial comum aos grupos sociais. ou não. Nessas sociedades. 158 • CAPítulo 6 Sociologia_vu_PNLD15_149a170_C06. baladas de música eletrônica e lembranças. Danilo Verpa/Folhapress A globalização recente.indd 158 5/28/13 8:42 AM . Anotações sobre religião e globalização. e até mesmo de dimensões identitárias mundializadas.. Segundo o sociólogo brasileiro Antônio Flávio Pierucci (1945-2012). Nas últimas décadas do século XX. que expressa uma comunidade. a religião passa a desempenhar com mais intensidade um papel de resistência. 16. Na era globalizada. Renato. Revista Brasileira de Ciências Sociais. ela tende a homogeneizar os comportamentos sociais espalhados pelo globo. p. Nesse sentido. hoje a comunicação on-line rompe essas barreiras. aglutinam o que se en- destinado aos jovens católicos contrava antes disperso. pois não acontece com a mesma inten- sidade e do mesmo modo em todos os lugares. Ora. víduos e grupos são muito semelhantes e o controle social de uns sobre outros é exercido mais diretamente. por exemplo. São Paulo. imóveis e estruturas de marketing. v. a Cristoteca é um espaço As crenças religiosas. enquanto “consciências coletivas”. à globalização e à disseminação mais intensa da informação.. como tem sido apontado por inúmeros autores. forjadas no seio de fluxos transnacionais de consumo.] A memória é uma técnica coletiva de celebração das para apresentações de shows. pelo desemprego e pelo desamparo social. O fundamentalismo pode vir associado a situações de desigualdade so- cial por fornecer às populações pobres e injustiçadas um sentido já def inido para a realidade vivida. Manifestantes indonésios reivindicam. a conf iança e a capacidade de autoaf irmação do país. A Indonésia é o país com a Para Bauman. sob outra visão. aposta no consumo. quando o termo passou a ser mais uti- lizado pelos cientistas sociais. causado. tudo se torna efêmero e fragmentado. da responsabilidade sobre seus atos e ações. o radi- calismo religioso resulta do desgaste dos elementos que mantêm unida uma con- gregação de f iéis. Foto de 2011. Os despojados de hoje são indivíduos frustrados diante da impossibilidade de consumir tudo o que a sociedade oferece os- tensivamente. de certa forma.indd 159 5/28/13 8:42 AM . Bauman utiliza a metáfora do estado de “liquidez” da matéria e denomina “realidade líquida” as mudanças re- pentinas e estímulos constantemente renovados da presente fase da histó- ria. o fascínio exercido pelo fundamentalismo provém de sua maior concentração de promessa de “libertar” o indivíduo da autossuf iciência a que estava condena. Para explicar a insta- bilidade da sociedade contemporânea. nela. eximindo-o. indeterminada. isso se reverte em meios violentos para a imposição dessa leitura ao restante da sociedade. ele oferece uma “racionali- dade alternativa” que se opõe às incertezas da vida e aos seus riscos. da sua. informando-o do que ele deve fazer. O sociólogo britânico Anthony Giddens o descreve como um movimento de adesão incondi- cional a determinados valores e crenças. cujos adeptos têm um entendimento lite- ral dos seus livros sagrados. a qual. Ismoyo/Agência France-Presse Fundamentalismo religioso O fundamentalismo religioso foi re- conhecido como fenômeno recentemen- te. praticantes do islamismo. contudo. um quais rejeitam. por exemplo. elas seriam incitadas a trans- formar. Essa sociedade. entre outros fatores. em Jacarta. Na visão de Zygmunt Bauman. segundo Bauman. Assim. Sociedade e religião • 159 Sociologia_vu_PNLD15_149a170_C06. a expulsão da são oferecidos aos f iéis por meio de regras simples dos fundamentalistas. que se apresenta imprevisível. capital Valores sociais como a fé. Nos casos mais radicais. prevalecendo a diversidade e a flexibilida- de nos relacionamentos nas diversas instâncias sociais. do. e os movimentos religiosos fundamentalistas denotam parte do mal-estar da sociedade contemporânea. os população Ahmadiyah. no poder econômico-f inanceiro exacerbado. levando alguns grupos a desejarem identif icar e eliminar aquilo que pareça indiferente ou discordante com relação ao conjunto de princípios que professam. o diálogo com os que pensam de maneira diferente grupo islâmico considerado herético pelos mais ortodoxos. identif icada com a condição sociocultural do capitalismo contemporâneo. movimento pela indepen- dência do País Basco). os quais mantinham os cidadãos mais passivos e disciplinados. Por vezes o terrorismo está relacionado ao fundamentalismo religioso. o que gerou um aumento da intolerância e da violência no mundo. e ao prédio do Pentágono. outros fatores sociais e políticos também estão relacionados ao tema do terrorismo. ocorrido em 11 de setembro de 2001. colocaram sob suspeita a reli- gião islâmica e seus seguidores. foi atribuído nacional para a luta contra o terrorismo. como temos visto ao longo dos capítulos. Bush. ocorridos em 11 de setem- bro de 2001. Muitas congregações religiosas assumem obrigações e deveres que foram abando- nados pelo Estado. Tampouco se deve asso- ciar o terrorismo a religiões específicas. sobretudo após os anos 1990. na ao grupo fundamentalista islâmico Al-Qaeda. generalizou-se a ideia de que o islamismo era sinônimo de terrorismo – ideia reforçada pela mídia de grande circulação. Os ataques às Torres Gêmeas. hoje en- volvida em sérios conflitos. hh Desfazendo mitos O fato de alguns ataques de grupos terroristas serem feitos em nome de uma crença não signif ica que todos os adeptos daquela religião sejam terro- ristas em potencial. em Washington. As- sim. fez uma convocação inter- Unidos. sede do De- partamento de Defesa dos Estados Unidos. Como exemplo da intensifica- ção da violência social tem-se o caso do Sri Lanka. 160 • CAPítulo 6 Sociologia_vu_PNLD15_149a170_C06. complexo comercial em Nova York. O historiador inglês Eric Hobsbawm (1917-2012) relaciona o aumento da violência no mundo atual com as guerras no final do século XX. e explodiu. quando os Estados nacionais perderam em par- te o monopólio do poder e da violência. mas convém lembrar que nem todos os atos terroristas têm uma motivação religiosa. Entre os estudos sobre o terrorismo. é preciso destacar aqueles que sina- lizam para a situação de empobrecimento e marginalização de vastas popu- lações em diversas partes do mundo. que. Minutos antes. forma de uma “cruzada” do Ocidente cristão contra os muçulmanos do mundo. o então presidente dos Estados Unidos. reduziu seu papel no sistema de proteção social em tempos de neoliberalismo. composta de uma maio- ria budista e uma minoria hinduísta. Desse mo- do. mostrando que suas motivações estão para além das questões puramente religiosas. antes tinha uma convivência pacífica. cuja população. O ataque. daquele que é alheio ou discordante com relação à sua crença religiosa. nos Estados George W.indd 160 5/28/13 8:42 AM . tal como o caso de grupos separatistas na Espa- Spencer Platt/Getty Images nha (como o ETA. Apenas alguns grupos apresentam reações fundamenta- listas violentas diante do outro. World Trade Center. Nesse contex- A foto retrata o momento em que um avião se chocou com a torre sul do to. respeitadores dos limites estabe- lecidos pelas leis. em Nova York. outro avião já havia colidido com a torre norte. indd 161 5/28/13 8:42 AM .globo. os países neutros não podem ser ata- cados e os prisioneiros de guerra devem ter sua integridade física assegu- rada.com.folha. Número de mortos por br/mundo/1175504-numero-de-mortos-por-conflito-religioso-em- mianmar-chega-a-112. 26 out. Acesso em: 3 abr. desde a criação do Estado de Israel. como começa o terrorismo? Os terroristas alegam reagir em legítima defesa a um ataque anterior vindo da parte do Estado ou do sis- tema.decimo- protesto na China monge-tibetano-ateia-fogo-ao-corpo-em-protesto-na-china. também está relacionada (embora não se limite) à questão religiosa. o terror. Muitas vezes o discurso do respeito às regras e aos valores não é cumprido e produz uma situação que Hobsbawm de- nomina “retorno à barbárie”. em 1948.0. desta- cam conflitos em que o caráter religioso está presente. por exemplo.br/noticias/internacional. Em países africanos – Sociedade e religião • 161 Sociologia_vu_PNLD15_149a170_C06. 26 out. No século XX. houve desrespeito aos princípios convencio- nados entre a maioria dos Estados como os de uma “guerra civilizada” por meio das Convenções de Genebra de 1929 e 1949. Af inal.com. 2013. expressando atos criminosos que têm a po- pulação civil por alvo. como a negociação. Podemos citar também. Acesso em: 3 abr. em ataques a governos. As manchetes acima. a grupos políticos ou mesmo à população.com/ mundo/bomba-mata-tres-pessoas-em-reduto-islamico-da- Bomba mata três pessoas em nigeria-7632878>. nas duas guerras mundiais e. A guerra entre palestinos e judeus. 2013. pela posse da região da Caxemira. criando um pavor incontrolável. Conflitos religiosos no mundo FOLHA Online.790716.shtml>.uol. o terrorismo não deixa de ser uma estratégia política que usa a violência. como acontece nos ataques terroristas. Outro conflito religioso ocorre entre Índia e Paquistão. entretanto. Disponível em: <http://www. Esses.com. o IRA.br. Disponível em: <www1. trata-se de um contra-ataque àquele que o privou de outra forma de reação. 2013. 20 fev. inseridas em uma dis- puta na Irlanda do Norte entre protestantes que desejam continuar inte- grados ao Reino Unido e católicos que querem a união com a República da Irlanda. nos conflitos ocor- ridos durante a Guerra Fria. 2012. Veiculador de reivindicações nem sempre precisas. publicadas em diversas mídias no Brasil. Para os que praticam o terror. as ações desenca- deadas pelo Exército Republicano Irlandês.estadao. conflito religioso em Mianmar chega a 112 O GLOBO. depois. de maioria muçulmana. entre outros cuidados.htm>. conf igurado como uma batalha entre hindus e muçulmanos. Acesso em: 3 abr. que se expande além do círculo de suas vítimas. reduto islâmico da Nigéria Décimo monge tibetano ateia fogo ao corpo em ESTADAO. Disponível em: <http://oglobo. segundo os quais a população civil deve ser protegida. 2011. 2013. não são os únicos. física ou psicológica. Madrid: Debate. vale assinalar que. Atlas Histórico Mundial. 1989. ÍNDICO esses dois povos mantiveram relações harmonio- OCEANO ÍNDICO sas durante um longo período da história. Georges. Adaptado de: DUBY. nos anos 1990. p. também aponta outros fatores como moti- vadores para os conflitos. 162 • CAPítulo 6 Sociologia_vu_PNLD15_149a170_C06. 214-215. A historiografia. muçulmana há menos de um século. 2010. p. por exemplo. são comuns as Portal de Mapas/Arquivo da editora 70° L Zona contestada pela Índia e pela China AFEGANISTÃO CAXEMIRA referências a diferenças religiosas. Israel (1948-1949) conflitos árabe–israelenses (1956-2000) Allmaps/Arquivo da editora Allmaps/Arquivo da editora 35° L 35° L LÍBANO LÍBANO 32° N Mar Mediterrâneo SÍRIA SÍRIA Mar Mediterrâneo Golã Telavive Cisjordânia Jerusalém Telavive Cisjordânia 32° N Gaza Mar Morto Jerusalém ISRAEL JORDÂNIA Mar Morto Suez ISRAEL Península do Sinai ARÁBIA Golfo JORDÂNIA SAUDITA EGITO de EGITO Ofensivas em 1956 Su ez (Guerra de Suez) Territórios ocupados por Palestina sob domínio Israel por ocasião da Guerra Ma britânico (até 1948) dos Seis Dias (1967) rV Estado de Israel (1948) erm Guerra do Yom Kippur (1973) 0 50 100 Israel após conflitos de 0 90 180 elh Ocupação do sul do Líbano 1949 o km km por Israel (1982-2000) Adaptado de: DUBY. violentos embates foram apresentados como de caráter étnico e/ou religioso. Madrid: Debate. Islamabad Zona contestada pela CHINA Índia e pelo Paquistão porém. 1989. Será que a Sociologia e a História permitem generalizar a denominação de tais conflitos como “guerras religiosas”? Até que ponto a religião é real- mente um fator determinante nesses episódios? Será que. p. 212. 213. Isso 10° N ocorreu. Outro exemplo são 0 510 1 020 Violências étnicas km as pequenas colônias judaicas remanescentes no Atentados terroristas Oriente Médio que viviam em paz com a maioria Adaptado de: Le Monde diplomatique. Atlas Histórico Mundial. como os problemas de- PAQUISTÃO Délhi IRÃ Nova Délhi NEPAL BUTÃO correntes do processo de colonização e as divisões Karachi incentivadas pela Inglaterra no período em que os BANGLADESH Mar indianos lutavam por sua independência.indd 162 5/28/13 8:42 AM . Georges. Arábico Kolkata ÍNDIA MIANMAR No caso do conflito entre árabes e judeus na Mumbai Golfo de Palestina. não existem outras razões? Essas são questões que as Ciências Sociais buscam responder. Ruanda e Burundi –. por exemplo. apesar das guerras e Hyderabad Bengala OCEANO da violência que o caracterizam nos dias de hoje. especialmente República Democrática do Congo. na época em que os ára- bes ocuparam a península Ibérica (711-1492). SRI LANKA Posicionamento dos mísseis quando os judeus que lá viviam desfrutaram de balísticos Instalações nucleares liberdade religiosa e cultural. por trás da justifica- tiva da religião. conflitos na caxemira (2010) No conflito pela região da Caxemira (norte da Índia e do Paquistão). na medida em que acreditava na norte-americano Lewis Coser (1913-2003) faz uma “evolução” da sociedade como decorrente da “so. o alemão Ralf Dahrendorf flitual” na sociedade. cultural.indd 163 5/28/13 8:42 AM . própria vontade. ponsáveis pelas mudanças históricas centrais. p E squIsa Em equipe. então. histórica – e um dos desaf ios do conhecimento científ ico consiste em montar os muitos quebra-cabeças de que é composta a história. ta. o muro é de natureza econômica. indivíduos e/ou grupos como cada um tem a intenção de fazer triunfar sua remete à natureza do próprio sistema social. a intolerância religiosa ou pseudoétnica não parece suf iciente para explicar o conflito entre esses povos. econômica. Foto de 2012. não apenas religiosos. mídias im. as peregrinações judaicas ao templo. social e/ou política. considerava o conflito um interpretação dialética de Marx da luta de classes. resultado de uma relação de social. Embora reconheçam uma “dimensão con. Para isso. ou seja. Fiquem atentos para outras motivações. Para algumas teorias. os árabes palestinos foram expulsos.) disfuncionais. ciológicas de ontem e de hoje. o conflito perde o seu caráter “pato- mos. Na teoria weberiana. após a Primeira Guerra Árabe-Israelense (1948-1949). inaugurada por Durkheim. ou seja. Judeu ortodoxo caminha ao lado do muro em pressas e na internet). Sociedade e religião • 163 Sociologia_vu_PNLD15_149a170_C06. algumas das diferentes concepções so. Erguido com o pretexto de proteger apresentado para a turma. batalhas e desdobramentos. ciólogo contemporâneo. vos declarados como religiosos. Diante desses e de outros conflitos. Após a busca de informações (em livros. frontação entre adversários. o conflito social passa a ser visto co- determos sobre o conceito sociológico de conflito mo uma ação cotidiana. pois o risco de con. do qual. O ponto central. Não é simples defini-lo. estados pa. a mola para a renovação e a mudança da sociedade. Veja. é necessário sempre ir além das aparências dos fatos e das in- terpretações prontas e. O conflito tomou proporções maiores sobretudo a partir da criação do Estado de Israel (1948). etc. (1929-2009). observar o princípio do teórico militar prussiano Carl Clausewitz (1780- -1831) de que toda guerra se subordina aos interesses políticos. concorrência entre indivíduos. Portanto. que colaborem para um dos elementos estruturais de segregação da uma melhor compreensão do conflito selecionado. gração social. revoluções. no caso de conflitos religiosos. é interessante nos Com Weber. uma tensão perma. mas de conciliação próprias do mundo industrial. levantando suas causas. Outro so- e conflito. observa que a sociedade contemporâ- nentemente moderada pela solidariedade social nea vai institucionalizando o conflito. contrapõe consenso por gerar novas normas e novas instituições. os funcionalistas consideram gem instituições de regulação dos conflitos. os parceiros se acertam e recorrem a mediações e for- guerras. como a glês Herbert Spencer. pois se trata de uma questão gera- da por disputas políticas e fatores sociais e econômicos. pesquisem sobre algum conflito tido como religioso ocorrido no século XX ou no XXI. abordagem funcionalista do conflito. o resultado da pesquisa de cada grupo deve ser torno do túmulo de Raquel. lógico” e aplica-se a todo sistema social. Baz Ratner/Reuters/Latinstock cabe destacar que a realidade social comporta múltiplas di- mensões – política. os conflitos sociais são res- O darwinismo social. emer- (vista no capítulo 5). em Belém. Já a vertente funcionalis. elaborado pelo filósofo in. considerando-o brevivência do mais forte”. em que as situações conflituosas (conflitos étnico-raciais. personagem bíblica. Conflitos sociais Para compreendermos melhor os contextos de tológicos da sociedade que põem em risco a inte- confronto entre grupos sociais inspirados por moti. Palestina. Disponível em: Adaptado de: CENSO Demográfico 2010. legalmente o Estado é independente e não está submetido aos desígnios de qualquer conf issão religiosa. Algumas sugestões de temas de pesquisa são: • o conflito palestino-israelense. ou seja. em % (2010) Mapas: Portal de Mapas/Arquivo da editora OCEANO OCEANO RR ATLÂNTICO RR AP AP ATLÂNTICO Equador Equador 0º 0º AM PA AM PA MA CE MA CE RN RN PI PB PB PI PE PE AC AC AL AL RO TO TO SE RO SE BA BA MT MT DF DF GO GO MG MG ES MS ES MS SP SP RJ Tr RJ Tróp ópico de Capric ico de Capricó órnio rnio PR PR De 9. uma reação à situação de pobreza e de marginalidade da população.6% em 2000 para 64. que representavam 15. Disponível em: <www.censo2010.br/apps/mapa>.1% a 85% 45º O 45º O Adaptado de: CENSO Demográfico 2010. sem discriminações.1% a 75% 0 610 km 0 610 km De 30.8% a 50% SC De 15. de acordo com o Censo Demográf ico 2010. tem aumentado o número de grupos religiosos. que em sua maioria representam cisões nas denominações religiosas mais antigas. Diz o inciso VI do artigo 5 da Constituição Brasileira: “É inviolável a liberdade de consciência e de crença.gov. • o conflito entre católicos e protestantes na Irlanda do Norte.6% em 2010.8% De 75.1% a 33. Já os seguidores de denominações evangélicas. sendo assegurado o livre exercício dos cultos religiosos e garantida. • o conflito entre indianos e paquistaneses na região da Caxemira. A religiosidade no Brasil O Brasil é um Estado laico. na América Latina e no Brasil.indd 164 5/28/13 8:42 AM . em parte. na for- ma da lei. 2013.4% da população em 2000. da expansão de grupos de caráter protestante e pentecostal. Além disso.ibge. <www. É o caso. Acesso em: 9 jan.br/apps/mapa>. população evangélica no Brasil população católica apostólica romana por estado. os cidadãos têm a garantia constitucional de poderem professar a re- ligião que desejarem.gov.1% a 30% De 65. 164 • CAPítulo 6 Sociologia_vu_PNLD15_149a170_C06. do IBGE. Algumas pesquisas antropológicas discutem a tese de que a conversão a esses novos grupos religiosos seria. chegaram a 22.7% a 15% SC De 45. 2013. a proporção com relação ao total caiu de 73.ibge.1% a 20% RS De 50.censo2010.1% a 65% RS De 20. Embora os católicos ainda sejam a maioria da população brasileira. • a Revolução Iraniana e suas implicações no cenário atual do país. • os conflitos étnico-religiosos na região da ex-Iugoslávia nos anos 1990. a proteção aos locais de culto e suas liturgias”.2% em 2010 – um aumento de cerca de 16 milhões de pessoas. Acesso em: 9 jan. em % (2010) no Brasil por estado. No Brasil e no mundo. A umbanda. a presen- ça dessas religiões nas representações sociais e nas ma- nifestações culturais e artísticas no Brasil são signif ica- tivas. Assim sen- do. como. a umbanda seria. por exemplo.indd 165 5/28/13 8:42 AM . é preciso considerar a diferença entre declarações de identidade (associa- das à instituição religiosa). depois. tendo preservado muitas das características originais. pri- meiro.3% para 8% da população brasileira. está menos relacionada ao ateís- mo e mais a formas de ligação com o sagrado e com o religioso desvinculadas de instituições religiosas. e se dá no interior de uma relação desigual entre duas culturas ou duas religiões. Foi assim que entidades divinas como os orixás do povo ioruba e os inquices dos povos bantos foram associados a santos católicos. resultou da sistematização de um processo maior de modif ica- ções. a repressão dos colonizadores portugueses e luso-descendentes. segundo o sociólogo francês Roger Bastide. mas sim da cultura.Fiéis durante lavagem das escadarias da Igreja do Senhor do Bonfim.3% em 2010. Foto de 2009. Para a antropóloga brasileira Regina Novaes (1952-). em 2000. binam e são reinterpretados. fundada no século XX. dominação polí- tica ou hegemonia cultural. de 7. o sincretismo não é próprio do campo da religião. A Tarde/Folhapress mero de pessoas que se declaram sem religião. como festas religiosas e seus símbolos. em que elementos de uma religião subjugada ou discriminada são incorporados às práticas religiosas dominantes. nas associações entre a orixá Iemanjá e a inquice Dandalunda com Nossa Senhora. em 2010. Essa desigualdade é consequência de relações históricas de dominação de classe. Seus rituais costumam ser embalados por cantos. em geral captadas pelo Censo. no mes- mo período. sobre- tudo entre os jovens. e das autoridades oficiais. No período colonial e do Brasil Im- pério. Essas formas se expressam numa espiritualidade individuali- zada e também na participação em manifestações cole- tivas. É recorrente a fala de que o Brasil é um país em que o sincretismo religioso está muito presente. em Salvador. Já o candomblé é a mais difundida entre as religiões trazidas pelos grupos africanos para o Brasil. o que revela que sua influência vai além daqueles que se declaram adeptos desses grupos religiosos. Ainda de acordo com o Censo. ou entre a orixá Iansã e Santa Bárbara. às religiões africanas e afro-brasileiras levaram os seus adeptos a fazerem adaptações para escapar da perseguição. em Sociedade e religião • 165 Sociologia_vu_PNLD15_149a170_C06. a expressão ideológica da inte- gração do negro à sociedade nacional. Embora sejam contingentes populacionais pequenos. apesar das mudanças. e declarações de convicções (associadas à vivência e às crenças dos indivíduos). no qual elementos de cultos e doutrinas diferentes se com. ou seja. O Censo 2010 também aponta um aumento do nú- Luciano da Matta/Ag. No conjunto das manifestações religiosas brasileiras. para 2%. os seguidores da umbanda e do candomblé mantiveram-se em 0. Para o antropólogo e soció- logo francês radicado no Brasil Pierre Sanchis (1928-).3%. Bahia. como a crença da manifestação de espíritos errantes em sessões medi- únicas e o abandono de rituais de sacrifício. uma explicação possível para esse crescimento. enquanto a população que se declara espírita passou de 1. Isso realmente não importa. a outra nega. mediante o poder político organizado. O que uma delas fornece em excesso.indd 166 5/28/13 8:42 AM . terreiros. essas experiências religiosas são todas complementares entre si. região em disputa pelos estados do Paraná e de Santa Catarina no início do século XX. mencionando. padrinhos e patrões. dEBatE De que forma o sincretismo religioso está presente nas práticas sociais do brasileiro? Segundo o que aprendemos neste capítulo.] Assim. pausa par a r E f l E t I r Quando tratamos de religião. DAMATTA. um inglês puritano ou um francês católico seria sinal de su- perstição e até mesmo de cinismo ou ignorância.. Recentemente houve grande aumento de pesquisas que oferecem aos etnólogos material para o melhor conhecimento da sociedade brasileira. 115-116. para nós é modo de ampliar nossa proteção. etnia. e muitas delas são ainda hoje praticadas. Do mesmo modo que temos pais. As sociedades de- vem garantir aos indivíduos e grupos sociais o direito à vida e à liberdade. a questão da religião.. Brasil? Rio de Janeiro: Rocco. em equipe. festejar o nosso orixá ou receber os bons fluidos da atmosfera de esperança que lá se forma. Aqui também nós. Roberto. Tais locais são cuidados e dirigidos por um pai (babalorixá) ou uma mãe (ialorixá) de santo. Essas garantias ao cidadão têm inspiração. religião ou qualquer outra condição. estão em pauta questões referentes aos direitos huma- nos. você diria que somos ou não um povo religioso? Acompanhe a exposição do antropólogo brasileiro Roberto DaMatta (1936-) e. brasileiros. idioma. na Declaração Universal dos Direitos Huma- nos. por serem eles inerentes a todas as pessoas. discutam o assunto. a outra pode proibir. o que faz o Brasil. Estudos sobre os movimentos messiânicos no Brasil revelam. E o que uma permite. E elas podem ser de duas tradições religiosas aparentemente divergentes. por exemplo. por exemplo. no dia 31 de dezembro vamos todos à praia vestidos de branco. O que uma intelectualiza. na- cionalidade. Acompanhemos um excerto do texto original: artigos I. nunca mutuamente excludentes. se no Natal vamos sempre à Missa do Galo. As religiões dos indígenas brasileiros são tão diversas quanto são os po- vos indígenas que habitam o território nacional. um dos documentos básicos das Nações Unidas. Somos todos mentirosos? Claro que não! Somos. como na Guerra do Contestado. O que para um norte- -americano calvinista. a associação de personagens míticos e rituais de origem indígena à sua ação política. como são chamados os locais de culto aos orixás. A Declaração contém os direitos de todos os seres huma- nos. logo após a Segunda Guerra Mundial. um modo de enfatizar essa enorme e comovente fé que todos nós temos na eternidade da vida. o direito ao trabalho e à educação. temos também entida- des sobrenaturais que nos protegem. E também. Assim. isso sim. p. entre outros assuntos. II e XVIII: 166 • CAPítulo 6 Sociologia_vu_PNLD15_149a170_C06. independentemente de sexo. a outra traduz num código de sensual devoção. 1986. profundamente religiosos. penso. assinada em 1948. buscamos o ambíguo e a relação entre esse mundo e o outro [. onde se realizam oferendas aos deuses e são feitas consultas espirituais. opinião política ou de outra natureza. de forma a provocar um debate sobre religiões afro-brasileiras e a noção de sincretismo religioso. 2012. é possível conciliar liberdade religiosa. Toda pessoa tem direito à liberdade de pensamento. 1. isolada ou coletivamente.org. 3. rituais e divindades. sexo. sem governo próprio.pdf>. em público ou em particular. Faça uma pesquisa na internet sobre as religiões afro-brasileiras (candomblé e umbanda). O que afirma a Declaração Universal dos Direitos Humanos a respeito da religião? 2. Artigo XVIII. Não será também feita nenhuma distinção fundada na condição política. pela prática. Todo ser humano tem capacidade para gozar os direitos e as liberdades estabe- lecidos nesta Declaração. em 10 de dezembro de 1948) Artigo I. Pelo que vemos diariamente nos noticiários e pelo que estudamos neste capítulo. pelo ensino. sugerimos que pro- cure conhecer mais sobre as religiões afro-brasileiras. sabemos que existem manifestações de intolerância religiosa em diversas partes do mundo. declaração dos direitos humanos. ou qualquer outra condição. Declaração Universal dos Direitos Humanos (Adotada e proclamada pela Resolução 217 A (III) da Assembleia Geral das Nações Unidas. Acesso em: 17 set. pelo culto e pela observância.br/img/DeclU_D_HumanosVersoInternet. ri- queza. sob tutela. quer se trate de um território independente. Selecione algumas dessas letras de música ou assista aos clipes disponíveis na internet. Disponível em: <http://unicrio. 1. Sociedade e religião • 167 Sociologia_vu_PNLD15_149a170_C06. Todos os seres humanos nascem livres e iguais em dignidade e direitos. cor. religião. como segue: 1. 2. consciência. Na sua opinião. religião. e escreva uma breve síntese. tolerância e direitos humanos? Qual seria o papel do Estado em relação a essa questão? dI á logos In tErdIscIplInar E s Considerando o que você aprendeu neste capítulo. NAÇÕES Unidas. nascimento. este di- reito inclui a liberdade de mudar de religião ou crença e a liberdade de manifestar essa religião ou crença. Pesquise as músicas interpretadas por Clara Nunes e Maria Bethânia que fazem referência a essas religiões.indd 167 5/28/13 8:42 AM . Apresente o material que conseguiu produzir em sua aula de: • Sociologia. estabelecendo as semelhanças e diferenças entre ambas. seja de raça. quer sujeito a qualquer outra limitação de soberania. seus símbolos. origem nacional ou social. Artigo II. Finalize seu texto com um comentário sobre o sincretismo religioso no Brasil e os locais em que há maior presença das religiões afro-brasileiras no país. 2. sem distinção de qualquer espécie. idioma. São dota- dos de razão e consciência e devem agir em relação uns aos outros com espírito de fra- ternidade. jurídi- ca ou internacional do país ou território a que pertença uma pessoa. • Música/Arte. • Língua Portuguesa. De que forma essas instituições se influenciam nos dias de hoje? conceitos-chave: Religião. em períodos diversos. 4. Domingo sangrento. direção de Paul Greengrass. Divulgação/Embrafilmes PINSKY. promessas. que provocou uma guerra civil. 2004. e que o religioso é apenas um deles. Brasil. normatização e argumentação. Itália/França. Carla B. para estudar a composição musical. Por que a religião é considerada culpada por inúmeros conflitos. para analisar o texto produzido. Jaime. • Geograf ia. Como os chamados “autores clássicos” da Sociologia analisam o tema da religião na modernidade? 2. revela o preconceito. São Paulo: Contexto. Essa reflexão mostra os vários tipos de fanatismos na realidade histórica e social. consciência coletiva. é correto af irmar que ela está em declínio? 3.indd 168 5/28/13 8:42 AM . Qual é a análise de Renato Ortiz sobre a religião na realidade atual? Para o autor. Pode-se observar ao longo da história. entre a incerteza e o idealismo. direção de Jean-Jacques Annaud. das suas origens à atualidade. O mundo muçulmano. PINSKY. secularização. seu ritmo e forma de expressão. Anselmo Duarte. 2001. O nome da rosa. 168 • CAPítulo 6 Sociologia_vu_PNLD15_149a170_C06. fenômeno religioso. direção de Anselmo Duarte. r E v I s a r E sIstE m atIza r 1. 1978. Peter. conflitos sociais.. dEscuBr a m aI s As Ciências Sociais na biblioteca DEMANT. Quais são as tendências apontadas por pesquisas recentes quanto ao Filipe Rocha/Arquivo da editora comportamento dos brasileiros com relação às práticas religiosas? 6. processo de desnaturalização. para verif icar os estados do país onde as religiões afro-brasileiras estão mais presentes. institucionalização social. Faces do fanatismo. As Ciências Sociais no cinema A árvore dos tamancos. Essa obra trata do Islã. a intolerância e o dogmatismo na realidade social. sem se restringir à questão religiosa. História em uma aldeia italiana que mostra o papel da fé religiosa na vida simples dos camponeses. Alemanha/França/Itália. 1986. dirigido por Filme clássico do cinema brasileiro que. fundamentalismo religioso. além de conflitos que envolvem direta ou indiretamente a religião islâmica. Relacione globalização. religião e fundamentalismo religioso. sincretismo religioso. Narra o início do confronto entre o IRA e o exército britânico. Inglaterra. uma es- treita relação entre o Estado e as religiões institucionalizadas. Cartaz do filme O pagador de O pagador de promessas. História escrita por Umberto Eco e adaptada para o cinema que possibilita refletir sobre o papel da Igreja católica e sua relação com o conhecimento na Idade Média. sobre- tudo após os atentados de 11 de setembro de 2001. sagrado. 1962. São Paulo: Contexto. 5. 2004. nos Estados Uni- dos? Essa perspectiva de análise é correta? Justif ique sua resposta. do ponto de vista da estru- tura. direção de Ermanno Olmi. 2012. ed. Clifford. Peter. Globalização. Retratos das Religiões no Brasil. 3. Charles (Org. DUPAS. Organização das Nações Unidas. La sociología: guia alfabética. Maria Julia. A memória coletiva. Jean. Tom (Ed. 302-312. Nelson. Gilberto. 1997. Tratado de Sociologia.br/cps/religioes/inicio. Reprodução/Editora Companhia das Letras BAECHLER. 37.). Acesso em: 6 nov. 20 anos. Dicionário do pensamento marxista. Roger. 2007. 2005. Tratado de Sociologia. A construção social da realidade. São Paulo: Livraria Pioneira/Edusp. Disponível em: <www. 1986. 2012. In: Os Pensadores. In: BOUDON. Barcelona: Editorial Ana- grama. (Org. Acesso em: 6 nov. 1994. Rio de Janeiro: Jorge Zahar. 2012. ed.br/home/ presidencia/noticias/noticia_visualiza. Peter. 2004. Sagrado. IBGE. Raymond. Disponível em: <www. 1978. São Paulo: Contexto. Zygmunt. 1995. 1974. GEERTZ. HOBSBAWM. Companhia das Letras). LUCKMANN. Rio de Janeiro: Jorge Zahar.ibge. Rio de Janeiro. Roberto.). As Ciências Sociais na rede Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística.br/documentos_direitoshumanos. BASTIDE. 1973. Ralf.). XXXIII. BOTTOMORE. 1973. (Dir.gov. p. A interpretação das culturas. instabilidades e imperativos de legi- timação.htm>. Raymond (Org. B IB lIografIa AQUINO. 1988. BAUMAN. 1948. São Paulo: Abril Cultural. Rio de Janeiro: Jorge Zahar. 1995. BIB. BERGER. _.ibge. Acesso em: 17 set. DAHRENDORF. Petrópolis: Vozes. Sociedade e religião • 169 Sociologia_vu_PNLD15_149a170_C06. Émile. Thomas. O mundo muçulmano. Hans. 247-282. São Paulo: Martins Fontes. Identidade. Auguste. José Jobson. ARRUDA. Madrid: Ediciones Rialp. GERTH. Rio de Janeiro: Jorge Zahar. HALBWACHS.php>. São Paulo: Vértice/Revista dos Tribunais. Sociologia. Las clases sociales y su conflicto en la sociedad industrial.. 1971. Maurice. Tratado de Sociologia. 1977. Atores e poderes na nova ordem global: assimetrias. p. As formas elementares da vida religiosa. CAROZZI. R. Rio de Janeiro: Jorge Zahar. In: BOUDON. BIRNBAUM. Atlântico Negro – na rota dos orixás. de Eric COMTE. BOUDON.indd 169 5/28/13 8:42 AM . vol.br/home/presidencia/ noticias/noticia_visualiza. Pierre. n.onu-brasil. Brasil?. Rio de Janeiro: Zahar Editores. Disponível em: <www. Rio de Janeiro: Editora ao Livro Técnico. Disponível em: <www. Tendências no estudo dos novos movimentos religiosos na América: os últimos Capa do livro Globalização. DAMATTA.). São Paulo: Martins Fontes. Curso de Filosofia Positiva.youtube. DUVIGNAUD. 1974. (Org. Jean. As religiões africanas no Brasil. 1999. Site ligado à Fundação Getúlio Vargas que traz informações e dados sobre as religiões no Brasil. Religião.fgv. No site do IBGE é possível acessar dados e estatísticas sobre as religiões no Brasil. Conflitos.php?id_noticia=2170&id_pagina=1>. Rio de Janeiro: Jorge Zahar. p. São Paulo: Companhia das Letras. da Unesp. Da divisão do trabalho social. 1974.). Anthony. 2012. 1996. Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. democracia e terrorismo. WRIGHT MILLS. DURKHEIM. História das sociedades. Rio de Janeiro: Zahar Editores. In: _.org. São Paulo: Ática. Rubin et al.php?id_noticia=2170&id_pagina=1>. 1990. _. 2005. 2005. PILETTI. O mal-estar da pós-modernidade. Hobsbawn (ed. 1º sem. democracia e terrorismo. Disponível em: <www. São Paulo: Ed.gov. Acesso em: 2 set. Porto Alegre: Artmed.). Acesso em: 6 nov. Max Weber: ensaios de Sociologia. Vídeo dirigido por Renato Barbieri sobre as religiões e os diversos tipos de cultos afro-brasileiros. 1998. DECLARAÇÃO UNIVERSAL DOS DIREITOS HUMANOS. DEMANT. 1995.com/watch?v=JYp6dM0dNxM>. 2012. 61-78. p. Eric. Toda a história. Rio de Janeiro: Rocco. 3. GIDDENS. 449-487. O que faz o Brasil. 2004. O que ler na ciência social brasileira (1970-1995). 2013. O que é fundamentalismo? Disponível em: <www. Sociologia v. 2005. Folha de S. 1991. 1º sem. 17. PIERUCCI. Anotações sobre religião e globalização. São Paulo: Scipione: 2000. Max. v. 2004. A Antropologia no Brasil: um roteiro. II. 1º sem. out. organizado por Jaime Pinsky e Carla Bassanezi RIBEIRO.comciencia. 30 dez. p. p. n. 237-286.. A realidade social das religiões no Brasil. dez.Paulo. São Paulo: Boitempo. Wagner Costa. 28. Filipe Rocha/Arquivo da editora 170 • CAPítulo 6 Sociologia_vu_PNLD15_149a170_C06. WEBER. Estudos Avançados. 123-137. A construção sincrética de uma identidade. n. n. Revista Brasileira de Ciências Sociais. Faces do fanatismo. Renato. Antonio Flávio. Reprodução/Editora Contexto NOVAES. 321-330. 17-28. Revista Brasileira de Ciências Sociais. Reginaldo. _.. Brasil: o declínio das religiões tradicionais no Censo 2000. As tramas sincréticas da História: sincretismo e modernidades no espaço luso-brasileiro. de 2008. Contexto).. 208- -230. Pluralismo religioso. n. Pinsky (ed. Horizonte. São Paulo: Sumaré: Anpocs. São Paulo. Danilo. Capa do livro Faces do PINSKY. v.18. MELATTI. São Paulo: Contexto. TEIXEIRA. Carla B. 21 jan. MARX. 59-74. São Paulo. 3. São Paulo: Vértice/Revista dos Tribunais. fanatismo. Brasília: CAPES. Regina. br/2004/reportagens/12shtml>. n. 2001. Sociologia da religião – área impuramente acadêmica. Karl. Ciências Sociais Hoje: anuário de Antropologia. Julio. p. Agência Brasil. p. p. 52. 2005. 1984. Bye bye. PRANDI. Rio de Janeiro. 52. NEGRÃO. 2000. 3-52. Dia Nacional de Combate à Intolerância Religiosa é comemorado pela primeira vez no Brasil. Crítica da Filosofia do Direito de Hegel. Política e Sociologia.1-92. “espírito de época” e novos sincretismos. Jaime. ORTIZ.indd 170 5/28/13 8:42 AM . Lísias Nogueira. MACEDO. Pierre. BIB. Belo Horizonte. 1996. Acesso em: 9 jan. p. Caderno Mais! São Paulo. 47. p. 1999. 1991. 16. 6. São Paulo: Hucitec. 2004. Os jovens sem religião: ventos secularizantes. Antônio Flávio. p. Criacionismo é fundamentalismo. Estudos avançados USP. v. PINSKY. PIERUCCI. 27-32. SANCHIS. Relações internacionais. _.. Anpocs. São Paulo. p. _. 18. São Paulo: Pioneira. A ética protestante e o espírito do capitalismo. Faustino. v. 1967. se refere à capacidade de agir. A relação entre Estado. uma conquista valiosa. em alguns casos. governo. fruto da participação dos indivíduos na sociedade. coibir – a participação ativa do cidadão em decisões e medidas de grande influência na socie- dade: o Estado.indd 171 5/28/13 8:43 AM . de modo geral. uma instituição social destaca-se pelo seu papel de permitir – ou. uma vez que poder. Veremos como a Ciência Política busca explicar o papel do Estado. No contexto contemporâneo. 171 Sociologia_vu_PNLD15_171a198_C07. sua função e as tensões entre os inte- resses individuais e coletivos que estão expressos nessa instituição social. política e Estado EstudarEmos nEstE capítulo: a cidadania. partidos políticos e sociedade civil está entre os objetos de discussão nas páginas que seguem. Salmo Dansa/Arquivo da editora Capítulo 7 Cidadania. É pelo exercício da política dos homens e mulheres de diversas idades que acontecem as transformações sociais. Cidadania é uma conquista Na década de 1990, o sociólogo Herbert de Souza (1935-1997) projetou e comandou a Ação da Cidadania contra a Fome, a Miséria e pela Vida. Aderiram à campanha brasileiros e brasileiras de todas as classes sociais, idades, ten- dências políticas e religiosas, empresas públicas e privadas, artistas, meios de comunicação e, principalmente, jovens dispostos a recolher e distribuir ali- mentos. Herbert apostou na juventude como o caminho para abrir espaço para a solidariedade no país, acreditando que a mudança social passa pelo combate à fome: Todos podem e devem comer, trabalhar e obter uma renda digna, ter escola, saúde, saneamento básico, educação, acesso à cultura. Ninguém deve viver na mi- Filip e Ro séria. Todos têm direito a vida digna, à cidadania. A sociedade existe para isso. Ou, cha/A rquiv o da edito ra então, ela simplesmente não presta para nada. O Estado só tem sentido se é um instrumento dessas garantias. A política, os partidos, as instituições, as leis só ser- vem para isso. Fora disso, só existe a presença do passado no presente, projetando no futuro o fracasso de mais uma geração. [...] Tenho fome de humanidade. SOUZA, Herbert de. O pão nosso. Veja 25 anos: reflexões para o futuro. São Paulo: Abril, 1993, p. 20-1. O clamor do sociólogo faz ecoar o quanto a cidadania é fruto da con- quista de direitos que possam levar a sociedade a se tornar mais igualitá- ria. A cidadania se relaciona, portanto, com o princípio de igualdade e com a ampliação da democracia na sociedade, ou seja, o respeito a direi- tos. Esses direitos são prerrogativas legais baseadas nos costumes e per- mitidas aos indivíduos dentro de princípios morais e de convivência so- cial. Por exemplo, o direito de praticar qualquer religião ou de exercer uma prof issão. A preocupação com a cidadania se consolidou com o advento da socieda- de industrial e as lutas sociais surgidas em seu seio nos séculos XIX e XX. Os avanços científicos desse período de modernização da sociedade, porém, não trouxeram benefícios imediatos para a maior parte das pessoas. No Brasil, como vimos nos capítulos anteriores, a ex- Patrícia Santos/Folha Imagem clusão desses indivíduos tem razões históri- cas que remetem tanto ao período de colo- nização, especialmente no que se refere à discriminação e marginalização de indíge- nas e afrodescendentes, quanto às políticas públicas implementadas após a Proclama- ção da Independência. Nesse sentido, a questão da inclusão e exclusão sociais só pode ser superada mediante a demanda por direitos e o alcance da cidadania. O sociólogo Herbert de Souza, o Betinho, em campanha da Ação da Cidadania contra a Fome, a Miséria e pela Vida, em 1995. 172 • capítulo 7 Sociologia_vu_PNLD15_171a198_C07.indd 172 5/28/13 8:43 AM Os direitos, legitimados pelas leis, decorrem da pressão e da mobilização da sociedade. Só existe cidadania quando há possibilidade de os indivíduos, com seus direitos e deveres, se tornarem sujeitos atuantes na história. A te- mática da cidadania vincula-se, assim, à dos movimentos sociais, tema do capítulo 8 deste livro, no qual estudaremos como a ação coletiva cria novos direitos e garante o respeito aos já existentes. Topham Picturepoint/Top Foto/Keystone O reconhecimento dos direitos humanos, atribuídos aos indivíduos independentemente de sua etnia, gênero, idade e religião, está, em tese, na base das atuais democracias. As rei- vindicações por liberdade e igualdade para todos apareceram pela primeira vez na Declaração de Independência dos Estados Uni- dos da América, em 1776, que inspirou a Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão, votada em pleno processo da Revolu- ção Francesa, em 1789. Entre os direitos previstos nesse docu- mento, estava o seguinte: “Todos os seres humanos nascem li- vres e iguais em dignidade e em direitos. Dotados de razão e de consciência, devem agir uns para com os outros em espíri- to de fraternidade”. Outro documento histórico que procurou garantir a exis- tência dos direitos humanos foi a Declaração Universal dos Direitos Humanos, aprovada em 1948 pela Assembleia Geral da Organi- zação das Nações Unidas (ONU). Esse documento atualizou o conteúdo das declarações anteriores, dando ênfase aos direitos individuais, dentre os quais a abolição da escravidão, a conde- nação da tortura, o direito à liberdade de expressão e de cons- Cartaz produzido pela ONU em 1948, contendo a ciência, o direito de ir e vir e o direito à educação e à cidadania. Declaração Universal dos Direitos Humanos em inglês. É importante ressaltar que, em todos esses casos, a reivin- dicação dos direitos humanos como ideais não tornou sua prática automa- ticamente perfeita. Um exemplo disso é o fato de o sufrágio universal só hh sufrágio universal: condição em que se ter consolidado mais de um século depois das duas primeiras declara- todos os cidadãos considerados maio- ções citadas, o que signif ica que nem todos os seres humanos eram de fato res de idade, independentemente de tratados como iguais. O mesmo acontece com os países signatários da de- gênero, etnia ou condição socioeconô- claração da ONU, que muitas vezes apoiam medidas e políticas internas e mica, têm o direito ao voto. externas que violam estes direitos. a cidadania ativa se traduz na busca por participação na sociedade e não pode ser apenas concedida ou tutelada pelo poder político. hh As origens dos conceitos de cidadão e cidadania Da raiz latina da palavra cidade (civitas) derivaram termos como civilização, civilizado, civil, cívico, civilidade. Temos na sua correspondente grega (polis) a origem das palavras político, politizado, polido. Todos esses termos, de alguma forma, se relacionam à ideia de cidadania. Cidadão, na Roma antiga, era o habitante não escravo da cidade, do sexo masculino, que participava da so- ciedade com seu poder de voz e de voto nos comícios e plebiscitos e com sua participação na administração pública. Portanto, embora essa participação interferisse na própria dinâmica dos espaços urbanos e rurais, cidadania não implicava igualdade. Antes dos romanos, pôde-se observar situação pa- Cidadania, política e Estado • 173 Sociologia_vu_PNLD15_171a198_C07.indd 173 5/28/13 8:43 AM Filipe Rocha/Arquivo da editora recida na Grécia antiga: era considerado cidadão quem desfrutava do direi- to de participar da vida política da cidade, o que era vedado à mulher, ao estrangeiro e ao escravo. Durante o declínio das monarquias absolutistas na Europa, deram-se lu- tas da burguesia por maior influência política, exigência de autonomia para as cidades e rebeliões sociais pelos direitos da população não nobre. Nesse contexto, emergiu a ideia da força da cidadania, principalmente por meio da associação de indivíduos em partidos e sindicatos. Aliás, a etimologia do nome burguesia se aproxima, pelo sentido, de cidadania, por ter origem na palavra burgo, que na Idade Média designava o núcleo fortif icado de um povoado. Ao estudar essa nova conf iguração da cidadania, o sociólogo britânico Thomas Humphrey Marshall (1893-1981) af irma que a cidadania não nas- ce acabada: trata-se de uma construção pela adição gradativa de novos di- reitos, conquistados por diferentes atores sociais, ao longo da formação da sociedade capitalista. Em seu livro Cidadania, classe social e status, publicado em 1950, Marshall via na cidadania o elemento de mudança social no contexto industrial in- glês. Tomando por base o desenvolvimento da sociedade inglesa, ele conce- beu o que denominou direitos sociais no conjunto de direitos presentes ao longo dos séculos. Esse conjunto de direitos é o que dá garantia à condição de cidadão. Os direitos segundo Marshall Século XVIII Século XIX Século XX Direitos civis Direitos políticos Direitos sociais Abrigam as liberdades Expressam o direito Compreendem a garantia individuais e a igualdade “universal” (masculino) a de trabalho, habitação, de direitos perante a lei, participar da vida pública transporte público, entre grupos (o voto). segurança, previdência considerados “legítimos” social, educação e saúde (as mulheres, por para a população como exemplo, estavam um todo. excluídas). Os direitos civis, datados do século XVIII, englobam as liberdades pes- soais de expressão e culto religioso, o direito à propriedade, o direito a um tratamento legal justo, ainda que estas determinações se aplicassem ape- nas a um grupo pequeno de pessoas (homens livres, por exemplo). Já os direitos políticos, conquistados no século XIX, correspondem a formas de participação no processo político, como o direito do voto (eleger e ser eleito), de ocupar cargos políticos e administrativos no aparelho do Esta- do, de participar de júri, entre outros. Os direitos sociais, por sua vez, aparecem como resultado das lutas do século XX e procuram garantir, entre outros, o trabalho para todos e a previdência social destinada aos indivíduos que não se encontram em condições de trabalhar, além dos aposentados. Os direitos civis também passaram a incluir diversas minorias 174 • capítulo 7 Sociologia_vu_PNLD15_171a198_C07.indd 174 5/28/13 8:43 AM sociais: minorias étnicas historicamente discriminadas (como os negros e os indígenas, no Brasil), homosse- xuais, transgêneros, mulheres, pessoas com def iciên- cia, etc. A contextualização histórica dos direitos aponta que, em um primeiro momento, a cidadania cobria os direi- tos de propriedade e igualdade perante as leis, contra a arbitrariedade do Estado. No século XX, porém, além de ter de administrar uma justiça impessoal voltada para to- dos, o Estado passou a ser responsável por garantir o res- peito à integridade do indivíduo e de seus bens. Uma das formas de fazer isto se deu com políticas de intervenção no trabalho, que visavam regulamentá-lo. Ao longo do século passado, nas sociedades ociden- Filipe Rocha/Arquivo da editora tais, o trabalho assalariado foi responsável tanto por uma nova estruturação das relações de trabalho quanto pela formação de uma identidade social. O trabalho como requisito para a cidadania, portanto, recebeu gradativas garantias constitucionais e legais quanto a jornada sema- nal, remuneração, condições de trabalho, participação de menores de ida- de, entre outras. Conquistas da cidadania e trabalho Danilo Verpa/Folhapress A esfera do trabalho é primordial ao exercício da cidadania no capitalismo, por corresponder ao espaço de sobrevivência material do ser humano. Ela envolve a produção econômica, o mercado de trabalho, a ge- ração e a apropriação da renda. Foi longo o processo social de reconhecimento do trabalho como condição para a cidadania. O sociólogo francês Robert Castel analisa a constituição da socie- dade salarial na França e localiza no século XX a passa- gem dos trabalhadores assalariados à condição de ci- dadãos reconhecidos como sujeitos sociais, com garantias e direitos. Nos séculos XVIII e XIX, receber salário – pagamento em recompensa dos serviços prestados – era garantia de reconhecimento no con- junto social, mas não evitava que o trabalhador vives- se em uma situação de pobreza e dependência. Para Castel, isso indicava uma espécie de subcidadania. Apenas no século XX o fato de “ter salário” passou a ser requisito de cidadania e de acesso ao consumo. Na sociedade industrial moderna, a condição de assa- Manifestação de trabalhadores da construção civil, em protesto lariado se tornou uma vantagem, permitindo o acesso contra empreiteiras, em São Paulo, 2008. ao consumo, por exemplo. A obtenção de alguns direi- tos foi decisiva nesse processo, como o direito ao tra- O trabalho com direitos garantidos por lei possibi- balho, à greve e à livre organização dos trabalhadores, lita a ascensão na sociedade, permitindo o acesso a tanto em sindicatos, associações e grêmios, quanto na bens e propriedades, e confere identidade à pessoa, articulação em vários níveis – local, regional, nacional. que se sente valorizada e reconhecida. Cidadania, política e Estado • 175 Sociologia_vu_PNLD15_171a198_C07.indd 175 5/28/13 8:43 AM dEbatE A relação entre trabalho e cidadania é resultado de séculos de lutas sociais. Leiam o texto abaixo e, em equipe, discutam o problema ilustrado pelo sociólogo Marco Aurélio Santana. hh banlieues: termo francês para de- Nas chamadas banlieues francesas pode-se ver claramente as digitais dos pro- signar a periferia de grandes cidades. cessos de transformação no mundo do trabalho, do desmantelamento das formas Nestas há, em geral, grande porcen- de proteção social, bem como do esgarçamento dos vínculos sociais aos quais são tagem de imigrantes com renda abai- submetidas as sociedades ao redor do globo, em meio ao redesenhar da produção xo da média francesa, o que ocasiona e da acumulação capitalista. [...] Nas revoltas de 2005 se faziam sentir, a partir da um contraste sociocultural e socioe- ação dos setores mais jovens das classes populares, longos anos de discriminação, conômico com as áreas centrais. desemprego e pobreza. O governo buscou reagir lançando mão: primeiro, da polí- cia, que na verdade foi o estopim da revolta graças às suas ações que beiram o persecutório contra esses jovens; depois, da derrama de recursos que visam ao re- modelamento das áreas carentes dos subúrbios e, por último, pela via da abertura da legislação trabalhista [...] no sentido de supostamente favorecer aos jovens a possibilidade de acesso ao mercado de trabalho. SANTANA, Marco Aurélio. Trabalho, flexibilização e ação coletiva: um olhar sobre o caso francês. 