MANZINI Design Para a Inovação Social e Sustentabilidade
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Este exemplar esta registrado para uso exclusivo de ESTÉFANO PIETRAGALLA - 1766931Este exemplar esta registrado para uso exclusivo de ESTÉFANO PIETRAGALLA - 1766931 Cadernos do Grupo de Altos Estudos | VOLUME I Programa de Engenharia de Produção da Coppe/UFRJ Design para a inovação social e sustentabilidade | Comunidades criativas, organizações colaborativas e novas redes projetuais Ezio Manzini Rio de Janeiro, 2008 Este exemplar esta registrado para uso exclusivo de ESTÉFANO PIETRAGALLA - 1766931 © Ezio Manzini / E-papers Serviços Editoriais Ltda., 2008. Todos os direitos reservados a Ezio Manzini / E-papers Serviços Editoriais Ltda. É proibida a reprodução ou transmissão desta obra, ou parte dela, por qualquer meio, sem a prévia autorização dos editores. Impresso no Brasil. ISBN 979-85-7650-170-1 Coordenação de tradução Carla Cipolla Equipe Elisa Spampinato, Aline Lys Silva Diagramação Livia Krykhtine Revisão de textos Gustavo Paape Esta publicação encontra-se à venda no site da E-papers Serviços Editoriais. http://www.e-papers.com.br E-papers Serviços Editoriais Ltda. Rua Mariz e Barros, 72, sala 202 Praça da Bandeira – Rio de Janeiro CEP: 20.270-006 Rio de Janeiro – Brasil CIP-Brasil. Catalogação na fonte Sindicato Nacional dos Editores de Livros, RJ M252d Manzini, Ezio Design para a inovação social e sustentabilidade: comunidades criativas, organizações colaborativas e novas redes projetuais / Ezio Manzini; [coordenação de tradução Carla Cipolla; equipe Elisa Spampinato, Aline Lys Silva]. Rio de Janeiro: E-papers, 2008. (Cadernos do Grupo de Altos Estudos ; v.1) 104p. “O presente livro é resultado do curso denominado Design.ISDS 1- Design, Inovação Social e Desenvolvimento Sustentável - realizado de 27 a 31 de agosto de 2007, tendo sido financiado pelo programa Escola de Altos Estudos da CAPES e promovido pelo Programa de Engenharia de Produção da COPPE-UFRJ” Acompanha DVD Inclui bibliografia ISBN 978-85-7650-170-1 1. Desenho (Projetos) - Aspectos sociais. 2. Designers. 3. Criatividade. 4. Cooperação. 5. Desenvolvimento social. 6. Desenvolvimento sustentável. I. Título. II. Série. 08-3715. CDD: 745.4 CDU: 745 1 Bem-estar baseado no produto 47 2.2 Descontinuidade sistêmica 27 1.2. Bem-estar e bens comuns 52 2. Sustentabilidade | Descontinuidades sistêmicas e processos de aprendizagem social 20 1.3 Design e sustentabilidade 31 1.4 Orientações e diretrizes 39 2.1766931 Sumário 5 Apresentação 9 Prefácio 10 Metodologia do curso 11 Passado.3 Bem-estar e capacidades 56 2.Este exemplar esta registrado para uso exclusivo de ESTÉFANO PIETRAGALLA . Modos de vida | Bem-estar sustentável.4 Design e bem-estar . bens comuns e capacidades 40 2.1 Os limites do Planeta 25 1. presente e futuro 13 Origens e possibilidades 15 Introdução 19 1. 1 Soluções e plataformas 87 4.Este exemplar esta registrado para uso exclusivo de ESTÉFANO PIETRAGALLA .4 Design e inovação social 83 4.3 Processos em andamento 78 3.4 Design e redes projetuais 99 Bibliografia 103 Ezio Manzini . “de cima para baixo” (top-down) e “entre pares” (peer-to-peer) 84 4.1 Comunidades criativas 70 3. Redes Projetuais | Interações “de baixo para cima” (bottom-up). Inovação Social | Comunidades criativas e organizações colaborativas 61 3.1766931 61 3.2 Aumentando a escala 93 4.3 Conectando-se 96 4.2 Organizações colaborativas 73 3. Este livro teve como catalizador de sua feitura o curso que Ezio Manzini ofereceu no Programa de Engenharia de Produção da Coppe/UFRJ com apoio da Escola de Altos Estudos da Capes para uma ampla rede de cursos de pós-graduação brasileiros. As inovações sociais referem-se tanto a processos sociais de inovação como a inovações de interesse social. conceitos e métodos para atender necessidades so- ciais dos mais diversos tipos (seus campos de aplicação são os mais variados.ISDS 1 – Design. O presente livro dá atenção a inovações sociais de um tipo específico. O curso foi denominado DESIGN. Inovação Social e Desenvolvimento Sustentável. etc. “a pior coisa que fazemos”. Mas não se trata de uma perspectiva absolutizante. O empenho por modos de vida sustentáveis diz respeito as mais variadas dimensões relacionais da condição humana. As inovações sociais em geral referem-se a novas estratégias. elas são comprome- tidas com a ampliação e o aprofundamento de nosso senso de comunidade. ou seja. como tam- bém ao empreendedorismo de interesse social como suporte da ação inovadora. Apresentação | 5 . No livro de Ezio Manzini tem destaque a questão ambiental como quesito da desejada sustentabilidade de produtos e pro- cessos. lazer. elas são com- prometidas com evitar a crueldade. como expressa Judith Shklar em Ordinary Vices (1984). Evitar a crueldade é o limite tanto com relação aos fins quanto aos meios de efetivação de inovações sociais solidárias. Do lado positivo.1766931 Apresentação| As inovações sociais abrangem um campo muito amplo de pos- sibilidades. condições de trabalho. educação. desde a perspectiva daqui- lo que se pretende ver afirmado com elas.Este exemplar esta registrado para uso exclusivo de ESTÉFANO PIETRAGALLA . Do lado negativo. ou seja.). desde a perspectiva da- quilo que não se pretende ver afirmado com elas. saúde. no passado. Espaços e horizontes que Martin Buber designaria como dialogais. E que desses limites se tece o lugar próprio para espaços de experiência e horizontes de expectativa da convivencialidade. o professor Estevão Neiva de Medeiros. O programa de Engenharia de Produção da Coppe foi.1766931 Elemento fundamental da mensagem de Manzini é a pro- posição de plataformas habilitantes como ferramentas para “mudarmos a mudança” em meio à qual vivemos. nossa capacidade de afirmar valores e compro- missos. Faço dessa apresentação também ocasião para homenagear um colega recentemente falecido. lugar de formação em nível de mestrado e doutorado de muitos colegas hoje professores de diversos cursos brasilei- ros de Design. mas sim nossas atitudes. Dizer isso significa reconhecer que as imposições da racionalidade instrumental (e da produtividade) precisam ter limites. O Programa de Produção tem uma histó- ria de atuação significativa nessa interface. Implica mais do que o mero exercício de habilidades técni- cas. que tanto contribui para essa pre- sença do Design na Engenharia de Produção. num mundo onde nossas liberda- des se confundem com as pré-programações de possibilidades enumeradas segundo regras de videogames. É significativo que o primeiro volume da coleção seja de- dicado ao campo temático da interface entre Engenharia de Produção e Design.br). palavras e atos.ufrj. 6 | Apresentação . “Dar certo” não é critério para proposições que querem ser eticamente fundadas. tão próximo da data falecimento de Estevão. O lançamento do livro de Manzini. Não um dispositivo de formatação das identidades.producao.Este exemplar esta registrado para uso exclusivo de ESTÉFANO PIETRAGALLA . O código de acesso para nossa possibilidade de “mudarmos a mudança” não é um artefato técnico. Em nossa perspectiva a Engenharia de Pro- dução é um lugar privilegiado para a interface da técnica com dimensões metatécnicas. O presente volume abre a coleção Cadernos do Grupo de Altos Estudos do Programa de Engenharia de Produção (http:// www. Sempre buscamos uma coerência na atitude de ver na Universidade um lugar de encontro e diálogo. O artefato técnico é uma ferramen- ta a serviço das relações interpessoais. Mas é essa a matéria de nossas vidas humanas. É uma obra para pessoas boas. Finalizo com um convite.1766931 mistura tristeza e alegria.Este exemplar esta registrado para uso exclusivo de ESTÉFANO PIETRAGALLA . A minha foi. Dele retiro uma referência final para o convite que hoje faço. Não é um livro especializado para designers ou engenheiros de produção. Roberto Bartholo Apresentação | 7 . Que a alegria de vocês em lê-la seja grande e fecunda. Se naquele filme há referência a uma peça musical com o título “Sonata para um homem bom”. Para mim todo prefácio é um convite. No passado recente vi um belo filme alemão (“A vida dos outros”). quero como co- ordenador do Programa de Engenharia de Produção da Coppe convidar a todas as pessoas boas – mulheres e homens – a le- rem o livro de meu amigo Ezio. 1766931 .Este exemplar esta registrado para uso exclusivo de ESTÉFANO PIETRAGALLA . br/design.producao. a este momento. em relação ao original (fornecido como mate- 1.1 Entre tais movimentos foi recompensador conseguir “afer- rar” nosso pluripremiado autor e trazê-lo ao Brasil para que. Fundamen- talmente devido ao seu próprio caráter. a convi- vência nos faz intuir que para ele o seja ainda mais. um instantâneo da mente de um pesquisador sempre inquieto. Site do curso: http://www. Tem o valor de oferecer um panorama seqüencial das idéias do professor.ISDS 1 – Design. O curso2 de- nominado DESIGN. nos contasse suas idéias. 