Segredos guardados Orixás na alma brasileira

June 18, 2018 | Author: Damien Adia Marassa | Category: Black People, Africa, People, Culture (General), Religion And Belief
Report this link


Description

Copyright do texto © 2005 by Reginaldo Prandi Copyright das ilustrações © 2005 by Pedro RafaelSumário Capa Raul Loureiro sobre ilustração de Pedro Rafael Ilustrações Pedro Rafael Fatos Reginaldo Prandi Preparação Vanessa Barbara 1ndice remissivo Marcelo Yamashita Salles Revisão Otadlio Nunes Marise Simões Leal Prólogo .. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .. Dado, Internacionais de Catalogação na Publicação (cn-) (Câmara Brasileira do Livro. SP, Brasil) Prandl, Reginaldo Segredos guardados: Orixás na alma brasileira I Reginaldo Prandí : fotos do autor: [ilustrações Pedro Rafael], - São Paulo : Companhia das Letras.zoos. Bibliografia ISBN 85-359-0627·4 I. Afro-brasileiros - Religião 2. Candomblé xás 4. Religião e sociologia 5. Umbanda (Culto) Título. ru. Tttulo : Orixás na alma brasileira. 7 PARTE I: NOS TERREIROS DE CANDOMBLÉ 1. (Culto) 3. OriRafael, Pedro. TI, origem e autoridade Os mortos e os vivos . . . 3. Orixás, santos e demônios 4. Um panteão em mudança s. Os espíritos caboclos na religião dos orixás 2. 1. Tempo, 19 53 67 101 121 05-1567 CDO.306.69960981 1. lndice para catálogo sisteruético: Religiões afro-brasileiras: Sociologia da religião 306.69960981 PARTE n: NOS TERREIROS E NO MUNDO \ ';".-,; [2005] Todos os direitos desta edição reservados à EDITORA SCHWARCZ LTDA. Rua Bandeira Paulista 702 cj. 32 04532-002 - São Paulo - sp Telefone (11) 3707-3500 Fax (11) 3707-3501 www.companhíadasletras.com.br 6. Hipertrofia ritual e falência moral 7. Cultura religiosa, memória e identidade 8. Música sacra e música popular 9. Nas canções do rádio 10. Devotos, terreiros e igrejas Epílogo .. _ 141 159 175 187 215 . 239 também com os novos sacerdotes do catolicismo carismático. em graus variados..•. Esta é pouco ensinada e discutida.i~s ~fro-g. conservadas não a partir de uma matriz africana única. ral.. a música e artes diversas._..•.. quando não impossível.~ rica.. mas de várias. a culinária. Para se situar bem no mercado de muitos competidores.• -'. .."'""""-_. morte e reencarnação que foram fundamentais na religião dos orixás. cada contribuição é ••• '-. _ .•.ou oportunidade de aprender. ~~" com suas estruturas próprias..."-' "J'\c~" . l~nhuma das instituições . Fora do c~!!!p'oreligioso. sobretudo quando não se tem o treino necessário para se impor pela presença intelectual nem o carisma para se afirmar como líder espiritual. do neopentecostalismo e de tantos e tantos credos disponíveis no mercado reli" gioso contemporâneo.-.~-"'"'-----.escendenpor não cOllh~~. por exemplo.i~!t:Q~ 'i... 7. __ ~_ os dois grandes gru_ . bem visível.. diante de um determinado traço cultu.!ída. . Tudo é simplesmente África.~...~~/_\)'\' .r~viyer . o --___ \') 1\ n " res tante de um longo e lento processo de diluição e apagamento étnico a tal ponto que. \~. perdidas as . Aos fatores que favorecem a hipertrofia ritual junta-se. Cultura religiosa.. para alcançar a publicidade.-.....a próp~i~-orige~ nem saberem~. como qualquer outro profissional do bem-estar espiritual ou psíquico do indivíduo..9:.\i\''( E. É exatamente como acontece.~ . entretanto. Ao contrário. desconhecendose. oriundas de diferentes povos africanos.. identificar o povo ou nação \.. é difícil. tJ-''). representações míticas e concepções religiosas.. interesse. que se esmerar no rito.naJQrfl. a concepção corrente que se tem da profissão de pai-de-santo como sendo um feiticeiro agora socialmente legitimado pelo consumo esotérico e midiático.. e fartamente ignorada por pais e mães que não tiveram tempo..d-..159 --r--~---~-. de que provém.._..