30º- Encontro Anual da ANPOCS, Caxambu (MG), 2006. p. 9. Bernard Bisson/Getty Images Protestos em subúrbio de Paris em novembro de 2005. Na faixa, em francês, os dizeres “A recusa da violência” e “A escolha de viver juntos” aparecem sobre as três palavras-símbolo da Revolução Francesa: liberdade, igualdade e fraternidade. 1. Com base no relato do autor sobre os conflitos ocorridos em Paris no ano de 2005 e suas consequências, analisem o processo de reconhecimento do indivíduo co- mo cidadão mediante o trabalho. 2. O texto traz um exemplo de como o Estado concede cidadania, por meio de acesso ao mercado de trabalho e ao consumo, a pessoas antes excluídas desta es- fera social. Citem exemplos de como o Estado fez isso no Brasil, justif icando-os. Políticas públicas: dilemas da cidadania Por meio de políticas públicas, o Estado intervém em diferentes dimen- sões da sociedade. Por vezes, os aspectos econômicos e sociais se confundem nessa intervenção estatal; nos programas de estímulo a empregos indus- triais, por exemplo, as garantias dos trabalhadores decorrem mais das ações de natureza econômica do que das ações sociais propriamente ditas. 176 • capítulo 7 Sociologia_vu_PNLD15_171a198_C07.indd 176 5/28/13 8:43 AM Desde seu surgimento até a atualidade, o Estado se caracteriza por ser a instituição politicamente organizada responsável pela esfera pública, seja ao geri-la, seja ao conceder sua gestão e fiscalizá-la. É possível separar o que é público da esfera privada? Como são formula- das as políticas públicas? Tudo depende da forma como determinada socie- dade se organiza. Nas sociedades socialistas, em que certos meios de produ- hh socializados: nas sociedades so- ção são socializados ou coletivos, o Estado assume as necessidades da cialistas, notadamente na União So- população integralmente. Já nas sociedades capitalistas, onde prevalece a viética, os meios de produção eram, propriedade privada, o Estado (desde que orientado para tal) procura aten- em geral, ou estatais (gerenciados der às necessidades sociais básicas, como educação, segurança e saúde. Para por funcionários do Estado) ou cole- que isso seja possível, cobra impostos e taxas, o que gera, por sua vez, a obri- tivos (gerenciados pelos próprios gação de fornecer e administrar os bens públicos. trabalhadores). p E squisa • Você conhece alguma política pública realizada no Brasil (na sua cidade ou esta- do)? Se você não conhece, é tempo de conhecer. Em uma equipe, pesquise um projeto ou uma política pública realizada pelo Estado, identif ique a justif icativa do projeto (por que ele existe) e a quem ele pretende atender. Sistematize por escrito os resultados dessa pesquisa e apresente-os para a turma. As grandes decisões de cunho econômico de uma nação, como obras de infraestrutura (pontes, barragens, estradas, portos, etc.) e formas de atrair investimentos, geralmente resultam de opções realizadas pelo grupo políti- co que está no poder. Não raras vezes, essas decisões e as intervenções delas resultantes manifestam o padrão de dominação social existente e se guiam pelos interesses desse grupo. No contexto atual de competição econômica intensa entre os países, muitas escolhas políticas podem levar o governo a deixar de atender às demandas mais imediatas da população – educação, saneamento, etc. Com isso, crescem ainda mais as desigualdades sociais in- ternas e entre os países. Miguel Riopa/Agência France-Presse Manifestantes protestam em Lisboa, capital de Portugal, contra as chamadas medidas de austeridade. Como condição para receber empréstimos em meio a uma grave crise econômica, o governo português aumentou impostos e cortou investimentos em áreas como saúde e seguridade social. Foto de 14 de novembro de 2012. Cidadania, política e Estado • 177 Sociologia_vu_PNLD15_171a198_C07.indd 177 5/28/13 8:43 AM etc. governo federal de Por outro lado. é preciso a participação do povo. Quando o Estado assume os “problemas sociais” como questões de “sua” responsabilidade. para que os direitos se concretizem em conquista efetiva. A construção e manuten- ção da infraestrutura coletiva (como hospitais. em que o lado menos favorecido apoia o mais favorecido em troca de al- gum tipo de proteção ou serviço de caráter imediato. na cidade do Rio de Janeiro. frentes de trabalho). elas se traduzem em mera assistência. consomem-se serviços de saú- de. O desenvolvimento de um país está vinculado à condição da cidadania de sua população e não ocorre somente com a superação da pobreza socioe- 178 • capítulo 7 Sociologia_vu_PNLD15_171a198_C07. As políticas sociais se voltam a questões do bem-estar dos cidadãos. As políticas sociais decorrem das necessidades da sociedade. de previdência social. os movimentos sociais organizados. às Rogério Reis/Pulsar Imagens vezes. e o seu sujeito típico é a empresa. na condição de “assistidos”. A forma- ção e a distribuição dos bens sociais em nossa sociedade dependem da inte- ração entre a esfera da economia e a da política. entre muitos. precária e in- suficiente. Estabelecer um limite entre o poder político e o poder econômico é sempre difícil. Por isso. estradas e açudes) é um direito social que exige o uso da tecnologia. até do capital advindos do poder econômico. Programas sociais assistencialistas geralmente visam desviar a atenção da falta de mudança em estruturas fundamentais para a garantia dos direitos. os sindicatos. são os partidos. em vez de consolidar o direito de para população de baixa renda. Desse modo. Foto de 2011. de educação. os direitos devem estar incorporados às conquistas sociais. seja por transferências diretas de renda. aos mais carentes.). Nesses casos. cuidados como esses são capazes de criar empregos (políticas de trabalho. Referimo-nos a clientelismo quando ocorre uma relação de submis- são. Outros sujeitos do poder político. professores mal remunera- dos. os usuários dos serviços oferecidos não se veem no di- reito de dispor de uma melhor atenção às suas necessidades. destinando-se a garantir um mínimo de consumo para todos os indivíduos. a posse e a gestão dos recursos econômicos. Isso ocorre quando. na medida em que atendem à demanda de reduzir os níveis de pobreza e construído por programa do superar desigualdades sociais e regionais de um país. de assistência pública e de proteção social. como postos de saúde com poucos médicos. de seguran- ça civil.indd 178 5/28/13 8:43 AM . seja pe- la provisão de serviços. Atribuição do Estado. etc. podemos dizer que está formulando e implementando políticas sociais. farmácias comunitárias sem medicamentos imprescindíveis. gerar renda (políti- cas salariais) e prover moradias populares (políticas Conjunto habitacional no habitacionais). de transporte de massa. que opera por meio de um aparato jurídico-administrativo (leis. cabendo ao Estado zelar por isso. Já o poder econômico tem por base a propriedade. O poder político diz respeito à distribuição coletiva dos re- cursos e seu sujeito máximo é o Estado. todos – o bem comum –. órgãos estatais. dos meios de produção e. em função da capacidade política de a sociedade se organizar para reivindicar. há sempre chances de que as políticas sociais assumam um financiamento de imóveis caráter assistencialista. bairro Campo Grande. A política pública de qualificação profissional. 2003]. p. a inclusão social e a consolidação da cidadania. 2007. só era considerado “senhor- -cidadão” aquele que controlava terras. sofre uma reorientação [. isso não aconteceu ae d ivo ao longo da história do Brasil. uma noção de inspiração ideo- lógica da Revolução Francesa (1789). Sob tal perspectiva. qual deve ser a ação do Estado para garantir a qualif icação prof issional co- mo um direito social? Condições da cidadania no Brasil Cidadania relaciona-se com liberdade. [..indd 179 5/28/13 8:43 AM . Cidadania implica vencer os diferentes problemas sociais por meio da participação política. Para que haja cidadania plena. Revista Ariús. visando tão somente uma inclusão produtiva... ou seja. seja no âm- bito das relações privadas (estabelecidas no processo de trabalho). conômica. como práticas e significados socialmente construídos. portanto. ser objeto de uma política nacionalmente articulada. cidadania e liberdade só existem quando direitos políticos. que persistiu por sé- rqu a/A culos. são uni- versalizados. Fili Mesmo após a independência do Brasil. o sociólogo Roberto Véras de Oliveira def ine a qualif icação prof is- sional como um direito social e. 58.. No entanto. 1. • Sabendo que políticas públicas atendem a diferentes necessidades de uma popu- lação. Para a socióloga brasileira Teresa Sales. Campina Grande. a qualificação profissional é afirmada na perspectiva do direito social. ela vai além de campanhas e programas específ icos ou emer- genciais./jul. Em pri- meiro lugar. Segundo a cientista política Elisa Reis (1946-). mais do que uma ação formativa de conteúdo técnico.. civis e sociais são naturalizados em uma sociedade nacional.] através fundamentalmente do PNQ [Plano Nacional de Qualificação. é responsável por desigualdades de renda e étnico-raciais que se man- ch Ro pe têm ainda hoje. seja no âmbito dos processos públicos (de construção de políticas públicas). Momento atual da política pública de qualificação profissional no Brasil: desafios e inflexões. eram esses proprie- Cidadania. mas se estende à necessidade de ampliar e amadurecer a esfera de participação política.. portanto. 13. A conquista da cidadania exige instrumentos de reivindicação. Trata-se. a qualificação deve orientar-se para a busca de uma inclusão cidadã. de uma qualificação social e profissional [.]. possuía escravos e detinha poder político local. n. jan. paus a para rEflEtir No texto a seguir. Essa ausência de direitos. é preciso que os direitos sociais venham ora dit acompanhados dos direitos civis e políticos. política e Estado • 179 Sociologia_vu_PNLD15_171a198_C07.]. Devendo. OLIVEIRA. em um sen- tido mais amplo. objeto da ação do Estado que se preocu- pa com a inclusão social. Roberto Véras. sustentada publicamente e orientada para o desenvolvimento sustentável. nascida do projeto burguês de so- ciedade a partir do século XVIII. v. nesses termos. con- trolada socialmente. Ribeirão Preto e Campinas. mas não incluiu os analfabetos. foi considerada a “Constituição cidadã”. Lula Marques/Folhapress tários que cediam aos indivíduos pobres a condição de cidadãos. A primeira Constituição do Brasil republicano. que regulamentou o trabalho no país.] Em 1907 [por exemplo]. Uma identidade operária começou a se forjar então. Por isso. finalidade elaborar uma nova Constituição para o Brasil. os trabalha- A Constituição de 1988 é apresentada pelo deputado dores brasileiros protagonizaram conquistas sociais.]. na indústria da alimentação e metalurgia. trabalho e cotidiano. Por meio da organização e da associação. A formalização do trabalho assegu- rou a inclusão social e uma rede de proteção ao trabalhador. gráficos. Indústria. presidente da Assembleia caso do Brasil. 11. Foi o que aconteceu no período do governo de Getúlio Vargas entre 1937 e 1945 (o chamado “Estado Novo”). pois. Apesar dessas restrições à cidadania. A luta do operariado pela jornada diária de 8 horas de trabalho foi constante ao longo do primeiro período republicano.. o de justiça. sob censura. O movimento foi reprimido violentamente e apenas alguns setores operários obtiveram vitórias parciais. sapatei- ros e operários têxteis. eclodiu em São Paulo e atingiu Santos. nega- va-se a cidadania ao ser humano livre e pobre. o governo instituiu em 1943 o estatuto jurídico denominado Consolidação das Leis do Trabalho (CLT)... as mulheres. só tiveram direito ao voto com a Constituição de 1934. podemos compreender como o movimento dos trabalhadores or- ganizou-se. ao mesmo tempo que a elite concedia. p. Foi com a urbanização e a industrialização. por exemplo. em virtude da am- pliação dos direitos sociais e do combate à discriminação social. 1991. e os analfabetos. Sales identif ica que os primeiros direi- tos civis – o de ir e vir. contrapondo-se aos interesses burgueses [. o direito à propriedade e ao trabalho – nasceram de uma espécie de “cidadania concedida”. na forma de greves gerais e mobilizações. de 1891. Desde o início do século XX ocorreram greves pela redução da jornada de trabalho. DE DECCA. No Ulysses Guimarães (1916-1992). os pa- dres e os soldados como indivíduos atuantes na vida polí- tica nacional. estendeu a cidadania a outros setores da popula- ção. Essa assembleia foi composta por deputados eleitos pelo povo e teve como balhadores passou por tensões.. Essa gênese da cidadania brasileira é contra- ditória. As mulheres. [. que depen- dia dos favores do dono de terras para poder usufruir de direitos elementares. Brasil – 1889 a 1930. São Paulo: Atual.indd 180 5/28/13 8:43 AM . Maria Auxiliadora. com a Constituição de 1988. processos decisivos de 1890 em diante. No texto a seguir. uma vez que em alguns momentos históricos o Estado restringiu os direitos civis e políticos. no qual o Congresso estava suspenso e a imprensa. Esta última. 1988. que o operariado emergiu como força social significativa nos vários centros urbanos. em Brasília. esse processo de lutas e conquistas dos tra- Nacional Constituinte. conflitos e contradições. a greve abrangeu posteriormente empregados da limpeza pública. reconhecendo o direito coletivo e as garantias dos contratos individuais. 180 • capítulo 7 Sociologia_vu_PNLD15_171a198_C07. a f im de conquistar esses direitos. ainda em vigor. tendo sido desencadeada na construção civil. o cientista político Wanderley Guilherme dos Santos (1935-) utiliza a expres- são cidadania regulada. como pipoqueiros. lho situado entre a formalidade e a informalidade. no Congresso Nacional. etc. Santos refere-se à cidadania como uma concessão na cultura cívica do país. não é regulamentada. Ao estabelecer esta correlação. outras políticas sociais vol- tadas a esses grupos foram implementadas. e os trabalhadores excluí- dos do mercado formal sofrem com a desigualdade de benefícios e uma crescente marginalização social. O Estado brasileiro concede cidadania aos trabalhadores que seguem prof issões regulamentadas. Ain- da há muitas categorias excluídas deste processo. pelo fato de o Estado interferir e regular hh cultura cívica: forma como os indi- a vida econômica sem deixar de promover o desenvolvimento capitalista. Cidadania. Vale desta- car que é permanente o confronto entre a legalidade (o prescrito em lei. embora não seja proibida no país. vendedores ambulantes. víduos aceitam e se relacionam com o Apesar das conquistas obtidas na lei.). ou seja. têm carteira pro- f issional assinada e são f iliados a um sindicato registrado. Mais recentemente. como é o caso do acesso à saúde pública. até então. José Cruz/Agência Brasil Manifestação em novembro de 2012.Estado. Essa tensão ocorre também em relação ao mundo do trabalho. Para essa situação. Apenas com a Constituição de 1988 foram ampliados os direitos para aqueles que estão fora da contratação formal de trabalho. esta não é ainda uma realidade efetiva para todos os indivíduos. A PEC entrou em vigor em abril de 2013. na prática existe um mercado de traba. em Brasília (DF). Além de estarem sujeitas.indd 181 5/28/13 8:43 AM . a condições distintas de trabalho pela Constituição de 1988. o formal) e a legitimidade (aquilo que é aceito). como a das pessoas que exercem a prostituição – que. as empregadas domésticas muitas vezes não têm registro formal de trabalho. como o Bolsa Família (que transfere renda a famílias consideradas extremamente pobres) e a criação da categoria de microempreendedor individual (que formaliza trabalha- dores autônomos. política e Estado • 181 Sociologia_vu_PNLD15_171a198_C07. pela aprovação de Proposta de Emenda à Constituição (PEC) que garante às empregadas domésticas os mesmos direitos trabalhistas dos demais trabalhadores. são cidadãos apenas aqueles que têm ocupa- ções reconhecidas e def inidas em lei. Embora seja importante valorizar as conquistas obtidas por meio de leis. Fazemos política na escola ou na universidade quando participamos das organizações estudantis.indd 182 5/28/13 8:43 AM . a política f ica de lado e o povo hh alijado: afastado. do nosso país. Mas. como parte do povo brasileiro. O f ilósofo grego Aristóteles (384-322 a. excluído. do seu estado e do seu país. partidos políticos ou grupos re- ligiosos. da palavra. Por muito tempo – da independência até o início do período republicano –. até o envolvimento formal com movi- mentos sociais. da zona rural. tomam decisões e agem por nós em determinadas esferas do poder. você foi levado a pensar assim pelo próprio desenrolar histórico de nosso país.) af irmava que o ser humano é um animal político e. quando queremos decidir o que é essencial para nossa vida. mas à vida da cidade como um todo. funcionários e professores da Universidade Federal da Paraíba (UFPB) em 2011. na reitoria da instituição. A políti- ca está no nosso cotidiano.A Press reivindicar iluminação ou a instalação de um semáforo. saiba que. Nesse caso. nessa condição. regimes políticos autocráticos. que ela é cansativa e deve ser deixada para quem entende do assunto. Nessa concepção. Fazemos política quando. da nossa cidade. Participar de eleições é somente uma das formas de atuar politicamente. do grêmio ou do diretório acadêmico. quando os meios políticos não estão disponí- veis. caracterizados pelo autoritarismo e pela concentração do poder. No decorrer do século XX. ainda. ou seja. como no período da ditadura militar (1964-1985) ou no do Estado Novo (1937-1945). Assembleia de alunos. Se você está entre aqueles que pensam que a política se restringe aos políticos. É por ela também que os desprovi- vencer um indivíduo a aceitar uma dos de direitos e benefícios podem mudar a sociedade e atuar coletivamente ideia ou realizar uma ação. fazemos política em nosso cotidiano. votar e ser votado eram privilégios dos ricos e poderosos. desde uma reunião de moradores do bairro para Alessandro Assunção/ON/D. existiram. O diálogo é parte essencial da política nos Estados democráticos.C. sendo re- munerados para exercer essa função: isso é o que def ine uma democracia representativa. embora seja uma parte importante da atividade política. em prol do bem comum. se vê alijado de decidir sobre seus representantes e de participar das deci- sões sobre o destino da sua cidade. Pelo exercício da política – do diálogo. Tudo isso contribuiu para afastar o povo da política e espalhar a ideia de que ela cabe apenas aos partidos e políticos eleitos. a política não se restringiria à dimensão do Estado. Os governos autocráticos visavam controlar a sociedade por meio da repressão. Fazemos política ao nos interessarmos pelas coisas do nosso bairro. pode ocorrer o uso da força. Poder e política: exercício e participação hh persuasão: indução de forma pacífi. nos unimos para con- quistar melhorias ou participamos do sindicato. da persuasão – os se- ca ou coercitiva com o intuito de con. res humanos transformam sua realidade. no local de trabalho. enf im. Por meio das eleições escolhemos aqueles que nos representam. 182 • capítulo 7 Sociologia_vu_PNLD15_171a198_C07. ou seja. executa aquilo que as leis determinam e administra as políticas. deputados e senadores) formulam leis e def inem o desarmamento no Brasil. a política se relaciona ao poder do Estado e aos indivíduos que aspiram obtê-lo. seja no interior de um único Estado. Para ele. Há outras def inições do conceito de política que a restringem a estraté- gias específ icas.indd 183 5/28/13 8:43 AM . Nas repúblicas federativas presidencialistas. ele tem relação com a capacidade de man- do de um ser humano ou de um grupo de pessoas sobre determinada comuni- dade ou país. e não apenas no Estado. o poder não pode ser visto como uma via de mão única. os deputados estaduais e governadores no nível do estado. e os deputados federais. O Poder Executivo. na sala de aula (na relação entre professor e aluno). Mas o que é o poder? Para Weber. nas instituições religiosas (com a autoridade do padre. No caso de repúblicas federativas presidencialistas como o Brasil. Já o Poder Judiciário julga o cumprimento das leis pelos cidadãos. nas relações de gênero (entre homens e mulheres). Suas decisões nos afetam diretamente. etc. pelo go- vernador (no estado) e pelo presidente (no país). senadores e o presidente no nível federal. política e Estado • 183 Sociologia_vu_PNLD15_171a198_C07. gados. o Legislativo e o Executivo são eleitos pelo voto popular. diferentes atribuições são Mulher vota em urna eletrônica na cidade de São Paulo delegadas aos diferentes representantes. chef iado pelo prefeito (no município). obras e serviços públicos. os projetos. Ele defendia que os po- deres não deveriam se concentrar nas mãos de um só indivíduo ou de um só poder. onde os recursos arrecadados devem ser empre. são os vereadores e prefeitos no nível do município. Os membros eleitos do Poder Le- durante referendo sobre o gislativo (vereadores. o poder está presente nas microrrelações: na famí- lia (onde existe a autoridade do pai e da mãe). Max Weber expõe em seu livro Ciência e política: duas vocações que política é o conjunto de esforços feitos com vistas a participar do poder ou a influenciar a divisão de poder. o f ilósofo francês Michel Foucault (1926- Filipe Rocha/Arquivo da editora -1984) destaca que o poder se encontra em todas as relações sociais. Porém. Em uma visão mais alargada. No caso do Brasil. do pastor ou de outros líderes em relação aos seus f iéis). seja entre Estados. 2005. as leis e a condu- Delfim Martins/Pulsar Imagens ção das políticas de Estado são votadas e concre- tizadas por aqueles que escolhemos como repre- sentantes políticos. A divisão de poderes em três esferas foi elaborada pelo pensador ilumi- nista francês Charles de Montesquieu (1689-1755). A ideia era que cada poder funcio- nasse independentemente. pois este tenderia a abusar dele. enquanto os mem- bros do Judiciário são selecionados mediante concursos públicos. em orçamento anual. Assim. As propostas. é preciso que esta seja aceita pelos dominados para que se mantenha. ou seja. Ele depende da legitimidade da dominação (conceito que vimos no capítulo 1). Cidadania. mas sempre sob a f iscalização dos demais. desde o custo do pão de ca- da dia à possibilidade ou não de estudar em uma escola de qualidade. aprendemos a fazer política também nas relações estabelecidas nos vários espaços sociais dos quais participamos. Zygmunt. O poder está difuso. p. 184 • capítulo 7 Sociologia_vu_PNLD15_171a198_C07. na praia do Calhau.indd 184 5/28/13 8:43 AM . Por se constituir num espaço que ao mesmo tempo é de todos e não é propriedade de ninguém. capital do Maranhão.]. dEbatE Quando o sociólogo polonês Zygmunt Bauman (1925-) nos mostra o princípio da democracia – o poder de todos –. 2008. A sociedade individualizada: vidas contadas e histórias vividas. Cidadania: entre o público e o privado O pensador francês Alexis de Tocqueville (1805-1859). em São Luís. • Quais práticas de nossa sociedade levam a identif icar o caráter político af irmativo da democracia? Promovam um debate questionando em que aspectos a realidade atual do país se distancia dessa ideia inicial.A Press Pensar a cidadania entre as duas esferas – a pública e a privada – torna possível entendê-la como o conjunto de direitos e deveres na convivência coletiva. a democra- cia é uma constante alegação em nome de todos [. discutiu a cidadania pela ótica do espaço urbano.. pois a cidade é o local onde primeiro se manifesta a distinção entre o poder público e o po- der privado. ergue aos nossos olhos a importância da conquis- ta da cidadania: Esta ideia [de cidadão como membro de um corpo político e titular do decidir. BAUMAN. Rio de Janeiro: Zahar. [. a cidadania diz respeito às relações entre o Estado e os cidadãos.. A tensão perma- nente entre indivíduo e sociedade que a cidadania faz sur- gir é própria da vida política. Tal modelo de democracia moderna nunca foi completamente implementado. prerrogativas e obrigações] foi lan- çada na fundação da democracia moderna e da visão de república – res publica – como um corpo político cujos membros deliberam coletivamente sobre como mol- dar as condições de sua coabitação. A delimitação entre o espaço público (de interesse geral) e o espaço privado (restrito a indivíduos) articula-se justamente por meio do Estado. cooperação e solidariedade. sobre direitos e deveres. definindo o espaço público quanto a direitos e obrigações dos cidadãos. como outros auto- res clássicos.. em 2012. no sentido de que é algo que se exerce e se efetua. Karlos Geromy/OIMP/D. Pessoas participam de mutirão do Dia Mundial da Limpeza das Praias. heterogêneo. 74. com outros membros. Para Foucault. Podemos identif icar relações de poder e exercício da política em todas as esferas de nossa vida.. e há sempre múltiplas resistências dentro da própria rede de poder. Poder é uma prática social. é possível verif icar esses poderes mí- nimos em qualquer situação concreta. na tensão exis- tente nas relações sociais.] Enquanto os poderes constituídos promovem o governo de poucos. a esfera pública está sujeita tanto ao descaso dos indivíduos como ao benefício de ações coletivas. Os direitos civis englobam os francesa e símbolo da monarquia direitos de grupos dentro da sociedade – mulheres. O palácio de Versalhes e seus A questão dos direitos civis vai além da conquista de espaços setoriais. jardins em pintura de Pierre Patel. tudo pertencia ao rei. há um declínio da esfera pública com consequências sociais graves para o conjunto das relações: há a privatização do que deveria ser de todos. migrantes. A palavra pri- vado. The Bridgeman Art Library/Getty Images A esfera pública e a esfera privada nasceram de uma transformação his- tórica da propriedade. pessoas com deficiência (PCD) e outros grupos historicamente discriminados ou marginalizados –. os reis e seus súditos assumiram publicamen- te sua condição de proprietários. de estabelecer interações com os grupos sociais. no momento em que o Estado moderno é instituí- do. Com isso. Na modernidade. A esfera privada corresponde aos interesses particulares. pro- tegida por todos) se destinava à vida privada. a riqueza se transformou em capital. Na passagem da era feudal para a moderna. aparentemente não é de ninguém.indd 185 5/28/13 8:43 AM . à previdência ou mesmo à sobrevivência ma- construção foi sede da corte terial. originalmente. exi- gindo proteção para seus bens e pro- priedades. A f ilósofa política alemã Hannah Arendt (1906-1975) def iniu a esfera pública como o “mundo comum” – aquilo que é de todos e. portanto. indígenas. dando mar- gem ao fenômeno da corrupção. pas- sou a ser um proveito para o indiví- duo. que hoje se organizam para reivindicar tratamentos específicos e espaços que lhes foram retirados ou negados. pois a riqueza que deveria ser comum (e. imigrantes. tem relação com privação. Até então. de 1668. e a apropriação destes por qualquer indivíduo ou grupo passa a ser proibida e considerada um ato de corrupção. sem-teto. absolutista de Luís XIV. Cidadania. isso causou uma contradição. os bens do rei são separados dos recursos do Estado. A pomposa mo o direito à educação básica. essa con- tradição entre as esferas pública e pri- vada se agravou. no sentido de que viver uma vida inteiramente privada signif ica ser destituído de ser visto e ouvido pelos outros. A possibilidade de estar com os outros. negros. ela não se restringe aos direitos humanos. contribui para que ela seja alcançada nas sociedades contemporâneas. Quando os membros de uma sociedade perdem essa noção. ou seja. Isso implica respeito e respon- sabilidade ao que é de todos para que cada um possa usufruir esse “mundo comum”. insere o indivíduo no espa- ço público. Sociologicamente. sem-terra. a de- mocracia se restringe e os direitos coletivos f icam diminuídos. idosos. ao mesmo tempo. o debate sobre cidadania. co. promovido também pelas ciências Sociais. A Ciência Política aponta a origem da corrupção política quando da queda da monarquia absolutista. af irma Arendt. política e Estado • 185 Sociologia_vu_PNLD15_171a198_C07. sobre como você percebe os direitos de cidadania e as dif iculdades para que todos vivam uma cidadania plena em nosso país.indd 186 5/28/13 8:43 AM . Um dos pri- meiros estudiosos a fornecer as bases para essa concepção foi o historiador e 186 • capítulo 7 Sociologia_vu_PNLD15_171a198_C07. Escreva. Relate algum caso que você conheça e que tenha signif icado uma conquista ou uma ampliação de direitos de cidadania. leis e regras de convivência que garantam os direitos e a segurança dos cida- dãos. 2. é necessária a existência de tratamento ético. Assim. mas articula esses filosofia política. Angeli/Acervo do cartunista 1. até mesmo contra ações muitas vezes arbitrárias dos Estados. significa respeito e direitos individuais aos sociais e coletivos. Estado e sociedade Desde a Idade Moderna. Essa concepção se ba- hh dignidade: no campo da ética e da seia no reconhecido valor do ser humano à dignidade. o exercício do poder político legítimo é consi- derado em nossa sociedade uma atividade própria do Estado. pausa par a r E f l E t i r Observe atentamente a charge de Angeli reproduzida a seguir. em poucos parágrafos. Tem prevalecido como ideal em nossa sociedade e entre cientistas sociais a concepção universalista dos direitos do indivíduo. Ela faz uma crítica social e nos reporta aos direitos de cidadania. a f im de que não permanecessem vulneráveis aos exércitos de outras nações. Hoje. Segundo o cientista político italiano Lu. a noção de sociedade civil Rousseau (1712-1778) ela era justamente a origem foi se distanciando da de sociedade política. como rei da Inglaterra. Gravura de 1860. o res. Cidadania. A sociedade Idade Média. o poder político passa a obedecer a normas qualidades perdidas quando a sociedade civil se e leis próprias. assim. na qual a von- ciano Gruppi (1920-2003). tampouco quanto às interpretações teóricas a respeito dela. Se Locke considerava a propriedade privada um Conforme a burguesia e o Estado moderno se direito natural. para o filósofo suíço Jean-Jacques consolidavam na Europa. tanto o poder como a propriedade eram civil. à saúde e à proprie. para aceitar a dominação. que acompanhou atenta- mente a centralização política que ocorria em outras partes da Europa. no entanto. na sociedade qual os seres humanos eram bons. esses ria uma degeneração do estado de natureza. diplomata italiano Nicolau Maquiavel (1469-1527). precisa de um poder imparcial e legítimo para mediar conflitos. O homem. a propriedade continue sendo transmitida de pai Para Rousseau. a ideia de que. garante-se a democracia no tade geral do povo seria soberana – ou seja. em 1689. livre e igual por natureza. garantindo os direitos que já tinha A coroação de Guilherme III. a sociedade civil – que. é sinônimo de Estado. próprio povo. a sociedade precisa considerá-la legítima. Maquiavel adverte que ele não pode ser odia- do. Maquiavel bus- cou orientar aquele que pudesse unif icar as cidades italianas em um Estado. desde essa época. por meio de políticas públicas. unanimidade quanto ao papel dessa instituição social. Embora aconselhe ao soberano que se faça temido pelos governados (inclusive com o uso da força). transformasse em sociedade política. está em conformidade com os fundamentos liberais da burguesia em ascensão na Inglaterra do século XVII. se- hereditários. à liberdade. pela qual.indd 187 5/28/13 8:43 AM . Para no estado natural: à vida. Guilherme de Orange dade. os homens lutavam uns contra os outros pelo poder e por rique- zas. as leis e regras a serem seguidas emanassem do terfira na propriedade e na livre iniciativa econômica. os indivíduos abrem mão de sua liberda- de e concebem regras de convivência a fim de garantir condições mínimas de estabilidade./Diomedia rada pelo filósofo inglês Thomas Hobbes (1588-1679). em seu estado natural. na prática. no pensamento de Hobbes. política e Estado • 187 Sociologia_vu_PNLD15_171a198_C07. pode-se af irmar que o Estado tem como função assegurar. peito à propriedade como um direito natural do homem repassava o poder político para o Parlamento. Vê-se então. desde que esta não in. Por isso. a so- ciedade civil é mais um aprimoramento do estado natu- ral do que uma solução para ele. É fato que esse é um tema controverso. na qual âmbito da sociedade política. certas condições de vida que a sociedade consi- dera necessárias à população. no dois aspectos se desvinculam: embora. Além da ideia de igualdade no nascimento. Para o filósofo inglês John Locke (1632-1704). civil. Na sociedade burguesa moderna. Não há. Com base em análises de fatos de sua época e de outros períodos. ser coroado após a Revolução Gloriosa. Forma-se. Concepções de Estado e sociedade civil na Idade Moderna A primeira definição de sociedade civil foi elabo- Diosphere Ltd. instaurada com a invenção da propriedade. Durante a da desigualdade e da corrupção moral. os indivíduos só recuperariam as para filho. aceitou os termos da Declaração de Direitos. livres e felizes. Ele acreditava que. ou “a imagem e a realidade da razão”. o Estado é um produto da sociedade e seu papel é amortecer os conflitos sociais. Mas para que esses antagonismos. O que é e como funciona o Estado? Não há uma visão única sobre isso. aparelhos como a polícia estão a serviço da ordem social vigente. do sistema judiciário e do aparato da polícia) e tem por função a repressão. tampouco é “a realidade da ideia moral”. Eis a sua concepção: O Estado não é. um poder que se impôs à sociedade de fora para dentro. Esta. de modo algum. A origem da família. um “monopólio da violência legítima”. estabelece-se uma relação de “do- minação do homem sobre o homem”. Friedrich. Já o f ilósofo político grego Nicos Poulantzas (1936-1979) pensa o Estado como uma relação de forças. ou seja. mas posto acima dela e distanciando-se cada vez mais. durante protesto. é a confissão de que essa sociedade se enredou numa irremediável contradição consigo mesma e está dividida por antagonismos irre- conciliáveis [. por sua vez. evi- tar os choques entre as classes e. trata-se da obediên- cia da população a um grupo dominante mediante uma violência reconhecida e amparada legalmente. f ilósofo fran- cês. torna-se necessário um poder colocado aparentemente acima da socieda- de. Estudantes entram em confronto com o Batalhão de Choque da Polícia Militar. da administração. Acompanhe. o Estado é composto por aparelhos ou instituições sociais (como é o caso do exército. p. 188 • capítulo 7 Sociologia_vu_PNLD15_171a198_C07. no quadro da página seguinte. É antes um produto da sociedade. Em outras palavras. nascido da sociedade. 1985. Nesse sentido. de certo modo. a perspectiva de diferentes au- tores sobre a natureza do Estado. o Estado só pode existir quando os seres humanos se submetem à autori- dade de um grupo dominante. uma relação de poder entre as classes sociais e no próprio interior delas. é moldada pelos interesses da classe dominante. em 2012. contra o aumento de passagens do transporte público na Região Metropolitana do Recife. quando esta chega a um determinado grau de desenvolvimento..]. é o Estado. Esse poder. essas classes com interesses econômicos colidentes não se devorem e não consumam a sociedade numa luta estéril. 227. Para Althusser. ENGELS. assegurar a reprodução do sistema social. São Paulo: Global. Para Louis Althusser (1918-1990). Teresa Maia/DP/D. pois. Na interpretação do f ilósofo alemão Friedrich Engels (1820-1895).indd 188 5/28/13 8:43 AM . que faz com que o Estado esteja a seu serviço.. a manutenção da ordem so- cial. quando essa instituição se cons- titui.A Press Na concepção do sociólogo Max Weber. chamado a amortecer o choque e a mantê-lo dentro dos limites da “ordem”. da propriedade privada e do Estado. característico: que hoje só exista coação “legítima” desde que a or- dem estatal o permita ou prescreva. 1977. v. a ciência. igreja.). etc. pois responde aos movimentos das outras classes Ianni sociais e age conforme as determinações das relações entre elas. Carac- teriza hoje formalmente ao Estado o ser uma ordem jurídica e administrativa – cujos preceitos podem variar – pela qual se orienta a atividade [. O poder e a ideologia. a filosofia. Interpretações sobre a natureza do Estado No Estado prevalece o poder organizado de uma classe social que é dominante por deter a propriedade dos meios materiais de produção. semelhante à racionalidade da empresa moderna. são (1918-1990) exercidos por essas organizações formais mediante símbolos e práticas sociais. portanto. legalmente reconhecida. sobretudo.. Identif ique situações em que o Estado con- temporâneo. A base comporta a unidade de forças produtivas e relações de produção. Louis As relações de poder necessitam de instituições que as reproduzam – escola. Isso ocorre com a criação de noções como a de identidade nacional. Uma delas é a vio- lência legítima.. família. (1820-1895) Max Weber O Estado existe quando há obediência à autoridade de um grupo dominante e essa relação de dominação (1864-1920) está fundada na violência legítima. fenômenos correlatos. É conveniente definir o conceito de Estado em correspondência com o moder- no tipo do mesmo – já que em seu pleno desenvolvimento é inteiramente moderno – mas com abstração de seus f ins concretos e variáveis. Friedrich O Estado é um produto da sociedade e tem como papel amortecer os conflitos. disputando poder com outras instituições sociais. Octavio O Estado não é apenas um órgão da classe dominante.] que se pretende válida aos membros da associação – que a ela pertencem essencialmente por nascimento – como também toda ação executada no território a que se estende a dominação [. faz valer seu cará- ter de coação legítima. que são os aparelhos ideológicos do Estado.. já a (1818-1883) superestrutura é composta das instâncias jurídico-política (o Direito e o Estado) e ideológica (a moral. Ele faz parte do jogo de interesses sociais. Max. 45. p. bem como na organização do consentimento Gramsci – ou seja. os choques entre as classes Engels e assegurar a reprodução do sistema social. Cidadania. Leia com atenção e responda à questão. Bogotá: Fondo de Cultura Económica. 1. amparada pela lei e aceita como tal. pela aceitação (1891-1937) da autoridade. segundo Weber. É. (1926-2004) E ncon tro com os ciEn tis tas s oc i ai s Max Weber teoriza sobre as características do Estado moderno. política e Estado • 189 Sociologia_vu_PNLD15_171a198_C07. Economía y sociedad. veículos de Althusser comunicação.indd 189 5/28/13 8:43 AM . Nicos Embora o Estado capitalista não seja um instrumento totalmente controlado pela classe dominante. mas. devido às lutas entre as frações que a compõem. WEBER. busca legitimar-se perante a sociedade civil não apenas pela coerção. (1936-1979) que submetem todos a um conjunto unificado de regras e instituições. ele fornece o quadro para que os operários não se reconheçam Poulantzas como integrantes de uma mesma classe. Texto traduzido. Antonio O Estado tem papel importante nos campos cultural e ideológico.]. • O monopólio do poder estatal é um traço atual. Há na estrutura da sociedade dois níveis articulados: a Karl Marx base e a superestrutura.. tal como o vivemos. Rodrigues Pozzebom/Agência Brasil Plenário da Câmara dos Deputados durante sessão do Congresso Nacional para indicação dos integrantes da “CPI do Cachoeira”. As teorias do Estado e seus desafios no fim de século.indd 190 5/28/13 8:44 AM . assim como um número significativo de lutas pela eman- cipação e pela liberdade. 1999. Uma parte significativa do mundo era governada por forças coloniais ou por dinastias imperiais. ditaduras sangrentas e repressões brutais. aqui no Brasil. THERBORN.. podemos observar.). GENTILI. na América do Norte. onde o sexismo e o racismo são. 190 • capítulo 7 Sociologia_vu_PNLD15_171a198_C07. numerosas guerras civis e coloniais. Estados onde certos serviços sociais. naturalmente. Preocupados com teorias que possam explicar o Estado e suas transfor- mações.]. O racismo encontrava-se institucionalizado em lei e normas em um grande número de paí- ses. Em comparação com tudo isso. Foto de 2012. na África ou na Ásia? O cientista político sue- Filipe Rocha/Arquivo da editora co Göran Therborn (1941-) responde: Em quase todos os países tínhamos aparatos estatais oligárquicos. pelo menos. na Europa. Em um balanço geral podemos ver como durante essas décadas também se produziram importantes progressos. Pós-neoliberalismo II: que Estado para que democracia? Petrópolis: Vozes. p. sem partici- pação da maioria da população. Tal trajetória teve custos enormes: as duas guerras mundiais. Göran. Estado e governos Ao mesmo tempo que o Estado se revela necessário na sociedade atual.. In: SADER. As mulheres estavam excluídas dos direitos políticos em todos os países independentes do mundo. vergonhas ilegais. formam parte da rotina cotidiana do aparato estatal. [. embora. Emir. que Estado temos agora? Na grande maioria dos países. Na con- temporaneidade. é também foco de contradições e problemas de diversas ordens. ainda persistam. dos trabalhadores. como por exemplo a educa- ção. por exemplo. 88. institucionalizaram-se Estados democráticos. os cientistas sociais fazem um balanço histórico sobre essa questão e se perguntam: que tipo de Estado existia há cem anos. revolu- ções e contrarrevoluções. Pablo (Org. as disputas pelo po- der estatal entre as classes sociais e pelos grupos de diferentes partidos políticos. o Estado e suas formas de organização. distinta do conceito de governo. Rio de Janeiro: Edições Graal. chamada por alguns de “República dos coronéis” ou “dos fazendeiros”. representando Minas Gerais e organizam-se corporações para representar politicamente os diferentes inte. No Estado corporativo. dois homens. oscilam em uma gangorra. outro. eles passam. fazer com que se produza a maior riqueza possível. como ocorreu no fascismo italia- no entre 1922 e 1943. além da centralização da administração da coisa públi- ca. Os partidos políticos ou certos grupos sociais no poder podem conferir Nela. Microfísica do poder. Os gover- nos são formados pelos grupos que temporariamente ocupam o aparelho de Estado para gerir o poder político. Segundo o filósofo francês Michel Foucault (1926-1984). com que determinados fins possam ser atingidos. isto é. como diziam os textos dos juristas. Lembremos que. o governo é defi- nido como uma maneira correta de dispor as coisas para conduzi-las não ao bem comum. industriais e pro- Reprodução/Arquivo da editora f issionais. Independentemente da forma e do conteúdo que o Estado possa assumir historicamente.. e não da coletividade e do povo. trata-se de uma instituição social arraigada. muitas vezes. resses econômicos. e as institui- Charge sem data que satiriza a ções sociais destinadas a garantir justiça. por exemplo. Outro exemplo de apropriação do Estado foi a Repú- blica brasileira entre 1889 a 1930.. Quando certos governos buscam cooptar o Estado e tendem a se confundir com ele. p. e mesmo na maior quantidade possível.. 284. uma pluralidade de fins específicos como. os interesses desses grupos sociais mis- turam-se com os do aparelho públi- co. os sistemas e regimes políticos. Esses colocavam o Estado a serviço de seus interesses particulares. Com isso. como pre- vê o termo república em sua origem – res publica.indd 191 5/28/13 8:44 AM . resultam prejuízos para a cidadania. que se forneça às pessoas meios de subsis- tência suficientes. mas o Estado permanece. os processos de tomada de decisões políticas. Essa é a eterna contradição do Estado: teoricamente ele existe para todos. em primeiro lugar. política e Estado • 191 Sociologia_vu_PNLD15_171a198_C07. direitos e segurança aos cidadãos. um determinadas características ao Estado.. 1979. por exemplo. Fazer. Michel. que a população possa se multiplicar. Assim o vê a Ciência Política. As mudanças no Estado se relacionam em geral com os grupos que estão no poder e com seus projetos políticos. mas muitas vezes serve apenas a alguns grupos econômicos. um dos aspectos do desenvolvimento do Estado moderno é o seu vínculo mais característico com a democracia – um regime político em que o poder é legítimo por se originar do povo e se apoiar nele. aos mercados e às elites. significa ‘coisa pública’. etc. O que implica. [. ed. República oligárquica brasileira. FOUCAULT. São Paulo. [.] mas a um objetivo adequado a cada uma das coisas a governar. por vários meios. a ciência social que estuda os fenôme- nos de natureza política. mas de dispor as coisas.] não se trata de impor uma lei aos homens. ou utilizar ao máximo as leis como táticas. utilizar mais táticas do que leis. 9. Portanto. Cidadania. em latim. postas. a multiplicidade de concentraram as aspirações políticas dos cidadãos. Já o Estado neoliberal propõe a intervenção mínima na economia e nas relações de trabalho. conforme a ação mais ou menos interventora do Estado: o Estado Social (ou Estado do Bem- -Estar Social) e o Estado neoliberal. basicamente se sobressaíram duas formas de atuação. mas apenas as se alterando pela crise das ideologias e pela fragmenta- bancadas de quatro partidos concentravam metade ção das classes sociais. hh Duas visões sobre a atuação do Estado capitalista Como vimos. pensar soluções para problemas sociais. que se estabeleceu em determinados países da Europa. dos deputados do Congresso: PMDB. escolher seus representantes para se candidatar nas Ainda que suas ideologias e propostas apresen. é difícil imaginar uma democracia sem partidos. em países capitalistas democrá- ticos. as mudanças no Estado e no seu papel têm relação com os grupos políticos no poder. dãos podem participar de um coletivo. tos da democracia. PSDB e PT. Preciso do dinheiro. Ainda assim. ao partidos políticos tem sido uma das características da propiciarem condições de participação e de militância política brasileira neste início de século. No último século. pois é por meio deles que os cida- cas. Em 2013. O Estado do Bem-Estar Social (Welfare State). de trinta agremiações políticas de diferentes tama. Segundo o f ilósofo e sociólogo alemão Jürgen Habermas. No século XX. 192 • capítulo 7 Sociologia_vu_PNLD15_171a198_C07. entre outros fatores. Bettmann/Corbis/Latinstock Um especulador da bolsa de valores de Nova York tenta vender seu carro após falir com a quebra da bolsa. PSD. A intervenção maior do Estado apresentou-se como solução à crise pela qual o sistema capitalista passou na década de 1930. de participação na políti. os partidos tem muitas semelhanças entre si. atua no senti- do de garantir seguridade social e proteção ao indivíduo contra adversida- des na economia e excessos do mercado.indd 192 5/28/13 8:44 AM . de exercício do poder. Foto de outubro de 1929. Partidos políticos e o quadro partidário no Brasil Os partidos políticos são agrupamentos sociais Os partidos políticos são importantes instrumen- em que se organizam as diferentes correntes ideológi. essa e as outras crises que se sucederam representavam uma ameaça muito direta à integração social. O cartaz diz: “Cem dólares compram este carro. mais muitas vezes ligada a movimentos sociais. O papel social dos partidos na formação política vem nhos compunham o quadro partidário. eleições de todos os níveis. cada qual com a sua concepção de forma de go. Perdi tudo no mercado de ações”. discutir pro- verno. ca e de solução para os problemas de um país. propiciou (pelo menos na Europa ocidental e. assegurando condições mínimas de cidadania e de renda para a população. pela qual a livre-iniciativa. no entanto. dentre outros. nos Estados Unidos) uma relativa “paz”. Acima de tudo. dentre as quais se incluíram: regular a economia. na capital Estocolmo. O órgão auxilia os cidadãos na busca por trabalho e é responsável pelo pagamento do seguro-desemprego. educação. em 2012. e ampliar a oferta de serviços de saúde. os Estados capitalistas pautavam-se pela doutrina liberal do laissez-faire. em certa medida. evitando práticas abusivas das grandes com- panhias. A formação plena do Estado de Bem-Estar Social ocorreu após a Segun- da Guerra Mundial. a especulação f inanceira gerou uma que significa “Deixe fazer. sem. Casper Hedberg/Bloomberg/Getty Images Cidadão sueco é atendido por funcionária de agência do Escritório Público Sueco de Emprego. No entanto. compreendida aqui no âmbito da luta entre capital e trabalho. Des- se modo. Cidadania. buscar conter as crises econômicas e evitar o desemprego por meio de subsídios a empresas e investimentos diretos em obras de infraes- trutura.hh laissez-faire: termo derivado da ex- tação do mercado por si próprio seriam princípios para o desenvolvimen. política e Estado • 193 Sociologia_vu_PNLD15_171a198_C07. sintetizando a ideia de que o Es- tado deve interferir o mínimo possí- ao desemprego. de modo que as empresas atuassem com mais liberdade. vel na economia. laissez-passer”.indd 193 5/28/13 8:44 AM . diante de outra crise econômica mundial. deixe pas- grave crise que levou milhões de pessoas na Europa e nos Estados Unidos sar”. propunha-se que a economia fosse menos regulamen- tada. Nos anos 1970. economistas propuseram que o Estado diminuísse seus gastos e seu papel na condução da economia. Nessa conf iguração. Para isso. ampliaram-se as funções do Estado. em determinados países europeus. embora sua inspira- ção tenha vindo de medidas adotadas nos Estados Unidos nos anos 1930. políticas características do Estado de Bem-Estar Social. Até então. se opor a ele. Ao contrário: suas políticas de estímulo à economia também vi- savam garantir que as empresas mantivessem sua produção e seu lucro. O Estado de Bem-Estar constitui-se. os investimentos em infraestrutura deveriam ser conduzidos pela iniciativa privada e os serviços sociais públicos deveriam ser reduzidos. como um provedor de servi- ços à população (daí ser chamado Estado-Providência) e como uma rede de proteção social contra os excessos do sistema capitalista. então. to econômico e social.pressão “Laissez-faire. a livre concorrência e a regulamen. deixando aos indivíduos o gasto com os serviços que utilizas- sem. transporte e habitação. Embora tenha garantido diversos direitos sociais aos trabalhadores. Pode-se entrar e sair de uma organização [. ao do Trabalho. órgão criado pelo governo Vargas em 1939 para promover o governo e aplicar a censura oficial.indd 194 5/28/13 8:44 AM . Já os defensores do Estado mínimo propõem que se reduzam ainda mais os gastos públicos para que a economia volte a crescer. 2006. qual é o papel social do Estado? hh Autoritarismos e totalitarismos: ameaças à cidadania Acervo Iconographia/Reminiscências A história nos mostra que o Estado assumiu diversas outras formas. pausa par a r E f l E t i r De fato não vemos no Estado apenas governantes.. depois. Para muitos estudiosos. O Estado não é nem mesmo uma organização de organizações.]. nascimento e óbito. Precede-nos. assim.]. As críticas ao Estado neoliberal intensif icaram-se a partir de 2008. passamos ao Ministério da Saúde. Frei.. Como o autor analisa a relação entre você e o Estado? 