CENTRO UNIVERSITÁRIO EUROAMERICANO – UNIEURO PRÓ-REITORIA E PÓS-GRADUAÇÃO, PESQUISA E EXTENSÃO COORDENAÇÃO DE PÓS-GRADUAÇÃO LATO SENSU CURSO DE ESPECIALIZAÇÃO EM PERÍCIA DE INCÊNDIO E PRODUÇÃO DE PROVAS JUDICIAIS LEANDRO MAGALHÃES MARIANI SIMULAÇÃO DE INCÊNDIO UTILIZANDO A FERRAMENTA COMPUTACIONAL FIRE DYNAMIC SIMULATOR: Teste da Hipótese de Incêndio Urbano Ocorrido em Samambaia-DF Brasília, Setembro/2009 ii LEANDRO MAGALHÃES MARIANI SIMULAÇÃO DE INCÊNDIO UTILIZANDO A FERRAMENTA COMPUTACIONAL FIRE DYNAMIC SIMULATOR: Teste da Hipótese de Incêndio Urbano Ocorrido em Samambaia-DF Trabalho de conclusão de Curso apresentado como pré-requisito parcial para a conclusão do curso de Especialização em Perícia de Incêndio e Produção de Provas Judiciais do Centro Universitário Euroamericano – Unieuro. Orientador: Prof. Luiz Carlos da Silva Pereira Brasília, Setembro/2009 iii LEANDRO MAGALHÃES MARIANI SIMULAÇÃO DE INCÊNDIO UTILIZANDO A FERRAMENTA COMPUTACIONAL FIRE DYNAMIC SIMULATOR: Teste da Hipótese de Incêndio Urbano Ocorrido em Samambaia-DF Esta monografia foi julgada adequada à obtenção do grau de Especialista em Perícia de Incêndio e Produção de Provas Periciais e aprovada em sua forma final pelo curso de Pós-graduação Lato Sensu em Perícia de Incêndio e Produção de Provas Judiciais do Centro Universitário UNIEURO. Data de aprovação: Banca examinadora _________________________________________ Prof. Luiz Carlos da Silva Pereira – Orientador Centro Universitário UNIEURO _________________________________________ Coordenação Centro Universitário UNIEURO iv Dedico este trabalho a minha família que sempre está ao meu lado nas minhas conquistas e nos momentos difíceis. v AGRADECIMENTOS Agradeço a Deus, nosso Criador e Mestre de todas as nossas decisões. Ao Professor Luiz Carlos da Silva Pereira pelas orientações indispensáveis para a produção e conclusão do meu trabalho. Ao Msc. André Telles Campos por compartilhar sua inteligência, conhecimento e dinamismo de maneira altruísta e sempre disponível. Ao 1º Tenente QOBM/Comb. Rissel Francisco C. Cardock Valdez, perito de incêndio do CBMDF, por estar sempre disposto a discutir as idéias relacionadas ao trabalho e disponibilizar as informações e instrumentos necessários para o desenvolvimento do estudo. Aos amigos Gabriel Motta de Carvalho e Rodrigo de Almeida Freitas pelas constantes idéias compartilhadas e pelo apoio na busca e produção do conhecimento necessário para a pesquisa. À Msc. Maria de Fatima Magalhães Mariani, minha querida mãe, pelo constante apoio ao meu desenvolvimento intelectual e pelo tempo demandado na disposição de orientações metodológicas inerentes a produção desta monografia. Finalmente, agradeço à Dulce Helen Lim, minha querida esposa, e aos meus filhos, Bruna Lim Mariani e Daniel Lim Mariani, pelo apoio e compreensão. Todos sacrificaram o meu tempo que lhes eram destinados na contrapartida da conclusão deste trabalho. vi “O homem moderno não combate as calamidades com a humildade; descobriu que elas devem ser combatidas com os conhecimentos científicos.” Bertrand Russell vii RESUMO O presente trabalho realizou um estudo de caso da simulação do incêndio ocorrido em dezembro de 2008 numa residência em Samambaia-DF utilizando o aplicativo computacional Fire Dynamic Simulator. Estudos anteriores apontaram a eficiência do aplicativo em simulação de incêndio e teste de hipóteses de incêndio. A simulação de incêndios é ferramenta difundida na perícia de incêndio e proporciona maiores possibilidades de análise do comportamento do incêndio e de suas possíveis causas. O aplicativo Fire Dynamic Simulator dispõe de possibilidades de cálculos de diversos parâmetros inerentes ao incêndio e interessantes para a perícia. Um fator importante da simulação é a visualização dos resultados em formato gráfico facilitando a análise das hipóteses. Neste estudo, foi realizada uma comparação da situação simulada com os vestígios produzidos pelo incêndio de forma que foi possível verificar a operacionalidade do uso do aplicativo na perícia de incêndio e sua capacidade de desenvolver subsídios para a produção do laudo pericial. Palavras chaves: incêndio, simulação, computacional, perícia, hipótese. viii ABSTRACT The present study was based in a case study of simulation of fire occurred in December 2008 in a residence on Samambaia-DF using the computer application Fire Dynamic Simulator. Previous studies showed the efficiency of the application in simulation of fire and testing of fire hypothesis. The simulation of fire is widespread tool in the fire investigation and provides greater scope for analysis of the fire behavior and its possible causes. The Fire Dynamic Simulator application disposes plenty of calculations of various parameters of the fire, a lot of them interesting for investigation. An important factor in the simulation is the visualization of results in graphical format facilitating the analysis of the hypotheses. In this study, was performed a comparison of the simulated simulation with the traces produced by the real fire; therefore, it was possible to verify the operability of the application usage on the fire investigation and its ability to develop subsidies for the production of the investigation technical report. Keywords: fire, simulation, computational, investigation, hypothesis. ix LISTA DE FIGURAS Figura Página Figura 2.1 Triângulo do fogo (CBMDF, 2008) ..........................................................................5 Figura 2.2 Diagrama ilustrando os arquivos usados e criados pelo FDS, Smokezip e Smokeview (FORNEY, 2008) ..................................................................................................20 Figura 3.1 Croqui do local do incêndio (ROCHA; VALDEZ, 2008).......................................22 Figura 3.2 Sofá de dois lugares, material incendiado (ROCHA; VALDEZ, 2008)..................23 Figura 3.3 Marca de combustão do sofá na parede de madeirite (ROCHA; VALDEZ, 2008) 24 Figura 3.4 Simulação em T=0 do cenário virtual criado pelo FDS ..........................................32 Figura 4.1 Simulação em T=0s.................................................................................................35 Figura 4.2 Simulação em T=120s.............................................................................................35 Figura 4.3 Simulação em T=240s.............................................................................................36 Figura 4.4 Simulação em T=360s.............................................................................................36 Figura 4.5 Temperatura dos objetos sólidos em T=360s ..........................................................37 Figura 4.6 Temperatura dos objetos sólidos em T=360s e carbonização .................................38 Figura 4.7 Temperatura dos objetos sólidos em T=360s e carbonização .................................38 Figura 4.8 Temperatura dos sólidos e carbonização em T=372 ..............................................39 Figura 4.9 Temperatura dos sólidos e carbonização em T=444s.............................................40 Figura 4.10 Temperatura da fase gasosa no plano x=1,5m em T=360s ...................................41 Figura 4.11 Temperatura da fase gasosa no plano y=3,5m em T=360s....................................41 x LISTA DE TABELAS Tabela Página Tabela 1 - Estimativa da temperatura de algumas fontes de calor..............................................5 xi LISTA DE ABREVIATURAS, NOMENCLATURAS, ABREVIATURAS E SIGLAS CBMDF CONFEA DF FDS INPE GD GLUT JPEG LAP NIST PNG SMV Corpo de Bombeiros Militar do Distrito Federal Conselho Federal de Engenharia e Arquitetura Distrito Federal Fire Dynamic Simulator Intituto Nacional de Pesquisas Espaciais Graphics Draw OpenGL Utility Toolkit Joint Photografic Experts Group Laboratório Associado de Plasma National Institute of Standards and Technology Portable Network Graphics Smoke View xii LISTA DE SÍMBOLOS CO CO2 GHz h J/kg kg/m3 kJ/kg/K kW/m2 m min o – – – – – – – – – – – – – – – Monóxido de carbono; Dióxido de carbono; Gigahertz; Hora; Joule por quilograma; Quilograma por metro cúbico; Quilojoule por quilograma por Kelvin; Quilowatt por metro quadrado; Metro; Minuto; Graus Celsius; Oxigênio; Segundo; Intervalo de tempo (s); Watt por metro por Kelvin. C O2 s T W/m/K xiii SUMÁRIO Título 1 1.1 1.2 Página INTRODUÇÃO ..............................................................................................................1 Definição do problema ...................................................................................................2 Objetivos.........................................................................................................................2 