> ali e especificid.... " -cepassadoseram bantos ou sudaneses _-_o .. memória e identidade 1 P: cultura afri91n~ªill..? da cultu~ bra~~~ira corresponde a um vasto elenco de itens que abrangem a língua. que trabalha por dinheiro para resolver os problemas de quem dele precisar.t'· . as concepções de nascimento. terá esse profissional que se fazer visível.-McJs'que isso-os pr6p.". além de valores sociais.culturais africanas logrou. Nada melhor. -_ -"''''-".._ . . embora se possa reconhecer nele uma origem africana gené.us _ ~-------.. pois.1açã..--.. ~..do e reserva sobre questões de doutrina. sºQ. cerimônias._com sa. trabalho artesanal e armazenamento. como um todo. Cada e_s-: posa cultua também o o!jxá da família d~_~eupai. os irmãos devem culto ao orixá do pai. ao se apropriar apagadõ ãs fontes. divisão de ~rabalho de outros povos . habitando As áreas comuns são reservadas para cozinha. --o' afncanos. que pode ser diferente de acordo com a herança materna. orixá trickster que estabelece - -- ------." . __ ~ de poder nos padrões familiares da antitomados 117 r g~-famílialio!u '._-~. nearmente.Earticulares louvados nas casas das diversas esposas. A família também voção a Exu. esposã principal as demais esposas moram quartos separados. 10 á. tivess ----- como se que se tem da África é-vaga. os compounds. que é o mesmo para todos.. e ao orixá da mãe. com seus filhos. .101:. inespecífica. d~ks. cidade e região (Fadipe. Como os iorubás não crêem descender é necessariamente de seus orixás.. e habitam mentos coma residências contíguos. O chefe mora ada uma para cada família. é possível.!ºos a osentos m:incipais. no caso do canqqmblé. cada um com seus mitos. ~_. a origem de cada indivíduo a mesma.. Assim.1-'1[\---. através da pesquisa.---.pos étnico-linguísticos a cultura-brasileira de nossa formação africana -.cultos._._. indefinida.-- - ---~ tem como culto comum a comunicação a d~ entre .. e que é o orixá principal de todos o filhos. -.is. Cultua~ixás famíliª-extenarticulares coletivas formadas de quartos e aparta1970). Assim.tabus e•. A família cul~riatrilidivindade ancestral que ele herda lazer. A memória rica. . que é o segundo orixá de seus filhos. H!~1!l deEs~eral e deus~~. e os filhos d~1. hierárquica. com empréstimos Os ioru~ás tra~icion~~_~ª-~J!~!~gínicos.gené- Mesmo que se imagine uma África única.--. identificar dados de culturas podemos sacerdotal buscar sua estrutura e concepção estruturas e elementos herbem definidas. Um compound é assim u~a reunião de diferentes. também nao poâem iaentffica~ ~ origens dos aspectos cultur.. xá do chefe masculino. .:. em geral orixás da família do rei. mitos que ele aprende durante a iniciação e ..et..g~o§ d.-. ler e interpretar Ç..~~ômico~'d~-. munitárias. ~ -:' - mais de uma. ... é pratiCado fora do âmbito da família 12.eenvolve toda a cidade. O culto ao orixá da adivinhação.do dia-a-dia.-p~~.os diferentes planos e personagens deste mundo e do mundo par~?_dos d~~s~i$.. terpretação de um enorme a~erY5?de.. é a religião familiar.9!!e protegem a cidade.. e que fornecem e inspiram os valores e normas da sociedade iorubana.--.. en.tiitament. \. chamado Q!. a sociedade Gueledé. 'ãõsorixás. a morte..ge9}!. a ação dos deuses e tudo mais que existe._. Uma---'outnL§Q.ada através da in_. '--.O-~. a vida..m:Jlma_confraria~d_e sacerdotes chamados bab_~ •. conhecer õ-desígnio-d~s de-~s-._. ..._~ .'.. criação brasileira.ç·. às-----vezes -'-----.-.-.uli.~ res_ .~. •..gun~-.. '~-'~""- ..c.-Ti~j~~-~se5yltua~ os. O chefe da família é o chefe do culto do orixá principal.~rever os sacrifídospropiclatório's ---~"-' .Elrtos (seus instrumentos ' '~ii~i~atórios selecionam os mitos a serem interpretados em cada consulta oracular).. ~" •. O candomblé.'~~~Eii. '~' ' '-..~:..-'.ciedé!.-------.-~ 161 ...--~'-~ ponsável pela administração da justiça no plano das relações co.o'ri~ás .