2. especialmente após a queda do socialismo no Leste Europeu. e com pouco amparo social. as duas pontas. implementados primeiramente na Inglaterra e nos Esta- dos Unidos. Em seguida ao da Edu- cação. a soma das instituições que o compõem. começam e terminam no Ministério da Justiça. nascemos nele. Cartaz produzido em 1940 pelo Departamento de Imprensa e Propaganda (DIP). devido às inovações tecnológicas e à flexibilização do trabalho (conforme vimos no capítulo 3). a desregulamentação f inanceira promovida nas últimas décadas foi a princi- pal causa dessa crise. Nesse tipo de regime político. 194 • capítulo 7 Sociologia_vu_PNLD15_171a198_C07. Aliás. ministros. mas não há como sair do Estado. quan- do se instaurou uma nova crise econômica mundial. Para você. Da Justiça. Com isso. funcionários. Esses preceitos. Inverte-se. Ao mesmo tempo. 1. ao ingressar na escola e. Rio de Janeiro: Rocco. Lá vão bater os nossos registros de nascimento e óbito. muitas delas autoritárias – sendo os casos mais extremos def inidos como totalitários. somos por ele ministeriáveis ao longo de toda a existência... p. milhares de pessoas viram-se desempregadas. A mosca azul. conglomerados industriais e f inan- ceiros tiveram condições de se expandir e aumentar seus lucros. o gover- no é dominado por um grupo que im- põe a ideologia de que o Estado está acima da sociedade. ao tomar vacinas. disseminaram-se mundo afora. 190-1. ao obter emprego. a lógica da democracia de que o Estado deve servir ao povo. BETTO. ho- mens e mulheres que falam em nome do Estado e o representam [. Vargas implementou políticas de controle social inspiradas nas dos estados totalitários europeus da época. política e Estado • 195 Sociologia_vu_PNLD15_171a198_C07. além de uma ideologia of icial. países como Chile e Argentina viveram períodos de repressão e au- toritarismo com ditaduras desenvolvidas no contexto da Guerra Fria (1945- -1989). O drama. fatos reais. o direito do exercí. se confundiam com o objetivo de controlar as massas pelos meios de comu- nicação e da propaganda político-doutrinária. Assim como ocorreu no Brasil. o fim do governo ditatorial de Pinochet. O fascismo italiano (1922- -1944) e o nazismo alemão (nacional-socialismo. com base em regime político. Elas chegavam ao poder com o pretexto de barrar a “ameaça comu- nista” e. pode-se dizer que conteve a participa- ção do povo na política. diferentemente dos regimes totalitários. regime militar chileno e retrata os esforços civis pela vitória do cio da política é retirado da população. Outro exemplo de Estados autoritários foram as ditaduras militares lati- no-americanas na segunda metade do século XX. Canana Films/Fabula/Imovision Cidadania. dirigido por Pablo Larraín e lançado em perseguiu e torturou centenas de brasileiros que buscavam outro tipo de 2012. na medida em que os direitos civis (como a liber. 1933-1945). que conclamavam as massas a apoiá-los. que significava a dade de ir e vir e a igualdade de direitos). a própria cidadania plena “Não” no plebiscito realizado também é posta em xeque. controlou os sindicatos. os meios de comunicação. portanto. se constituía uma forte polícia política de controle social. Sobre a ditadura brasileira (1964-1985) – uma ditadura militar. em 1988. Cena do filme No. totalitários ou autoritários. Partido e Estado. se passa durante o Nesses regimes políticos.indd 195 5/28/13 8:44 AM . como nos anos 1930. isto é governada e regida pelos militares –. se assentavam na apatia e no conformismo da popula- ção. Os totalitarismos ganham espaço em momentos de grave crise. Portanto. visando garantir a existência de um partido único e a censura e repressão de qualquer forma de opinião que se opusesse à dos governantes. em que o capitalismo liberal caiu em descrédito. políticos (como a liberdade de abertura democrática do país e expressão e de voto) e até mesmo sociais são restritos. são exemplos de regimes políticos totalitários. Nas expe- riências históricas desse tipo de regime. estadual e federal do Poder Executivo no Brasil. Estado. suas respectivas instituições e formas de ação. Considerando as esferas municipal. o reconhecimento dos direitos do indivíduo? Destaque documentos e concepções relacionados a esse processo. diferenciando-o do con- ceito de governo. partidos políticos. e identif iquem como ela contribuiu para ampliar e consolidar a cidadania no contexto da redemocratização do país. políticas públicas. 2. Consultem bibliograf ias de Sociologia. Por que a Sociologia considera a cidadania fruto de uma conquista social? 2. Como se deu. direitos sociais. democracia. Conceitue. 196 • capítulo 7 Sociologia_vu_PNLD15_171a198_C07. O que é poder? Como ele é conquistado e como seu uso se manifesta? Exemplif ique. 4. na História. 3. De que modo o Estado. Leiam tópicos da Constituição Brasileira de 1988. governo. 6. o que é Estado. r E v i s a r E sistEm atiza r 1. De que modo o totalitarismo ameaça as conquistas da cidadania? conceitos-chave: Cidadania. • no combate à corrupção. poder. políticas sociais. no âmbito do Estado. Filosof ia e Geo- graf ia que abordem os conceitos e teorias sobre democracia e cidadania. direitos políticos. procurem saber sobre as diferentes possibilidades de participar politicamente: • na reivindicação de nossos direitos. 5. 8. Justif ique a relação estabelecida entre cidadania e a condição de traba- lhador assalariado. 7. totalitarismo. Ciência Política. tal como o conhecemos hoje. Explique por que a política não se restringe às disputas pelo poder. conforme as seguintes especif icações: 1. esfera privada. Para este exercício. política. em suas palavras. cada equipe deverá escolher apenas uma das três esferas. direitos civis. esfera pública. Com Filipe Rocha/Arquivo da editora base nessa visão multidisciplinar.indd 196 5/28/13 8:44 AM . direitos. expliquem as relações entre estes fenômenos. Discorra sobre a construção da cidadania na sociedade brasileira. 3. se relaciona com as esferas pública e privada? 9. • no acompanhamento e controle da ação dos agentes públicos. diálogo s i n t E r d i s c i p l i nar E s Reúnam-se em equipes e realizem uma pesquisa sobre a democracia e a cidadania no Brasil. denominada Constituição Cida- dã. História. da pessoa. 1986. Este documentário. A cidadania que não temos. 105-120. A condição humana.com. A mosca azul. 2006. 1997. Chaplin interpreta papéis antagônicos: o de um barbeiro judeu e o do ditador Capa do livro O que são direitos que persegue o povo judeu. Disponível em: <www. Hannah. Fome Zero. a conquista da cidadania passa pela participação na política – um direito e um dever de todos. Trabalhando com denúncias políticas. tarismo. Inspirado na história real de estudantes que integraram o MR8. 1987. 1983. O que é participação política. Acesso em: 28 nov. Dizionario di Política. Disponível em: <www. 2012. Ana Yara (Org. de Robert <www.). direção de Bruno Barreto. AUGUSTO. São Paulo: Brasiliense. 1982. Robert. lançado em 2003. O que é isso. BAUMAN. BÓGUS. Ideologia e aparelhos ideológicos do Estado.br>. BETTO. A sociedade individualizada: vidas contadas e histórias vividas.). Nesta sátira. Photos 12 . 2012. 2008. As Ciências Sociais no cinema O grande ditador.php?pid=S0102-64451993000100005&script=sci_arttext>. Lisboa: Publicações Dom Quixote. Desaparecido. direção e atuação de Charles Chaplin. 2003. São Paulo. políticas de população e direitos sociais. Petrópolis: Vozes. Louis. Frei. tece críticas à origem e à dinâmica das empresas transnacionais. 1980. 2012. Estados Unidos. 1 (2). Acesso em: 15 dez. 2. Disponível em: <www.br>. São Paulo: Brasiliense. 2012. ARENDT. 1989. Norberto. um grande mistério. Alain.br/scielo. Disponível em: da questão social. Página da organização fundada pelo sociólogo Herbert de Souza. Maria de Lourdes (Org. Rio de Janeiro: Rocco. abr. Lênin e Gramsci. políticas sociais e políticas de saúde: algumas questões para reflexão e debate.acaodacidadania. Revista de Sociologia da USP.gov.scielo. PASQUINO. Lucia.fomezero. Dalmo.org.indd 197 5/28/13 8:44 AM . 1970. Lisboa: Editorial Presença. Este livro analisa as dificuldades e contradições na definição e aplicação dos direitos individuais e os desafios na busca por garantir a dignidade a todos os seres humanos. Nicola.dhnet. A perspectiva de autores clássicos das Ciências Sociais sobre o surgimento e a constituição do Estado moderno são analisados neste livro pela perspectiva marxista. no Chile. comparando-as com pessoas. Tempo Social. grupo que combateu o regime militar no Brasil da década de 1960 com ações armadas. 1997. corporação.). Dicionário das Ciências Sociais. política e Estado • 197 Sociologia_vu_PNLD15_171a198_C07.br>. Acesso em: 15 dez.Cinema/Diomedia A corporação. n. BOBBIO. MATEUCCI. direção de Costa-Gavras. Tudo começou com Maquiavel: as concepções de Estado em Marx. A nova cidadania. As metamorfoses da questão social: uma crônica do salário. direção de Mark Achbar e Jennifer Abbott. 1996. Vozes). COVRE. 1977. 74. Maria Helena Oliva. Gianfranco (Dir. Cidadania. Estados Unidos. Direitos Humanos. b i b liografia Reprodução/Editora Vozes ALTHUSSER. dE scubra m ais As Ciências Sociais na biblioteca Reprodução/Editora Brasiliense DALLARI. O que são direitos da pessoa. 28-29. de Dalmo Dallari (ed. São Paulo: Educ. Site articulado com redes globais para educação em direitos humanos e cibercidadania. Brasiliense). PAULINO. Luciano. 1998. o filme narra a luta de um norte-americano à procura de seu filho desaparecido durante a ditadura de Pinochet. Rio de Janeiro: Forense Universitária. 1940. p. Cena do documentário A Acesso em: 28 nov. com ações assistenciais de distribuição de alimentos e investimentos na produção agrícola de famílias de baixa renda. sem. Porto Alegre: L&PM. Engels. com roteiro do jurista Joel Bakan. Brasil/Estados Unidos. O discurso final é uma apologia do triunfo da razão sobre o mili. a Miséria e pela Vida. Estados Unidos. Lua Nova. Políticas de emprego. Rio de Janeiro: Zahar. como o sequestro do embaixador norte-americano. São Paulo: Brasiliense. Fábio Konder. p. Site do programa de combate à fome do governo brasileiro. Castel (ed. BIROU. Zygmunt. Para o autor deste livro. _. CASTEL. Milano: TEA. Capa do livro As metamorfoses COMPARATO. companheiro?. GRUPPI. 1981. Políticas públicas. As Ciências Sociais na rede Ação da Cidadania Contra a Fome. 1993. DALLARI. FERREIRA. Ideologia na Ciência So- cial.Encontro Anual da ANPOCS. SANTOS. José. Cidadania. 1. n. DE DECCA. 1979.). 5. p. RÉMOND.MG. 1998. Classe. Michel. 1979. 2. 7. Max. 2001. MARSHALL. 3. 1985. WEBER. Roy. Jürgen. SPOSATI. de Jean Lojkine (ed. Veja 25 anos: reflexões para o futuro. Rio de Janeiro: José Olympio.). 1970. 1980. O que são direitos da pessoa. 13. FOUCAULT. 26-37. ed. São Paulo: Brasiliense. ed. VIEIRA. Elisa. Brasil – 1889 a 1930. da UnB. Wanderley Guilherme dos. Pós-neoliberalismo II: que Estado para que democracia? Petrópolis: Vozes. O pão nosso. Notas sobre o conceito de cidadania. Cidadania e Justiça: a política social na ordem brasileira. 3. São Paulo: Martins Fontes. 328-343. São Paulo/Campinas: Cortez/Autores Associados. Do político. José Leite. 1999. n. São Paulo: Global. Rio de Janeiro: Edições Graal. fev. 1984. Para entender a sociedade contemporânea. Rio de Janeiro: Edições Tempo Brasileiro. João Gabriel (Coord. v. p. Reprodução/Editora Martins Fontes GIDDENS. 1986. p. A cidadania do trabalhador rural (participação em seminário). Sociologia e modernidade. 79-89. Teresa. O Estado capitalista e a questão urbana. O. Bogotá: Fondo de Cultura econômica. ed. 1987. ESTEVES. 51-59. 51-90. n. Martins REIS. da UnB. 1981.. G. da UnB). MACRIDIS. Rio de Janeiro: Ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra. 1986. M. São Paulo: Hucitec/Anpocs/IPEA.). Revista Brasileira de Ciências Sociais. GRUPPI. Jean.. movimentos sociais. p. 9. THERBORN. GENTILI. Raízes da desigualdade social na cultura política brasileira. Marco Aurélio. TOUCHARD. 2007. Momento atual da política pública de qualificação profissional no Brasil: desafios e inflexões. SOUZA. 1982. 51-90. 2011. 1996.). ENGELS. partido. João Gabriel (Coord. Reginaldo (Org. 1991. ano 9. Lênin e Gramsci. São Paulo: Abril. 35-47. Comunidade e democracia. Liszt. Lisboa: Publicações Europa-América. Rio de Janeiro: Record. Microfísica do poder. 61-83. 1974. _. 14-21. flexibilização e ação coletiva: Um olhar sobre o caso francês. 1967. Revista Brasileira de Ciências Sociais. Brancolina. p./jul. p. A origem da família. 13. Rio de Janeiro: Civi- lização Brasileira. p. BIB. Robin (Org. Robert. Maria Auxiliadora. In: DINIZ. status. Por uma história política. As teorias do Estado e seus desafios no fim de século. HABERMAS. PRANDI. Economia y sociedad. In: SADER. In: TEIXEIRA. Eli. 219-241. Mundo em descontrole. Thomas.indd 198 5/28/13 8:44 AM . Brasília: Ed. Problemas do estado capitalista. 2003. Herbert de. Revista Ariús. Göran (2). 2003. classe social e status. Paulo. Estado e cidadania no curso dos anos 90.). René. Capa do livro Por uma história política. In: TEIXEIRA. Engels. Reprodução/Editora FGV SALES. de Réne Rémond (ed. n. TOURAINE. O político e o cientista. In: _. Cidadania. esbozo de sociologia comprensiva. A Fontes). 25.). Dalmo. p. Caxambu . Participação política. _. 2006. SANTANA. 36. 51. 198 • capítulo 7 Sociologia_vu_PNLD15_171a198_C07. A construção da cidadania. História das ideias políticas. ed. Rio de Ja- neiro: Campus. In: VELHO. da UnB. Fábio. O Brasil no rastro da crise: partidos. jun. da propriedade privada e do Estado. Rio de Janeiro: Fundação Getúlio Vargas. Luciano. 18. mercado e sociedade civil. ed. O que é a democracia? 2. 1981. Ideologias políticas contemporâneas. 1996. A assistência na trajetória das políticas sociais brasileiras: uma questão em análise. Capa do livro O Estado PUTMAN. 30º. Anthony. Indústria. Sergio Buarque de. 1981. Alain. Tudo começou com Maquiavel: as concepções de Estado em Marx. Campina Grande. Pablo (Org. construção da cidadania (Org. da FGV. BERTELLI. 1980. 1982. trabalho e cotidiano. Rio de Janeiro: Zahar Editores. 1977. Brasília: Ed. 95-107. LOPES. OLIVERIA. ed. I. sindicatos. _. p. PALMEIRA. In: BLACKBURN. Rio de Janeiro: Zahar Editores. A. Jean (Dir. Brasília: Ed. da FGV). 1. p. jan. POULANTZAS. Porto Alegre: L&PM Editores. Raízes do Brasil. v. Estrutura de classes e estra- tificação social. Roberto Véras. (Org. Lisboa: Editorial Presença. ed. LOJKINE. A cidadania do trabalhador rural (participação em seminário). v. capitalista e a questão urbana. Petrópolis: Vozes. São Paulo. 1994. Friedrich. São Paulo: Atual. A crise de legitimação no capitalismo tardio. DOMINGUES. p. 1994. São Paulo: Brasiliense. REIS. 1986. 441-453. Nicos. 1993. Aldaíza e outros. v. sem. HOLANDA. p. Trabalho. Emir.). Cordialidade e familismo amoral: os dilemas da modernização. tiveram uma atuação importante no passado recente. Assim. 199 Sociologia_vu_PNLD15_199a222_C08. analisaremos como elas atuam e formam os movimentos sociais contemporâneos. Com base na discussão sobre o que são classes sociais. ao reagirem às diversas formas de exclusão social. quando contestaram os Estados autoritários em diferen- tes partes do mundo. Os movimentos sociais buscam propor alternativas para uma sociedade mais igualitária. econômicas. no presente contexto da globalização. Salmo Dansa/Arquivo da editora Capítulo 8 Movimentos sociais EstudarEmos nEstE capítulo: como os indivíduos buscam transformar as condições sociais. Ve- remos que os movimentos sociais transformam-se nos diferentes contextos e espaços sociais no decorrer da história. Também estudaremos por que os movimentos sociais surgem e o que os distingue como ação coletiva. políticas e culturais por meio dos movimen- tos sociais. e ainda têm.indd 199 5/28/13 8:47 AM . por ser Grizar Junior/Futura Press coletiva. Distinguem-se. consequentemente. pelo conjunto de ações espontâneas de muitos indi- víduos e grupos. Será que hh lobista: aquele que. possibilitam a transformação da realidade. Isso porque. pode ser considerada um movimento social? Gangues de rua. Reações espontâneas a fatos pontuais muitas vezes não provocam transformações na realidade e. os movimentos sociais estão sempre na iminên- cia de agir e interferir na sociedade. sim. como fazendeiros. por um conjunto de ações em- preendidas por grupos ou categorias sociais (em cir- cunstâncias adversas ou não). por meio dos movimentos sociais. ou seja. vamos explorar. por agirem coletivamente. assim como os vulcões pron- tos para entrar em atividade. Um movimento social se afirma por mobilizar um grupo ou uma coletividade em uma luta contra um adversário e pelo controle da mudança social. Movimentos sociais ocorrem quando as pessoas se organizam e lutam contra diferentes tipos de opressão. Para que ela seja consi- derada um movimento social. outro elemento é indispensável: o objetivo de alcançar um fim espe- cífico com intenção de transformar a realidade. porém. vale perguntar o que faz com que movimentos de natureza variada e com interesses distintos sejam classificados como “sociais”. em 2010. Nesse sentido. as Ciências Sociais se preocupam com a participação dos indivíduos na sociedade – e. em momentos históricos específ icos. um mundo em erupção. toda ação coletiva é um movimento social? Qualquer ação de um grupo. nesse sentido. da mesma maneira que o magma dos vulcões quando. com uma das bases para o exercício da cidadania. Movimentação de populares em frente a tribunal em São Paulo. Uma ação desenvolvida pela torcida organizada de um time de futebol. Esta participa- ção ocorre. não configuram movimentos sociais. acusados de matar a filha de Alexandre em 2008. sob pressão. explica o sociólogo francês Alain Touraine (1925-). portanto. ocupa-se de os lobistas que atuam junto ao Parlamento. como tivo. Essa comparação é apenas ilustrativa. os quais. porém. industriais ou banqueiros. os estudos sociológicos reconhe- ceram nesses movimentos uma forma de luta política organizada para construir os direitos dos cidadãos. no Poder Legisla. entre outras vias. Movimentos sociais na pauta das Ciências Sociais Munidos de um espírito aventureiro e investigativo. ou seja. faz lobby. podem ser consideradas movimentos sociais? A resposta a essas questões é um sonoro não. Os movimentos sociais foram inicialmente explicados pelos comporta- mentos coletivos. constitui um movimento social? me interesses de grupos específicos. intervindo para que haja uma mudança social. pelo fato de que esses movimentos são fenômenos que envolvem forças so- ciais e se formam no interior da estrutura social. os movimentos sociais duradouros daqueles que se apresentam apenas como reação passageira a uma situação ou fato. Uma ação coletiva caracteriza-se. surge das profundezas da terra.indd 200 5/28/13 8:47 AM . conforme vimos no capítulo 7. neste capítulo. defendendo interesses de grupos influenciar a aprovação das leis confor. durante julgamento de Anna Carolina Jatobá e Alexandre Nardoni. Mais recentemente. Filipe Rocha/Arquivo da editora Como você já sabe. 200 • capítulo 8 Sociologia_vu_PNLD15_199a222_C08. e o acesso ao con- Michael Nicholson/Corbis/Latinstock sumo. É preciso que essa ação seja organizada por indivíduos ou grupos que. Os movimentos sociais podem se transformar de acordo com componen- tes culturais. gênero. Um dos autores que mais influenciaram os movimentos sociais na história contemporânea foi Karl Marx. As classes re- ferem-se a grupos sociais que se diferenciam segundo: a posição econômica que ocupam na produção. Dessa forma. as ações reais dos homens que As classes sociais são tema recorrente de discussão nas teorias sociológicas. Dessa forma. Movimentos sociais • 201 Sociologia_vu_PNLD15_199a222_C08. etnia ou país de origem.indd 201 5/28/13 8:47 AM . Com elementos visuais. Litografia produzida em 1919 pelo artista gráfico El Lissitzky para como vimos no capítulo 1. visem a uma f inalidade como. uma vez que a consciência de pertencer a uma classe social aparece quando os antagonismos da sociedade são percebidos. a esco- lha da profissão. culturais. A luta de classes é considerada a própria práxis coletiva capaz de levar hh práxis: palavra de origem grega que a transformações. as grandes mudanças não dependem ex. clusivamente da vontade dos indivíduos. de certa forma. da desigualdade nas relações de gênero. há a força do social. tória. procuram vencer as contradições da que destacam diversos conceitos de classes (no plural). Podemos identificar entre suas causas mais comuns a organização contra a exploração e a discriminação. uma não existe sem a outra. produzindo e reproduzindo a estrutura social. que instalariam. além de fatores significa o próprio movimento da his- políticos. o cartaz de propaganda mostra a união riando conforme seu grau de desigualdade socioeco. Em outros termos. Para Marx. da xenofobia. adquirida coletivamente e em contínua difusão entre os indi- víduos.) e os trabalhadores – como portadoras de uma tensão latente em decorrência dos interesses distin- tos das diferentes classes sociais. no Brasil e no mundo. No âmbito de cada uma das classes existe a noção de per- tencimento. é o da pobreza. portanto.Russo. A teoria marxista prevê a luta de classes como ação coletiva. da má distribuição da renda. Contextos de vulnerabilidade compor- tam os ingredientes básicos para a eclosão de movi- mentos que visam transformar a realidade social. não basta a ação de um conjunto de pessoas para que exista um movimento social. como estudado no sociedade capitalista. capítulo 1 deste livro. Classes sociais são agrupamentos que se relacionam cotidianamente. um governo de inspiração marxista: a União Soviética. os estilos de vida. Os movimentos sociais se estruturam para en- frentar os problemas da sociedade e promover a ação política. por exemplo. do racismo para com grupos de diversas etnias. Sua teoria social.popular (representada pela cunha vermelha) rompendo a nômica e a escassez ou não de recursos. no lugar do antigo Império gurações de acordo com a época e a sociedade. é uma das principais características de um movimento social. que. bancos. de base econômica. prática’. etc. seja em relação à participação no poder. a consciência dos pro- blemas sociais. portanto.significa ‘ação. combater as desigualdades e a discriminação relacionadas às diferenças de renda. por exemplo. va. econômicos que envolvam toda a sociedade. resultantes das desigualdades sociais geradas ao longo da história – muitas delas decorren- tes. Vale ressaltar que as classes sociais são comple- mentares. sociais e políticos. Um dos problemas mais graves e comumente abor- dados pelos diversos movimentos sociais ao longo da história. resistência da elite russa (círculo branco).os bolcheviques. o que pode levar ao conflito. assume diferentes conf i. seja em relação aos privilégios. considera as relações de produção – aquelas estabelecidas no processo produtivo entre os donos dos meios de produção (fábricas. a posse de riquezas. Trata-se de conceito definido de forma relacional. a defesa de interesses comuns. terras. especialmente nas regiões Norte e Nordeste. ao trabalho. por exemplo? 2. etc. Diante desse quadro de desigualdade. Você conhece ONGs. desigualdade social. o que realça as disparidades existentes entre as regiões brasileiras. que contrasta com as áreas em que esses indicadores apresen- tam melhores resultados. qual é a importância dos movimentos sociais? O que eles podem tentar mudar na nossa realidade de carência de moradia digna e de rendimentos adequados. multidimensio- nal. 1. pobreza e exclusão. com acesso à educação. em 2010) e domicílios sem banheiro ou sanitário de uso exclusivo. pobreza e exclusão social são resultados concretos das desigualdades que precipitam a emergência de movimentos sociais. Os movimentos sociais combatem não só insuf iciências e problemas que atingem amplos segmentos da população desde longa data (como a Charles Platiau/Reuters/Latinstock falta de condições para garantir a subsistência ou a discriminação de segmentos da socieda- de).indd 202 5/28/13 8:47 AM . à mora- Paris. movimentos sociais e grupos organizados que buscam re- solver ao menos um dos problemas listados (não apenas os do mapa) que com- põem a exclusão social no Brasil? Quais? O que sabe sobre eles? 202 • capítulo 8 Sociologia_vu_PNLD15_199a222_C08. à comunicação. capital da França. São excluídos também aqueles que não ob- Um morador de rua dorme dentro de cabine telefônica em têm condições para ter uma “vida digna”. à renda. indicadores de violência.. à informação. exclusão social não se limita à condições que permitem às pessoas participarem e usufruírem de bens e dificuldade de subsistência. provocada pelas disparidades presentes na sociedade capitalista. a redução de amparo social do Estado. e a exclusão não se refere mais somente à dif iculdade de sobrevivência alimen- tar. entre outros fatores que conduzem a diversas formas de exclusão social. Os mapas na página seguinte trazem informações sobre dois indicado- res de exclusão social: rendimento per capita abaixo da linha da pobreza (R$ 70. a pobreza deve ser compreendida como um fenômeno complexo. É possível observar uma extensa faixa. relacionado à falta de bens e de oportuni- dades sociais. Por isso. Rendimento e acesso ao saneamento básico são dois dos diversos indica- dores que devem ser levados em conta ao se estudar a exclusão social. pausa par a r E f l E t i r Ao depararmos com os dados da exclusão social. serviços oferecidos pela sociedade e serem reconhecidas como portadoras Foto de 2013. vemos o paradoxo da persistência da pobreza e das condições precárias de vida. etc. de direitos. A dia. Pode- mos destacar também escolaridade. mas também as novas questões que se apresentam: a precarização do trabalho e a perda de direitos conquistados. índice de emprego formal. apesar dos avan- ços da ciência e da tecnologia. ao transporte. indd 203 5/28/13 8:48 AM . domicílios particulares permanentes – não tinham OCEANO banheiro de uso exclusivo do ATLÂNTICO Equador 0º domicílio nem sanitário (2010) Domicílios particulares permanentes – Não tinham banheiro de uso exclusivo do domicílio nem sanitário (Domicílios) Trópico de Capricórnio 0 – 229 230 – 477 478 – 797 798 – 1 315 1 316 – 6 581 0 396 km 50º O Fonte: IBGE/Censo 2010. Movimentos sociais • 203 Sociologia_vu_PNLD15_199a222_C08. Mapas: Portal de Mapas/Arquivo da editora domicílios particulares OCEANO permanentes. com rendimento Equador ATLÂNTICO nominal mensal domiciliar per 0º capita de até 70 reais (2010) 0 2470 km Domicílios particulares permanentes. com rendimento OCEANO nominal mensal domiciliar per capita de até 70 reais PACÍFICO (dados preliminares) Ilustrações: Filipe Rocha/Arquivo da editora (Domicílios) Trópico de Capricórnio 1 – 363 364 – 774 775 – 1291 1 292 – 2127 2 128 – 109796 0 396 km 50º O Fonte: IBGE/Censo 2010. Reivindicavam a inclusão digital (ou infoinclusão). pela atuação em diferentes campos. locais e internacionais.indd 204 5/28/13 8:48 AM . têm a intenção de tornar públicas suas • São históricos e sujeitos a mudanças. • São capazes de ação coletiva. como a opi. componentes de transnacionalidade. muitas vezes. Principais características dos movimentos sociais • Dizem respeito às transformações das condições • Em geral. não constituíram movimentos sociais organizados. religiosos. visões de pelos direitos civis. ou grupo está destinado a salvar a Nesse sentido. mobilizar comunidades negras no sul do país na luta • Dispõem de componentes ideológicos. responsável por de saúde. mora- dores da periferia (em francês. gico. o mudanças sociais também os transformam. Essas re- deles. algo comum a todos os seus integrantes. nos subúrbios de Paris (capital da França). • Implicam a formação de uma identidade cultural. desencadeiam Um exemplo é o movimento negro nos Estados Uni- grandes mobilizações por necessidades sociais co. ou seja. estradas. embora esses tam- tos que acreditam que um indivíduo bém formulem publicamente reivindicações de mudanças políticas e sociais. Embora não pretendam conquistar o poder do Estado. como no caso dos movimentos pacificistas. organizaram uma série de protes- tos. Esses episódios. sociais e políticas da sociedade. no entanto. etc. postos Martin Luther King (1929-1968). escolas. como os movi- mentos de combate à Aids. dese. instituições defesa dos direitos humanos e do meio ambiente. Características dos movimentos sociais Como vimos no início do capítulo. do sua utilização para fins político-partidários ou jando reverter principalmente situações de necessi. mundo que os inspiram e se desenvolvem por meio • Agem por meio de redes de movimentos. Eles mostravam-se revoltados com as dif iculdades que enfrentavam: de- semprego. a figura de suas lideranças. dos durante a década de 1960. Baseiam-se em valores. mentos surgidos no interior das sociedades. mentos messiânicos. saneamento. • Utilizam. Os movimentos sociais também não podem ser confundidos com movi- hh messiânicos: diz-se dos movimen. • Estabelecem novos canais de comunicação dos indi- • Caracterizam-se como autores de protestos de teor víduos com a sociedade e o Estado. as reivindicações (com ou sem o uso da violência). O desejo de mudança não se conf igurou em ação reivindicativa. jovens pobres e f ilhos ou netos de imigrantes muçulmanos. as manifestações coletivas podem ou não se transformar em movimentos sociais. to e desenvolvimento. sob a liderança de mo moradias. que pode levar a uma confrontação com as autori. político. como os de nião pública. condições de vida precárias. visando ao acesso univer- sal às tecnologias da informação para utilizar essas novas linguagens na me- Filipe Rocha/Arquivo da editora lhoria das condições de vida. que acionam as dimen- • Dependem de uma organização para seu surgimen- sões cultural e política da sociedade. discriminação e exclusão social. Retomemos um exemplo dado no capítulo 7 deste livro: no ano de 2005. dades públicas. na consciência social des articulam vários atores sociais e podem se ca- sobre situações questionáveis e na crença de ser racterizar: pelo pluralismo organizacional e ideoló- possível modificá-las. declaram-se apartidários e laicos. centros hospitalares. evitan- econômicas. banlieues). por isso. por • São suscetíveis de somar forças sociais. dade social. algumas características atribuem um caráter “social” a movi- humanidade dos males e problemas. 204 • capítulo 8 Sociologia_vu_PNLD15_199a222_C08. pois se resumiram a protestos passageiros. que visasse estender os benefícios a todos os afetados pelo problema. religiosos ou político-partidários. os meios de comunicação. criando inte- resse por parte dos indivíduos que a ela se dedicam. Como sujeitos coletivos contrários a ordens sociais vigentes. o de seus valores. Atualmente. eles organizam práticas coletivas. designa o domínio def inir sua posição na sociedade. ideias. Na luta constante. com o objetivo de re- vimento feminista. da Antropologia e da Ciência Política ca- racterizaram os movimentos sociais como sujeitos coletivos. hh A questão da identidade Os estudos sociológicos vêm encontrando nos movimentos sociais o pa- pel de formar identidades dos atores sociais de nossa sociedade. Quando falamos em identidade. mente. nos referimos ao processo no qual um ator social se reconhece e constrói uma referência com base em algum atributo cultural ou conjunto de valores. Movimentos sociais • 205 Sociologia_vu_PNLD15_199a222_C08. Identidades resultam de situações de confronto e comparações com o outro. em junho de 2012. por sua capaci- dade de elaborar uma identidade com a causa que defendem. sobretudo. nesse contexto. os movimentos sociais muitas ve- zes valem-se das tecnologias da informação e agem em rede. caracterizadas pelo enfrentamento social decorrente de posições./Agência Brasil Mulheres de vários países protestam com cartazes e faixas contra violações aos direitos humanos. é comum que os movimentos sociais vivenciem situações de conflito.do homem proprietário de terras ou minista e pelos direitos da mulher. Outros autores da Sociologia. pois não é possível integrar ou articular visando à ação sem antes diferenciar e distinguir. postos ao restante da sociedade. dos bens de produção e. em áreas em que a identidade aparece mais fortalecida. que combateu e combate o machismo. Um exemplo é o caso do movimento fe. aproximando suas reivindicações e fortalecendo-as. e são exemplos os conflitos étnicos surgidos nos guetos de mi- grantes ou relacionados a povos sem território. consequente- o patriarcalismo e suas estruturas de produção e reprodução na sociedade. Na sociedade contemporânea esses enfrenta- mentos ocorrem. em frente ao local onde se realizou a Conferência das Nações Unidas sobre Desenvolvimento Sustentável Rio+20.indd 205 5/28/13 8:48 AM . que são im- como vimos no capítulo 3. a construção da identidade no interior de um movimento so- cial se deve tanto à identif icação de seus participantes com uma mesma hh patriarcalismo: no contexto do mo- causa como à sua resistência à lógica da dominação. no Rio de Janeiro. Marcello Casal Jr. Portanto. interesses que di- vergem do então estabelecido. foi realizado pausa par a r E f l E t i r na sede europeia da ONU. por exemplo. se- riam os f ilhos e netos desaparecidos durante o último regime militar ditatorial argentino (1976-1983). 1. Suíça. no segundo. A charge faz uma crítica a quem e a que tipo de atitude? Por quê? 2. em dezembro Observe a charge a seguir: de 2012. Lucas Fier/Acervo do cartunista Charge de Lucas Fier.indd 206 5/28/13 8:48 AM . no segundo exem- explosão de mina terrestre no plo. em todos os Camboja. no caso dos movimentos operários do início do século XX. que debate a proibição e desativação de minas terrestres. todos os que se vissem trabalhando em condi- ções indignas. Alain Touraine explica os movimentos sociais como uma combinação de princípios: Salvatore Di Nolfi/Associated Press/Glow Images – de identidade (lutamos em nome de quem?): no caso das mães e avós da Plaza de Mayo. e os detentores do poder do Estado. Jody Williams (à direita). O meios de produção. a busca por in- vencedora do Nobel da Paz de 1997. no caso de movimentos socialistas ou anarquistas. – de totalidade (lutamos por quê?): no primeiro exemplo. vítima de dos responsáveis pelos crimes e violações de direitos. – de oposição (lutamos contra quem?): no primeiro exemplo. e a deposição da classe dominante do controle do Estado e dos da Convenção de Ottawa. em Genebra. seria constituído pelos dirigentes e cúmplices dos regimes ditatoriais argentinos. discursa próximo a Tun formações sobre o paradeiro dos desaparecidos e a luta pela condenação Chan Nareth. de modo ge- ral. os pro- prietários e altos gerentes das indústrias. Qual é sua opinião com relação às reivindicações e à forma de ação dos movimen- tos sociais? Discuta com seus colegas e explique em sala de aula. 2012. 206 • capítulo 8 Sociologia_vu_PNLD15_199a222_C08. no caso de movimentos socialistas ou anarquistas. durante o 12º- encontro dos países signatários casos. a melhoria da remuneração e das condições de trabalho. encontro. quando efetivamente foram separa- das as tarefas de execução das de concepção do trabalho. Existem muitos movimentos operários.tar coletivo se realiza plenamente. reivin- dicando transformações para além do ambiente de trabalho dos operários. Tal movimento se formou a partir do século XVIII. o socialismo – sistema político que visa a uma sociedade igualitária e cooperativa – destacou-se por favorecer ações coletivas de in- divíduos e grupos organizados. Um dos instrumen- tos mais recorrentemente utilizados pelos movi- mentos operários em todo o mundo é o da greve. Submetidos a extensas jornadas de trabalho. as greves assumiram uma posição crítica às próprias condições da sociedade. somava-se às reivindica- ções por melhores condições de trabalho outra preocupação: o aumento do desemprego devido à mecanização da indústria. Desde os primeiros tempos da industrialização as paralisações constituíram-se em forma de exigir condições mais dignas de trabalho. truir novas formas de contestação das desigualdades características do sis- tema capitalista. o que mais ob- teve reconhecimento como tal. de modo geral. to- dos buscam a melhoria das condições de trabalho por meio de uma ação política. Nesse período. seu declínio como utopia so. tendo como uma das formas de ação a sabotagem delas. Breve história dos movimentos sociais hh Os movimentos operários Entre os movimentos sociais fundados na luta de classes. à inexistência de legis- lação que garantisse direitos trabalhistas e ao des- potismo de seus patrões. dessa vez mediadas pelos sindicatos. emergiram novas formas de luta. com sin- gularidades em cada país. remuneração e assistência social. Movimento pioneiro na esfera operária. época em que a concentração de trabalhadores nas fábricas aumentava. o luddismo. mas. No entanto. no início do século XIX. ao longo dos últimos séculos. foi o movimen- to operário. Movimentos sociais • 207 Sociologia_vu_PNLD15_199a222_C08. Com a consolidação da organiza- ção da classe operária entre o f inal do século XIX e início do XX. posiciona- va-se contra as máquinas na Inglaterra. No período.hh utopia social: ideal de sociedade cial nas últimas décadas do século passado (bem como o enfraquecimento justa e igualitária na qual o bem-es- de teorias como o anarquismo e o mutualismo) trouxe o desaf io de cons.indd 207 5/28/13 8:48 AM . Ao longo do século XIX. A dura repressão ao luddismo foi acompanhada pela acusação aos traba- lhadores de que estariam dificultando a moderniza- ção da produção. os operários organizaram- Filipe Rocha/Arquivo da editora -se para reivindicar mudanças. Proudhon propõe o mutualismo. em inglês. realizariam a troca iguali- tária e o apoio mútuo e obteriam crédito livre por meio do Banco do Povo. etc. grupos étnicos. outros se opuseram à própria existência dessa que incluía leis e normas sociais então vigentes. A organização protestou contra o uso excessivo. propunha que todos os meios de produção fossem administrados por asso- ciações de trabalhadores. inspirados em manifestações sociais anteriores. na fabricação de gusa. como o anarcossindicalismo. as várias corren- ideias a afirmar a emancipação do indivíduo em rela. o Estado. os anarquistas ção social e regulamentação do trabalho por parte do almejavam acabar com qualquer forma de repressão. pacifistas e ecológicos foram reconhecidos. Originadas do pensamento teórico do francês O anarquismo é o mais conhecido conjunto de Pierre-Joseph Proudhon (1809-1865). alcance e variedade maiores dos meios e formas de comunicação (jornais. sob forma diferente. acreditam na união em sindicatos como meio para que as classes traba- lhadoras se organizem e reestruturem o modo de pro- dução e a sociedade. de outros tipos de movimentos sociais. concentração da população nas cidades. um sistema FineArtImages/Leemage/Agência France-Presse social em que os trabalhadores. reuniões políticas como os comícios.indd 208 5/28/13 8:48 AM . hierarquizada de administração das propriedades pri- ram – e muitas vezes obtiveram – garantias de prote. Esses movimentos bus- cam dar respostas a determinadas perguntas: quais as formas institucionais que causam desigualdades e conflitos na socieda- de? Quais são os principais valores e interesses da ação coletiva? Ativista da ONG Greenpeace escala a corrente da âncora de um navio atracado em São Luís. O teórico anarquista Mikhail Aleksandrovich Bakunin (1814-1876). religiosos. organizados individu- almente ou em associações. retratado pelo pintor Nikolai Ge em 1871. mobilizações populares de proporções cada vez maiores. nas décadas mais recentes. Marizilda Crupp/Greenpeace/Reuters/Latinstock Esses e outros acontecimentos do século XX trouxeram preo- cupações que impulsionaram a criação ou o reaparecimento. instituição. mulheres. quando a embarcação se preparava para transportar ferro-gusa para os Estados Unidos. tes em que o anarquismo moderno se cindiu apresen- ção à tutela do Estado. Para além do fim da estrutura tam diferentes alternativas para uma sociedade sem Estado. co- mo protagonistas de movimentos sociais. revistas. fundado no pensamento do rus- so Mikhail Bakunin (1814-1876). capital do Maranhão.). O Estado em xeque Ao passo que muitos movimentos operários exigi. de carvão vegetal produzido com madeira extraída ilegalmente. Estudantes. vada e estatal dos meios de produção. Algumas formas posterio- res. em maio de 2012. Já o coletivismo. A faixa diz “Salvem a Amazônia”. 208 • capítulo 8 Sociologia_vu_PNLD15_199a222_C08. hh Temas e protagonistas dos movimentos sociais contemporâneos Transformações na produção agropecuária e industrial. Fonte: OFFE. Protestos políticos orientados maneira corporativista. • Para o autor. de- monstrando-a com exemplos de sua comunidade. Há competição política por demandas específicas. gestão pública). a despeito das consequências negativas ao meio só o modo como se trabalha e produz. que mediam as relações de Formas de ação espontaneidade. São Paulo: Cortez. 1996. Movimentos organizados em torno de Movimentos pautados pela informalidade e associações. formas de controle social (participação do cidadão na trabalho não alienadas. mas também o modo como se descansa e ambiente. Claus. 817-868. Ao identificar novas formas de opressão que extravasam das relações de produ- ção e nem sequer são específicas delas. na qual ainda há con- centração da riqueza. ed. Winter 1985. populações inteiras que se refugiam para sobreviver e povos que morrem à míngua. o machis- mo. e sim grupos sociais transclassistas ou mesmo a sociedade como um todo. com uma radicalidade sem aumentar sempre a produção e o con- precedentes. e ao advogar um novo paradigma social menos hh produtivismo: orientação ideológi- assente na riqueza e no bem-estar material do que na cultura e na qualidade de vi. New social movements: challenging the boundaries of institutional politics. 258. à dignidade humana.indd 209 5/28/13 8:48 AM . E ncon tro com os ciEn tis tas s oc i ai s No texto abaixo. 52. por escrito. o racismo ou o produtivismo. os novos movimentos sociais (NMSs) denunciam. finalmente. etc. Movimentos sociais • 209 Sociologia_vu_PNLD15_199a222_C08. entre elas. Autonomia individual e respeito à identidade. 4.ca do processo capitalista de procurar da. instituições sociais. Pela mão de Alice: o social e o político na pós-modernidade. essas formas de opressão não atingem especificamente uma classe social. o sociólogo português Boaventura de Sousa Santos leva-nos a inda- gar sobre os “excessos” vividos na sociedade contemporânea. Boaventura de. Social Research. o cientista político ale- mão Claus Offe (1940-) tece uma comparação entre a forma predominante- mente assumida pelos movimentos sociais em duas diferentes épocas para sintetizar as razões e valores que os inspiram à ação coletiva. que tendência pode ser observada na atuação dos novos movimentos sociais que os diferencie de seus predecessores? Desenvolva a ideia. Tais excessos atingem não sumo de bens e serviços. a poluição. Conforme podemos observar no quadro abaixo. Principais motivos respeito aos direitos humanos. p. a pobreza e as assimetrias das relações sociais são a outra face da alienação e do desequilíbrio interior dos indivíduos. como sejam a guerra. vive.metade do século XX Crescimento econômico e distribuição mais Preservação da paz e do meio ambiente. segurança militar e social. p. v. os excessos de regulação da modernidade. 2. Leia-o e depois faça a atividade. n. e. igualitária da renda. SOUSA SANTOS. Liberdade e garantia do consumo privado e do Principais valores em oposição ao controle do Estado e das progresso material. Os movimentos sociais entre os séculos XIX e XXI Século XIX e início do XX A partir da 2ª. expressa economicamente numa políti- ca desenvolvimentista sustentada pelo endividamento externo e pela depen- dência econômica em relação a esses países.indd 210 5/28/13 8:48 AM . As políticas de Estado adotadas na maior parte dos países latino-america- nos respondiam aos interesses norte-americanos: reprimiam internamente os movimentos de oposição (especialmente os de orientação socialista ou comunista). Muitos desses movimentos. quatro dias depois do decreto do Ato Institucional nº. Soldados do Exército em 1968. ações coletivas organizadas questio- naram – enquanto conseguiram se manter – o Estado como instrumen- to político de uma minoria privile- giada e trouxeram alternativas para transformar as estruturas de domi- nação. um golpe de Estado iniciou uma sequência de gover- nos militares que se estendeu até 1985.Paulo/Folhapress se dos regimes militares. Uma das intenções do AI-5 era o controle sobre a sociedade. 210 • capítulo 8 Sociologia_vu_PNLD15_199a222_C08. Apesar de esses regimes políti- cos autoritários cercearem a liber- dade de expressão e de associação. questionando os regimes políticos e as políticas econômicas em vigor. durante operação que prendeu cerca de 800 estudantes. Por isso. econômica e social autoritária. a antropóloga brasileira Ruth Cardo- so (1930-2008) def inia esses movi- mentos como anti-Estado. emergiram movimentos so- ciais. que aplicava a repressão e as punições para aqueles que o desaf iavam. num confronto político. em 1964. que privava o povo de escolher seus representantes legítimos. o Estado se- Filipe Rocha/Arquivo da editora guia uma ordem política. vários países latino-americanos esta- vam submetidos a ditaduras militares. Naquele período. que acabaram por abalar a ba- Arquivo do jornal Folha de S. As resistências e o contexto social desfavorável f izeram surgir movimentos sociais de diversos tipos. A emergência dos movimentos sociais no Brasil: contestação ao Estado autoritário Na América Latina dos anos 1960 a 1980. No Brasil. proibia manifestações populares e impedia que as organizações sociais pudessem reivindicar livremente. no campo e na cidade. militar. O regime militar mantinha-se mediante forte aparato policial. que tinham como pano de fundo a bipolarização das relações mundiais entre a ex-União Soviética e os Estados Unidos. Durante esse período.5 (AI-5). seguiam um modelo econômico fundamentado na concentra- ção da renda e na relação de subordinação aos interesses de corporações e de países capitalistas desenvolvidos. econômico e ideológico conhecido como Guerra Fria. mesmo sendo dissolvidos pelos governos militares. foi e continua sendo a bandeira de vários movimentos sociais. moradia. acampa- mentos nas capitais e diante de bancos. ocor- reu sem que o Estado garantisse o atendimento das necessidades básicas da população. ações organizadas. quando o país ainda vivia sob a ditadura militar. creches. aliás. Integrantes do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST). Evaristo SA/Agência France-Presse No meio rural brasileiro. independentes dos sindicatos. Movimentos sociais • 211 Sociologia_vu_PNLD15_199a222_C08. em dezembro de 2012. visto que os sindicatos estavam sob ou podiam sofrer intervenção. Organizaram-se também movimentos pela saúde. moradia. entre outros. eleito presidente da República em 2002. transporte coletivo. com as intensas migrações do campo. Além da movimenta- ção nas fábricas. Esses movi- mentos. Assim. Na década de 1970. transporte. expressando os anseios das camadas sociais de renda mais baixa. entre outras ações. O processo de urbanização. constituíram-se movimentos sociais ligados a sindicatos. dentre os quais o mais conhecido foi o dos metalúrgicos. for- mou-se uma identidade política de autonomia diante do sistema político. Outro tipo de movimento formou-se dentro das próprias empresas: nas comissões de fábrica. ocupação de prédios públicos. mortos ou aprisionados. A terra. intensif icado desde a década de 1970. serviços de saúde. no qual despontou a liderança de Luiz Inácio Lula da Silva. conseguiram deixar suas mensagens contrárias à ditadura. O MST utiliza diversas formas de luta: ocupações e acampamentos coletivos. quando seus militantes foram exilados. educação. outras organizações populares.indd 211 5/28/13 8:48 AM . os movimentos sociais incitam a transformação da sociedade na medida em que pressionam o Estado a atender às necessidades da população. vigílias. chamados de “populares” e inseridos na luta de classes. que pressiona o Estado a realizar a reforma agrária e chama a atenção da socieda- de para o drama daqueles que não têm o acesso à terra e meios de tirar dela seu sustento. se caracte- rizaram por cobrar ações estatais. em defesa das populações que tiveram suas terras inundadas. greves de fome. Dessa forma. em terra ocupada próxima a trecho da BR-020 no Distrito Federal. os trabalhadores agiam e se reu- niam no local do trabalho. e a luta pela re- forma agrária. em surdina. nos anos 1980. A falta de bens coletivos levou à eclosão de movimentos urbanos nos grandes centros. a histórica concentração das terras nas mãos de grandes proprietários e o desenvolvimento do capi- talismo suscitaram. como os movimentos dos atingidos por barragens (MAB). marchas pelas rodovias. saneamento básico. Comunidades Eclesiais de Base (CEBs) – atuantes também no campo – e movimentos de desempregados somaram esforços no questionamento da estrutura política e econômica vigente. O mais conhecido deles é o Movimen- to dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST). as cidades concen- traram uma população cada vez maior sem oferecer a todos serviços como segurança pública. cultura. energia elétrica. como Associações de Mora- dores. o povo brasileiro esteve submetido a relações auto- ritárias e à política da troca de favores com seus represen- Luiz Carlos Murauskas/Folhapress tantes ou governantes. Os movimentos sociais. A importância de elevar as neces- sidades das classes populares à con- quista de direito – à moradia. A transformação das necessidades e das carências da população em direitos é um dos aspectos fundamentais dos movimentos sociais. na conjuntura das ditaduras latino-americanas. concedeu anistia aos perseguidos por mo- tivos políticos e garantiu a volta de eleições diretas para presidente da Repú- blica. ou seja. Entre essas cobranças. pressionar por mudanças – e a garantia do voto nas eleições para seus representantes. o que contribuiu para enfraquecer os direitos de cidadania. em 1984. A articulação dos movimentos sociais e a sua experiência de luta colabo- raram decisivamente. o Placar das Diretas Já permitiu que a sociedade brasileira acompanhasse o voto dos deputados no Congresso Nacional. Necessidades e situações de carências sociais. os movimentos sociais se multiplicaram. ao tra- balho. Em nome do direito à cidadania. 