1.2.1 Objetivo geral .................................................................................................................2 1.2.2 Objetivos específicos ......................................................................................................2 1.3 2 2.1 2.2 2.3 2.4 2.5 2.6 Estrutura do trabalho.......................................................................................................2 REFERENCIAL TEÓRICO ...........................................................................................4 Incêndio ..........................................................................................................................4 Perícia de incêndio..........................................................................................................7 Perito de incêndio ...........................................................................................................9 Laudo pericial ...............................................................................................................10 Modelagem de Incêndios ..............................................................................................12 Aplicativo FDS .............................................................................................................13 2.6.1 Funcionalidade do FDS ................................................................................................13 2.6.2 Modelos utilizados pelo FDS........................................................................................14 2.6.3 Dados de entrada...........................................................................................................15 2.6.4 Dados de saída ..............................................................................................................16 2.6.5 Smokeview.....................................................................................................................18 3 3.1 METODOLOGIA.........................................................................................................21 Descrição do Caso em Estudo ......................................................................................21 3.1.1 Foco inicial ...................................................................................................................21 xiv 3.1.2 Forma de surgimento do incêndio ................................................................................22 3.1.3 Forma de propagação do incêndio ................................................................................23 3.1.4 Análise final e conclusão ..............................................................................................24 3.2 Descrição do Método Utilizado ....................................................................................25 3.2.1 Informações gerais........................................................................................................25 3.2.2 Dados de entrada...........................................................................................................26 3.2.3 Dados de saída ..............................................................................................................31 3.2.4 Simulação .....................................................................................................................32 4 5 RESULTADOS .............................................................................................................34 CONCLUSÃO ..............................................................................................................42 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS .....................................................................................44 APÊNDICE ..............................................................................................................................47 APÊNDICE A - Código-fonte do arquivo de entrada para o FDS ...........................................48 1 1 INTRODUÇÃO A investigação das causas de um incêndio está intrinsecamente relacionada a métodos científicos de coleta e análise dos dados. As hipóteses definidas em um laudo pericial se baseiam, principalmente, na observação empírica do perito de incêndio e em seus conhecimentos científicos adquiridos em sua capacitação. Nas mais diversas áreas, as pesquisas científicas são instrumentalizadas com ferramentas computacionais. A velocidade do processamento de informações destas ferramentas contribui substituindo o esforço humano no uso de métodos mecânicos e repetitivos. Desta forma, a ocupação do pesquisador se maximiza para um uso maior de sua capacidade cognitiva, o que traz benefícios extremos para a pesquisa. A inserção da simulação computacional na perícia de incêndio traria diversas possibilidades de dados complementares à fundamentação do laudo pericial. Além de facilidades como o cálculo de variáveis puramente técnicas, cito como possibilidade principal a reprodução gráfica simulada do incêndio, uma complementação que facilitaria o entendimento do laudo pericial. Para atingir o objetivo necessário da simulação de um incêndio, o aplicativo Fire Dynamic Simulator já foi utilizado em pesquisas anteriores e possui as ferramentas pertinentes às informações necessárias para um laudo pericial. Estudos anteriores apontam a eficiência do aplicativo Fire Dynamic Simulator no teste de hipóteses de incêndio. Neste estudo, será verificada a operacionalidade desta ferramenta computacional na aplicação do método em uma situação real. A hipótese sugerida no laudo pericial do incêndio escolhido para o estudo será simulada aplicando as ferramentas do aplicativo Fire Dynamic Simulator e depois serão descritas considerações sobre os resultados. 2 1.1 Definição do problema Para a utilização do aplicativo Fire Dynamic Simulator para a perícia de incêndio deve-se verificar sua efetiva adequação às situações reais. Desta forma, o problema foi definido como citado a seguir. É efetiva a simulação de um incêndio real utilizando o aplicativo FIRE DYNAMIC SIMULATOR considerando a hipótese admitida no laudo pericial? 1.2 Objetivos 1.2.1 Objetivo geral Apresentar os resultados da simulação de um incêndio real utilizando a ferramenta computacional Fire Dynamic Simulator e apresentar as informações pertinentes para a perícia de incêndio. 1.2.2 Objetivos específicos • Descrever o método para a simulação do incêndio com o aplicativo Fire Dynamic Simulator; • Utilizando o Fire Dynamic Simulator, simular o incêndio ocorrido em 18/12/2008 na residência localizada na QR 211 Conjunto 02 Casa 12, Samambaia-DF; • Verificar a operacionalidade do uso do aplicativo na perícia de incêndio e sua capacidade de desenvolver subsídios para a produção do laudo pericial. 1.3 Estrutura do trabalho Após uma breve introdução do estudo, este trabalho será estruturado em quatro capítulos com os seguintes tópicos principais: 3 • Referencial teórico: neste capítulo serão explanados os conceitos relacionados à perícia de incêndio, modelagem de incêndios e ao método utilizado pelo aplicativo Fire Dynamic Simulator; • Metodologia: neste capítulo serão descritos a situação escolhida para o estudo e o método utilizado para a simulação do incêndio; • Resultados: compreende neste capítulo a exposição dos resultados encontrados na pesquisa; • Conclusão: neste capítulo serão expostas as conclusões do estudo de caso. 4 2 REFERENCIAL TEÓRICO 2.1 Incêndio Dezaneti (2009) define fogo como uma forma no estado de plasma1 que emite ondas eletromagnéticas na freqüência de energia térmica. O fogo possui forma, temperatura e concentração de espécies iônicas para cada nível de energia que emite. Para atingir o estado de fogo, a partir de dois reagentes deve-se ocorrer uma reação de oxidação e redução. Nesta reação, o reagente redutor é definido como combustível e o reagente oxidante como comburente. (PEREIRA, 2009) Esta reação é denominada combustão e para iniciá-la é necessária uma energia de ativação, normalmente uma fonte de calor (Tabela 1). Após o início, a energia liberada inicia uma nova combustão entre os reagentes, assim como ocorre em todas as reações subseqüentes. Esta dinâmica é definida como reação em cadeia, responsável por sustentar as reações de combustão e prover um período de existência para o fogo. (CBMDF, 2006) Os elementos essenciais para o fogo, ou seja, combustível, comburente, energia de ativação e reação em cadeia podem ser representados de uma forma pedagógica no triângulo do fogo (Figura 2.1). Esta representação permite afirmar que se algum lado do triângulo for retirado o fogo não será possível. 