~ ~~ -que celebra os ancestrais femininos. os e.--._--.'ElJ!liláou Ifá. A ~sa organi:ação religiosa de culto aos fundadores e heróis humanos contrapõe-seuma outra.do. e outros que podem ser adotados individualmente por livre escolha. de todo modo. iniciamse entre membros da familia os sacerdotes que devem incorporar a divindade em transe ritual durante as grandes celebrações festivas.an:e.~. que explicam para o iorubá seu mundo. ~. os das esposas.~~~ -- . ' .~ .ociabilidad~ d~ cidade. futl!Io_daspessoas." .~Q{ritos.laô épraÚ.'~id~d~. O mesmo se dá com respeito aos orixás secundários. A-adivi~h~ção~l~ b~b. é a que se dedica ao culto dos ancestrais fundadores 'd..•... ___ .. A religião --'-.. estruturou-se como essa ._. as grandes mães.. Não se separa religião e família na vida cotidiana. .ªtri!Y~~-Ee 2ráti~ cas divinatórias... os orixás do mer~á...------.--'. ros livres tenha se preser._com a formação _da sociedade de classes.casas ou quartos-de-santo. ou jovem esposa.. como fazem os filhos ioruba.tal e étnico foram perdendo o sentido.nas. fad. no final do século XIX e no início do século xx. T~mplo~~ec~~dários.4a música popular brasileira. o grupo de culto é dirigido por um chefe. que é primordialmente branca.e e~a!!len.f.r. usam entre si.no-~i.~dida em que p~saram -a ~nteressar aos compositores brancos e aos consumidores da culturã~iA~si~~l~~~'~' negro abr~ ç~i~ho pa. 162 ---- -.Yª90 até QJilléll. A mulher encarregada de zelar pelo culto a Xangô no palácio do rei de Oió.. Além das práticas iniciáticas.a? choro branéô. sua sobrevivência dependia da capacidade de serem absorvidas pela cultura branca. já que a inclus-o~aiamília (religiosa) faz-se . Claro que. O general balogum transformou-se em cargo de alta hierarquia no culto a Ogum. mulheres que não entram em transe e que vestem os orixás e dançam com eles quando incorporados em suas sacerdotisas e sacerdotes. sobretucampo das artes. que significa a segunda pessoa do orixá. ~mb~ra a identidade étnica de ~!E0s escravo~~ nej.do século XIX-. costumes do cotidiano familiar africano foram igualmente incorporados à religião no Brasil como fundamento sagrado que não deve ser mudado: dormir em esteira.cimentQ. "minha irmã mais velha". d. européia e cristã. A_ hierarqJJia_agora é re ulada não ela idade. Asmu~~s mais velhas.ohretudo entre ~~hegaram dfu\frica havia menos tempo e que ~stavam organizados _emco~f:. e o orixá do fundador do grupo é o orixá comum daquela comunidade. manifestações culturais caracteristicamente negras.---tratamento que as esposas mais antigas do chefe. para o q~al é le~~tado o te~210 rincipal. comer com a mão.• Do governo das cidades o candomblé copiou postos de mando na religião. em que os ritmos e estruturas melódicas de a~~ orig~~~iricana ~E~e~iYeraIl!-na .2 vez_ mais as orga~ d~sºr1. A recém-iniciada é chamada iaô. . a preservação daquilo que é africano requeria apagar ou disfarçar ---------------- - ----- ----- . dançar descalço etc. que é como as esposas mais velhas chamam as mais novas. aos és dos uais se prostram em reverente saudação.a~~xeIl!Plar. j~ sob a República==. essas designações reservadas às mulheres passaram também a ser usadas para os iniciados masculinos. e por conseguinte mais importantes... Supõe-se que os mais jovens devam aprender com os mais velhos e assimilar o conhecimento religioso pe.p~rlivre adesão ~não_p_o.ari~scat~licas.ba nacio~al-das classes médias. la palavra não escrita. são construídos para cada um dos orixás ou famílias de orixás louvados pelo grupo. como a raspagem da cabeça que marca o ingresso das _ meninas na puberdade e o uso de escarificações indicativas de origem tribal e familiar (os aberés do candomblé). O conselho do rei de Oió. inspirou a criação do conselho dos obás ou mogbás em terreiros desse orixá. mas- culino ou f~minin~~E!