212 • capítulo 8 Sociologia_vu_PNLD15_199a222_C08. pressionaram prefeitos. A redemocratização. foram exigidos o di- reito de a população se manifestar socialmente – ou seja. Esse processo se deu por meio de uma transição gradual que. redefiniram a cidadania. a capacidade de se organizar. reivindicar e cobrar do Estado seus direitos. desde sua construção como nação. governadores e o governo federal a atender suas rei- vindicações. à saúde. A antropóloga brasileira Eunice Durham (1932-) analisa que. transformadas em direitos graças à pressão legítima dos movimentos sociais. por exemplo. Durante o movimento que reivindicava eleições diretas para presidente do Brasil. Nas últimas décadas do século XX. para a restauração da democracia e do Estado de Direito no país após as duas décadas de ditadura militar. entre outras coisas. legitima- mente.indd 212 5/28/13 8:48 AM . só se completou com a promulgação da Constituição de 1988. mas sim na esfera pública. no entanto. foram fundamentais para que a população realizasse a aprendizagem da participação política. entre outros – está em assegurar que tais questões se- jam tratadas não na esfera privada. de poder. restabeleceu o pluripartidarismo. Ou ticipação do Estado nos assuntos econômicos. o custo dessa matéria-prima subiu. como vimos no capítulo 7. Por isso. a base desses movimentos estava em exi. como o dos car- toneros (catadores de papelão) e o dos piqueteros (piqueteiros). Quando os países produtores do Oriente Médio uniram-se para f ixar um volume de extração de petróleo. Após a crise que atingiu o país na virada do século. Segundo o so- ciólogo argentino Héctor Palomino. tais como a estabilização monetária mediante o controle dos salários.ciou o valor. vários mo- vimentos sociais contrários aos efeitos da implantação dessas políticas na América Latina constituíram-se em f ins do século XX e na primeira década do século XXI. Setores conservadores passaram. os proprietários abandonaram o gir do Estado o atendimento às neces. sistema de cooperativa.negócio. relações de forças entre as nações alteraram-se com o f im da União Sovié. especif icamente. Na Argentina. então. seja. a redução dos gastos públicos e a liberalização dos preços de venda das mercadorias. Essa crise contribuiu para fragilizar as ditaduras. a posto pelo montante original (o valor inflação disparar e a atividade econômica estagnar ou cair. bens e serviços) impulsionaram for- mas de organização alternativas. ao mesmo tempo. instituição ou país que tomou um empréstimo ou com- países latino-americanos – ao neoliberalismo. os juros são a remuneração paga Para compreender a adesão mundial – e. as políticas neoliberais provo- caram a desindustrialização da economia e mudanças nas relações de tra- balho que afetaram milhões de trabalhadores e parcelas da classe média. O caminho estava aberto para a aceleração da novos empréstimos também sobe. de muitos por um indivíduo. capital da Argentina.acrescido de um percentual a ser pa- tica. O valor a ser pago é com- do. a defender a redução da par. levando a uma queda de lucratividade no sistema capitalista. e o abandono do sistema socialista (na época.Hóspede faz check-in em hotel “recuperado” em Buenos Aires. Movimentos sociais latino-americanos e o Estado neoliberal Em meados dos anos 1970. princi- palmente por obrigar os Estados a modif icar sua política econômica. pois os empréstimos externos f icaram mais escassos e os juros internacionais. mais hh juros: de forma simplificada. restringindo os direitos. é o va- caros. o valor a ser pago por dos países que o adotavam. como as cooperativas de trabalhadores para gerir empresas desativadas pelos pa- trões durante a crise. As ne- cessidades da população (entendidas aqui como insuf iciência de recursos. Foto de 2009.lor do dinheiro comercializado. grande parte dos países da América Latina viram. Quando adoção que se propunha como alternativa ao capitalismo) em boa parte os juros sobem.indd 213 5/28/13 8:48 AM . as emprestado ou o preço do produto). Isso ocasionou a formação de movi- Emily Anne Epstein/LatinContent/Getty Images mentos exigindo mudanças na políti- ca econômica do país. por exemplo. é preciso considerar dois fa- prou algo a prazo àquele que finan- tores ocorridos entre meados dos anos 1980 e início dos 1990. Movimentos sociais • 213 Sociologia_vu_PNLD15_199a222_C08. Por um la. em 1991. que reunia trabalhadores desempregados. globalização da economia capitalista e o fortalecimento da ideologia neo- liberal. o único em go a título de remuneração. em sidades de subsistência da população. como estudamos nos capítulos 4 e 7. as economias dos países desenvolvidos e tam- bém das nações da América Latina foram atingidas por uma crise mundial provocada pelo mercado do petróleo. Por outro. As políticas neoliberais apresentam ações que tendem a reproduzir as desigualdades sociais. que passou a ser gerido por seus próprios funcionários em 2003. As mudanças políticas nas instituições e nos mecanismos de integração social. essas organizações sociais se colocaram contra as imposições de um sistema econômico excludente. a f im de que elas obtenham maior autonomia. podem ser citados dois acontecimentos na Bolí- via: a mobilização contra a privatização da água em Cochabamba (uma das cidades mais pobres da América do Sul) e os movimentos responsáveis pela renúncia do presidente boliviano Sanchez de Lozada. sistematizados por escrito. intensif icada na década de 1990. devem ser partilhados oralmente com a turma. em fevereiro de 2008. No México (mais precisamente no estado de Chiapas). na América Latina. muitos movimentos sociais combatem as novas formas de desigualdade e pobreza provocadas pelas políticas neoliberais. reconhecimento e poder. Compostas por setores das popula- ções indígenas e das classes trabalhadoras (notadamente as camponesas). Entre outras mudanças. como os sistemas de proteção so- cial e seguridade. A título de exemplo. 214 • capítulo 8 Sociologia_vu_PNLD15_199a222_C08. que buscam alterar a re- lação entre o Estado e as comunidades indígenas – das quais faz parte gran- de parcela da população desses países –. elas valorizaram a diversidade cultural. de cerimônia em La Paz. Gaston Brito/Reuters/Latinstock Manifestantes participam. que mantém parte da população em estado de po- breza. f izeram com que setores desfavorecidos se organizassem para garantir seus direitos. Busque exemplos em jornais. aprovada por referendo popular no ano seguinte. nesse novo con- texto eles passaram a se concentrar na questão da exclusão social. o texto concede mais autonomia aos povos indígenas e repudia toda forma de discriminação. Os resultados da pesquisa. Além disso.indd 214 5/28/13 8:48 AM . no Equador e na Bolívia. em 2003. Se anteriormente os movimentos sociais latino- -americanos lutaram pela cidadania e pelos direitos políticos. com a implantação do neoliberalismo. na internet ou em outros meios de comunicação. em favor da nova Constituição do país. destacaram-se os movimentos indigenistas. os movimentos sociais con- temporâneos enfrentam a situação de exclusão e marginalidade das populações pobres. atualmente. capital da Bolívia. construídos ao longo do século XX. pEsquisa Faça uma pesquisa para saber como. em contraposição à homogeneização direta e indiretamente promovida pela economia globa- lizada. Encontram-se desfiliados. após intervenção policial. na maioria das vezes. Sem-teto desocupam hotel em Recife. A realidade descrita no trecho acima é a da “nova pobreza” presente na nossa sociedade. ainda trabalham. 1998. que apresentam os limites do próprio sistema ao dispen- sar trabalhadores e poluir o ar. Os “excluídos” são. por exemplo – salvo que sua situação é.indd 215 5/28/13 8:48 AM . por exemplo. mas sabem que correm o risco de não terminar. mas poderão ser expulsos se não pagarem as prestações. “descartáveis”. estudam conscienciosamente. ou seja. capital de Pernambuco. Trata-se de indivíduos e grupos que são “desligados” do sistema capitalista. é vedada a possibilidade de desfrutar de bens e oportunidades. jovens que não encontram emprego. mal consideradas.. mas um conjunto de posições cujas relações com seu centro são mais ou menos distendidas: antigos trabalhadores que se torna- ram desempregados de modo duradouro. malcuidadas.. mas que continuam dependentes de sua dinâmica. Os “excluídos” não têm nada a ver com a escolha de uma política de flexibilidade das empresas. estão mais confortavelmente alojados. estão incluídos e usufruem a riqueza produzida. Aos excluídos. o que faz com que tenham condições de vida adversas. Movimentos sociais • 215 Sociologia_vu_PNLD15_199a222_C08. As 47 famílias habitavam havia mais de um ano o imóvel abandonado. dis- pensados do trabalho e impedidos de se inserir socialmente por meio dele. de como a sociedade considera a integração social. 569. Petrópolis: Vozes. mas tiverem de sair por decisão judicial. a consequência dessa escolha. os movimentos sociais se configuram como tomada de consciência por parte dos que vivem sob essas contradições. concretamente. como veremos no capítulo 11. p. vulnerá- veis que estavam “por um fio” e que caíram. A exclusão social e os movimentos sociais na atualidade Os processos que excluem parcelas da população do acesso aos serviços e aos bens de consumo podem ser compreendidos no contexto das contradi- ções do capitalismo. etc. Inclusão e exclusão são lados da mesma moeda: ao mesmo tempo que há indivíduos e grupos deixados “de fora”. em abril de 2013. existem outros que se adaptam às condições de reprodução capitalista. por exemplo.. O fenômeno da inclusão e da exclusão sociais está atrelado ao modo como a sociedade se organiza e concebe as diferentes responsabilidades de suas instituições. po- pulações mal escolarizadas. hh As muitas configurações da exclusão O sociólogo Robert Castel faz a seguinte interpretação da exclusão social: Não há ninguém fora da sociedade. e atinge aqueles considerados “inúteis”. sobretudo as do Estado. Não existe nenhuma linha divisória clara entre essas situações e aquelas um pouco mais aquinhoadas dos vulneráveis que..]. mal alojadas. Robert. CASTEL. o solo e a água do planeta. por sua vez. Guga Matos/JC Imagem ou seja. As metamorfoses da questão social: uma crônica do salário. mas poderão ser demitidos no próximo mês. [. Nesse sentido. informatiza- ção. social e cultural. reconhecem diferenças e obsoletos. isso ocorre pela chamada solidariedade mecâni. propõem novas crescimento do setor de reciclagem de eletroeletrônicos relações entre o Estado e a sociedade civil. públicos. em março de 2011. são do contexto mundial. heterogeneidade e nas particularidades locais. capitalista urbana. identificou a existência tanto de con- ca. Para Durkheim. críticos de Durkheim ale. por isso. Em uma sociedade pré-capita.indd 216 5/28/13 8:48 AM . grupos e comunidades. na China. globa- lizada. a reza. dutas e crenças internalizadas que perpetuavam a ex- que executam as mesmas tarefas e. moderna. cidades. província de Hubei. sem que se regule ses que não se deve mais apenas à proximidade física a divisão do trabalho. Reuters/Latinstock Embora integradas pelas novas tecnologias de informação e de tele- comunicações (internet. los – valores. sibilitam a integração social harmoniosa e abrangente. 216 • capítulo 8 Sociologia_vu_PNLD15_199a222_C08. as ações na sociedade contemporânea. debatem questões como equidade e justiça social. O decorrer da história mostra que diversos obstácu- tência e manutenção da so. A nova lógica dominante do espaço ignora as áreas consideradas sem valor pelo capitalis- mo informacional. conflitos inerentes à vida organizada em sociedade. Na sociedade globalizada. Sua po- computadores descartados em pulação acaba sem infraestrutura tecnológica básica que lhe permita se co- indústria de reciclagem de municar. telefonia celular. realizado num momento de harmonioso. alcançada em uma comunidade de interes- manteriam a coesão social. O consumo em expansão nesse e em outros os movimentos sociais defendem os direitos e a cidadania: revelam novos países emergentes levou ao valores. os indivíduos e culturais. A integração social gem as relações entre as pessoas – muitas vezes impos- é a tendência de a socieda. A integração social em perspectiva Filipe Rocha/Arquivo da editora Émile Durkheim consi. situação que perpetua sua exclu- eletrônicos em Wuhan. nesta de desintegração reunindo excluídos de mesma natu- sociedade manifesta-se.). bairros. transição de uma sociedade agrária escravista para uma lista. de manter-se com um grau O estudo do sociólogo brasileiro Florestan Fernandes baixo de conflitos quando sobre o preconceito racial e a integração do negro à so- suas partes se integram num todo ciedade paulista (1953). etc. unem-se clusão social como novas condições (como os concursos em torno dela. instituída pela semelhança entre os indivíduos. produzir. provocam também a exclusão de países. um imperativo para a exis. Certas regiões das Américas. sociais tros para complementar suas funções. ou pelo consenso nas ideias. mas pela diferenciação tos. gam que sua teoria da integração estaria a serviço da dera a integração social ordem social e do poder vigente. Devido a esse aspecto. consumir e viver. a sociedade fica sujeita a confli. Porém. inovar. Os movimentos sociais reagem aos componentes mada divisão do trabalho social. da Ásia e boa parte da Áfri- ca são excluídas dos grandes fluxos Empregado organiza de riqueza e de informação. impessoais) que abriam brechas para a inte- Com o desenvolvimento da sociedade industrial gração social dos afrodescendentes. como vimos no capítulo 5. tradições e ideologias que re- ciedade. a integração ocorre na solidariedade orgânica: como dependem uns dos ou. ocorre a especialização de funções – a cha. costumes. regiões. os empregados em empregos precários e não qualificados. p.] os desempregados de longo prazo. 21. as minorias raciais. os sem-terra. são apresentadas as condições de ausência de cidadania que penalizam indiví- duos e grupos na sociedade contemporânea: [.. os socialmente isolados. os evadidos da escola. os que sofre- ram mobilidade para baixo. emprego. Na era da globalização. os étnicos. etc. • Discuta com seus colegas: que ações de movimentos sociais no Brasil e no mundo vocês acham que podem ajudar a melhorar a situação das pessoas em cada uma destas condições? Por quê? Orlando Pedroso/Arquivo da editora Desigualdades sociais podem provocar movimentos que se contrapõem à opressão e dão voz a reivindicações vitais das populações. os sem habilidades. das relações na esfera político-eco- nômica favorece a disseminação de causas sociais. as mulheres. na inserção ocupacio- nal. os que recebem assistência social. Economia global e exclusão social: pobreza. em escala mundial. os residentes em vizinhanças deterioradas. Gilberto. muitos deles se institucionalizaram. a diversidade de movimentos sociais é enorme: há os de gênero. acontecimentos locais – por exemplo. os analfabetos. 1999. na etnia. os velhos e os não protegidos pela legislação.indd 217 5/28/13 8:48 AM . gerando novos movimen- tos sociais. os trabalhadores infantis. os viciados em drogas. os pobres que têm consumo abaixo do nível considerado de subsistência (sem-teto e famintos. mas não têm direi- to à assistência social. hh Movimentos sociais na era da globalização A intensif icação. os estrangeiros.. todas implicando discriminação social. São Paulo: Paz e Terra. Um resultado desse processo é a proliferação das or- ganizações não governamentais (ONGs) nos anos 1990. Desse modo. religiosas e em termos de idiomas. Estado e o futuro do capitalismo. os ecológicos. entraram em crise. Movimentos sociais • 217 Sociologia_vu_PNLD15_199a222_C08. Na leitura a se- guir. os pobres que ga- nham pouco. os delinquentes e presos. as crianças problemáticas e que sofrem abusos. Nas últimas déca- das. os decorrentes de problemas so- ciais. entre outros). dE batE Há muitas formas de exclusão – as que se baseiam na renda. Hilary apud DUPAS. os excepcionais físicos e mentais. os sem amigos ou sem família. os que buscam suprir as necessidades coletivas. uma manifes- tação grevista – podem ser modelados por eventos desencadeados a milhares de quilômetros de distância. aqueles cujas práticas de consumo e lazer são estigmatizadas. desapareceram ou se transformaram. os imigrantes e refugiados. SILVER. os que precisariam. no gênero –. antes presente na maioria dos movimentos sociais latino-americanos. 2002.indd 218 5/28/13 8:48 AM . gerar receitas próprias. São Paulo: Loyola. Para entrar em operação. em projetos e parcerias que envol- Filipe Rocha/Arquivo da editora vem diferentes setores públicos e privados. o Fórum Social Mundial tem por Wilson Dias/Agência Brasil objetivo repensar o social e buscar alter- nativas para impedir e reverter a degra- dação das condições de vida no mundo. o Fórum Social Mundial cumpriu um papel importante nos anos 2000: se contrapôs à lógica mercadológica das elites econômicas internacionais que se reúnem todos os anos no Fórum Econô- mico Mundial (FEM). organizando-as em movimentos sociais. uma parcela dos movimentos passou a desenvol- ver uma luta de resistência ao neoliberalismo. converteu-se nos anos [19]90 em ações voltadas para a obtenção de resultados. aproximando o local e o global. em Davos. ed. [. Maria da Glória. Movimentos globais de con- testação questionam o favorecimento do comércio em detrimento dos valores humanos e dos direitos sociais.. 3. Para complicar o cenário. Exemplos como esse se multiplica- ram em ações coletivas de contestação e se juntaram a manifestações localizadas. GOHN. Estes devem demandar subsídios financeiros a seus próprios go- vernos e.. que necessitam] de bens e serviços. econômi- cas e sociais trazido por ela. [As ONGs] desenvolvem projetos com as populações demandatárias [isto é. a globalização e as mudanças na conjuntura política do Leste Europeu levaram a alterações nas políticas de cooperação internacional. p. a otimi- realizado em janeiro de 2013. como e para quem produzir? Que esforços científ icos são válidos para atingir o desenvolvimen- to humano? É possível conseguir chegar a uma cidadania mundial? Que funda- mentos poderiam constituir novas for- mas de poder? 218 • capítulo 8 Sociologia_vu_PNLD15_199a222_C08. De caráter internacional. a ação coletiva de pressão e reivindicação. desenvolvidos com maiores economias (G-8) e do FEM é o capital. Uma dessas ações que adquiriram visibilidade. fundamentalmente. As agendas das instituições internacionais deixaram de priorizar o desenvolvimento de projetos na América Latina – por consi- derarem que a transição para a democracia já se completara – e mudaram o sentido de seus programas.] Os movimentos e as ONGs que sobreviveram se qualificaram para a nova conjuntura em termos de infraestru- tura e do uso de modernos meios de comunicação. foram constituídos encontros para discu- tir questões como: O quê. reunindo vários movi- mentos sociais. Teoria dos movimentos sociais. paradigmas clássicos e contemporâneos. avaliações para que ganhem continuidade. tais projetos necessitam de qualificação. Ou seja. Enquanto o foco da reunião do grupo de países Marcha de abertura do Fórum Social Temático de Porto Alegre. para discutir e tomar decisões sobre a economia mundial. A tecnologia chegou aos movimentos sociais e a institucionalização de setores e áreas das de- mandas e lutas é uma necessidade imperiosa para a sua sobrevivência. etc. como a Internet. zação dos lucros e os mercados mun- diais. na Suíça. foi o Fórum Social Mundial. 17-8. Com a globalização e o conjunto de transformações políticas. por aprofundar o quadro de exclusão social. Assim. para não deixar dúvidas a respeito. apesar de não ter ainda forjado um sujeito coletivo global como seu portador. à renda. à moradia. Alfredo Risk/Futura Press Essa possibilidade de dignidade é aventada àqueles segmentos da população que estão à margem. com o exercício da cidadania. 22. que se formam em determinados momentos históri- cos e roubam a cena. ao trabalho. à informação e o di. podemos associar a eles o movimen- to de direitos humanos. 2001. conselhos em defesa de uma causa) – assumiria um papel mui. os movi- mentos feminista e ambiental. Voluntários de ONG se cooperativas. p. bem como os fatos por eles criados? 2. não por causa da globalização econômico-financeira. Porto Alegre/Petrópolis: Ed. ela mesma global por natureza. paus a para rEflEtir Leia um trecho do artigo “Sim. Sim. as Ciências Sociais se preocupam com a partici- pação dos indivíduos em sociedade. atendimento médico e reito à participação política. avião da Força Aérea rumo ao interior da Bahia. Tais movimentos criaram e criam fatos globais. In: CATTANI. GRZYBOWSKI. por exemplo. comportando a qualidade do acesso a um bem odontológico gratuito à ou serviço que leve a participar da sociedade. um outro mundo é possível. em que a primeira – constituída por grupo de cidadãos ou organizações sociais (como ONGs. Antonio (Org. com liberdade política e visando à igualdade social. Eles apostam em um novo equilíbrio entre a sociedade civil e o Estado. isto é. como você interpreta a af irmação do autor do artigo de que a questão cidadã que move os movimentos é global. um outro mundo é possível” e responda às questões. população. Lembro aqui como exemplo. Como foi dito no início deste capítulo. Com base em sua reflexão e nas discussões em sala sobre os movimentos sociais. fenô- menos como os movimentos sociais só podem ser compreendidos de forma totalizadora. ou impedidos da possibilidade de usufruir dos avanços da ciência e das tecnolo- gias. onde ofereceriam cação. da UFRGS/Vozes/Unitrabalho/Corag/Veraz Comunicação. ao transporte. quais são as grandes questões que envolvem o mundo globaliza- do e que exigem ações conjuntas? Os novos movimentos sociais apontam para uma forma de fazer política que busca relações sociais menos contraditórias e conflitantes. Em amplitude. em abril de Cabe lembrar que uma vida digna ultrapassa a questão do acesso à edu- 2012. Porque as partes (indivíduos) e o todo (sociedade) estão inter-relacionados. Em sua opinião. e essa se dá muitas vezes pelos movimentos sociais. preparam para embarcar em to mais participativo nas ações por uma vida digna para todos. Movimentos sociais globais existem por força dos próprios atores que os cons- tituem.). como vulcões em erup- ção. mais demo- cráticas. Cândido. mas como desdobramento natural da ques- tão cidadã que os move.indd 219 5/28/13 8:48 AM . Movimentos sociais • 219 Sociologia_vu_PNLD15_199a222_C08. Fórum Social Mundial: a construção de um mundo melhor. 1. 3. Individualmente ou em grupo. Investigue a atuação destes grupos e suas conquistas ao longo do tempo. siga os passos abaixo: 1. têm uma relação direta com o espaço onde vivem diferentes comunidades. movimentos sociais. luta de classes. Em uma biblioteca ou na internet. 220 • capítulo 8 Sociologia_vu_PNLD15_199a222_C08. processo de urbanização. participação política. – direitos da infância e da juventude. eles sempre se relacionam intimamente com realidades locais. elabore um mapa do Brasil que contenha as informações levantadas. – movimento de moradia. diálogo s i n t E r d i s c i p l i nar E s Projeto: Mapa dos Movimentos Sociais no Brasil Filipe Rocha/Arquivo da editora Embora haja movimentos sociais ligados a questões glo- bais ou nacionais. – movimento LGBT. integração social. ou seja. – combate ao trabalho infantil. com seu professor de Sociologia. – movimento negro. se o trabalho será feito por estado ou região do país. conceitos-chave: Ação coletiva. faça uma pesquisa e descubra grupos que atuam. nos diferentes estados e regiões. – combate ao trabalho análogo à escravidão. Escolha. – movimento pela reforma agrária. lutas e conquistas se relacionam com o es- paço habitado por elas? Que transformações no espaço podem se relacionar com estas causas? 4. 2. Decidam. mas são objeto por excelência da Geograf ia. exclusão social. O mapa precisa dar uma ideia geral da territorialidade das lutas dos movimentos sociais no país. classes sociais. pobreza. que ações desses grupos transformam o ambiente (urba- no ou rural) e o espaço onde vivem. – combate à fome e à pobreza extrema. relações de produção. nas seguintes causas: – movimento feminista e movimentos de mulheres. como o trabalho será dividido entre os grupos e alunos da sala. As relações com o espaço podem ser estudadas na Sociologia. também. Com o auxílio de programas de computador ou instrumentos manuais de carto- graf ia. b) De que forma essas reivindicações. a) Anote em seu caderno as informações sobre as reivindicações e lutas dessas pessoas. utilizare- mos conhecimentos de ambas as disciplinas para criar um ma- pa dos movimentos sociais no Brasil. Portanto.indd 220 5/28/13 8:48 AM . Nesta atividade. identidade. org. Como os movimentos sociais contribuíram para a redemocratização do Brasil? 4. São Paulo: Loyola. SCHERER-WARREN. 1994. As Ciências Sociais na rede Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra. 2012.andi. dos populares aos pacifistas. Brasil. que resultou no movimento Viva Rio. Ilse. São Paulo: Cortez. em Cochabamba. ed. São Paulo: Paz e Terra. México em transe. 2013. 1983. Manuel.reporterbrasil. Companhia Bolívia. 5. serviços de água na região. direção de Icíar Bollaín. a favela de Vigário Geral. Disponível em: <www. os danos causados pelo neoliberalismo no México no começo dos anos 1990. onde o autor acompanhou a mobilização contra a violência. analisando os movimentos sociais e as ONGs na contemporaneidade. na Zuenir Ventura (ed. 2. sociedade e capitalismo na era do neoliberalismo. todos se veem em meio ao conflito real em que a população local lutava contra a privatização dos das Letras). Redes de movimentos sociais. Disponível em: <www.org. De repente. O poder da identidade. no final dos anos 1970.org. Nesse cenário. direção de Cláudio Kahns e Antônio Paulo Ferraz. direção de Fausto Fuser. Tornou-se referência na questão do trabalho escravo no país. grupos rebeldes revivem a memória do líder revolucionário Emiliano Zapata. 2008.indd 221 5/28/13 8:48 AM . Disponível em: <www. Santo e Jesus – metalúrgicos. Acesso em: 20 dez. ONG que atua na área dos direitos trabalhistas no Brasil. Repórter Brasil. Saga da Oposição Sindical Metalúrgica. Repórter Social. 2008.br/portal-andi/veiculo/agencia-reporter-social-brasil>. Site do MST. Por que nem toda ação coletiva é um movimento social? 3. Apresenta a dinâmica dos movimentos sociais organizados em redes. 1993. 1996. Movimentos sociais • 221 Sociologia_vu_PNLD15_199a222_C08. O que signif ica dizer que os movimentos sociais constroem uma identi- dade cultural? Justif ique. um dos principais movimentos sociais atuantes no Brasil. As Ciências Sociais no cinema Conflito das águas. de Uma equipe espanhola está rodando um filme de ficção que reconstitui. São Paulo: Companhia das Letras. Relacione os movimentos sociais e a expansão dos direitos da cidadania no Brasil. r E v i s a r E s i s t E m atiza r 1. Zuenir. Maria da Glória. Curta-metragem documental que mostra. a conquista da América e o primeiro contato dos espanhóis com os indígenas.mst. VENTURA. 6. GOHN. Capa do livro Cidade partida. por meio da revolta em Chiapas. ONGs e redes solidárias. quando do assassinato de dois operários. O protagonismo da sociedade civil: movimentos sociais. Como podemos def inir exclusão social na contemporaneidade? 7. 2010. O autor apresenta a dinâmica dos movimentos sociais contemporâneos e discute a questão da identidade e da diversidade nesse contexto. visando estimular a reflexão e a ação social para o combate às violações desses direitos. Espanha. Livro que discute o sentido dos conceitos que envolvem o protagonismo da sociedade civil brasileira. que luta há mais de 30 anos pela reforma agrária.br>. Como se apresentam os movimentos sociais na era da globalização? 8. em São Paulo. 2012. contra os interventores do sindicato. Relacione Estado. A cidade é o Rio de Janeiro e o cenário. dE scubra m ais Reprodução/Companhia das Letras As Ciências Sociais na biblioteca CASTELLS. Brasil. Artigos e reportagens relacionados a vários movimentos sociais brasileiros em atividade. Em que medida as situações de déf icits sociais e vulnerabilidade social favorecem a emergência de movimentos sociais? Filipe Rocha/Arquivo da editora 2. Acesso em: 14 jan.br>. Cidade partida. Acesso em: 20 dez. 283-336. Sociologia e sociedade. antigos e novos atores sociais. da UFSC. II. 222 • capítulo 8 Sociologia_vu_PNLD15_199a222_C08. emprego. 2003. 2011. BIB. José Sérgio Leite. São Paulo: Loyola. n. Jordi. François. p. ed. p.). _. Buenos Aires: Schapire. 77-90. Sim. _. 2006.br/scielo. Eli.). 1. As consequências da modernidade. ed. 9. In: TOLEDO. OLIVEN.ed. Claus. 2. Petrópolis: Editora da UFRGS. a era da informação: economia. Pochmann e Ricardo Amorim WEBER. Os movimentos sociais. 79-104. v. 3. HOLZMANN. 4. n.doi. 817-868. Porto Alegre: Zouk. (Org. Sindicatos y nuevos movimientos sociales en América Latina. sociedade e cultura. Informe Especial. 1999. um outro mundo é possível. DINIZ. Rio de Janeiro: Paz e Terra. 1997. 1987. Novos rumos e possibilidades para os estudos dos movimentos sociais. BOURRICAUD. 1987. SOUSA SANTOS.). de S. 19-30. 1995. 2004. CASTEL. Disponível em: http://www. A ideologia alemã. François. Movimentos sociais. Reprodução/Cortez Editora ROMEU. Tratado de sociologia. 172-177. de Anthony MARX. Anthony. GOHN.19. 27-37. In: BOUDON. 1975. WRIGHT MILLS. 2012. Gilberto. ed. ENGELS. Boaventura de. Fim de milênio. São Paulo: Cortez. In: CATTANI. São Paulo. Constituição da República Federativa do Brasil. Atlas da exclusão social no Brasil. Rio de Janeiro: Record. falas e lutas dos trabalhadores da Grande São Paulo 1970-80. CHAZEL. 3. A.indd 222 5/28/13 8:48 AM . winter 1985. bibliog r af i a ANDRADE. 1974. H. Buenos Aires: Siap.php?pid=S010264451 989000400008&script=sci_arttext Acesso em: 9 set. Buenos Aires: Consejo Latinoamericano de Ciências Sociales. exclusão social e modernidade: uma introdução ao mundo contemporâneo. p.. Florianópolis: Edit. Ensaios de Sociologia. New social movements: challenging the boundaries of institutional politics. DURKHEIM. Eder. 2011. Mestres explicam a globalização. Ensaios de Sociologia. Fórum Social Mundial: a construção de um mundo melhor. In: GERTH. nov. Quando novos personagens entraram em cena: experiências. In: <http://dx. 2. São Paulo: ANPOCS/ Hucitec/Ipea. M. Os porquês da desordem mundial. 5. paradigmas clássicos e contemporâneos. Fórum Social Mundial: a construção de um mundo melhor. (Org. p. Raymond. 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Movimientos sociales urbanos.). Movimentos sociais na transição democrática. Karl. 1987. Conflitos sociais. 1989. In: Livro do ano 2006. Lorena (Org. p. POCHMANN. 2001. Raymond (Org.1590/S0102-64451989000400008>. Veraz Capa do livro As consequências Comunicação. Petrópolis: Vozes. Movimentos sociais no início do século XXI. Fabiano. Social research. ed. Robert. Maria da Glória. p. n. CARDOSO. PALOMINO. Pobreza. Unesp). Lua Nova.). Estado e o futuro do capitalismo. Rio de Janeiro: Reprodução/Editora Unesp Jorge Zahar Editor. 52. Vozes.). _. Porto Alegre/Petrópolis: Editora da UFRGS/Vozes/Unitrabalho/Corag/Veraz Comunicação. Ricardo (Org. Corag. out. Capa do livro Atlas da exclusão TOURAINE. BORJA. Movimentos sociais. Ação sindical em face da automação. França 2005: a revolta dos excluídos. CASTELO BRANCO. p. São Paulo: Paz e Terra. Celina. 1991. Giddens (ed. (Org. Maria Teresa. M. MARTINS. 2001. p. GIDDENS. Silvia Maria de. 2º. Petrópolis: Vozes. Movimentos sociais na América Latina. 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Antonio (Org. 223 Sociologia_vu_PNLD15_223a246_C09.indd 223 04/06/2013 10:17 . políticas e culturais em diferentes épocas. escola e transformação social Estudaremos neste capítulo: a escola como uma instituição social e a educação como processo social. os problemas da educação no Brasil e suas implicações sociais. Salmo Dansa/Arquivo da editora Capítulo 9 Educação. o papel do Estado e das políticas públicas são destaques nas páginas a seguir. visto que escola e educação tendem a se de- senvolver de acordo com as condições sociais. A escola é um dos espaços privilegiados de interação. De uma educação formal res- trita a certos grupos sociais até o século XIX. no século XX. desenvolve-se o princípio de sua universalização. socialização e aprendizagem sistematizada. Educação como direito. e passou a ser vista nas últimas décadas para além da função de transmissão de conhecimento. co- mo depreendemos do pensamento de Durkheim. dá exemplos de como os sistemas educacionais expressam os valores dominantes nas sociedades de cada época. é responsável pelo desenvolvimento de habilidades e pela construção do senso crítico por meio do intercâmbio de conhecimentos e do diálogo. esforça-se em fazer dele personalidade autônoma. A educação tam- bém pode ser vista como meio de conservar a sociedade como se encontra. af irmou que a educação expressa valores que variam de acordo com o espaço e com o tempo nos quais ela ocorre. Educação e sociedade A escola é uma das poucas instituições sociais a que grande parte da po- pulação tem acesso em qualquer parte do mundo. Marialice (Org. prudentes. a educação conduzia o indivíduo a subordinar-se cega- mente à coletividade. início do XX]. p. O processo educativo no modelo hegemônico de escola se estabelece principalmente a partir da interação professor-aluno-comunidade educativa e. Apud PEREIRA. procurava-se formar espíritos delicados. a educa- ção depende do desenvolvimento da ciência. Em Atenas. FORACCHI. embebidos da graça e harmonia.indd 224 5/28/13 8:49 AM . ao meio civil. publicada postuma- mente em 1922. Na Idade Média. das atividades culturais de uma sociedade. para além da família. não religioso. como todo processo social. Seja em um vilarejo no a interior da África. Educação e sociedade. A educação como processo socializador. do século XIX. 6. a ciência tende a ocupar o lugar da arte no processo de educação. 1973. que atende à heterogeneidade das condi- ções sociais existentes em épocas e culturas diversas. antes de tudo. é possível identif icar algu- mas características em comum: • a educação é um fenômeno múltiplo. DURKHEIM. capazes de apreciar o belo e os prazeres da pura especulação. indiferentes às letras e às artes. Depois da leitura. 36. em todas as suas formas. Émile. relativo à esfe. en- hh leigo: nesse contexto. Em Roma. São Paulo: Companhia Editora Nacional. pe R Fili A educação. está sempre em movimento. a escola é hoje a instituição socialmente responsabilizada pela difusão de cultura e conhecimento. O processo ocha/Ar de mediação de cultura e conhecimento é denominado educação. a educação tornava as crianças homens de ação apaixonados pela glória militar. Ou seja. quanto na Renascença toma caráter mais leigo. não segue um único caminho. Para alguns. ed. Durkheim. Nos dias de hoje [final ra secular. seja na zona rural do semiárido brasileiro. Émile Durkheim. 224 • capítulo 9 Sociologia_vu_PNLD15_223a246_C09. mais literário. Embora os valores educacionais sejam diferentes em cada sociedade. falando em f ins do século XIX e início do XX. Nas cidades antigas. reflita sobre a af irmação destacada no trecho. seja em uma tor edi quivo da grande metrópole. variando conforme o contexto em que se desenvolve.). da organização política e eco- nômica. Luiz. En con tr o c om os c i E n t i s tas s oc i ai s No trecho a seguir. é um processo social por excelên- cia. Hoje. é o instrumento capaz de fornecer atualizações de saberes necessárias às transformações individuais e sociais. ela era cristã. em sua obra Educação e Sociologia. Para outros. Portugal. • a educação é um processo socializador por def inição. escola e transformação social • 225 Sociologia_vu_PNLD15_223a246_C09. Processo social que permite aos indivíduos inserir-se na sociedade. capital do Mali. a educação apresenta as características propostas por Durkheim para iden- tif icar um fato social. os valores de uma sociedade não depen- dem de uma pessoa que os manifeste ou que com eles necessariamente este- ja de acordo. coercitividade e exterioridade dos fatos sociais. de 2012. em 2013.indd 225 5/28/13 8:49 AM . Para ele. Ela é externa ao indiví- duo: é uma realidade objetiva. moldando as consciên- cias individuais. crianças participam de assembleia na Escola da Ponte. sentimentos. também re- conhecemos traços dos fatos sociais de Durkheim. Neste processo interativo surgem também resistências e adaptações. • a mediação de conhecimentos pelo processo educativo objetiva desenvolver capa- cidades do ser humano. Na foto à direita. Também a coercitividade está presente na educação. No caso do Brasil. suas normas e regras sociais são impostas pelo processo educativo. a educação apresenta generalidade. a compartilhar com outros certos valores. Se pensarmos na f igura da instituição escola na atualidade. direcionada a diferentes segmentos da população. • cada sociedade elabora sua própria sistematização da educação. um espaço físico e social para que aconteça a educação na sociedade. transmitindo- -lhes conhecimentos e comportamentos compatíveis com os valores de determina- da sociedade. a educação “cria um homem no- vo”. Educação. em São Tomé de Negrelos. A educação é um fenômeno múltiplo. no trabalho e em outros ambientes de socialização. comportamentos próprios de uma cultura comum. Nesse sentido. torna a pessoa membro da sociedade. • a educação implica a ação de adultos sobre as gerações mais novas. Joe Penney/Reuters/Latinstock Raquel Pacheco/Acervo da fotógrafa À esquerda. estudadas no capítulo 2: generalidade. para existir. na qual todos os alunos avaliam e planejam as atividades escolares. a educação expressa essa realidade exterior que independe da consciência dos indivíduos. Há normas so- ciais e leis com a f inalidade de incentivar e até mesmo coagir as famílias a colocar seus f ilhos na escola. Como. É geral: espera-se que todos os membros de uma sociedade passem por ela em algum momento de suas vidas. pois existe para a coleti- vidade. por exemplo. adolescentes durante aula em escola em Bamako. • educação e escola tendem a se confundir. a obrigatorie- dade vale para os menores de 14 anos. na medida em que as maneiras de agir e sentir próprias de uma sociedade. embora a educação aconteça também na família. no sentido de injunções da família. No Ocidente. pois nada mais é do que a transmissão de conhecimento e cultura acumulados por um grupo ou sociedade. mas uma percepção da realidade que passa por uma trans- formação dentro de nós. uma marca cultural de O grande desaf io da instituição escolar como espaço fundamental da valores. que são. Alguns cientistas sociais. Por isso. do sexo masculino. diante da complexidade da sociedade atual. pedagogos e uso da língua. por um lado. as transformações culturais. o f im do absolutismo e a ideia do Estado laico. Morin pergunta se nos foi dito o que realmente signif ica conhecimento. do ambiente em que vivemos. Isso se deu tendo em vista. princípios e normas sociais que educação é o de propiciar condições para que os educandos compreendam nos são transmitidas e ficam gravadas e discutam a complexidade da nossa sociedade e suas múltiplas realidades. hábitos culturais. a ne- cessidade de formar mão de obra para algumas fun- ções da produção nas indústrias. Nesse sentido. Lembra que conhecimento não é uma simples fotograf ia do que vemos. outros prof issionais atentos às mudanças sociais em curso chamam o mo- co. nossa sociedade cons- Album/akg-images/British Library/Latinstock tituiu sistemas educacionais diversos. Aplica-se a diversos campos: normas econômicas. seja pela alfa- betização. No século XX. em que um indagar se. em especial a escola. 226 • capítulo 9 Sociologia_vu_PNLD15_223a246_C09. ouvimos e experimentamos. um imprinting cultural. Somente após a Revolução Industrial. Ainda que ensinar conhecimentos e práticas seja tarefa da escola. Morin identificou problemas nos sistemas educa- sistema educacional aberto a cionais que denotam um descompasso da educação atual em relação às rápi- todas as classes sociais. etc. os ideais de cidadania inspirados no Iluminismo. a Ciência e a Cultura (Unesco) ao filósofo Edgar Morin poucas que ofereciam um na virada para o século XXI. foi cunhado. a escola tem ou não jovem se apaixona conseguido promover inclusão social e justiça. muitas vezes. perdidamente por uma colega de escola. das mudanças dos últimos 30 anos e ao papel social que deveria cumprir. Na época. recebidas e processadas por nós. especializa- Miniatura persa do século XV que ilustra o poema narrativo da e técnica. saibam buscar o conhecimento. que não execu- tassem trabalhos braçais na Grécia antiga (notada- mente Atenas) e o clero católico na Idade Média. nada do inglês que significa algo que da escola. políti- cas e a maior aproximação entre nações contribuíram para ampliar ainda mais a escolarização. seja pela expansão do ensino médio e supe- rior para formar mão de obra qualif icada. o conhecimento é sempre uma tradução hh imprinting cultural: expressão origi. Ao longo do tempo. uma das principais questões para a Sociologia é Laila e Majnun. na forma de aprendizado. conflituosas. e.indd 226 5/28/13 8:49 AM . que em certo momento extrapolaram a esfera doméstica e se expan- diram para outras instituições. e reconstrução. mento que vivemos de sociedade do conhecimento e consideram que um dos maiores desaf ios da educação no século XXI é fazer com que crianças e jo- vens “aprendam a aprender”. comportamento políti. as A resposta a essa pergunta foi solicitada pela Organização das Nações Uni- sociedades islâmicas eram das das para a Educação. como os indivíduos livres. com o desen- volvimento do capitalismo. por outro. o modelo mais próximo do que hoje co- nhecemos por escola servia inicialmente apenas às classes dominantes ou a grupos específ icos. hh A educação na história A educação sempre existiu em sociedades humanas. a escolarização estendeu-se às massas. Na educação se refletem todas as mudanças políticas. Ensinar àqueles que irão se defrontar com o mundo onde tudo passa pelo co- nhecimento. Se as novas tecnologias estiverem a serviço da educação.indd 227 5/28/13 8:49 AM . de forma sistemática. Educação. pela transmissão constante de valores sociais e padrões de comportamento. ao af inar novos padrões de comportamentos à sociedade e acelerar e fazer novos usos das mudanças tecnológicas e materiais. e tentar mostrar quais são suas raízes e causas. a educação transmite e reproduz. os princípios de condução da vida social. pois ela é instigada a se modificar para atender a velhas e novas demandas da sociedade. São Paulo: Cortez. Isso signif ica que a educação é algo em constante transformação. culturais e sociais. In: ALMEIDA. Luciana Whitaker/Pulsar Imagens Depois. conforme vimos no capítulo 3 –. livros. ou seja. p. Educação e complexidade: os sete saberes e outros ensaios. MORIN. escola e transformação social • 227 Sociologia_vu_PNLD15_223a246_C09. E.). Como processo responsável pela socialização – ou seja. A educação é tanto inovadora quanto conservadora: ela ajusta as gera- ções à ordem vigente. os valores sociais estabelecidos. Maria da Conceição de. mas também dá subsídios para mudanças. Edgar. pela informação veiculada em jornais. em sintonia com a di- nâmica das sociedades. no estado do Rio de Janeiro. ambos se modif icam no decorrer do tempo. paus a para rEflEtir Leiam o trecho de texto a seguir. Estes conhecimentos e informações estão pre- sentes também no cotidiano escolar? De que forma? 3. inter- net é algo de fundamental importância. que a compreen- de como um processo social com repercussão na história. 1. discutam as questões. em duplas/grupos. apresentando-se como um fenômeno contraditório em diferentes contextos histórico-sociais. É necessário também ensinar que o conhe- cimento comporta sempre riscos de erros e ilusões. Edgard de Assis (Org. Sociologia e educação A educação é um dos objetos de estudo da Sociologia. 83. em 2012. CARVALHO. manuais escolares. 2002. elas podem levar à transformação do conhecimento e da forma como nos rela- cionamos com ele? De que forma isso poderia acontecer? Alunos usam computadores em escola municipal em Piraí. A propósito dos sete saberes. Que tipos de “conhecimento” e informações estão no seu dia a dia? Por que meios vocês os obtêm? 2. um agrupamento de métodos para influenciar o com- portamento dos indivíduos. interinfluências. transmissora de cultura. da hegemonia e da dominância de alguns grupos sobre outros. que reconhece um processo que envolve gerações em convívio. Mannheim considera a educação capaz de alterar a ordem estabelecida. No entanto. Sociólogos como o húngaro de ori- gem alemã Karl Mannheim (1893-1947) consideram que o proces- so educacional supõe interação. uma forma de Filipe Rocha/Arquivo da editora controle social. que molda o seu eu individual ao eu social – usando as expressões cunhadas por Durkheim. Nessa concepção. no exército.). religiosa. um conteú- do que flui do educador para o educando. presente principalmente nas teo- rias de Émile Durkheim. há a perspectiva de integração do educando ao sistema de normas e valores sociais. As pessoas seriam educadas para se ajustar aos padrões dominan- tes presentes na fábrica. O conjunto de papéis sociais forma um sistema institucio- nalizado de expectativas denominado sistema social pelo sociólogo Talcott Parsons. na escola. O objetivo da educação é. Entre as teorias sociológicas que pensaram a educação no século XX. um processo de contínua inserção do indivíduo aos padrões cultu- rais que implica o aprendizado de papéis sociais. como aque- les que estudamos no capítulo 3. A educação exerce. portanto. intelectuais e morais desejados pelo meio so- cial do qual a criança e o jovem provêm. na família e em outras esferas institucionais. ou seja. o processo de educação pode ser def inido como a ação que as gerações adultas exercem sobre as gerações ainda não preparadas para a vida social. política. que reconheceu a reprodução de desigualdades de di- ferentes tipos pelo sistema escolar. de valores e de conhecimentos vigentes. desenvolver nos edu- candos certos estados físicos. que identificou na educação uma função integra- dora. educativa.indd 228 5/28/13 8:49 AM . etc. A educação se re- veste da responsabilidade pela socialização dos indivíduos. Os sujeitos individuais ou coletivos que desempe- nham essas posições e papéis interagem mediante ações e atividades de natureza específ ica (econômica. adap- tações e inovações. A escola como espaço de socialização Para Durkheim. no escritório. resistências. a educação não seria algo aceito passivamente. sobretudo nas análises de Pierre Bourdieu. re- guladas por normas sociais que limitam o confronto de uns com outros e regem a vida social. Mannheim analisa a educação como uma técnica social. a educação molda o ser humano em e para determinada sociedade. Diferentemente de Durkheim. por se adequar às transformações pelas quais passa a sociedade. Para outros pensadores. duas tendências principais se destacam: a) a corrente de pensamento funcionalista. neste aspecto. Informações. a fim de enquadrá-los aos padrões da socie- dade. b) e interpretações ligadas às teorias do conflito social. ideias e valores veiculados não apenas estimulariam a assimilação e aceita- 228 • capítulo 9 Sociologia_vu_PNLD15_223a246_C09. o que constituiria um processo de controle social. grupos de estudo. interagem com saberes e vivências trazidas pelos estudantes. em 1979: Poucas pessoas compreendem que o que eu falo significa transformação completa da maioria das instituições atuais. 1979. e não sendo governados. LE MONDE. alunos e administradores. de governo. escola e transformação social • 229 Sociologia_vu_PNLD15_223a246_C09. baseando-se nos textos que produzirão em equipes reconhecendo ou não as ideias do psicólogo norte-americano e precursor da psico- logia existencial humanista. junto com os professores e a administração. as escolas tradicionais atuais: elas são completamente autoritárias. hh Além dos portões da escola Na escola. Valendo-se de bases democráticas. Os alunos não têm nada a dizer. 