INSTITUTO SUPERIOR DE EDUCAÇÃO CENECISTA DE CAPIVARI CAMPANHA NACIONAL DE ESCOLAS DA COMUNIDADE ISECC/CNEC CURSO DE PEDAGOGIA O desenvolvimento da prática de leitura como hábito diário e significativo ao aluno Crislaine Regina de Almeida Elis Juliana Pavioto Brunn Capivari, SP 2009 INSTITUTO SUPERIOR DE EDUCAÇÃO CENECISTA DE CAPIVARI CAMPANHA NACIONAL DE ESCOLAS DA COMUNIDADE ISECC/CNEC CURSO DE PEDAGOGIA O desenvolvimento da prática de leitura como hábito diário e significativo ao aluno Monografia apresentada ao Curso de Pedagogia da ISECC/CNEC Capivari, para obtenção do título licenciado em Pedagogia. Orientador: Profº Ms. Carlos Eduardo Klebis. Crislaine Regina de Almeida Elis Juliana Pavioto Brunn CAPIVARI, SP 2009 ALMEIDA, Crislaine Regina. BRUNN, Elis Juliana Pavioto. O desenvolvimento da prática de leitura como hábito diário e significativo ao aluno . Projeto de Pesquisa de Monografia de Conclusão de Curso. Curso de Pedagogia. Instituto Superior de Educação Cenecista de Capivari – ISECC. 43, 2009. RESUMO Este estudo aponta para a necessidade de considerar a leitura, mais precisamente a aquisição da leitura, como um processo comunicativo desde os seus princípios, nos anos iniciais da escolaridade, sendo assim, tratamos do processo de planejar as atividades de forma a realmente integrarem as estratégias pedagógicas com as expectativas cognitivas e sociais dos educandos. Analisamos algumas considerações sobre o papel da escola, como a biblioteca e a prática de leitura na sala de aula, e o papel dos educandos, suas práticas de leitura e seu plano pedagógico para o desenvolvimento deste hábito nos alunos. Além disso, mencionamos que a leitura e o desenvolvimento de seu hábito diário pelos educandos, parte não somente da decodificação do texto, mas sim de uma interação entre os conhecimentos prévios do leitor, isto é, sua vida social e as competências e conhecimentos que possuem, com a busca de sentidos num texto a partir de uma leitura. Palavras-chave: 1. Leitura. 2. Escola. 3. Aluno. 4. Processo Ensino Aprendizagem. SUMÁRIO Apresentação.............................................................................................................................08 Introdução.................................................................................................................................10 Capítulo I Breve Histórico do livro...........................................................................................14 1.1 Ensino da língua e da leitura...............................................................................................16 1.2 Leitura e prática escolar......................................................................................................19 1.3 A leitura do educando e a prática do educador...................................................................22 Capítulo II A leitura em sala de aula ......................................................................................25 2.1 Plano de ensino para o desenvolvimento de leitores no âmbito escolar.............................27 2.2 Biblioteca escolar................................................................................................................37 2.3 Relação leitura, escritor e leitor e a produção de sentido de um texto................................39 2.4 O letramento e sua relação com o hábito da leitura dentro e fora da escola.......................41 Considerações Finais.................................................................................................................43 Referências bibliográficas.........................................................................................................45 EPÍGRAFE “Pra mim, livro é vida; desde que eu era muito pequena os livros me deram casa e comida. Foi assim: eu brincava de construtora, livro era tijolo; em pé, fazia parede; deitada fazia degrau de escada; inclinado, encostava num outro e fazia telhado. e quando a casinha ficava pronta eu me espremia lá dentro pra brincar de morar em livro. De casa em casa eu fui descobrindo o mundo (de tanto olhar pras paredes). Primeiro, olhando desenhos; depois, decifrando palavras. Fui crescendo; e derrubei telhados com a cabeça. Mas fui pegando intimidade com as palavras. E quanto mais íntima a gente ficava, menos eu ia me lembrando de consertar o telhado ou de construir novas casas...” NUNES, Lygia Bojunga. Livro: um encontro com Lygia Bojunga Nunes. Rio de Janeiro: Agir, 1988. DEDICATÓRIA A Nosso Senhor Deus Pai Misericordioso... ...ao meu pai, que eu tenho certeza está orgulhoso de mim, e que está aplaudindo do céu mais essa conquista. ...a minha mãe, minha fortaleza que nunca se deixou abater pelas dificuldades. ...a meu irmão que é tudo em minha vida, que durante todos esses anos esteve ao meu lado ativamente. ...em especial minha querida amiga Elis Juliana, ou simplesmente Li. Presente em todos os momentos, presença verdadeira em todas as estações que a vida nos conduz. CRISLAINE ...em especial ao meu marido Cláudio André Brunn, por todo seu apoio, carinho e compreensão em todos os instantes deste longo e árduo caminho que percorri. ...dedico também a meu pai e minha mãe, pelo orgulho demonstrado, às minhas irmãs e a meu tio Fernando pela presença e satisfação e a minha querida avó Antonieta pelo exemplo a ser seguido. ....e a minha companheira Crislaine, por todos os momentos que dividimos nossas vidas. ELIS A nossa família: Nosso porto seguro nas idas e vindas, pela paciência e dedicação. Às amigas, a quem queremos bem, Para nós joias raras, uma certeza, porque as cativamos e nos deixamos cativar. CRISLAINE e ELIS AGRADECIMENTOS Em primeiro lugar, muito obrigada a nosso Bom Deus pelas graças concebidas durante a nossa formaçao. Obrigada também família querida que depositou em cada uma de nós confiança e dedicação. Obrigada as nossas amigas de classe, pois se vencemos foi porque estiveram ao nosso lado como guerreiras em busca desse sonho em comum. Agradecemos também com muito carinho todos os nossos professores e professoras que nos formaram pedagogas, pois a cada aula uma semente nova foi plantada e cultivada com carinho e dedicação. Muito obrigada ao nosso orientador e a nossa avaliadora que nos guiaram até esta conquista. Agradecemos também a gestão escolar: Teresa do Carmo Bedende, Clever Lobo e Ana Maria Reginato. Damos o nosso agradecimento também a todos os membros de nossa Faculdade que de alguma forma participaram de nossa formação acadêmica. APRESENTAÇÃO Nosso trabalho foi desenvolvido através de nossas reflexões e de nossas vivências como alunas, durante a graduação em Pedagogia. Foi através da realidade do ensino nas escolas, vista em nosso estágio, que construímos nossa pesquisa e, consequentemente, nossa reflexão para a melhoria e promoção do desenvolvimento da leitura no espaço escolar. Com as vivências e experiências das quais nós mesmas passamos, afirmamos em nosso estudo que muitas vezes os alunos acabam lendo algo que pouco desperta o interesse para a leitura, muitas vezes são textos que não condizem com a realidade do aluno. São utilizados textos artificiais, isso se faz perder o sentido pela leitura, se torna algo desinteressante. Como futuras pedagogas e estagiárias nas escolas, vimos que na maioria das vezes a situação da escola, ou melhor dizendo, da biblioteca escolar, não auxilia para que esse educando se interesse pelo ato de ler, existe ainda a falta de compromisso por parte de alguns educandos, quando trata-se do ensino da leitura. O mesmo reconhecemos nos livros didáticos, em que, os textos na maioria das vezes são inseridos em materiais que são distribuídos em todas as regiões do país, e falam do mesmo assunto, não dando ênfase a realidade vivida em cada região, ou seja, a realidade de um aluno que mora na região sudeste é totalmente diferente da realidade do aluno que mora na região nordeste. O aluno pode até ler o texto que está inserido no livro, mas não é interessante pra ele, com isso a vontade de ler não é instigada, pois o texto não fala da realidade, são textos soltos. Desta maneira, se vemos os textos como “sementes” e os alunos como “terreno”, é necessário plantar o conhecimento e regar/cuidar para que esse terreno dê frutos. Por isso, devemos sempre considerar os conhecimentos prévios dos alunos, todo aluno traz na bagagem, mesmo que seja pouco, mas traz conhecimentos prévios. Devemos trabalhar desde cedo, a leitura como algo significativo e prazeroso ao educando, devemos ainda inserir textos que despertem o interesse no aluno, pois todo texto é entendido através do conhecimento prévio do leitor, ele apenas ativa esses conhecimentos para realizar e interpretar sua leitura. Mostramos aqui que o aluno deve ter consciência que a leitura não é feita somente na escola, e que não é apenas algo que se use dentro de sala de aula, ele deve ter clareza que o hábito pela leitura se dá tanto dentro quando fora da sala de aula. Ressaltamos a necessidade da escola contar com uma biblioteca com variado acervo de livros, mas essas bibliotecas devem estar de portas abertas para recepcionar o educando, e ainda, deve ter um educador capacitado a atender as necessidades dos alunos dentro dessas bibliotecas. O aluno deve se sentir livre para escolher o livro que mais o agrade, independente de cor, forma, tamanho, figuras ou conteúdo. O aluno inicia o gosto pela leitura se incentivado a essa prática desde muito cedo, tivemos como exemplo o início do gosto pela leitura da aluna Crislaine uma das autoras deste trabalho, quando estava na 3ª Série / 4º Ano, a professora fez uma visita com seus alunos a biblioteca municipal e ela deixou os alunos livres para escolher o livro que mais os agradassem, a aluna Crislaine, por sua vez escolheu um livro com uma capa pink, com dois dragões desenhados, naquele momento era o que ela queria ler, não foi o conteúdo, nem o título do livro que chamou a sua atenção, mas sim a capa do livro por conter cores vibrantes, gostou tanto do livro que acabou ganhando da professora. Como futuras educadoras podemos afirmar que todo educador deve ser um leitor assíduo e mostrar aos educandos a importância da leitura, pois a mesma além de trazer conhecimentos é um meio de se conceber emoções, cultura... O professor ainda deve ter clareza do seu papel como educador e incentivador dessa prática, o educador deve cultivar a leitura no educando, e antes de mais nada, conhecer o seu valor social. Sendo assim os alunos irão aprender, conhecer e ter a consciência da importância da leitura, ao longo do processo escolar, deve-se ter ainda o acesso não somente a livros, mas a todo tipo de material escrito, para que isso venha a acrescentar conhecimento ao educando, principalmente no espaço escolar. O professor deve ser presente, cultivar o terreno da leitura com práticas variadas, sem se deixar levar por práticas mecânicas, ele deve buscar o melhor para oferecer aos alunos e para melhorar sua prática docente. Dessa maneira, acreditamos que para termos êxito no ensino da leitura, devemos ainda contar com um plano de ensino da leitura de alta qualidade, envolvendo ao longo do processo vários temas e autores, de modo a instigar o aluno para o hábito de ler, bem como o interesse dos membros da