2. O presente livro é o resultado dessas aulas. Este constituiu o caráter particularmente dinâmico do pre- sente texto que. Se isso é verdade para todos nós.net/manzini/ (em língua inglesa). em uma seqüência de aulas. visto que o devir é uma condição essencial de nossa humanidade. sin- tetizando em uma concisa publicação conceitos distribuídos em diferentes artigos ao longo dos últimos anos.sustainable-everyday. Inovação Social e Desenvol- vimento Sustentável foi realizado de 27 a 31 de agosto de 2007. de maneira a compor uma contribuição acadêmi- ca tão relevante quanto amplamente reconhecida no setor.ufrj. Inclui também material que é fruto de suas mais recentes atividades de pesqui- sa. incessantemente reelaborando-as em contribuições à discipli- na de design.Este exemplar esta registrado para uso exclusivo de ESTÉFANO PIETRAGALLA . O conteúdo das próximas páginas.isds/. tendo sido financiado pelo programa Escola de Altos Estudos da Capes e promovido pelo Programa de Engenharia de Produ- ção da Coppe-UFRJ em uma iniciativa coordenada pelo profes- sor Roberto Bartholo. Prefácio | 9 . provavelmente já se transformou na mente do autor. captando e interpretando as mudanças em ato.1766931 Prefácio| Este livro é uma fotografia. que faz de si mesmo uma “antena”. É possível acessar os mais recentes textos de Ezio Manzini em seu blog: http://www. ou seja. 10 | Prefácio .Carlos – Programa de Pós-graduação em Arquitetura e Urbanismo. UFSC – Programa de Pós- graduação em Design e Expressão Gráfica. Os professores representantes de cada uma dessas unidades. tal qual os dois trilhos paralelos e constantes nas metodologias dos projetos que de- senvolve. Por isso. A tradução dos conceitos desta obra. foi detalhadamente discutida com o autor. UFBA – Programa de Pós-graduação em Engenharia Industrial. FAM (Universidade Anhembi Mo- rumbi) – Programa de Pós-graduação em Design. UFMG – Programa de Pós-graduação em Engenharia da Produção.Este exemplar esta registrado para uso exclusivo de ESTÉFANO PIETRAGALLA . feita da exposição aos outros de suas idéias. Metodologia do curso O curso operou em uma estrutura de rede através da adesão formal de dezoito cursos3 de pós-graduação por todo o Brasil. Em sua pesquisa.1766931 rial didático durante as aulas há um ano). UFPR – Programa de Pós-graduação em Design. UFRJ/EBA – Programa de Pós-graduação em Artes Visuais. que é a outra face de sua contínua busca. É a “busca com”. USP – Programa de Pós-graduação em Arquitetura e Urbanismo. Uerj/Esdi – Programa de Pós-graduação em Design. sempre aberto a quem as possa validamente questionar e/ou reelaborar. PUC-Rio – Programa de Pós-graduação em Design. elabora e faz. USP – Programa de Pós-graduação em Engenharia de Produção. Nesse sentido. o curso foi complementado por um seminário. sofreu modificações de modo a precisar alguns de seus conceitos-chave. Manzini se preocupa em imediatamente comunicar o que constata. USP-S. além de ter acesso privilegiado ao curso. é também aberto ao incessante diálogo. foram convidados a 3. desenvolvido nos dias 5 e 6 de setembro de 2007. e Unisinos – Programa de Pós-graduação em Ciências da Comunicação. UFMG – Programa de Pós-graduação Ambiente Construído e Patrimônio Sustentável. UNB/CDS – Centro de Desenvolvimento Sus- tentável. a partir da versão original em língua inglesa. Rede multidisciplinar do curso (adesão formal): UFRJ/Coppe – Programa de Pós-graduação em Engenharia de Produção. bem como discutir as espe- cificidades e o potencial do trabalho em design para a inovação social e sustentabilidade no contexto brasileiro. onde os participantes foram convidados a estabelecer uma interlocução com o professor sobre os conceitos apresentados. UFPE – Programa de Pós-graduação em Design. Senac (Centro Universitário Senac) – Programa Estudos Pós-graduados em Design. UFBA – Programa de Pós-graduação em Gerenciamento e Tecnologias Ambientais no Processo Produtivo. C. de design de serviços. bem como de apresentar eventuais questionamentos de seus alunos. Passado. foi possibilitado o acesso informal a diversos professo- res e estudantes de graduação. é fornecida no DVD que integra o presente volume. São Paulo: EdUSP. MANZINI. VEZZOLI.Este exemplar esta registrado para uso exclusivo de ESTÉFANO PIETRAGALLA . Ainda que a proposta do programa Escola de Altos Estudos da Capes seja especificamente dirigida aos cursos de pós-gra- duação. presente e futuro Este livro é a segunda obra de Manzini publicada no nosso país. Manzini. intensificando ainda mais a di- fusão dos conteúdos didáticos disponibilizados. (Origi- nal: Lo sviluppo di prodotti sostenibili. O fato que meus interesses estejam hoje prevalentemente orientados 4. Manzini em seus respectivos programas didáticos e elaborando-as com seus alunos localmente. estimulados. Agora. O Desenvolvimento de Produtos Sustentáveis: os Requisitos Ambientais dos Produtos Industriais. via internet. sobretudo. Rimini: Maggioli Editore. 1998. o autor se focaliza na contribuição que a inovação social po- deria dar ao tema do design para a sustentabilidade. Foram. desde o início. conside- rando o ciclo de vida dos produtos. inserindo as aulas do prof. em termos de design estratégico e. a articular os conteúdos apresentados pelo professor com seu próprio quadro conceitual. As aulas foram transmitidas ao vivo. Segun- do Manzini.. A gravação das aulas em vídeo. portanto.) Prefácio | 11 .4 o autor tratou da relação entre design e ambiente dando particular atenção ao desenvolvimento de produtos com baixo impacto ambiental. Em Desenvolvimento de Produtos Sustentáveis. permitem obter produtos ecoeficientes.1766931 agir como multiplicadores. devidamente editadas. os quais puderam seguir as aulas nos modos on-line e presencial. dando-lhes a possibi- lidade de contactar diretamente o prof. 2002. tendo esta sido exclusi- vamente dirigida aos professores locais. E. “a presente obra é complementar à anterior. em Design para a Inovação Social e Sustentabilida- de. tendo concentrado-se nas estratégias de projeto que. e duran- te todas as atividades foi aberta a possibilidade de interação à distância via chat com o prof. Manzini. Manzini afirma: “hoje em dia. E. como um tipo de setor especializado. ainda necessário con- siderar o design “para a sustentabilidade” como um setor espe- cífico. Assim sendo.Este exemplar esta registrado para uso exclusivo de ESTÉFANO PIETRAGALLA . quanto em design para a sustentabilidade. Depoimento em 30/08/2008. para colocá-los em prática. confluiu posteriormente na elaboração (por meio de um processo participativo) de um documento entitulado 5.6 O termo “deveria ser” indica que tal ob- jetivo não foi atingido. New Design Knowledge. no presente livro. Os dois livros. contribuindo para efetivas mudanças sistêmicas. Manzini pro- põe diretrizes capazes de contribuir para a definição de uma agenda de pesquisa brasileira tanto em design para a inovação social. não invalida a precedente. deve possuir um for- te componente estratégico. sustainable-everyday. que corre paralelo a outros setores especializados). 