1. apresentação de “As Cidades Invisíveis” De Italo Calvino 2. Italo Calvino Italo Calvino nasceu a 15 de outubro de 1923 em Santiago de las Vegas (Cuba) e faleceu a 19 de setembro de 1985 em Siena(Itália). Foi um dos mais importantes escritores italianos do século XX. Nascido em Cuba, de pais italianos, a sua família retornou à Itália logo após seu nascimento. Formado em Letras, participou na resistência ao fascismo durante a Segunda Guerra Mundial e foi membro do Partido Comunista Italiano até 1956, tendo se desfiliado em 1957. A sua carta de renúncia em 1957 ficou famosa. A sua primeira obra foi Il sentiero dei nidi di ragno (A trilha dos ninhos de aranha), publicada em 1947. Uma das suas obras mais conhecidas é Le città invisibili (As cidades invisíveis), em 1972, tendo como personagens Marco Polo e Kublai Khan. 3. • História: A história começa com uma viagem que durou 30 meses, em que Marco Polo, um mercador Veneziano, chega às portas do Extremo Oriente, atual Pequim, império de Kublai Khan. Lá, Marco Polo, permanece 17 anos, desempenhando diferentes funções diplomáticas na corte do Grande Khan. Durante a história, Marco Polo descreve minuciosamente 55 cidades por onde teria passado, agrupadas por uma série de 11 temas. São esses: “as cidades e a memória”, “as cidades e o desejo”, “as cidades e o desejo”, “as cidades e os símbolos”, “as cidades delgadas”, “as cidades e as trocas”, “as cidades e os olhos”, “as cidades e o nome”, “as cidades e os mortos”, “as cidades e o céu”, “as cidades contínuas” e “as cidades ocultas”. 4. Cidade de Diomira (as cidades e a memória) Cidade com 70 cúpulas de prata, estátuas de bronze de todos os deuses, ruas lajeadas de estanho, um teatro de cristal, um galo de ouro que canta todas as manhãs no alto de uma torre. 5. Cidade de Isidora (as cidades e a memória) Cidade onde os palácios possuem escadas em caracol, incrustadas de caracóis marinhos. Cidade onde se fabricam à perfeição binóculos e violinos, onde quando um estrangeiro está indeciso entre duas mulheres, encontra uma terceira e onde as brigas de galo adulteram-se para lutas sanguíneas entre apostadores. 6. Cidade de Dorotéia (as cidades e o desejo) Cidade com quatro torres de alumínio, que se erguem de muralhas, acompanhadas por sete portas com pontes levadiças, que permitem do desvio de um fosso, cuja água esverdeia e alimenta quatro canais que atravessam a cidade e a dividem em nove bairros, cada um com 300 casas e 70 chaminés. Em Dorotéia, as raparigas na idade de casar de um bairro, casavam-se com rapazes de outro bairro e as suas famílias trocam mercadorias exclusivas como bergamotas, ovas de esturjão, astrolábios, ametistas (variedade de quartzo),etc… 7. Cidade de Zaíra (as cidades e a memória) Cidade cujas ruas têm forma de escadas, pórticos com arcos redondos, tetos recobertos com lâminas de zinco. Nesta cidade existe uma relação entre as medidas do seu espaço e os acontecimentos do passado. Possui um canal cuja função é escoar a água da chuva. É uma cidade cuja uma das atividades é a pesca e é uma cidade que vive muito das recordações. 8. Cidade de Anastácia (as cidades e o desejo) Cidade banhada por canais concêntricos e sobrevoada por pipas. É uma cidade onde as mercadorias compram-se a preços vantajosos. É uma cidade com alguma riqueza gastronómica, com o prato de carne de faisão dourado, cozinhado em lenha seca de cerejeira e salpicada com muitos orégãos. É uma cidade onde se poderiam ver as mulheres a tomar banho num tanque de jardim, e que, “convidavam” o viajante a despir-se e a persegui-las dentro de água. É também uma cidade enganadora, pois uma pessoa pensa que se está a divertir, quando não passa de um escravo desta. 