escola, em especial de nós educadores, para que desta maneira formemos alunos leitores. INTRODUÇÃO Muitas vezes, no ensino tradicional, o leitor é um mero receptor das informações e ideias veiculadas pelo texto, ou seja, não há a sua interação com o texto, deixando lacunas abertas em direção à construção de sentidos, que de forma geral, o texto pode apresentar. Sendo assim, o ensino de acordo com essa perspectiva tradicionalista não proporciona ao aluno, um leitor ou futuro leitor, uma visão de sentido real à leitura, já que os objetivos de uma leitura não são claramente determinados e especificados unicamente pelas palavras do texto, o que acaba limitando o estabelecimento de relações entre a leitura e a vida cotidiana do aluno, não cabendo neste espaço sua visão de mundo. Além disso, queremos mencionar como muitas vezes é precária a exploração pedagógica dos diferentes gêneros, tipos de textos e meios em que costumam ser veiculados, no ambiente escolar, uma vez que acreditamos que a interação de diferentes suportes escritos, conscientemente manipulada, leva o aluno a estabelecer significados mais coerentes à leitura, ao mesmo tempo em que, amplia o seu campo de conhecimento e o hábito de ler. Nossa preocupação é discutir nesse estudo quais atitudes direcionam o educador na formação de crianças leitoras, e considerar que o ensino de leitura deve estar associado a práticas que estimulem a compreensão do mundo, a criatividade, a autonomia, a curiosidade, a formulação de hipóteses de sentido, a verificação dessas hipóteses, a busca de significações e informações, o uso de estratégias, para que toda e qualquer leitura seja proficiente, significativa e proveitosa, pois a criança , segundo o período operatório concreto de Piaget, começa a desenvolver operações de pensamento lógico que podem ser aplicadas a problemas reais, concretos. Essas operações, de acordo com Piaget (1983), são executadas não mais material, mas interior e simbolicamente, e são ações que podem ser combinadas de todas as maneiras psicologicamente e ainda reversíveis, fatores que são otimizados através de um desenvolvimento pedagógico eficaz, principalmente com relação a prática prazerosa da leitura no espaço escolar. Ressaltamos em nosso trabalho que em um bom ensino da língua portuguesa não se deve permanecer quaisquer práticas pedagógicas, assim como afirma Kleiman (2002, p.32): “(...) não podem permanecer práticas obscuras e obsoletas que privilegiam apenas a decodificação de letras e a decifração linear e regular de palavras num texto, o que empobrece a qualidade da interação entre leitor e texto(...)” ; pelo fato de que as práticas pedagógicas proporcionam a apropriação de habilidades e estratégias por parte do aluno que podem torná- lo um leitor competente e promover seu desenvolvimento, se este conseguir estabelecer finalidades concretas para sua leitura e, principalmente, utilizá-la como formulação de sentidos, adaptando-a a cada situação ou texto, conforme suas necessidades cotidianas. Para tanto mencionamos a importância da ação pedagógica que orienta o ensino da leitura na escola, com especial atenção à aprendizagem ou mesmo o aprimoramento da competência de leitura e ainda a preparação adequada dos educadores: suas habilidades e competências sobre a leitura no contexto escolar e extra-escolar e sua prática social, para fim de servir como um exemplo a seus educandos. Igualmente tratamos o quanto é importante o entendimento das estratégias de leitura, dos níveis de conhecimentos prévios e possibilidades de leitura, dos modelos de interação entre leitor e texto no processo de leitura; e também o uso e a adequação desses princípios a diferentes situações em que ocorre a interação do leitor com o texto dependendo do contexto em que o leitor está inserido, do gênero textual a ser trabalhado e da finalidade da leitura, citado também por Silva (2000): Em relação aos textos, aqui tomados como as sementes para o fornecimento e a dinamização da leitura na escola, percebemos e destacamos uma série de problemas: na maioria das vezes, são artificiais e nada dizem às experiências, aos desejos e às aspirações dos alunos; são de segunda mão, inseridos nos livros didáticos através de critérios duvidosos; são como que contrabandeados pelas editoras para dentro das escolas, numa total desconsideração pelos interesses dos leitores e pelo trabalho do professor, são dispersos e fragmentados, dificultando o adentramento crítico em determinados problemas da realidade; são redundantes, do tipo sempre-a-mesma-coisa, cujos significados, exemplarmente prefixados, devem ser parafraseados pelo leitor para efeito de avaliação e nota; são ainda normativos e ideologicamente comprometidos com uma visão estática da realidade, mentindo sobre a vida social concreta; enfim, são textos que não interagem com o alunoleitor e contribuem para a morte paulatina de sua vontade de ler. (SILVA , 2000, p.17e18). Por este motivo, analisamos também, o quanto um plano pedagógico apropriado pode assegurar uma prática de leitura eficiente e proficiente aos educandos, no espaço escolar, e também de que forma os procedimentos didáticos no ambiente escolar devem ser coerentes considerando os conhecimentos prévios dos alunos e proporcionando a eles conhecimentos linguísticos e estratégicos que os motivem e os auxiliem na leitura, para que haja uma determinada interação com o texto e a leitura seja significativa. Acreditamos que a leitura, quando trabalhada pelos educadores de maneira que haja interação com o educando, tornar-se-á uma prática diária às crianças, jovens e adultos, mesmo para os alunos que não possuem um repertório linguístico e semântico tão amplo, principalmente aos alunos das séries iniciais, pois se considerarmos que estes já conseguem escolher os livros que querem ler, já são capazes de entender e compreender a manipulação dos livros, proporcionarão gradualmente um contato positivo dos alunos com a leitura, poderão desenvolver o gosto pelos livros e o hábito de ler. Segundo Oliveira (2005): É nesse momento que o professor tem a tarefa fundamental de contribuir para o desenvolvimento da maturação cognitiva da criança através da provocação constante de inadaptações ou desequilíbrios internos. Por essa razão, ele deve estimular a criança a pensar sobre o próprio processo de pensamento até conseguir organizá-lo. (OLIVEIRA, 2005, p. 32). Portanto, estratégias pedagógicas, como as quais abordamos, envolvem o aluno num processo automático e inconsciente que lentamente regula a sua relação de indivíduo e de leitor, através de sentidos presentes no texto que servirão na construção e, muitas vezes, reconstrução de saberes e competência do indivíduo como ser social e leitor, como afirma Freire (2003): O leitor utiliza estratégias necessárias para a compreensão de um texto, os níveis de conhecimento ativados pelo leitor no ato da leitura são indicadores de maior habilidade e competência. O texto em si não possui significados, ele apenas fornece pistas para que o leitor construa esses significados partindo do conhecimento e das experiências que já adquiriu ao logo de sua vida. Assim, a compreensão de um texto acontece quando o leitor ativa o conhecimento prévio que possui. Esse conhecimento integra vários outros, como o conhecimento linguístico, o textual e o de mundo. (FREIRE, 2003, p.38). O compromisso do professor na construção de nossa pesquisa, portanto, reside em promover o desenvolvimento dessas habilidades que, gradualmente, devem se tornar estratégias conscientemente manipulada, quando se leva a sério o ensino de leitura nas escolas, certos que a ação pedagógica comprometida com o avanço do educando, com relação a sua autonomia e à apropriação do seu dever social, nosso trabalho preocupa-se com a formação de leitores capazes de interagir positivamente com seu meio social de modo a propor e a operar mudanças em sua vida cotidiana. Nesse sentido, abordamos alguns elementos escolares que estão envolvidos no desenvolvimento de alunos leitores: como a história da leitura, a prática de leitura do educador, a biblioteca escolar, a leitura em sala de aula, a prática escolar de leitura, o ensino da língua e da leitura, projeto para o desenvolvimento de leitores no âmbito escolar entre outros temas, para que mecanismos como decodificação de um texto não mais sejam prioridade na vida escolar de alunos e professores. Para isso, o nosso trabalho baseia-se em pesquisas bibliográficas, estudos, pesquisas, seminários e reportagens que abordam a questão problemática da falta do hábito de ler e a importância da leitura significativa como prática diária no espaço escolar e fora dele. Esta breve discussão que ensaiamos aqui ancora-se em pesquisadores como: Silva (2000); Kleiman (2002); Orlandi (2000); Parâmetros Curriculares Nacionais para a Língua Portuguesa (1998); Oliveira (2005); Freire (2003); entre outros, que abordam em seus livros temas que discutem aspectos que envolvem a aquisição da leitura e a produção de sentido que ela pode gerar na vida do indivíduo, a importância da prática de leitura em sala de aula e trabalhos sobre a compreensão proficiente dos alunos no trabalho com a leitura. Uma vez que, temos por objetivos compreender a importância da leitura para a criança desde a educação infantil, sua identificação com mecanismos e práticas em sua formação como leitores, e ainda, entender aspectos relacionados ao desenvolvimento do hábito de ler através da discussão do papel do professor e sua prática no que diz respeito ao desenvolvimento do hábito de leitura em seus alunos, partindo de sua sala de aula. Temos a pretensão, neste trabalho, de conhecer as intervenções que o educador pode fazer para inserir a leitura como prática diária na vida do aluno, saber a importância de a escola formar leitores conscientes, pois a leitura é um meio para a interpretação da vida e do mundo, além disso ressaltar a leitura do mundo para a compreensão da leitura do texto e reconhecer que a prática de leitura forma cidadãos. CAPÍTULO I BREVE HISTÓRICO DO LIVRO A história do livro é atrelada à história da evolução da sociedade em seu aspecto político e econômico, uma vez que, desde as primeiras tentativas de registros escritos, ler e escrever eram privilégios de poucos. O livro, de acordo com dados históricos trazido pela enciclopédia de Civita (1973) tem aproximadamente seis mil anos, considerando todos os métodos e materiais que a humanidade utilizou para registrar a sua vida e registrar seus conhecimentos. De acordo com os dados da enciclopédia de Civita (1973), os sumérios utilizavam-se de placas de barros para armazenaram seus registros, enquanto os indianos registravam em folha de palmeiras. Já os maias e os astecas usavam um material que encontravam nas árvores, entre a casca e seu tronco e os romanos utilizavam para escrever tábuas de madeira com cera. Afirma ainda que os egípcios desenvolveram a arte do papiro, uma matéria-prima encontrada às margens do rio Nilo, eles uniam suas fibras e as tiras serviam como base para a escrita hieróglifa, formavam rolos manuscritos que chegavam a vinte metros de comprimento. O papel como conhecemos surgiu na China no início do século 2, através de um oficial da corte chinesa, a partir do córtex de