12 | Prefácio . bem como com a articulação internacional dos pesquisado- res do setor. Agosto/2008.5 Sobre o papel do design em tais mudanças.1766931 nesta segunda direção. Versão em inglês disponível em <http:// www. Importante ressaltar que. a linha de pesquisa em design para a inovação social e susten- tabilidade se apresenta ainda como um terreno muito novo e promissor (para o design e em geral). englobando todos os passos concretos que os designers podem conscientemente dar rumo a um futuro sustentável. em síntese. sendo. enquanto a primeira é relativamente consolidada. ninguém discordaria dessa afirmação (quem poderia de- clarar a vontade de projetar ou pesquisar de modo a produzir insustentabilidade?)”. a sustentabilidade deveria ser o meta-objetivo de todas as possíveis pesquisas em design (e não. A preocupa- ção do autor com a elaboração de uma agenda compartilhada. net/manzini/>. MANZINI. Provavelmen- te. Significa so- mente que. Manzini indica que esses passos devem ter um caráter sistêmi- co e o design. 6. indicam a mesma direção: o design para a sustentabilidade requer mudanças sistêmicas”. portanto. o design para a sustentabilidade é o design estratégico capaz de colocar em ato descontinuidades locais promissoras. como foi visto nos últimos anos. colocando em evidência aspectos diversos. changingthechange. da qual foi coordenador científico. O projeto. IPTS). A última versão da Design Research Agenda for Sustainability (DRAS) pode ser acessada neste endereço: http://www.changingthechange. 2008.7 Origens e possibilidades O design para a inovação social é atualmente um dos pro- pulsores da pesquisa em design para a sustentabilidade. sendo Manzini um de seus maiores promotores.1766931 Design Research Agenda for Sustainability (DRAS). objetivou explorar o po- tencial da inovação social como mola propulsora da inovação tecnológica e produtiva. podem ser acessados em www. durante a conferência internacional “Changing the Change”. tendo desenvolvido um instrumento pedagógico baseado na identificação de casos de inovação social. financiado pelo 6o Programa-Quadro da União Européia. dos resultados obtidos pelo projeto Emude. O outro projeto é denominado Creative Communities for Sustainable Lifestyles (CCSL) e objetiva verificar a validade. realizada no quadro da Torino World Design Capital – ICSID. atores do setor privado como Philips Design e envolveu também oito escolas de Design distribuídas por diversos países europeus. É um programa apoiado pela Sustainable Lifestyle Task Force das Na- ções Unidas e financiado pelo governo da Suécia com o patro- cínio do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente. Foi desenvolvido primeiramente em três paises – Brasil. Um desses é denominado Looking for Likely Alternatives (Lola). tendo estimulado a elaboração de muitas das idéias expostas aqui.org/ blog/2008/07/28/design-research-agenda-for-sustainability/. Maiores in- formações e os atos da Conferência “Changing the Change. promovido pela Consumer Citizenship Network (CCN) e finan- ciado pela União Européia. merece particular destaque por consti- tuir o pano de fundo deste livro. Design Visions. A pesquisa Emude (Emerging User Demands for Sustainable Solutions).Este exemplar esta registrado para uso exclusivo de ESTÉFANO PIETRAGALLA . China 7. Prefácio | 13 . Proposals and Tools”. A continuidade dos temas propostos por Emude estão hoje sendo desenvolvidos pelo autor em dois outros projetos. Seu tema é a educação para a sus- tentabilidade. fora do contex- to europeu.org. Foi desenvolvido por um consórcio de ins- titutos de pesquisa europeus (TNO. Unep/Pnuma. particularmente sob o ponto de vista da sustentabilidade. Carla Cipolla 14 | Prefácio . sem ne- nhuma especialização formal em disciplinas projetuais. Os casos de inovação aos quais este livro faz referência re- velam uma capacidade projetual difusa: pessoas que. como os termos “comunidades criativas” e “organizações colaborativas” nos indicam. Nesse sentido. estendido suas atividades também ao continente africano. dando evidentes sinais de que um futuro alternativo aos insustentáveis padrões de produção e consumo é possível. Os objetivos principais da linha de pesquisa. desafios projetuais e conceituais inéditos. elabo- ram por si mesmas e de modo colaborativo soluções para seus próprios problemas. mas também sobre as práticas por meio das quais tantos inovadores sociais enfrentam os desafios da vida cotidiana. esperamos que a presente obra possa ser considerada também como uma contribuição à comunidade acadêmica brasileira. em seus diversos setores. não somente no momento his- tórico atual mas também em relação ao futuro. a con- tribuírem ativamente para o advento da sociedade do conheci- mento e da sustentabilidade. não somente com o tema “design” no senti- do especializado da disciplina. no sentido de uma interlocução. a partir deste ano. Manzini convida os designers a repensarem seu próprio papel nesse quadro. é tanto desenvolver a capacidade de reconhecer o valor de um caso de inovação social sustentável quanto fo- mentar a habilidade dos designers em projetar um conjunto de soluções capaz de aperfeiçoá-lo e de reproduzi-lo em diversos contextos. expressa por meio desses projetos e cujos resultados são sintetizados na pre- sente obra. Além de analisar e reconhecer o caráter e o potencial promissor de tais fenômenos na transição rumo à sustentabilidade. como ele mesmo diz.1766931 e Índia – tendo. Isso incluindo o destaque dado pelo autor ao fato de que a redução do peso de nossas atividades no ambiente passa por uma regeneração do tecido social e por uma redescoberta do valor da convivencialidade. e demais pesquisadores. com a prática de projeto tal qual exercida pelos designers profissionais e estudada pelos seus especialistas. ou seja.Este exemplar esta registrado para uso exclusivo de ESTÉFANO PIETRAGALLA . ou seja. Esse en- foque dado à convivencialidade propõe aos designers. 2. O que se torna obrigatório. produção e consumo es- tão neste exato momento modificando-se profundamente. os designers têm sido. infeliz- mente. O paradoxo é que. pensamos que este não seja um destino inevitá- vel. portanto. produção e consumo. Se assim não o fizermos. é “mudar a mudança” (change the chan- ge). podemos nos perguntar: qual foi o papel efetivo dos designers até agora? Infelizmente a resposta é clara demais. nossos modelos de vida. sem desativar os mecanismos que sustentam o avião. no qual todos nós embarcamos. então assistiremos à verdadeira conservação. produção e consumo. que resul- tará na continuação dos atuais e catastróficos estilos de vida. na realidade. tornando-se. se não adquirirmos ex- periências diferentes e se formos incapazes de aprender a partir delas. criando e experimentando novas possibilidades. Falando em termos ge- rais. E é a partir deste pon- Introdução | 15 . e ainda são. Designers podem e devem ter outro papel. essa transformação continuará. sob a influência de certos fenômenos. “parte do problema”. Se nada acontecer. Considerando as condições atuais de nosso planeta e a natu- reza catastrófica das transformações em andamento. caminhar rumo à sustentabilidade é o contrário da conservação. Todavia.Este exemplar esta registrado para uso exclusivo de ESTÉFANO PIETRAGALLA . portanto. “parte da solução”. Contrariamente aos mais comuns clichés em termos sociais e políticos. a preservação e a regenera- ção de nosso capital ambiental