9. Cidade de Tamara (as cidades e os símbolos) Cidade onde as ruas estão cheias de placas que pendem das paredes. É uma cidade cheia de símbolos e objetos com significado. Indícios como se um edifício não contém nenhuma insígnia ou figura, a sua forma e o lugar que ocupa na organização da cidade bastam para indicar a sua função: o palácio real, a prisão, a escola, … Em Tamara, as mercadorias expostas não valem por sim próprias, mas como símbolos de outra coisa: a tira bordada para a testa, elegância; leiteira dourada, poder,… 10. Cidade de Zora (as cidades e a memória) É uma cidade que fica memorizada ponto por ponto, na sucessão das ruas e das portas e das janelas das casas, mas não demonstra particular beleza ou raridade. O seu segredo é o modo como o olhar percorre as figuras que se sucedem como uma partitura musical da qual não se pode modificar ou deslocar nenhuma nota. 11. Cidade de Despina (as cidades e o desejo) É uma cidade onde só há duas maneiras de lhe alcançar: de barco ou de camelo. A cidade apresenta-se de forma diferente para quem chega por terra ou por mar. 12. Cidade de Zirma (as cidades e os símbolos) É uma cidade de onde os visitantes retornam com memórias bastante diferentes: un negro cego que grita na multidão, um louco debruçado na cornija de um arranha-céus e uma rapariga que passeia com um puma na coleira É uma cidade redundante: repete-se para fixar alguma imagem na mente do visitante. Marco Polo regressa com a memória de dirigíveis que voam em todas as direções à altura das janelas. 13. Cidade de Isaura (as cidades delgadas) Cidade de Isaura ou cidade dos mil poços, uma vez que esta encontra-se situada por cima de um lago subterrâneo. A cidade estende-se apenas até aos lugares onde os habitantes conseguem extrair água, escavando na terra longos buracos verticais. 14. Cidade de Maurília (as cidades e a memória) Nesta cidade o viajante é convidado a visitar a cidade ao mesmo tempo que observa uns velhos postais ilustrando como esta havia sido. 15. Cidade de Fedora (as cidades e o desejo) Nesta cidade existe um palácio de metal com uma esfera de vidro em cada uma das divisões da casa. Dentro de cada esfera, vê-se uma cidade azul que é o modelo para uma outra Fedora. Este palácio foi transformado num museu e cada um dos visitantes escolhe a cidade representada numa das esferas e contemplam-na e imaginam-se nesta. 16. Cidade de Zoé (as cidades e os síbolos) Cidade onde não existe um local próprio para dormir, outro para fabricar ferramentas, outro para cozinhar, outro para acumular moedas de ouro, outro para reinar, e outro para vender algo. Em Zoé, pode realizar-se cada uma das atividades acima referidas em qualquer ponto da cidade. “Qualquer teto em forma de pirâmide pode abrigar tanto o lazareto dos leprosos como as termas das odaliscas. Nesta cidade, o visitante anda de um lada para o outro e enche-se de dúvidas, incapaz de distinguir os pontos da cidade. 17. Cidade de Zenóbia (as cidades delgadas) Cidade situada em terreno seco, erguendo-se sobre altíssimas estacas de madeira, e onde as suas casas são feitas de bambu e zinco, ligadas por escadas de madeira e passadeiras suspensas. Nesta cidade, quando se pede a um habitante para descrever uma vida feliz, este imagina uma cidade como Zenóbia. 18. Cidade de Eufémia (as cidades e as trocas) Cidade onde todos os mercadores de sete nações convergem todos os solstícios e equinócios e fazem troca de mercadorias. Aqui, à noite, as pessoas reúnem-se e contam histórias de lobos, de irmãs, de tesouros, de amantes, de batalhas, etc. 19. Cidade de Zobeide (as cidades e o desejo) Cidade branca, bem exposta à luz, com ruas que giram em torno de si mesmas como um novelo. A sua fundação tem como ponto de partida um sonho de homens de diferentes nações que viram uma mulher a correr de noite, numa cidade desconhecida. Esta estava de costas, com longos cabelos e nua. Sonharam que a perseguiam. Corriam de um lado para o outro, mas ela acabava por os despistar. Após o sonho, estes partiram em busca daquela cidade, porém nunca a encontraram. Um dia, estes acabaram por se encontrar, e no lugar onde se juntaram construíram uma cidade como a do sonho, onde cada um, refez o percurso da sua perseguição. Por fim, e graças a outros homens com o mesmo sonho, descobriram que a própria cidade era uma armadilha. 