plantas, tecidos velhos e fragmentos de rede de pesca. A técnica baseava-se no cozimento de fibras do líber - casca interior de certas árvores e arbustos - estendidas por martelos de madeira até se formar uma fina camada de fibras. Posteriormente, as fibras eram misturadas com água em uma caixa de madeira até se transformar numa pasta. Mas a invenção levou muito tempo até chegar ao Ocidente. (CIVITA, 1973, p. 81). Desta maneira, primeiramente o papel e em seguida o livro são considerados os principais meios, suportes para registros e aquisição das informações e conhecimento humano. Através da história, trazidas pela enciclopédia (CIVITA, 1973) soube-se que os árabes foram os responsáveis pela instalação da primeira fábrica de papel na cidade de Játiva, Espanha, em 1150 após a invasão da Península Ibérica, revelando assim como os registros estão ligados ao aspecto político de uma sociedade, e ainda, descobriu-se que no final da Idade Média, a importância do papel cresceu com a expansão do comércio europeu e tornouse produto essencial para a administração pública e para a divulgação literária, por este motivo por muitas vezes o livro ou seus leitores sofreram censura, perseguição. No século XV, os livros eram confeccionados à mão, por monges em conventos, logo os temas eram ligados a religião, isto quer dizer que, não eram muitas pessoas que poderiam possuir estes livros e que levava-se um bom tempo para a finalização do trabalho de copiar. Segundo Silva (2000), devemos considerar que apesar de os livros estarem em difícil acesso várias pessoas intelectuais, cultas e curiosas queriam ler, queriam possuir o conhecimento gerado através da leitura, pois nesta época o livro foi consagrado como meio de ascensão social. De acordo com a enciclopédia de Civita (1973), neste cenário que surge o inventor da arte de imprimir, Johannes Gutenberg que inventou o processo de impressão com caracteres móveis a tipografia. Nascido, em 1397, na cidade de Mogúncia, Alemanha, trabalhava na Casa da Moeda onde aprendeu a arte de trabalhos em metal. Em 1428, Gutenberg partiu para Estrasburgo, onde fez as primeiras tentativas de impressão. Depois que Johannes Gutenberg inventou a prensa tipográfica, as informações e o conhecimento começaram a ser divulgados de forma mais rápida, as histórias, poesias, contos, cálculos matemáticos, ideias e ideais poderiam, a partir desse momento possuir um número maior de conhecedores. Seu invento permaneceu o mesmo praticamente por quatro séculos, pois somente a partir do final do século XX e início do século XXI ocorreu uma revolução tecnológica no que diz respeito à impressão e os meios de comunicação, consequentemente, ampliou-se o acesso, a tiragem dos livros e a ampliação do número de leitores. Plínio Martins Filho (2002), presidente da Editora da USP e professor no curso de Editoração da Escola de Comunicações e Artes (ECA), diz que o consumo de livros no Brasil só não é maior por uma questão de hábito: Uma das causas da falta de hábito é que a leitura tem que disputar espaço com outras formas de entretenimento. As grandes editoras do Brasil surgiram junto com o rádio e a televisão que, de alguma forma, são meios de lazer baratos e de fácil acesso... A distribuição e a divulgação de livros no Brasil são precárias. Não há verba para se fazer divulgação de livros pela televisão, que é uma mídia cara. E os jornais tratam como assunto de final de semana. Um exemplo disso é que na França a venda de jornais aumenta no dia em que são publicadas resenhas. No Brasil as resenhas são publicadas nos dias em que se vendem mais jornais. (MARTINS FILHO, 2002, p. 02)1. Ainda de acordo com Martins Filho (2002), a utilização do livro de forma democrática e popular é um desafio a ser enfrentado pela Câmara Brasileira do Livro (CBL), fundada em 1946, uma de suas iniciativas foi criada com a missão de desenvolver a leitura no país e 1Declarou numa entrevista de 2002, postada no site da Universidade de São Paulo (http://www.usp.br/espacoaberto/arquivo/2002/espaco24out/vaipara.php?materia=0varia), acessado em junho de 2009. ampliar a produção brasileira: A CBL, uma entidade sem fins lucrativos que reúne editores, livreiros e distribuidores, realizou em 2000 uma pesquisa em todo o País para avaliar a indústria do livro nacional. Segundo a pesquisa, há no país cerca de 26 milhões de leitores, e 12 milhões de compradores são das classes B e C. Sendo que 60% têm mais de 30 anos, e 53% são moradores da Região Sudeste. Da população alfabetizada com mais de 14 anos, 30% leu pelo menos um livro nos últimos três meses. Ainda de acordo com os dados apurados, o grau de escolaridade mantém influência decisiva para a leitura. O grupo de pessoas que mais compra livros no país possui nível médio de escolaridade. (MARTINS FILHO, 2002, p. 06)2... Desta forma, com as bibliotecas e materiais pedagógicos, encontra-se, na escola, um local privilegiado de formação de futuros leitores, pois tem-se livros variados, educadores e educandos ávidos pelo saber. 1.1 ENSINO DE LÍNGUA E DE LEITURA Na instituição escolar tem-se o ensino da língua e da linguagem em que se espera que o aluno adquira o conhecimento sobre sua língua e também o hábito da leitura com atividades como leitura, interpretação e produção textual. No entanto, sabe-se que somente estes meios tradicionalistas não são motivadores do hábito de ler, uma vez que reduzem a leitura a uma simples atividade escolar e, na verdade, ela deve ser entendida como adensamento do conhecimento, ou seja, uma maneira pela qual o leitor aprofunda e amplia a sua percepção de mundo, em que, seus conhecimentos prévios se misturam a novas impressões adquiridas na leitura, transformando assim sua percepção de mundo. Desta maneira, a leitura deve afastar-se de algo mecânico, sem fundamentação com a vida do individuo, a leitura deve gerar, proporcionar conhecimentos que podem ser escolares ou não-escolares, participar de forma ativa na vida do indivíduo. Sendo assim, a leitura promovida pela escola deve atender a diversos aspectos para não se tornar alvo de fracasso ou simplesmente uma rotina escolar, assim como afirma Silva (2000): Ao ser institucionalizado, passando a responsabilidade da escola, o ensino da leitura perdeu sua naturalidade, caiu na esfera dos reducionistas e, de certo modo, transformou-se numa estafante rotina. Não mais se lê para melhor compreender a vida, mas para cumprir os artificialismos e pretextos impostos pela escola: 2http://www.usp.br/espacoaberto/arquivo/2002/espaco24out/vaipara.php?materia=0varia, acessado em junho de 2009. treinamento da língua “culta”, análises gramaticais, inculcação de valores, respostas fechadas a exercícios de compreensão e interpretação, pesquisas vazias na biblioteca da cidade, horários, provas, notas, etc.¹ com isso, a interação entre os textos e os leitores foi ficando cada vez mais distorcida, afetada ou estereotipada, desviando-se de propósitos como a fruição significativa e prazerosa, a reflexão, a discussão, a produção de novos significados, etc. (SILVA, 2000, p. 22). Podemos com isso afirmar que a leitura na escola, tem apenas o caráter secundário ao da escrita, apesar de andarem lado a lado, a escrita toma todo o tempo, enquanto a leitura é deixada sempre em segundo plano, ela, muitas vezes, no decorrer do ano letivo, é vista como uma atividade extra na aula. A leitura precisa ser compreendida como parte da vida, não só como uma atividade pedagógica, sendo assim, pode adquirir mais espaço durante as aulas e também fora do espaço escolar. A leitura, portanto, é o caminho para o leitor ampliar seus horizontes, transformar os conhecimentos que já possui e adquirir outros conceitos para sua vida social, essa expectativa deve ficar bem explicitada e entendida pelos educadores, que já possuem em sua individualidade de leitor e querem desenvolver em seus educandos a prática da leitura. Vale ressaltar as considerações de Silva (2000) sobre esse assunto: Filosoficamente falando, o homem possui uma consciência voltada para a busca incessante da verdade, para a descoberta do mundo e para a transformação dos elementos do real. E nós, professores, sabemos que essa afirmação é irrefutável, pois vivemos diariamente com a curiosidade e a atividade das crianças. Diante de um texto instigante, que fale às suas experiências e seus problemas reais, a criança se embala e se embola de maneira natural, sem a necessidade de tecnicismos pretensamente motivadores. (SILVA, 2000, p. 23). Portanto, a leitura pode ser concebida dentro do ensino e da escola de maneira natural sem precisar de métodos e formas para seu desenvolvimento, acreditamos que basta professores e alunos sentirem o quanto a leitura pode contribuir para a melhora da condição social e cultural do sujeito, para adquirir mais espaço dentro do currículo escolar. Vale ressaltar aqui que a instituição escolar, por muitas vezes, precisa demonstrar aos alunos os aspectos positivos da leitura, que são tão importantes para sua formação social, uma vez que, na sua vida familiar a leitura pode ainda ser algo estranho e negligenciado, pois a escola não tem como saber a realidade de vida de cada aluno. Os Parâmetros Curriculares Nacionais de Língua Portuguesa (PCNLP, 1998) tratam, não apenas, mas também, da importância da escuta de textos orais e escritos e atividade de leitura no ambiente escolar. Enfatiza também que as atividades de leitura devem considerar os alunos, o ambiente em que vivem, o grau de entendimento, assim como a valorização do conhecimento de mundo deles, para isso sugere leituras através de jornais, de revistas, de fotos de família, enfatiza a importância de se ler imagens, uma vez que, esta, além de ser texto, se compõe como uma unidade de significado para o indivíduo. Também sugere que o professor desenvolva práticas leitoras com textos de diferentes gêneros e veiculados em diferentes suportes, priorizando os que circulam socialmente, buscando a aprendizagem significativa do aluno. Isto quer dizer que, cabe ao professor proporcionar diferentes formas de se ler o mundo e também o acesso a diversidade de materiais escritos, ele é o referencial, o motivador, é nele que os alunos podem encontrar exemplos, por isso a escola é uma instituição que tem a capacidade de preservar e ampliar a prática de leitura, de formar leitores, assim como afirma Silva (2000): Modernamente, o único reduto onde a leitura ainda tem a chance de ser desenvolvida é a escola. O fracasso da escola nessa área significa a morte dos leitores através dos mecanismos de repetência, evasão, desgosto e/ou frustração. A qualificação e a capacitação contínua dos leitores ao longo das séries escolares colocam-se como uma garantia de acesso ao saber sistematizado, aos conteúdos do conhecimento que a escola tem de tornar disponível aos estudantes. (SILVA, 2000, p.7). Desta forma, o foco do desenvolvimento da leitura escolar e do hábito de leitura cotidiana dos alunos em sua maioria, é responsabilidade do professor, uma vez que este precisa ter conhecimento prévio de vários livros para inserir, comentar e estigar a curiosidade dos alunos por esta leitura, em sua sala de aula. É ele quem vai demonstrar as oportunidades geradas pela leitura, vai incentivá-la, torná-la reflexiva e efetiva. Além disso, o professor precisa conhecer as reais dificuldades e particularidades de sua sala de aula para que consiga aplicar as práticas de leitura como algo natural e cotidiana na escola e na vida do sujeito, para que, desta maneira, efetivamente forme leitores. São muitos os caminhos e os métodos em que os professores podem direcionar seus educandos, porém todos eles necessitam de uma reflexão teórica e também prática para que realmente a produção da leitura na escola dê satisfação ao aluno e ao professor, assim como afirma Silva (2000): Os professores teriam muito a ganhar caso retornassem a coisa - mesma, refletindo sobre a sua história de leitura, despojando-se dos entraves burocrático-intitucionais, questionando os atuais objetivos do ensino e tomando a leitura como “[...] o momento critico da constituição do texto, o momento privilegiado de interação verbal, uma vez que é nele que se desencadeia o processo de significação”3. Somente assim, ou seja, recuperando a naturalidade do ato de ler e combatendo a parafernália artificial enraizada nas escola, parece ser possível a encarnação da leitura na vida dos alunos. (SILVA, 2000, p. 23). 