e social significará justamente romper com as tendências dominantes em termos de estilo de vida.1766931 Introdução | 1. porém. Em outras palavras. Isto é possível porque no “código genético” do design está registrada a idéia de que sua razão de ser é melhorar a qualidade do mundo. se dirigindo rumo à insustentabilidade. em pleno vôo. justamente por serem os atores sociais que. focalizaremos nossa atenção sobre um fenômeno que é. alguns sinais positivos estão aparecendo. portanto.Este exemplar esta registrado para uso exclusivo de ESTÉFANO PIETRAGALLA . Seu papel específico na transição que nos aguarda é oferecer novas soluções a proble- mas. sejam velhos ou novos. desenvolvendo habilidades de design. lidam com as interações cotidianas dos seres humanos com seus artefatos. as sociedades ocidentais. possuem. em si mesmo. sobre a atração que novos cenários de bem-estar possam porventura exercer. e propor seus cenários como tema em processos de discussão social. os ins- trumentos para operar sobre a qualidade das coisas e sua acei- tabilidade e. Neste sentido. de- veria promover. os designers podem ter um papel muito es- pecial e. ainda que estas habilidades difusas de design e seu potencial sejam largamente desperdiçados (ou me- lhor dizendo. 3. devem aprender a agir criati- vamente. junto com as expectativas de bem-estar a elas associadas. que devem necessariamente mudar durante a transição rumo à sustentabilidade. individuais ou coletivos. Em particu- lar. importante: mesmo não tendo meios para impor sua própria visão aos outros. seguindo sua profunda missão ética. esperamos. colaborando na construção de visões compartilhadas sobre futuros possíveis e sustentá- veis. repensando qual é a qualidade do mundo que o design. todas aquelas que passaram por uma recente e turbulenta in- dustrialização) criam particulares condições através das quais sujeitos. consideraremos a criatividade e as habilidades de design como elementos efetivamente necessários para mover um processo de inovação social e tecnológica de tal magnitude como requer a transição rumo à sustentablidade. São casos de inovação social. em particular 16 | Introdução . mais do que quaisquer outros. Neste novo contexto. sejam direcionadas à uma procura individualista de idéias insustentáveis de bem-estar). mas também. Nessa perspectiva. contraditório: sociedades em rápida transformação (isto é.1766931 to que devemos recomeçar. os designers podem ser parte da solu- ção. Neste livro. porém. São precisamente tais interações. e sobretudo. consumindo (bem) menos recursos ambientais e regenerando a quali- dade dos contextos onde vivem. ao que os designers poderão fazer em suas próprias atividades profissionais e de pesquisa. Algumas das idéias desenvolvidas por estas co- Introdução | 17 . O livro está articuldado em quatro capítulos. Estes modos não convencionais de pensar e agir são o pon- to de partida da estratégia rumo à sustentabilidade que propo- remos aqui. defi- nida como bem-estar baseado no acesso. Inovação social | Comunidades criativas e organizações co- laborativas. insustentável e baseada no produto. bens comuns e ca- pacidades. E também. está mudando. como se re- vela agora. essa nova visão de bem-estar é. A idéia de bem-estar tradicional. é necessá- rio que uma transformação sistêmica aconteça. fortalecendo as capacidades pessoais. A transição rumo à sustentabilidade será um processo de aprendizagem social graças ao qual os seres humanos aprenderão a viver bem. está emergindo. um verdadeiramente promissor é representado por grupos de pessoas que estão inventando espontaneamente novos modos de vida sus- tentáveis. Esta tendência deve ser revertida e reorientada na direção de um bem-estar baseado na qualidade do contexto de vida como um todo. Uma nova idéia. Mas esta. as habilidades di- fusas de design são capazes de criar modos de ser e de fazer ao mesmo tempo criativos e colaborativos. Modos de vida | Bem-estar sustentável. A sociedade contemporânea emite diferentes e contraditórios sinais. 4. ainda mais insustentável do que a anterior. movendo- se do nível local ao global. considerados também como passos promissores rumo à sustentabilidade. Infelizmente. e é o que mais nos inte- ressa aqui. às vezes. Sustentabilidade | Descontinuidades sistêmicas e processos de aprendizagem social. é mais diretamente relacionada ao que as pessoas podem fazer no seu próprio dia-a-dia. Para fazer isto. Uma estratégia que é certamente apenas uma das muitas a serem implementadas. que indicam como. Dentre eles. em nossa visão.1766931 as inovações sociais de base na vida cotidiana (as comunida- des criativas).Este exemplar esta registrado para uso exclusivo de ESTÉFANO PIETRAGALLA . Comunidades criativas e emprendimentos sociais difusos são organizações socias complexas e delicadas. Outras são reproduzidas em contextos diferentes. Servi- ços. Todas devem ser levadas em consideração como experimentações de fu- turos possíveis. produtos. “de cima para baixo” (top-down) e “entre pares” (peer- to-peer). Redes projetuais |Interações “de baixo para cima” (bottom- up). Porém. sua origem e sua existência não podem ser planejadas. Um ambiente favorável pode ser gerado. espaços e ferramentas comunicativas de su- porte podem ser projetadas.1766931 munidades criativas consolidam-se e sobrevivem.Este exemplar esta registrado para uso exclusivo de ESTÉFANO PIETRAGALLA . Por essa razão. algo pode ser feito para torná-las mais prováveis. 18 | Introdução . 1766931 1. é óbvio que esta descontinuidade ocor- rerá. na perspectiva que veio à luz a partir da teoria da evolução dos sistemas comple- xos. De qualquer forma. É di- fícil prever hoje como isto poderá acontecer. é altamente provável que esta descontinuidade sistêmica em escala macro seja precedida por muitas descontinuidades locais. que se realizará mediante um longo período de transição e que tal mudança se dará por meio de um processo de aprendi- zagem social largamente difuso. Sustentabilidade | Descontinuidades sistêmicas e processos de aprendizagem social A sustentabilidade requer uma descontinuidade sistêmica: de uma sociedade que considera o crescimento contínuo de seus níveis de produção e consumo material como uma condição normal e sa- lutar. Atingirá também as vá- rias escalas do tempo (o que pode ser feito brevemente e o que requererá um período de tempo maior) e do espaço (da “micro- escala” de um único produto e serviço à “macroescala” dos sis- temas sociotécnicos globais). a econômica e institucional (a relação entre os atores sociais) e a ética. Sustentabilidade | 19 . mudanças radicais em escala local. simultaneamente melhorando a qualidade de todo o ambiente social e físico. Finalmente.Este exemplar esta registrado para uso exclusivo de ESTÉFANO PIETRAGALLA . isto é. Em primeiro lugar. estética e cultural (os valores e juízos de quali- dade que lhe darão legitimidade social). alguns pontos já estão suficientemente claros. devemos nos mover na direção de uma sociedade capaz de se desenvolver a partir da redução destes níveis. É claro também que esta pro- funda transformação atingirá todas as dimensões do sistema sociotécnico no qual vivemos: a física (fluxos materiais e ener- géticos). 1. 