~_utoridade máxima. noiva.ados.isto é iniciadas há m~s_t~ (e no Brasil o sétimo ano de iniciação ganhou o estatuto de ano que marca a senioridade) chamam-se entre si de ebômi. foi certamente o modelo do cargo das equedes. As mulheres encarregadas de administrar o provimento material da corte do rei inspiraram as ialodês dos candomblés.. ~ rarquia copia a da família iorubá: os membros mais' ovens devem respéito e submissão aQs mais elhos. e como faz todo iorubá em respeito às autoridades. Em outras alavras. Embora em muitos aspectos. possamos identificar..----.famíli~ iorubá. a música do candomblé <k>§ n~grQs pobres fornecia a matriz. manter-se de cabeça baixa na frente de autoridades. e por isso mesmo chamada Ekeji Orixá. cidade de Xangô.-- -- e aspect9~ ?as ~ulturas africanas foram igualmente _sen_d~ mais e mais absorvidos pela cultura nacional._nos para com os pais e mais velhos. É o.. prostrar-se para cumprimentar os mais velhos.. mas2elo te~o de inicia ão. para o ~a. . com o passar do tempo.. niil!da 2 ções': ou "nações de c~domb!é" XiX.:te troca de elementos os candomblés entre nações no Brasil e mesmo o efã -. banta lembra muito mais uma das religiões sudanesas do que propriamente e processos iniciáticos. quando e a valorização tação dos produtores ~~íigião (Ortiz. e os dos povos fons. Sul e. no Mara~hão.integração na África.us~ementos. mas também cultura na África. tanto em relação ao panteão de divindades candomblé. hoje praticamente até os dias de hoje: o candomblé. so ao domicílio podia agregar-se do senhor - uma vez que mesmo o escravo já não estava prenegro de ganho que era então coletivas concentradas em bairem residências nagô ou iorubá. Vivia com seus iguais africanos. 1996).. especialmente mados jejes. negros libertos população negra conheceu com a presença.1~ l!fri~a!1a que aidentifica ãg Por volta da metade do século vos. a recria- maiores possibilidades. aqui chaos mahis e os daomeanos. Queto._. num processo . cultural a orien- "-i978) ":::":-e ue somente foi ~e~~rtido de maneira lin~ita~1a a parq a diferença. Os criadores etnias nagôs ou iorubás. (Lima. fol orgª-. a religião negra que se refez na Bahia e . que na Bahia se chamou e Alagoas. Na Bahia surgiram e mais recentemente entre si. e no Rio Grande do extinta. tivemos a formação domblés bantos. M. Embora uma religião equivalente ba~d~é"~pl~-embl~mático ~ tir da década de 1960. secundariamente. igualmente que reproduziam Nas diferentes ~- - - ~ Na Bahia. em Pernambuco. as nações iorubanas nagô. Em Alagoas criou-se um culnagô. 1984). como em outros lugares. a modalidade África meridional. ca az gru.'tiqye.@Qçles cidades. bém surgido e se mantido adaptação Alagoas. Lagos._. pos que recriavam no Brasil cult~s religiosos . enquanto no Maranhão ancestrais. num movimen- mo em função das cerimônias Pernambuco no R~§!ande to que foi bastante expressivo no Brasil. a e maior ca acidade e ~os se. ---- -- de brana um- na Bahia. mas apenas as dimensões música parecem ser sua marca de identidade.e em grupos de "napela maioria enque- fl~~uh b--. oi6 e ijexá.escranas g. todos de origem acende culto aos o tambor rnina-nagô.de.. com três referências básicas: candomblé congo e cabinda._<:!. grandes cidades do século XIX surgiram to de nação xambá.!!ja a rebem acabada do negro no Brasil. com maior liberdade de movimento de organização. o candomblé denominado Também da Bahia é o can- jeje ou jeje-rnahim. ali também ros urbanos onde estava seu mercado de trabalho.de. tre elas. Ijexá e Egbá. Como disse antes.