1.2 LEITURA E PRÁTICA ESCOLAR Para grande parte dos alunos a escola é o ponto de partida, é o início da convivência com livros, com a leitura em si. Desta forma, a escola deve abordar a leitura de modo em que o aluno se interesse por livros, para que isso leve o aluno a saber, a aprender com a leitura, a adquirir o prazer em ler e, consequentemente, a alterar a sua vida social. Desta maneira, o professor quando faz uma atividade de leitura em sua sala de aula, não deve selecionar o livro para o aluno, pois os mesmos devem analisar para descobrirem qual livro mais interessa, uma vez que cada aluno pode se interessar por gêneros diferentes, sendo assim, se a escolha partir do adulto pode limitar o prazer do aluno em praticar a leitura. Assim como afirma Freire (1995, p.45) “nada ou quase nada se faz no sentido de despertar e manter acesa, viva, curiosa, a reflexão conscientemente crítica, indispensável à leitura criadora, quer dizer, a leitura capaz de desdobrar-se na re-escrita do texto lido”, pois muitas vezes, o aluno é despertado a ler pela capa ou pelo título do livro. Em sua afirmação, Freire (1995) quer evidenciar que o que vale na leitura, muitas vezes é a vivência do aluno, ou seja, sua escolha de leitura, sua leitura e sua compreensão da leitura não baseiam-se em escolhas feitas pelos docentes, mas sim pela sua leitura com relação à sua experiência de vida, a sua relação social, como um indivíduo no mundo. Desta maneira, vale ressaltar que o papel da escola, portanto, é mostrar os caminhos que levam ao livro e não ao significado que os alunos vão encontrar na leitura, ou ainda, o significado que o livro tem, faz-se importante o educador saber que a interpretação da leitura e seu significado partirá do aluno, com relação a sua experiência de mundo. Dentre as várias possibilidades de atividades que o docente pode utilizar em sua prática diária é de fundamental importância o contato das crianças com os livros desde muito cedo, esse contato não deve ser entendido pelo professor como algo que normalmente acontece em casa, em seu cotidiano ou de sua família, muitas vezes cabe o professor assumir seus objetivos e também suas responsabilidades, sem esperar que o aluno vá em busca de livros ou leituras apenas de forma autônoma, pois faz-se muito importante a criança ter o 3ORLANDI, Eni. Discurso e leitura. São Paulo, Cortez/Editora da Unicamp, 1998, p.37 - 38. contato com o livro desde pequeno, é fundamental para tornar um aluno interessado pela leitura o contato direto com ela, diariamente. Destaca-se, neste momento, também o fato de o aluno não ter acesso à biblioteca escolar ser o começo para não gostar da leitura, os professores não deixarem os alunos a vontade para terem acesso aos livros pode tornar-se uma forma de bloqueio no aluno para seu hábito de leitura, para o seu desenvolvimento como um leitor assíduo e a leitura como algo prazeroso. Além disso, para propor atividades de leituras e ou momentos de leitura escolares ou extra-escolares o professor deve ter plena consciência da realidade do aluno, uma vez que as classes não são homogêneas, tem-se alunos com diferentes realidades, diferentes religiões, diferentes condições financeiras e de moradia, diferentes culturas, com isso o professor deve ver cada aluno de um jeito, mas deve olhar todos com o mesmo intuito, o de ensinar o prazer da prática da leitura, com atividades envolventes e diferenciadas, sem que a falta de acesso a diferentes materiais escritos torne-se para o aluno um desprazer à leitura. Para uma efetiva prática escolar deve-se ter em sala de aula o estímulo visual em primeiro lugar: levar aos alunos livros que prendam a atenção deles, deve-se deixar as crianças terem livre acesso aos livros desde pequenos, terem livros expostos em sala de aula e visitas agendadas para conecerem a biblioteca escolar. É de fundamental importância, também, que o professor realize esta atividade com prazer, entusiasmo e responsabilidade na construção de leitores. Importância também tem quando o professor em sua prática escolar mostra-se interessado em ler junto com o aluno desde a fase inicial escolar, ele deve servir de exemplo aos alunos, sempre estar com livros e deixar os alunos rodeados de leitura e ainda deixar a criança a vontade para ler o que ela mais gosta, o que mais chama a sua atenção e desperta o gosto por realizar diferentes leituras. O professor leitor é o exemplo fundamental para o aluno, ele serve de estímulo, por este motivo, este deve também refletir sobre sua prática diária de trabalho e promover roda da leitura, ter o canto da leitura em sala de aula, usar todas as possibilidades possíveis para que o aluno sinta-se interessado pela leitura, uma criança estimulada poderá certamente ser um futuro leitor. Segundo Porto (2001): Nosso desafio é o de não ser um mero transmissor de conhecimentos, mas um professor que saiba ler criticamente o mundo e, a partir das suas sínteses pessoais, possa organizar programas pedagógicos que possibilitem o diálogo e interação com seus alunos...Várias são as discussões sobre as diferentes estratégias para a prática da leitura e a iniciação literária. No entanto, o que se conquistou até o momento ainda não é definitivo. Por isso, é necessário que se continue buscando uma mudança mais profunda, não só nas metodologias, mas na mentalidade docente. (PORTO, 2001, p.7). O que talvez a autora está tentando dizer é que apenas direcionar caminhos ou promovê-los não são tão significativos quanto o valor pessoal que o educador pode demonstrar no trato com a leitura e sua prática em sala de aula e fora dela ou ainda com seus alunos. Por vezes, os professores se relacionam bem com os livros e com a leitura, há alguns que afirmam que não gostam de ler, outros que não veem a leitura como lazer; outros que as poucas leituras que fazem são quase que, exclusivamente, para a preparação das aulas. Ressaltemos esta afirmação de Kleiman (2002): Quando uma criança não encontra utilidade na leitura, o professor deve fornecer-lhe outros exemplos. Quando uma criança não se interessa pela leitura, é o professor quem deve criar situações mais envolventes. O próprio interesse e envolvimento do professor com a leitura servem como modelo indispensável: ninguém ensina bem uma criança a ler bem se não se interessa pela leitura. (KLEIMAN , 2002, p.34 ). Assim, o educador é um mediador entre o aluno e o processo de aquisição da leitura, elemento impulsionador. O educador cria, em sua sala de aula, condições para que seus alunos possam ler. Dessa forma, ao conquistar o hábito da leitura, com prazer e autonomia, tanto o professor, quanto o aluno, estarão ampliando seus conhecimentos, compreenderão que ler é interpretar a vida social, ampliar a visão de mundo, reconhecer o outro e a si mesmo na leitura. 1.3 A LEITURA DO EDUCANDO E A PRÁTICA DE LEITURA DO EDUCADOR A leitura deve ser uma atividade individual ou colaborativa, mediada e presente no cotidiano do ser humano, pois a cada dia este deve interpretar tudo que está ao seu redor, seja um texto oral, uma situação social ou até mesmo o texto escrito, assim como ressalta Kleiman (2005): Na leitura, a prática é colaborativa quando o professor se carrega de fazer perguntas que orientarão o leitor iniciante, ou quando o professor lê uma história para todos. Nesses casos, aquele que já é letrado (e necessariamente conhece o código) ajuda aqueles que não conhecem ainda o código nem a função das ilustrações no livro, mas que têm familiaridade com a prática de contar histórias e cooperam escutando em silêncio. (KLEIMAN, 2005, p. 25) Desta maneira, as práticas de leitura tão questionadas e cobradas dos educandos devem também ser motivo de questionamento para educadores, pois estes precisam necessariamente demonstrar que possuem um convívio com o mundo da leitura, para que, consequentemente, seja um motivador para a construção do hábito da leitura. De forma geral, a prática da leitura não está pautada em decodificar um código emitido, sua dimensão exige outras competências, assim como afirma Solé (1998, p. 67): O processo hermenêutico da leitura deve ser compreendido como uma unidade de três momentos: da compreensão, da interpretação e da aplicação. O sujeito apreende os sentidos, coteja-os à luz de seu conhecimento e introjeta-os, incorporando-os de acordo com suas possibilidades e necessidades. Além disso, as pesquisas nessa área definem o ato de ler, como um processo mental de vários níveis de compreensão que muito contribui para o desenvolvimento do avanço cognitivo dos indivíduos. De acordo com Oliveira (2001, p.10): “O processo de transformar símbolos gráficos em conceitos intelectuais exige grande atividade do cérebro, durante o armazenamento da leitura num número infinito de células cerebrais.” Sendo assim, o processamento cognitivo da leitura, segundo Kleiman (2002), pode ser entendido pela percepção do material linguístico através dos olhos, passando por mecanismos mentais de agrupamento e lançado em seguida para a memória semântica. Portanto, o comportamento do professor em sua prática pedagógica de leitura também pode fazer a diferença, ou seja, um professor que tenha o hábito de ler, que seja convicto da importância da leitura e que proporcione condições para a aprendizagem e desenvolvimento da leitura dos seus educandos certamente alcançará resultados positivos na formação de alunos leitores. Por outro lado, se a leitura for desenvolvida e usada somente como um instrumento de avaliação, de decodificação de um código, na prática escolar, certamente fará com que ela não flua naturalmente entre os alunos e seja até mesmo um fardo que dificilmente proporcionará ao aluno um gosto pelo ato de ler. Considerações que favoreçam a leitura de mundo dos indivíduos favorecem também o hábito de leitura, no entanto, mais uma vez é o educador, o professor que necessariamente deve compreender e fazer valer o significado da leitura do mundo, através de reflexões sobre as diferenças sociais e culturais que envolvem os educandos nos momentos de leitura e também de compreensão do texto lido, isto quer dizer que, deve-se afastar a ideia de que a leitura é apenas a decodificação de um código pronto e acabado, justamente pelo fato de ser possível realizar-se várias leituras de um único texto, ou seja, a leitura pode ser entendida como um processo que envolve também a compreensão do mundo, em Freire (2003, p.20) “A leitura do mundo precede sempre a leitura da palavra e a leitura desta implica a continuidade da leitura daquele (...)”