1 Estado da matéria no qual os átomos estão completamente dissociados em núcleos e em elétrons. (LAP/INPE, 2009) 5 Tabela 1 - Estimativa da temperatura de algumas fontes de calor Fonte: Tactical Firefghting, Paul Grimwood, modificada por CBMDF (2006) Figura 2.1 Triângulo do fogo (CBMDF, 2008) 6 A principal característica do fogo é a sua chama, que é o formato visual do fogo que o ser humano pode distinguir produzido pela energia luminosa emitida. Outra característica do fogo é a fumaça, um produto da combustão formado por resíduos mais leves que o ar. (DEHANN, 2007) O Manual Básico de Combate a Incêndio do Corpo de Bombeiros Militar do Distrito Federal (2006) define incêndio como o fogo não controlado pelo homem que, com a ação das chamas, do calor e da fumaça pode destruir patrimônio e vidas. O incêndio se inicia a partir da ignição de algum material. Ignição é definida como o início do processo onde a combustão é auto-sustentada, ou o início da reação em cadeia. A quantidade de energia necessária mensurada na forma de temperatura para iniciar a ignição de um material é denominada ponto de ignição. Cada material possui ponto de ignição específico o que é relacionado às suas propriedades de densidade, capacidade térmica e condutividade térmica. (DEHANN, 2007) A fonte de calor necessária para a combustão e para a ignição sempre é proveniente de algum material aquecido, reação química, chama ou corrente elétrica. Desta forma, a causa do incêndio está relacionada à fonte de calor que proveu energia inicial para a ignição. (DEHANN, 2007) Dehann (2007) cita como fontes primárias de calor as mais comumente encontradas em causas de incêndio: fósforos, acendedores, isqueiros e velas. Como fontes secundárias, o autor cita: faíscas, objetos ou superfícies quentes, fricção, radiação e reação química. As fontes acima podem ser relacionadas a quatro hipóteses fundamentais de causas de incêndio: fenômeno termo-elétrico, combustão espontânea, fenômenos naturais ou intervenção humana. (PEREIRA, 2008) O estudo das hipóteses e a investigação da possível causa do incêndio são analisados na perícia do incêndio. 7 2.2 Perícia de incêndio Buscando a origem da palavra, perícia, do latim, peritia, significa habilidade, saber. Segundo a Resolução nº 345/1990-CONFEA, perícia é a atividade que envolve a apuração das causas que motivaram determinado evento ou da asserção de direitos. No campo forense, a perícia se destaca como a atividade capaz de traduzir a natureza técnica das provas de um fato litigioso para uma linguagem palpável às autoridades jurídicas e aos interessados, de forma a expor a verdade dos acontecimentos tornando a justiça possível. Depreende-se do Código de Processo Penal brasileiro que as conclusões do laudo pericial possuem validade de prova judicial no âmbito jurídico brasileiro. Qualquer campo de domínio do saber está sujeito a análise pericial. As mais diversas áreas de conhecimento exigem a intromissão da perícia, desde a medicina até as artes plásticas, e, da mesma forma, os incêndios. Desta forma, perícia de incêndio é uma ciência forense que investiga as causas de um incêndio com o intuito de buscar a verdade. Tal como as demais áreas de perícia, há uma estreita relação entra a perícia de incêndio e os princípios científicos. (LENTINI, 2006) Lentini (2006) afirma que, por ser uma ciência, a perícia de incêndio pode ser realizada adotando-se o método científico. Os fatores que caracterizam o incêndio como, por exemplo, o combustível, o comburente e o agente ígneo, devem ser estudados isoladamente pelo perito. O perito ainda deverá definir hipóteses sobre como ocorreu o incêndio e, a partir dos materiais e informações colhidas, realizar testes. O método científico para a perícia de incêndio se configura como uma seqüência de passos que devem ser seguidos para uma organização do processo científico e o alcance satisfatório do objetivo final. Esta seqüência é próxima da metodologia aplicada na perícia de incêndio antes da inserção do método científico (DEHANN, 2007): 1. Observar o evento - no caso, o cenário do incêndio; 2. Definir o problema – normalmente a causa do incêndio; 3. Coletar dados – entrevistas, fotos ou vídeos do incêndio; 4. Formular hipóteses; 8 5. Testar as hipóteses e buscar novas informações, inclusive hipóteses alternativas; 6. Revisar as hipóteses que necessitem serem ajustadas as informações disponíveis; 7. Alcançar uma hipótese final e rever novamente todos os dados, de forma a assegurar que as demais hipóteses possam ser excluídas; 8. Produzir uma conclusão final, com todas as explicações possíveis baseadas nas informações disponíveis. As hipóteses são relacionadas às causas do incêndio. Braga & Landim (2008) citam os fenômenos termoelétricos, os fenômenos naturais e os fenômenos químicos. Os autores subdividem as causas de intervenção humana em ação pessoal intencional, ação pessoal acidental e ação pessoal indeterminada. Braga & Landim (2008) considera também causas de incêndio as de origem acidental e as relacionadas à ação de criança. Há situações onde não há elementos suficientes para sustentar uma causa específica, são os casos das causas descritas como não apuradas. Abaixo a descrição das principais causas citadas pelos autores: • Fenômeno termoelétrico – causa de conseqüência do mau funcionamento da corrente elétrica, tal como o curto-circuito e a sobrecarga da rede elétrica. • Fenômeno natural – causa relacionada aos comportamentos da natureza ou anomalias da edificação. Exemplos: descarga elétrica por raio, vendaval, terremoto. • Fenômeno químico – causa intrínseca às combinações de substâncias químicas que produzem reações com liberação de calor. É o caso das reações espontâneas. • Origem acidental – possíveis defeitos de funcionamento de equipamentos que podem, acidentalmente, gerar uma fonte de calor. • Ação pessoal intencional – causa provocada pela ação humana com intenção de causar o incêndio. Também conhecido como incêndio criminoso. Normalmente relacionado a incêndios que envolvem ressarcimento do prejuízo por meio de seguro. • Ação pessoal acidental - causa provocada pela ação humana sem intenção de causar o 9 incêndio. São exemplos: velas esquecidas acesas, cigarros mal apagados. • Ação pessoal indeterminada - causa provocada pela ação humana, porém sem elementos suficientes que possam comprovar que a ação foi intencional. 2.3 Perito de incêndio O perito é o profissional responsável por analisar fatos juridicamente relevantes ao contexto em litígio e descrever as informações conclusivas em um laudo. Nomeado pelo juiz, o perito deve ser uma pessoa qualificada tecnicamente para desenvolver a perícia específica da sua área de domínio. O profissional responsável por desenvolver a perícia de incêndio é denominado perito de incêndio. (PIRES, 2008) Conforme o Código de Processo Penal, o perito possui prazo estabelecido para entrega do laudo e deve se responsabilizar a fornecer informações verídicas sob pena de sanções administrativas, penais e civis. A qualificação é requisito indispensável para o perito, pois a perícia produzirá provas judiciais que poderão decidir o rumo jurídico de vidas. O perito é o profissional habilitado não apenas para perícias judiciais, mas também para atividades periciais em geral. Muitas pessoas e instituições privadas recorrem aos serviços do perito para sanarem dúvidas sobre algum assunto que não possuem domínio. Contudo, o perito de incêndio deve procurar identificar os interessados pelos resultados da perícia de incêndio. Como já exposto acima, o sistema jurídico é um dos principais interessados, porém, não menos importantes, existem outros inclusos no contexto. O primeiro interessado é o próprio perito, uma vez que suas habilidades dependem de seu interesse pela ciência e pela absorção de conhecimentos específicos à perícia de incêndio. O perito deve procurar manter-se atualizado sobre o estado da arte e possuir acesso as novidades científicas do seu campo de atuação. (LENTINI, 2006) Outro interessado é a empresa para o qual o perito trabalha que pode ser o próprio governo ou uma instituição privada. A competência aliada à qualidade dos trabalhos realizados pelo perito reflete para o público os adjetivos da instituição de que faz parte. (LENTINI, 2006) 10 Os clientes, as partes responsáveis pelos pedidos de perícia, também são importantes interessados pelo processo. Talvez, sem eles, o profissional de perícia nem existiria. O perito de incêndio deve atentar que uma perícia não pode ser direcionada para divulgar apenas o que os clientes desejam ouvir, mas sim para a busca da verdade. (LENTINI, 2006) Por fim, Lentini (2006) cita a sociedade como uma das principais interessadas pelos resultados da perícia de incêndio. As conclusões divulgadas pelo perito não só desvendam os acontecimentos de um incêndio, como também estabelece fatores que podem ser utilizados para a prevenção de futuras ameaças. A descoberta de um equipamento inseguro que acarrete sua retirada do mercado e o auxílio no julgamento de um incendiário criminoso são atitudes que beneficiam toda a sociedade. 