--+---- . resultado anteriormente to e ijexá tuadamente domblé meanos. A religião negra._~- a origem e a marca negra. não somente a religião africana. gôs e jejes._" mina-jeje dependeu mais de tradições dos jejes daose criando uma denominação iorubá. numa época em que tradições e línguas trazidas da África estavam vivas em razão de sua chegada recente ao país (Oliveira. além de um candomblé de egungum. sobretudo outros aspectos da da língua ritual e da pois os deuses são na- dessas religiões foram negros de os das cidades e regiões Floresceram os orixás dos nagôs e seus ritos seguem os dos candomblés de Oi6. Maranhão. e ~eus descendentes dos contatos em~"~ra haja gran. dos canangola. o pluralismo culturais.exatamente queamento .: xangô. também Sul. Em Pernambuco chamada sobreviveu de predominância ção da nação egbá. ta~bor-d~~~i~. Foi quando constituição culturalmais de preservar-se se criou o que talvez s. Em cada uma deé responsável "la!-. das origens étnicas passaram a constituir e consumidores va de negros bantos. Rio Grande do tenha tampor iniciaticultos da coem e miscigenação que atingiu todas as áreas no âmbito"da no Rio de Janeiro. e cristã. éte ami- negros. instituição ligioso relações de hierarquia..~saherança. mas de muitos outros aspectos culturais daw.. de parentesco.---- ~~er . a ~ais completa as i~~itáveis adaptações. negro brasileiro. perdendo-se e as estruturas para sem- - ". numa espécie de reposição -.ções africanas foi deixando s~dos nal. munidade africana perdida na diáspora. a identidade Com sano Brasil da família africana. orixá regendo 166 cânticos sacros foram igualmente ---- memória ancestral em 8!and~ p~rte _(!squecidos~ . naçõ~.impera- .. Assim como o negro esqueceu sua origem e a língua dos pais também esqueceu o significado das palavras Embora os cânticos e rezas tee nas línguas originais. criando-se refurê. pesando na '.l·. c~ 1:. baseada na família de sangue. modificadas e a sintaxe das línguas sagradas. muitos outros as ectos da sociedade africana tiveram que ser aqui reconstituídos.que cada i~divíc!!:to descende áa-~~I!iã"b@§~ã:ê 'va dõs-chefes'de~~t~...G~'\ ._--- ginal. do candomblé evidentemente..e.tG~~#'~ _~~i~tura / ~ • '..as simpatias pelo chefe do grupo. • __ ou juntó. De todo modo. como mostrou criou~se no Brasil.10&9. que na África era o da mãe biológica e que aqui é identificado também através do oráculo.. ini~ do negro na como r::uetnias c(....eJx-ª!ldo de reafirmar as verdades origi- ve a idéia de um segundo o indivíduo. no Brasjlas estruturas menos simb"alic~~~.uar.--.--- como uma espécie de .?s.de~r-!. ilha à qual o negro podia recolher-se periodicamente... o candomblé o corte já não era mais ét- grada não pôde mais ser baseada na idéia de que cada ser humano descende de uma divindade E. definitivamente e avós. a destruição mesmo no caso do escravo. nham sido preservados biológica. . Roger Bastide (1971). em outros lugares é uma reconstituição não .je' '.. umã-vez_ qu. ~'v tituição da religião. nais anti..."' d~ ~. o conhecimento zade dos adeptos. .prerrogatiMas se manteo adjunto de ser línguas de comunicação.o c.p"a-. .---- da memória do ue ficou para trás.. sociedade de classes.iólicaque-fcl. dur~Pelo ~~~~-.~lado é..'.~sé~ulo. na maioria já nascidos brasileiros. f. uma concepção de linhagens através de uma linhagem mítico-espirituais... d6xaram de se~=~I!. por a' . inclusiva. África _ ori.._-.africana. ql!e noBrasil as mãe~ eos pais-de-santo. sso evidentemente I pre as linhagens &dsão..----foi 9. o'orix~ de um orixá.??~idera- corrompidas.~ia iorubá.'-' mília-de-santo. uma África simAtravés da religião.s~le~!:. q~em sab~?.•. Quando num refúo tráfico de culto.~ia ~ultur~l. Tomemos o candomblé queto.• - _. mas agora isso independe d~~~4~~~~:~Ó p-.. O candomblé nião de negros ori inários e descen~entes ou n-. A fa- dà' soci~d~d~ ~ gIO idíli~~ ~~ b.... nico. O candomble que se formou no Brasil foi mais que a recons- cliau'..------ ausentes. na ~ociedacÍ. epois a es~ravidão . no começo do século xx.p~Jlª_S da reli ião ª . implicou muitas acomodações..branca ~égr~'i..