23 dez.). A escola conf igura-se um espaço de interação entre os diversos agentes sociais. etc. mas também os modif icariam. Dividam-se em dois grupos e preparem-se para questionar e argumentar com os convidados. por exemplo. elogios. Se levarmos verdadeiramente a sério a ideia de que cada indivíduo pode ter um papel na tomada de decisões. Veja. relacionamentos. manifestações políticas. isso transformaria completa mente os conceitos de educação. Paris.). ção dos padrões comportamentais vigentes. que af irmou em uma entre- vista concedida ao jornal Le Monde. garantindo que as escolhas para a sua gestão sejam realizadas por alunos e professores. Educação. A escola tem uma dinâmica própria. punições. As decisões são tomadas na cúpula pelo diretor e pelos professores. organizem-se na turma para realizar um deba- te com convidados: professores. quer por constrangimento (sanções legais. isso criaria um tipo de instituição educativa completamente diferente. O seu professor ou pro- fessora de Sociologia irá problematizar sociologicamente as condições da vida de- mocrática na escola. resultando na convivência de comportamentos e valores sociais distintos. recompensas. quer por persuasão (mediante propaganda. graças ao fato de a juventude não estar ainda comprometida com os valores dominantes. etc. a sociabilidade se desenvolve de diversas formas: reivindicações. a instituição esco- lar pode promover a liberdade de participação. Se – é essa a ideia que defendemos – os alunos participassem das decisões. cada um detendo seu próprio poder. Controle social é uma forma de pressão que uma sociedade (um grupo ou uma unidade social) exerce para que seus membros sigam as normas sociais. reprovações. repassados por profes- sores e administradores. Fredéric Gaussen entrevista Carl Rogers. a qual vai além dos atos de ensinar e aprender. Carl Rogers (1902-1987). que podem estar de acordo com tais padrões ou não. Nesse am- biente. entre outras. eventos acadêmicos e culturais.indd 229 5/28/13 8:49 AM . ami- zades. de negócios. como veremos melhor no capítulo 10. os padrões hegemônicos da sociedade. na medida em que recebe influências do contexto social. dE batE Com base nos estudos deste capítulo. fruto do conjunto de tensões pre- sentes na relação professor-aluno e na relação Estado-indivíduo. bairro de São Paulo. com teatro. a escola é a expressão concreta de um sistema simbólico. econômicos. No entanto. culturais. Esses centros educacionais são equipamentos públicos abertos à comunidade. voltar o olhar para nosso interior. destinado à infância e à adoles- cência. telecentro. creche. Quais são. além de ensinar a compreender uns aos outros. quadras poliesportivas. Para o educador brasileiro Demerval Saviani. é o seu objetivo. que respondem à organização 230 • capítulo 9 Sociologia_vu_PNLD15_223a246_C09. A escola não se encon- tra isolada de outros grupos sociais. essa seme- lhança não esconde a diversidade entre eles. biblioteca. que implica entender o ser humano não como objeto passivo ao receber formação e informação. em 2009.indd 230 5/28/13 8:49 AM . Uma das discussões que a Sociologia trava atualmente é sobre a relação entre o espaço escolar e seu entorno físico e cultural. transmitir o conhecimento de determinada sociedade. desenvolver habilidades técnicas anteriormen- te não requeridas. porém. Os indivíduos passam pela escola. processo em que ela adquire papéis que antes não desempenhava. oferecer conhecimentos antes aprendidos no in- terior da família (como. políticos e ecológicos. sociais. As condições da vida moderna. escola de Ensino Fundamental. mas como sujeito que age. À escola cabe também desenvolver o autoconhecimento. modif ica sua história e é por ela modif icado. a sustenta. Aula de arte em projeto no Centro Educacional Unificado (CEU) da Vila Curuçá. que tem na educação um bem. ou seja. é possível identif icar certa hipertrof ia da escola. cinema. Sistemas escolares e reprodução social Os sistemas escolares modernos de diversos países se assemelham pelo fato de terem um ensino básico nas escolas. ou seja. piscinas e refeitórios. entre outras. muitas vezes. os quais inter- ferem no desempenho da escola de muitas formas. escola de Educação Infantil. pois. introduziram novas funções à escola. e um ensino superior para jovens e adultos. por exemplo. A comunidade repercute na organização escolar e faz o processo educacional se diferenciar em função de fatores demo- gráf icos. a estreita liga- ção entre o sistema educacional e o contexto social. como a comunidade que a rodeia e. mas a insti- Paulo Liebert/Agência Estado tuição escolar permanece como produtora e trans- missora de conhecimentos. além de produzir novos conhecimentos. no mundo e no Brasil: cuidar das crianças. os desaf ios que enfrentam a educação e a escola em face das mudanças sociais aceleradas nos últimos decênios? Edgar Morin reaf ir- ma a necessidade de uma educação propositiva. noções de higiene para as crianças mais novas e de orienta- ção sexual para os adolescentes). fornecer meren- da. pensando o ser humano e a sociedade de maneira coletiva. Educação. cada sociedade. assim. o que ilustra a caracterís- cha/Arq tica coercitiva das instituições sociais. às camadas socioeconômicas menos favorecidas – perpetuando-se. política de cada país. a proteção das liberdades civis e o individualismo –. sua expansão se deu pelo acesso a uma escola culta e letrada para as classes dominantes e a uma escola mínima. Em sua teoria da reprodução social. Reginaldo Manente/Agência Estado Cerimônia com formandos do curso de Direito da Universidade de São Paulo (USP). Hoje em dia. baseada em estudos sobre o sistema educacional francês. a educação se difunde para vários setores sociais. a igualdade perante a lei. Inspirada nos preceitos da ideologia liberal – a livre-iniciativa. favorece a ascensão social. em cada época. a educação formal reproduz a si própria e à sociedade. pois em nossa sociedade é também por meio dela (mas não exclusivamente) que ocorre a promoção de indivíduos e grupos sociais e que se acessa melhores condições f inanceiras e de cidadania. e para oferecer oportunidades apropriadas ao talento e à capacidade dos indivíduos. reforçando as desigualdades sociais ainda nos bancos escolares.indd 231 5/28/13 8:49 AM . esses sistemas costumam ser apresenta- dos em nossa sociedade como um caminho para chegar à igualdade social e à liberdade política. em 1960. criando diferenciações e muitas ve- zes apoiando desigualdades. a educação formal traduz as próprias contradições da sociedade de classes. editora De acordo com Durkheim. escola e transformação social • 231 Sociologia_vu_PNLD15_223a246_C09. As formas de acesso ao sistema de ensino superior brasileiro de então ajudavam a perpetuar a divisão social existente. Esta desigual- dade é fruto de uma série de escolhas políticas feitas ao longo da história do Brasil. a educação foi estimulada como uma prática democrática na sociedade contemporânea. possui um uivo da sistema de educação que se impõe aos indivíduos. Desde o início da modernidade capi- Filipe Ro talista. Além disso. Pierre Bourdieu reflete sobre o ideal da igualdade perse- guido (em tese) pela educação. ao mesmo tempo que comporta e estimula a competição. que favoreceram a criação de escolas particulares e reduziram os in- vestimentos materiais e simbólicos do Estado na educação pública. No contexto da sociedade brasileira de classes. a divisão social existente. com iniciação para o trabalho. Como uma estrutura que valoriza os princí- pios e padrões culturais dominantes. que escreve e publica textos sobre a vida no Capão Redondo. enquanto os estudantes mais familiarizados com a obra de Ferréz não se encontram na mesma situação. na sociedade. na disciplina de Língua Portuguesa: quase sempre se trata de obras conside- radas “boas” por certos autores que. no qual a imposição de uma classe ou grupo social ganha dimensões simbólicas. Como resultado ainda mais injusto. por exemplo. Essas relações são muitas vezes dissimuladas pelo convívio. geram relações de poder entre elas. legiti- hh sociolinguística: ramo da linguísti. Evelson de Freitas/Agência Estado Público visita exposição com obras do pintor italiano Caravaggio (1571-1610) no Museu de Arte de São Paulo Assis Chateaubriand (Masp). presente no domínio das letras. como as formas de se colocar em entrevistas de emprego menos prestigiadas das línguas. poderíamos dizer que co- nhecer bem a obra de Mário de Andrade é um tipo de domínio sobre o que ele chama de cultura legítima. que é imposta por meio de uma violência simbólica. que se encontram em posições assimétricas. ou seja. em agosto de 2012. como conteúdo obrigatório). isto é. pertencem ao mesmo grupo. não é direta nem acontece pela força física. Um exemplo são os livros estudados no currículo escolar de literatura. em São Paulo. Outro signo incluído na cultura legíti- ma no Brasil seria certa forma de falar e escrever a língua portuguesa. 232 • capítulo 9 Sociologia_vu_PNLD15_223a246_C09. O objeto preferencial da truir frases que indicam a posição social dos indivíduos. Ferréz é um autor de literatura margi- nal. seu ou até mesmo de se vestir. O sociólogo francês parte da concepção de que as relações de classes. Dominar a cultura “legítima” resulta em vanta- uso e a forma como são vistas pelos gens sociais. políticas e também f inanceiras. os estudantes mais familiarizados com a obra de Mário de Andrade acabam tendo vantagens sociais.indd 232 5/28/13 8:49 AM . em geral. Por este motivo. Em outras palavras: o siste- ma educacional está vinculado à cultura dominante. na maioria das vezes. das artes. Podemos citar sociolinguística são as variedades outros exemplos. um bairro na periferia da cidade de São Paulo. Como resultado desta dominân- cia de um grupo sobre os demais. pode-se af irmar que a sociedade no geral concorda que um autor como Mário de Andrade seja “melhor” do que um escritor como Ferréz. como possivelmente maior facilidade em vestibula- res (nos quais o autor é cobrado. Se usarmos os termos criados por Bourdieu. aquela composta pelos signos cultu- rais que permitem a ascensão social. mada como “correta” (denominada “norma culta” pela sociolinguística) e ca que estuda a relação entre língua e caracterizada por determinadas maneiras de falar. ou seja. empregar palavras e cons- sociedade. enquanto obras de autores populares e de lite- ratura marginal muitas vezes são ignoradas. da ciência e de manifestações da cultura. Para Bourdieu. políticas e financeiras. cultura legítima é chamado por Bourdieu capital cultural. a familiaridade com a cultura dita legítima resulta em vantagens sociais. o domínio da diferentes grupos da sociedade. atribuindo a si próprios a culpa pelo insucesso escolar e considerando-se incapazes de acompanhar os estudos formais. Um menino pobre não tem a mesma leitura de mundo de um menino rico. Esse processo de reprodução social que acabamos de descrever é susten- tado. entre outros. a redução das desi- gualdades sociais por meio da formação educacional. Um garoto que mora na favela pode ter uma noção muito mais ampla sobre o que é o de- semprego e a desigualdade social do que outro que more num condomínio fechado. Descolarizzare la società. Os pobres têm necessidade de aprender e não de obter um certificado ates- tando a assistência recebida por sua presumida insuficiência. a substituição da instituição escolar por uma teia de apren- dizagem formada por grupos. que pode ser exercida não só pela escola. entre outras coisas. o sociólogo francês Bernard Lahire (1963-) concluiu que o meio social que cerca a criança tem influência decisiva em sua educação. as ocasiões didáticas que estão normalmente disponíveis à crian- ça da média burguesia. pausa para rEflEtir Leia a seguir o depoimento do pedagogo hispano-brasileiro Miguel Arroyo. São Paulo. que apenas investir em for- mação de educadores e estrutura física das escolas não é suf iciente para aproximar o aluno da escola e possibilitar. em que cada um ensinasse conforme suas habilidades. 29. e a escola contribui para isso ao transmitir modos de agir. como podemos constatar a seguir: Deveria ser óbvio que. ou seja. CartaCapital. 1972. escola e transformação social • 233 Sociologia_vu_PNLD15_223a246_C09. a criança pobre raramente tem a possibilidade de ultrapassar a rica. 2009. In: MARTINS. p. (Texto traduzido. Essa imposição de padrões culturais é vista por Bourdieu como uma forma de violência simbó- lica. Outro pensador que considera que a instituição escolar – bem como o acesso ou não a ela – produz diferenças associadas à posição social é o aus- Filipe Rocha/Arquivo da editora tríaco Ivan Illich (1926-2002). 14. Educação. como solução. Por isso. a mídia. Lahire percebeu que o envolvimento da família e de outras pessoas com as quais a criança e o jovem convivem serve de apoio para dar sentido à expe- riência escolar. ILLICH. Rodrigo. mas também por instituições como o Estado. Por sua vez. Podem frequentar esco- las de igual qualidade e começar na mesma idade. havendo à disposição escolas de igual nível. sentir e pensar em conformidade com os interesses objetivos. o estudante mais pobre permanecerá geralmente atrás. mas às crianças pobres faltam.) Ligada a esse processo de reprodução social pela via educacional está a autoevasão da escola: muitos alunos deixam de frequentá-la. Esse autor considera. Milano: Mondadori. Estas vantagens vão das conversas aos livros que têm em casa e em viagens durante as férias. p. 11 fev. as famílias. em grande parte. a uma consciência de si mesma que a criança usufrui na escola ou fora dela. por exemplo. especia- lista em políticas educacionais e desigualdades sociais. a desesco- larização. Reprovar não resolve.indd 233 5/28/13 8:49 AM . Ivan Illich propõe. materiais e simbólicos das elites. Ivan. portanto. pelo acatamento e pela aceitação desses padrões de conhecimento e comportamento. Analisando os resultados escolares de estudantes de baixa renda na França. quando as possibilidades de progredir ou de aprender dependem da escola. Controlar este processo é uma forma que os grupos dominantes têm de se manter no poder. Depoimento de Miguel Arroyo. do qual depende. aquele que domina e controla esse processo continua sendo o ser humano. p. In: Veja 25 anos – reflexões para o futuro. Jürgen. cresce a pressão sobre a escola no sentido de redef inir seus conteúdos para integrar os alunos com as novidades tecnológicas.] permanecem. O que aparece então como variável independente é um progresso quase autônomo da ciência e da técnica. antes apenas extensão dos braços. Construir o saber. A produção que se automatiza torna-se autorregulável e. do dinheiro e do poder – e acima das demais questões: A forma privada da valorização do capital e a existência de uma chave de distri- buição das compensações sociais [. como jamais este- ve. No entanto. 1993. da estabilidade que ele vê em épocas anteriores. 208. o progresso técnico-científ ico é posto a serviço do sistema – ou seja. São Paulo: Abril Cultural. 303-333. 1975. da conf iança. de modo sutil. Na sociedade moderna. Consideradas as novas conf igurações da competição econômica no capi- talismo atual. a qual traz o oposto da segu- rança. segundo Zygmunt Bauman. pp. A tecnologia é um conhecimento específ ico que se articula. múlti- plas. de fato.. a mais importante variável singu- lar do sistema. Filipe Rocha/Arquivo da editora Educação para o presente Em nossa sociedade cheia de ambivalências e contradições. O sociólogo Jürgen Habermas vê nesse momento da sociedade moderna a instrumentalização da técnica e da ciência. A ambivalência seria uma característica do mundo contemporâneo. o domínio da tecnologia def ine tanto a posição dos países no mercado internacional como a dos indivíduos no interior das sociedades. em tese. o aperfei- çoamento tecnológico não se limita às máquinas e equipamentos: relaciona- -se também com o conjunto das ideias sobre a sociedade e o conhecimento. Neste mundo novo. HABERMAS.. Adorno. o ensino universalizado e eficaz do idioma. Por meio da ideologia (que estudamos no capítulo 5). fora de discussão. fazendo avançar a tecnologia. Técnica e ciência enquanto “ideologia”. Resulta daí uma perspectiva na qual o desenvolvimento do sistema social parece ser determinado pela lógica do progresso técnico-científico. • Como a explicação de Miguel Arroyo pode ser relacionada à teoria da reprodução social de Bourdieu? Justif ique com base em exemplos de seu cotidiano e encon- trados na mídia impressa e na internet. a sobrevivência econômica está ligada. RIBEIRO. 234 • capítulo 9 Sociologia_vu_PNLD15_223a246_C09. da matemática. Também se alteram a organização social e econômica diante de novos interesses e valores. São Paulo: Abril.indd 234 5/28/13 8:49 AM . o conhecimento científ ico tem mudado rapi- damente. o crescimento econômico. à competência da mão de obra e até dos consumidores – portanto. de popula- ções inteiras. a saber. libera o homem para a esfera do não trabalho. envolvente e excludente ao mesmo tempo. As máquinas. Habermas). com os processos educacionais. das ciências – virou condição prevalente do desenvolvi- mento econômico. amplas e por tempo prolongado. como tais. In: Textos escolhidos (Benjamin. Dessa forma. realizando operações complexas. na sociedade capitalista. A educação fundamental – quer dizer. agora o são do cérebro. p. Sérgio. Leve os resultados de sua pesquisa para a sala de aula e monte com seus colegas um mural explicativo. 321. para quem vivemos na “modernidade líquida”. Horkheimer. Com o advento do Estado moderno. em Timóteo. não faria mais do que perpetuar um modelo contro- lador de sociedade. – Que relação existe entre o que você está aprendendo na escola e o que deseja ser? Como o conteúdo das disciplinas estudadas se relacionam entre si e com sua vida? – Quais são os problemas cotidianos enfrentados por alunos e professores na sua escola? E na educação pública brasileira. Concepções da educação no Brasil Por muito tempo. cada grupo redigirá um texto com o tema “Nossas pers- pectivas diante da escola”. sem problema- tizá-los com uma visão crítica. que suscitou a necessidade de expandir o sistema educacional. anotando as diferentes opiniões surgidas. Foto de 2013. Haber- mas propõe que a educação não seja ape- nas uma forma de dar ao ser humano acesso ao conhecimento. Os textos deverão ser lidos para o restante da turma. passou-se a considerar insuf iciente a socialização e a aprendizagem das crianças apenas no interior Educação. mas sim de for- mar o indivíduo para reelaborar esse co- nhecimento no sentido da emancipação e da transformação social. Em vez disso. a educação formal (escolar) estava reservada àqueles que tinham condições de pagar por ela. Foi a sociedade moderna. Oficina de maculelê na Escola Estadual Capitão Egidio Lima. Por esse ponto de vista. baseada na cidade e na indústria. uma educação Leo Drummond/Agência Nitro que apenas atualizasse as competências e os conhecimentos técnicos. escola e transformação social • 235 Sociologia_vu_PNLD15_223a246_C09. Minas Gerais. dE batE Formem grupos e discutam brevemente os temas propostos a seguir. de maneira geral? O que fazer para superá-los? – A escola pode colaborar para a diminuição da desigualdade social no Brasil? De que maneira? Ao término da discussão.indd 235 5/28/13 8:49 AM . A escola refez seu currículo buscando valorizar as manifestações culturais afro-brasileiras. Crescia. a necessidade de ampliar o horário letivo escolar para que as mães. co. intelectuais e movimentos políticos para a constituição da escola públi- ca. Grandes mudanças marcaram a educação brasileira nesse período. naquela época. A partir de movi- mentos sociais. que enfatizava o desenvolvimento do intelecto em detrimento zação da escola com uma educação da memorização. e d) uma educação gratuita ofertada a toda a população. situação que ape- nas em parte se alterou com a abertura da economia e das fronteiras produ- tivas nos moldes da internacionalização do capital. das famílias. no Brasil. b) um ensino lai- da escola pública. ele criou um método de alfabetização que se baseava nas condições concretas de vida dos alunos. Foi de acordo com esse objetivo de preparar a nação para o desenvolvi- mento econômico que foram pensadas as escolas integrais comunitárias. a participação política e o preparo para as novas fun- ções e trabalhos decorrentes dos avanços tecnológicos. ingressando em volume cada vez maior no mercado de trabalho. veio com o pedagogo pernambucano Paulo Freire (1921-1997). não atrelado a credo religioso. o educador Anísio Teixeira divulgou os pressupostos do deu. nos anos 1920: a) a universali- movimento Escola Nova. pois esta não dava conta dos novos interesses em jogo: o conví- vio social nas cidades. O país era considerado atrasado no contexto do capitalismo.indd 236 5/28/13 8:49 AM . gratuita e obrigatória – fato que se consolidou somente no f inal da- quele século. paulatinamente. os intelectuais brasileiros que discutiam a educação de- paravam com a urbanização e a industrialização crescentes. os cursos prof issionais e a preparação de professores. pudessem ter estrutura de apoio para o cuidado de seus f ilhos durante a jornada de trabalho. c) uma escola pública como responsabilidade do Estado. Para 236 • capítulo 9 Sociologia_vu_PNLD15_223a246_C09. Naquela época. intelectuais e políticos. gratuita. Um dos marcos nes- se processo foi a contribuição do jurista e educador baiano Anísio Teixeira (1900-1971). Pensando que a educação é sempre política. por depender da expor- tação de uma pequena variedade de produtos primários. que apresenta- vam novos desaf ios para o desenvolvimento econômico e social. Sua pedagogia propõe que se dê condições a jovens e adultos de ganharem autonomia para se conscientizar politicamente. laica e obrigatória. a escola constituiu-se em um direito de todos. por exemplo. ainda. No Brasil. desde o Arquivo do jornal O Estado de S. após numerosas contribuições e debates entre peda- gogos a respeito da estrutura do sis- tema educacional e sua relação com o Estado. Anísio ocupou diversos cargos públicos e se destacou como defensor acessível a todos. Paulo/Agência Estado início do século XX verif icam-se ações de educadores. estudantes. Uma segunda grande mudança na concepção de educação. que defen- Nas décadas de 1920 e 1930. na segunda metade do século XX. no sentido de transformar a realidade. Campinas: Papirus. Assim como Paulo Freire. Quero uma escola que vá mais para trás dos “programas” científicos e abstratamente elaborados e impostos. a dominação de classe e o autoritarismo nas relações escolares. escola e transformação social • 237 Sociologia_vu_PNLD15_223a246_C09. Segundo ele. O sistema escolar desenvolvido a partir do século XVIII projetou espaços. Uma escola que compreenda como os saberes são gerados e nascem. pergunta. Existir socialmente signif ica com- partilhar condições históricas e desenvolver ações em que indivíduos e grupos sociais se influenciam reciprocamente. 2001. numa outra crônica. Uma escola em que o saber vá nascendo das perguntas que o corpo faz. o sociólogo paulista Florestan Fernandes considera que a educação deve trazer a experiência da criatividade do aluno para vencer a opressão social. Impossível? Eu também pensava. em sua opinião. admira. Rubem. Uma escola em que o ponto de referência não seja o programa oficial a ser cumprido (inutilmente!). o educador brasileiro Rubem Alves (1933-) sonha com uma escola ligada à realidade da experiência dos alunos.. Sonho com uma escola retrógrada. concentração. Anote as principais ideias defendidas pelo autor e produza um texto respondendo à questão proposta. se espanta. se encanta.] Disse. que quero escola retrógrada.. Retrógrado quer dizer “que vai para trás”. prova com a boca. Uma escola que seja iluminada pelo brilho dos inícios. ca- pazes de reconstruir a realidade que os circunda no sentido da justiça social. O educador Paulo Freire. erra. Por que. [.indd 237 5/28/13 8:49 AM . Mas fui a Portugal e lá encontrei a escola com que sempre sonhara: a Escola da Ponte. p. métodos pedagógicos e avalia- Educação. Mas o que eu gos- taria mesmo é de acabar com elas.. A escola que sempre sonhei sem imaginar que pudesse existir. paus a para rEflEtir No texto abaixo. organizações curriculares. São extraordinários os esforços que estão sendo feitos para fazer nossas linhas de montagem chamadas escolas tão boas quanto as japonesas. Bel Pedrosa/Folhapress Freire. sua forma de organi- zação concreta. mas o corpo da criança que vive. alegria e eficiência. artesanal. Encantei-me vendo o rosto e o trabalho dos alunos: havia disciplina. ele deseja essa mudança? No que esses sonhos se parecem e se diferenciam da situação que você conhece? Como você imagina que funcionaria a escola idealizada por ele? hh Problemas e dificuldades da escola brasileira no século XX Em sua obra Vigiar e punir. reflita sobre os sonhos do autor para a escola. a educação é um nexo de relações que leva o homem a constituir sua sociabilidade. ALVES. educador e educando são “sujeitos em ato”. em foto de 1994. • Com base nas reflexões sociológicas sobre educação vistas até o momento.. 38 e 55. se machuca. o f ilósofo francês Michel Foucault (1926- -1984) considera a escola a instituição em que a disciplinarização encontra- -se mais presente. brinca. enfia o dedo. ções de desempenho que lhe permitiam produzir indivíduos dóceis. estariam sob a ameaça de punição. no ambiente escolar. no Paraná. levando à progressiva desvalorização da carreira docente. disci- plinados. reforçando preconceitos. culturais e ideológicas da sociedade de cada época são reproduzidas na escola. Esse quadro de baixos investi- mentos em educação só foi atenuado a partir da primeira década do século XXI. na escola. Além de ter. quando a aplicação de recursos nesse setor se ampliou. observa imagens obtidas por câmeras instaladas dentro das salas de aula do colégio. a aspectos de suas próprias culturas. Em uma sociedade marcada pela pluralidade étnica e cultural. A instituição escola ainda hoje reproduz e atualiza mecanismos de disciplinarização e controle. As poucas tenta- tivas de abordagem dessas temáticas em geral se davam no campo do estereó- tipo. Aumentou também o descaso do Estado com o professor. reproduzido um padrão autoritário. 238 • capítulo 9 Sociologia_vu_PNLD15_223a246_C09. tanto em termos salariais como de sua formação. Outro aspecto historicamente mal trabalhado pela escola brasileira é o da diversidade cultural. o que fez crescer o setor pri- vado da escola-empresa. as políticas econômicas levaram à redução do investimento público na educação. que se expressava em castigos físicos e em uma disciplina organizacional severa. levando os indivíduos a internalizar a disciplina sob o receio de estarem sendo constantemente vigiados. Foto de 2011. moldados para as tarefas exigidas pela sociedade capitalista. em que a relação cidadão-instituição se transforma em uma relação cliente-empresa. eles se manifestaram ostensivamente na escola em boa parte do século XX. Cabe lembrar que as características políticas. por muito tempo. o ensino escolar de conteúdos relacionados às culturas indígenas e de origem africana foi por muito tempo deixado de lado. Nos anos do regime militar (1964-1985). Predominava então. o autoritarismo. Henry Milléo/Agência Gazeta do Povo Diretor auxiliar de escola em Ponta Grossa. Embora esses aspectos sejam ainda hoje observáveis. Em um caso extremo de violência simbó- lica. já que esses conteúdos também não faziam parte da formação dos professores. Aque- les que fugissem desse comportamento esperado. a es- cola pública brasileira passou a sofrer com o problema do financiamento. naquilo que a antropóloga Mariana Kawal Leal Fer- reira vê como uma incompatibilidade com o ideal de autodeterminação dos povos indígenas.indd 238 5/28/13 8:49 AM . as populações indígenas não tinham acesso. “normal”. de forma implícita e dissimulada. sobre dados de 2007: Educação. e uma lei com- plementar. Desafios do ensino no Brasil Tanto a Constituição de 1988 quanto a Lei de Diretrizes e Bases da Edu- cação Nacional. entre outras. a legislação foi modif icada pela lei 11. O analfabetismo na população adulta não foi er- radicado. a Constituição de 1988 previa a garantia de seus direitos. orientava ações para a inclusão da pes- soa com deficiência. escola e transformação social • 239 Sociologia_vu_PNLD15_223a246_C09. aprovada no ano seguinte. Diante da situação de invisibilidade social desses indi- víduos. Nas últimas duas décadas. A lei 10. instituiu a obrigatoriedade do ensino de cultura e história afro-brasileira e africana nos currículos de Ensino Fundamental e Médio de todas as escolas. em Ribeirão das Neves. formação de professores prof icientes em Libras (Língua Brasileira de Sinais). Em 2008. af irmam a educação como um direito humano fundamental. No entanto. Uma das ações consideradas decisivas é a matrícula da pessoa com deficiência em escolas regulares. de acordo com o Censo Escolar 2010. a universalização da educação de qualidade está longe de ser atingida no país. de 2003. de 1996. na qual uma funcionária auxilia na comunicação entre um aluno com paralisia cerebral e seus colegas e professores. que acrescentou a obrigatoriedade do ensino de história e cultura dos povos indígenas. a começar pela adaptação da infraestrutura das escolas a f im de torná-las acessíveis a pessoas com def iciên- cia motora ou visual e pela capacitação de professores para as especif icida- des de cada tipo de def iciência. a efetiva inclusão da pessoa com def iciên- cia ainda esbarra em muitos desaf ios práticos.indd 239 5/28/13 8:49 AM .645. Mudou-se também a concepção de como deveria ser a educação formal de pessoas com deficiência. 246 mil crianças e jovens estavam matriculados em escolas indígenas. Minas Gerais. Acompanhemos a leitura a seguir. apresentaram-se diversas medidas e regula- mentações para a educação inclusiva: softwares para narração de livros didá- ticos. que hoje alfabetizam os alunos tanto na língua de sua comunidade como em portu- guês e ensinam a história e os hábitos tradicionais de seu povo.639. Foto de 2013. No entanto. Leo Drummond/Agência Nitro Turma na Escola Estadual Pedro Fernandes. uma vez que nem todas as crianças e jovens das faixas etárias abrigadas pela lei frequentam a escola ou concluem seus estudos satisfatoriamente. Além disso. medida que aproxima realidades diferentes e dá condições para o combate e a superação de preconceitos. 2013. É uma taxa bastante elevada. Com a substituição do Fundef pelo Fundeb (Fundo de Manutenção e De- senvolvimento do Ensino Básico e de Valorização dos Prof issionais da Edu- cação).0 0. CHAVES.0 70.0 90.7% na referida faixa etária e 10. O grau de analfabetismo da população brasileira. 93. como Uruguai. Ana Luiza.gov. Um marco importante nesse sentido foi a criação do Fundo de Manuten- ção e Desenvolvimento do Ensino Fundamental e de Valorização do Magis- tério (Fundef). cujas taxas variam entre 2% e 4%. medido pela taxa de pessoas com 15 anos ou mais que não sabem ler nem escrever um bilhete simples. em parcerias entre o Governo Federal. divulgada pelo IBGE. em 2007.0 60. especialmente a partir dos anos 2000. em 2007. Luseni. Maria Marta.0 0. Disponível em: <www. Paulo Roberto. segundo sexo e cor ou raça.). em 2007. da situação da alfabetização no país entre as pessoas de 15 anos ou mais. Sudeste e Centro-Oeste. entre pessoas com 60 anos ou mais a proporção de analfabetos atingia 28. fato revelador de um enorme passivo educacional ainda não saldado. a partir de 2004 a amostra inclui todo o Território Nacional. brasil: taxa de alfabetização de pessoas de 15 anos brasil: taxa de alfabetização de pessoas de ou mais de idade.. Jorge. Acre. no período de 1992 a 2008. CASSIOLATO. sua erradicação na região Nordeste constitui um desaf io de maior envergadura. os estados e as prefeituras. Amazonas. Brasília: Ipea.ibge. Não inclui população rural de Rondônia. Situação educacional dos jovens brasileiros. 2009. José Valente.4% entre os jovens de 25 a 29 anos. promover a inser- ção das populações excluídas do sistema educacional e buscar a eliminação do analfabetismo. AQUINO. pois ainda se regis- tram taxas de 4. [.pdf>.. o Ensino Médio e a Educação de Jovens e Adultos também passaram a ser atendidos. verif ica-se enorme distância entre jovens e idosos.0 80. por cor ou raça (1992-2008) 15 anos ou mais de idade. em 1998. 2. Visando melhorar as condições da educação no Brasil. Pará e Amapá entre os anos de 1992 e 2003. Se na faixa de 15 a 24 anos a taxa de analfabetismo correspondia a 2. sobretudo quando comparada à de outros países do continente sul-americano. Quando se analisam as taxas de analfabetismo no Brasil segundo os diferentes grupos de idade. Acompanhe no gráf ico a seguir a evolução.4%. Acesso em: 18 abr.0 90. que constatou alguns avanços na área de educação.indd 240 5/28/13 8:49 AM . In: CASTRO. por sexo (1992-2008) % % 100. ANDRADE Carla (Org. Notas: 1. CODES.0 100. f ixou-se a destinação às escolas de um volume maior de recursos federais.br/home/ geociencias/recursosnaturais/ids/ids2010.2%. Juventude e políticas sociais no Brasil. Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios 1992/2008. 240 • capítulo 9 Sociologia_vu_PNLD15_223a246_C09. A repercussão parcial desses processos aparece nos dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio (PNAD) de 2010. que instituiu limites mínimos de aplicação de re- cursos no Ensino Fundamental por todas as esferas do Estado brasileiro.0 1992 1993 1995 1996 1997 1998 1999 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 1992 1993 1995 1996 1997 1998 1999 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 total branca preta e parda total homens mulheres Adaptado de: INSTITUTO Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). CORBUCCI.] apesar de o analfabetismo entre os jovens de 15 e 24 anos ter se tornado um problema residual nas regiões Sul. constituindo-se numa nova série. e a Educação Infantil. Argentina e Chile.0 80. Não houve pesquisa em 1994 e 2000. o aporte de recursos para a educação aumentou e políti- cas específ icas foram elaboradas. Roraima. ainda se encontrava no patamar de 10%. p. onde as taxas giram em torno de 1%. 8% para o masculino. ainda que tenha sido reduzida no período analisado.8%. registrou que 27% da população brasileira (ou seja. a falta de capacitação adequada dos profes- sores. elaborado por instituições não governamentais mediante amostragem. mais de ¼) encontrava-se funcionalmente analfabeta no f inal da primeira década deste século.8% a 90%. Críticos da metodologia do IBGE apontam que o problema é ainda mais grave. há muito a ser feito para eliminar o analfabetismo. em 2010. a capacidade de a pessoa utilizar plenamente a leitura e escrita e habilidades matemáticas em seu cotidiano. o índice de alfabetização entre brancos era de 93. as salas superlotadas. os estudiosos da educação destacam como problemas que persis- tem na educação brasileira: a bai- Bruno Magalhães/Agência Nitro xa qualidade do ensino. no que se refere às condições de trabalho. e mais ainda se consideradas as disparidades regionais e as dif iculdades enfrenta- das pelos professores e diretores nas escolas.indd 241 5/28/13 8:49 AM . há uma diferença dos regimes de ensino. com base em testes e entrevistas. considerando-se as dimensões de nossa população. no mesmo período. enquanto pretos e pardos so- mados chegavam a 73.4% entre os homens e 82.4%. 89.4% dos brancos eram alfabetizados. Como o sistema educacional é de responsabilidade de estados e municípios. em 2008. pois esse índice não avalia o analfabetismo funcional. eram de 90. escola e transformação social • 241 Sociologia_vu_PNLD15_223a246_C09. Este cresci- mento é signif icativo. Quanto às taxas de alfa- betização segundo o sexo. O Indicador de Alfabetismo Funcional (Inaf). isto é. dos salá- rios e dos currículos nas diversas regiões do país. O gráf ico mostra um crescimento contínuo da taxa de alfabetização no Brasil. Minas Gerais. em 2008. embora tenha havido uma inversão na posição dos índices de homens e mulheres. que vai de 82. a taxa de analfabetismo é consideravelmente mais elevada entre os adultos. os currículos repetitivos e defasa- dos e a ainda insuf iciente aplica- ção de verbas no setor. Em 1992. visando reduzir a histórica disparidade regional de salários Alunos de programa de alfabetização de adultos em Barão de Cocais. nessa prof issão.2% entre as mulheres. No entanto.4% entre os pretos e pardos. mas a taxa de 10% de analfabetos ainda é grande. Enquanto em 1992 os índices eram de 83. pode-se perceber que são próximas.2% para o sexo feminino e 89. foi aprovado um piso salarial nacio- nal unif icado para os professores da Educação Básica pública (En- sino Fundamental e Ensino Mé- dio). no período entre 1992 e 2008. Reconhecendo terem sido insuf icientes as soluções para o sistema edu- cacional. enquanto era de 86. Já a diferença entre as taxas de alfabetização de brancos e de pretos e pardos persiste. No Brasil. Educação. a precária infraestrutura das escolas. Em 2008. os jovens es- tão na escola. ou por nunca terem ido à es. e. e a taxa de escolarização para essa faixa etária alcan- çava 84. em 2010. sionalmente. vam o Ensino Fundamental. que pera da escola o desenvolvimento de saberes para o apenas 51. ainda segundo a pesquisa do IBGE citada aci- ma. muitos jovens continuarão abandonando os vam. Os demais estavam defasados e ainda cursa. destinado a encaminhar os jovens para o mercado de trabalho. sistirem. O trabalho signif ica a possibi- na primeira década do século XXI. que visa dar ao aluno uma formação geral e básica. Esse dilema nos Adolescentes do programa Jovem Aprendiz reformam móveis do Palácio do Planalto. 1990 eram menos de 4 milhões. em 2008. temos a proposta de um ensino de caráter humanístico.8% dos 10. mas podem não estar no nível de ensino esperado para sua idade. 17 anos estavam matriculados no Ensino Médio. De outro lado. Ou seja.6% dos adolescentes de 15 a 17 anos frequentavam o En- sino Médio. além do que já foi mencionado.3% dos jovens dessa faixa etária sequer estuda. Porém. há os que defendem um ensino “prof issiona- lizante”. em Brasília. enquanto as desigualdades sociais per- 16. Programas como esse se propõem a inserir o jovem estudante no mercado de trabalho. estarão mais restritos para se inserir profis- cola. No Brasil. A educação e os jovens no Brasil São complexas as relações dos jovens com a edu. somente 50. 242 • capítulo 9 Sociologia_vu_PNLD15_223a246_C09. há o problema da distorção entre a idade do estudante e a série que frequenta. coloca face a face com a relação entre educação e tra- cação no Brasil. Distrito Federal. ou por terem abandonado os estudos ainda no estudos para buscar complementar a renda familiar Ensino Fundamental. sede da Presidência da República.1%. no entanto. enquanto se es- Dados da PNAD de 2011 mostram. Também é bai- Lula Marques/Folhapress xo o número de concluintes do Ensino Médio. evidenciando que juventude e formação para o formal para os jovens. lidade de independência econômica. assim. número que passou Educação e qualif icação prof issional. vemos que cresceu o número trabalho são temas ainda pouco discutidos em nossa de matrículas no Ensino Médio: no início dos anos sociedade. Observando a oferta de educação balho. A título de exemplo. O que acontece com os jovens? A luta pela sobrevivência no mercado de trabalho (ou nas margens dele) os tira da escola an- tes da hora? A escola não lhes desperta in- teresse? Mas qual é a f inalidade do Ensino Médio em nosso país: cultura geral ou prof issional? De um lado.5 milhões de jovens entre 15 e aperfeiçoamento do ser humano em vários aspectos. para mais de 9 milhões de estudantes matriculados não são sinônimos. porém.indd 242 5/28/13 8:49 AM . Ela não se limita à escola. no caderno. educar implica capacitar cidadãos para pensar e analisar Filipe Rocha/Arquivo da editora problemas. trabalho e educação: um debate multidisciplinar. aprendia agindo sobre a matéria. 1994. agir com ética. reflita sobre o seu conteúdo e responda à questão pro- posta.C. a classe dos proprietários. era o trabalho manual. assumir responsabilidades. A classe domi- nante. Celso e outros (Org. que era o local dos jogos que eram praticados pelos que dispunham de ócio. a educação da maioria era o próprio trabalho: o povo se educava no próprio processo de trabalho. A educação é hoje um processo social mediador de acompanhamento e ajuste às transformações sociais. da natureza. O trabalho como princípio educativo frente às novas tecnologias. que retrata indivíduos em um ginásio • Qual é a relação entre educação e trabalho mostrada pelo pedagogo Demerval praticando atividades físicas e musicais. fazer escolhas. era o manuseio físico da matéria. 470 a. Educação. escola e transformação social • 243 Sociologia_vu_PNLD15_223a246_C09. transformando-a. os sistemas educacionais vêm respon- dendo às novas exigências sociais? Como transformar a relação entre escola e alunos de modo que estes não a vejam como uma obrigação. Petrópolis: Vozes. Para que o ser humano tenha dignidade. Era o aprender fazendo. Por contraposição. na medida em que se dá em outras esferas sociais. e a educação é um deles. • a educação é uma questão da esfera pública na sociedade. da realidade. a educação geral. por meio da democracia. paus a para rEflEtir The Art Archive/Archaeological Museum Spina Ferrara/Alfredo Dagli Orti/Agência France-Presse Ao ler o texto.indd 243 5/28/13 8:49 AM . SAVIANI. Aprendia lidando com a realidade. lembrando algumas de suas premissas: • o sistema educacional deve ser compreendido em seu conjunto. Demerval. Não só a palavra escola tem essa origem. • a população deve ter acesso à escola em todos os níveis de ensino. a es- cola era o lugar a que tinham acesso as classes ociosas. participar da def inição de objeti- vos sociais comuns. Saviani? Como esta relação aparece nos dias de hoje? Educação e ensino: um direito Paira a indagação: de modo geral. A forma como a classe proprietária ocupava o seu ócio é que constituía seu tipo específico de edu- cação. A ginástica dos que tinham de trabalhar era o próprio trabalho. A palavra ginásio mantém esta duplicidade de significado ainda hoje. • a adoção de novas tecnologias favorece a integração da escola com todas as de- mais esferas educativas da sociedade. Portanto. ed. tinha uma educação diferenciada que era a educação escolar. con- trolar sua vida e. • as diferentes condições culturais devem ser levadas em consideração como conteú- do do ensino. In: FERRETTI. A origem da palavra ginástica é a mesma da palavra ginásio: exercícios físicos como lazer.). Educar signif ica mais que instruir. Vaso grego de cerca de Novas tecnologias. mas também a palavra giná sio. dos objetos. seus direitos constitucionais devem ser protegidos e garantidos. mas como um direito conquistado? O processo social da educação prossegue redef inindo sistemas e seus conteúdos para acompanhar as transformações sociais. A palavra escola em grego signif ica ‘o lugar do ócio’. p. 2. 152-153. a começar pela família. você encontra vários dados sobre a educação supe- rior brasileira no link “Resumos Técnicos”. tentem responder às seguintes perguntas: a) Existem diferenças regionais (Norte. so- bre uma das questões que chamou sua atenção nesses dados. paródia de música. Individualmente ou em grupo. indi- vidualmente ou em grupo: a) Redação de uma matéria jornalística (impressa ou em blog) sobre “a cara do ensino superior brasileiro”. Elenque algumas características centrais da educação. Clique Filipe Rocha/Arquivo da editora em “Educação Superior” e depois em “Censo da Educação Superior” no menu da esquerda.br. Explique a concepção de educação de Émile Durkheim. Sudeste e Sul. proposta por Pierre Bourdieu: como o sistema escolar sustenta desigualdades? 5. 4. Nordeste. diálogo s i n t E r d i s c i p l i nar E s Neste capítulo você entrou em contato com uma série de informações sobre educação e sistema escolar no Brasil. prestando atenção especial às tabelas e gráf icos. realizem uma das seguintes atividades. Nesta seção do site. brancos/negros. acesse o site do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep): http://portal. c) Uma apresentação informativa. Explore os dados disponíveis. Uma parte importante da inclu- são social por meio da educação decorre do acesso ao ensino superior. zo- nas rurais e urbanas) em relação ao acesso ao Ensino Superior e aos anos de estu- do da população? Quais são elas? Por que você imagina que elas aconteçam? b) Existem desigualdades raciais em relação ao acesso ao Ensino Superior? Le- vante dados que comprovem sua resposta. 3. música original. b) Uma cena teatral. Qual é a relação entre sociedade.inep. 244 • capítulo 9 Sociologia_vu_PNLD15_223a246_C09. Com base nas questões trabalhadas. pobres/ricos. poema ou texto literário (conto. utilizando conheci- mentos da Sociologia e alguns conhecimentos da Geograf ia e da área de Matemática e Estatística. Centro-Oeste. 1. 2. cultura e educação? Justif ique. ainda é muito desigual em vários aspectos. traçando um perf il a partir dos dados que você leu. r E v i s ar E sistEm atiza r 1. d) Que informações sobre o Ensino Superior brasileiro foram surpreendentes para você? Por quê? 3. 2. como processo social.indd 244 5/28/13 8:49 AM . vamos explorar alguns dados sobre essa desigualdade. Em grupo. c) Que outras diferenças e desigualdades entre grupos sociais (mulheres/homens. Nesta atividade. porém. com gráf icos e cartazes (ou slides digitais). 6. etc. Qual deve ser a ação da escola diante da formação profissional do jovem? Dê sua opinião valendo-se de alguns dos argumentos expostos no capítulo. Apresente a teoria da reprodução social. pela via escolar. crônica) sobre a desigualdade no acesso ao ensino superior.gov. Este acesso. Discorra sobre a inclusão social e a educação brasileira.) você consegue identificar? Dê exemplos. escola e transformação social • 245 Sociologia_vu_PNLD15_223a246_C09. 2013. Gênio indomável. mas sua solução traz problemas de relacionamento. Edgard de Assis (Org. Marisa. Raul.br>.).gov. Rio de Janeiro: Jorge Zahar. 1999. direção de Peter Weir. 1953. Petrópolis: Vozes. violência simbólica. Janeiro: Francisco Alves. instrumentalização. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil. BAUMAN. é possível acessar dados e conhecer projetos de inclusão social por meio da educação. 2001. Ministério da Educação (MEC). Site da instituição máxima responsável pela educação no Brasil. Edgar Morin. na qual a maioria dos alunos descende de imigrantes. _. Modernidade líquida. 1989. AZEVEDO. Acesso em: 1o abr. ALVES. POMPEIA. Estados Unidos.). Lawrence Bender Productions Superar o desafio de ir à escola pela primeira vez abre um novo horizonte para um garoto em um período conflituoso da história da Espanha. _. direção de Gus van Sant. CARVALHO. Escritos de educação.mec. Rio de de Pierre Bourdieu (ed. São Paulo: Ática. Fernando de. São Paulo: Cortez. Modernidade e ambivalência. 2013. A entrada de um novo professor de literatura desperta os alunos para o conhecimento. direção de Laurent Cantet. Correio Popular. 1999. Zygmunt. direção de José Luis Cuerda. 1999. 2008. Quero uma escola retrógrada. As Ciências Sociais no cinema A língua das mariposas.org. Um professor universitário lança um desafio matemático. 2000. O Ateneu. Livro que discute sobre os impasses e dificuldades da leitura na escola. A rigidez do convívio em um colégio do Rio de Janeiro reflete as condições da sociedade brasileira do fim do século XIX. Estados Unidos. São Paulo: Melhoramentos. Rio de Janeiro: Jorge Zahar. Reprodução/Bertrand Brasil b ib liografia ALMEIDA.br>. Do mundo da leitura para a leitura do mundo. França. sistema social. Caderno C. cultura legítima. _. A educação e seus problemas. dirigido por Gus van Sant. Os autores associam textos literários ao processo de ensino e às leituras da experiência cotidiana. São Paulo: Scipione. Educação e complexidade: os sete saberes e outros ensaios. 1998. 1975. Literatura: saberes em movimento.indd 245 5/28/13 8:49 AM . O poder simbólico. controle social.acaoeducativa. Maria da Conceição de. 1997. Belo Horizonte: Ceale/Autêntica. ambivalência. escola. Jean Claude. conceitos-chave: Educação. Disponível em: <www. Capa do livro O poder simbólico. Entre os muros da escola. _. capital cultural. 1999. (1997). Disponível em: <www. mas cria atrito com a direção de uma tradicional escola. No portal dessa instituição voltada para a promoção dos direitos educativos e da juventude no Brasil. Divulgação/Miramax Films. Um professor enfrenta os desafios da rotina da sala de aula em uma escola da periferia de Paris atual. Pierre. 14 maio 2000. valores sociais. Aparecida e outros (Org. Rio de Janeiro: Jorge Zahar. 2007. Educação. PASSERON. Em busca da política. PAIVA. 2002. Rubem. processo social. Bertrand Brasil). Sociedade dos poetas mortos. Espanha. 1989. Acesso em: 1o abr. disciplinarização. dE scubra m ais As Ciências Sociais na biblioteca LAJOLO. tecnologia. Lisboa: Difel. As Ciências Sociais na rede Cartaz do filme Gênio indomável Ação Educativa. conhecimento. BOURDIEU. A reprodução: elementos para uma teoria do sistema de ensino. ). Rodrigo. Paulo. ed. O ensino vai à bolsa (Dados do Desafio estratégico da política pública: o ensino superior brasileiro.). Ana Paula. Situação edu- cacional dos jovens brasileiros. (Org. 1973. Edgar. _. p. Luiz. Marialice. São Paulo: Companhia Editora Nacional. SIMMEL. No labirinto do ensino médio. Educação e Socie dade. O subgrupo do ensino. 6. 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Florestan.br/home/geociencias/recursosnaturais/ids/ ids2010. AQUINO. CORTI. 104-106. ZNANIECKI. 6. (ed. São Paulo: Abril.indd 246 5/28/13 8:49 AM . 2012. 1993. LEAL FERREIRA. São Paulo: Companhia Editora Nacional. 2004. São Paulo: Ática. São Paulo: Companhia Editora Nacional. Luiz. Petrópolis: Vozes. Antropologia. 70-79. Mariana Kawal (Org. ed. 1975. Rio de Janeiro: Paz e Terra. São Paulo: Companhia Editora Nacional. In- formação Geográfica 7.). p. DURKHEIM. Milano: Mondadori. _. RIBEIRO. (Org. 11-15. As formas do processo educacional. As representações sociais da juven- tude e as questões referentes à educação. aos problemas sociais.indd 247 5/28/13 8:51 AM . e a questão da identidade é de extrema importância na definição de juventude na atualidade. o contexto. A juventude é um período da existência caracterizado pela transitoriedade. A condição de ser jovem muda conforme a época. Salmo Dansa/Arquivo da editora Capítulo 10 Juventude: uma invenção da sociedade EstudarEmos nEstE capítulo: a questão da juventude como uma invenção da sociedade. aos conflitos de gerações e de outras ordens vividos pela juventude hoje refletem as contradições da sociedade. 247 Sociologia_vu_PNLD15_247a270_C10. a sociedade e a classe social. Curitiba: Ed. Surgem. que interferem nas suas ações e psiquismo. 248 • capítulo 10 Sociologia_vu_PNLD15_247a270_C10. e algumas coisas são esperadas dos jovens. 2013. ou a uma condição social? A resposta a essa pergunta é complexa. Jovens sem-terra: identidades em movimento. o jovem também está sujeito a normas. pois cada sociedade. Estes olhares não são iguais. A sociedade esta- belece alguns papéis a cumprir. regras de comportamento e valores.mundojovem. Acesso em: 18 jan. assim como os adultos. Mas. com base em quais critérios se atribuem determinadas características aos jovens? Essas características são universais. da UFPR. grupo e classe social reser- vam um determinado período para que se realize a passagem da dependência in- fantil para a autonomia da idade adulta. ou seja.indd 248 5/28/13 8:51 AM . além de variáveis constituídas culturalmente e que ocorrem em determinado período da vida. Severino Santos. atribuindo expectativas e realizações às pes- soas em cada circunstância e fase da vida. p. 25. TERTO.br/poesias-poemas/juventude/o-grito-da-geracao>. As juventudes Começo esta poesia Vive em busca da igualdade Filipe Rocha/Arquivo da editora Com muita dignidade Por justiça e educação É o jovem camponês Com alegria e diversão E o jovem da cidade Ela luta de verdade Na luta pelos direitos Por outra realidade A juventude está unida Seja urbana ou rural A juventude do campo Enfrentando um sistema Vive sempre excluída Esse tal neoliberal Sem direito ao trabalho Superando tanta dor Isso a torna oprimida Com o canto e a poesia Mas os jovens se reúnem Somos da sociedade Seja em grupo ou mutirão Cultivando a utopia Dentro da organização Se encontra uma saída Continuo esta poesia Com muita felicidade A juventude da cidade É o jovem camponês que vive em periferia E o jovem da cidade Com muita sabedoria Na luta pelos direitos Supera a disparidade Por outra realidade. O grito da geração. Maria Teresa. CASTELO BRANCO. a uma idade biológica. A quem nos referimos quando usamos o termo juventude: a determinada faixa etária. Mundo jovem. confor- me o contexto social em que vive. 2003. Disponível em: <www. determinadas representações sociais da juventude. Tal como a criança é submetida a um processo de socialização.com. Juventude diz respeito a uma condição social transitória associada a aspectos do desenvolvimento biológico e emo- cional do ser humano. assim. nem inci- dem sobre a mesma faixa etária. atemporais e necessárias dessa faixa etária? A juventude é um período relativamente longo do ciclo vital das pessoas e envolve transformações biológicas que colocam os sujeitos sob novos olhares sociais. Famílias: parentesco. FLANDRIN. e muitas vezes não tinham independência para escolher seus cônjuges.. Chantilly. Este exemplo mostra que in- fância e juventude são construções históricas. 141-142. a Igreja enfraquecera o poder paternal ao reconhecer a vali- dade dos casamentos [. a época histórica e a classe social que a definem. desde que os rapazes tivessem treze anos e meio e as raparigas onze anos e meio. Na sociedade medieval e du- rante muitos séculos depois. mal passava dos 40 anos) e os pais definiam os pa- péis dos filhos. A litografia ao lado retrata o casamento entre uma baronesa e um barão franceses de pouca idade (no detalhe acima). Lisboa: Editorial Estampa. nem em todas as sociedades. portanto. consi- deraríamos precoce. hoje. a partir do século XII. [. França. a ex- Giraudon/The Bridgeman Art library/Keystone/Museu Condé. pectativa de vida da população era muito baixa (entre a nobreza. O trecho textual a seguir. casa e sexualidade na sociedade antiga..] o consentimento dos pais como tão essencial ao casamento como o consenti- mento dos esposos. sem que infância e adolescência configurassem estilos de vida e identificações sociais próprias. precisando da autorização dos pais para con- trair matrimônio. mostrando que a ideia de juventude nem sempre existiu. não universais: não existiram necessariamente em outros tempos. na construção de sua identidade os jovens reelabo- ram informações e recomendações recebidas de outras fontes. Jean-Louis. varia de acordo com a relação que se esta- belece entre pais e f ilhos.. 1992. Juventude: uma invenção da sociedade • 249 Sociologia_vu_PNLD15_247a270_C10. na Europa ocidental. nada expressa se não for tratado em seu contexto histórico e sociocultural. que resultam de diferentes concepções de educação e geram cobranças por ações políticas. A def inição das faixas etárias que são con- sideradas “jovens”. por exemplo. em 1204. p. em si.] [Séculos depois] Os protestantes – incluindo os anglicanos – viam [. porém. Nessa fase podem ocorrer. em Constantinopla.indd 249 5/28/13 8:51 AM . mostra uma situação em que a ideia de juventude em si não existia: Na Idade Média. E... da qual há mais registros. O conceito de juventude. rupturas nesse processo de socialização: apesar de continuarem a ser culturalmente educados e orientados pelos adultos. Naquela época.]