2.4 Laudo pericial Segundo a Resolução nº 345/1990-CONFEA, laudo é a peça na qual o perito, profissional habilitado, relata o que observou e dá suas conclusões ou avalia o valor de coisas ou direitos fundamentadamente. Pereira (2008) subdivide o laudo pericial de incêndio conforme o exposto a seguir, respeitando-se a ordem que devem ser descritos no laudo produzido. Na confecção do laudo, o perito deve atentar para a necessidade de registro fotográfico da situação e do trabalho desenvolvido, sempre considerando que o resultado da perícia produzirá provas judiciais: 1. Espelho: local de descrição de dados específicos da perícia. Deve conter informações relativas à ocorrência do evento, tipo do evento, local com referências geográficas, data e hora da ocorrência, data e hora dos exames in loco realizados pelos peritos, condições climáticas na hora da ocorrência do evento, interessados, dados do perito responsável pela execução da análise, entre outras informações pertinentes. A visita dos peritos ao local da ocorrência para realização dos exames deve ser acompanhada das partes interessadas. 2. Qualificação: espaço destinado para a descrição dos dados pessoais dos interessados pela ocorrência e das testemunhas do evento. O perito deve atentar para a correta qualificação de cada indivíduo, coletando dados específicos e individuais de cada um, 11 de forma a evitar confusões por uma possível duplicidade de informações. 3. Histórico da ocorrência: espaço reservado para a narrativa das testemunhas e dos interessados sobre informações da ocorrência conforme ponto de vista específico de cada um. O perito, através desta narrativa, pode detectar erros e exageros com relação ao evento. 4. Histórico do sinistro: espaço destinado para a descrição técnica do perito sobre o cenário do incêndio. Deve conter principalmente as seguintes informações: a visão periférica externa ao incêndio; a descrição métrica do cenário do incêndio e do bem sinistrado, bem como as suas características e composições físicas; a zona de origem do incêndio e; os danos ocorridos por ocasião do sinistro. 5. Exames realizados: neste item serão informados todos os exames realizados para a determinação do foco inicial, a forma de surgimento e a propagação do incêndio. Deverá ser descrito todos os materiais colhidos no local e os exames que serão realizados neles. Durante a descrição, o perito deverá atentar para a ordem cronológica dos exames realizados no local para evitar dúvidas quanto da realização dos trabalhos. 6. Confronto de informações: as informações prestadas pelos interessados e testemunhas serão confrontadas em todos os aspectos neste item. Para isto, o perito deverá utilizar, inclusive, as informações geradas pelos seus exames no local do ocorrido e nas amostras colhidas. 7. Análise final: neste item o investigador descreverá uma síntese do acontecido. O texto deverá ser claro quanto aos indicativos que antecederam o surgimento do fogo, a eclosão e a propagação do incêndio. Um método eficiente e bastante utilizado para esta análise é o método de separação sintética numérica, ou seja, as hipóteses são eliminadas no decorrer do processo permanecendo apenas a hipótese mais provável. 8. Conclusão: espaço destinado para as informações conclusivas da perícia. O perito deverá ser claro e objetivo na exposição de suas conclusões se atendo apenas a descrições sobre a causa do incêndio. 12 2.5 Modelagem de Incêndios Durante o incêndio, os processos físicos e químicos acontecem de forma simultânea. Enquanto a energia está sendo liberada pelo combustível queimado, a temperatura do ambiente cresce, gases são expelidos, reações químicas das mais diversas modificam as propriedades dos materiais. (LENTINI, 2006) Os modelos de incêndio trazem uma tentativa de simular as mudanças que estes processos sofrem no decorrer do tempo. As descrições dos processos são geradas a partir de equações algébricas utilizando-se métodos numéricos. (LENTINI, 2006) Inicialmente, os modelos de incêndio eram usados apenas na área de engenharia relacionada à proteção de incêndio. Há registros do uso dos modelos de incêndio desde a 2ª Guerra Mundial. Países como Estados Unidos, Reino Unido e Japão iniciaram seus estudos do fogo a partir de modelos neste período. (LENTINI, 2006) A evolução da complexidade dos modelos de incêndio inseriu no processo o uso dos computadores para aumentar a velocidade dos cálculos e diminuir os erros. Com o avanço da tecnologia e da velocidade de processamento dos computadores, atualmente os modelos computacionais utilizados permitem a análise de uma infinidade de processos de alta complexidade. (LENTINI, 2006) A utilização de modelagem de incêndio na perícia de incêndio é muito comum, porém como ferramenta de teste de hipóteses. Existem vários aplicativos computacionais desenvolvidos para este fim. Porém, o perito deve estar consciente que os resultados apresentados pelo programa serão satisfatórios às informações de entrada lançadas. (LENTINI, 2006) A aproximação da realidade do incêndio a partir da modelagem de incêndio dos programas atuais está relacionada à quantidade de dados reais inseridos nos dados de entrada do aplicativo e à qualidade desses dados. Sendo que, tais dados são inseridos pelo próprio perito, conforme a sua percepção da análise da realidade do cenário. (LENTINI, 2006) A eficiência ou não da modelagem de incêndio está atrelada então à qualidade da perícia realizada, não havendo modelos que descubram as causas do incêndio por si só. Desta forma, o perito, ao decidir pela utilização da modelagem, estará ciente que deverá colher 13 informações do cenário do incêndio em quantidade maior que o normal, para que o resultado apresentado se aproxime da realidade. (DEHANN, 2007; LENTINI, 2006) Putaansu (2004) cita a importância das anotações do perito no local do incêndio, pois os detalhes necessários para os dados de entrada do programa de modelação podem não ser encontrados nas fotos e vídeos. O aplicativo FDS é citado por Dehann (2007) e Lentini (2006) como programa popularmente utilizado para o teste de hipóteses. Estudos de Rajão (2008) e Braga & Landim (2008) apontam o FDS como uma excelente ferramenta para a modelagem de incêndios e teste de hipóteses. Rajão (2008) sugere a utilização do FDS na atividade de perícia de incêndio do Corpo de Bombeiros Militar do Distrito Federal. 2.6 Aplicativo FDS 2.6.1 Funcionalidade do FDS O Fire Dynamic Simulator (FDS), em português, “Simulador de Dinâmica do Incêndio”, é um aplicativo computacional desenvolvido pelo NIST que simula o fluxo do fogo e da fumaça em um incêndio. A rotina do programa foi desenvolvida baseando-se na solução numérica de equações relacionadas ao fluxo do fogo, enfatizando o fluxo de calor transportado pela fumaça. (MCGRATTAN et al, 2009) As equações diferenciais relacionadas à dinâmica do fogo no incêndio são solucionadas pelo FDS utilizando o método de diferenças finitas2 e o método de volumes finitos3. Os dados são atualizados em tempo real e interpretados numa malha tridimensional. O programa também possibilita a simulação da dinâmica da fumaça e os acionamentos Método criado para solução numérica de equações diferenciais usando para isto uma aproximação para um sistema algébrico que possa ser numericamente resolvido com técnicas de análise numérica. (MENEZEZ & DOMINGUEZ, 2006) 3 2 Método evoluído do método das diferenças finitas que utiliza para a resolução de equações diferenciais um modelo baseado em grandezas físicas. (SILVA, 2008) 14 dos sprinklers, sendo que, para isto são utilizadas coordenadas de Lagrange4. (MCGRATTAN et al, 2009) Além das ferramentas contidas no aplicativo, existem add-ons5 que podem ser integrados ao FDS para diversas funcionalidades, como, por exemplo, o 3dsolid2fds ferramenta criada por Johannes Dimyadi em 2008 e utilizada para exportar elementos gráficos tridimensionais em formato CAD para o formato de entrada do FDS. 2.6.2 Modelos utilizados pelo FDS Modelo hidrodinâmico O FDS utiliza a solução numérica das equações de Navier-Stokes próprias para escoamento de fluídos em baixas velocidades, considerando a condução térmica realizada pela fumaça e pelo fogo. Modelo de combustão O modelo utilizado pelo FDS é o de fração de mistura. Ou seja, é definida a fração de gás que se transforma em combustível