ALBERTO PIMENTA [Porto, 1937] ALBERTO PIMENTA [Porto, 1937] Poeta, narrador, ensaísta, performer e professor universitário. Licenciou-se em Filologia Germânica na Universidade de Coimbra e exerceu funções de leitor de Português e de Literatura Portuguesa em Heidelberg, na Alemanha. ALBERTO PIMENTA ALBERTO PIMENTA [Porto, 1937] Regressando a Portugal, desenvolveu uma intensa actividade no domínio da criação literária relacionada com os movimentos experimentalistas. Os seus textos, por vezes publicados em livros com uma configuração gráfica original, assumem um sentido polémico e ao mesmo tempo vanguarda. de ALBERTO PIMENTA ALBERTO PIMENTA ALBERTO PIMENTA ALBERTO PIMENTA ALBERTO PIMENTA ALBERTO PIMENTA MINI -TESTE CULTURAL DO PORTUGUESISMO ALBERTO PIMENTA MINI -TESTE CULTURAL DO PORTUGUESISMO Cotrim Rocha, Salazar ALBERTO PIMENTA MINI -TESTE CULTURAL DO PORTUGUESISMO V. é bom português? A partir de hoje, não precisa de continuar na dúvida. Basta-lhe fazer o ³Teste de Portuguesismo´ especialmente elaborado por Alberto Pimenta, segundo os mais modernos métodos de análise ao comportamento inconsciente do cidadão. y 1. a- Em que ano foi descoberto Portugal? b- Por quem? y 2. Em que data se celebra o dia mundial do português? y 3. Em que ano, a convite de quem, é que o Rato Mickey visitou Portugal pela 1ª vez? ALBERTO PIMENTA MINI -TESTE CULTURAL DO PORTUGUESISMO (cont.) y 4. Salazar é a- O padroeiro de Portugal. b- Um mancebo incapaz para todo o serviço. c- Um heterónimo de Fernando Pessoa. y 5. Sendo obrigado a escolher, V. que preferia? a- Ser um português pobre. b- Ser um espanhol rico. y 6. Em Portugal não é costume chover. a- Nunca, porque faz sempre sol. b- Nos dias santos e vésperas de feriados. c- Dentro de todas as casas. ALBERTO PIMENTA A SITUAÇÃO DA OVELHA ALBERTO PIMENTA A SITUAÇÃO DA OVELHA a ovelha vive em rebanho e sente-se orgulhosa (excepto, claro, a ranhosa) a ovelha produz a lã, em troca tem o sustento e já não precisa de passar a noite ao relento ALBERTO PIMENTA A SITUAÇÃO DA OVELHA (cont.) é guiada pelo cão-pastor e governada por pelicanos e outros moradores dos céus que lhe têm um grande amor e lhe pedem o seu voto por favor ou por amor de deus: vota TETRAS o melhor que te leva (e te traz) vota ROLA a única que não te enrola ALBERTO PIMENTA A SITUAÇÃO DA OVELHA (cont.) Vota SANTÍSSIMA TRINDADE (símbolo POMBA) sempre são três Não votes mal pensa no que diz o cardeal Vota CATATUA sempre é a tua A ovelha entrega o boletim dobrado em quatro E por hábito pergunta: - Quanto é? - A nossa democracia assenta no voto gratuito ² Diz o presidente da mesa. In Bestiário Lusitano ALBERTO PIMENTA CARTA Salvador Dali, A persistência da memória ALBERTO PIMENTA CARTA 1. se v.exa. me permite eu gostaria de dizer o que penso. 2. em primeiro lugar penso que v.exa. anda no sentido oposto ao dos ponteiros do relógio. 3. v.exa. dirá que eu estou afirmando que v.exa. anda para trás. 4. na verdade, nada me impede de afirmar que v.exa. anda para trás. não foi isso porém o que eu disse. ALBERTO PIMENTA CARTA (cont.) 5. com efeito, não sei se v.exa. anda para trás. segundo penso, v.exa. anda no sentido oposto ao dos ponteiros do relógio. 6. seria necessário poder afirmar com toda a segurança que os ponteiros do relógio andam para a frente, para poder afirmar com igual segurança que v.exa. anda para trás. ALBERTO PIMENTA CARTA (cont.) 7. mas quem está em condições de afirmar com toda a segurança que os ponteiros do relógio andam para a frente? ninguém está em condições de afirmar com toda a segurança que os ponteiros do relógio andam para a frente, porque, como v.exa. sabe, os ponteiros do relógio andam à roda. ALBERTO PIMENTA CARTA (cont.) 8. a única coisa que se pode afirmar com toda a segurança é que os ponteiros do relógio andam à roda para um lado e v.exa. anda à roda para o outro. os ponteiros do relógio rodam para um lado e v.exa. roda para o outro. de modo que v.exa. com o seu movimento anula o movimento dos ponteiros do relógio e vice-versa. 9. na verdade é como se v.exa. não andasse e como se os ponteiros do relógio também não andassem. In "metamorfoses do video", Alberto Pimenta - José Ribeiro Editor, 1986 ALBERTO PIMENTA HOMO SAPIENS ALBERTO PIMENTA HOMO SAPIENS ALBERTO PIMENTA ALBERTO PIMENTA ELEGIA Salvador Dali, Metamorfose de Narciso ALBERTO PIMENTA ELEGIA já nada é o que era e provavelmente nunca mais o será e mesmo que o fosse algo me diz que já não seria o que era porque o que era era o que era por ser o que era do que eu me lembro muito bem embora eu então não fosse o que agora sou mas o que agora sou ALBERTO PIMENTA ELEGIA (cont.) ou estou a ser é deixar de ser o que sou porque eu sou deixando de ser deixar de ser é a minha maneira de ser sou a cada instante o que já não sou e o mesmo se deve passar com tudo o que é motivo por que não admira que assim seja quer dizer quer nada seja o que era e se assim é ou já não é seja ou não seja. ALBERTO PIMENTA porco trágico I Bruegel, O país da abundância ALBERTO PIMENTA porco trágico I conheço um poeta que diz que não sabe se a fome dos outros é fome de comer ou se é fome de sobremesa alheia. a mim o que me espanta não é a sua ignorância: pois estou habituado a que os poetas saibam muito de si e pouco ou nada dos outros. o que me espanta é a distinção que ele faz: como se a fome da sobremesa alheia não fosse fome de comer também. ALBERTO PIMENTA porco trágico I Salvador Dali, Canibalismo de Outono) ALBERTO PIMENTA teatro da guerra Henri Rousseau, A Guerra ALBERTO PIMENTA teatro da guerra no teatro da guerra cada dia trabalha nova companhia. mas permanece o encenador e a peça é sempre do mesmo autor. o actor esse fenece com a cena e desaparece. é um teatro realista que a toda a hora muda de artista. esse fenece com a cena ALBERTO PIMENTA teatro da guerra Picasso, Guernica ALBERTO PIMENTA romantismo Henri Rousseau, O Sonho ALBERTO PIMENTA ALBERTO PIMENTA romantismo Paula Rego, Branca de Neve