--__ _ ~. para que ela fizesse sentido no Brasil. deixaram a cada geração. passou a funcionar -- -- . impostas p~lo .de-~andomblé 'ni~~ e passaram a se constituir numa escolha pessoal. tornou-se .o ". línguas rituais intraduzíveis.. "Jnos padrões familiares e de parentesco a comunidade existentes na África.as ~. pelos padrões ibero-bra-.. d ci~u-s.. localização do terreiro etc. f~i substituída - Continuou-se -.a dar luz a novas questões. Agora um. .ÇSSQ). Os mitos de origem de que falam Sls através do oráculo do jogo de búzios. as diversas línguas para ser do seu pai ancestral e a quem deve culto.- de determinada~ de fazer sentido.. as agrÚras dàvida -cõti:- 1..~~ 10 ~ ' ---' . que inclusive serve de moderefez-se no plano da religião a cono grupo resubordinação e lealdade baseadas uma espécie para os demais.'- ------------_. o lento e inconcluso chegou ao fim. então em formação.-----.~vas adeàsdiferentes orjgem.asileira. qu~! ~._. Primeiro.t@aU2ela miliares e societárias africanas estavam completamente substituídas. As !!.~:··: s!m~ól!~c:~a fa~.-oG.- - . Não sendo a religião africana uma esfera autônoma em relação às demais que formam a sociedade tradiciopelo fa- processo de int~g~açã.. embora um ou outro terreiro possa. forn~SD-. que identifica e legitima cada tronco familiar. cristalizou-se. Iemanjá. Ossaim. do terreiro. indeuniversais.. o sentido ger~l da vida. Xangô. num outro movi- de geração a ge- .§ociedade branca. .~d~ ancestralidade. sina que cada ser humano pendentemente não sem a ocorrência acréscimos e per- os orixás Exu. não histórico. de ser fonte de memória e Edé. a primeira côf:her-.. Apenas os mitos de inos costumes africanos somene adotados como elemenquando reinterpretados qüe ". que já no início do século criara uma versão mais branqueada c~d9ffiblé a umbanda -. que o ~po Nada na vida é novidade.-----. constitutivo também ~~ mai~ ªC1usivamenJl1ªS ~os troncos familiares. a possibilidade cíclico. à identidade guardados. por um processo que vislumbrava dar sentido à memória perdidos e segredos do negro na diáspora. Oxóssi. transforA comunidade a um determinado As danças do candomblé. O tempo do mito é o tempo das origéOs:-õ passado mítico. racial ou geográfoi deixando to imagina apenas como pleno de mistérios fica. os iorubás e ou. Os orixás são agora divindades . Nanã. te-pãrao~~grZ._e_ branco nas coreograhoje não da repara o das divindades. Iansã.. ~andomblé negro..~nte.-. no Brasil foi e um dos antepassados que formam o panteão das divindades tua das em solo brasileiro: Omulu. a uma etnia. que se refazem na vida de cada um de nós. abrindo-se do negro.'eo.comu_. de esdo metade do século xx. Oxumarê. por meio dos mitos representados fias.---estar a verdade do presente. da religião dos orixás O mito. orienta a cona vida. Não está mais referido a um passado genealógico.~ nidade afro-descendente.re à religião dos orixás. que constantemenpovo. E é no tempo mítico do passado remoto gue se acredita --. DI.tivo de se viver num mundo for!pação: contemporâneo em const<l:~te trans- ração. a cul- 3 A reconstituição orientada.'edade portanto. se repete desde os tempos imemoriais. não é mais uma reunião de negros que cultiva uma origem comum. mas liga espiritualmente cada membro da religião. trazem para o presente religioso. coletivo.A. de culto no candomblé não é mais necessariamente uma-. do pas- como religião deixou de ser prerrogativa a religião afro-brasileira sado estão vivos nos mitos. o passado remoto. Oxalá. Obá. independente de sua origem étnica. O tempo do mito é. Acontecimentos do contra a corrente. O candomblé. te sobrevivem tos e práticas da religião.:J. num jogo que o povo-de-san- de sua origem familiar. Logum que é brasileiro. européia. Ogum. como na África. compartilhado 168 para todos os brasido leiros de todas as origens étnicas e raciais. remanbuscar inserção no movimento negro. não linear. com os orixás manifestados em transe.im o candomblé identidade trapassada como vimos. agora no Brasil. Oxaguiã. da permanê~cia. imutável e verdadeiro não é mais o passado real da comunidade mais formado exclusivamente ligião afro-brasileira. étnica. mas os fundadores teresse religioso serão lembrados... Euá. dos nos terreiros os próprios antepassados lembranão são mais os heróis africanos das cidades e dade de culto._-. 