20. Cidade de Ipásia (as cidades e os símbolos) Cidade com um jardim de magnólias e com lagoas azuis, onde, Marco Polo caminhava em direção ao lago á espera de encontrar belas jovens damas ao banho, mas acabou por encontrar um lago onde no fundo, caranguejos mordiam os olhos dos suicidas com uma pedra amarrada no pescoço e com os cabelos verdes das algas. De seguida dirigiu-se um palácio que tinha as cúpulas mais altas para pedir justiça ao sultão. O palácio continha uma vasta biblioteca, onde se perdera. Por fim, e após ter falado com o sultão, Marco Polo compreendeu que tinha de se libertar das imagens que o tinham levado até ali, só então seria capaz de entender a linguagem de Ipásia. 21. Cidade de Armila (as cidades delgadas) Cidade onde não existem telhados, nem paredes, nem pavimentos. Não há nada que a faça parecer com uma cidade, exceto os canos de água, que sobem verticalmente nos lugares em que devia haver casas e ramificam-se onde deveria haver andares. Marco Polo chega a dizer que os canalizadores concluíram o seu trabalho e foram embora antes da chegada dos pedreiros; ou então, as suas instalações, indestrutíveis, haviam resistido a uma catástrofe, terramoto ou corrosão. Marco polo conclui que os cursos de água nos canos ainda permanecem sob o domínio de ninfas e náiades. 22. Cidade de Cloé (as cidades e as trocas) Cidade onde as pessoas que passam na rua não se conhecem. Quando se vêem, imaginam mil coisas a respeitos umas das outras, os encontros que poderiam ocorrer entre elas, as conversas, as surpresas, as carícias, as mordidas. Mas ninguém se cumprimenta, os olhares cruzam-se por segundos e depois desviam-se, procuram outros olhares, não se fixam. 23. Cidade de Valdrada (as cidades e os olhos) Cidade com casas repletas de varandas sobrepostas e com ruas suspensas sobre a água desembocando em parapeitos balaustrados. Deste modo, o viajante ao chegar depara-se com duas cidades: uma perpendicular sobre o lago e a outra refletidas de cabeça para baixo. Assim, nada existe e nada acontece na primeira Valdrada sem que se repita na segunda. 24. Cidade de Olívia (as cidades e os símbolos) Cidade rica de mercadorias e de lucros. Cidade com selarias de couro, mulheres que tagarelam enquanto entrelaçam tapetes de ráfia, canais suspensos cujas cascatas movem as pás dos moinhos. Cidade que tende para uma vida livre e um alto grau de civilização. 25. Cidade de Sofronia (as cidades delgadas) Cidade composta por duas meias cidades. Na primeira, encontra-se a grande montanha-russa de ladeiras vertiginosas, o carrocel de raios formados por correntes, a roda-gigante com cabines giratórias, o globo da morte com motociclistas de cabeça para baixo, a cúpula do circo com os trapézios amarrados no meio. A segunda meia cidade é de pedra, mármore e cimento, com o banco, as fábricas, os palácios, o matadouro, a escola e tudo o resto. Uma das meias cidades é fixa, a outra é provisória. 26. Cidade de Eutrópia (as cidades e as trocas) Eutrópia é um conjunto de várias cidades, uma vez que apenas uma está habitada e as restantes desertas. É uma cidade onde a vida dos seus habitantes renova-se, uma vez que, quando estes estão saturados da sua vida numa cidade, mudam-se para outra e recomeçam tudo do início. Sem sair de Eutrópia. 