efetivo na reação de combustão. Rangel e Büchler (2005) citam que utilizando este método torna-se possível o cálculo de situações intermediárias de combustão. Tais situações são características de incêndios reais, onde ocorrem reações de combustão incompleta. Para aplicação computacional, o método é consideravelmente eficiente, uma vez que não é utilizado um grande número de equações, mas apenas uma equação por caso. (RANGEL E BÜCHLER, 2005) Método desenvolvido pelo matemático Joseph Louis Lagrange para determinação da trajetória da partícula de um fluido em um escoamento (www.dec.ufcg.edu.br/biografias/JophLouL.html, acessado em 15/09/2009) Programas (software) que ampliam os recursos de outros programas. (www.dicweb.com, acessado em 15/09/2009) 5 4 15 Radiação térmica O modelo utilizado para o cálculo é baseado no método do volume finito. O método é eficiente para aplicação computacional, pois, apesar da complexidade dos fenômenos, é utilizada uma capacidade mínima do computador. Superfícies sólidas Os materiais especificados para simulação do incêndio devem possuir informações sobre seu comportamento de queima e condições térmicas. A transferência de calor e massa entre as superfícies são normalmente determinadas empiricamente. No FDS, pode ser utilizado o Direct Numerical Simulation (DNS), método que possibilita calcular esta transferência. Sprinklers e detectores automáticos O FDS utiliza a correlação entre a inércia térmica e a diferença do fluxo de calor para simular a ativação dos sistemas de sprinklers, detectores de calor e de fumaça. A simulação do efeito da água pulverizada pelo sprinkler é calculada utilizando o modelo das equações de Lagrange. 2.6.3 Dados de entrada Para a simulação, são necessários dados de entrada, que são parâmetros inseridos pelo usuário e interpretados pelo FDS para a construção do cenário e das propriedades físicoquímicas dos materiais analisados. (MCGRATTAN et al, 2009) Todos estes parâmetros devem ser descritos pelo usuário num arquivo de texto. As informações inseridas dizem respeito aos limites físicos do cenário, ao número de células da área física virtual, as propriedades dos materiais, as condições de combustão, as condições do ambiente, a geometria das construções e as informações de saída. (MCGRATTAN et al, 2009) A área física virtual, que o autor cita como grade numérica, consiste na divisão do 16 cenário físico em diversas células tridimensionais de igual dimensão. Os objetos e construções inseridos no arquivo de entrada são descritos na forma de blocos retangulares tridimensionais e devem possuir tamanho mínimo de uma célula, sob o risco de não serem interpretados corretamente pelo aplicativo. (MCGRATTAN et al, 2009) Os materiais dos objetos e das construções são especificados considerando os diversos parâmetros relacionados às suas propriedades físico-químicas. Rajão (2008) cita os principais, além dos citados por Mcgrattan et al (2009), conforme descrevo a seguir com suas respectivas unidades de medida: • Condutividade térmica (W/m/K); • Calor específico (kJ/kg/K); • Densidade (kg/m3); • Espessura do perfil das estruturas ou da camada de sólido que compõem um objeto composto (m); • Temperatura de referência (Cº); • Calor de reação (J/kg); • Calor de combustão (J/kg). Mcgrattan et al (2009) cita que as propriedades dos materiais tais como condutividade térmica, calor específico e espessura do perfil podem ser encontradas nos manuais dos fabricantes e em livros relacionados ao assunto. Já as informações dos materiais sobre o comportamento da queima sob diferentes fluxos de calor já são bem mais específicas, porém ainda assim é possível encontrar literatura relacionada a este assunto. 2.6.4 Dados de saída Os dados de saída do FDS podem ser gerados sob vários formatos. Usualmente são gerados arquivos de texto, onde os dados são separados por vírgulas (extensão CSV), arquivo facilmente visualizável em qualquer editor de planilha ou texto. (MCGRATTAN et al, 2009) Outra forma de saída de dados é a visualização gráfica, sendo que, para isto, o 17 aplicativo Smokeview, o qual faz parte do pacote de instalação do FDS, é o utilizado. O arquivo de saída para o Smokeview possui a extensão SMV. As informações de saída possíveis são várias. Estas informações consistem nas variáveis calculadas pelo FDS para cada simulação. Elas devem ser solicitadas no arquivo de entrada e cuidadosamente selecionadas, uma vez que, após o processo de simulação não há possibilidade de solicitar novos dados. (MCGRATTAN et al, 2009) Para cada unidade de célula, Mcgrattan et al (2009) cita a temperatura, densidade, pressão e velocidade como variáveis calculadas pelo FDS em função do tempo de simulação. Na superfície dos sólidos, o FDS calcula, entre outras variáveis, o fluxo de calor e taxa de massa consumida. Considerando esta infinidade de possibilidades de dados de saída, o usuário deve escolher cuidadosamente os dados interessantes para o seu estudo, devido também à possíveis limitações quanto a espaço na memória física do computador, uma vez que os arquivos de saída podem ser muito grandes. (MCGRATTAN et al, 2009) Para a fase gasosa, Mcgrattan et al (2009) cita as seguintes variáveis calculadas pelo FDS: • Temperatura do gás; • Velocidade do gás; • Concentração de cada gás; • Concentração de fumaça e visibilidade; • Pressão • Liberação de calor por unidade de volume; • Fração de mistura; • Densidade do gás; • Vapor de água por unidade de volume. Para superfícies sólidas, o FDS produz resultados associados à energia balanceada entre a fase sólida e gasosa, tais como (MCGRATTAN et al, 2009): 18 • Temperatura interna e externa; • Fluxo de calor de radiação e convecção; • Taxa de queima; • Vapor de água por unidade de área. O FDS gera ainda informações globais da simulação (MCGRATTAN et al, 2009): • Taxa total de liberação de calor; • Tempo de ativação dos sistemas de sprinklers e detectores automáticos; • Fluxos e massa e energia através das aberturas ou dos sólidos. 2.6.5 Smokeview Conforme Mcgrattan et al (2009), o Smokeview (SMV) é um aplicativo que produz imagens e animações dos resultados gerados pelo FDS. Este programa acompanha o pacote de instalação do FDS disponibilizado pelo NIST e produz resultados eficientes quanto a visualização da fumaça e do fogo, conforme os dados da simulação do FDS. A animação produzida pelo SMV é tridimensional e demonstra todo o modelo físico que o usuário inseriu no arquivo de entrada do FDS. O código de programação do SMV foi escrito na linguagem C, para a visualização dos dados, e Fortran 90, para a leitura dos dados gerados pelo FDS. O SMV utiliza as bibliotecas gráficas OpenGL e GLUT, além das bibliotecas utilizadas para captura de imagens, tais como a GD, PNG e JPEG. (FORNEY, 2008) É possível visualizar no SMV tanto dados dinâmicos quanto estáticos, além dos seguintes recursos, entre outros (FORNEY, 2008): Fumaça realística - o fogo, a fumaça e o jato dos sprinklers são demonstrados pelo aplicativo de forma realística, sendo que a transparência da fumaça é gerada a partir da densidade calculada pelo FDS. O fogo e o jato dos sprinklers são gerados a partir dos dados 19 de densidade da água e da taxa de liberação de calor, todos calculados pelo FDS. Contorno colorido – são contornos utilizados para visualizar informações da fase gasosa, tais como temperatura e densidade. Podem ser utilizados para a fase sólida com informações sobre o fluxo de radiação ou a taxa de liberação de calor. São desenhados na forma de planos coloridos ou em escala de cinza, horizontais ou verticais, conforme a direção das coordenadas. Vetores de fluxo – são similares ao contorno colorido, porém indicam a direção e a magnitude dos dados gerados. Exploração dos dados – para aumentar as possibilidades de análise e simulação dos dados, o usuário pode alterar a aparência da forma que informações são mostradas pelo SMV. É possível, por exemplo, inverter a ordem das cores dos objetos do cenário ou destacar algum dado específico. O usuário possui controle sobre o tempo da animação, de forma que pode escolher o instante da simulação que deseja analisar. Edição dos blocos – o SMV permite edição dos blocos inseridos no cenário, podendo modificar sua geometria e propriedades. Podem-se criar novos blocos ou apagar blocos existentes. O SMV realiza a edição modificando as linhas do arquivo de entrada do FDS. Movimento da cena – o usuário possui fácil controle do recurso de movimentação do cenário, tal como, aproximação em algum objeto ou rotação do cenário. Blocos transparentes – o SMV torna possível modificar as cores dos blocos do cenário podendo modificá-los para blocos transparentes, possibilitando a visualização da cena através destes sólidos. Passeio virtual (Tour) – recurso que simula, durante a animação, um trajeto percorrido pelo observador dentro do cenário, sob a visão do observador. O programa disponibiliza padrões de trajetos que podem ser modificados pelo usuário. Compressão de dados – recurso que permite comprimir os dados em arquivos de menor tamanho. A compressão é realizada pelo programa smokezip, o qual é executado em modo background, deixando o SMV livre para o usuário utilizar. A Figura 2.2 ilustra os diversos processos do pacote de aplicativos do FDS. 20 Figura 2.2 Diagrama ilustrando os arquivos usados e criados pelo FDS, Smokezip e Smokeview (FORNEY, 2008) 21 3 METODOLOGIA 3.1 Descrição do Caso em Estudo A situação escolhida para o estudo foi o laudo pericial do CBMDF sobre o incêndio ocorrido na QR 211, conjunto 02 casa 12, Samambaia-DF no dia 17 de dezembro de 2008, às 17h08min. O laudo identificado como LAUDO DE INVESTIGAÇÃO DE INCÊNDIO EM EDIFICAÇÕES N.