. ela considerava o casamento um sacramento que os cônjuges se davam a si próprios por troca de consenti- mentos. as pesso- as se casavam numa idade que nós. sobre a França medieval. a juventude é representada conforme a sociedade.. ou pela comunidade toda. Renato Soares/Pulsar Imagens Uma Sanghvi/Zuma Wire Service/Alamy/Other Images Acima. como escarif icações e incisões. jovem Kuikuro participa de ritual de passagem pelo qual deve ficar reclusa em sua oca durante um ano. dores e marcas físicas. O antropólogo franco-alemão Arnold van Gennep (1873-1959) def iniu esse tipo específ ico de rito de passagem como um rito de iniciação. Mato Grosso. a sociedade imprime a sua marca no corpo dos jovens” (1990. ou seja. como a caça. feitas diante da nhadura que. sua aptidão para a reprodução. na cidade de Palm Beach. com uma gradação de direitos e responsabilidades. p. “O zes no corpo do indivíduo. ções. demarcando. é marcar o corpo: no ri- tual iniciatório. em foto de 2012. De acordo com o antropólogo Pierre Clastres. Muitas vezes. jovem judia celebra seu bat mitzvah após completar 12 anos. em seu momento de tortura. Ao lado. como estamos acostumados a observar em nossa socieda- de. para que ele en- tão possa reingressar ocupando uma nova posição social. em uma cerimônia coletiva na qual o indivíduo adentra em uma nova etapa de sua vida. em aldeia no alto Xingu. 128). a criança passa para a fase adulta sem que haja uma transição tão duradoura. em geral. Os ritos de iniciação costumam envolver situações de resistência a priva- hh escarificação: corte. hh Ritos de passagem para a fase adulta Os estudos antropológicos e etnológicos foram uma importante fonte de desnaturalização de muitas ideias relacionadas a juventude e adolescência. em 2008. do que se pode depreender a sua importância para a plena inserção do indivíduo iniciado naquela sociedade. nos Estados Unidos. deixa cicatri. objetivo da iniciação. o rito de iniciação feminino coincide com a primeira menstruação.indd 250 5/28/13 8:51 AM . enquanto o masculino envolve a aceitação de sua participação em atividades coletivas. incisão ou arra. assim. Em muitas cultu- ras. essa passagem envolve até mesmo a separação do indivíduo em rela- ção ao restante da comunidade por determinado período. Essa passagem da fase infantil para a adulta geralmente se dá em um tipo específ ico de rito de passagem. 250 • capítulo 10 Sociologia_vu_PNLD15_247a270_C10. Em muitas sociedades ditas tradicionais. no f inal do anos 1920.indd 251 5/28/13 8:51 AM . está pronto para gerar e cuidar de f ilhos e para tomar decisões na sociedade. São Paulo: Cultrix/Edusp. criticaram essa ideia. enquanto os f ilhos dos trabalhadores pobres têm dif iculdades de acesso à escola e precisam trabalhar desde a infância. Antropo-lógicas. Muitos autores.. as responsabilidades de um adulto. BALANDIER. mas tiveram seu signif icado trans- formado. Alguns antropólogos e sociólogos identif icam as dif iculdades de adapta- ção à vida adulta e de aceitação de responsabilidades enfrentadas pelo jovem na sociedade contemporânea como decorrentes da falta de ritos claros de transição. Em sociedades ocidentais ou ocidentalizadas. alguns ritos de iniciação à vida adulta continuam sendo realizados.Um exemplo: embora participem de cerimônias que simbolizam a passagem para a vida adulta aos 12 (meninas) e 13 (meninos) anos. bem como atingiu um potencial para exercer a cidadania plena. A juventude seria um tempo socialmente dedicado à formação ivo da editora para a cidadania. uma vez que se aplica apenas aos Ro ipe Fil f ilhos das classes socialmente privilegiadas. desapareceram há muito tempo. o adulto é aquele que já é capaz de trabalhar para sustentar a si e a outros. de maneira geral.] os jovens vivem sua situação com crescente insegurança – pois os processos “iniciáticos”. Desenvolveu-se a ideia de que os jovens deveriam. o que implica direitos e deveres. Nas palavras do antropólogo francês Georges Balandier (1920-): [. relativas à produ- ção e a relações sociais mais diversif icadas. A ideia da adolescência como um período em que o conflito entre gera- ções e a rebeldia juvenil se estabeleceriam naturalmente também caiu por terra com a pesquisa de Margaret Mead na ilha de Samoa. af irmando /Arqu cha que ela tem um viés classista. até certa idade. Juventude: um tempo de preparação e responsabilidades Nos dias de hoje. Juventude: uma invenção da sociedade • 251 Sociologia_vu_PNLD15_247a270_C10. mas com o dever e a oportunidade de estudar. como um tempo de preparação para tarefas complexas. p. a maior parte dos judeus não mais assume. porém. psíquico e emocional. a condição de adulto supõe que o indivíduo completou seu desenvolvimento biológico. com essa idade. f icar livres das obrigações produtivas e do trabalho. Assim. como ocorre com muitos jo- vens ainda hoje. Georges. Mead descobriu que a transição era menos percebida pelas jovens sa- moanas porque a elas já eram apresentadas desde a infância as possibilida- des futuras e porque não enfrentavam a dif iculdade de escolher entre alter- nativas e cobranças conflitantes. que assegurariam sua inserção na ordem social e cultural dos adultos. 69. atribui-se à escola o papel de preparar as pessoas para a vida adulta. 1976. diante das exigências da sociedade industrial. nas análises sociológicas e históricas. Como vimos no capí- tulo 9. a ju- ventude foi considerada.. No século XX. gênero. 2005. Desse modo. então. etc. p. A elasticidade da concepção de condição juvenil na realidade brasilei- ra f ica clara quando é possível associá-la a situações de preconceito. 42. Helena. seja em relação à maioria. grupos jovens de diferentes gerações podem ser caracterizados na sociedade como pertencendo a um mesmo “movimen- to”. compreendendo que diferenças e desigualdades sociais tornam essa condição heterogênea. 252 • capítulo 10 Sociologia_vu_PNLD15_247a270_C10. que alcança uma abrangência social maior. cabe fazer uma distinção entre condição juvenil e situação juvenil: Condição juvenil é o modo como uma sociedade constitui e atribui significado a esse momento do ciclo da vida. pausa par a r E f l E t i r Reflita sobre a contradição que esta charge do cartunista Laerte ex- pressa entre expectativas sobre os jovens e decisões que eles tomam. o acesso à educação e ocupações variá- veis. Helena. In: ABRAMO. referi- da a uma dimensão histórico-geracional. Discu- ta: quais são as responsabilidades atribuídas à juventude hoje? O que você pensa delas? Laerte/Acervo do cartunista Em alguns momentos.).indd 252 5/28/13 8:51 AM . Pedro (Org. ABRAMO. Retratos da juventude brasileira: análises de uma pesquisa nacional. enf im. usado para se referir aos jovens que iam contra regras de comportamento na década de 1950 nos Estados Unidos para chocar as gerações mais velhas e se af irmarem como diferentes. Diversos perf is de jovens surgem de acordo com a classe social. Podemos. nos referir a “juventudes”. BRANCO. e não apenas a uma “juven- tude”. Um exemplo destas caracterizações é o termo “juventude transviada”. seja em relação ao padrão dominante. Condição juvenil no Brasil contemporâneo. Estas levam a comportamentos de discriminação ou exclusão devido à não acei- tação do diferente. etnia. a situação econômica. Situação juvenil diz respeito à maneira como tal condição é vivida a partir dos diversos recortes referidos às diferenças sociais – classe. São Paulo: Fundação Perseu Abramo/Instituto Cidadania. conforme a sociedade e suas conjunturas. A resposta à pergunta “onde você mora?” pode ser decisiva na trajetória de vida de um jovem. dedicou-se a analisar grandes tassem. Além disso. reli- giosos. como Karl Mannheim (1893-1947) uma força a ser acionada quando as circunstâncias sociopolíticas os requisi. A juventude pertence aos recursos latentes de que toda sociedade dispõe e de cuja mobilização depende sua vitalidade. n. percebendo que os Estados em guerra mobilizavam todos os seus recursos – incluindo os jovens. Os jovens de hoje também se diferenciam em termos de orientação sexual. Vimos que juventude não é um fenômeno universal e atemporal. O sociólogo Karl Mannheim (1893-1947) refletiu sobre esse assunto. p. no contexto histórico-social da primeira metade do século XX. Esses demarcadores de identidades podem aproximar jovens socialmente separados ou separar jovens socialmente próximos. Os jovens se destacavam. depois de 40 anos muitas vezes o homem é considerado velho demais para um emprego e só os moços interessam. [. de turmas. A “discriminação por endereço” restrin- ge o acesso à educação. é que podemos falar no surgimento de um senti- mento de geração. Há outras em que. No Brasil.indd 253 5/28/13 8:51 AM . Sociologia Especial Ciência & Vida. em foto de 1943. 8. que colocou em evidência a contraposição juve- nil às gerações adultas. na antiga China. bem como os demais cidadãos – para vencer o conflito. de galeras. gosto musical. Ele viveu o contexto das duas guerras mundiais e dos regimes nazifascistas europeus. pertencimentos associativos. e pelo mundo afora. Há sociedades em que as pessoas mais velhas desfrutam prestígio bem maior que as mais moças. 48-49. as periferias são. políticos. ano I. apesar de sempre surgirem novas gerações em função dos grupos de idade mais jovem. então. não. via de regra. p. Karl.. Com diversos nomes. Diagnóstico de nosso tempo. O primeiro problema que nos fere a atenção é este: será sempre o mesmo o significado da juventude na sociedade? Evidentemente. como por exemplo. de grupos e de torcidas organizadas. ao trabalho e ao lazer dos jovens que vivem nas favelas e comunidades caracterizadas pela precária presença (ou ausência) do poder públi- co. 2. Mas isso ainda não é tudo. valorizando um papel social de reserva da própria cultura. 2007. Mannheim fez considerações sobre a função sociológica da juventude. Londres. observando como a sociedade tratava os jovens. de- pende de uma dada sociedade fazer ou não uso delas [. Acima. topografias e histórias. MANNHEIM.].. Juventude e sociedade: jogos de espelhos. Sociologia e juventude por Mannheim Elliott & Fry/National Portrait Gallery. a vivência da condição juvenil é também diferenciada em função de desigualdades de gênero. Rio de Janeiro: Zahar. como nos Estados Unidos da Amé- rica. Ape- nas após a traumática experiência enfrentada por muitos jovens durante a Primeira Guerra Mundial. como processos sociais e é considerado o precursor da podemos ver neste trecho da obra Diagnóstico de nosso tempo: sociologia da juventude.] O problema sociológico é que. NOVAES. 1980. São elas que sustentam tanto a tirania do narcotráfico quanto a truculência policial.. Regina. de preconceitos e discriminações que atingem as di- versas etnias.. Juventude: uma invenção da sociedade • 253 Sociologia_vu_PNLD15_247a270_C10. existem hoje jovens que são vistos com precon- ceito por morarem em áreas pobres classificadas como violentas. marcadas pela pre- sença das armas de fogo. pois aprendemos que os movimentos reacionários ou con- reação. é que a ju- ventude entra nessa quadra na vida pública. auxiliam a sociedade a encontrar propostas de solução para crises sociais. tido para os jovens de hoje? O jovem não é por natureza revolucionário Album/akg-images/Latinstock ou conservador. 254 • capítulo 10 Sociologia_vu_PNLD15_247a270_C10. Desde então isso se hh reacionário: palavra originada de revelou falacioso. em abril de 1935. responda. como imigrantes ou migrantes de regiões menos desenvolvidas economicamente do mesmo país. da ordem social. MANNHEIM. e as milícias italianas fascistas. no nosso ponto de vista.. • Depois desta leitura. compostas de muitos jovens desempregados. tal como posto por Mannheim? Apresente suas ideias oralmente.] ela ainda não está completamente envolvida no status quo do latim.indd 254 5/28/13 8:51 AM . no caderno: Nas condições da sociedade atual. Este registro da juventude nazista marchando. ainda faz sen- mações na sociedade. Diagnóstico de nosso tempo. a prenda mais importante da juventude para ajudar a sociedade a hh status quo: expressão emprestada dar nova saída é que [. usada para designar aquele servadores também podem criar movimentos de juventude” (p. e na sociedade moderna é então que ela se vê confrontada pela primeira vez com o caos das valorações antagônicas. entre outros. Nesse livro.. Será que reage negativamente a transfor. jovens engajados na defesa de direitos do cidadão e do respeito à diversidade. revela a adesão precoce de milhares de pessoas à ideologia do Estado alemão na época. como a juventude hitlerista. [. judeus. o jovem pode ser considerado “um agente revitalizador da vida social”. na Alemanha. podemos dizer que os neonazis- tas são ultranacionalistas e intolerantes com al- guns segmentos da população. En con tr o c om os c i E n t i s tas s oc i ai s No trecho a seguir. af irma Mannheim. Rio de Janeiro: Zahar. Em nosso ver. quando mobilizadas e integradas. refere-se à ordem instituída. grupos neonazistas também estão presentes em diversos contextos sociais. negros. 51). A Psicologia e a Sociologia modernas do adolescente ensinaram- ao estado em que as coisas estão. ho- mossexuais. -nos que a chave para a compreensão da mentalidade da juventude moderna não se encontra unicamente na efervescência biológica dessa fase do desenvolvimento hu- mano. feita na primeira metade do século XX. que pre- senciou movimentos de juventude conservado- res. na atualidade. 52. em aula.. a crença cor- rente era que a juventude é progressista por natureza. 1980. Mannheim defende que à juventude de sua época estariam agregados valores sociais ambivalentes: “Quando eu era jovem.] O fato decisivo acerca da puberdade. que essa observação. Embora haja. Karl Mannheim defende a existência de características juvenis que. p. Karl.. Apesar de sua hete- rogeneidade. co- mo as de muitos movimentos sociais. São Paulo: Brasiliense. contra o “individualismo pequeno-burguês”. viola as regras do jogo que as oposições dominam.. Apesar de sua repercussão – que chegou ao Brasil. diferente do industrial-produtivista. a partir da segunda metade dos anos 1970.. sufocado pela repressão aos protestos. Desde o início o movimento não tem dirigentes. que deflagraram uma série de protestos e revoltas. [. Estudantes e trabalhadores De fato. o movimento de maio de 1968 foi efê- mero. Surgido em reação à política educacional do governo francês. portanto. Central Press/Getty Images conflitos de diversas ordens. Também à juventude se atribui a condição de ser precurso- ra da contracultura. nem disciplina partidária ou outra. p. Em 1968. o próprio movimento de jovens operários e estudantes praticou a espontaneidade consciente e criadora. Em 1968 – essa “segunda Revolução Francesa” – constitui-se um princípio de realidade outro.] do capital impõe formas determinadas de pensar e agir. ele contesta os profissionais da contestação.12-13. não se participou nem do sistema nem de seus métodos. fenômeno contemporâneo que congrega manifestações de grupos que questionam e rejeitam valores e práticas de uma cultura dominante. na França. MATOS. O movimento punk desenvolve-se nos Estados Unidos e na Inglaterra.indd 255 5/28/13 8:51 AM . são reflexos das contradições presen- tes na vida pública das sociedades.. colocou como lema a verdade triunfante do desejo. F. Olgária C. [. evidencia- dos no capítulo 8 deste livro. Outros movimentos contracul- turais posteriores garantiram sua longevidade criando uma identidade forte no campo da expressão e sem partir para um enfrentamento tão frontal das instituições. Em se tratan- do de uma força social. 1981. mas também à ideia de não violência e ao otimismo do movimento hippie.] De onde a luta avenida de Paris. Exemplo marcante de mobilização nesse sentido foram as manifestações estudantis de maio de 1968. contrapondo-se não só a um tipo de cultura dominante. influenciando jovens que contestavam a ditadura militar –. o movimento acabou estendendo seu questiona- mento a todas as esferas da ordem instituída na época. em 14 de maio de 1968.. Paris 1968: as barricadas do desejo.. a negação dos direitos individuais e a ética da abnegação e do sacrifício. no qual o poder [. outro movimento de Juventude: uma invenção da sociedade • 255 Sociologia_vu_PNLD15_247a270_C10. nem hierarquia.] Com a crítica ao mundo burocratizado e desencantado. Não se considerou o sistema de partidos ou grupos de pressão a qualquer nível. a juventude apresenta a potencialidade de abraçar causas que lhe cha- mam a atenção e com as quais se identif ica. o Maio francês significará uma crítica radical à fusão do indivíduo na marcham juntos em uma totalidade.. quer seja esta entendida como partido ou Estado. vivenciados pela ju- ventude. Exemplos disso são os movimentos punk e hip-hop. Do ponto de vista sociológico. erra- do. em geral. o graf ite é justamente uma marca de existência e visibilidade em meio a uma cidade que marginaliza e exclui os jovens negros e de baixa renda. que ain- da vigorava no país. até hoje o rap na- cional mantém-se associado às letras de protesto e denúncia de desigualdades sociais. tornando-se também uma forma de expressão e luta contra a ditadura militar. sobretudo em São Paulo e Brasília. e foi elaborado todo um rol de códigos próprios da cultura punk. Jovens punks participam de Enquanto ao punk aderiam principalmente jovens brancos de classe mé- parada em memória de Sid Vicious (1957-1979). os membros desse movimento tinham. e era preciso não depender dele. Foto de 2012. discriminados e pouco representados. No Brasil. Janette Beckman/Getty Images contracultura. por meio dessas expressões artísticas. capital de Minas Gerais. surgia na mesma época. com letras sucintas e impactantes e melodia e harmo- nia extremamente simples. com cortes de cabelo como o moicano. capital do Reino expressão musical. em 1979. este movimento chegou por meio de jo- vens da periferia das grandes cidades. O mote do “faça vo- cê mesmo” se expressava vigorosamente na música. surgido alguns anos antes. baixista dia e média baixa. em Belo Horizonte. No Brasil. que poderiam ser tocadas e cantadas por qualquer um. tendo dificuldades de inserção nos meios de comunicação de massa. Unido. Enquanto nos Estados Unidos o rap foi em grande parte incorpo- rado pela indústria cultural a partir do final dos anos 1990. tatuagens e piercings. o hip-hop. O choque cultu- ral com tudo o que era estabelecido aparecia também na imagem. o objetivo de se apropriar da cidade: o rap pode ser feito em qualquer espaço e frequentemente era feito nas ruas. no break como dança. 256 • capítulo 10 Sociologia_vu_PNLD15_247a270_C10. o hip-hop ganhou força nos anos 1980. Sentindo-se excluídos da cidade. em nos Estados Unidos. Casa Fora do Eixo Minas/Creative Commons Jovem faz grafite no viaduto Santa Tereza. e no graf ite como expressão visual. sobretudo na cidade de São Paulo. entre jovens afrodescendentes do grupo Sex Pistols.indd 256 5/28/13 8:51 AM . o break é uma dança de rua. Os jovens punks acreditavam que o sistema estava. O movimento hip-hop se fundava no rap como Londres. contributos. os “medalhões” ou os “re- descontinuidade dos valores intergeracionais. acabaria do. O conceito de geração A juventude é parte da sociedade. p 157-159. Discute a continuidade e os “lábios pintados de roxo”. de como uma “fase de vida” e entendem-na por uma Adaptado de: PAIS. a problemática da reprodu. o ato de reagir às condições dadas faz da juventude uma potencial pioneira de qualquer mudança social. resistência” a contradições de classe. In: Análise Social. de vivenciar experiências semelhantes e de processar tudo isso de forma similar. os aconte- cimentos. classes e raramente como diferenças intraclassistas. hábitos linguísticos. ou seja. os valores e as condições presentes em um espaço e um tempo determinados. porque vivem ou viveram o mesmo contexto. O “cabelo à punk”. José Machado. não é suf iciente ser de uma mesma época: o que def ine uma unidade entre os que nasceram em um mes- mo período é a possibilidade de presenciar os mesmos acontecimentos. As culturas juvenis teriam sempre ção social. No entanto. As distinções simbólicas en- A corrente classista interpreta a reprodução social tre os jovens (de vestuário. Filipe Rocha/Arquivo da editora Juventude: uma invenção da sociedade • 257 Sociologia_vu_PNLD15_247a270_C10.ul. um significado “político”. nesta ordem de ideias. Acesso em: 25 mar. por isso. Pressupõe a existência de várias culturas (do. e os es- unitário. bem mendos nas calças” seriam.indd 257 5/28/13 8:51 AM . vol. tendo por central. sig- como as relações entre as gerações. práti- em termos da reprodução das classes sociais. a Socio- logia considera a questão geracional e o contexto social. Disponível em: <www.ics. de uma dada cultura. XXV. Ao tomar por objeto de estudo a juventude. nos de “cultura juvenil” utilizados para desafiar a ideo- na análise da juventude. logia dominante. Mesmo as culturas Publica%C3%A7%C3%B5es%201990. 1990. que se desenvolvem no siste. ma dominante de valores. há maneiras di- ferentes de olhar a juventude pela Sociologia. As correntes geracional e classista sobre a juventude A corrente geracional adota a noção de juventude juvenis seriam “soluções de classe” a problemas com- referida a uma fase de vida. e enfatiza o seu aspecto partilhados por jovens de determinada classe. 2013. A construção sociológica da juventude – alguns categoria social que. Seus tra.%20n%C2%BA2. econômica e cultural. os seus movimentos devem ser compreendidos levando-se em conta o contexto em que se realizam e suas múltiplas dimensões – política. cas de consumo) são vistas como diferenças entre as balhos são críticos em relação ao conceito de juventu. em última instância. tilos mais exóticos de alguns seriam uma “forma de minantes e dominadas).pt/ rdonweb-docs/Jos%C3%A9%20Machado%20Pais%20-%20 minada pelas “relações de classe”. social. produz e é produzida pela sociedade. como você pode acompanhar no texto do cientista social José Machado Pais.pdf>. Para um grupo se constituir como geração. Para a socióloga Marialice Foracchi (1929-1972). em primeiro plano. a interação entre realidades locais e global marca os processos identitários. Mesmo assim. o retrato de Mao Tse-Tung (1893-1976). ins- titucional e social. A socióloga Helena Abramo exemplif ica: se. como um todo. acarretada pelos problemas de emprego e falta de perspectivas. A identidade é considerada um reflexo da interação do indivíduo com o meio social. sede do poder imperial chinês até 1912. líder do movimento que implantou o socialismo no país em 1949. Foto de 2011. mas também compartilhando experiências. nos anos 1960. uma das edificações da Cidade Proibida. pois se refere a grupos sociais em mútua aprendizagem. o conceito de geração tem uma dimensão relacional. responsáveis pela mudança social. pela forma de se vestir ou pelo consumo musical. no muro. conflitos e angústias. Numa sociedade globalizada como a atual.indd 258 5/28/13 8:51 AM . ao def inir traços comuns de conduta que implicam a ideia de pertencimento a um coletivo. é possível falar em “conflitos de gerações”. Trata-se de uma fase da vida na qual o indivíduo se questiona em busca da própria identidade. na af irmação de estilos de vida que se re- def inem pela convivência entre jovens e adultos. que geram ale- grias. como colegas de escola. a identidade da juventude se relaciona com cada época e pode ser percebida pelo comportamento. Jovens e identidade nos grupos sociais Ser jovem implica um viver e um sentir ambivalentes. nos planos individual. jovem com penteado e trajes da moda de influência ocidental contemporânea. repassando e recebendo costumes e hábitos. nas atitudes de oposição e recusa. a juventude era 258 • capítulo 10 Sociologia_vu_PNLD15_247a270_C10. Louis Quail/In Pictures/Corbis/Latinstock Três momentos da história da China: ao fundo. entre muitos outros aspectos. ora acentuam uma dimensão negativa. fenômeno presente nos comportamentos que se diferenciam. de tra- balho e de lazer. construída mediante relações familiares ou com outros segmentos sociais. As representações sociais da juventude ora investem em atributos juvenis positivos. além dos segmentos em processo de exclusão. Rubens Cavallari/Folhapress Outras instituições. a partir da década de 1970. os “problemas” do emprego e da entrada do jovem na vida produtiva praticamente transformaram a juventude em categoria econômica. filhos de trabalhadores rurais e urbanos (os denominados setores populares e segmentos oriundos de classes médias urbanas empobrecidas). levando em conta o fenômeno central de São Paulo. CARRANO. do adolescente e da juven- tude. localizada em avenida Leia o texto a seguir e faça as atividades propostas. um “problema”. que re- gulamenta os direitos juvenis. 16-39. nos últimos anos. Disponível em: <www. no conjunto das imagens não se considera que. Paulo. há uma inequívoca faixa de jovens pobres. 2010. No entanto. hoje também são respon- sáveis pela formação e proteção da criança. sociedade brasileira têm se voltado para a discussão da situação dos adolescentes e dos jovens. set. p./out. sobretudo para os adolescentes e aqueles que estão em processo de exclusão ou privados de direitos (a faixa etária compreendida pelo ECA). a juventude atual vê-se incentivada (especialmen- te pela publicidade) ao individualismo e ao consumismo – comportamento caracterizado pelo consumo em larga escala de bens materiais e simbólicos. como a escola e o Estado.. uma identidade costuma fazer parte da vida de grupos de É no âmbito de uma concepção ampliada de direitos que alguns setores da jovens ao redor do mundo. [. par- te das atenções tanto da sociedade civil como do poder público voltou-se. esse papel se assen- tou de maneira mais substancial na Constituição de 1988 e com o Esta- tuto da Criança e do Adolescente (ECA). 24. que fazem parte da ampla maioria juvenil da sociedade brasileira e que podem estar. Juventude e políticas públicas no Brasil./nov. Acesso em: 20 jan.069). 2003.indd 259 5/28/13 8:51 AM . A busca por produtos que da vulnerabilidade social – condição de indivíduos ou grupos sociais sem acesso aos definam um estilo ou revelem recursos necessários à sobrevivência e que se encontram em situação de risco. em decorrência de um modo peculiar de concebê-los como sujeitos de direitos. cuja expressão maior reside no Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA – lei federal nº. def inida como protagonista de uma crise de valores e de um conflito de gerações situado principalmente no terreno ético e cultural. Revista Brasileira de Educação.] De outra parte. Dadas as mudanças históricas que se processaram em nossa sociedade. Marília. promulgado em 13 de julho de 1990.. Nesse sentido.br/pdf/rbedu/n24/n24a03. instituído em 1990. no horizonte das ações públicas.8. ou não. No Brasil. SPOSITO.pdf>. a família deixou de ser a única responsável pela socialização dos indivíduos.scielo. que lutaram para que se re- conhecesse a importância de se pro- teger e garantir alguns direitos básicos a crianças e adolescentes. pE squisa Jovens veem vitrines na Galeria do Rock. em 2009. ainda que estes não apresentem utilidade prática. n. O ECA foi uma conquista histórica de militantes de diversos setores da so- ciedade. Juventude: uma invenção da sociedade • 259 Sociologia_vu_PNLD15_247a270_C10. sua atuação em manifestações e greves e. a f im de expressar valores sociais alternativos e atitudes de não adesão à cultura dominante. Somente no perío- do democrático. Mariley W. A que fatores você atribui os maiores problemas que atingem a juventude hoje? O jovem na sociedade brasileira Carlos Rodrigues/Agência Estado Inspirados pelos movimentos estudantis de maio de 1968. Alguns exemplos dessas ações são os bailes funk e o hip-hop. os jovens brasileiros se f ize- ram presentes na sociedade. 1996. por seu en- gajamento político. p. refor- çada por parte da historiograf ia e pelos meios de comunicação de massa. Fora dos teatros. Faça uma pesquisa no Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) – disponível no endereço eletrônico <www. OLIVEIRA. 175. 2013) – sobre os seguintes pontos: a) Considerando as ideias de proteção e de autonomia.br/ccivil_03/Leis/L8069.htm> (aces- so em: 4 abr. Outros segmentos jovens também se mobilizaram. ao longo da história do Brasil. José Rivair. co- mo estudamos no capítulo 5. 1.gov. no caso de alguns. por fazer uma revolução no Brasil. MACEDO. incitados pelos meios de comunicação de massa e movimentos sociais. nas periferias do Rio de Janeiro e de São Paulo. mas incluídos na categoria “operários”. b) Qual é o papel das famílias e do Estado no que diz respeito à proteção da crian- ça e do adolescente? 2. em mexer com as velhas estruturas que sustentavam (e sustentam) os grupos que controlam o Poder. em Belém. São Paulo: Editora do Brasil. se mobilizaram pela deposição do presidente do país.planalto. a juventude se expressa de diversas formas: ocupa novos espaços. Assim. Com a mudança da conjuntura política na transição dos anos 1960/1970. a mobilização estudantil era intensa. pela necessidade de resistir à ditadura militar e pela atividade de outros mo- vimentos sociais no Brasil e na América Latina. Assim narram alguns historiadores: A participação dos jovens universitários da classe média na década de 1960 foi fundamental. e de tecnobrega. Uma história em construção. voltou a haver uma grande mobi- lização marcadamente jovem: a dos estudantes apelidados “caras-pintadas” que. responda: como o jovem exposto a vulnerabilidades sociais é tratado nesse documento? Exemplif ique com trechos da lei. pintaram os “rebeldes com causas”. ansiosos por participar da política. pela adesão à luta armada. Os jovens que participavam do movi- mento operário. marcada pela intensa e violenta repressão. por exemplo. Nas periferias das cidades.indd 260 5/28/13 8:51 AM . difunde suas manifestações a outros setores da sociedade e promove uma resistência cultural. ao lado dos “rebeldes sem causa” dos anos 1950. na segunda metade do século XX. as formas de luta se modificaram e as grandes mobilizações passaram a ser menos frequentes. não eram reconhecidos como uma categoria específ ica em termos geracionais. A ideia de “juventude” nessa época. Fernando Collor de Mello. e ainda o fazem. se ligava aos jovens das classes médias. na França. já no início dos anos 1990. onde ocorriam os festivais. 260 • capítulo 10 Sociologia_vu_PNLD15_247a270_C10. levados para outros espaços culturais também nas áreas centrais. avenidas. pela pressão social que exerceu. Juventude: uma invenção da sociedade • 261 Sociologia_vu_PNLD15_247a270_C10. As estatísticas revelam o volu- me enorme de casos de mortes violentas e prematuras. No Brasil. de morte. a penetração das drogas e o aliciamento de jovens promovido pelo tráfico organizado. Muitas vezes esses jovens são estigmatizados pela sociedade. falar de jovens funkeiros é falar de violência. a prostituição de adolescentes. de perigo. destaca-se a manipulação en- viesada da representação da violência como se esta fosse terreno exclusivo dos fa- velados. p. a evasão escolar. Nessa lógica. a falta de conhecimento e orientação acerca do corpo e da sexua- lidade. UFRJ. Carlos Rodrigues/Agência Estado Ato público dos caras-pintadas em Porto Alegre. 1999. José.]. em agosto de 1992. Vida de barro duro: cultura popular e grafite. Rio de Janeiro: Ed. dif iculdade em obter emprego.. as mínimas oportunidades de emprego e de formação adequadas. No entanto.. porque amplos segmentos da população jovem vivem em condições difíceis de desenvolvi- mento. entre outros. como exposto na análise a seguir: A violência caminha pelas ruas. As ações dos grupos proscritos tendem a ser unilateralizadas. de assaltos. capital do Rio Grande do Sul. a violên- cia doméstica. pedindo o impeachment do presidente Collor. a assistência precária à saúde. O trabalho infantil. estereotipadas [. em razão da violência que alguns segmentos eventualmente extravasam.indd 261 5/28/13 8:51 AM . ARCE. residências e pelos becos e bairros do Rio. concentradas nas periferias das grandes cidades. entre outras razões. 96. a desigualdade social marca também as condições de vida da juventude. não é assunto exclusivo dos pobres. A mobilização da juventude teve grande repercussão. que limitam suas expectativas de vida. de arrastão. estigmatiza- das. resultantes de problemas econômicos que afetam diretamente os jovens: falta de oportunidades para permanecer na escola. a gravidez precoce são alguns dos muitos graves problemas que afetam parcela significativa dos jovens brasileiros. ausência de perspectivas reais de me- lhora na condição de vida. Essa imagem caricatural se expande. . a dura realidade dos morros. Para o autor. [.. et al. a um novo retra- to mais fragmentário e plural da “nação”. 262 • capítulo 10 Sociologia_vu_PNLD15_247a270_C10. (Org.] É como se. 163-165. a antiga ima- gem que tínhamos do Brasil cedesse espaço.] Ao invés de reforçarem a imagem de um “país libertário/malandro”. In: _____. 1.. mas tam- bém delineado novas possibilidades de identificações e de construção de subjetivi- dades. As imagens das galeras funk na imprensa. após conflito entre policiais militares e espectadores que assistiam à apresentação do grupo de rap Racionais MCs..] os sentidos veiculados nos meios de comunicação de massa têm não só re- forçado e legitimado um quadro autoritário marcado pela exclusão social.. Micael. a precariedade e ineficiência dos meios de transporte coletivo. as repre- sentações promovidas pelos funkeiros sugerem um Brasil hierarquizado e autoritá- rio. 2. HERSCHMANN.. p. favelas e subúrbios. corroborando para a instauração de novas formas de solidariedade social e novas relações de poder. ao ponto de a opinião pública carioca inseri-los na galeria dos principais “inimigos públicos” da cidade. no centro de São Paulo. Identif ique de que forma integrantes e simpatizantes de movimentos como o do funk estão sujeitos à violência simbólica.indd 262 5/28/13 8:51 AM . pausa par a r E f l E t i r O pesquisador de estudos culturais Micael Herschmann vê no funk do Rio de Janeiro a explicitação de uma divisão social e da opressão histórica e cotidiana: [. qual é a consequência positiva da imagem do funk construída pelos meios de comunicação? Justif ique. mas re- pensar de que forma suas falas e atitudes se diferenciam daquelas produzidas por outros jovens aparentemente mais “integrados na estrutura social”. em 2007.. Linguagens da violência. de certa forma. no imaginário social. Mastrangelo Reino/Folhapress Cenário de rua entre a Praça da Sé e o Pátio do Colégio.] não se pretende afirmar aqui que os funkeiros não sejam violentos. 2000. Revelam assim os conflitos diários enfrentados pelas camadas menos privilegia- das da população.). [. conceito que vimos no capítulo 9. [. como: a repressão e os massacres policiais.. o racismo e assim por diante. Rio de Janeiro: Rocco. O Conjuve é com- posto de membros do governo e representantes de organizações sociais. 7. desejos e desaf ios da juventude brasileira. do qual se es- peram estudos e propostas de diretrizes para tais políticas.4% dos jovens do sexo mas- culino e 47. Em seguida.8%). ins- tituições.4% dos do sexo feminino acreditam que a violência e a falta de segurança são os problemas que mais afetam a juventude. Muitas conquistas da juventude aconteceram na década de 2000.1% e 33. ter a garantia de melho- res ganhos f inanceiros. voltada a estudantes que buscam oportunidades de trabalho. com o objetivo de executar políticas públicas direcionadas aos jovens de 15 a 29 anos. Nesses espaços democráti- cos. em São Paulo. realizada pelo Instituto Brasileiro de Análises Sociais e Econô- micas (Ibase) e pelo Instituto Pólis em 2008. em que qualquer jovem pode ser delegado. respectivamente) e as dif iculdades relativas ao emprego (29.8%. 16. hh O que deseja a juventude brasileira? Em meio a todas as dif iculdades.3%.indd 263 5/28/13 8:51 AM .6% dos jovens entrevistados. elabora-se um documento que consolida os sonhos. Nestas conferências. 5. Junto a ela funciona o Conselho Nacional da Juventude (Conjuve). De acordo com a pesquisa Juventudes Sul- -americanas. E o que a juventude considera mais importante? Para 62. em 2005 foi criada no país a Secretaria Nacional da Juventude (SNJ). é ter mais oportunidades de trabalho. Diogo Moreira/Futura Press Jovens participam de feira.7% acreditam que é ser ouvido e atendido pelos governantes e 5. Após anos de luta de diversas ONGs e movimentos sociais de juventude. estes últimos eleitos anualmente. vêm a baixa qualidade da educação oferecida (38. 43. Juventude: uma invenção da sociedade • 263 Sociologia_vu_PNLD15_247a270_C10. participar de movimentos pela transformação política no Brasil. palestras e orientação vocacional. os jovens mostram saber o que esperam do seu futuro e do da sociedade. discutem-se as di- retrizes nacionais que guiam a SNJ e o Conjuve. Outra conquista que foi consolidada a partir da criação da SNJ e do Conjuve foram as conferências municipais. cursos. ONGs e movimentos sociais.8% responderam que é estudar e ter um diploma universitário.2% e 33.3%. estaduais e nacional de juventude. Foto de 2011. anotem as conclusões do grupo e apresentem para a turma. na medida em que se formam laços de dependência e de reciprocida- de social. 264 • capítulo 10 Sociologia_vu_PNLD15_247a270_C10. apressados. as questões e os conflitos que atingem especialmente os jovens têm relação. retira dos jovens a chance de se desenvol- verem adequadamente. pEsquisa E d E bat E Pesquise com pessoas mais velhas. com o lugar que ocupam na sociedade. ser jovem hoje é melhor ou pior do que ser jovem em outras épo- cas? Por quê? Ao f inal da discussão. costumam ser caracterizados como agitados. criando ONGs (organizações não governamentais) e outras associa- do Eixo Minas. não sa- beriam o que seria melhor para eles ou para a sociedade. prevalece um jogo em que os pa- péis sociais são def inidos de acordo com a conveniência. assim. por sua vez. estes teriam mais sabedoria. porque. que apenas valoriza um dos lados. concebida por Weber como garantia da continuidade da ação social. para o senso comum. alguns grupos sociais se orga- Reunião do Congresso Fora nizam. governos ou grande parte instituições internacionais. Pergunte sobre o interesse deles em questões sociais e políticas e sobre hábitos de consumo. Belo Horizonte. Essas ações podem ser entendidas como uma protagonizados por jovens. portanto. e. 2012. Juventude contemporânea Ensina-se a crianças e jovens de que precisam respeitar e ouvir os adul- tos. inexperientes ou até inconsequentes. embora possam gerar compromissos de retribuição. A família e as instituições sociais têm Fora do Eixo/Creative Commons sua parcela de responsabilidade nesse processo. as memórias que eles têm sobre o que signif icava “ser jovem” no tempo deles e o que eles acham que é “ser jovem” nos dias de hoje. experiência e mesmo poder. com sua condição social. reunião de coletivos de cultura em ções que desenvolvem projetos em parceria com empresas. Falta-lhes autonomia. Os jovens. reúnam-se em grupos de até cinco pessoas e discutam: • O que há de comum e de diferente entre as pessoas que vocês entrevistaram? • A que se devem essas diferenças e semelhanças? • Na sua opinião. Depois. forma de protagonismo juvenil. Visando criar oportunidades para a juventude e levar a sociedade a reco- nhecer a capacidade de autonomia dos jovens. Essa concepção. como seus pais ou professores. No contexto de acirradas contradições e dif iculdades de uma realidade desi- gual.indd 264 5/28/13 8:51 AM . contrapos- to a uma maior duração da juventude (que se prolonga. têm sua moratória trans- formada em uma espera mortificada. estimulada pelo quadro de mudanças nos hábi- tos culturais.indd 265 5/28/13 8:51 AM . os jovens que são forçados a procurar trabalho. nesse sentido. na concepção de juventude. A ambiguidade de que falamos se evidencia em dois casos que cobrem a grande maioria da juventude: temos. responda às questões propostas. Dessa mescla de situações sociais resulta uma condição juvenil ávida por novas experiências sociais. devido à ausência de um destino economi- camente garantido.. A moratória juvenil. embora ainda possam adiar o ingresso no mercado de trabalho. no outro. em que o jovem leva mais tempo para se f irmar no mercado de trabalho. • a influência dos meios de comunicação na formação de uma cultura juve- nil. para depois dos 30 anos). Este caráter liminar é acentuado pela ambiguidade da moratória social que caracte- riza a fase juvenil. as- sim. mas nem sempre da independência econômica em relação aos pais. Em seguida. que consiste no adiamento das “responsabilidades adultas” com a condição de adquirir habilidade para “ganhar a vida” e livrar-se da dependência das Filipe Rocha/Arquivo da editora instituições de amparo na infância – a família e a escola. é um tempo vazio. As grandes transformações econômicas e sociais das últimas quatro décadas colaboraram. a moratória juvenil é um “presente de gre- go”. É uma situação Juventude: uma invenção da sociedade • 265 Sociologia_vu_PNLD15_247a270_C10. os objetivos. Tanto para uns como para outros. por um lado. para eles. Assim como a infância parece ser definida pelo futuro. muitas vezes.. segundo a cientista política Maria Teresa Kerbauy. paus a para rEflEtir Leia o texto abaixo e anote as ideias principais defendidas pelo autor. Como vimos. os jovens devem também acei- tar um “encaixe” marginal e de substituição na força de trabalho. no estilo de vida. afetivo e da sexualidade –. que muitas vezes os em- purra para a marginalidade. permanecendo na condição de dependente dos pais. que.] de impotência. Ocorre. Na medida em que “curtem” a opção de não serem “obrigados” a participar do mercado de trabalho por suas atribuições sociais. devido à fragilidade de instituições como a família e a escola e às adversidades em ingressar e se f irmar no mercado de trabalho. o fenômeno denominado adolescência prolongada. a idade adulta pelo pre- sente e a velhice pelo passado. Essa condição implica a conquista precoce da maturidade mental e física – incluindo a precocidade do desenvolvimento emocional. em conformidade com as exigências postas pela sociedade globalizada. intercalando empregos de baixa qualidade com períodos cada vez mais abundantes de desocupação. [. que pode ser relacionada a fatores como: • o encurtamento da infância pela antecipação da adolescência. para a exis- tência hoje de uma nova condição juvenil. valores e prioridades da juventude variam ao longo da história das sociedades. raiva e estigmatização. • a dif iculdade que o jovem enfrenta para entrar no mundo adulto. as idades sociais da adolescência e da juventude se confundem na tensão entre o que se deixa de ser e o que ainda não se chegou a ser. os jovens da classe média. Onda Jovem. recusando-se a lhes dar atenção e a respeitar suas ideias. Você concorda com a análise do autor? Justif ique por meio de exemplos.uff. • a violência urbana. de acordo com dados da PNAD (Pesquisa Nacional por Amostragem de Domicílios) de 2011. Isso traz implicações diversas para seu cotidia- no. Acesso em: 25 mar. 5. se encontram em situa- ções desiguais na estrutura social. segundo o autor? 2. 2013. dependendo do contexto histórico-cultural em que as pessoas estão inseridas. n. Na esfera do trabalho. os veja como transgressores de normas sociais. As- sim. o que leva à debilidade de sua posição para ter uma estratégia de ação política perante as “velhas gerações” e outros grupos sociais de interesse. que diminui suas oportunidades de participação política e de lutar para melhorar as suas condições de vida. posicionar-se perante a co- letividade a que pertence é o que cabe aos jovens para que o seu amadureci- Filipe Rocha/Arquivo da editora mento emocional se processe. José Miguel. Os jovens esperam reconhecimento. Os jovens. os jovens entre 18 e 24 266 • capítulo 10 Sociologia_vu_PNLD15_247a270_C10. situar-se na sociedade. que atinge em especial os homens. com repercussões futuras. Des- tacamos alguns a seguir: • a luta cotidiana para garantir formação e qualif icação prof issional ade- quadas. ainda que esta. No Brasil.indd 266 5/28/13 8:51 AM . pEsquisa • Como vimos até aqui. • a construção de uma vida autônoma e independente economicamente dos pais.br/obsjovem/mambo/ index2. Juventude e ação política. documentários ou f ilmes que abordam os ritos de passagem que marcam a transição da infância para a idade adulta entre os povos indígenas ou em diferentes grupos sociais urbanos e rurais. • a busca do primeiro emprego e a efetiva inserção no mercado de trabalho. O que é moratória juvenil. assim como outros segmentos da população. São muitos os desaf ios da vida social contemporânea que se lhes impõem.php?option=com_content&task=view&id=95&>. Faça uma breve síntese sobre as características do rito de passagem pesqui- sado. há distintas maneiras de viver a juventude ou de ser jovem. os jovens enfrentam os maiores índices de informa- lidade e desemprego. principalmente em países emergentes. In: Observatório Jovem. ABAD. em muitos momentos. Desafios para os jovens de hoje Colocar-se no mundo. Por que a moratória juvenil foi considerada pelo autor um “presente de grego”? 3. Disponível em: <www. 1. julho 2006. para conhecer um pouco mais sobre a juventude brasileira em contextos cul- turais diversos. • a consciência acerca dos próprios limites e a busca do desenvolvimento emocional. anote as referências pesquisadas e apresente seu trabalho em sala de aula. anseiam por se inserir na socieda- de. pesquise na internet textos de antropólogos. 47. no Brasil. Homicídios de crianças e jovens no Brasil. Diante das exigências do mercado de trabalho. respeitando-os como sujeitos de direitos. se ocorre uma combinação dos dois fatores. Para esses jovens. naquele período.indd 267 5/28/13 8:51 AM . em termos econômicos. o número de crianças e adolescentes mortos entre 0 e 19 anos foi de 16% do total de homicídios. MARTONI. a proporção de mortes por homicídios supera as por acidente de trânsito. ABRAMO. e considerando o tipo de arma usa- da. e muitos não estão preparados por não terem chances de uma formação e ocupações que os capacitem. Retratos da juventude brasileira: análises de uma pesquisa nacional. não é possível dizer se são os jovens. o problema é complexo: jovens não recebem as melhores colocações por não estarem preparados para elas. TexTo 2 Quanto à renda familiar. É também possível fazer distinções de gênero: 88. a formalização do trabalho (carteira assinada). enquanto na faixa de 15 a 19 anos. 1980 a 2002. Patrícia dos.] sabe-se que são justamente os casais jovens com filhos que constituem o momento mais precário. São Paulo: Fundação Perseu Abramo. que se casam mais cedo. Relatório de Pesquisa. 2006. O primeiro trata de violência.4% do total de óbitos por homicídios ocorri- dos foram do sexo masculino. ainda. CARDIA.). São Paulo: Núcleo de Estudos da Violência/USP. cuja família de origem é mais pobre. 59. SANTOS. ou. É imperativo que a sociedade desperte para essa etapa da vida das no- vas gerações com políticas públicas que possam construir redes públicas e privadas de oportunidades para os jovens. do ciclo de vida familiar: desse modo. o grau de escolaridade a atingir e a supera- ção das diferenças de cor/raça e gênero eram os grandes desaf ios a vencer. enquanto o segundo traz o tema da renda familiar.1% dos desocupados no período nunca havia trabalhado anteriormente. Helena. Nancy. 35. ou se mais jovens casados estão situados nesta faixa de renda porque a sua nova unidade familiar conta com uma renda mais baixa. PERES. Juventude: uma invenção da sociedade • 267 Sociologia_vu_PNLD15_247a270_C10. 2005. p... TexTo 1 De 1980 a 2002. Além disso. Maria Fernanda. anos de idade representavam um terço da população desocupada.8% dos homicídios foram por arma de fogo. Pedro (Org. [. paus a para rEflEtir Leia os dois textos abaixo. Laerte/Acervo do cartunista Charge de Laerte brinca com os múltiplos desafios e expectativas da vida contemporânea. Uma das relações abordadas foi a que existe entre a juventude e os movimentos de contracultura. O objetivo neste projeto é apresentar um seminário que dure de 15 a 20 minu- tos sobre a história do movimento escolhido. Para orga- nizar sua aula. adolescência prolongada. entre outras possibi- lidades. lousa. escolham um dos movimentos a seguir: a) Movimento punk b) Movimento hip-hop c) Movimento hippie 2. etc. refletimos um pouco sobre a juventude na sociedade. sigam os seguintes passos: a) Utilizando a internet. Filipe Rocha/Arquivo da editora conceitos-chave: Juventude. um cartaz. pesquisem sobre a história do movi- mento escolhido. diálogo s i n t E r d i s c i p l i nar E s Durante o capítulo 10. conflito de gerações. buscando ao menos duas reportagens de jornal. Lembre-se de que vocês só terão entre 15 e 20 minutos para passá-las. c) Escolham os recursos extras apropriados: uma música. um mapa. apresentação digital. um esquema a ser desenhado na lousa. reciprocidade social. 268 • capítulo 10 Sociologia_vu_PNLD15_247a270_C10. Apenas lembrem-se de que não devem ocupar o tempo todo da aula com estes recursos e devem fornecer informações para os colegas que estão assistindo. e planejem como o grupo vai fazer a apresentação. vulnerabilidade social. utilizaremos alguns co- nhecimentos da área de História para nos aprofundar no assunto. como: • Qual o contexto social e político que originou este movimento? • Em que lugar e época ele foi criado? • Quem são seus principais líderes. condição juvenil. vocês podem utilizar re- cursos como vídeos. anote as informações mais importantes e aquelas que você deseja incluir na aula. revista ou internet para complementar dados e in- formações. contexto social. situação juvenil. Na aula. etc. contracultura. músicos. alguns pontos são importantes nessa pesquisa. músicas. cartazes. Em grupos. rito de iniciação.? • Quais seus principais símbolos e qual a história deles? • Como ele acontece/aconteceu no Brasil? b) Em seu caderno. rito de passagem.indd 268 5/28/13 8:51 AM . geração. Neste projeto. idealizadores. um vídeo curto. 1. resistência cultural. Analise sociologicamente um dos textos apresentados. livros e arquivos. José Miguel.. 68 – conflito de gerações.br>. Culturas jovens: novos mapas do afeto.). Disponível em: <www. Paulo Sérgio do. capital da França. Culturas da rebeldia: a juventude em questão.juventude.br/obsjovem/mambo/index2. Re- tratos da juventude brasileira: análises de uma pesquisa nacional. 1987. p. ed. Eugenio (Jorge Zahar Ed. Acesso em: 25 mar. CARMO. Rio de Janeiro: Jorge Zahar. Frutos do Brasil: histórias de mobilização juvenil. n. PAPA. Pesquisadores analisam trajetórias. 4. Maria Isabel Mendes de. o autoritarismo. o filme mostra novos mapas do afeto.indd 269 5/28/13 8:51 AM .ipea.). In: ABRAMO. Políticas Públi. Site informa artigos e resultados de pesquisas no Brasil. No Brasil pós-golpe de 1964. Juventude e ação política. não significa passividade nem submissão.gov. 2003.). dE scubra m ais Reprodução/Jorge Zahar Editor As Ciências Sociais na biblioteca ALMEIDA. As Ciências Sociais na rede Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada – IPEA. In: FREITAS. Acesso em: 25 mar. 2006. Acesso em: 25 mar. Amigo é pra essas coisas (2005). França. Análise sociológica sobre os reflexos das mudanças no comportamento dos jovens. São Paulo: Senac-SP. 2013. 2006. BRANCO. Qual é a concepção sociológica de juventude e o que vem a ser condi- ção juvenil? 