. Segundo Freire (2003)), a leitura é um procedimento no qual o sujeito dispõem-se num trabalho ativo de interpretação e compreensão do texto, a partir de seus objetivos anteriores à leitura, de seu conhecimento sobre o assunto, ou ainda, sobre o autor e de tudo que este sabe sobre a linguagem. Desta maneira, a leitura não é um mecanismo de extrair informações, decodificar letras e palavras. A leitura é uma atividade que exige estratégias de interpretação, antecipação de ideias, inferências de conhecimentos prévios do sujeito sem as quais não é possível a realização de uma leitura proficiente. Desse modo, é possível entender que a construção do conhecimento dos alunos sobre leitura se faz através da mediação, do estímulo e deve fazer parte do seu cotidiano, enquanto o educador reflete sobre o desenvolvimento do hábito de ler, para que a leitura se torne significativa e inerente ao aluno, assim como reforça Orlandi (2000, p. 45): “A leitura está inerente à vida do aluno, bem como pode ser usada como uma prática pedagógica para a construção do conhecimento.” Por este motivo, os educadores, de modo geral, devem reavaliar os projetos que desenvolvem sobre a leitura ou sobre a maneira mais eficaz para conscientizar, incentivar e desenvolver a prática da leitura dentro e fora da sala de aula. Segundo Freire (2003), a conscientização sobre a importância do ato de ler, considerando a leitura como a interpretação e compreensão do mundo, devem ser conduzidas para os níveis de compreensão de um texto, como nível de conteúdo visível, nível da situação social e nível do projeto de escrita do autor. Usando as descrições e a reflexão trabalhada por esses diversos autores entende-se que a noção de leitura compreende atribuição de sentidos variados, pois faz-se necessário entender que a verdadeira leitura deve passar por níveis de compreensão, constatação, reflexão e transformação que vão além do que está escrito, por este motivo qualquer intensão de desenvolver ou praticar a leitura dentro ou fora do ambiente escolar deve levar em consideração que existem deferentes situação de leitura e maneiras de sentidos nela existentes. apreendermos os CAPÍTULO II A LEITURA EM SLA DE AULA No âmbito de desenvolver um espaço para a prática da leitura no espaço escolar e, principalmente, em sala de aula, o educador deve se questionar sobre o papel da leitura na vida social do indivíduo em formação. Uma vez que este precisa possuir esclarecimentos sobre o tema e também traçar objetivos para que efetivamente se desenvolva a prática de leitura nos educandos. Segundo Freire (2003), o papel do educador não se limita a criar condições de leitura ou propiciar acesso aos livros. O educador deve, antes de tudo, dialogar com o leitor sobre sua leitura, não perder de vista o sentido, ou possíveis sentidos que o leitor dá a leitura, assim a leitura é um processo de elaboração interna daquilo que é externo e importante para o indivíduo. Logo a motivação e a significação da leitura estão na vivência do sujeito, nas impressões prévia e concomitante, assim como argumenta Silva (2000), sobre o propósito da leitura: Além da observação critica e objetiva daquilo que ocorre na sua prática diária, o trabalhador-professor precisa de teorias que deem conta dos aspectos envolvidos no fenômeno da leitura. Sem a leitura critica das práticas cotidianas e sem teorias de leitura, os cuidados com o cultivo do terreno pode não surtir efeito algum, técnicas voltados para a dinamização da leitura e para a educação dos leitores também avançam no tempo, de acordo com as descobertas nessa área específica de cultivo e com os desafios impostos própria pratica ao longo da história. (SILVA 2000, p.20) A partir destas visões da leitura, o educador poderá planejar e propor atividades que possibilitam a criação de um espaço para motivar o ato de ler. Sendo assim, existir-se-á reflexão sobre a prática no desenvolvimento do futuro leitor, isto é, a leitura em sala de aula será um instrumento importante e usado de maneira consciente para a ação educativa e oferecerá situações favoráveis para que os alunos gostem de ler. Um exemplo, deste tipo de trabalho e preocupação pedagógica apresenta-se na pesquisa de Oliveira (2001): Durante a implantação de meu projeto de leitura levei em consideração a escola e os alunos com os quais eu iria desenvolver as práticas de leitura: é uma escola recém construída, conta com apenas dois anos de funcionamento. A escola localiza-se entre pequenos bairros onde a maior parte dos moradores são migrantes de outros estados que vieram para trabalhar nas cerâmicas da cidade e onde não se exige qualificação nem escolaridade sendo, pois, muitos deles analfabetos. Esta condição de ser migrante faz com que a escola tenha uma alta rotatividade de alunos, isto é, os alunos vêm e vão da escola sem a menor cerimônia. Quanto aos livros, as crianças não tinham acesso a eles porque tínhamos problema de espaço físico na escola, não tínhamos biblioteca e não havia uma organização e disponibilizasse os mesmos ao alunos. Os livros usados nesse meu trabalho, separei-os no início do ano, ainda antes de iniciar as aulas. (OLIVEIRA, 2001, p. 09). Deve-se compreender, neste caso, que a convivência com o livro e a formação do leitor são incentivadas e embasadas pelo compromisso assumido pelo educador, e também que essas práticas pedagógicas ocorrem de maneira diferente numa escola particular, escola pública estadual ou municipal, de periferia ou do centro, com poucos ou muitos alunos. No entanto, não podemos excluir que independente da realidade escolar ou do educando, as atividades de leitura estão presentes em todos os níveis socioeconômicos de nossa sociedade letrada, pois a realidade cultural do mundo de hoje está organizada pela escrita: propagandas, anúncios, identificações, informações, cartas, jornais, revistas, livros, documentos, rótulos entre outros. Por isso, a criança inserida em tal sociedade tem, desde muito cedo, oportunidade de interagir com o mundo escrito procurando entendê-lo e interpretá-lo. Desta maneira, a leitura em sala de aula, deve ser instrumento para despertar no leitor o interesse pela palavra escrita, pelas mais variadas realidades do homem, deve ser entendida, tanto pelos educadores quanto pelos educandos, como um instrumento privilegiado através do qual desenvolve-se a imaginação e o raciocínio crítico, como um meio de contato com outros mundos, um meio de ampliar horizontes, de desenvolver a compreensão do mundo e a comunicação entre as pessoas, uma vez que possibilita a aquisição de diferentes conhecimentos, conceitos e ainda pode despertar diversas emoções. O professor como mediador é responsável por despertar a leitura e a formação da prática desta, deve entender que, a leitura não pode ser confundida com decodificação de sinais, com reprodução mecânica de informações, ou com respostas prontas a todos e quaisquer elementos escritos pré elaborados, pois enquanto um projeto de busca de significados, a leitura deve ser geradora de novas experiências para o indivíduo porque aprender a ler significa também aprender a ler o mundo, dar sentido a ele, e a nós mesmos, assim como afirma Freire (2003): A leitura deve ser um instrumental para o educando e educador. Refiro-me a que a leitura do mundo precede sempre a leitura da palavra e a leitura desta implica a continuidade da leitura daquele... De alguma maneira, porém, podemos ir mais longe e dizer que a leitura da palavra não é apenas precedida pela leitura de mundo mas por uma certa forma de “escrevê-lo” ou de “reescrevê-lo”, quer dizer, de transformálo através de nossa prática consciente. (FREIRE, 2003, p.20) Não é somente ensinar e incentivar a leitura, é mais que isso, é mostrar ao educando que ele pode sim, através da leitura ver o mundo por um outro olhar, mostrar ainda que tudo se transforma quando interpretamos o mundo a nossa volta através da leitura, com isso teremos no futuro: adultos leitores e mais que isso, adultos críticos sobre o mundo em que vice. 2.1 PLANO DE ENSINO PARA O DESENVOLVIMENTO DE LEITORES NO ÂMBITO ESCOLAR Entende-se como Plano de ensino, neste trabalho o estabelecimento de uma rota a ser percorrida pelos membros da escola, a fim de orientar o trabalho pedagógico na formação escolar e social dos alunos durante o ano letivo, e segundo Libâneo (1994): Um processo didático, que desenvolve-se mediante a ação recíproca dos componentes fundamentais do ensino: os objetivos da educação e da instrução, os conteúdos, o ensino, a aprendizagem, os métodos, as formas e meios de organização das condições da situação didática, a avaliação. (LIBÂNEO, 1994, p.57). Faz-se necessário, portanto, a discussão de um plano de ensino de leitura no espaço escolar, que promova o desenvolvimento de habilidade de leitura em sala de aula, comprometido com práticas de leituras coerentes, que pretenda levar o aluno não somente a decodificar palavras e frases ou a compreender o significado linear e aparente, mas sim orientá-lo para transpor o que leu a seu mundo cotidiano, assim como, inferir seu mundo cotidiano à leitura realizada, para que esta tenha um sentido em sua vida como ser social. No ambiente escolar, o educando precisa ter contato com um plano que visa a formação de crianças leitoras, com princípios voltados à necessidade comunicativa, pressuposto essencialmente à formação do bom leitor, isto quer dizer que, a leitura deve ser reflexiva, tanto na sala de aula ou fora dela, para ampliar o interesse e a motivação do aluno e conseqüentemente do professor, que poderá contar com uma base organizacional: o Plano de Ensino de Leitura. Através do direcionamento do Plano escolher-se-á com maior comprometimento os momentos de leitura e as diferentes leituras, para que os alunos tenham acesso e se formem leitores conscientes. Essa diversidade de leitura, na sequência dos ciclos escolares, poderá refletir diretamente no ganho da qualidade do ensino na exata medida em que o aluno passa a interagir com diferentes textos e a adaptar-se a objetivos pedagógicos e sociais diversos, podendo transpor sua vivência no ambiente escolar e também por em prática em sua vida questões elaboradas e compreendidas no espaço escolar. Nesse sentido, o uso de diferentes materiais escritos como ferramenta pedagógica proporcionará ao aluno a construção do conhecimento de maneira mais criativa, autônoma, desafiadora e crítica. Entende-se aqui o percurso proposto por um Plano traçado em direção a objetivos que visem o ensino de práticas de leitura que conta necessariamente com a reflexão comprometida dos profissionais da escola para o êxito de seu funcionamento na formação do aluno. Ressaltamos também que os profissionais escolares envolvidos no desenvolvimento do planejamento didático-pedagógico precisam primeiramente ter uma visão reflexiva sobre seu