º 220/2008, foi produzido pelos peritos de incêndio do CBMDF Cap QOBM/Comb Alessandro Santos da Rocha e 1° Ten QOBM/Comb Rissel Francisco Coelho Cardoch Valdez. Nos anexos do laudo estão contidos o croqui do local do incêndio e os registros fotográficos. Conforme os dados do laudo pericial, o incêndio ocorreu em um sofá de dois lugares e ocasionou a morte de uma criança com idade de 10 anos. O exame do local foi realizado no dia 18 de dezembro de 2008, sendo coletadas as informações como se seguem. 3.1.1 Foco inicial O local do foco inicial do incêndio foi um sofá de dois lugares, em tecido e espuma, com armação em madeira, localizado na sala de estar da residência, junto à parede comum a um dos quarto (Figura 3.1). 22 Figura 3.1 Croqui do local do incêndio (ROCHA; VALDEZ, 2008) 3.1.2 Forma de surgimento do incêndio A partir dos exames, os peritos concluíram que o incêndio surgiu devido ao contato do material combustível presente no sofá com uma chama aberta, provocada por ação pessoal indeterminada (Figura 3.2). 23 Figura 3.2 Sofá de dois lugares, material incendiado (ROCHA; VALDEZ, 2008) 3.1.3 Forma de propagação do incêndio O incêndio propagou-se com suas chamas na direção vertical e no sentido ascendente sobre o material combustível presente sobre o sofá de dois lugares (Figura 3.3). A fuligem da combustão incompleta dos materiais resultante da baixa ventilação local distribuiu-se horizontalmente basicamente na sala de estar. 24 Figura 3.3 Marca de combustão do sofá na parede de madeirite (ROCHA; VALDEZ, 2008) 3.1.4 Análise final e conclusão Após análise das informações obtidas nos exames realizados no local do sinistro, as fotos registradas e o termo de declaração da testemunha do incêndio, todos constantes no laudo, os peritos descartaram a hipótese de fenômeno termelétrico e a hipótese de que o incêndio tenha sido relacionado à superfície aquecida. Desta forma, os peritos de incêndio, considerando a confrontação harmônica e recíproca entre as informações prestadas e as investigações procedidas, concluíram que o incêndio foi causado por ação pessoal indeterminada, com a sub-causa de contato de chama aberta. 25 3.2 Descrição do Método Utilizado A hipótese baseada na conclusão do Laudo nº 220/2008 – CBMDF foi simulada utilizando o FDS, sendo que para isto, foi criado um arquivo de entrada para leitura do aplicativo. Neste arquivo foram inseridos os dados peculiares da hipótese a ser testada e os dados de saída desejados. Para a inserção dos dados de entrada, foi criado um arquivo com extensão .FDS com o nome de “laudo22008cbmdf.fds”. A inserção dos dados foi realizada utilizando o editor de arquivos de texto Bloco de Notas (Notepad) tudo no sistema operacional Windows Vista. A descrição da metodologia do uso do FDS é basicamente a descrição da produção do arquivo de entrada, a partir dos parâmetros escolhidos, utilizando a sistemática da linguagem de programação Fortran 90. 3.2.1 Informações gerais Nas três primeiras linhas, foram inseridos comentários sobre o arquivo de entrada, de forma a situar o usuário sobre do que se trata o arquivo. Tais comentários não interferem nos comandos de programação, possuem função apenas informativa. 1 Monografia do Curso de Especializacao em Pericia de Incendio e Producao de Provas Periciais 2 3 Pos-graduando Leandro Magalhães Mariani Arquivo de entrada para teste da hipotese do Laudo numero 220/2008 – CBMDF Na quarta linha inicia-se a linha de programação com o cabeçalho contendo a descrição do nome dos arquivos de saída e do título da situação que será simulada. 26 4 &HEAD CHID=' laudo22008cbmdf', TITLE='Simulação de incendio referente ao laudo 220/2008-CBMDF' / Na linha cinco, foi inserido o domínio computacional o qual representa o espaço físico real que será simulado. O parâmetro “IJK” representa o número de células em que o domínio tridimensional descrito será dividido, sendo “I” o número de células para o eixo “x”, “J” para o eixo “y” e “K” para o eixo “z”. As coordenadas do domínio computacional representadas pelo parâmetro “XB”, são expressas como os pontos iniciais e finais de cada eixo de coordenadas (x, y e z) em metros. 5 &MESH IJK=41,40,36, XB=0.0,4.1,0.0,4,0.0,3.6 / Na linha seis, foi informado o tempo referente à simulação que será realizada, expresso em segundos. 6 &TIME T_END=1200 / Na sétima linha, foi inserido um comando de miscelânea, o qual informa a superfície (SURF) padrão a ser utilizada na simulação se não for especificado o tipo de superfície, e a temperatura ambiente do cômodo (TMPA) de 25º C. 7 &MISC SURF_DEFAULT='PAREDE', TMPA=25 / 3.2.2 Dados de entrada A partir da oitava linha, foram inseridos os dados peculiares da situação específica que será simulada. Os dados específicos dos materiais componentes do sofá tecido e espuma 27 foram consultados na própria documentação do FDS. Na linha oito foi especificado o tipo de superfície que será simulada como a fonte de calor que ocasionará a ignição dos materiais. O “queimador”, do inglês, Burner, representa a fonte de calor com sua respectiva taxa de liberação de energia por unidade de área (HRRPUA), medida em kW/m2. O tipo de partícula que será liberada pela fonte de calor é especificado pelo parâmetro PART_ID, que no caso é a fumaça. O parâmetro RAMP_Q informa ao FDS que a energia do queimador será liberada por estágios conforme a proporção indicada no parâmetro ramp a partir da Linha 9. Ou seja, o queimador iniciará (T=0s) liberando 0,05% do valor do HRRPUA chegando a 100% da taxa de liberação somente no tempo T=30s. A partir de T=280s o queimador diminuirá sua taxa de liberação até um valor de 0,05% do HRRPUA em T=330s. Utilizando este fator, a simulação aproxima-se da realidade, pois é possível variar a taxa de liberação de calor. 8 9 &SURF ID='BURNER', HRRPUA=1000., PART_ID='SMOKE', RAMP_Q='ramp' / &RAMP ID='ramp',T=0.0,F=0.005/ 10 &RAMP ID='ramp',T=30.0,F=1.000/ 11 &RAMP ID='ramp',T=280.0,F=1.000/ 12 &RAMP ID='ramp',T=330.0,F=0.005/ Na linha treze, foram inseridas as dimensões e a localização da fonte de calor no domínio computacional, a partir das coordenadas X, Y e Z. No caso, a fonte de calor é caracterizada por um plano bidimensional (VENT) com dimensões de 10 x 10 cm. 13 &VENT XB= 1.60, 1.70, 3.35, 3.45, 0.60, 0.60, SURF_ID='BURNER' / A partir da linha quatorze até a linha vinte e um, foram inseridas as especificações peculiares ao tecido (MATL_ID), um dos materiais que compõem a estrutura do sofá 28 incendiado. Para a efetiva simulação, foram necessárias informações sobre o calor específico (SPECIFIC_HEAT), condutividade (CONDUCTIVITY) e densidade (DENSITY). 14 &MATL ID 15 SPECIFIC_HEAT 16 CONDUCTIVITY 17 DENSITY = 'TECIDO' = 1.0 = 0.1 = 100.0 Na linha dezoito, foi especificada a proporção de material consumida pela combustão a qual varia de 0 a 1, sendo, no caso, de valor 1, ou seja, todo o material será consumido (NU_FUEL). 18 NU_FUEL = 1. Na linha dezenove, foi especificada a temperatura de referência, que, conforme Mcgrattan et al (2009), é a temperatura onde a fração de massa do material diminui a uma taxa de 0.1 s (REFERENCE_TEMPERATURE). 19 REFERENCE_TEMPERATURE = 350. Na linha vinte e vinte e um, foram especificados o calor de reação (HEAT_OF_REACTION) e o calor de combustão (HEAT_OF_COMBUSTION) do tecido. 20 HEAT_OF_REACTION = 3000. 21 HEAT_OF_COMBUSTION = 15000. / 29 A partir da linha vinte e dois até a trigésima quarta linha foram inseridos os dados específicos da espuma, madeirite e do plástico. Os parâmetros inseridos foram semelhantes aos do tecido. A partir da linha quarenta e quatro foram inseridos os dados pertinentes a superfície do sofá (SURF_ID). Foi especificada a cor (COLOR) do sofá simulado e se o material será consumido durante a combustão (BURN_AWAY). 