1766931 1. A deterioração ambiental avança mesmo quando não a discutimos e se manifesta em muitas outras formas: saturação do mercado (demanda limitada).1 Os limites do Planeta Hoje. o tema dos limites não está relacionado simples- mente à “questão ambiental” da forma como esse tema foi tra- tado no passado (isto é. ou seja. Objetivando justificar 20 | 1. o problema continua a existir mesmo quando não é enunciado de modo explícito na agenda política ou mi- diática. Na percepção desses limites deve-se olhar não apenas para o que. Na realidade. por exemplo.Este exemplar esta registrado para uso exclusivo de ESTÉFANO PIETRAGALLA . o foco exclusivo no tema ambiental tem dependido de fatores contingentes: do espaço dedicado pela mídia (algum novo problema que vem à tona ou alguma séria catástrofe que aconteça) e da competição com outros assuntos que pesam na consciência pública (por essa razão. Mais explicitamente: que forma de desenvolvimento não comprometeria o bem-estar. estaremos diante de questões enormes como. Se considerarmos o sistema cultural e operacional da sociedade industrial como um todo. proliferação de guerras regionais para o controle dos recursos naturais (recursos limitados). como a reproposição de um mo- delo de desenvolvimento baseado em um crescente consumo material). dificuldade de imaginar o futuro (porque a consciência do limite impede de ver o futuro simplesmente como a conti- nuação do passado. Todavia. em geral. desemprego (oportunidades de trabalho limitadas). como uma série de problemas que ten- tamos resolver separadamente). das futuras gerações no nosso planeta? É nessa perspectiva que o tema dos limites está relacionado com o tema do desenvolvimento sus- tentável e das sociedades sustentáveis. é designado com o termo “problemas ambientais”. pois ou- tros assuntos parecem ser de interesse mais imediato). emigração e conseqüentes problemas raciais (limites demográficos e so- ciais). ou todas as vidas. até o momento. se há uma crise econômica ou política em curso não se discute o meio ambiente. o que a expressão “bem-estar” significa atual- mente. Sustentabilidade . um profundo e poderoso fator de transformação é o fato de que os limites de nosso planeta tornaram-se evidentes. Portanto. pois o funcionamento desse modelo extrapolava a capacidade de recuperação dos ecossistemas e estava rapida- mente consumindo o capital natural. por exemplo. a expressão foi cada vez mais usada. A introdução do termo “desenvolvimento sustentável” evi- denciou que a promessa de um bem-estar baseado na conti- nuidade do modelo de desenvolvimento dos países ricos (cha- mados “desenvolvidos”) e na emulação desse modelo para os países menos ricos (chamados “subdesenvolvidos”. “em desenvolvimento”) não poderia mais ser mantida. como. pela primeira vez.1766931 tais afirmações. A expressão “desenvolvimento sustentável” foi introduzida no debate internacional pela pri- meira vez em um documento da Comissão Mundial para o Am- biente e o Desenvolvimento chamado “Nosso futuro comum” (Our Common Future). a Conferência das Nações Unidas sobre Ambiente e De- senvolvimento. ou seja. coordenado por Gro Harlem Brundland. como entendido até então. a emissão de um número crescente de novas e potencialmente nocivas substâncias sintéticas no meio ambiente (substâncias estranhas à natureza e que. A partir de então. re- presentava uma perspectiva objetivamente impraticável. O que torna a Conferência e os documentos elaborados naquela ocasião tão importantes é que. O uso insensato dos recursos renováveis (superexploração de alguns. realizada em 1992 no Rio de Janeiro. ou mais otimisticamente. traçaremos certos aspectos da sustentabilidade ambiental de acordo com os mais recentes estudos no setor. Sustentabilidade | 21 . que o “desenvolvimento”. foi oficialmente reconhecido o que por muito tempo fora evidente para alguns – mas. e subem- prego de outros.Este exemplar esta registrado para uso exclusivo de ESTÉFANO PIETRAGALLA . como a energia solar). Desenvolvimento sustentável. um igualmente insensato uso dos recursos não renováveis (com rápida diminuição das re- servas de alguns deles e a correspondente acumulação de lixo). os recursos da pesca. conseqüentemente. não esteve em nenhuma agen- da política internacional. programa de intervenção ou mesmo nos pensamentos da maioria dos cidadãos deste planeta –. não são mais 1. até tor- nar-se a palavra-chave em uma conferência fundamental sobre o tema. com certeza. não empobreçam o capital natural que será herdado pelas gerações futuras. as pesquisas rumo a sustentabilidade am- biental devem se referir a dois conceitos fundamentais: resiliên- cia e capital natural. dependem em longo prazo do funciona- mento daquele “mix” de ecossistemas que. Quando estendido ao planeta inteiro esse conceito introduz a idéia de que o sistema natural. as quais. mas não somente. A expressão “sustentabi- lidade ambiental” refere-se às condições sistêmicas a partir das quais as atividades humanas. ao mesmo tempo. nossas vidas e as das gerações futuras. biofísicas) e de sua capaci- dade produtiva (sua capacidade de produzir alimento. tudo mostrou sem equívocos que a estrada que estávamos percorrendo.Este exemplar esta registrado para uso exclusivo de ESTÉFANO PIETRAGALLA . não conduziria de forma alguma ao desenvolvimento com o qual so- nhávamos. Sustentabilidade . abriu espaço para inúmeras interpretações. foram suficientes para mudar o curso da história. Outro modelo deveria ser fundado. conseqüentemente. não perturbem os ciclos naturais além dos limites de re- siliência dos ecossistemas nos quais são baseados e. em poucas palavras. dizia “faça como nós ocidentais fizemos”) não era uma proposta praticável. Sustentabilidade ambiental (e social). sem dúvida. insumos e energia). to- davia. coeren- te com alguns princípios básicos (os princípios físicos e éticos da sustentabilidade): uma definição ainda muito vaga. e. o conceito de “desenvolvimento sustentá- vel” não fornecia nenhuma indicação a respeito de como esse novo modelo de desenvolvimento deveria ser. Nossa sociedade. De outro lado. 22 | 1.1766931 possíveis renaturalizar) – apenas para mencionar alguns dos problemas mais evidentes –. em escala mundial ou em escala local. com a perspectiva de uma população quase duplicada nas próximas poucas décadas. A resiliência de um ecossistema é sua ca- pacidade de tolerar uma atividade que o perturba sem perder irreversivelmente seu equilíbrio. que. Apenas afirmava que o modelo como foi inicialmente proposto (que. Neste quadro. por simplicidade. chamamos de natureza. dependem de suas várias qualidades (principalmente. Dada a definição acima. A expressão sustentabilidade social refere-se às condições sistêmicas através das quais.1766931 sobre o qual a atividade humana está baseada. devem ser complementados por outros.Este exemplar esta registrado para uso exclusivo de ESTÉFANO PIETRAGALLA . O conceito de espaço ambiental e os princípios de justiça e respon- sabilidade em relação ao futuro. requerem uma concisa definição: o espaço ambiental é a extensão territorial necessária para manter um sistema so- ciotécnico neste mesmo espaço de uma forma sustentável. uso e consumo tem que ir ao encon- tro das demandas da sociedade por produtos e serviços sem perturbar os ciclos naturais e sem empobrecer o capital natu- ral. Estes preceitos fundamen- tais. Sustentabilidade | 23 . aos quais nos referimos através do termo sustentabilidade social. devem ser levados em conta como um todo. as atividades humanas não contradizem os princípios da justiça e da responsabilidade em relação ao futuro. O ter- mo refere-se também à riqueza genética. Sucintamente: para ser sustentável. isto é. ou seja. sobre o qual essa definição está baseada. a mesma quantidade e qualidade de recur- sos ambientais – que temos atualmente à nossa disposição. o princípio de justiça declara que cada pessoa tem direito ao mesmo espaço ambiental. produzir e consumir sem desencadear fenô- menos irreversíveis de deterioração. cidade ou nação deve dispor para viver. que conjuntamente com a capacidade sistêmica do ambiente de reproduzir recursos renováveis. indica quanto “ambiente” uma pessoa. tem limites de capacidade e recuperação além dos quais um fenômeno irre- versível de deterioração terá início. considerando a atual distribuição e a futura disponibilidade de “espaço ambiental”. um sistema de produção. O princí- pio de