'c~nsa~güh. no Brasil e os velhos líderes dos terreiros. endescende de um desses deuses.. nas filhas da comuniQue duta e fornece valores para nortear coletiva viva.-' era tudo da cultura religiosa africana de mudanças.-. por afro-descendentes. capturou então. A. e filhos-de-santo O que restou da memória te faz referência mou-se em fundamento o tempo da tradição. Oxum.. Antes do contato tros povos africanos com a cultura acreditavam. como elemento deve fazerséntido to~~'~fr_o-desc~1id. das. Quando os diferentes grupos organizaram sua religião na Bahia. contemporâneo. se eram dessa ou daquela tribo ou cidade. aquela que durante um -~ '--"'~ séculoti!lhª §jgg a re_-... . mento de inclusão._ ..l:l!1. com muitas contribuições rituais dos jejes.... como se todos os deuses africanos fossem orixás (Prandi. a partir de 1960 ocorreu um redi--~._---~. analisan171 domblé seria o grande reservatório da cultura brasileira mais próxima da África. A cultura de uma minoria agora já é consumo de todos. ao jogo de búzios. . esse negro esqueceu sua origem. nem mesmo sabe se eram bantos ou sudaneses.. . miscigenação e branqueamento físico e cultural._----'----------_. surgem aqueles interessados exatamente no con170 ..-".. O ~nsaísta e poeta norte-americano Steven White.. desâmba >~~'. Os inquices bantos desde longa data ha~iam sido substituídos pelos orixás e encantados caboclos. 1998). Ãsesc-ólas do carnaval não se cansam de fazer desfilar os orixás na avenida. __ .••. sejam eles apresentados como autênticos ou falsos. obrigado a incorporar-se numa cultura nacio-~l nal.9. que melhor conseguiram se impor como modelo de culto.. numa língua comum dos negros escravos e libertos das mais diferentes origens étnicas que conviviam na cidade (Rodrigues. os orixás.. incorporar e dissolver a África brasileira numa arte e num discurso de corte universal.e o sincretismo católico das religiões afro-brasileiras é a . Enquanto intelectuais e artistas não identificados com uma causa negra procuram.~~. o iorubá..~~.~~_~er~12ç~_~~g~a... A superioridade numérica dos negros iorubás na Salvador do século XIX transformou sua língua. Como se tudo que é negro remetesse aos povos nagôs.9~iJ. que os disseminou por todo o país. até que a migração os trouxesse para o Sudeste (Prandi._. 1976). acabaram ganhando relevo.- 4 A valorização da cultura negra no Brasil ocorreu !. branca e cristã.. aos pais e mãesde-santo. . mais próximas da percl:lssão dos terreiros de. que língua falavam. sem o que não era possível sobreviver . mesmo quando se é africano e se cultuam orixás e outras divindades africanas . 2001 b). A televisão.• ~.--. não consegue deixar de lado referências constantes aos deuses dos terreiros. entre os quais o movimento negro nas suas mais diferentes manifestàçõés:ã~ivándo-se para os afro-descendentes a questão da origêm"e da ía.candomblé. ~.--~ . encobrindo a presença dos voduns dos jejes e dos inquices dos bantos. Já estávamos na sociedade de massa e o can' .• _ ligião dos negros.. •.~tidâde. os voduns ficaram limitados a uns poucos templos ._"". na notícia e na ficção. demonstração nítida dessa obrigatoriedade de ser brasileiro e por conseguinte católico... -"'-----~ . européia. sobretudo com o surgimento da umbanda. pas~ou_"a se~!!!~()!l'-ora~ como habitual.~.2.uc..~!_'LI!t~Hra e tratado ~~mo_~~~ticqLdifeL~DJçLPJjI!!i!.. Enquanto os orixás passaram a ser reconhecidos como as autênticas divindades africanas. .