27. Cidade de Zemrude (as cidades e os olhos) A cidade ganha forma com o humor de quem a olha. Quem passa assobiando, com o nariz empinado por causa do assobio, conhece-a de baixo para cima. Quem caminha com o queixo no peito, com as unhas fincadas nas palmas das mãos, cravará os olhos à altura do chão, das fossas, das redes de pesca e da papelada- 28. Cidade de Aglaura (as cidades e o nome) “Em certas horas, em certas ruas, surge a suspeita de que ali há algo de inconfundível, de raro, talvez até de magnifico; sente-se o desejo de descobris o que é, mas tudo o que se diz sobre Aglaura até agora aprisiona as palavras e obriga a rir em vez de falar. 29. Cidade de Otávia (as cidades delgadas) Cidade onde existe um precipício no meio de duas montanhas escarpadas: a cidade fica no vazio, ligada aos dois cumes por fios e correntes e passarelas. Caminha-se em trilhos de madeira, atentando para não enfiar o pé nos intervalos, ou agarra-se aos fios de cânhamo. Abaixo não há nada por centenas e centenas de metros. 30. Cidade de Ercília (as cidades e as trocas) Cidade onde os habitantes espalham fios entre as arestas da casa de acordo com as relações de parentesco, troca, autoridade, representação. Quando os fios são tantos e não se pode mais atravessar, os habitantes vão embora. 31. Cidade de Bauci (as cidades e os olhos) Cidade construída acima do solo. Os seus habitantes raramente são vistos em terra, uma vez que têm tudo o que necessitam lá em cima e não preferem descer. Há três hipóteses a respeito dos seus habitantes: que odeiam a terra, que a respeitam ao ponto de evitar qualquer contacto; que a amam da forma como era antes de existirem. 32. Cidade de Leandra (as cidades e o nome) Tem duas espécies de deuses a protegerem a cidade e as suas casas, prestando especial atenção à noite. 33. Cidade de Melânia (as cidades e os mortos) Sempre que se visita a praça, encontra-se sempre um pedaço de diálogo. 34. Cidade de Esmeraldina (as cidades e as trocas) É uma cidade aquática, onde uma rede de canais sobrepõem-se e entrecruza-se com uma rede de ruas. 35. Cidade de Fílide (as cidades e os olhos) É uma cidade onde tem-se o prazer de observar quantas pontes diferentes entre si atravessam os canais: pontes arqueadas, cobertas, sobre pilares, etc. Todos os pontos da cidade oferecem surpresas para os olhos 36. Cidade de Pirra (as cidades e o nome) Cidade com amplas janelas e torres, fechada como uma taça. Era uma das muitas cidades que Marco Polo nunca visitara, mas após conhecê-la, alterara tudo o que tinha imaginado sobre esta. 37. Cidade de Adelma (as cidades e os mortos) Cidade onde marco Polo relembra pessoas que já faleceram 38. Cidade de Eudóxia (as cidades e o céu) Cidade onde se conserva um tapete no qual pode contemplar-se a verdadeira forma da cidade. É uma cidade onde é fácil perder-se, mas quando se olha para o tapete, o visitante reconhece o caminho. Cada habitante de Eudóxia compara a ordem imóvel do tapete a uma imagem da sua cidade. 39. Cidade de Moriana (as cidades e os olhos) Cidade com portas de alabastro transparente à luz do sol. Um viajante, cuja viagem não seja a primeira, sabe que cidades como Moriana têm um avesso e que basta percorrer um semicírculo para ver a face obscura da cidade. 40. Cidade de Clarisse (as cidades e o nome) Cidade com uma historia atribulada, em que decaiu e refloresceu diversas vezes, mantendo sempre o modelo de todos os esplendores. As populaçoes e os costumes mudaram diversas vezes; restando o nome e o lugar onde a cidade está situada. 41. Cidade de Eusápia (as cidades e os mortos) É uma cidade disposta a aproveitar a vida e a evitar aflições. Os habitantes, quando construíram Eusápia construíram também uma copia desta no subsola para os cadáveres fossem levados para baixo e continuassem a cumprir antigas atividades 42. Cidade de Bersabéia (as cidades e o céu) Em Bersabéia, transmite-se a crença de que, suspensa no céu existe uma outra Bersabéia, onde gravitam as virtudes e os sentimentos mais elevados da cidade. Os habitantes tambem creêm que existe uma Bersabéia no subsolo, recolhendo tudo o que lhes ocorre de desprezível e indigno. 