responsabilidade em relação ao futuro declara que deve- mos garantir às gerações futuras pelo menos o mesmo espaço ambiental – ou seja. A dimensão da mudança. à variedade de espécies habitantes no planeta. Por outro lado. capital na- tural são os recursos não renováveis. de natureza social e ética. baseados principalmente em considerações físicas. Isto significa em primeiro lugar reduzir drasticamente o uso dos recursos ambientais (deve ser fundamentalmente baseado 1. seja em escala mundial ou regional. Levando em conta as previsões de aumento da população e considerando um crescimento justo na demanda por bem- estar nos países atualmente menos desenvolvidos.. serviços e bens co- muns. Em outras palavras: como esse siste- ma é capaz de transformar recursos ambientais no bem-estar almejado. Erlich. Seu pano de fundo é baseado na seguinte consideração: o impacto das atividades humanas sobre o ambiente depende de três variáveis fundamentais. em termos de produtos. Porém. minimizando a utilização daqueles não renováveis – inclusive o ar. a água e a terra – e evitando a acumulação de lixo e resíduos). Essa impressionante afirmação requer algumas explica- ções. a ecoeficiência do sistema sociotécnico é um indicador da eficiência do metabolismo de um sistema de produção. interligadas por uma relação que pode ser expressa dessa forma: Impacto ambiental = população x demanda por bem-estar x ecoeficiência do sistema sociotécnico Onde: a população é o numero de pessoas que pesa sobre um dado ecossistema e a demanda por bem-estar correspon- de às expectativas. parece evi- 24 | 1.Este exemplar esta registrado para uso exclusivo de ESTÉFANO PIETRAGALLA . Meadows et al.1766931 em recursos renováveis. uma avaliação muito geral e aproximada nos permite dizer. que as pessoas expressam em um dado contexto social (e que consideram como uma dotação necessária para conside- rar satisfatória a qualidade do seu contexto de vida e o acesso potencial que ele oferece). tomando como referência o atual metabolismo de uma sociedade industrial adulta. Sustentabilidade . Em outras pa- lavras: somente aqueles sistemas de produção e consumo que utilizam menos de 90% de recursos ambientais por unidade de serviço fornecido em relação ao que é atualmente utilizado numa sociedade industrial adulta pode ser considerado susten- tável (Ehelich. 1992). En- tretanto. 1991. é necessário quantificar a expressão “reduzir drasti- camente”: qual o tamanho da redução necessária? Obviamente tal questão não pode ser respondida de maneira simples. Por fim. que as condições para sua susten- tabilidade somente podem ser alcançadas através do aumento de sua ecoeficiência em pelo menos 10 vezes. Este exemplar esta registrado para uso exclusivo de ESTÉFANO PIETRAGALLA - 1766931 dente que as condições para a sustentabilidade somente po- dem ser alcançadas, como já dissemos, através de um aumento na eficiência do sistema sociotécnico de, pelo menos, “fator 10” – isto é, aumentando-a pelo menos 10 vezes (Schmidt-Bleek, 1993; WBCSD, 1993, 1995). Essa é uma estimativa aproximada; é válida, apesar de tudo, para indicar a medida da mudança necessária. É o quadro de uma sociedade onde será necessário viver – e, esperamos, viver bem – utilizando 10% dos recursos consumidos hoje em uma sociedade industrializada. 1.2 Descontinuidade sistêmica Está claro que o sistema de produção e consumo de uma socie- dade sustentável será profundamente diferente daquele que co- nhecemos até hoje. Tão diferente que nenhuma alteração par- cial, nenhum melhoramento na tecnologia atualmente em uso e nenhuma operação de redesign será suficiente (Hawken,1994; Pauli, 1997; Sthael, 1977; Vezzoli, Manzini, 2007). Partindo da quantificação do aumento necessário na eco- eficiência, geramos uma consideração qualitativa: o desenvol- vimento sustentável necessita de todos nós – das sociedades mais industrializadas àquelas de mais recente industrialização ou ainda não industrializadas – para focalizar e gerar idéias de desenvolvimento tão diferentes daquelas que dominaram a cena até hoje, que não podemos imaginá-las sem questionar o inteiro complexo econômico e sociocultural sobre o qual o sistema existente de produção, uso e consumo está baseado. O que tem de acontecer, e, na prática, já está acontecendo, é uma descontinuidade sistêmica: uma forma de mudança em cujo final o sistema em questão – em nosso caso, o complexo sistema sociotécnico no qual as sociedades industriais estão baseadas – será diferente, estruturalmente diferente, daquilo que tivemos conhecimento até hoje. Um processo de aprendizagem social. A transição rumo à sus- tentabilidade requer uma descontinuidade: de uma sociedade onde o crescimento contínuo dos níveis de produção e de con- 1. Sustentabilidade | 25 Este exemplar esta registrado para uso exclusivo de ESTÉFANO PIETRAGALLA - 1766931 sumo material é considerada uma condição normal e salutar, devemos nos mover para uma sociedade capaz de desenvol- ver-se a partir de uma redução destes níveis, incrementando a qualidade do ambiente global. É difícil prever hoje como isso poderá acontecer. De qualquer forma, é certo que essa descon- tinuidade acontecerá e que será baseada em um longo período de transição. Diante desta necessidade, o quadro que emerge é contra- ditório: de um lado, a gravidade do problema ambiental é, a esta altura, universalmente reconhecido, e as devidas medidas começam a ser adotadas. De outro lado, considerando a enor- midade das transformações que devem acontecer, todas essas medidas são ainda insuficientes e, na realidade, o consumo de recursos ambientais e o nível de deterioração do planeta estão ainda (em média) crescendo. O problema é que o que foi feito até agora, na realidade, não colocou em discussão os atuais paradigmas econômicos e sociais. Conseqüentemente, as linhas básicas da economia po- lítica e social ainda direcionam o sistema na direção oposta à sustentabilidade. Uma nova idéia de bem-estar. Enquanto esse direcionamento não é invertido, em outras palavras, até que a descontinuidade seja reconhecida como inevitável, levando-nos a lidar ampla- mente com o processo de transição, a pressão do problema am- biental continuará a se manifestar em múltiplas e incontrolá- veis direções (tensão social e confrontos abertos, guerras, crises econômicas). Na realidade, pensar e promover a descontinui- dade não é uma questão somente de política ambiental, mas sim a única maneira de imaginar um futuro que seja, na medida do possível, pacífico, tolerante e democrático. Ainda que a transição seja longa, pelas razões antes men- cionadas, ela já teve início. Portanto, de agora em diante, será uma questão de direcionamento, ou seja, manejá-la enquan- to se procura minimizar os riscos e incrementar oportunida- des em um amplo, longo, inevitável e contraditório processo de aprendizagem social. Nesse processo, uma das questões funda- 26 | 1. Sustentabilidade Este exemplar esta registrado para uso exclusivo de ESTÉFANO PIETRAGALLA - 1766931 mentais a serem discutidas é relativa à qualidade do bem-estar desejado e percebido pelas pessoas: as idéias de bem-estar que a sociedade formula e socializa constituem um formidável guia de ação. São idéias que operam como atrativos sociais capa- zes de estimular e direcionar ações tanto do lado da demanda quanto da oferta de produtos e serviços. A fim de minimizar ris- cos e incrementar oportunidades intrínsecas à transição para a sustentabilidade, devemos considerar e mudar profundamente as idéias dominantes nesse campo. 