3. M. Por que as características geralmente associadas. 2003. na segunda metade do século XX – da política ao lazer. Capa do livro Culturas jovens: Ambientado nas chamadas banlieues (periferias) de Paris. Portal da Juventude. Se necessário. Helena. direção de Pierre Jolivet. direção de Stevan Kovacs.br>. Onda Jovem. Histórias de jovens de várias regiões comprovam que a cordialidade do brasileiro. 2013. São Paulo: Cortez. Juventude: uma invenção da sociedade • 269 Sociologia_vu_PNLD15_247a270_C10. DUARTE. Disponível em: dirigido por Pierre Jolivet. Site do Governo Federal dedicado à questão da juventude no Brasil. Neide. projetos e identidades de jovens em realidades urbanas. r E v i s a r E s i s t E m atiza r 1. 2. interdições sociais na luta pela vida de quatro jovens amigos. 2013. In: Observatório Jovem. _. Crítica política das políticas de juventude. As Ciências Sociais no cinema Amigo é pra essas coisas. 1992. 37-72.php?option=com_content&task=view&id=95&>. Estados Unidos.uff. Dê exemplos de processos de construção de identidade entre grupos de jovens atualmente. um jovem estudante se apaixona pela filha de um jornalista de esquerda.Cinema/DIOMEDIA consumismo são contestados. em nossa sociedade. São Paulo: Aracati – Agência de Mobilização Social. de C. Pedro (Org. Disponível em: <www. Fernanda (Org.). ABRAMO. 2. São Paulo: Fundação Perseu Abramo/Institu- to Cidadania. organizado por Marisa Isabel Mendes de Almeida e Fernanda Anos rebeldes. (Org. realize buscas na mídia impressa ou na internet. No contexto de protestos contra a Guerra do Vietnã e da onda hippie. Destaque as contribuições do sociólogo Karl Mannheim para os estu- dos da juventude. Brasil. aos jovens não podem ser consideradas universais? Dê exemplos. 2005.gov. Helena. 2005. Condição juvenil no Brasil contemporâneo. Imagem de divulgação do filme cas: juventude em pauta. julho 2006. EUGENIO. <www. 5. b i b liografia ABAD. a guerra e o Photos 12 . direção de Denis Carvalho. como concebe Sérgio Buarque de Holanda no livro Raízes do Brasil. ALMEIDA. Frutos do Brasil: histórias de mobilização juvenil. ano 9. _./dez. Karl. Rio de Janeiro: Francisco Alves. p. da UFRJ. MEAD. 2007. M.scielo. 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Sociologia Especial Ciência & Vida. Sociologia Especial Ciência & Vi- da.indd 270 5/28/13 8:51 AM . A. 2004. 1983. _. vol.). 2. 2. Juarez. José Machado. Jean-Louis. São Paulo: Fundação Perseu Abramo/Instituto Cidadania. 2000. n.br/scielo. A construção sociológica da juventude-alguns contributos. da UFRJ) Social. n. 6-15. André. de Karl Mannheim WEBER. 2007. OSSOWSKI. Pedro (Org. Max. Recife: UFPE.br/pdf/rbedu/n24/n24a03. Pierre. 1977. Fernanda (Org. 1976. Questões de sociologia. Milão: Feltrinelli. In: Análise Social. NOVAES. 2006.. casa e sexualidade na sociedade antiga. Marialice. WELLER. 1. Regina. A juventude no Brasil. Marília. 2002. (Zahar Ed. 1990. (Org.). Capa do livro Vida de barro duro: DAYRELL. LANGER. LYOTARD. 26. BOURDIEU. 16-39. Rio de Janeiro: Zahar Editores. Bologna: Il Mulino. A odisseia da exclu- são dos jovens do Brasil. SPOSITO. Vida de barro duro: cultura popular e grafite. 2005. temas como desenvolvimento capitalista. sociedade de risco.indd 271 5/28/13 8:52 AM . as quais têm relação com o processo de dissociação simbólica entre o ser humano e a natureza. ação humana. destruído diversas espécies da flora e da fauna e comprometido as reservas de energia do planeta Terra. têm degradado os habitat. especialmente a partir do século XX. neste capítulo. Salmo Dansa/Arquivo da editora Capítulo 11 O ambiente como questão global EstudarEmos nEstE capítulo: as aceleradas mudanças provocadas pelo ser humano no meio em que vive. consumismo. A produção e o consumo de massa. desenvolvi- mento sustentável. O custo é a ameaça sobre a vida humana no planeta. 271 Sociologia_vu_PNLD15_271a295_C11. São discutidos. uma visão de superioridade humana sobre todas as coisas em razão de sua capacidade de transformá-las mediante o trabalho. em frequência e velocidade nunca vistas. aos poucos. Na sociedade de hoje. hoje. ui rq os raios. as mudanças no ambiente se aceleraram e se intensif icaram. desarticulação das práticas de culturas tradicio- nais. produzido em 1981. ser previstos e ter seus efeitos reduzidos. A partir do século XX. a grande ed vo da maioria deles de ordem natural: as secas. Decor- reu desse processo a premissa de que ser humano e natureza são distintos. Em suas reflexões sobre o contexto atual. irá perceber o quanto os seres ito r a humanos sempre tiveram de enfrentar riscos. entre outros. por causa da exploração intensiva de recursos naturais. por meio do desenvolvi- Filip mento de técnicas e tecnologias. se torna um estranho de si mesmo e do mundo em que vive. do diretor Jean-Jacques Annaud. e o modo como nos organizamos para garantir nossa sobrevivência. as enchentes. os vulcões. cultural. não se reconhe- cendo neles. Em outras palavras. isto é. porém em ritmo mais lento. social. Em nossa trajetória de ocupação da Terra. Mui- /A ha oc eR tos desses riscos podem. A relação ser humano-natureza Se você assistir ao f ilme A guerra do fogo. uma grande ameaça contra a vida humana no planeta Terra resulta da maneira como empreendemos o desen- volvimento econômico. os terremotos. as ações humanas provocaram mudanças ambientais.indd 272 5/28/13 8:52 AM . de estra- nhamento do indivíduo ou grupo. Isso sig- nif ica que esses riscos estão ligados à forma como nosso conhecimento aplicado em técnicas e tecnolo- gias se relaciona com a natureza. desarranjos sociais. O resultado da alienação do homem em relação à natureza são conflitos de diversas ordens: interferências nos processos de transmissão de conheci- mento. transformamos e temos transformado a natureza. predominam riscos de outra ordem – são aqueles produzidos ou intensif icados pela própria humanidade. porque sig- nif icou a primeira forma de domesticação da natureza. espécies da flora e da fauna foram ex- tintas ou postas em risco. A agricultura foi um marco dessa relação. políticas que promovem a desagregação de comunidades. Nas sociedades que originaram a civilização ocidental. como se não f izéssemos parte dela. A alienação é um fenômeno social de distanciamento. foi se constituin- do. Como consequência. o ser humano se encontra alienado como ser natural. político. as tempestades. os sociólogos Anthony Giddens e Boaventura de Sousa Santos mostram que as promessas de 272 • capítulo 11 Sociologia_vu_PNLD15_271a295_C11. Desse modo. de uma instituição ou de uma sociedade em relação aos resultados da própria atividade. com a produção e o consumo em massa característicos do sistema for- dista – que implicou padronização e produção em larga escala a preços com- petitivos –. entretanto. a si mesmos. reservas de recursos minerais começaram a se es- gotar e o solo e o subsolo foram degradados. Mesmo antes da industrialização e da sociedade capitalista. ao contexto em que vivem e a outros seres humanos. Colaborou para isso a concepção das missões religiosas. guerras nucleares. O imperialismo europeu empregou populações e recursos de outros continentes no crescimento do capital econômico. A emancipação social é um conceito-chave na moder- nidade ocidental. que viam o indígena como um ser primitivo e herege. determinando que ele deveria aprender a cultura e os costumes dos “civilizados” – suas crenças. ampliando o capitalismo industrial./Creative Commons Trabalhadores africanos. sob o pretexto de “civilizar” o mundo. durante o período colonial. houve um processo de extermínio dos povos indígenas. submeteram as populações das Américas. e a natureza passou a ser vista como recurso para satisfazer a produção capitalista. falta de água e de outros riscos à vida.indd 273 5/28/13 8:52 AM . se vestir e se relacionar. Essas práticas resultaram na desestruturação de sociedades indí- genas e na dizimação de muitos povos. esse conflito entre os povos que aqui viviam e os portugueses e seus descendentes se deveu à cobiça pelas terras indígenas e pelos recursos naturais que as populações nativas controlavam. Foi com esse pen- samento que os países imperialistas europeus. D. No Brasil. seu modo de comer. O ambiente como questão global • 273 Sociologia_vu_PNLD15_271a295_C11. Nos séculos XIX e XX. asiáticos e europeus em mina de ouro na África do Sul. emancipação social por meio do progresso anunciadas pela modernidade não se concretizaram. Essa separação ideologicamente construída entre ser humano e nature- za se consolidou principalmente nos dois últimos séculos. Em parte. a modernização acelerada trouxe perigos cada vez mais reais de catás- trofes ecológicas. em fotografia produzida entre o final do século XIX e o início do XX. da África e da Ásia a uma lógica de acumulação (ou crescimento) do capital econômico. o custo a pagar pela cisão entre seres humanos e natureza é a ameaça à existência da vida humana. Washington.C. o conhecimento científ ico também se tornou utilitário. Ao contrário do esperado processo liberador das limitações humanas e sociais. um ideal de que o progresso histórico das técnicas e insti- tuições sociais levaria o ser humano a superar a rudeza do trabalho e da dominação social por ser dotado de vontade e liberdade. Library of Congress Prints and Photographs Division. de 1920. dos povos indígenas. ao longo dos sé- culos. A de- de Benedito Calixto. entre outros. Mesmo nos séculos XIX e XX. Reprodução/Museu Paulista da USP. São Paulo. asseguraram o equilíbrio ambiental por meio do adequado mane- jo do solo e do uso consciente de mares e rios. pois com isso também se perdem sa- beres das comunidades tradicionais – muitas das quais. situação corrente ainda hoje. Cada língua – enf im. impulsionadas tanto pela descoberta de minerais e metais preciosos quanto pela busca de terras para agricultura e pecuária. pois ocorreram diversas ondas de migrações para o inte- rior do país. Hoje a Fundação Nacional do Índio (Funai). marcação de áreas destinadas aos indígenas. as populações indígenas continuaram sendo atingidas de várias maneiras. 274 • capítulo 11 Sociologia_vu_PNLD15_271a295_C11. Expedi- ções realizadas pela Amazônia brasileira no último século mostraram tam- bém que os “indígenas civilizados” estavam sendo explorados e viviam na miséria. em 1900. SP. Entre as consequências da dizimação dessas populações. cada povo e sua cultura – que se extingue faz desaparecer. ma- diferentes culturas. hoje sobrevivem apenas cerca de 6. Na cabana de Pindobuçu. que interferiu nos costumes deireiros.indd 274 5/28/13 8:52 AM . podemos ci- tar o desaparecimento de muitas línguas. havia no mundo cerca de 10 mil línguas. criada em 1967. tem sido postergada e combatida pelos agricultores. no Brasil e em outros países retrata o contato entre latino-americanos. óleo sobre tela Atualmente. Foi somente no início do século XX que foram criados os primeiros serviços de proteção aos indígenas. o co- nhecimento sobre plantas medicinais e o equilíbrio de ecossistemas. a terra continua sendo objeto de conflitos e disputas. mineradores e outros grupos sociais. é o órgão gover- namental responsável pelas disputas de terra e proteção a comunidades indígenas. Segundo a Unesco. Um dos problemas desse desaparecimento consiste na perda de informação cultural e científ ica.7 mil. após a expansão territorial até os limites atuais do país. p. Biodiversidade: do planejamento à ação. fazê-las conhecidas da maioria do povo. Apesar das adversidades. poderíamos aproveitar a fauna e a flora desalojadas para. Miguel. Na foto à direita. 2003. No entanto. provocadas por obras desse tipo. hh biota: conjunto de seres vivos de dimentos hidroelétricos: uma região. muitos povos lutam para manter vivos sua língua. contribuindo por pouco que fosse para elevar o nível de conheci- mento. pausa para rEflEtir Leia o texto a seguir. 3. Um dos exemplos mais elucidativos é o dos levantamentos da biota. seus conhecimentos e sua cultura. Um reflexo desta separação entre natureza e humanidade seria o fra- cionamento das ciências. a Física. de educação ambiental e de consciência social das gerações futuras. a Biologia. n. que se fazem por ocasião da construção de empreen. ao seccionar o ser humano e a natureza em múltiplas partes (disci- plinas científ icas). 48./ago. foi criada uma multiplicidade de disciplinas. médio e longo prazos os efeitos dos represamentos causados por esses empreendimentos sobre as comunidades animais e vegetais são outras oportunidades oferecidas pelo cenário experimental. Finalmente. jul. Fotos: Fabio Colombini/Acervo do fotógrafo Duas indígenas da etnia Kalapalo (do tronco Karib). poucos demons- tram interesse em aproveitar essa oportunidade única para ampliar o conhecimen- to sobre nossa diversidade biológica. dif icultou-se a percepção de uma interdependência en- tre essas esferas. À parte de um exército de zoólogos e botânicos sistematas. como a Química./set.indd 275 5/28/13 8:52 AM . Fotos de 2011. moradoras da aldeia Aiha. a mulher prepara o polvilho do beiju por meio da lavagem da massa de mandioca-brava. O ambiente como questão global • 275 Sociologia_vu_PNLD15_271a295_C11. ano 55. RODRIGUES. do biólogo e zoólogo Miguel Rodrigues. produzimos efeitos desastrosos tanto no meio ambiente quanto nas populações humanas. no Parque Indígena do Xingu (MT). Ao ignorarmos essa interdependência. Em nome da ef iciência científ ica. Estudar a curto. Revista da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência. Ciência & Cultura – temas e tendências: biodiversidade. etc. Conhecer melhor as doenças de nossos ani- mais e plantas nativos certamente tem importância estratégica para um país que vem substancialmente alterando seus hábitats naturais. pelo menos. no qual ele apela para a preservação de nossa diversidade biológica. Entretanto. Isto é. guerras. etc. muitos riscos naturais podem ser evitados ou atenuados por meio do conhecimento e de modernas tecnolo- gias. ter- remotos. raios. por exemplo. Qual é o principal argumento do autor para a preservação de nossa diversidade biológica? 2. Após a leitura. novos riscos – considerados de outra ordem – emergiram. refli- ta sobre as implicações da destruição ambiental para as populações que viviam próximas a locais de implantação de grandes obras. são riscos que foram e continuam sendo criados pela própria ação humana. grandes enchentes. A construção irregular de habitações nas encostas. Tendo em vista o que você já aprendeu com os estudos das Ciências Sociais. associados à desigualdade social. Hoje. risco e resíduos nucleares. o desmatamento e a falta de planejamento urbano. podem resultar em tragédias pessoais e problemas sociais. do uso insustentável da água e do solo: deslizamentos de encostas com soterramentos.indd 276 5/28/13 8:52 AM . mortandade e extinção de espécies animais e vegetais. Sociedade de risco Os seres humanos sempre tiveram de enfrentar muitos riscos para defen- der-se de ataques externos de outros humanos (como invasões de salteado- res. saques) ou de intempéries. como secas. responda às questões: 1. Rio de Janeiro. vulcões. Marcos de Paula/Estadão Conteúdo/Agência Estado Moradores retiram seus pertences após deslizamento de terra que destruiu casas e soterrou ao menos 4 pessoas em Petrópolis. desertif icação progressiva de muitas regiões e esgotamento de solos. em março de 2013. por conta. os riscos atuais no ambiente resultam da forma como tem acontecido a intervenção humana na natureza. 276 • capítulo 11 Sociologia_vu_PNLD15_271a295_C11. tempestades. ataques de insetos. Ou seja. a produção social das riquezas é acompanhada pela produção de riscos sociais e ambientais. à segurança e ao meio ambiente Teoria Crítica. capitalismo e de-se virtualmente dizer que as constelações de risco são produzidas porque as cosmopolitismo. Beck critica a Sociologia clássica por achá-la envelhecida e ca- rente de categorias e formulações capazes de explicar uma realidade contra- ditória e em acelerada mudança. Jürgen Habermas. já que o domínio so- bre a natureza colocou em risco a própria humanidade.indd 277 5/28/13 8:52 AM . BECK.. seguindo o padrão dos efeitos colaterais latentes. dos processos de modernização autônoma. constituem o que os cientistas sociais denominam modernização – um processo de mu- dança social provocado pelas invenções e inovações da sociedade moderna. a urbanização. p. As sementes geneticamente modif icadas podem constituir ou- tro caso de risco.16. A. entre os quais Sociedade de risco: rumo a uma certezas da sociedade industrial (o consenso para o progresso ou a abstração dos nova modernidade (1992) e efeitos e dos riscos ecológicos) dominam o pensamento e a ação das pessoas e das Modernização reflexiva (1994). estes últimos produzem ameaças que questionam e finalmente destroem as bases da sociedade industrial. por outro lado. a racionalização atinge a tudo e a todos. podem alterar para sempre a vida no planeta. “irracional”. da Unesp. De acordo com o f ilósofo e sociólogo Jürgen Habermas. Um exemplo é a doença da vaca louca. que são cegos e surdos aos seus efeitos e ameaças. Os riscos ambientais são globais. cujas características são a racionalidade da administração. na medida em que a técnica e a ciência invadiram as diversas instituições sociais e as transformaram. ação comunicativa defende o de de controlá-los. Steffi Loos/Associated Press/Glow Images O sociólogo alemão Ulrich Beck interpretou que as mudanças. associada à mudança na a emancipação do homem.. Foto de 2009. a industrializa- ção. Essas condições da sociedade. filósofo e sociólogo alemão ligado à Existem hoje diversos riscos à saúde. Po..] surge na continuidade Foto de 2012. a serviço de interesses econômicos. uma vez que atingem O ambiente como questão global • 277 Sociologia_vu_PNLD15_271a295_C11. Modernização reflexiva: política. etc. U. Ulrich Beck. sociólogo alemão A transição do período industrial para o período de risco da modernidade ocor. Cada vez mais há dif iculdades de prever com segurança as reais ameaças provoca- das pelo desenvolvimento e aplicação extensiva de novas tecnologias e des- cobertas científ icas que. pois há pesquisas afirmando que elas contaminam planta- ções não transgênicas. ocorreu um processo de racionalização progressiva da sociedade. O ser humano se torna vítima da razão téc- nico-instrumental que é. Sua teoria da produzidos pela ação humana. alimentação do gado (alimentado com ração feita de farinha dos ossos de animais da mesma espécie) e fruto de causas ainda desconhecidas ou não pesquisadas. nas últi- mas décadas do século XX. reduzem a variabilidade genética de espécies e deses- truturam ecossistemas. que cunhou o conceito “sociedade de risco” e escreveu re de forma indesejada. pois não sabemos como enfrentá-los e quem responsabili. LASH. instituições na sociedade industrial. quando os sujeitos foram e são dominados pelo discurso da racionalidade. Nessa perspectiva. tradição e estética na ordem social moderna. a tecnologia avançada. A reinvenção da política: rumo a uma teoria da modernização reflexiva. In: GIDDENS. a burocracia. globalização. A sociedade de risco [. despercebida e compulsiva no despertar do dinamismo inúmeros livros sobre autônomo da modernização. Viver em uma sociedade de risco implica viver uma era de incertezas. estão nos levando a uma “sociedade de risco”. Uma característica desses riscos é a dif iculda. Ferenc Kalmandy/Associated Press/Glow Images Após a Revolução Industrial. na qual os bens coletivos não estão mais garantidos. Ulrich. De maneira cumulativa e latente. São Paulo: Ed. concentradas e intensif icadas no último século. uso da razão comunicativa para zar por eles. S.. 1997. da ef iciência e da competência. dif icultando a sobrevivência humana. BECK. o que ainda não ocorreu. Abaixo. embora não da mesma maneira nem com a mesma intensidade. de alta tecnologia e capacidade. cujas estruturas medem de 1 hh nanômetro: a bilionésima parte a 100 nanômetros. passageiros no aeroporto internacional da Cidade do México usam máscaras para se proteger de contaminação durante o surto de gripe A (H1N1). assim. a utili- zam sem que se tenha investigado as possibilidades de contaminação dos trabalhadores. como a de cosméticos e a de produção de roupas sintéticas. Outros riscos podem advir das inovações que envolvem a mani- pulação da matéria. como é o caso da nanotecnologia – um ramo da ciência que desenvolve estudos e pesquisas de processos que implicam a manipula- ção da matéria em escala atômica e molecular. As consequências do vazamento em uma usina nuclear. em tamanho muito reduzido. Vanderlei Almeida/AFP/Getty Images 278 • capítulo 11 Sociologia_vu_PNLD15_271a295_C11. No que tange à nanotecnologia. extrapolam os limites territoriais do país onde ela se localiza. materiais ou de um metro (10-9 m). em maio de 2009. uma vez que os atuais equipamentos de proteção e instala- ções podem não ser adequados às novas substâncias. por sua vez. todas as classes sociais e países. permitindo. em que a mobilidade das pessoas é cada vez maior. em julho de 2009.indd 278 5/28/13 8:52 AM . por exemplo. os cientistas alertam que seus riscos de- veriam ser cuidadosamente mapeados. Certas in- dústrias. Em tempos de globalização. novas substâncias. criar produtos sof isticados. como o câncer de pulmão (muitas vezes associado à poluição do ar) e o de pele (associado à exposição excessiva ao sol. componentes a serem usados em diversas áreas. Diversos problemas de saúde são associados a questões ambientais. Os cientistas criam. pessoas também se protegem com máscaras em fila de hospital no Rio de Janeiro (RJ). Bernardo Gutiérrez/Folhapress Ao lado. a sociedade tem dificuldades em prevenir riscos. agravada pela redução da camada de ozônio). CASTELFRANCHI. então presidente dos Estados Unidos e pai do atual [em 2006]. George Bush. Yurij. Vento de furacão esquenta debate sobre mudança climática. é também natureza. que ajudarão na sua pesquisa. siga os passos indicados.. sob a mesma alegação: “não colocar em risco o estilo de vida americano”. se recusou: “o estilo de vida americano não é negociável”. n. Revista da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência. Em linhas gerais. São muitos os efeitos das mudanças resultantes da relação que os seres humanos estabelecem entre si e com a natureza que os cerca. assim como o estilo de vida. p. revistas e na inter- net. Mais de 170 países assinaram. é que a tem- peratura do planeta e os furacões. por exemplo. Com base nessa reflexão. qual é o conteúdo desse documento e que países participaram desse acordo? 2. mas em 5./ago. 2 mil especialistas indicaram num documento conjunto que era preciso cortar as emissões de dióxido de carbono de 50 a 70%. ele é parte do ecossistema e. O ser humano não somente se relaciona com o meio ambiente.indd 279 5/28/13 8:52 AM . Você acha que esse protocolo incentivou pesquisas tecnológicas em busca de al- ternativas energéticas e do uso sustentável dos recursos? Dê exemplos encontra- dos em sua pesquisa. Cinco anos depois. Embora muitos estados daquele país venham ten- tando pôr em prática a diminuição das emissões. a pedido das Nações Unidas. p E squisa Leia o texto abaixo sobre a questão das cotas de carbono e anote em seu Filipe Rocha/Arquivo da editora caderno as ideias principais.] O protocolo de Quioto entrou em vigor em 2005.2% do nível acordado em 1990: como apagar um incêndio com conta-gotas. jul. Em 1990. Depois. assinado em 1997. a evidência. novamente. Os Estados Unidos não assinaram. a maioria dos governos do planeta estabeleceu em Quioto o que era “economicamente viável”: o máximo era tentar diminuir as emissões até 2012. sobre a degradação ambiental e o Protocolo de Quioto. Formule um texto que aborde as seguintes questões: 1. portanto. em jornais. 17. Seguiram complexas negociações. Significava dizer adeus a carvão e petróleo. 2006. O ambiente como questão global • 279 Sociologia_vu_PNLD15_271a295_C11. Em 1992. na conferência do Rio de Janeiro [ECO-Rio]. É correto af irmar que ele representa um avanço parcial para a humanidade no despertar da consciência ecológica? Por quê? 3. a ausência de absoluta certeza científica não deve ser utilizada como razão para postergar medidas eficazes e economicamente viáveis para prevenir a degradação ambiental”. aprovava-se o chamado princípio de precaução: “quando houver ameaça de danos sérios ou irre- versíveis. um negócio de US$ 3 trilhões anuais. 3. Ciência & Cultura – temas e tendências: Amazônia. É possível. pesquise outros exemplos. não parecem ser negociáveis. artigos. declarou. [. ano 58./set. porém. correlacionar o aquecimento global com a mudança no número e na intensidade dos furacões.. cuja pesca é proibida em alguns períodos do ano. Nas últimas quatro décadas. caminhões. peixe que pode medir mais de 2 metros e pesar 200 quilos. Eles af irmaram que o aquecimento global é causado. primordialmente. processo intensif icado ainda mais nas duas últimas décadas). As temperaturas estão subindo. divulgou a avaliação da saúde da atmosfera. a queima de carvão. Em fevereiro de 2007. que são emiti- dos por fábricas ou por aparelhos e produtos que utilizamos em nosso coti- diano. nismos vivos em ecossistemas terres.indd 280 5/28/13 8:52 AM . que levam a uma concentração inédita de gases do efeito estufa na atmosfera. sais. como a Floresta Amazônica. inúmeros mi- crorganismos e insetos). Nela. metano. No Brasil. principalmente. Foto de 2012. 280 • capítulo 11 Sociologia_vu_PNLD15_271a295_C11. Faltam. espécies vegetais e animais são preservadas da extinção. acelerou-se o processo de desmatamento. mas muitos de nossos ecossistemas têm sido alterados e até extin- tos. clorof luorcarboneto). localizada no oeste do estado do Amazonas. um relatório da ONU. compostos orgânicos. Para conter esses fenômenos é preciso reduzir os níveis de gases nocivos ao meio am- biente (dióxido de carbono. Ecossistemas e globalização O Brasil é o país que abriga a maior biodiversidade do planeta e isso aumenta sua responsabilidade na preservação da Terra e na geração de co- nhecimento. no século XX. ar-condicionado. embora essa situação comece a se modif icar. no entanto. queimadas. tura para a exploração sustentada dessa biodiversidade. ou uma pequena planta. segundo informações do Insti- tuto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe). Harald von Radebrecht/ImageBroker/Glow Images Homem se desloca em canoa pela Reserva de Desenvolvimento Sustentável Mamirauá. a queima de petróleo e derivados. Um ecossistema pode ser uma grande área relativamente homogênea. condições básicas de pesquisa e infraestru- hh biodiversidade: variedade de orga. água e diversidade climática. como uma bromélia (que armazena em suas folhas água. A Mata Atlântica. como o pirarucu. ônibus. como automóveis. por exemplo. quase desapareceu por ter sido área de intensa exploração desde o século XVI e. há recursos biológicos. etc. elaborado por 600 cientis- tas de mais de 40 países. por ati- vidades humanas – entre elas. assim como o nível dos mares (há estudos apontando que se elevou entre 10 e 20 centímetros no século XX. que monitora o desmatamento. O Cerrado é um bioma brasileiro bastante ameaçado pela expansão do agrone- gócio. agricultura em larga escala e destruição de florestas tropicais –. tres e marinhos. de mão de obra qualif icada ou não. no momento. em foto de 2012. à supremacia de alguns países sobre outros. Desse arranjo econômico-político entre os países. O desenvolvimento do capitalismo assume. uma supremacia de dominação social. com emprego de mais ou menos tecnologia. pois uma parte considerável da população mundial não tem acesso a eles. a saída para os problemas mais sérios exige soluções Refinaria de petróleo lança em âmbito mundial que envolvam a solidariedade dos países ricos em rela. se- jam produtos industrializados. fenô- meno analisado no capítulo 1 e. conf igura-se uma divisão inter- nacional do trabalho em que o perf il de cada país é determinado em rela- ção ao que produz. porém. no plano especif icamente cultural e ideoló- gico.indd 281 5/28/13 8:52 AM . a sociedade e a cultura. etc. Nesse sentido. uma hegemonia global. o ser humano. isto é. con- sumidores e exploradores de recursos naturais. Bret Hartman/Reuters/Latinstock O ambiente como questão global • 281 Sociologia_vu_PNLD15_271a295_C11. não se estendem da mesma maneira a todos os povos e países. grãos. as preocupações com a ecologia – ou com o equilíbrio ambiental – introduziram perspectivas de análise do ambiente baseadas em uma concepção de ciência e tecnologia mais integrada com a natureza. pois abri- gam indústrias sem controles de poluição e se tornam receptáculos de lixo tóxico. no nível das rela- ções internacionais propiciadas pelo sistema capitalista no mundo. pela globalização da economia e pela degrada- ção ambiental. e os países em desenvolvi- mento têm tido pouca chance de garantir o equilíbrio ecológico. poluentes no céu de San Pedro.). O mundo vem se defrontando com verdadeiros dilemas provocados pelo crescimento da população. Os benefícios do desenvolvimento capitalista. minérios. A hegemonia global refere-se ao poder mais ou menos determinante de dominação. seja matéria-prima (madeira. nos Estados Unidos. no capítulo 5. Os países mais desenvolvidos costumam ser os maiores poluidores. ção aos pobres e novas formas de produzir e consumir no mundo. e há dif iculdades de os países construírem instituições globais que sejam ef icazes. tem levado à busca de soluções para os problemas ambientais. em 20 anos a cidade poderá perder 40% do volume de água de sua bacia hidrográfica. Tais buscas. precisam ser globais efetivamente. estuda as interações entre os seres vivos e o meio ambiente. com o objetivo de prevenir malefícios à saúde nas minas. os rios da Cidade do Cabo secarão. tanto nas suas proposições de soluções quanto na f iscalização e regulamentação das relações do ser humano com a natureza. Diante das dif iculdades políticas e sociais do mundo contemporâneo. sementes transgênicas. estudados no capítulo 8. ainda que incipiente. como é o caso da Cidade do Cabo. além das condições necessárias para a reprodução das diferentes formas de vida. a ecologia. em sua maioria. Os exemplos de desertificação de nosso planeta e de seu aquecimento se multiplicam. constata-se a emergência de lutas sociais como as dos movimentos ecológicos. para fins paisagísti- cos. na África do Sul. etc. Um desses movimentos é o de cam- poneses que se opõem ao crescimento da agricultura antiecológica recusan- do-se a utilizar venenos (pesticidas). 282 • capítulo 11 Sociologia_vu_PNLD15_271a295_C11. por consumirem muito mais água. A ação dos colonizadores. como o nações. Uma das consequências é o derretimento das calotas polares. Muitos desses movimentos querem hh transnacionais: relativos a várias dar um sentido político a problemas ecológicos transnacionais. locais. Nesse ritmo. provocadas pela globalização da economia. O desenvolvimento gradual de uma consciência ecológica.indd 282 5/28/13 8:52 AM . plantações e fábricas. por direitos humanos. e da necessidade de soluções globais. julho de 2008. Os movimentos ambientais que denunciam essas situações de degrada- ção são. campo interdisciplinar. como sugere a charge a seguir. em 40 anos. que. essas árvores invadi- ram os mananciais. no entanto. resultou na quebra do equi- líbrio hídrico. mas servem de exemplo para mobilizações em outros lugares. efeito estufa e o buraco na camada de ozônio. Laerte/Acervo do cartunista Tirinha de Laerte. e se não forem removidas. Todos esses fenômenos de degradação ambiental implicam a redução do volume de água potável no planeta. Eles tendem a se alinhar em ações coletivas que reivindi- cam um trabalho seguro e saudável. dos povos indígenas. Ou seja. das mulheres e dos trabalhadores. substituíram a cobertura vegetal nativa (herbáceo arbustiva) por coníferas da Austrália e da América do Norte no século XIX. .) • Considerando que a sociedade moderna. terremo- tos. a relativizam. Roma-Bari: Latterza. seja diante de catás- trofes naturais como furacões. (Tradução livre das autoras. em seu caderno. o político perde os seus limites.] Em terceiro lugar.indd 283 5/28/13 8:52 AM . 133. antes. Foto de 2012. João Prudente/Pulsar Imagens Reflorestamento de árvores nativas nas margens do rio Capibaribe.. [. O plantio de espécies nativas em regiões desflorestadas possibilita a recuperação do equilíbrio ecológico e a melhoria da qualidade de vida das pessoas. Pernambuco. 2008. Ouve-se continuamente afirmar que a noção de “sociedade mundial de risco” favorece neologismos e bloqueia a ação política.] nessa concepção das emergên- cias geradas pela sociedade mundial de risco podem se delinear os contornos de uma “sociedade civil mundial”. [.. seja em defesa de espécies animais em extinção. Em segundo lugar. Leia esta sua interpretação do problema e responda à questão a seguir.. portanto. sendo capaz de pensar em si mesma. Ulrich. E ncon tro com os ciEn tis tas s oc i ai s Como os riscos ambientais se apresentam para toda a humanidade. é percebida a globalização das autoameaças produzidas pelo progresso desde um impulso politicamente orientável à revitalização da políti- ca nacional e à formação e configuração de instituições cooperativas internacionais. BECK. tsunamis. em São Lourenço da Mata. il rischio nell`età globale. se delineiam os contornos de uma esfera pública (virtual) mun- dial. p. Em primeiro lugar. um autor con- temporâneo importante como Ulrich Beck pensa em como a sociedade se “globali- za” também na missão de enfrentá-los. é reflexiva. Conditio humana. O contrário é verdadeiro: como sociedade mundial de risco. busque nos meios de comunicação de massa exemplos de ações sociais que indiquem como se dá a cooperação internacional diante de ameaças à vida no planeta. ela se torna tema por si mesma: os perigos globais geram comunida- des globais. incêndios florestais. que não se ajustam às coordenações e coalizações da polí- tica nacional-estatal e. enchentes. Criam-se constelações de “sub- política” global e direta. entre outras. O ambiente como questão global • 283 Sociologia_vu_PNLD15_271a295_C11. a sociedade se torna reflexiva em um triplo sentido. na edu- cação. Enquanto os laboratórios produtores af irmam que as semen- tes geneticamente modif icadas aumentam a produtividade e geram plantas resistentes a pragas. grandes pro- dutores rurais e parte da comuni- dade científica. 284 • capítulo 11 Sociologia_vu_PNLD15_271a295_C11. os ambientalistas alegam que elas causam sérios riscos à sobrevivência do ser humano e do planeta. As corporações têm acelerado a taxa de inovação em numerosos campos da produção e de gestão. Algumas inovações causam enormes polêmicas com os ambientalistas. em fevereiro de 2008 libe- rou-se o plantio e a venda de mi- lho transgênico no Brasil.indd 284 5/28/13 8:52 AM . como a automação e a informática. Michaela Rehle/Reuters/Latinstock Consumidores alemães aguardam em fila para comprar um modelo recém-lançado de tablet na cidade de Munique. as empresas exercem um papel ambíguo. ou de uma técnica inédita em determinada socieda- de ou setor produtivo. Sob os protestos de ativistas e ambienta- listas. na família. uma vez que redu- zem a variabilidade das espécies e alteram o ambiente. em março de 2012. na agricultura. A lógica da inovação e do consumo faz com que os produtos tenham uma obsolescência programada. Nesse contexto. no trabalho e no planejamento da cidade. controle. Enf im. existe também a obsolescência psíquica. Ao lado dela. trata-se de uma intervenção em qualquer setor da sociedade que se vale de tecnologia derivada de uma descoberta ou de uma invenção (como foi a adoção dos microprocessadores na construção de calculadoras eletrônicas. No campo da biotecnologia. Isso tudo faz com que os consumidores sejam grandes produtores de lixo: desde embalagens e mate- rial publicitário até dejetos resultantes do uso de produtos geram problemas ambientais de difícil solução. visto que o prazo de validade é def inido antes mesmo de o objeto ser produzido. no comércio. adoção e aplicação de uma nova técnica de produção. na administração do Estado. organização ou comunicação. ou seja. no f inal dos anos 1970). A guerra tam- bém é um dos mais ativos fatores de renovação tecnológica: a indústria béli- ca estimula testes e experimentos que envolvem a população civil e alimen- tam a disputa do poder político entre as nações. Inovação: benefícios ou malefícios? Inovação é a introdução. na medicina. as inovações estão presentes na indústria. logo se transformam em algo des- cartável. administração. numa decisão que agradou a um grupo de multinacionais. Assim. mesmo que já existente em outro contexto. por exemplo. em que a demanda por novos produtos é causada pela insatisfação do consumi- dor diante da possibilidade de troca por novidades. existe a discussão em torno dos transgênicos. políticos e de relações públicas na indústria da agrobiotecnologia Veja a seguir alguns casos ilustrativos revelados Abril de 2000 durante um ano de pesquisa divulgada pelo ativista Uma batata quente: Os produtores estaduni- Pat Mooney. Desastres científicos. até mesmo éticas. mente modificada.. denses de milho evitam o uso de semente genetica- ção e seus derivados podem acarretar problemas so. censurado por muito tempo.] com um tomate geneticamente mel. contra lei que libera os organismos geneticamente modificados (transgênicos) no país. pouco provável ou mesmo impossível. um gene da semente de canola geneticamente mo- tados Unidos. capital do Peru. para a Europa caíram de 2 milhões de toneladas em um ano a 137 mil toneladas no ano seguinte. O anún- Janeiro de 2000 cio tornou-se público quando meios importantes de Reputação no chão: Enquanto as delegações se comunicação informaram que as principais empresas preparavam para uma reunião de biossegurança a dedicadas a processar batata e as principais cadeias realizar-se em Montreal. Maio de 2000 “Seguras”. uma vez que suas exportações ciais de amplas dimensões.. pesquisadores esta- de fast food notificaram os plantadores do tubérculo dunidenses e venezuelanos confirmavam (contraria- para que evitassem o uso de batatas geneticamente mente às promessas da indústria) que a toxina Bt no modificadas. um pesquisador descobriu que Vocalizando: Um memorando do governo dos Es.. descobertos no intestino das abelhas produtoras de res.. Foto de 2011. Canadá. onde quer que estejam?: Multina- Fevereiro de 2000 cional informou a representantes do governo esta- Irresistível: Cientistas canadenses reconheceram dunidense sobre uma conformação de DNA não que alguns herbicidas de transnacionais perderam identificado que “aparece misteriosamente” em suas sua efetividade para exterminar o mato apenas dois sementes de soja geneticamente modificadas. revela uma experiência em que 4 de 20 roedo. O ambiente como questão global • 285 Sociologia_vu_PNLD15_271a295_C11. Eles traçam o perfil de como uma inova. vírus querendo “passar por morto”). A indústria afirmara que essa transferência seria modificado. Na Saxônia. A em- ou três anos depois que um agricultor de Alberta se- presa assegurou àqueles representantes que o DNA meou pela primeira vez as sementes de canola que desconhecido é seguro (e que não se tratava de um essas empresas modificaram geneticamente. matan- do larvas até 25 dias depois de ter sido liberada. com data dificada se transferira para uma bactéria e um fungo de 1993. milho transgênico pode dispersar-se no solo. sofreram lesões sérias no estômago. um Março de 2000 estado da Alemanha. Pilar Olivares/Reuters/Latinstock Protesto em Lima. alimentados [.indd 285 5/28/13 8:52 AM . transformação tecnológica e concentração do poder empresarial. neticamente modificado...] concluiu que Reino Unido. Advertiram cies pelo menos sete vezes. os consumidores contava-se a piada de que a empre- cado. O verdadeiro arroz dourado: Um estudo realiza- Dezembro de 2000 do por uma universidade dos Estados Unidos. mente modificadas). proibida para consumo hu- mano. Devido ao pânico gerado. monopólios inaceitáveis. com o objetivo de diminuir a resistência destes sa teria que distribuir. consumissem. na China e cracia” mundial se reuniu na França para debater a nas Filipinas. com operações de 2. Consideraram os casos do tomate e da batata. enquanto as doenças reduzem-se 98%. Essa situação fez com que surgissem novas preocupações com relação à capacidade da indústria e dos governos de controlar os produtos genetica- nista mente modificados. bonecos dos Power Rangers ou da Guerra das Galá- gio” recusaram-se a cruzar com os insetos resistentes. 2002. que crescem em 3 paí- modificadas e homogêneas. o gambá encontrou nos campos mo- Novembro de 2000 dificados um lugar ideal para reproduzir-se). o rendimento mercado de sementes geneticamente modificadas. Junho de 2000 “equivalência substancial” só é válida para a parte co- Homem aranha: Um “gene saltador” utilizado na mestível da planta. em que a regra de 286 • capítulo 11 Sociologia_vu_PNLD15_271a295_C11. São Paulo: Expressão Popular. em contraste com as genéticos conduz à erosão genética dos plantios e a 19 durante todo o ano de 1999. e que a patente sobre genes e outros materiais viam sido detectadas 15 mortes. durante o ano 2000 aumentou significa. Setembro de 2000 no ano 2000. Até agosto daquele ano já ha. apareceu nas Adaptado de MOONEY. O estudo conclui que a diversidade ultrapassa ampla- envolve quatro grandes culturas industriais (soja. imoral.. panquecas com que preparam comida rápida em res. Argentina e Canadá possuíam. devido às possíveis reações das crianças que os provenientes dos campos geneticamente modifica. dos (no entanto. até mesmo uma entre as que as alterações genéticas da parte não comestível moscas e os seres humanos. Os insetos vulneráveis das plantações “refú.]. gante produtora de cereal matinal fechou uma fábri- Julho de 2000 ca. fazendo caso omisso das mudan- engenharia genética rompeu a barreira entre as espé. o arroz forem cultivadas paralelamente. Pat.. xias. aumenta 89%. com medo de que um tipo de milho não permitido Não existe lugar seguro: As plantações “refúgio” e geneticamente modificado tivesse infectado os ce- de milho convencional. Laerte/Acervo do cartu “Segura”. Se forem liberados orga. campos a uma toxina bacteriana. os plantios geneticamente modificados são perigo- tivamente o número de mortes em consequência da sos.. dentro das caixas de cereais. Basicamente. seringas para tratar os ataques alérgicos. nismos modificados que contenham esse gene pro- Outubro de 2000 míscuo. em vez de cassaram. simplesmente fra. Monopolizar não é ético: A primeira reunião da Agosto de 2000 mesa-redonda sobre ética (um grupo de respeitados Continua a loucura: Segundo um relatório do agrônomos e especialistas em ética) [. mostrou que se diversas variedades de normatização da biossegurança.] entre perto dos campos com milho geneticamente modifi. corre-se o perigo de outros saltos inesperados Hipodérmicas com a cara de Power Ranger: Gi- [. O século XXI: erosão.. ses (Estados Unidos. que os agricultores semearam reais produzidos. não importa em que parte?: Pesqui- sadores estadunidenses fizeram um alerta ante um possível vácuo nas normas para a biossegurança de plantios geneticamente modificados.5 bilhões de dólares americanos. [. p. ças que possam ocorrer nas raízes e folhas. 98% da área total de culturas genetica- Corrida de “tacos”: Uma variedade de milho ge. algodão e colza-canola). mi- mente o desempenho das variedades geneticamente lho.. poderiam representar riscos para o meio ambiente. que a tecnologia de esterilização de sementes é doença da vaca louca.. mas permitida como forragem. que Tentativa de resgatar a biossegurança: A “bio- compreende diversas variedades de arroz. 151-7.indd 286 5/28/13 8:52 AM . taurantes. como Anthony Giddens (1938-). 1. 2. menos essa perspectiva se sustenta. Com a difusão do risco fabri- cado. Relacionem e sistematizem por escrito. O cientista político Elmar Altvater (1938-) mostra que. remetem-nos à trajetória do sistema capitalista de produção. de certo mo- do. e os inclui A constituição da dilemas que os envolvem.. E hoje todos reconhecem o caráter essencialmente fluido da ciência. Na sociedade ocidental a ciência atuou por cerca de dois séculos como uma espécie de tradição. o que tomar de café da manhã.. em particular em situações de risco fabri- cado. [. E eles precisam colaborar uns com os outros.. Discutam e redijam respostas para as perguntas propostas. o conhecimento científico superava a tradição. ed. 40-4. Supostamente.] mas o equilíbrio de riscos e perigos se alterou. Era algo que a maioria das pessoas respeitava. os governos não podem fingir que esse tipo de administração não lhes com- pete. e o fazem num nível global. Sua produção se vai tentar evitar produtos geneticamente modificados ou não. consequências da modernidade (1990). Rio de Janeiro: Record. GIDDENS. sociedade (1984) e As [. se café desca- feinado ou comum. para início de conversa por causa da frequência com que eles discordam uns dos outros. uma relação muito mais ativa ou comprometida com a ciência e a tecnologia do que antes. podemos ignorar esses novos riscos – ou esperar a chegada de sociólogo britânico que tem provas científicas conclusivas.] Seja qual for nossa perspectiva. dE batE Em grupos. ao O ambiente como questão global • 287 Sociologia_vu_PNLD15_271a295_C11. mas que permanecia externo às atividades delas. Não podemos simplesmente “aceitar” os acha- dos que os cientistas produzem. cada um de nós tem de decidir praticado a crítica sociológica da modernidade. justif icando suas respostas: a) Qual é a relação entre interesses econômicos e ciência? b) Qual é a relação entre esses interesses e o impacto da ciência no meio ambiente? Isso pode ser mudado? Como? Desenvolvimento capitalista e meio ambiente Quando as Ciências Sociais se referem a desenvolvimento econômico ou de outra natureza. mas de fato ele próprio se transformou em uma. A maioria de nós – incluindo autoridades governamentais e políticos – tem. Como consumidores. Analisem os avanços para a humanidade trazidos pela ciência e ref litam sobre seus impactos no meio ambiente.indd 287 5/28/13 8:52 AM . pessoas comuns. Nossa relação com a ciência e a tecnologia hoje é diferente daquela caracterís- tica de tempos passados. leiam o texto abaixo. penetraram profundamente em nossas vidas cotidianas. vemo-nos envolvidos num problema de administração de risco. Os leigos “consultavam” os especialistas. 2003. sua difusão e força política em se manter e se transformar. uma vez que muito poucos riscos de novo estilo têm algo a ver com as fronteiras nacionais. Foto de 2012. p. anotando em seus cadernos as principais ideias do autor. ela toma uma decisão no contexto de informações científicas e tecnológicas conflitantes e mutáveis. e tem de ter. O desenvolvimento se realiza no espaço global.. Anthony. Quanto mais a ciência e a Jeff Morgan/Alamy/Glow Images tecnologia se intrometem em nossas vidas. Mundo em descontrole. Mas tampouco nós. 3. Cada vez que uma pessoa decide o que comer. Esses riscos. mas de modo descontínuo nas diversas nações e re- giões do mundo. ao se comprometerem com índices de redução. simplifica- dor e justificador das diferenças e desigualdades sociais –. Essas diferenças que levam à exaustão dos recursos naturais são denomi- nadas “distribuição ecológica”. a instalação de f iliais de empresas poluidoras de determinados países em outros. “invasões ecológicas” (termo aplicado a povos que dependem de recursos de outros territórios) ou ainda “ambientalismo da pobreza” (referente a conflitos sociais com con- teúdo ecológico. que ocorre quando certas populações. que busca estabelecer um pensamento único – de inspiração neoliberal. essa afirmativa não tem se alterado: os habitantes de um país pobre como a Etiópia têm uma renda per capita igual a 1/175 da renda per capita de um japonês médio. longo das últimas décadas. uma vez que. no oeste do Pará. pois as atividades econômicas transformam o meio. são afetadas desproporcionalmente por mudanças ambientais. um mundo dividido: aumenta cada vez mais o contraste entre ricos e pobres. ou seja. dif icultando o desenvolvimento social. é. 288 • capítulo 11 Sociologia_vu_PNLD15_271a295_C11. Lunae Parracho/Agência France-Presse Madeira apreendida em dezembro de 2011 por operação conjunta de órgãos do governo em serraria ilegal na cidade de Trairão. Pa- ra exemplif icar isso nos reportamos à discussão dos países reunidos em Co- penhague. O desenvolvimento também pode ser contrário ao meio ambiente: am- bos se encontram em uma relação recíproca. Há também o chamado “racismo ambien- tal”. a atividade econômica do país poderia ser prejudicada. porém não chegaram a um acordo sobre o percentual que cada país estaria disposto a reduzir quanto à emissão de poluentes. Outros termos aplicados a esses efeitos são: “dívida ecológica” (quando há requisição de indenização de países ricos so- bre as emissões excessivas de dióxido de carbono). Outra variação desse processo é o “dumping ecológico”. em especial as não brancas.indd 288 5/28/13 8:52 AM . o uso desigual de recursos e serviços ambientais gera reivindicações por justiça ambiental em várias partes do mundo. na verdade. e o ambiente alterado constitui uma restrição externa ao desenvolvimento econômico. principalmente nas zonas rurais). nos quais as leis ambientais são menos rígidas. O mundo integrado pela globalização. As tábuas foram obtidas de madeira extraída ilegalmente da Floresta Amazônica. em dezembro de 2009: eles concordaram sobre os efeitos da ação humana sobre o clima do planeta. Márcia. em dinheiro vivo.recursos governamentais. o ser humano passou a ser uma vítima do uso abusivo dos recursos naturais e da apropriação ilimitada da natureza. O problema. O ambiente como questão global • 289 Sociologia_vu_PNLD15_271a295_C11. Por outro lado. da qual se produz também etanol. às populações com fome. O problema não é ape- nas humanitário e social. cresce a demanda desses produtos e os investimentos no setor. há no mundo um forte aumento na demanda de alimentos. Grande parte dos recursos naturais. financeiros. a sociedade industrial fez e faz uso deles.indd 289 5/28/13 8:52 AM . México. Argentina. Crise signif ica transição. ao utilizar à exaustão as fontes energéticas. com foco na agricultura familiar. nas águas e no solo. o proveniente das usinas atômicas. tal iniciativa seria emergencial e auxílios sociais adotado pelo governo dos Estados Unidos nos anos 1930 pa- não toca no problema central. Phydia. mas político. O grito contra a falta de alimentos vem de países pobres. cultural. são limitados e não renováveis. desde 2006. entre outros. Porém. dada a lenta capacidade de absorção dos ecos- sistemas. Em um ciclo de dimen- sões gigantescas. Camarões. mas persis- tente. que preci- sam de recursos do Estado? Restam as culturas tradicionais do Centro-Sul – a soja. considerados bens comuns do pon- to de vista ecológico. a partir de 2008. político. contudo. Assim. nem todas as alternativas mostra- ram-se viáveis. entre outras atitudes antiecológicas. alguns cientistas identif icam uma vagarosa. não está apenas no consumo de fontes de energias. O despejo de dejetos como o lixo urbano. hh New Deal: programa de injeção de que incluiria a doação de 500 milhões de dólares dos países ricos para transferên. a crise na sociedade contemporânea se coloca por não termos soluções modernas para os problemas modernos. no Brasil. ATHAYDE. como Indonésia. Pela adição obrigatória do biocombustível ao die- sel. Em seu processo de desenvolvimento. o algodão e o girassol –. sem falar na cana-de-açúcar. Uzbequistão. Mo- çambique. porque a produção industrial precisa também de “re- cipientes” – locais de despejo onde os rejeitos possam ser depositados. Egito. PINHEIRO. 