desenvolvimento, para posteriormente, estimularem essa reflexão de leitores nos alunos, uma vez que a questão da reflexão sobre a ação reflete significativamente na prática educativa e gera a melhora e a transformação desta para o alcance dos objetivos: o hábito de ler. A participação, a colaboração e a cooperação de todos os membros da escola e muitas vezes da comunidade são requisitos básicos para que os educadores consigam desenvolver um trabalho autônomo, consciente, organizado e que de fato leve à transformação do hábito de leitura dos educandos. O processo de desenvolvimento deste tipo de Plano orienta-se por um conjunto de princípios que, por sua vez, conduzem os educadores a conquistarem os objetivos propostos, dentre eles o ajustamento do projeto com o perfil físico da escola e de seu processo de construção do saber educacional, com planejamento, ação, observação e reflexão, assim como sugere Silva (2000). A partir dessa caracterização, pretendemos, num segundo momento. Delinear alguns caminhos para o incremento dos esquemas metodológicos na área das práticas de leitura escolar. Sementes de boa qualidade,que germinem as plantas e permitam o amadurecimento dos frutos. Trabalhadores competentes, que cuidem do crescimento das plantas, combatendo, nesse processo, as ervas daninhas e outros perigos que podem afetar a produção. Domínio de conhecimentos e técnicas, pelos trabalhadores, sobre esse tipo especifico de cultura, sem o que não há como sustentar as etapas da produção. Equipamentos disponíveis, de modo a incrementar as fases de evolução da planta e permitir melhores colheitas. Sem o atendimento objetivo e equilibrado dessas condições ou pré-requisitos de trabalho, o terreno não produzirá leitura e leitores. (SILVA, 2000, p.17). Desta forma, a ação e a reflexão sobre a ação, neste caso do planejamento, caracterizam-se pela visão compartilhada por todos que o desenvolve, pela responsabilidade de entender criticamente a realidade educacional e pelos esforços de todos os membros da comunidade escolar para buscar soluções pedagógicas, para alcançar os objetivos propostos, pois um plano pedagógico não pode ser desenvolvido de forma não orientada, pois deve possuir sequência didática e objetivos pedagógicos. Para tanto, deve-se trabalhar em conjunto e o grupo escolar deve ser coerente em suas ideias e ações; por conseguinte, buscar debater as possíveis questões problemáticas sob uma orientação verdadeiramente pedagógica, para a realização plena de um projeto: que visa a melhora, transformação da prática social, aperfeiçoamento do uso da língua e aprimoramento das habilidades comunicativas, através da prática de leitura e também da leitura crítica de diferentes materiais escritos. Na verdade, o Ensino por Projetos acontece com a inserção da prática comunicativa como meio a atingir um fim no ambiente em que se quer operar a mudança. A transformação na prática educativa acontece justamente pelo fato de essa pedagogia estar centrada em uma sucessão organizada de tarefas e considerar a linguagem como mediação para vivenciar a realidade social. (PORTO, 2001, p. 15). Portanto, se a leitura e sua prática escolar forem tratadas com organização e objetivos previamente elaborados, a prática social da leitura ganhará uma perspectiva significativa e real para o leitor e sua prática de leitura. Destaca-se, também, a importância de selecionar e disponibilizar aos alunos diferentes tipos de textos e, ainda, explorar pedagogicamente o suporte em que são veiculados, para que esses elementos levem o aluno a ser um leitor e, acima de tudo, leve-o a estabelecer significado à leitura, ao mesmo tempo que, desenvolva-se o hábito diário de ler, assim como menciona Silva (2000). Se refletirmos bem, veremos que o professor é o intelectual que delimita todos os quadrantes do terreno da leitura escolar. Sem a sua presença atuante, sem o seu trabalho competente, o terreno dificilmente chegará a produzir o beneficio que a sociedade espera ou deseja, ou seja, leitura ou leitores assíduos e maduros...A própria formação do professor para o ensino da leitura deixa muito a desejar, levando-o a imitar procedimentos esclerosados ou a aplicar técnicas de ensaio-e-erro em suas aulas. Com esse professor enfraquecido pelas circunstancias, as sementes não vingam e as ervas daninhas, juntamente com outras pragas, começam a se alastrar por toda a área do terreno da leitura. Entre essas pragas colocam-se os sentimentos de desanimo, apatia e frustração do professor, a transferência de responsabilidades entre os professores, o autoritarismo e a estagnação de toda a escola. (SILVA, 2000, p.19) Como exemplo pode-se ter um plano como o apresentado pelas alunas: Crislaine Regina de Almeida e Elis Juliana Pavioto Brunn, elaborado durante a graduação em Pedagogia, 1º Semestre de 2009, para tornar a leitura uma atividade pedagógica dinâmica e significativa ao aluno, em que objetivos, conteúdos e estratégias se articulem para atingir êxito no trabalho com a leitura, no espaço escolar, para que desta maneira, o cotidiano do indivíduo seja invadido pelo mundo da leitura. Plano de ensino da leitura Infantil I (4 anos de idade) Objetivos Contato com materiais escritos. Estimular a atenção e participação nos momentos de leitura, realizar a hora do conto e dramatização de narrativas. Conteúdo Clássicos infantis, músicas de diferentes gêneros e apresentação de narrativas através de fantoches, manusear livros, jornais e revistas. Estratégia Trabalhar histórias infantis, utilizar rádio para trabalhar as músicas, o professor pode se caracterizar para contar histórias. Bibliografia sugerida4: •Livros que são brinquedos (Editora Grow) •Livros de madeira, de Lúcia Pimentel de Sampaio Góes (Companhia Industrial Saxônia) •Livros de pano (Maco) •Série “O Bichinho da Maça”, de Ziraldo (Editora Melhoramentos) •Livros dos sentidos, texto de Ruth Rocha e desenhos de Walter Ono (Quinteto Editorial) 4 Fonte: RESENDE, Vânia Maria, Literatura infantil e juvenil: vivências de leitura e expressão criadora, Editora Saraiva, 1997. Percebe-se que para esta sala preparou-se no plano um contato agradável e positivo da criança com o mundo da escrita, proporcionando a inserção do aluno no ambiente letrado e, ao mesmo tempo, lúdico e atraente. Infantil II (5 anos de idade) Objetivos Desenvolver a percepção visual, noção de espaço e tempo da narrativa, aprender a ter capacidade de recontar uma história, através de seus elementos principais como início, o clímax e o final, bem como seus personagens principais. Conteúdo Poesia, clássicos infantis, cantigas de roda e músicas. Estratégia Trabalhar com cantigas na lousa de maneira expositiva, utilização de livros para recontagem de histórias e teatro improvisados. Bibliografia sugerida5: •Que horta!, texto de Tatiana Belinky e ilustrações de Eva Furnari (Edições Paulinas) •O parque, texto de Maria Ângela Resende e ilustrações de Claudio Martins (Formato Editorial) •O parque, texto de Maria Ângela Resende e ilustrações de Claudio Martins (Formato Editorial) •Tem de tudo nesta rua..., de Marcelo Xavier (Formato Editorial) •Bichos, bicho!, texto de Ciça e ilustrações de Ziraldo (Editora FTD) Neste plano, direcionado a crianças de cinco anos de idade, ressalta-se o mundo da imaginação, portanto a criança pode utilizar-se do contato com a Literatura Infantil para desenvolver-se e ainda habituar-se com ela. 5 Fonte: RESENDE, Vânia Maria, Literatura infantil e juvenil: vivências de leitura e expressão criadora, Editora Saraiva, 1997. 1° Ano (6 anos de idade) Objetivos Deixar os alunos escolherem os livros que querem “ler”. Conteúdo Literatura infantil Estratégia Fazer periodicamente visitas a biblioteca com os alunos para que eles escolham o livro que querem apreciar e ler. Bibliografia sugerida6: •Você troca?, de Eva Furnari (Editora Moderna) •O curioso aluado, texto de Elias José e ilustrações de Eva Furnari (Editora Melhoramentos) •Um tigre, dois tigres, três tigres, Seleção de Neusa Pinsard Caccese e ilustrações de Eva Furnari ( Edições Paulinas) •O livro do trava-língua, texto de Ciça e desenhos de Zélio (Editora Nova Fronteira) Com esse trabalho o educador proporciona ao aluno a descoberta de novas histórias de maneira livre e consciente, pois sabe claramente o educador sabe claramente o objetivo que quer alcançar. Vale ressaltar a importância da sequência do plano desde a Educação Infantil, uma vez que, é o contato significativo com o mundo letrado levará o aluno ao hábito de ler e ao desejo de conhecer novos livros ou novas histórias. 1ª Série / 2° Ano (7 anos de idade) Objetivos Resgatar leitura, músicas, brincadeiras, textos que se sabe de memória, por meio do manuseio de livros, revistas e outros suportes de textos. Resgatar a vivência de diversas situações nas quais a leitura se faz necessária no mundo externo e interno à escola, ou seja, 6 Fonte: RESENDE, Vânia Maria, Literatura infantil e juvenil: vivências de leitura e expressão criadora, Editora Saraiva, 1997. possibilitar o contato com materiais de circulação na vida social. Conteúdo Materias impressos como livros, revistas , histórias em quadrinhos, jornais, folhetos informativos. Estratégia Valorizar a leitura como fonte de prazer e entretenimento para que o aluno aproxime os diversos materiais sociais de leitura e com suas brincadeiras diárias através de conversas, socialização e reflexão com os demais alunos da sala de aula. Bibliografia sugerida7: •Coleção “Conte Outra Vez”, de Mário Vale (Formato de Editorial) •Coleção “Conte Esta História”, de Maria José Boaventura (Editora Vigília) •Coleção “Bons Tempos”, de Rogério Borges (Editora Kuarup) •Série “Vaca Amarela”, de Canini (Editora Mercado Aberto) •Coleção “Peixe Vivo”, de Eva Furnari (Editora Àtica) •Coleção “As Meninas”, de Eva Furnari (Formato Editorial) •Coleção “Mágica e Ping-Pong”, de Eva Furnari (Editora FTD) Através deste plano as crianças da 1ª Série / 2° Ano, que já tem sete anos de idade, iniciam o manuseio e a reflexão sobre os diversos materiais escritos produzidos pela sociedade. Entendem como funcionam diversos materiais no cotidiano, ao mesmo tempo que, se envolvem no mundo da leitura. 2ª Série / 3° Ano (8 anos de idade) Objetivos Ampliar gradativamente as possibilidades de comunicação e expressão dos alunos, despetar interesse por conhecer vários gêneros orais e escritos, criar diversas situações de intercâmbio social nas quais possam contar suas vivências, ouvir as de outras pessoas, 7 Fonte: RESENDE, Vânia Maria, Literatura infantil e juvenil: vivências de leitura e expressão criadora, Editora Saraiva, 1997. elaborar e responder perguntas. Conteúdo Contos, poemas, notícias de jornal, informativos, parlendas, trava-línguas, trabalhados em sala de aula oralmente para todos os demais alunos ouvirem o trabalho de leitura do outro. Estratégia Executar práticas de leitura coletiva em que o aluno pode ler para a classe e em seguida todos poderão discutir e interpretar as diferentes leituras de acordo com a sua vivência de mundo. Bibliografia sugerida8: •A arca de Noé, poemas musicados de Vinícius de Moraes (Livraria José Olympio Editora) •Casa de brinquedos, composições musicais de Toquinho e outros •Coleção “Taba”, que traz obras da literatura infantil brasileira adaptadas, incluindo folclore, músicas e, a final, sugestões de dramatização para cada história (Abril Cultural) •Coleção “Era Uma Vez Grimm”, que contém contos tradicionais bem traduzidos (Editora Kuarup) •Coleção “Era uma vez Perrault”, que contém contos tradicionais bem traduzidos (Editora Kuarup) •Coleção “Era uma vez Andersen”, que traz livros com contos tradicionais bem traduzidos (Editora Kuarup) Com este trabalho durante a 2ª série / 3º ano, em que as crianças tem oito anos de idade, desenvolve-se a oratória, criticidade e, também, reforça o respeito mútuo em ouvir e respeitar o outro. 