43. Cidade de Leonia (as cidades contínuas) Cidade que se refaz todos os dias. De manhã, os restos da velha Leonina são levados, mas nenhum dos seus habitantes sabe para onde. 44. Cidade de Irene (as cidades e o nome) É uma cidade que ganha vida à noite, quando as luzes se acendem nos lugares de maior concentração. Quem olha de fora para a cidade, pergunta-se dobre o que está a acontecer nesta e questiona-se se estar dentro da cidade seria bom ou mau. 45. Cidade de Argia (as cidades e os mortos) O que distingue Argia das outras cidades é que no lugar de ar existe terra. As ruas são completamente em terra comprimida, os quartos são cheios de argila até ao teto. 46. Cidade de Tecla (as cidades e o céu) É uma cidade que ainda não está totalmente construída para que não comece a destruição, segundo dizem os habitantes empenhados na construção de tecla. 47. Cidade de Trude (as cidades contínuas) Cidade com casas amarelas e verdes. As ruas do centro da cidade exibiam mercadorias embaladas que não variavam em nada. 48. Cidade de Olinda (as cidades ocultas) Cidade que, quem procurar com atenção irá encontrar um ponto inferior á cabeça de um alfinete, que uma vez ampliado, mostra no seu interior, telhados, antenas, jardins, quiosques, pistas para corridas de de cavalos, etc. É uma cidade que cresce em círculos concêntricos, mas que mantém uma forma diferente de outras cidades. 49. Cidade de Laudomia (as cidades e os mortos) É uma cidade que contempla mais duas cidades iguais a si. A Laudomia dos mortos e a Laudomia dos não-nascidos. 50. Cidade de Perínzia (as cidades e o céu) Cidade cuja localização foi determinada por astrónomos e povoada por diversas raças. Nas ruas e praças de Perínzia, vêem-se aleijados, anões, corcundas, obesos, mulheres com barba. Mas o pior não se vê: famílias que escondem filhos com 3 cabeças ou 6 pernas. Os astrónomos encontram-se numa situação difícil. Ou admitem que todos os seus cálculos estavam errados ou revelar que a ordem dos deuses é exatamente aquilo que se espelha na cidade dos monstros. 51. Cidade de Procópia (as cidades contínuas) Cidade com uma bela paisagem e cuja população foi aumentando gradualmente, tapando a vista para a paisagem. 52. Cidade de Raíssa (as cidades ocultas) A vida em Raíssa não é feliz. A população vive num mundo de pesadelos e ações incorretas. Mas todos os dias, há uma criança que quando abre a janela sorri para um cão que saltou para um alpendre para comer um pedaço de polenta que caiu das mãos de um pedreiro. 53. Cidade de Ândria (as cidades e o céu) Cidade construida com tal arte que cada uma das suas ruas segue a órbita de um planeta e os edificios e os lugares repetem a ordem das constelaçoes e a localização dos astros mais luminosos. 54. Cidade de Cecília (as cidades contínuas) Cidade que se torna numa espécie de labirinto, onde quando se entra é dificil de descobrir a saída 55. Cidade de Marósia (as cidades ocultas) Marósia consiste em duas cidades, a do rato e a da andorinha; ambas muda, com o tempo; mas não muda a relação entre elas: a segunda é a que está para libertar-se da primeira. 56. Cidade de Pentesiléia (as cidades contínuas) Cidade com edifício pálidos e telhados de zinco. Pentesiléia é apenas uma periferia de si mesma e o seu centro está em todos os lugares. 57. Cidade de Teodora (as cidades ocultas) Após o extreminio de serpentes, aranhas, moscas e traças, os homens deram a Teodora uma imagem de cidade exclusiva de humanos. 58. Cidade de Berenice (as cidades ocultas) Bernice é uma sucessão no tempo de cidades diferentes, alternadamente justas e injustas. 