1.3 Design e sustentabilidade A transição rumo à sustentabilidade será um processo de aprendizagem social no qual os seres humanos aprenderão gradualmente, através de erros e contradições – como sempre acontece em qualquer processo de aprendizagem –, a viver me- lhor consumindo (muito) menos e regenerando a qualidade do ambiente, ou seja, do ecossistema global e dos contextos locais ondem vivem. Essa afirmação, que resume experiências – e erros – adqui- ridos ao longo de décadas, contém, em sua aparente simpli- cidade, um número considerável de importantes implicações estratégicas. Em primeiro lugar, declara a necessidade de diminuir o consumo de recursos ambientais e de regenerar o ambiente fí- sico e social. Entretanto, diz também que essa mudança deve acontecer como resultado de uma escolha positiva, e não como reação a eventos desastrosos ou imposições autoritárias. Em outras palavras, deve basear-se em uma transformação capaz de ser entendida por aqueles que a vivem como uma melhoria nas condições de vida (seja individual ou coletiva). É claro também que, mesmo que a afirmação acima não o diga explicitamente, à luz das idéias e das práticas atuais, a possibilidade de uma drástica redução no consumo deve ser entendida como uma melhoria na qualidade de vida pelos in- divíduos e pelas comunidades, o que não se caracteriza de for- ma alguma como uma possibilidade óbvia segundo as atuais referências culturais e comportamentais. É evidente que tal 1. Sustentabilidade | 27 Já sugerimos que. empresas e também para os cidadãos comuns em suas comunidades e organizações. a possibilidade de ação recai na sua capacidade de dar uma orientação estratégica às próprias atividades. Colocar juntas estas diferentes exigências. política e econômica). São eles: 28 | 1. uma descontinuidade sistêmica deve acontecer. para todos os outros atores sociais o problema é como facilitar uma transição que consiga este mesmo resultado sem provocar uma catástrofe social (e. na sua habilidade em definir objetivos que combinem suas pró- prias necessidades e exigências com os critérios da sustentabili- dade que estão gradualmente vindo à tona. Ou seja. à idéia de bem-estar. as soluções sustentáveis. portanto. em outras palavras. como já disse- mos. organizá-las num sistema coerente de produtos e serviços re- generativos. novas (e sustentáveis) soluções devem ser concebidas e desenvolvidas (Mont. a fim de con- duzir à sustentabilidade.Este exemplar esta registrado para uso exclusivo de ESTÉFANO PIETRAGALLA . 2002). Sustentabilidade . e comunicar tais visões e sistemas adequadamente para que sejam reconhecidos e ava- liados por um público suficientemente amplo. Dada a “microescala” discutida aqui. capaz de aplicá- las efetivamente. sobretudo. Isso posto. se o papel dos políticos e das insti- tuições é criar um ambiente favorável a orientação da inovação rumo à sustentabilidade. uma completa redefinição do significado que cada indivíduo ou grupo atribui ao conceito de qualidade de vida e. Começando pelos resultados. para os designers. O sentido dessa afirmação pode ser entendido melhor se considerarmos brevemente os passos a serem realizados no projeto (design) de uma nova solução. cultural. esta desconti- nuidade aparecerá como uma descontinuidade local: uma mu- dança radical tanto nos resultados requeridos como nos meios para alcançá-los.1766931 possibilidade requer. Mais especificamente. implica uma considerável habilidade de design: a habi- lidade de gerar visões de um sistema sociotécnico sustentável. enquanto para os cientistas da ecologia o pro- blema é focalizar sobre aqueles aspectos físicos do metabolis- mo da sociedade que evitam uma catástrofe ambiental. em última análise. social e ambiental das alternati- vas identificadas. Fazer isso oferece a possibili- dade de introduzir critérios e diretrizes coerentes com os requisitos da sustentabilidade. habilidades organizativas e papéis desempenhados pelos atores envolvidos de forma que esses resultados possam. execução. potencialmente. De fato: Pensar em termos de soluções promove uma abordagem sistêmica. ou seja. traz numerosas vantagens do ponto de vista social e ambiental. lavar roupa). podemos afirmar que pensar em termos de soluções é uma precondição para conceber e realizar sistemas sustentáveis. em princípio. Imaginar soluções alternativas – planejar diferentes com- binações possíveis de produtos. ser obtidos. serviços e conhecimento que irão compor a solução. o grupo de atores envolvidos no planejamento. Sustentabilidade | 29 . De outro lado. dos atuais sistemas orientados ao produto aos novos sistemas orientados às soluções) é apenas uma precon- 1. Pensar em termos de soluções abre a discussão sobre o atual sistema de produtos e serviços. Desenvolver as soluções mais adequadas – planejar um pro- cesso que contenha dois movimentos: promover conver- gência entre as empresas e os atores sociais envolvidos na realização da solução escolhida e conectá-los aos produtos. Avaliar e comparar várias soluções alternativas – utilizar um conjunto apropriado de critérios para avaliar a efetiva conveniência econômica.1766931 Mudar a perspectiva – mudar o centro de interesse das coi- sas (por exemplo. serviços. ou seja. encoraja os designers e. focalizando o processo de projeto nas atividades a serem realizadas (preparar a comi- da. de forma geral.Este exemplar esta registrado para uso exclusivo de ESTÉFANO PIETRAGALLA . a radical transformação de produtos em so- luções (ou seja. considera possíveis alternativas às soluções atualmente difusas (que são am- plamente insustentáveis). o que. carros e máquinas de lavar roupa) para os resultados. produção. mover-se pela cidade. uso e descarte final (dos componentes mate- riais) da solução a pensarem em termos de sistema. conhecimento. geladeiras e fogões. A partir desses pontos. isto é. Significa que é caracterizado pela coerência com os princípios fundamentais da sustentabilidade através de uma baixa intensidade de energia e material e de um alto potencial regenerativo. se refere à “leveza” da solução e de seus efeitos. Cons- titui o mais tradicional conjunto de critérios e permanece fundamental: qualquer sistema. se baseia na qualidade e quantidade de recursos utilizados para obter um resultado. serviços e conhecimento são articulados em um sistema que objetiva facilitar ao usuá- rio a obtenção de um resultado coerente com os critérios da sustentabilidade.1766931 dição (e não uma garantia) para a sustentabilidade. tem que ser altamente ecoeficiente. em sínte- se. Consistência com os princípios fundamentais. Isto por- que novas soluções podem ser ainda mais insustentáveis que as anteriores. resíduos não perigosos etc. É avaliada em termos de ecoeficiência sistêmica. Metaforicamente falando. Estão também associados a questões sociais e econômicas tais como o tema da justa distribuição da riqueza e do poder. do fortalecimento da democracia. levando 30 | 1.). Muito depende das escolhas de design que são efetivamente adotadas. Refere-se aos princípios éticos relacionados às pessoas e à sociedade (tais como justiça entre as gerações e justiça internacional). Critérios para a sustentabilidade. do envolvimento indivi- dual e coletivo. do empoderamento comunitário. Baixa intensidade de energia e material. para ser definido como “sustentável”. Uma solução sustentável é o processo por meio do qual produtos.Este exemplar esta registrado para uso exclusivo de ESTÉFANO PIETRAGALLA . Sustentabilidade . Expressa portanto as dimensões técnicas de uma solução e a sua capacidade de obter um determinado resultado da melhor maneira possível. Sendo mais claro: um resultado que tenha também o efeito de transformar um sistema dado e gerar um novo que seja coerente com os fundamentais princípios da sus- tentabilidade. bem como princípios relacionados à nossa relação com a natu- reza e o meio ambiente (conservação da biodiversidade. Refere-se à capacidade da so- lução em obter uma integração com seu contexto de uso. o sistema que emerge da integração da nova solução com o estado de coisas existentes (ou seja. 2007).4 Orientações e diretrizes O critério para a sustentabilidade proposto aqui fornece indica- dores úteis por meio dos quais é possível mensurar a qualidade dos resultados. quando ainda não foram concebidas. 