3ª Série / 4° Ano (9 anos de idade) Objetivos Uso da linguagem oral para conversar, brincar, comunicar e expressar leituras, necessidades, opiniões, ideias, preferências e sentimentos, e relatar as vivências nas diversas 8 Fonte: RESENDE, Vânia Maria, Literatura infantil e juvenil: vivências de leitura e expressão criadora, Editora Saraiva, 1997. situações de interação sobre o que lê e o mundo em que vive. Conteúdo Relato pessoal, biografia e auto-biografia. Estratégia Propor rodas de conversa para que os alunos relatem experiências de sua vida envolvendo assuntos sobre a sua vivência, memória e imaginação. Bibliografia sugerida9: •Traquinagens e estripulias, de Eva Furnari (Global Editora) •A Bruxinha Encantadora e seu admirador secreto, Gregório, de Eva Furnari (Edições Paulinas) •Amendoim, de Eva Furnari (Edições Paulinas) •Filó e Marieta, de Eva Furnari (Edições Paulinas) •Zuza e Arquimedes, de Eva Furnari (Edições Paulinas) Através dos objetivos propostos para esta série, nota-se que o conteúdo faz sentido, está articulado. Por vezes, os educadores sentem-se inseguros na preparação de objetivos para trabalhar com seus alunos, ou ainda, negligenciam a articulação dos objetivos que propõem com o conteúdo ou estratégia utilizados. Desta maneira, a nossa preocupação é ressaltar o valor pedagógico de um trabalho planejado e bem articulado. 4ª Série / 5° Ano (10 anos de idade) Objetivos Fatos em sequência temporal e casual com reconto de histórias conhecidas com aproximação às características da história original no que se refere à descrição dos personagens, cenários e objetos, com ou sem ajuda do professor. Formação de leitores críticos. Conteúdo 9 Fonte: RESENDE, Vânia Maria, Literatura infantil e juvenil: vivências de leitura e expressão criadora, Editora Saraiva, 1997. Narrativa sobre diferentes temas, policial, mistério, humor, fantasia e extraordinário. Textos veiculados em jornais e revistas do cotidiano. Estratégia Depois de ler um livro, um conto ou uma história, o aluno terá oportunidade em sala de aula de ser narrador e recontar através da memória e da sintetização do que leu para expor com êxito aos colegas de classe, levando em consideração a sequência temporal e casual da história. Disponibilizar jornais e revistas aos alunos para leitura individual e coletiva e para discussão crítica da leitura no espaço escolar. Bibliografia sugerida: • Revistas informativas veiculadas no meio social • Jornais locais, regionais e do estado • Panfletos e folhetos de propaganda e informação veiculados no meio socialização • Livros diversos da biblioteca escolar Ressalta-se neste período escolar a formação do cidadão, como o ser reflexivo e atento a sua realidade, ao mesmo tempo que, não abandona-se o prazer em ler, nem tão pouco a liberdade de expôr o que entendeu, o que sente. Nota-se, mais uma vez que, o conteúdo ajusta-se aos objetivos, bem como às estratégias, de modo que o trabalho seja significativo e interessante Observa-se no plano de leitura apresentado que cabe aos educadores grande parte da responsabilidade da formação social e cultural das crianças e assim consequentemente formar leitores proficientes, resolvida facilmente se houver um ensino de leitura vinculado a um projeto pedagógico associado a práticas que estimulem a compreensão do mundo, a criatividade, a autonomia, a curiosidade, a formulação de hipóteses de sentido, a busca de informação e construção do senso critico, como afirma Freire (1995), um ambiente de ensino e aprendizagem possibilita às crianças a descoberta, a criatividade, a invenção e a autonomia, pois permite o intercâmbio de informações que torna o aprendizado muito mais rápido e dinâmico. Por esta razão, acreditamos que um trabalho docente fundamentado e preparados, através de objetivos e metas prévios e claramente estabelecidos geram uma aprendizagem significativa aos alunos e educadores, na formação do aluno leitor. 2.2 BIBLIOTECA ESCOLAR A biblioteca escolar deve ser na escola um lugar de prazer, em que o aluno se torne um leitor, sem cobranças ou avaliações de leitura. Ela deve servir como um espaço de busca pela satisfação de leitura, local de informações, de literatura e conhecimento. Deve ser uma das várias maneiras de despertar no indivíduo o hábito da leitura, um lugar de estímulos para a imaginação e para a formação do sujeito como um ser crítico. Além disso, pode e deve ser também um local para diferentes buscas, segundo Porto (2001), como um laboratório, onde os educandos encontram teorias para soluções de problemas de âmbito pessoal e social, o resultado dessa investigação, portanto, deve funcionar como um meio de estimular a criação de novas teorias para solucionar os mesmos problemas ou outros que se apresentem em seu cotidiano como um ser social. Em suas obras, Freire (2003), tem destacado a importância do exemplo para que crianças e jovens se interessem pela leitura e desenvolvam o hábito de ler. Portanto, a escola que possui uma biblioteca escolar, efetivamente voltada para democratizar o acesso à leitura e ainda o prazer do leitor ser livre para escolher a leitura que quer apreciar, certamente formará leitores. Vale ressaltar que a biblioteca escolar estar preparada fisicamente para atender os alunos da escola não basta para termos leitores, faz-se necessário também que ele se desenvolva pelo exemplo em outros espaços tanto escolares quanto não-escolares, sendo assim educadores e familiares devem agir juntos no estímulo à leitura para as crianças em formação. Para tanto, existe um fator primordial: a biblioteca escolar deve atender não somente as crianças e jovens com literatura infantil ou infanto-juvenil, mas também adultos com variado acervo, convidando os adultos da comunidade a frequentá-la. Sendo assim, aponta-se ainda o fator lúdico que deve possuir a biblioteca escolar, uma vez que quanto mais atrativa ela for, maior será o interesse das crianças no período em que se formam leitores e maior será a vontade de frequentá-la nos momentos de ócio ou de busca por conhecimento, este local deve ser entendido pelos que organizam e pelos que frequentam como um espaço de cultura e convívio harmônico, assim como argumenta Porto (2001): (...)a biblioteca é formada pelo convívio diário das crianças e dos adolescentes, descobrindo livros, obras de referência, periódicos e participando das atividades de animação cultural. Nesse encontro diário desenvolve-se o trajeto afetivo, lúdico, cognitivo e existencial do leitor e do ser em formação(...). (PORTO, 2001, p. 22) Desta maneira, o objetivo de estimular a leitura através de um contato mais humano com o público infantil, juvenil e adulta, e, ainda, disponibilizar a eles um contato simples e agradável com materiais impressos sobre diferentes literaturas gerará, consequentemente, indivíduos frequentadores e praticantes de leitura e o resultado será o aprender, pois a leitura, desta forma, tornar-se-á um meio prazeroso de aquisição de conhecimento, informação, cultura e identidade. Em seu seminário “A Biblioteca Infantil e sua importância para a formação do leitor”, Porto (2001) reforça sua convicção na importância de bibliotecas para o público infantil e juvenil para formar leitores, sejam eles infantis, infanto-juvenis e escolares. E afirma ainda que é lá que, mesmo ainda bebês, podem tomar conhecimento do livro com suas ilustrações coloridas sugerindo histórias e aventuras e, assim, aos poucos, prazerosamente, iniciarem o gosto pela leitura. Afirma também que não seria possível envolver várias crianças e adolescentes, carentes de livros e leitores, senão proporcionando-lhes a convivência com as bibliotecas infantis, infanto-juvenis e escolares, pois é principalmente nas bibliotecas que poderão encontrar a riqueza e a diversidade de leitores, livros, formas de leitura e, consequentemente, poderão praticar escolhas espontâneas e críticas sobre o material que querem ler. Portanto, a biblioteca escolar deve ser reconhecida como espaço formador de leitores que precisa de livros e materiais impressos diversificados, um espaço físico organizado e pessoas acolhedoras para atender às crianças. 2.3 RELAÇÃO LEITURA, ESCRITOR E LEITOR E A PRODUÇÃO DE SENTIDO DE UM TEXTO De acordo com Oliveira (2001), ao longo do tempo a relação leitor e escritor foi se alterando e, muito embora na Antiguidade Grega e Romana a prática de leitura oral e silenciosa coexistissem, foi a partir da Idade Média que a leitura silenciosa foi conquistada pelos ocidentais. Tal conquista causou uma mudança que transformou a função mesma da palavra escrita, cuja a tarefa era preservar a memória de uma cultura em outro modelo que, segundo Chartier (2000), tornou o livro tanto um objeto quanto um instrumento de trabalho intelectual. A difusão da possibilidade de ler silenciosamente marca uma ruptura de importância capital. A leitura silenciosa permitiu um relacionamento com a escrita que era potencialmente mais livre, mais íntimo, mais reservado. Permitiu uma leitura rápida, especializada, capaz de lidar com as complexas relações estabelecidas nas páginas do manuscrito entre o discurso e suas interpretações, referências, comentários, índices. A leitura silenciosa criou a possibilidade de ler mais rapidamente e, portanto, de ler mais e de ler textos mais complexos. (CHARTIER, 2000, p.24) Nesse sentido, pode-se dizer que a relação escritor e leitor apresenta um paradoxo interessante se considerarmos que as estratégias e habilidades de leitura possibilitam melhor compreensão de um texto, além de permitir nuances de sentidos e de significados, por isso, contamos com inúmeras pesquisas atualmente voltadas para o desenvolvimento da prática de leitura. As formas e maneiras hábeis tanto de escrever quanto a de ler foram sendo aprendidas e modificadas através de práticas pedagógicas e sociais e pelo fato de contarmos atualmente com uma sociedade com um maior números de escritores e leitores de texto. Desta maneira, se o ato de ler proporciona gradativamente ao leitor proficiência, quanto maior a quantidade da leitura maior a qualidade o leitor adquiri, pois apreende novos conhecimentos, compreende novos sentidos e transforma sua vida, uma vez que, alimenta novas hipóteses para entender não só o texto, mas o mundo em que está inserido. Entende-se, assim, que a formação de uma leitura crítica baseia-se não somente no grau de escolaridade dos alunos, mas sim nos elementos que estes tiveram contato ao longo de sua formação como leitor. Isto implica na atuação dos docentes em suas ações pedagógicas desde os anos iniciais de escolaridade, do contato com o conhecimento e diversas leitura que o aluno adquiri na escola e fora dela. Desta maneira, o docente deve preocupar-se com a formação de leitor que proporciona a seus alunos levando em consideração a relação leitor e texto, e esclarecendo o distanciamento muitas vezes da relação escritor e leitor ou escritor e texto, e não buscar neles leitores de letras impressas apenas, meros decodificadores de sinais gráficos, mas leitores que percebam que o que importa são as relações que estabelece-se com os textos, em função de conhecimentos prévios e experiências sociais e, também, em função das transformações que os textos projetam nos indivíduos. Assim como afirma Bakhtin (apud LARROSA, 2000): ...O texto nos permite falar e escrever livremente, como nossas próprias palavras, porque o fazemos vir até nós, porque o mesclamos com nossas próprias palavras, porque encarnamos em nossa própria vida; podemos ser nós mesmos, isto é, formar nossas próprias palavras, porque não há um texto único; o infinito do texto está na multiplicidade e na pluralidade de suas traduções, de suas encarnações dialógicas. (BAKHTIN, apud LARROSA, 2000, p.124) Assim, conhecer o escritor, ou seus propósitos, ou o que seu texto quer dizer, não se faz tão importante quanto a relação do leitor com o que compreendeu ou começou a pensar, a entender, a partir da leitura,que se apresenta rica de possibilidades e significações, para o indivíduo. 