29. Para Sou- sa Santos. CartaCapital. Mongólia.intervencionistas na economia e de mas para uma maior produção mundial. paus a para rEflEtir No primeiro semestre de 2007. indeterminação quanto aos processos sociais em diferentes contextos históricos – econômico. Marrocos. Mauritânia. Para incentivar a utilização das plantas nativas das regiões mais pobres. A revolta dos pobres. 2008. p. 30 abr. esses recursos não estarão disponíveis uma segunda vez para as estraté- gias de desenvolvimento. crise civilizatória: a percepção dos danos à humanidade começou muito tarde para reverter esse processo. o fabril. O ser humano devasta o planeta ao liberar emissões tóxicas no ar. Falta comida e sobra especulação dos mercados ra enfrentar a crise econômica. em terrenos apresenta-se como uma ameaça ao meio ambiente. entre as nações produtoras e expor- tadoras e seus interesses de maior ganho. Conforme reportagem publicada em 2008: o Banco Mundial propôs um tipo de New Deal para a Política Global de Alimentos. além da elaboração de progra. Como obter o biodiesel da mamona e do dendê. Uma vez utiliza- dos. de medidas cias. o governo brasileiro lançou o programa de biodiesel. como a produção do biodiesel? 2. ref lita e responda: 1. em todos os níveis e áreas. Estes ocorrem nos setores agrícola. indus- trial. A forma capitalista de produzir consome matérias-primas e recursos não renováveis e gera enorme quanti- dade de lixo para aterros sanitários. quando há a incerteza do futuro. Sociedade sustentável: equilíbrio entre ser humano e natureza? Como vimos. com foco na coletividade. Considerando o exposto e informações complementares que você pode pesquisar em veículos impressos ou na internet. do ar) e priorize a produção de alimentos? Escreva sobre possíveis medidas que poderiam ser adotadas pelo Estado brasileiro nesse sentido. Há relação entre a falta de acesso aos alimentos. em que seriam privilegiados os “empregos verdes”. O comportamento consumista e a rápida obsolescência dos produtos que usam tecnologia da informação produzem grandes quantidades de lixo eletrônico. reduzem o consumo de energia. preservação da flora e fauna. Os defensores dos “empregos verdes” argumen- Rogério Cassimiro/Folhapress tam que eles ajudam a proteger os ecossistemas e a biodiversidade. Quando o solo. o ar e a água sofrem devastação. materiais e água mediante a utili- zação de estratégias de alta eficá- cia. preserve o ambiente (redução da poluição.indd 290 5/28/13 8:52 AM . Como é possível promover desenvolvimento econômico que assegure renda e em- prego para a população. no sentido de preservar e restaurar a qualidade do meio ambiente. o que signif ica alte- rar o modo como nos relacionamos com ela. da água. e o agronegócio. de pesquisa e desenvolvimento (P&D). 290 • capítulo 11 Sociologia_vu_PNLD15_271a295_C11. em São Paulo. tornam-se necessárias mudanças de comportamento e empenho na busca de soluções. um mo- delo de conduta estruturado a partir de esforços em agregar ciência. quando os seres humanos estão submetidos à violência de sobreviver com dif iculdades. no ano de 2008. tecnolo- gia. no mundo. que são insuf icientes. minimizam ou evitam a gera- ção de todas as formas de lixo e poluição. ou seja. hoje ocorre um estranhamento entre ser humano e natu- reza: o próprio ser humano não se reconhece como parte dela. administrativo e de serviços. o que pode comprometer o meio ambiente. grupos comunitários e governos para estabelecer objetivos e metas am- bientais para uma política de desenvolvimento sustentável. Ao lado. funcionário manipula celulares destinados à reciclagem em São José dos Campos. Atualmente se fala em “paradigma de crescimento verde”. Parece ser urgente que se redef ina o sentido atribuído à natureza. Ainda que atitudes visando o consumo sustentável. Essa ética ambiental gera uma consciência dos valores sociais primordiais: ecológicos. genéticos. vivem-se princípios e valores que po- dem levar a uma crescente autonomia. as relações sociais e a subjetividade humana. mais que no desenvolvimento da riqueza do ser humano. permitindo aos indivíduos e gru- pos sociais fazer suas escolhas e exercer um controle democrático sobre as instituições e organizações da sociedade. científ icos. A proposta é uma cida- dania terrestre. chama “ecoética” – uma ética ecológica. Reflexões sobre o ambiente e a relação homem-natureza afirmam a premência de amadurecer uma consciência social do equilíbrio humano com a natureza. dela obtendo seu sustento. não darão conta de reverter os processos de devastação e degradação da natureza e. Morin propõe o desenvolvimento de uma ética que res- peite as três dimensões interligadas e a essa perspectiva de preservação do gênero humano. ou seja. A disputa de poder e de mercado entre países que procuram o desenvol- vimento econômico a qualquer custo. agropecuária e vários outros ramos industriais –. Numa atitude ética. garantir a preservação e a conser- vação dos ecossistemas. a redução do desperdício e o reaproveitamento de mate- riais sejam importantes. Os interesses econômicos e políticos. dif icultam a implementação de soluções mais ef icientes em âmbito global. Uma sociedade sustentável tem se tornado uma necessidade e pede uma nova ética. como ser cultural e também natural. a sustentabilidade é uma aposta: a capacidade de se desenvolver com sustentação signif ica necessidade de re- novação e fortalecimento de tudo o que mantém a vida. meio ambiente e desenvolvimento sustentável. o incentivo aos pro- dutos orgânicos. de forma isolada. fruto da relação respeitosa e responsável dos homens com o planeta. geram consequências sociais que em geral não são contabilizadas no custo da produção. pesquisas sobre o ambien- te e a relação homem-natureza apontam ser necessário investir no desen- volvimento do ser humano. precisam ser consideradas quando se realizam obras de grande impacto ambiental. O ambiente como questão global • 291 Sociologia_vu_PNLD15_271a295_C11. individual e coletivamente. ao se sobreporem às questões sociais e ambientais. não desperdiçador. A ecologia é um aprendizado que envolve o meio ambiente (natural) propriamente dito. sociais. econômicos. por exemplo. Também as comunidades que dependem direta- mente ou têm uma relação mais próxima com a natureza. muito menos. como a Eco-92 ou a Rio+20. sustentada na responsabilidade das partes e entre as partes que integram a sociedade. Nesse sentido. está na base das teorias por um desenvolvimento sustentável pós-consumista. educa- cionais e culturais.indd 291 5/28/13 8:52 AM . É fundamental recordar o fato de que somos indivíduos numa coletividade. assim como entre empresas que pro- duzem em larga escala e de forma predatória – como é o caso de algumas ligadas à agroindústria. sabemos que tais atitu- des. segundo o f ilósofo francês Pierre-Félix Guattari (1930-1992). Assim. Essa concepção abran- gente da natureza do ser humano. como podemos compreender ao pesquisarmos sobre as diversas conferências internacionais sobre clima. faça uma busca na internet sobre a conferên- cia Rio+20. Em clas- se. destaquem e discutam os pontos que vocês consideram mais relevantes em ter- mos de avanços nas discussões sobre a relação sociedade-natureza e aqueles que vocês entendem como as principais dif iculdades a serem superadas. Depois de ler o material obtido. Paulo Whitaker/Reuters/Latinstock Chefes de Estado posam para foto durante abertura da Conferência Rio+20 sobre desenvolvimento sustentável. que ocorreu no Brasil. • Considerando o exposto no capítulo. a ONU realizou uma conferência para o desenvolvimento sustentável. pEsquisa 1 Fruto da preocupação com questões socioambientais e ambientais. chama- da Rio+20. realize uma síntese dos objetivos do evento. Felipe Dana/Associated Press/Glow Images Ativistas conduzem globo terrestre durante a Cúpula dos Povos por Justiça Social e Ambiental. foi redigido um documento. em 2012. suas principais resoluções.indd 292 5/28/13 8:52 AM . uma espécie de carta de intenções com orientações a serem adotadas pelos países. 292 • capítulo 11 Sociologia_vu_PNLD15_271a295_C11. Os países participantes debate- ram sobre a questão ambiental e. no Rio de Janeiro. A sociedade civil se mobiliza pelo meio ambiente diante da ação insuficiente dos Estados nacionais. evento que ocorreu paralelamente à Rio+20. no Rio de Janeiro. em 2012. em junho de 2012. ao final. seus pontos positivos e negativos com relação à busca por melhoria das relações entre desenvolvimento e meio ambiente. indd 293 5/28/13 8:52 AM . Neste projeto interdisciplinar. • As interações humanas em alguns de seus processos e o efeito disso. Quais são algumas das ameaças ao meio ambiente produzidas pela ação do ser humano atualmente? Dê exemplos. Cite pelo menos três exemplos atuais. di á logos in tErdisciplinar E s Ao longo deste capítulo exploramos as relações do ser humano com o meio ambiente e vimos que elas podem muitas vezes ser nocivas. vivemos em uma “sociedade de riscos”. O ambiente como questão global • 293 Sociologia_vu_PNLD15_271a295_C11. a) Em grupo. sociedade de risco. e) Apresentem o resultado do trabalho ao resto da classe (ou a outras turmas da escola). A ideia é ilustrar um processo de mudança ambiental e climá- tica causada ou agravada por interação ser humano-natureza. relacionando os problemas causados e os atores sociais responsáveis por eles. possivelmente apontando mais de uma solução. 4. r E v i s a r E s i s t E m atiza r 1. inovação. p E squisa 2 Faça uma pesquisa em revistas. • A relação da população da região com o problema. vocês utilizarão conhecimentos das Ciências Sociais. modernização. Explique essa expressão e responda a que riscos o autor se refere. emancipação social. Qual é o significado de desenvolvimento sustentável? De que forma se- ria possível promovê-lo? conceitos-chave: Alienação. Relembrem o que aprenderam Filipe Rocha/Arquivo da editora nas aulas de Biologia e Geograf ia sobre como esse ecossistema funciona. em especial na sociedade contemporânea. Toda inovação é considerada benéf ica? Justif ique sua resposta. propondo pos- síveis soluções. 3. 2. racionalização. d) Incluam na maquete uma demonstração de como este problema pode ser re- solvido. Caracterize a relação ser humano-natureza nas sociedades ocidentais contemporâneas. construam uma maquete que mostre: • O funcionamento do ecossistema ou bioma escolhido. da Biologia e da Geografia para construir uma maquete. hegemonia. c) Utilizando material reciclável. escolham um ecossistema ou bioma que vem sendo ameaçado na sua região ou no estado onde vocês moram. Pesquisem também sobre a vida das populações na região ameaçada. Segundo Ulrich Beck. crise. desenvolvimento. 5. jornais e na internet sobre casos de degra- dação ambiental no Brasil de hoje. b) Façam uma pesquisa em fontes bibliográf icas e na internet sobre os riscos e as ameaças a esse ecossistema e/ou bioma. União Soviética/Japão. fungicidas e pesticidas que consumimos estão proibidos em quase todo mundo pelo risco que representam à saúde pública. As Ciências Sociais no cinema Dersu Uzala. Reflexão sobre o desperdício e o consumismo desenfreado. Neste documentário o autor discute a capacidade criativa. direção de Marcos Prado. 2013. 2004. Capa do DVD do documentário Uma verdade inconveniente. O veneno está na mesa. A realidade das pessoas em um lixão denunciada pela trajetória didática de um tomate. O acúmulo de lixo é um problema para a sociedade organizada e medidas precisam ser adotadas.mma. tanto dos trabalhadores quanto dos consumidores. Estamira narra a sua luta com o “Trocadilho”.2 litros/ano por habitante. Acesso em: 20 jan. a personagem do título. Bárbara. Organização das Nações Unidas para Alimentos e Agricultura – FAO.br>. vídeos e biblioteca virtual sobre regiões hidrográficas brasileiras e abasteci- mento urbano de águas.inpe. 2013.br/quei- madas>. Disponível em: <www. Estamira. 1975. 2004. direção de Steven Soderbergh. São Paulo: Global. diagnosticada como esquizofrênica. direção de Sílvio Tendler. Global). Site do Ministério da Ciência e Tecnologia e do Ministério do Meio Ambiente que monitora. Munduruku (ed. 294 • capítulo 11 Sociologia_vu_PNLD15_271a295_C11. no Canadá e no México.org. fazendo que mudemos nos- sos hábitos alimentares. Riofilme/Zazen Produções Audiovisuais Ilha das flores. dEscubr a m ai s Reprodução/Editora Global As Ciências Sociais na biblioteca HARE. Contos indígenas brasileiros. Disponível em: <www.gov. Ministério do Meio Ambiente. 1989.cptec. Instituto Socioambiental – ISA. Tony. Brasil. direção de Jorge Furtado. Filmado nos Estados Unidos. Estami- ra.fao. Brasil. a partir da utilização da fantasia. 2000. Acesso em: 28 fev. Dersu Uzala é um caçador que vive nas florestas da Sibéria em comunhão com a natureza.socioambiental. Estados Unidos. Acesso em: 20 jan. Prado (Brasil.gov. dirigido por Marcos Documentário que discute o aquecimento global e os impactos sobre a vida no planeta. O Brasil é o país do mundo que mais consome agrotóxicos: 5. Centro de Previsão do Tempo e Estudos Climáticos – CPTEC. Lixo e reciclagem. a face perversa de Deus. brasileiros.ana. Disponível em: <www. 2013. Com um vocabulário próprio. direção de Akira Kurosawa. São Paulo: Melhoramentos. direção de Deborah Koons Garcia.br>. 2012. repleto de poesia. São Paulo: Scipione. direção de Davis Guggenheim. como mostra o filme. Brasil. Site com notícias. mostra como a política e as multinacio- nais ocidentais estão controlando o sistema de comida no mundo. em tempo real por satélite. As Ciências Sociais na rede Agência Nacional de Águas – ANA. Disponível em: <www. 2013. MUNDURUKU. Acesso em: 28 fev. Reciclagem. Acesso em: 28 fev. Site da Organização das Nações Unidas com informações e vídeos sobre os recursos naturais e seu uso no mundo. Estados Unidos. Daniel. Contos míticos que representam a trajetória de diversos povos indígenas. O futuro da comida. 1992. intoxicada por Capa do livro Contos indígenas dejetos industriais. É possível pesquisar informações sobre meio ambiente e povos indígenas no Brasil. 2004). JAMES. Muitos desses herbicidas. Disponível em: <www. que vive em um lixão na cidade do Rio de Janeiro.indd 294 5/28/13 8:52 AM . 2006. 2004.org>. 1991. A luta de uma mulher para que uma indústria indenize a população de uma cidade. Site do governo federal que cuida das questões ambientais do país. 2013. Erin Brockovich – uma mulher de talento. os focos de queimadas no Brasil.br>. de Daniel Estamira. Estados Unidos. é uma mulher de 63 anos. atlas. MENDES. _. GUATTARI. In: _. jul. Leila (Org. 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Rio de Janeiro: Contraponto. GIDDENS. Reprodução/Cortez Editora MARX. Márcia. MOONEY. Reprodução/Papirus Editora CARTACAPITAL. CLEMENT. artigos. Uma política de civilização. Ciência & Cultura – temas e tendências: biodiversidade. da Unesp. Diálogos entre as esferas global e local: contribuições de organizações não governa- mentais e movimentos sociais brasileiros para a sustentabilidade. 226. 188. 257 226. 55 Arianismo 129 Coesão social 69. 137. 33. 100. 275. 92. 133-134. 96. 140 Condição social 45. 84. 24. 188. 251. Características dos movimentos sociais 204 105. 264 Bens sociais 178 Conflito de gerações 259 Biodiversidade 280. 216. 178. 166. 39-42. 291 Barbárie 161 Condição de assalariado 175 Bem comum 178. 175. 104. 230. 98-99. 75. 172 159. 211. 201. 95. 201. 94. 224. 163. 191 Condição humana 151. 201. 231. 284. 214. 290 Conflitos 18. 91. 175. 218-219. Burguesia 40-41. 33. 204-205 Comportamentos sociais 30. 19-20. 272. 92-93. 126. Capital cultural 232 44-50. 160-164. 236. 40-50. 18-19. 137. 80-81 Comportamentos coletivos 81. 69. 140. 57. 254. 128. 234. 135. 163. Ciência 11. 291 Contracultura 255-256 296 • Sociologia_vu_PNLD15_296a304_Finais. 216 Arranjos familiares 66. 134. 239. 262. Comunidade 39. 216. 75. 272 Classe(s) dominante(s) 23-25. 111. 280 Capitalismo 13. 219. 69. 258-259. 187. 173. 99-101. 124. 253. 139-140. 154. 190. 33. 265 Bens simbólicos 20. Conquista de direitos 107. 234. 248. 195. 264 156-157. 73. 25-26. 40. 40. Contexto social 13. Biotecnologia 284 131. 273 Consumismo 259 Capitalismo informacional 216 Consumo 13. 153-154. 174. 135. 127. 144. 43. 140-142. 144. 44. Índice remissivo A Cidadania concedida 180 Absolutismo 41. 133. 76. 216. 236. 276. 159. 206. 173 Adolescência prolongada 265 Classe média 73-74. 155. 233-235. 39. 158 Autonomia 94. 176. 208. 226. 78. 215. 185. 264. 200. 135-136. 210. 129-130. 191. 281 Consciência coletiva 157 Capitalismo industrial 92. 80. 156. 20-21. 278 Aquecimento global 279-280 Coerção social 50. 272-274. 272-274 C Conflitos sociais 155. 129. 286. 224. 57. 188. B 250. 172. 94. 144-145. 178-181. 184. 59-60. 155. 251. Capital (Marx) 17-18. 137-138. 82-83. 124-125. 183. 107. 201. 184. 187. 215. 110. 52. 96. 281. 71. 273 224-226. 211. 102. 32. 218 85. 126. 154. 274. 90. 150. 233 205. 17. 255. 172-176. 248. 137. 230. 252. 214. 26. 122. 120. Cercamento 40 257-259. 150. 153 Bens comuns 289 Condição juvenil 252. 49. 289-291 Cidadania 32-33. 204. 33. 105. 47. 229-230. 182. 26-27. 209. 273 277-278. 134. 284. 232. 151. 81. 15. 218. 214. 105. 154-155. 85.indd 296 5/28/13 8:53 AM . 256. 55-56. 180. 56-57. 16. 191. 68. Ação social (Weber) 52-53. 291 151-152. 13. 204. 212. 231 Ambivalência (Bauman) 138. 290 Acumulação flexível 100 Civilização 18. 288 Cadeia produtiva 100 Conhecimento 12. 193-195. 226. 208. Acumulação 40. 192. 261. 226 Cidadania regulada 181 Ação coletiva 18. 234 Classe(s) social(is) 17-20. 58-60. 174. 265 Alienação 90. 128. 141. 272. 213. 200 Atores sociais 58. 193. 174. 55-56. 209. 41. 200. 29. 105. Anarquismo 207-208 257. 131. Desemprego 25. 192. 228-231. 33. 111. 49. 135. 59 211. 21. 204. 135. 204-207. 202. 281-282. 201. 289-291 Cultura do lazer 141 Educação 25. 13. 291 Direitos humanos 30. Culturas alternativas 139 219. 263. 266 Escola 10-11. Estrutura social 11. 101. 226. 29. 243. 24. 145. 114. 174. 224-226. 31-32. 253. Cultura legítima 232 115. 105-106. 206. 16. 106. 179. 69. 178. 26. 127. 133. Democracia representativa 182 112. Esfera pública 72. 177-178. 133. 66. 202. 258-259. 236. 284 Desnaturalização. 133. -195. 214 Etnocentrismo 125. 218-219. 185. 38. 74. 232. 219. 185. 178-182. 265. 44. 110. 49. 163 Emancipação social 273 Democracia racial 114. 287-291 Estado 12. 77. 232. 255- Ecologia 108. 261. 213. Distinção social 140 214-216. 204. 250. 135. 281 Cultura 10. 59. 242. 156. 26. 193. 233-243. 191. 289 Economia solidária 111 Cultura de massa 33. 41. 174. 71. 164. 195. 216. 185. 185. Desemprego estrutural 106 182-183. 249. 279-280. 238-239. 40. 165. 251. 267. 33. 25. 21. 107-109. 59. Estrutura de classes 19-20 216. 94. 29. 179-180. 272-274. 153-154. 138. 49. 160-161. 106-107. 281 79. 174-178. 79-80. Desigualdades sociais 13-17. 21. 272. 136. 28. 211. 181. 243. 252. 231. Controle social 69. 16-18. 177-178. Espírito do capitalismo 155 261. 260. 235-236. 173. 98. 93. 48. 39. 31. 130. Desescolarização 233 68-72. 291 -257. 172-175. 15. 120-127. 98-99. 194. Dominação social 21-22. 238 Desenvolvimento 12. 240. 132. 258-259. 31-32. 191. 180- 108. 51. 177. 59. 195. Estado neoliberal 33. 243 143. 20. 159. 212-214. 250-251. 131 Emprego 25. 140. 132-133. 163 Estado moderno 138. 53. 226. 233. 173. 181. 67. 256. 166. Estratificação social 17-19 184-186. 265-266. 235 Direitos 11. 218 ÍNDICE REMISSIVO • 297 Sociologia_vu_PNLD15_296a304_Finais. 218. 224-226. 208. 273. 178. 284 D Educação. 193. 212. 134-135. 189. 15. 27. 155-156. 112. 110. Contradições sociais 143 Distribuição ecológica 288 Controle do trabalho 91 Diversidade cultural 26. 159. 185. 202. 130. 261. 277. 282 200-201 Direitos civis 41. 30-31. 82-84. 57. 59. 92. 69. 213 79-81. 44. 210-216. 187. 41. processo de 228 Darwinismo social 129. 176. 24. 254. 48. 151-152. 265. 204 Ética 56. 230-231. 224. 179-180. 194. 131. 281-282. 228-229 214. 248. 99. 55. 44. 242. 98-99. 207. 261 Desenraizamento cultural 142 Escola pública 140. 177. 69. 263. 281 Encargos 100 113-114. 138. 133-135. 158. 130. 69. 238 Crise civilizatória 289 Divisão internacional do trabalho 32. 154. 236. 200. 84. 236. 133. 108. 127. E 211. 104. 252. 238. 107. 126. 45 Ecossistema 274. 41. 19. 82-83. 191. 253. 81. 29. 239. 282 Ética protestante 155 Direitos políticos 174. 153. 281. 56. 130-143. 26. 52-53. 154. 180 Exclusão social 17. 224-228. 242. 202. 73. 185. Estilo de vida 120. 71. 204. 288 231. 204. 22. 135. 277. 15. 114. 56. 143 Direitos sociais 31. 93. 26. 32. 236-243. 114. 259. Desencantamento do mundo 156 251. processo de 150 Estado laico 164. 113. 43. 174. 135. 212 73-74. 286. 27. 82. 259. 101-102. 279 130. 30. 83. Espaço social 46. 266. 229. 81.indd 297 5/28/13 8:53 AM . 177. 218 Eugenia 129 Disciplinarização 237 Evolucionismo social 129 Discriminação social 15. 100-101. 193. 91. 31-33. 83. 145. 240. 48. 233. Esfera privada 72. 233-234. 226 Dialética 47. 29. 204. 81. Juventude 110. 133. 291 M Guerra civilizada 161 Mais-valia 92. 267. 99. 123. 112-115. 96. 243. 99-101. 160 Identidade cultural 26. 263-264. L 194. Ideologia liberal 231 273. 180. 73. 213. 177. 120. 236. 258. 45. 242. 33. 23. 280. 207. 104. 211 76. 264. 128. 153-154 Inovação 40. 104. 68-69. 120. 183. 231. 126-128. H 178. 130. 156-157. Institucionalização. 201. 26. 95-96. 154. 256. 55. 79. 210-212. 265-267 132. 51. 143. Hegemonia 139. 76. Flexibilização 96. 157. 105 Guerra Fria 161. 135. 130. 156. 99. 264. Fordismo 95-96 187-189. 132. 192. 255. 152. 251-253. 217-218. 248-255. 128. 23-24. 143. 237. 80 Inclusão social 31. 73. 194. 108. 273. 226 Família nuclear 68. 55. processo de 151 144. 155. 180. 33. 288 263-265 Governos 26. 165. 108. 229. 90. 175. 83 Logística 98 Grupos sociais 10. 122. 165. 55. 110. 66-85. 230-231. 57. 140-141. 259. 210 Marginalização social 13. 277 Funcionalismo 55. 110. 135. 204 Mobilidade social 17. 14-15. 192. 184 Família recomposta 82 Indústria cultural 59. 71. 60. 156 124. 101-102. 32. 163. 225. 249. 140. 172. 92. 273 Ideologia 49. 93. 82. 172. 255. 135 Modernidade 45. 31-32. 139-140. 155. 100. 70 Grupo doméstico 70. 191. 211. 225 Infraestrutura coletiva 178 Fenômeno religioso 151. 39. 114. 66. 142. 284-285 Força de trabalho 17. 265 Instituição social 66. 142. 123. 108. 214-216 Interação social 39. 231. 161. 258. 209. 227-228. Modernidade-mundo 142 194-195. 260. 265 Meios de comunicação de massa 122. 68. 132. 69. 123 G Internacionalização do capital 236 Geração 26. Identidade social 175 234. 144-145. 207. 224. 110. 70. 195. 181 Massa 13-14. 260. 137-139. 98. 18. 274. 257-260. 181. 226 236.indd 298 5/28/13 8:53 AM . 110. 79. 151. 137. 259 Família patriarcal 71. 209. Minorias sociais 138-139 -206. 140-141. 28-29. 138. 231. 81. 233. 101. 224-226. 158. 135. 284 Imperialismo 124 Família extensa 68 Inclusão digital 204 Família monoparental 77. Iluminismo 40-41. 144. Identidade 15. 264-265. 120. 151. 185. 69. 283 Hábitos culturais 29. 277 298 • ÍNDICE REMISSIVO Sociologia_vu_PNLD15_296a304_Finais. 194 277-278. 175. 290 J Globalização 27-32. 257. 112. 163. 257 Modernização 26. 20 Identidade nacional 132. 123 Instrumentalização 234 Fundamentalismo religioso 158-160 Integração social 55. 256 Famílias oligárquicas 71 Informalidade (no trabalho) 108. 181. 191. 80. 73. 22-23. 98. 140-141. 44. 281 256. 283 I Mercado de trabalho 22. 258 Mitos 131. 255. 163. 142. 185. 46. 104. 150-151. 50-52. 158. 280-282. 80 Indivíduo e sociedade 10. 290 Laços de parentesco 66. 266 Fatos sociais 48. 230. 94-97. 154. 242. 234. 154. 76 Individualismo 33. 201. 190-192. 204. F Ideologia patriarcal 78-79 Família 14. 53. 228. 272. 85. 130. 138. 158. Igreja 41. 150. 213. 114. 136. Luta de classes 18. 135. 59. 175. 181. 228. 28. 284. 202 Mundo do trabalho 28. 69. 164-166. 290 248. 112. 163. 188. 31. 73. 183-184. 82-83. 78. 158. 284 46. 130. 76. 92. Papéis sociais 66. 236 Regimes políticos 10. 216. 108. 78-80. 130. 232-234. 107. 260 Políticas públicas 31. 165-166. 68. 172. 159. 191-193. 56. 32-33. 43. 251 Realidade virtual 120 Reciprocidade social 264 P Rede 11. 173. 291 Nova condição juvenil 265 R Novas questões sociais 12. 94. 143. 264. 249. 255. 31. 210-219. 143-144. 47. 68. 42-43. 74. 38-40. 96. 92. 218-219. 66. 95. 82. 16. 226. 255. 200. 132. 72. Religiosidade 156. 28. 56-57. 150. 187. 143. 56. 17. 201. 205 Relações de dominação 67. 190-192 Relações de classe 21. 212. 59. 186-187. 184. 140. 71-72. 236. 104. 212-213. Poder político 21. 201 173. 40. 267 Movimentos sociais 30. 267. 83. 92. 48. 18. 154-156. 28. 124. 124. 162. 80. 277 Realidade líquida 159 O Realidade social 18. 33. 115. 216. 143 172. 70. 265. 124. 93. 205 187. 101 Nações 10-11. 192. 29. 267 Paradigma 290 Reestruturação produtiva 96. 204-205. 213 Poder econômico 17. Representações sociais 128. 130. 107. 179. 105. 160. 43. 114. 277 Práxis 201 Mundialização da cultura 142 Precarização do trabalho 31. 214-215. 251. 182. 195. 115. 71. processo de 277 Novas tecnologias 28. 40. 79-80. 68. 94. 230. 130. 23. 96. Relações de produção 53. 172-185. 26. 201-202. 127. 218. 284 177. 66. 17-21. 111. 47-50. 93. 101-102. 30. 98. Práticas culturais 140. 101. 260. 105. 40-42. 204. Relações de poder 39. 48-49. 204-205. 289 Protagonismo juvenil 264 Nanotecnologia 278 Negociação coletiva 108 Q Neoliberalismo 99. 226-229. 135. 81. 201 216. 94. 57. 258 ÍNDICE REMISSIVO • 299 Sociologia_vu_PNLD15_296a304_Finais. 210-214. 45. 282. 191. 133. 66-67. 206. 112. 177-179. Modo de produção 40. 182. 200-201. 181 Processos identitários 258 Processos sociais 140. 165. 120. Relações de trabalho 26. 130 Pobreza 12. 219. 77. 45. 67-68. 138. 195. 12. 210 Partidos políticos 39. 137. 24-25. 105. 236. 67. 92. 48. 182-184. 58-59. 287. 214. 175. 115. 232 78-79. 115. 208 Política de civilização 145 Mortalidade infantil 77 Políticas neoliberais 107. 224. 187. 213 Movimento operário 207. 288 183. 204. Produtividade 90. 164 231-232. 213. 284. 264 144. 71-72. 172-173 207-208. 178. 160. 176. 133. 227. 184. 257-258. 257 Patriarcalismo 72. 236. 99-101. 27-29. 176-177. 173. 155-156. 187-192. 201 Poder 12. 219. 287. 281. 57. 191. 263 Positivismo 45. 159-160. 39. 107.indd 299 5/28/13 8:53 AM . 291 110-111. 178. 33. 42. 178. 180. 175. 126. 53. 75. 161. 228. 174. 238. 47-49 Mudança social 11-13. Religião 15. Movimentos feministas 79. 178-179. 113. 263. 175. 182. 263. 224-225. 137. 29-33. 150-158. Políticas sociais 99. 106. 30. 98. 27-28 Racionalização. 56-57. 150. 260. 38-39. 291 192. 104. 56. 193. Política 10. 272. 108 Participação política 17. 80. 26. 218 Questões sociais 12-13. 257. 194-195. 45. 163. 113. 164. 30. 157. 21. 243. 158. 55. Ordem social 13. 289 N Produção enxuta 96 Nacionalismo 26 Produção flexível 96-97. Relações de gênero 21. 85. 137-138. 178 Relações sociais 11-13. 226. 26. 181 200-208. 153-154. 134. 23-24. 129. 263. 204. 180-182. 277. 19-20. processo de 154-156 Trabalho 10. 38-53. 94. 120. 94. 261. 188. Tecnologia 45. 115. 70. 111. 290 Violência simbólica 232-233. 55. 178. 276- Universalização da educação 239 277. Reprodução capitalista 215 T Resistência cultural 260 Taylorismo 95-96 Revolução 40-41. 234 Revolução tecnológica 99. 184 Sociedade salarial 175 Violência 33. 284 Sistema social 59. 277 144. 73. 122. 45. 182. 142. 254. 204 216. 272-273. 113. Transculturação. 175 Toyotismo 96 Secularização. 194. Senso comum 15. 137-138. 120 Teoria da ação social 55 Revoluções burguesas 40. 201 300 • ÍNDICE REMISSIVO Sociologia_vu_PNLD15_296a304_Finais. 22. 53. 154. 238. 277 Sociedade capitalista 11. 55. 155 Teoria da acumulação 56-57 Rito de iniciação 250 Teoria da integração social 55 Rito de passagem 250 Teorias sociais 12-13. 173. 228 Trabalho alienado 90 Sistemas de comunicação 120-121 Trabalho assalariado 92. 76-82. 258. 236. 69. 272 Valores sociais 13. 12-13. 286. 98-99. 266. 121. 75-82. 264 39-40. 238 Solidariedade 55. 155. 134-135. 281 Vulnerabilidade social 259 Status (Weber) 18. 90-108. 42. 234-235. 30-33. 172-179. 251. 67. 180. 104. 238. 73. Transição demográfica 77 184-190. 99-100. 236. Sindicatos 107-108. 175 Situação juvenil 252 Trabalho informal 94. 202. 216. 188. Tradição 13. processo de 40. 91-95. 155. 291 Sociedade de risco 276-277 Sociedade industrial 27. 114. 263-267. Sincretismo religioso 165 110-115. 133 Socialização. 207-208. 224-232. 242-243. 108. 163. 165 Totalitarismos 194-195 Salário 31. 112. 81. 68-69. 157. 174 Sujeitos coletivos 219 X Sustentabilidade 133. 234. 74-76. 178. 289-291 Urbanização. 67. 178. 28. 136-139. 216. 291 Xenofobia 129. 172. 257-261. 195. 129 Terceira Revolução Tecnológica 99 S Terceirização 101 Sagrado 151. 165-166. 248-249 Trabalho solidário 111 Sociedade 10-13. 227-229. 109 Sociabilidade 39. 202. 81. 263. 284. 211 207-208. 17. processo de 69. 163. 137. 238. 215-216. Sistema flexível de produção 140 242. 144. 234. 192-194. 208. 159. 124. 219. 79. 133. 215-216. Sociedade civil 187. 219 260. 281.indd 300 5/28/13 8:53 AM . 73. 45. 71. 85. 104. 46-47. 121-132. 163. 261. 160-162. 277-278. 255. 52. 82. 151. 95. 232. 15-22. 24-33. U Unidades de reprodução social 74 248-253. 251. 71. 272-273. 129. 142-144. 129-130. 231. 76. 104. V 175. 219. 71-72. 140-144. 156. 80. 129. 255. Utopia social 207 174. 20. 69. 82. 104-105. 101. Sociedades socialistas 177 238. 211-213. 157. 172. 237 Trabalho precário 104. 57. 216 108. 174-175. 229. 67-68. 144-145. 181-182. 133-134. 126-127. 289 Vida política 174. 211. 26. 58. 144. Visão de mundo 75-76. 211. 154-159. 76. 84. 200-202. 137. 138. 265-267. 174-175. 105-106. 284. 55-60. 207-208. 15-18. processo de 143 150-151. 135. 57. 140. 204-205. 163. 73. 81. 290 Revolução microeletrônica 98 Teoria da reprodução social 231. 68. 281-282. 154. 49. L. fazendo pacto da televisão no âmbito do crime e da violência e a nature- com que os clientes usem as máquinas automáticas em todo o za das notícias exibidas na televisão. apud HUBERMAN. L. E as crianças. Homens da Inglaterra. Pra ver se um dia No contexto descrito. Disponível em: <www. O novo século. sobre os impactos socioculturais da televisão na vida do ser O exemplo mencionado permite identificar um aspecto da humano. tipo de transações. Um argumento utilizado pelas empresas e uma a) codificam informações transmitidas nos programas infan. mantêm na miséria? 3. A. H. A sociedade em rede. (Enem 2010) desses estudos diz respeito a crianças – o que é bastante com- Um banco inglês decidiu cobrar de seus clientes cinco libras preensível pela quantidade de tempo que elas passam em frente toda vez que recorressem aos funcionários de suas agências. c) interiorizam padrões de comportamento e papéis sociais d) responsabilidade social e redução do desemprego. c) experiência de deslocamento vivenciada pelo migrante. 2000 (adaptado). GIDDENS. sentam a c) o avanço do trabalho flexível e da terceirização como res- a) valorização das características naturais do Sertão nordestino. seja entre continentes. parasitas ingratos que exploram vosso suor — ah.pe. com menor visão crítica. de dos investimentos. ao mesmo tempo. na verdade. mação possibilitam. O texto indica que existe uma significativa produção científica HOBSBAWM. b) pleno emprego e enfraquecimento dos sindicatos. 2006 (adaptado). b) adquirem conhecimentos variados que incentivam o pro. o que querem é reduzir o número de agências. 5. A nova organização vosso sangue? social e econômica baseada nas tecnologias da informação visa SHELLEY. b) o aumento das formas de teletrabalho como solução de A letra dessa canção reflete elementos identitários que repre. as sociedades vivenciam mudanças Descanso feliz constantes nas ferramentas de comunicação que afetam os Guardando as recordações processos produtivos nas empresas. (Enem 2011) executivos e clientes com a garantia de harmonização das relações de trabalho.gov. a descentralização das tarefas e sua coordenação em uma rede interativa de comunica- 1. c) diminuição dos custos e insegurança no emprego. As novas tecnologias da infor- sentação dos conteúdos no volume.br>. A maioria 4. CASTELLS. Em suma. e) maximização dos lucros e aparecimento de empregos. consequência social de tal aspecto estão em tis por meio da observação. Sociologia. 2012 (fragmento). e gestores. cesso de interação social. vestir e poupar do berço até o túmulo esses assalariação do trabalho e socialização da produção. eles querem se livrar de seus funcionários. são as mais vulneráveis a adoção de novas tecnologias na economia capitalista con- essas influências. e) o fortalecimento do diálogo entre operários. CORDOVIL. Na esfera do trabalho. e aos mercados personalizados. e) discriminação dos nordestinos nos grandes centros urbanos. Das terras onde passei tais mudanças têm provocado Andando pelos sertões a) o aprofundamento dos vínculos dos operários com as li- E dos amigos que lá deixei nhas de montagem sob influência dos modelos orientais GONZAGA. ao trabalho individualizante História da riqueza do homem. que foi ca. em particular. E ao aparelho e pelas possíveis implicações desse comportamento o motivo disso é que. Questões do Enem As questões selecionadas foram ordenadas conforme a apre. não querem clientes em suas para a socialização.recife. • 301 Sociologia_vu_PNLD15_296a304_Finais. por que arar para os senhores que vos cia das leis. Acesso em: 20 fev. à administração descentralizadora. 2005. porque temporânea. Dois dos tópicos mais pesquisados são o im- agências. 1953. A vida de viajante. Um volume imenso de pesquisas tem sido produzido para tentar avaliar os efeitos dos programas de televisão. ção em tempo real. São Paulo: Companhia das Letras. Porto Alegre: Artmed. Os homens da Inglaterra. 2. (Enem 2012) Leia. (Enem 2011) Por que tecer com esforços e cuidado as ricas roupas que vos- sos tiranos vestem? Estamos testemunhando o reverso da tendência histórica da Por que alimentar. de gestão. (Enem 2010) e) apreendem modelos de sociedade pautados na observân. 1982. larga escala para o problema do desemprego crônico.indd 301 5/28/13 8:53 AM . Por esse país São Paulo: Paz e Terra. seja entre os andares Minha vida é andar de um mesmo edifício.. a) qualidade total e estabilidade no trabalho. postas às demandas por inovação e com vistas à mobilida- b) denúncia da precariedade social provocada pela seca. que bebem racterística predominante na era industrial. E. Rio de Janeiro: Zahar. gerentes. M. d) observam formas de convivência social baseadas na tole- rância e no respeito. d) a autonomização crescente das máquinas e computado- res em substituição ao trabalho dos especialistas técnicos d) profunda desigualdade social entre as regiões brasileiras. de social brasileira. Rio de Janeiro: Jorge Zahar.. Acesso em: 28 abr. Eu compro um osso e ponho na sopa ta. todas as limitações são convertidas. e) o desaparecimento de quaisquer limitações. Se não tem carne d) a autonomia dos indivíduos que. no Rio de Janeiro. N. num tipo de independência nacional. pela qual a minoria discriminada obteria a Podem me prender igualdade de direitos na condição da sua concentração espacial. tal como Na regulamentação de matérias culturalmente delicadas. para compor a arena política a ser compartilhada. que tinha seus negócios financiados pelo sões e emoções do indivíduo. considerando a possibilida- de de os discursos de autoentendimento se submeterem Se não tem água ao debate público. posição da família e dos consórcios semelhantes ao matrimônio. encontra amparo nas democracias con.. e) incapacidade das instituições político-legislativas em for- HABERMAS. ao chegarem à vida adul. mas a fragilidade do exercício e do Shelley (1792-1822) registrou uma contradição nas condições reconhecimento da cidadania e a ausência do Estado em vários socioeconômicas da nascente classe trabalhadora inglesa du. desprezadas contra a cultura da maioria. 2010. que estava dissociada da ri. cia e agressividade na sociedade brasileira expressa a ção pública. c) a coexistência das diferenças. queza dos patrões. sem um controle muito específico proletariado. Edição 2099. Por causa de tais regras. Aqui do morro eu não saio não. Isso se des. cientes de que estarão vinculados à Eu furo um poço coerção do melhor argumento. Considerando-se a dinâmica do processo civilizador. por exemplo. descrito no Texto II. quanto ao aborto). o argumento do Texto I acerca da violên- como. b) no salário dos operários. O processo civilizador. postas. foi o de 302 • quEStõES DO ENEM Sociologia_vu_PNLD15_296a304_Finais. mesmo dentro de uma comunidade re. 2010. tais como Falem de mim linguagem política ou distintas convenções de comporta. que era considerado uma garantia de liberdade. O papel exer- em todos os redutos — seja nas áreas abandonadas pelo poder cido pela Música Popular Brasileira (MPB) nesse contexto.br>. corrente das ondas migratórias nas grandes cidades brasi- dominante por motivos históricos. Disponível em: <www. leiras. que era proporcional aos seus es.indd 302 5/28/13 8:53 AM . Nenhum controle desse tipo é possível d) no trabalho. como. que está presente que estreou no ano de 1964. Podem me bater b) a reunificação da sociedade que se encontra fragmentada Podem até deixar-me sem comer em grupos de diferentes comunidades étnicas. origens em nome da harmonia da política nacional. mular mecanismos de controle social específicos à realida- São Paulo: Loyola. por exemplo. O brasileiro não é mais denciado pela letra de música citada. plicitamente repressivas. ras pública e privada — em tudo isso reflete-se amiúde apenas c) inabilidade das forças militares em conter a violência de- o autoentendimento ético-político de uma cultura majoritária. os currículos da educa. b) manutenção de práticas repressivas herdadas dos perío- a aceitação de normas de segurança ou a delimitação das esfe. pode eclodir um conflito cultural movido pelas minorias democráticos. na pessoa a quem são im- ziam. confissões Que eu não mudo de opinião. A reivindicação dos direitos culturais das minorias. 3 fev. em medo de um ou outro tipo. Quem quiser falar mento. 2002. tEXtO II forços nas indústrias. J. a) na pobreza dos empregados. de seu comportamento. o status das Igrejas e das comunidades religiosas. como ex- posto por Habermas. Opinião. 8. 6. A inclusão do outro: estudos de teoria política. sem que as pessoas anteponham limitações umas às outras. na medida em que se alcança Opinião a) a secessão. mas a) incompatibilidade entre os modos democráticos de conví- também em assuntos menos chamativos. tenham condições de se libertar das tradições de suas E deixa andar. im. territórios do país se impõem como um caldo de cultura no qual rante a Revolução Industrial. dos ditatoriais sob a forma de leis e atos administrativos. (Enem 2010) temporâneas. Estou pertinho do céu tEXtO I Zé Ketti. (Enem 2012) Se eu morrer amanhã seu doutor. O que vemos no país é uma espécie de espraiamento e a manifestação da agressividade através da violência. Entrevista com Joel Birman. religiosas e formas de vida. A corrupção é um crime sem rosto. A análise do trecho permite identificar que o poeta romântico violento do que outros povos. Nenhuma sociedade pode sobreviver sem canalizar as pul- c) na burguesia. Essa música fez parte de um importante espetáculo teatral dobra de maneira evidente na criminalidade. seja na política ou no futebol. Aqui eu não pago aluguel 7. em torno da coesão de uma Aqui do morro eu não saio não cultura política nacional. Tal contradição está identificada a agressividade e a violência fincam suas raízes. a vio social e a presença de aparatos de controle policial. IstoÉ. (Enem 2012) ELIAS. evi- público. e e) na riqueza.com. deixa andar.mpbnet. d) dificuldade histórica da sociedade brasileira em institucio- publicana que garanta formalmente a igualdade de direitos para nalizar formas de controle social compatíveis com valores todos. que não era usufruída por aqueles que a produ. as normas do direito penal (por exemplo. 1993. a linguagem oficial. N. rante o governo Vargas. Segundo o texto. Disponível em: <www. As cortes de apelação rejeitaram mais de 10 mil habeas corpus nos casos das pessoas desaparecidas. especialmente como espaço de ação da imprensa. Acesso em: 20 jul. 2010. bilita a instituição de mecanismos eletrônicos para a efetiva balização. versões modernizadas do c) apresentarem aos cidadãos a versão oficial dos fatos. de acordo com o Texto II. 2010 (adaptado). Disponível em: <www. (Enem 2010) Os meios de comunicação funcionam como um elo entre os diferentes segmentos de uma sociedade. de toda coletividade. pois a partir do entendimento do que é efeti. A ética precisa ser compreendida como um empreendimento tornou-se também veículo de utilidade pública. a partir da década de 1950. sobre órgãos governamentais e acesso por parte da população b) valorização da atuação independente de alguns juízes. (Enem 2011) litares. d) propiciarem o entretenimento. dades. fiscalização a) preservação da autonomia institucional entre os poderes. participação política e disseminação de informações.indd 303 5/28/13 8:53 AM . problemas oriundos de diferentes crises sociais. e) aceitação de valores universais implícitos numa socieda. a ética pode ser compreendida como a) instrumento de garantia da cidadania. noticiários e as fabulo- co na esfera pública. entrou nos lares brasilei- sões esportivas. conflitos e) corroborou a construção de obras faraônicas durante os ideológicos e contradições da realidade. Nos tribunais mi- 9. das de 1970 e 1980. c) TV digital. 1998.com. Caminhos da Filosofia. sas. S. porque é da existentes. et al. ética renovada. e os desaparecimentos políticos tiveram A ação democrática consiste em todos tomarem parte do apenas trâmite formal na Justiça. a) entretenimento para os grupos intelectuais. São Paulo: Companhia das Letras. c) manutenção da interferência jurídica nos atos executivos. (Enem 2010) população. vo meio de comunicação que supera em muito outros já b) mecanismo de criação de direitos humanos. o Poder Judiciário con- processo decisório sobre aquilo que terá consequência na vida tribuiu para que os agentes estatais ficassem impunes. Judiciário contribuiu com ditadura no Chile. Constitui o exemplo mais expressivo desse novo conjunto d) parâmetro para assegurar o exercício político primando de redes informacionais a pelos interesses e ação privada dos cidadãos. porque através 13.com.br>. aspecto relevante para SEVCENKO. nomos. durante a ditadura chilena na década de Campinas: Papirus. porque é democracia. A TV. d) denúncia da situação social e política do país. a favor da coletivo a ser constantemente retomado e rediscutido. CORDI et al.cartamaior. os meios de comunicação. irresistíveis garotas-propaganda. a relação entre os poderes Executivo e Judiciário ca- tEXtO II racterizava-se pela É necessário que haja liberdade de expressão. Para filosofar. A relação entre ética e política é também uma questão b) revelou para o país casos de corrupção na esfera política de educação e luta pela soberania dos povos. Ética e Cidadania. A caixa de pandora tecnológica penetra nos lares e libera b) fornecerem informações que fomentam o debate políti- suas cabeças falantes. dela os cidadãos passam a pensar e agir de acordo com Nas últimas décadas.observatoriodaimprensa. 1997 (adaptado). Sob esse enfoque governos militares. diz juiz Guzman tapia e) mobilização dos setores que apoiavam a Ditadura Militar. assu- mem um papel relevante na sociedade por 12. (Org. 2007 (adaptado). na medida em que produto da relação interpessoal e social. Époque à Era do Rádio. novelas. quEStõES DO ENEM • 303 Sociologia_vu_PNLD15_296a304_Finais. da vida social e política da sociedade à medida que possi- c) meio para resolver os conflitos sociais no cenário da glo. (Enem 2010) a) orientarem os cidadãos na compra dos bens necessários A chegada da televisão à sua sobrevivência e bem-estar. a) internet. dominantes. b) fibra ótica. e) promoverem a unidade cultural. 11. 1970. República: da Belle conscientização política. Acesso em: 24 abr. vamente a ética. no governo Castelo Branco. d) transferência das funções dos juízes para o chefe de Estado. a política internacional se realiza. visto que pode contribuir para a democratização natureza do homem ser ético e virtuoso. É necessária uma de vários governos. todas as causas foram concluídas com suspensões tem- tEXtO I porárias ou definitivas. d) telefonia móvel. e a partir do texto. que se construa a partir da natureza dos valores c) maquiou indicadores sociais negativos durante as déca- sociais para organizar também uma nova prática política. por meio das transmis. Certos episódios da história brasileira revelaram que a TV. as iniciativas de fe- O século XX teve de repensar a ética para enfrentar novos chamento do parlamento. Assim. astros. A ética supõe ainda que cada grupo social se organize sentindo-se responsável por todos a) amplificou os discursos nacionalistas e autoritários du- e que crie condições para o exercício de um pensar e agir autô. História da vida privada no Brasil 3. de que busca dimensionar sua vinculação a outras socie. São Paulo: Scipione. e) portabilidade telefônica. ros provocando mudanças consideráveis nos hábitos da 10. e) subordinação do Poder Judiciário aos interesses políticos Partindo da perspectiva de democracia apresentada no Texto I.). GALLO. (Enem 2010) b) valorização do progresso econômico do país. c) crítica à passividade dos setores populares.br>. às informações trazidas a público pela imprensa. acompanhamos a inserção de um no- valores coletivos. d) apoiou. tradicional homem-sanduíche. De acordo com o texto. b) das políticas governamentais de preservação dos obje- e) propiciam a adoção de valores éticos pelos órgãos do Estado. Disponível em: <www. vivem ciedade nacional. a luta dos negros As mulheres quebradeiras de coco-babaçu dos Estados do no Brasil. ra de coco assume o caráter de identidade coletiva na medida em além de instituir. Congresso Latino-Americano de Sociologia Rural. 2002 (adaptado). Quito.indd 304 5/28/13 8:53 AM .ces. turais dos babaçus. In: Anais do VII cultura. esse nome. prescritos pela lógica e) dificuldade imposta pelos fazendeiros e posseiros no do mercado. Pará. b) guie-se por interesses econômicos. O crescente desenvolvimento técnico-produtivo impõe mo- cioeconômicas. com milhares de adep- d) privilegiam determinadas parcelas da sociedade em de. a ação dos movimentos sociais vem construindo lentamente um conjunto de práticas democráticas 18. das comunidades. pela autonomia nacional.639. Maranhão e Piauí.br>. A Lei 10. áreas social. M. A organização do movimento das quebradeiras de coco de e) impulsiona o reconhecimento da pluralidade étnico- babaçu é resultante da -racial do país. condição preexistente de acesso e uso dos recursos naturais.gov. trimento das demais. A referida lei representa um avanço não só para a educação quista da terra. os movimentos sociais contribuem para o SANTOS. causada pela construção de açudes GUATTARI. O diálogo. no calendário escolar. dos grupos organiza. ao lado de outros sujeitos coletivos. brasileiro. social contra os miasmas urbanos. M. então. (Enem 2010) no interior das escolas. O termo quebradei. econômica e política pertinentes à História do Brasil. c) reforça a concepção etnocêntrica sobre a África e sua ROCHA. particulares. se organizam em movimentos de resistência e de luta pela con. impedindo o amplo acesso público aos re- cursos hídricos. Na década de 1990. em função do avanço da sojicultura nos chapadões do Meio-Norte a) defina seus projetos a partir dos interesses coletivos. nas o confronto e o conflito têm sido os motores no processo de grandes cidades inglesas e continentais. 304 • quEStõES DO ENEM Sociologia_vu_PNLD15_296a304_Finais. São Paulo: Papirus. pelas sociedades. (Enem 2012) o estudo da História da África e dos africanos. (Enem 2011) técnica e natureza. A. É evidente que rurais do interior do Tocantins. processo de construção democrática. pela libertação dos babaçuais. A reação anti- SOUZA. 1995 (adaptado). os movimentos sociais camponeses e e) tenha gestão própria. Movimentos sociais no Brasil contemporâneo: participação e maquinista. de 9 de janeiro de 2003. 2010 (adaptado). A poluição e outras ofensas ambientais ainda não tinham dos e na interface da sociedade civil com o Estado. O texto trata do aparato técnico-científico e suas consequên- cias para a humanidade. acesso aos babaçuais localizados no interior de suas pro. a) das ideologias conservacionistas. T. o combate Acesso em: 30 abr.uc. Segundo o texto. poluentes. uma gestão mais coletiva se impõe para orientar as ciências e c) escassez de água nas regiões de veredas. priação da natureza. pode-se dizer que tais movimentos sociais emergiram e se expressaram por meio c) pressionam o Estado para o atendimento das demandas da sociedade. R. tureza. mas também para a sociedade brasileira. campo das estradas de ferro suscitou protestos. sua posição e condição desvalorizada pela lógica da dominação. c) das teorias sobre a necessidade de harmonização entre 16. na sua grande maioria. dificações na paisagem e nos objetos culturais vivenciados b) aumentam o clima de tensão social na sociedade civil. F. razão e emoção. piauienses. mas já eram largamente notadas no século XIX. propondo que esse desenvolvimento d) progressiva devastação das matas dos cocais. E a própria chegada ao construção democrática. oficiais e par.pt>. (Enem 2011) lógica. M. a) determinam o papel do Estado nas transformações so. a obrigatoriedade do ensino sobre História e Cultura e) da contestação à degradação do trabalho. tos no meio urbano. inclui no currículo dos d) dos boicotes aos produtos das empresas exploradoras e estabelecimentos de Ensino Fundamental e Médio. protagonizada pelos diversos luddismos. A luta das mulheres quebradeiras de coco-babaçu. as técnicas em direção a finalidades mais humanas. com o objetivo de melhor apro- as ONGs tiveram destaque. resgatando a contribuição do povo negro nas numa situação de exclusão e subalternidade. 2010 (adaptado). a batalha atual dos ambientalistas. Pará e Tocantins. d) promova a separação entre natureza e sociedade tecno- 15. ambientes na. 2006 (adaptado). porque do processo produtivo. paraenses e tocantinenses. 17. Piauí. O acidente nuclear de Chernobyl revela brutalmente os limi- b) falta de identidade coletiva das trabalhadoras. A natureza do espaço: técnica e tempo. pela libertação do coco preso e pela posse da terra. tendo como principal referência sua b) divulga conhecimentos para a população afro-brasileira. (Enem 2011) região com elevado índice de homicídios. Esse era. antecipa possibilidades das práticas democráticas. c) priorize a evolução da tecnologia. As três ecologias. balho e às suas experiências. Na sociedade brasileira. Passam a atribuir significados ao seu tra. ticulares. tos naturais e culturais.planalto. migrantes tes dos poderes técnico-científicos da humanidade e as “mar- das cidades e com pouco vínculo histórico com as áreas chas a ré” que a “natureza” nos pode reservar. Disponível em: <www. porque São Paulo: Edusp. 14. se apropriando da na- priedades. a) constante violência nos babaçuais na confluência de ter- ras maranhenses. a) legitima o ensino das ciências humanas nas escolas. das tradições Afro-Brasileira e determina que o conteúdo programático incluirá e da natureza. d) garante aos afrodescendentes a igualdade no acesso à educação. o dia 20 de novembro co- que as mulheres que sobrevivem dessa atividade e reconhecem mo data comemorativa do “Dia da Consciência Negra”. a cultura negra brasileira e o negro na formação da so- Maranhão. Acesso em: 27 jul.
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