••._. Já não é capaz de saber de onde vieram os ancestrais.Yo. primeiro local e depois nacional.. A própria música popular agr~g~u-.~"velhoe .ssivament. de tal modo que os seus deuses.i. br~nq~"~ado-sãrrib~vas _. Mas o negro.. sobretudo nas novelas.de Salvador e cidades do Recôncavo e completamente escondidos do resto do país nos templos do Maranhão. setores das populações negras e mestiças questionam e são questionados sobre sua origem africana e afro-descendente.pois bem.... fazendo da criação artística documento da própria identidade.. '~'-'- .--batidas. trário: delinear a origem negra como sua origem. I 11I ._..~..•.!~!!!ente com a formação dos movimentos de minorias. próximo. foram candomblés nagôs.'.. I1 I I1I I i I Se aspectos de origem africana já compunham a cultura brasileira nas mais diversas áreas.. de modo geral.. Depoi~ de séculos deintegração.mensi~~~men!~. _-. . ' do passado Õ ~.. em bl . pas.r... nesse prõcesso. embora escolher o candomblé ficilmente alguma parcela do movimento como símbolo de identidade todo estará disposto negro possa africana. e que é a fonte brasileira por excelência da "memória" canas (White. bem como entre a antiga EU'" do nosso pon- ropa e as perdidas civilizações indígenas.~-a-~e-r-fo~t~d~ .~~ães-d':.ka. ~. A religião tradicional.~ente para o passado. e a identidade a partir de uma origem idealizada. )\l'.br. inverso .se r~ligiªo universal. Ainda que o passado ancestral perdido seja a África pluriétnica.~Io.asilei. A reconstituição leira e não da verdadeira última instância. I""" "leiro. situa-se a nossa própria história. africana de origem. querem ser apenas líderes religio. assim.. Entre o Brade uma nova civilização.~~. a partir da cultura brasie perdida origem étnica. é religião "para todos nós".~pa~."t> i\j~· ri' Mesmo quando o se expressa para afirmar a negritude. 1999). multicultural.Air. mostra exatamente milson de Almeida Pereira.. Edide uma identidade à necessidade de reindas origens afrido lado ~~n9:<?mblé não tem a menor disposição de se enfileir~~ com o leiros negros. outros.. mesmo porque c:al~domblé. acaba remetendo ~ovim~~~ de afirmação do negro. passa- do que só pode ser reinventado... e a velha África. . mas já não podem boração desse passado rnítico e idílico vai beber nas próprias tranegras mais presentes no cenário cultural do país.os . racial. Candombléemovimen~er jttnJaçlq§.Q!1!gm. deixa de ser religião e passa a funcionar apenas como fonte idealizada 172 . na Do que eles formam ventar um passado através da religião que se professa hoje. O de identidade. D. a condição africana.g~~re- gião e submeter-se às suas orientações.~ge comunidade de qualquer outra instituição e dirigem que possa interferir com mão-de-ferro.s. nos meandros c~ qu~é m:mória drou. .. diuma reli- o conjunto a assumir me~ó~iacr'i~'d~. num caminho dições preservadas define-se construção como fundamento reconstituída outro lado. já não pertence a raça J defi~idas. entre como a procura negra. como Estevão Maya-Maya.-. e identidade da civilização que ela mesma engen- de . que nos impede ou auxilia no reencontro to de partida.. Ricardo Aleixo e Lepe Correia.imMli- possív~~_doL<lfLQ:.. muitos deles l?~~!l50Sou mestiços._~.. da identidade que o poeta adota que orienta a como sendo a dele.tnias sileiros.I:!1~lé9!!10-q.::~~nto. familiar 'e.:asil d~_hoje se faz a África. não resta a ele fazê-Ia senão como brasi- tiegrô 'J)\.do a poesia produzida nos últimos quinze anos por poetas brasiOliveira Silveira.o processo de eladas instituições religiosas to negro têrI?_a pes}naJ)rigem. logrou incorporar sil contemporâneo o passado na construção recuperável memória é aquele que o Brasil recriada.ld:2. de cá do Atlântico. para todos os bra- se faz.


Comments

Copyright © 2024 UPDOCS Inc.