59. “As cidades e o nome” remete à de que o sentido do lugar provém do acontecimento e do signo que o fixou. “Por longo tempo, Pirra foi para mim uma cidade encastelada nas encostas de um golfo, com amplas janelas e torres, fechada como uma taça, com uma praça em seu centro profunda como um poço e com um poço em seu centro” . Em Aglaura, essa identidade é definida pelo “estilo de vida” ou “estado de espírito” dos habitantes; Leandra opta pelo intimismo e pelo provincianismo da vida privada, pela negação à grande cidade; Irene fabrica uma imagem forjada para a cidade e usa-a para convencer os cidadãos e o resto do mundo do seu papel; já Clarisse procura compreender e incorporar a multiplicidade de lugares como o verdadeiro sentido de lugar. “As cidades e o nome” – identidade e sentido de lugar In: Resenhasonline 60. Em cada grupo de cidades costuma haver um “encantamento” e uma “armadilha”. No caso de “as cidades e a memória”, o encantamento prossegue no encontro com o passado como se ele fosse sempre melhor que o presente e uma inspiração para o futuro. A armadilha está na deceção de que o passado não permanece melhor ou nunca foi, e no seu esquecimento. Apresentadas quase todas na parte um do livro, é possível indagar se Diomira, Isidora, Zaíra, Zora e Maurília não estão assim situadas para que nos esqueçamos delas ao fim da narrativa. “As cidades e a memória” – a presença do sítio e a influência do passado 61. Nelas há uma alusão insistente à contradição, à dualidade do espírito humano. Intuitivamente somos destinados à ordem e ao caos simultaneamente, e as “cidades e o desejo” refletem o paradoxo em paisagens regulares como Dorotéia e Anastácia ou duvidosas como Despina. Ou ainda múltiplas como Fedora, em que quase nos perdermos nos infinitos caminhos que geramos para cada uma de nossas escolhas. “As cidades e o desejo” – a motivação inconsciente e a ação sobre a memória 62. “Não existe linguagem sem engano.” É a frase final de Italo Calvino após ter descrito as desventuras de Marco em Ipásia, a quarta das “cidades e os símbolos”. Nelas discute-se a imagem da cidade formada não só pela composição de sólidos na luz e na sombra, mas também a partir da sua ornamentação, dos sinais e dos seus significados. Então a cidade passa a ser lida como densa e enigmática, já que é muito mais do que apenas sua forma física. Mas exploram também a utilização dos símbolos como marcação de territórios e hierarquias, classes, posturas ou ainda propositalmente como mensageiros do engodo. São, nesse sentido, cidades em que de alguma forma o discurso, ou os ícones, não correspondem às suas verdadeiras dinâmicas, ocultas ou dissimuladas. “As cidades e os símbolos” – a linguagem da subconsciência coletiva e a imagem da cidade 63. Calvino cita motivos diversos para que cada uma das “cidades delgadas” seja descolada da terra. A ideia geral é de paisagens urbanas que se projetam para cima, ou se isolam da terra firme por algum artifício geológico ou construído: Isaura está no chão mas na verdade sobre um profundo lago negro extinto; Zenóbia sobre palafitas em um lago seco; em Armila não há as massas construídas; Sofronia são duas meias cidades em que a cidade pesada é itinerante e a cidade leve é fixa; e finalmente, Otávia uma cidade teia-de-aranha pendurada sobre o abismo. Através das “cidades delgadas” é possível verter a muitas paisagens da cidade moderna, como a verticalidade ou a transfiguração cíclica de seus espaços. Também nelas talvez se incluísse o próprio urbanismo modernista, as imagens de uma cidade-máquina baseada no movimento, ou o espírito etéreo de uma ville radieuse. Ou ver as “cidades delgadas” como buscas coletivas, através da técnica, para transcender o peso da superfície do planeta, ou para abandonar uma paisagem urbana feita apenas