2.4 O LETRAMENTO E SUA RELAÇÃO COM O HÁBITO DA LEITURA DENTRO E FORA DA ESCOLA Ao tratarmos do letramento e sua relação com a construção de hábitos de leitura, fazse necessário ressaltar a relação entre a cultura escrita e seu uso social dentro e fora da escola, pois a leitura e a escrita devem sempre ser ensinadas e exploradas pelo viés de seu uso social, possibilitando assim ao aluno uma aprendizagem significativa e o desenvolvimento real da prática de leitura, como afirma Kleiman (2005): As práticas de letramento escolares visam ao desenvolvimento de habilidades e competências no aluno e isso pode, ou não, ser relevante para o estudante. Essa diferença afeta a relação com a língua escrita e é uma das razões pelas quais a língua escrita é uma das barreiras mais difíceis de serem transpostas por pessoas que vêm de comunidades em que a escrita é pouco ou nada utilizada...Além disso, se uma criança participa de eventos de letramento no lar- por exemplo, escuta as histórias que um irmão mais velho, pai ou avô lê para diverti-la e distrai-la -, essa criança já associa o livro ao lazer, àquilo que lhe é prazeroso e aconchegante. Mas isso não é universal. (KLEIMAN, 2005, p. 33, p. 35) Conhecer o modo como a língua escrita está sendo utilizada em seus aspectos e funções sociais recebe a denominação de letramento, uma vez que, envolve não somente codificar ou decodificar uma mensagem, mas sim porque exerce diferentes funções e finalidades comunicativas. Para tanto, no âmbito de desenvolver o hábito da leitura nos educandos os usos e funções da escrita devem ser trabalhados para ampliarem gradativamente a discussão e a posição crítica do aluno com relação ao meio social em que está inserido. Desta maneira, o letramento pode ser utilizado como ferramenta no desenvolvimento das habilidades de leitura e escrita, pois uma vez inserido na cultura do mundo letrado o aluno já possui conhecimentos prévios que podem ser utilizados na construção de novos conhecimentos pela mediação do professor no ambiente escolar: O aprendizado e o desenvolvimento da leitura e da escrita ocorrem parte no cotidiano, no nosso dia a dia, e parte por meio de atividades sistemáticas na escola, com a utilização de reflexões sobre as práticas de nossa cultura....O desenvolvimento das competências de leitura e de escrita dependem também da intervenção criativa, crítica e funcional do professor que planeja atividades e práticas de leitura e escrita que sejam prazerosas e significativas para os alunos. (KLEIMAN, 1999, p. 18-19) Desta forma, o aluno pratica cotidianamente, seja mediado ou individualmente, a leitura do mundo que o rodeia e, por vezes, a escrita deste mundo, por esta razão a escola deve valorizar o conhecimento prévio trazido pelo aluno e utilizá-lo para despertar o educando às suas experiências diárias, deixando-o atento para um olhar crítico na observação da cultura letrada de que faz parte dentro e fora da escola, como ressalta Vygotsky (1998): O ponto de partida dessa discussão é o fato de que o aprendizado das crianças começa muito antes de elas frequentarem a escola. Qualquer situação de aprendizagem com a qual a criança se defronta na escola tem sempre uma história prévia. Por exemplo, as crianças começam a estudar aritmética na escola, mas muito antes tiveram alguma experiência com quantidades – tiveram que lidar com operações de divisão, adição, subtração e determinação de tamanho. Consequentemente, as crianças têm sua própria aritmética pré-escolar... (VYGOTSKY, 1998, p.110) Logo, se este aluno é carente de um ambiente totalmente letrado faz-se necessário à escola promover a interação significativa do aluno com o meio da língua escrita de maneira mais ampla do que já conhece. A família é, contudo, apenas um dos meios de letramento para a criança em desenvolvimento, no entanto tem-se também o letramento no espaço urbano e no ambiente escolar. Assim, neste contexto, o letramento é desenvolvido mediante a participação da criança em evento que pressupõe o conhecimento a escrita e o valor do livro como fonte fidedigna de informação e transmissão de valores, aspectos estes que subjazem ao processo da escolarização com vistas ao letramento acadêmico. Note-se que para a criança cujo letramento se inicia no lar, no processo de socialização primária, não procede a preocupação sobre se ela aprenderá ou não, entretanto, nos pais de grupos marginalizados. (KLEIMAN, 1998, p. 183) Explorar o hábito da leitura e também da escrita a partir da leitura do mundo propicia aos alunos o desenvolvimento de conhecimentos sobre o uso destes de forma social e funcional, gerando uma aprendizagem significativa de leitura de símbolos verbais ou não verbais cotidianamente, ou seja, aprendem a ler o mundo em que vivem. Entende-se, portanto, que a escola deve ser um lugar em que as funções e os usos sociais da cultura escrita são mediados, meio social em que se integra. ensinados e transformados pelos alunos em formação, a partir de uma visão crítica da observação da vida cotidiana do indivíduo e do CONSIDERAÇÕES FINAIS Através do estudo das diversas bibliografias sobre a prática da leitura e da escrita no espaço escolar ou fora dele, desenvolvemos uma reflexão sobre como estas práticas podem ser auxiliadoras no desenvolvimento de aluno leitores. Apoiamo-nos em pesquisas, estudos e pensadores como: Silva (2000); Kleiman (2002); Orlandi (2000); Parâmetros Curriculares Nacionais para a Língua Portuguesa (1998); Oliveira (2005); Freire (2003), para discutirmos sobre os diversos caminhos que percorrem o educador e o educando no período de formação escolar. Momento este, que é decisivo para aquisição do hábito de ler, ou ainda, um momento de entender que a todo momento lemos e interpretamos o mundo a nossa volta, seja através de símbolos, imagens ou textos, pois fazemos parte de uma sociedade alicerçada pela cultura escrita. Seja no âmbito escolar ou no familiar, é através da mediação do outro que o aluno pode perceber o quanto o uso da leitura e também da escrita são significativos na vida social do individuo e, desta forma, praticar o hábito de ler cotidianamente. Notamos, também no decorrer de nosso trabalho que esse processo de aquisição do hábito da leitura necessita ser conduzido com objetivos claros, por parte do educador, seja sobre a importância do letramento, a prática e o ensino de leitura na sala de aula, a relevância de se ter um projeto de desenvolvimento de alunos leitores, enfim o educador precisa embasar-se em conhecimentos teóricos para fundamentar sua prática docente, para que desta maneira obtenha-se como consequência de um trabalho pedagógico elaborado com conhecimento e objetivos claros o desenvolvimento da prática de leitura como hábito diário e significativo ao aluno no espaço escolar. O educador deve fazer de suas ações um exemplo a ser seguido, por isso, é relevante ser um leitor, ter prazer pela leitura e valorizá-la, para assim, motivar os alunos, são atitudes positivas deste profissional que mediam e orientam os alunos para os melhores resultados na vida social do educando. No que diz respeito ao letramento por exemplo faz-se muito importante o professor entender qual é a bagagem que o aluno traz para partir de seus conhecimentos prévios a fim de ampliá-los e estimular os interesses e aprendizagem para que se promova a qualidade da educação. Concluímos que os educadores devem conhecer os suportes necessários para gerar o desenvolvimento da prática de leitura como hábito diário e significativo ao aluno no espaço escolar e oferecer qualidade na formação social dos sujeitos, buscar parceiros com a comunidade escolar para que participem e contribuam para as melhorias das ações e dos trabalhos com a leitura, em que todos demonstrem a importância de ler e de como a leitura é essencial para entender o mundo em que vivem. Acreditamos que quando se trabalha com o aluno, apenas a codificação e decodificação da língua escrita se nega o uso real da língua na sociedade. O aluno deve ser conduzido ao uso da leitura e da escrita em seu dia a dia. Ressaltamos que o nosso trabalho aborda os aspectos positivos para se mudar e transformar o perfil do trabalho com a leitura, através da valorização da prática cotidiana de ler e interpretar o mundo. Acreditamos que nossa discussão possibilite a revisão e a reflexão das práticas pedagógicas no desenvolvimento do hábito da leitura, na formação do aluno leitor e que ela gere novos caminhos e alternativas para a valorização de um trabalho bem sucedido e voltado para a formação do cidadão, do ser social. Esta pesquisa proporcionou-nos compreender o processo de formação do aluno-leitor. Em meio a tantos desafios no âmbito escolar, o que mais se nota é a dificuldade de leitura do aluno em questão. Tivemos como base para nossa pesquisa autores de alto nível, que contribuíram para o desenvolvimento deste projeto e, por isso, compreendemos que o desenvolvimento da prática de leitura como hábito diário e significativo ao aluno no espaço escolar, parte da realidade em que o aluno se encontra, para a escolha de certos caminhos em busca do crescimento e desenvolvimento desse aluno. Nosso estudo pode averiguar que a falta de interesse pela leitura tem vários equívocos que podem ser resolvidos tendo em vista que o professor é o mediador do aluno e é capaz de conscientizar e incentivar seus educandos para a prática da leitura. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS BRASIL. Parâmetros Curriculares Nacionais - Língua Portuguesa – volume 2. Ministério da educação e do Desporto, Brasília: MEC/SEF, 1998. CHARTIER, Roger. As revoluções da leitura no ocidente. In: Leitura, História e História da Leitura, Abreu, M. (org.). Campinas: ALB : FAPESP: Mercado de Letras, 2000. CIVITA, Victor. Enciclopédia abril. 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Report "o Desenvolvimento Da Pratica de Leitura Como Habito Diario e Significativo Ao Aluno[1]"