44 &SURF ID 45 COLOR 46 BURN_AWAY = 'SOFA' = 'GREEN' = .TRUE. Os materiais que formam o sofá foram colocados na linha quarenta e sete (MATL_ID). O parâmetro “(1:2,1)” gera uma interpretação no FDS de que o material é formado por tecido (1) e espuma (2), os quais formam uma camada de sofá (1). 47 MATL_ID(1:2,1) = 'TECIDO','ESPUMA' Na linha quarenta e oito foi inserida espessura de cada material que forma o sofá, ou seja, tecido (1) e espuma (2). A linha trinta e seis especifica o tipo de partícula que será liberado pela queima. 48 THICKNESS(1:2) 49 PART_ID = 0.002,0.1 = 'SMOKE' / Iniciando na linha cinqüenta, os dados específicos do material da parede e da televisão foram inseridos. 30 50 &SURF ID 51 COLOR 52 MATL_ID 53 THICKNESS 54 PART_ID 55 &SURF ID 56 COLOR 57 MATL_ID 58 THICKNESS 59 BURN_AWAY 60 PART_ID = 'PAREDE' = 'SANDY BROWN' = 'MADEIRITE' = 0.012 = 'SMOKE'/ = 'TV' = 'GRAY' = 'PLASTICO' = 0.01 = .TRUE. = 'smoke'/ Na linha sessenta e um foram inseridos os parâmetros relacionados à especificação das partículas de fumaça. Nesta linha o FDS interpreta que é desejada a visualização da fumaça na simulação. 61 &PART ID='SMOKE', MASSLESS=.TRUE., SAMPLING_FACTOR=1 / A partir da linha sessenta e dois até a linha cento e oitenta e nove, foram colocadas as obstruções físicas que compõem o cenário a ser simulado. Ou seja, foram inseridas as coordenadas tridimensionais que dimensionam os objetos contidos no cenário. O cenário foi desenhado previamente utilizando a ferramenta de desenho técnico AutoCAD 2007®. As coordenadas em formado de entrada do FDS foram importadas a partir do desenho em formato CAD com o auxílio da ferramenta 3dsolid2fds. As aberturas de portas e janelas do cenário foram especificadas a partir de suas coordenadas tridimensionais, conforme o exposto nas linhas abaixo (HOLE). Os indicadores 31 VENT representam as aberturas de ventilação do cenário, no caso apenas o plano da coordenada mínima de Z não possui abertura total, de forma a simular o assoalho. 190 191 192 193 194 195 196 &VENT MB='YMAX', SURF_ID='OPEN' / &VENT MB='YMIN', SURF_ID='OPEN' / &VENT MB='XMAX', SURF_ID='OPEN' / &VENT MB='XMIN', SURF_ID='OPEN' / &VENT MB='ZMAX', SURF_ID='OPEN' / &HOLE XB= 3.9, 4.2, 2.6, 3.4, 0.0, 2.1 / porta da rua &HOLE XB= 3.9, 4.2, 1.6, 2.1, 1.0, 1.8 / janela 3.2.3 Dados de saída O FDS permite diversas possibilidades de dados de saída. Numa simulação, o perito de incêndio deve atentar para escolha dos dados pertinentes à análise que será realizada para a produção da conclusão final. Na situação em estudo, a temperatura alcançada pelo local onde se encontrava o sofá em função do tempo é uma informação importante, considerando as conseqüências que o aumento de temperatura trouxe para o cenário e para a vítima fatal. Os dados de temperatura possibilitam também uma análise do comportamento da temperatura ambiente durante o incêndio. Adotando o local próximo da fonte de calor como referência, as linhas cinqüenta e três a cinqüenta e cinco descrevem o comando para a coleta dos dados da temperatura dos gases nos planos existentes nas coordenadas x = 1,50 m, y = 3,50 m e z = 0,60 m. 197 198 &SLCF PBX=1.50,QUANTITY='TEMPERATURE' / &SLCF PBY=3.50,QUANTITY='TEMPERATURE' / 32 199 &SLCF PBZ=0.60,QUANTITY='TEMPERATURE' / A linha cinqüenta e seis solicita a coleta dos dados relacionados a temperatura do ambiente. E na linha cinqüenta e sete foi informado o fim dos comandos do arquivo. 200 201 &BNDFQUANTITY='WALL_TEMPERATURE'/ &TAIL / 3.2.4 Simulação Após a produção do arquivo de entrada, foi executada a simulação a partir da linha de comando do Windows Vista® inserindo-se a linha descrita abaixo. fds5 laudo22008cbmdf.fds Primeiramente, a simulação foi executada com tempo igual a T=0, apenas para visualizar o cenário virtual criado pelo aplicativo (Figura 3.4). Figura 3.4 Simulação em T=0 do cenário virtual criado pelo FDS 33 Após visualização e verificação se a simulação do cenário ficou condizente com a situação real estudada, foi realizada a simulação com T=1200s. As múltiplas interações realizadas pelo aplicativo até o término do processo de simulação alcançou um tempo de 10h40min, utilizando um computador com processador Intel® Core™2 Duo T7700 de 2.40 GHz. 34 4 RESULTADOS Os arquivos gerados foram os seguintes: laudo22008cbmdf.out - Lista dos parâmetros de entrada e informações relevantes de saída, tais como tempo do processo de simulação e uso do processador. laudo22008cbmdf.prt5 laudo22008cbmdf.smv laudo22008cbmdf_01.bf - Dados dos comportamentos das partículas. - Arquivo de leitura do Smokeview. - Dados das fronteiras do cenário gerados pelo comando BNDF. laudo22008cbmdf_01.sf - Dados das fatias do cenário gerados pelo comando SLCF. laudo22008cbmdf_02.sf - Dados das fatias do cenário gerados pelo comando SLCF. laudo22008cbmdf_03.sf - Dados das fatias do cenário gerados pelo comando SLCF. laudo22008cbmdf_hrr.csv - Arquivo de dados separados por vírgulas sobre informações do calor liberado. Ao executar o arquivo laudo22008cbmdf.smv o programa Smokeview é iniciado e a simulação pode ser visualizada a partir da animação. A simulação do início e progressão do incêndio a partir da fonte de calor e visualização das chamas é possível executando o comando HRRPUV (RLE), no menu Load/Unload -> 3D Smoke. A simulação é iniciada a partir do tempo inicial T=0s (Figura 4.1). 35 Figura 4.1 Simulação em T=0s Em T=120s, já é possível visualizar a progressão das chamas sobre o sofá (Figura 4.2). Figura 4.2 Simulação em T=120s Em T=240s, as chamas iniciam a propagação para fora dos limites do foco inicial. 36 Figura 4.3 Simulação em T=240s Em T=360s, o incêndio generalizou no sofá (Figura 4.4). Figura 4.4 Simulação em T=360s Utilizando as informações de saída relacionadas à temperatura do ambiente, é possível 37 analisar a temperatura dos objetos contidos no cenário no momento T desejado. Para isto, basta executar o comando WALL TEMPERATURE no menu Load/Unload -> Boundary File. A temperatura dos objetos sólidos no momento T=360s é simulada conforme demonstra a Figura 4.6. A diferença das cores representa as diferentes temperaturas, conforme a legenda a direita. Figura 4.5 Temperatura dos objetos sólidos em T=360s Na Figura 4.6 e Figura 4.7, os pontos na cor preta representam o sólido carbonizado, que podem ser visualizados executando o comando char, no menu Show/Hide -> Boundaries. 38 Figura 4.6 Temperatura dos objetos sólidos em T=360s e carbonização Figura 4.7 Temperatura dos objetos sólidos em T=360s e carbonização 39 A partir da representação do estado de carbonização dos sólidos representados na a Figura 4.6, percebemos a semelhança entre o incêndio simulado e o estado final dos sólidos após o incêndio real (Figura 3.2 e Figura 3.3). A simulação nos permite inferir que, para a hipótese simulada, a extinção do incêndio ocorreu neste estágio, permanecendo as marcas de carbonização no momento T=360s, ou após 6 minutos do início da ignição do sofá. Considerando a representação das diferentes temperaturas, a simulação nos remete a um alcance máximo de 775º C na temperatura do cenário. Continuando a simulação, percebemos que o padrão de carbonização se distingue do estado final dos sólidos periciados. No momento T=372s, a parede de madeira atrás do sofá está quase totalmente carbonizada (Figura 4.8). Em T=444s, grande parte do teto e da parede já estão carbonizados (Figura 4.9). Figura 4.8 Temperatura dos sólidos e carbonização em T=372 40 Figura 4.9 Temperatura dos sólidos e carbonização em T=444s Para a fase gasosa, os arquivos de saída permitem visualizar a temperatura dos gases ao longo dos planos pré-determinados. O comando a ser executado está no menu Load/Unload -> Slice Files -> Temperature. A simulação calcula uma temperatura máxima de 1025º C dos gases do incêndio no momento T=360s. Na altura do sofá, a temperatura calculada está entre 425º C e 625º C (Figura 4.10 e Figura 4.11). 