de pedras. “As cidades delgadas” – a busca pelo desprender da terra, a negação da imobilidade 64. Estas são como um preâmbulo das “cidades contínuas”. Nelas emerge a questão da circulação na cidade, com analogias com fios (Ercília) e redes (Esmeraldina) superpostas; e a própria mobilidade e mutabilidade urbanas, que lhe dão o caráter de um ser mutante, ainda que de pedra. “As cidades e as trocas” também abordam a organização do território, as camadas de atores no espaço urbano (Esmeraldina) e o embate entre rotina e mudança (Eutrópia). “As cidades e as trocas” – as relações entre os habitantes 65. Estas são exemplos incertos, em que se discute o referencial do qual se olha a cidade. Em termos de paisagem, são cidades descritas com um lado positivo que enche os olhos, cheio de cores, sabores, tentações. Em Zemrude o enfoque são as visões particulares, e o autor sugere que a maioria dessas visões tende a buscar mais o chão e as profundezas do que o céu, com o passar do tempo. As cidades e os olhos parecem evocar análises mais contemporâneas dos fenómenos urbanos. “As cidades e os olhos” – a visão individual e os engodos 66. Embora em algumas das “cidades e os mortos” sua paisagem seja mais literal, referindo-se a uma espécie de campo santo, ou um duplo, e muitas vezes desafiando as profundezas da terra, há uma questão que permeia todas. Aborda-se a ideia do ciclo como presença estruturadora, para onde ele a leva, ou não leva... As “cidades e os mortos” evocam a temática dos filmes da trilogia “qatsi” (reggio, 1983), em que a questão principal passa a ser os ciclos “inescapáveis” do planeta e das nossas cidades civilizadas, e sobretudo a busca do sentido que os move. “As cidades e os mortos” – engessament o, ciclo, fim de ciclo 67. São as cidades mais tardiamente apresentadas no livro, o que faz das “cidades ocultas” um espelhamento das “cidades e a memória”, quase todas apresentadas na primeira parte. São cidades tão complexas quanto à natureza humana, e necessariamente contraditórias. As cidades ocultas exploram essas contradições na forma de dualidades intrínsecas, como o dentro e o fora de Olinda, a cidade feliz e a infeliz de Raíssa, os ratos e as andorinhas de Marósia, os homens e as bestas de Teodora, e os injustos e os justos de Berenice. “As cidades ocultas” – a natureza humana e sua dualidade 68. Em “as cidades contínuas” Italo Calvino reúne os casos extremos de cidades: a metrópole, ou ainda, a sua aberração, a megalópole, e a possibilidade da humanidade ser um tumor arruinando o planeta. São exemplos que aludem ao debate sobre as questões ambientais, mas também sobre o subúrbio e o planeamento regional. E de novo às utopias modernistas e às visões deformadas que delas restaram, no legado dos grandes conjuntos habitacionais. “As cidades contínuas” – antropofagia, destruição do meio 69. Opondo-se às “cidades e os mortos”, cidades como Tecla e Ândria não são apenas as antíteses da sua paisagem, procurando elevar-se do solo e negando a terra. Também procuram a antítese do ciclo, na ideia de uma permanência transcendental. Sonhos de todos os utopistas desde os antigos até ledoux e além dele. São descritas como lugares urbanos de paisagem harmónica, e, às vezes, imutável. Mas sua presença no livro é fundamental. Em meio a tantas dimensões imperfeitas – e horripilantes – do urbano, as cidades e o céu trazem o fascínio do novo, das reformas e das ideias que se apresentam como eternamente belas – até que a realidade e o tempo as gaste – e retornemos aos inescapáveis ciclos. Cheios de visões, mas sem ilusões, somos (arquitetos/urbanistas) chamados a assumir nosso papel como uma pequena peça das cidades invisíveis: a de projetar para elas olhando para o alto, para o projeto das estrelas. “As Cidades e o Céu” – o ideal de perfeição e o cosmos