41 Figura 4.10 Temperatura da fase gasosa no plano x=1,5m em T=360s Figura 4.11 Temperatura da fase gasosa no plano y=3,5m em T=360s 42 5 CONCLUSÃO A simulação da hipótese com o FDS foi efetiva, tornando possível a visualização do comportamento do incêndio e a existência de mais um parâmetro de confirmação de que a hipótese defendida pelo perito está correta. A hipótese defendida pelos peritos que produziram o laudo nº 220/2008 é condizente com a situação de incêndio simulada no FDS. Os registros fotográficos são de extrema importância para a análise da simulação, permitindo a comparação dos resultados simulados com o produto do incêndio periciado. A simulação do comportamento do incêndio em função do tempo retorna informações sobre o tempo do incêndio e os comportamentos parciais do incêndio. Estes dados são importantes para o perito podendo ser utilizados, por exemplo, para análise dos dados pertinentes as entrevistas das testemunhas sobre o desenvolvimento do incêndio. A possibilidade de simulação da temperatura máxima atingida permite ao perito verificar no local do sinistro a existência de vestígios relacionados a materiais com ponto de ignição próximo ao da temperatura simulada, fortalecendo ainda mais a hipótese. Um fator importante da simulação é a possibilidade de visualização do material carbonizado. O produto do incêndio mais perceptível é o material carbonizado e o FDS permite a visualização do comportamento do processo de carbonização dos materiais em função do tempo. O material visual que o FDS permite produzir, tais como as figuras e vídeos da simulação, traz um escopo de informações amigável para o entendimento dos clientes interessados na perícia. Isto facilita a assimilação da conclusão do perito e diminui dúvidas leigas relacionadas ao comportamento do incêndio periciado. A base de programação do arquivo de entrada em Fortran 90 não causa grandes complexidades no processo de simulação. Os comandos utilizados são simples e alinhados a uma lógica instintiva a profissionais qualificados, contexto onde o perito de incêndio está inserido. Além disso, a tecnologia é acessível, uma vez que o programa é gratuito e um 43 computador pessoal é o equipamento necessário para a simulação. A qualidade das informações inseridas no arquivo de entrada do FDS exige do perito de incêndio um alto grau de conhecimento das propriedades físicas e químicas dos materiais existentes no cenário incendiado. A utilização da ferramenta induz a um aumento do hábito de pesquisa do perito nas literaturas de alta qualidade técnica visando à busca de dados cada vez mais confiáveis sobre as propriedades dos materiais. O aplicativo permite simular a concentração de monóxido de carbono e dióxido de carbono decorrentes da combustão. Evidencio a sugestão de estudos posteriores para verificar a efetividade da simulação do comportamento destes gases, considerando seu estágio de concentração letal para o ser humano durante o incêndio. Desta forma, a operacionalidade do uso do FDS condiz com as necessidades da perícia de incêndio. O aplicativo é eficaz no desenvolvimento de subsídios adicionais para a produção do laudo pericial. 44 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS BRAGA, George. C Barbosa. LANDIM, Helen R. de Oliveira. Investigação de Incêndio. In: SEITO, A. Itiu et al (org.). A segurança contra incêndio no Brasil. 1ª Edição. Projeto Editora. Barueri, 2008. p. 333-345. CONFEA. Resolução nº 345 de 27 de julho de 1990. Dispõe quanto ao exercício por profissional de Nível Superior das atividades de Engenharia de Avaliações e Perícias de Engenharia. 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Acesso em: 15 set. 2009. 47 APÊNDICE 48 APÊNDICE A - Código-fonte do arquivo de entrada para o FDS 49 Monografia do Curso de Especializacao em Pericia de Incendio e Producao de Provas Periciais Pos-graduando Leandro Magalhães Mariani Arquivo de entrada para teste da hipotese do Laudo numero 220/2008 – CBMDF &HEAD CHID='laudo22008cbmdf', TITLE='Simulação de incendio referente ao laudo 220/2008-CBMDF' / &MESH IJK=41,40,36, XB=0.0,4.1,0.0,4,0.0,3.6 / &TIME T_END=1200 / &MISC SURF_DEFAULT='PAREDE', TMPA=25 / &SURF ID='BURNER', HRRPUA=1000., PART_ID='SMOKE', RAMP_Q='ramp' / &RAMP ID='ramp',T=0.0,F=0.005/ &RAMP ID='ramp',T=30.0,F=1.000/ &RAMP ID='ramp',T=280.0,F=1.000/ &RAMP ID='ramp',T=330.0,F=0.005/ &VENT XB= 1.60, 1.70, 3.35, 3.45, 0.60, 0.60, SURF_ID='BURNER' / &MATL ID = 'TECIDO' SPECIFIC_HEAT = 1.0 CONDUCTIVITY = 0.1 DENSITY = 100.0 NU_FUEL = 1. REFERENCE_TEMPERATURE = 350. HEAT_OF_REACTION = 3000. HEAT_OF_COMBUSTION = 15000. / &MATL ID = 'ESPUMA' SPECIFIC_HEAT = 1.0 CONDUCTIVITY = 0.05 DENSITY = 40.0 N_REACTIONS NU_FUEL = 1. = 350. =1 REFERENCE_TEMPERATURE HEAT_OF_REACTION = 1500. HEAT_OF_COMBUSTION = 30000. / &MATL ID = 'MADEIRITE' 50 CONDUCTIVITY = 0.14 SPECIFIC_HEAT = 1.214 DENSITY = 800./ &MATL ID = 'PLASTICO' CONDUCTIVITY = 0.2 SPECIFIC_HEAT = 1.5 DENSITY = 1500. N_REACTIONS = 1 HEAT_OF_REACTION = 3000. HEAT_OF_COMBUSTION = 25000. REFERENCE_TEMPERATURE = 400. NU_FUEL = 1.0 / &SURF ID = 'SOFA' COLOR = 'GREEN' BURN_AWAY = .TRUE. MATL_ID(1:2,1) = 'TECIDO','ESPUMA' THICKNESS(1:2) = 0.002,0.1 PART_ID = 'SMOKE' / &SURF ID = 'PAREDE' COLOR = 'SANDY BROWN' MATL_ID = 'MADEIRITE' THICKNESS = 0.012 PART_ID = 'SMOKE'/ &SURF ID = 'TV' COLOR = 'GRAY' MATL_ID = 'PLASTICO' THICKNESS = 0.01 BURN_AWAY = .TRUE. PART_ID = 'smoke'/ &PART ID ='SMOKE', MASSLESS=.TRUE., SAMPLING_FACTOR=1 / &OBST XB = 4.0,4.1,-6.66134e-016,4.0,3.6,3.7 / &OBST XB =3.9,4.0,-6.66134e-016,4.0,3.56923,3.66923 / 51 &OBST XB=3.8,3.9,-6.66134e-016,4.0,3.53846,3.63846 / &OBST XB=3.7,3.8,-6.66134e-016,4.0,3.50769,3.60769 / &OBST XB=3.6,3.7,-2.22045e-016,4.0,3.47692,3.57692 / &OBST XB=3.5,3.6,-2.22045e-016,4.0,3.44615,3.54615 / &OBST XB=3.4,3.5,-2.22045e-016,4.0,3.41538,3.51538 / &OBST XB=3.3,3.4,-2.22045e-016,4.0,3.38462,3.48462 / &OBST XB=3.2,3.3,-2.22045e-016,4.0,3.35385,3.45385 / &OBST XB=3.1,3.2,2.22045e-016,4.0,3.32308,3.42308 / &OBST XB=3.0,3.1,2.22045e-016,4.0,3.29231,3.39231 / &OBST XB=2.9,3.0,2.22045e-016,4.0,3.26154,3.36154 / &OBST XB=2.8,2.9,2.22045e-016,4.0,3.23077,3.33077 / &OBST XB=2.7,2.8,2.22045e-016,4.0,3.2,3.3 / &OBST XB=2.6,2.7,-2.22045e-016,4.0,3.16923,3.26923 / &OBST XB=2.5,2.6,-2.22045e-016,4.0,3.13846,3.23846 / &OBST XB=2.4,2.5,-2.22045e-016,4.0,3.10769,3.20769 / &OBST 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&OBST XB=0.9,1.0,4.50473e-014,0.1,2.4,2.64615 / &OBST XB=1.0,1.1,4.49502e-014,0.1,2.4,2.67692 / &OBST XB=1.1,1.2,4.49502e-014,0.1,2.4,2.70769 / &OBST XB=1.2,1.3,4.49502e-014,0.1,2.4,2.73846 / &OBST XB=1.3,1.4,4.49502e-014,0.1,2.4,2.76923 / &OBST XB=1.4,1.5,4.49502e-014,0.1,2.4,2.8 / &OBST XB=1.5,1.6,4.49502e-014,0.1,2.4,2.83077 / &OBST XB=1.6,1.7,4.49502e-014,0.1,2.4,2.86154 / &OBST XB=1.7,1.8,4.49502e-014,0.1,2.4,2.89231 / &OBST XB=1.8,1.9,4.49502e-014,0.1,2.4,2.92308 / &OBST XB=1.9,2.0,4.49502e-014,0.1,2.4,2.95385 / &OBST XB=2.0,2.1,4.49502e-014,0.1,2.4,2.98462 / &OBST XB=2.1,2.2,4.49502e-014,0.1,2.4,3.01538 / &OBST XB=2.2,2.3,4.49502e-014,0.1,2.4,3.04615 / &OBST XB=2.3,2.4,4.49502e-014,0.1,2.4,3.07692 / &OBST XB=2.4,2.5,4.49502e-014,0.1,2.4,3.10769 / &OBST XB=2.5,2.6,4.49502e-014,0.1,2.4,3.13846 / &OBST XB=2.6,2.7,4.49502e-014,0.1,2.4,3.16923 / &OBST XB=2.7,2.8,4.49502e-014,0.1,2.4,3.2 / &OBST XB=2.8,2.9,4.49502e-014,0.1,2.4,3.23077 / &OBST XB=2.9,3.0,4.49502e-014,0.1,2.4,3.26154 / &OBST XB=3.0,3.1,4.49502e-014,0.1,2.4,3.29231 / &OBST XB=3.1,3.2,4.49502e-014,0.1,2.4,3.32308 / &OBST XB=3.2,3.3,4.49502e-014,0.1,2.4,3.35385 / &OBST XB=3.3,3.4,4.49502e-014,0.1,2.4,3.38462 / &OBST XB=3.4,3.5,4.49502e-014,0.1,2.4,3.41538 / &OBST XB=3.5,3.6,4.49502e-014,0.1,2.4,3.44615 / 53 &OBST XB=3.6,3.7,4.49502e-014,0.1,2.4,3.47692 / &OBST XB=3.7,3.8,4.49502e-014,0.1,2.4,3.50769 / &OBST XB=3.8,3.9,4.49502e-014,0.1,2.4,3.53846 / &OBST XB=3.9,4.0,4.49502e-014,0.1,2.4,3.56923 / &OBST XB=1.0,1.1,3.9,4.0,2.4,2.67692 / &OBST XB=1.1,1.2,3.9,4.0,2.4,2.70769 / &OBST XB=1.2,1.3,3.9,4.0,2.4,2.73846 / &OBST XB=1.3,1.4,3.9,4.0,2.4,2.76923 / &OBST XB=1.4,1.5,3.9,4.0,2.4,2.8 / &OBST XB=1.5,1.6,3.9,4.0,2.4,2.83077 / &OBST XB=1.6,1.7,3.9,4.0,2.4,2.86154 / &OBST XB=1.7,1.8,3.9,4.0,2.4,2.89231 / &OBST XB=1.8,1.9,3.9,4.0,2.4,2.92308 / &OBST XB=1.9,2.0,3.9,4.0,2.4,2.95385 / &OBST XB=2.0,2.1,3.9,4.0,2.4,2.98462 / &OBST XB=2.1,2.2,3.9,4.0,2.4,3.01538 / &OBST XB=2.2,2.3,3.9,4.0,2.4,3.04615 / &OBST XB=2.3,2.4,3.9,4.0,2.4,3.07692 / &OBST XB=2.4,2.5,3.9,4.0,2.4,3.10769 / &OBST XB=2.5,2.6,3.9,4.0,2.4,3.13846 / &OBST XB=2.6,2.7,3.9,4.0,2.4,3.16923 / &OBST XB=2.7,2.8,3.9,4.0,2.4,3.2 / &OBST XB=2.8,2.9,3.9,4.0,2.4,3.23077 / &OBST XB=2.9,3.0,3.9,4.0,2.4,3.26154 / &OBST XB=3.0,3.1,3.9,4.0,2.4,3.29231 / &OBST XB=3.1,3.2,3.9,4.0,2.4,3.32308 / &OBST XB=3.2,3.3,3.9,4.0,2.4,3.35385 / &OBST XB=3.3,3.4,3.9,4.0,2.4,3.38462 / &OBST XB=3.4,3.5,3.9,4.0,2.4,3.41538 / &OBST XB=3.5,3.6,3.9,4.0,2.4,3.44615 / &OBST XB=3.6,3.7,3.9,4.0,2.4,3.47692 / &OBST XB=3.7,3.8,3.9,4.0,2.4,3.50769 / 54 &OBST XB=3.8,3.9,3.9,4.0,2.4,3.53846 / &OBST XB=3.9,4.0,3.9,4.0,2.4,3.56923 / &OBST XB=0.38,0.7,0.443107,1.04311,0.8,1.25 SURF_ID='TV' /televisao &OBST XB=0.1,0.7,0.2,1.8,1.6,1.7 COLOR='SANDY BROWN' / &OBST XB=0.05,0.7,1.65689,1.8,0.8,1.6 COLOR='SANDY BROWN' / &OBST XB=0.1,0.7,0.2,1.8,0.0,0.8 COLOR='SANDY BROWN' / &OBST XB=0.1,0.7,0.2,0.343107,0.8,1.6 COLOR='SANDY BROWN' / &OBST 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Report "Simulação de Incêndio com o Fire Dynamic Simulator (FDS)"