1998. 2001. os parâmetros de avaliação que provêm diretamente destes critérios nos permitem avaliar as escolhas feitas. regenerar o ambien- te local e os recursos sociais disponíveis. onde necessário. sociais. Vezzoli. mas não guiá-las. culturais e econômicos. a opinião largamente compartilhada é que o sistema deve ser altamente integrado com seu contexto a fim de ser definido como sustentável e que deve aumentar e. Alto potencial regenerativo. McDonough. certamente alguns aspectos já são bas- tante claros e aceitos. a partir de uma perspectiva sustentável. Em outras palavras. Esse terceiro critério resume uma série de considerações a respeito da qualidade dos contextos de vida e é avaliado através de uma série de parâmetros sociais. para avaliar se. A elaboração da resposta a essa questão deve começar por esses mesmos critérios e contar com as experiências concretas para desenvolver orientações e diretrizes de design: indicações ge- rais e sugestões específicas capazes de guiar escolhas de design 1. suas implicações ambientais. Manzini. Em contraparti- da. Jegou. estes parâmetros são a expressão do conhecimento e das expectativas sociais em relação ao bem-estar sustentável. Expressa a dimensão positiva de uma solução. (Braungart. e com que extensão.1766931 em consideração o completo ciclo de vida dos artefatos re- lacionados. estejam ainda hoje em discussão. sua capaci- dade de melhorar o estado de coisas. aumentando os recursos ambientais e sociais disponíveis. Hemel. 1. Manzini. Charter. Brezet. Tischner. econômicas e culturais como um todo) é sustentável. Em particular. Ainda que os critérios para a avaliação da qualidade contex- tual. 1997. Todavia. Sustentabilidade | 31 . 2003.Este exemplar esta registrado para uso exclusivo de ESTÉFANO PIETRAGALLA . eticamente inaceitá- veis.Este exemplar esta registrado para uso exclusivo de ESTÉFANO PIETRAGALLA . desen- volva sistemas de energia baseados em diferentes recursos. estas orientações e diretrizes são uma expres- são do estado da arte desses assuntos e deveriam ser considera- das como diretrizes dinâmicas. prédios e produtos não usados. Em particular. pareçam ter maior chance de sucesso. gere novas formas: dê maior importância aos produtos artesanais locais. Reduzir a necessidade do novo. Promover a variedade. orga- nizacional e tecnológica) e. Usar o que já existe. melhore o existente. Visto que sustentabili- dade é praticamente sinônimo de diversidade. certas considerações fundamentais devem ser feitas antes de começar um adequado processo de design. Visto que nós necessitamos minimizar a intervenção no que já existe. Princípios gerais. antes de começar um projeto pense sobre suas impli- cações gerais. explicamos a tendência rumo ao desenvolvimento de soluções que promovam uma qualidade global dos contextos. Visto que al- gumas propostas de design são. aperfeiçoe o uso do que foi pouco utilizado. ou seja. Qualidade dos contextos. se possível. Considerar os objetivos. Não use. em contínua evolução. Sustentabilidade . Não projete armas. Numa perspectiva de sustentabilidade. Assim. que muito provavelmente revelar-se-ão soluções sus- tentáveis. por exemplo. cultural. sociocultural e tecnológica. São alguns princípios gerais aos quais se deve dar atenção antes de iniciar um projeto: Pensar antes de fazer. proteja e/ou atualize o conhecimento e as formas existentes de organi- zação. antes de pensar algo novo. produtos que foram declarados prejudiciais ou organismos geneticamente mo- dificados. estimule a utilização de múltiplos meios de transporte etc. com base no conhecimento e na expe- riência obtidos até agora. planeje res- peitando a diversidade existente (biológica. Recupere infra-estrutura. tendências rumo 32 | 1.1766931 rumo a soluções que. em si. Não colabore com empresas que utilizam trabalho infantil. Proteger e desenvolver a diversidade biológica. Com isso. criar sistemas de distribuição diretos e transpa- rentes e sistemas de rastreamento do produto. para reduzir o impacto da mobilidade e fortalecer o tecido social local. também. Reduzir a demanda de produtos. a carona solidária. as lavanderias condominiais. serviços descentralizados. Renaturalizar a comida. Proteger o ambiente natural e pro- mover a “natureza simbiótica”. por exemplo. dos flu- 1. de forma inovadora. Sustentabilidade | 33 . por exemplo. estimulem novas formas de socialização como. Desenvolver sistemas de transportes de baixa inten- sidade. Ponto-de-venda de produção e/ou consumo. Dar espaço à natureza. componentes naturais no tecido urbano. Esta orientação tende a um gerencia- mento inteligente e sensível dos recursos renováveis. Instrumentos e equipamentos compartilhados. a manter uma temperatura está- vel dentro dos edifícios. e ao mesmo tempo. Escritórios de bairro ao invés de lugares de trabalho longe. Isto nos leva a enfrentar questões complexas. Devemos planejar sistemas que respei- tem as áreas naturais restantes e que integrem.Este exemplar esta registrado para uso exclusivo de ESTÉFANO PIETRAGALLA . Telhados e fachadas verdes ajudam. Desenvol- ver avançados sistemas de produção de comida orgânica capazes de reduzir a artificialidade de nosso sistema de ali- mentação. parques urbanos e jardins. por exemplo. Reduzir a demanda por trans- porte. mas também hortas e fazendas urbanas. Um ambiente densamente povoado e altamente artificial requer o planejamento de “espaços naturais”. a jardinagem compartilhada e as ferramentas “faça-você- mesmo”. Inteligência de sistema. Cultivar naturalmente. ou a orga- nização do espaço nas atividades cotidianas e o uso comparti- lhado e flexível dos bens comuns e a infra-estrutura de serviço. Aproximar pessoas e coisas. parques naturais. Desenvolver sistemas que oti- mizem a utilização de produtos e sistemas.1766931 às soluções que implicam a requalificação dos bens comuns e a promoção de uma ecologia do tempo. tais como nossa relação com a natureza e a comida em contextos urbanos altamente artificiais. promoção de grupos de compra inteligentes. sistemas de informação interativa. Desenvolva sistemas capazes de apren- der a partir da experiência. Fortalecer pessoas. Soluções promissoras. Exemplo: sistemas de “faça-você-mesmo”. Promover formas de organização descen- tralizadas e flexíveis. total emprego do resíduo e recorte. na estrutura da transição rumo à sustentabilidade. Desenvolver redes. tempo e habilidades. Desenvolva sistemas habilitantes e de socialização para estimular as capacidades pessoais e reforçar o tecido social. Além disso. de produtos e de pessoas. Produza com resíduo zero.1766931 xos de energia. Reduza a dependência da gasolina. o vento e a biomassa. uso sustentável de biomassa e geradores de vento. Exemplo: sistemas industriais simbióticos. entendida como um processo de aprendizagem social. redes descentralizadas de energia. sistemas para o intercâm- bio de bens. bem como desenvol- vendo soluções “reorientáveis”. essa capacidade de aprendizagem é o aspecto mais característico dessa particular forma de inteligência. Promova formas de ecologia in- dustrial.Este exemplar esta registrado para uso exclusivo de ESTÉFANO PIETRAGALLA . Uma solução que siga tais orientações e que tenha sido desenvolvida adotando uma ou mais das diretri- zes correspondentes pode ser chamada de solução promissora: 34 | 1. Sustentabilidade . esta orientação for- talece a busca de uma melhor ecoeficiência sistêmica por meio do desenvolvimento de uma capacidade de aprender a partir da experiência e corrigir qualquer erro que porventura seja per- cebido. Incrementar a participação. mini- mizando a produção de CO2. produção e pontos-de-venda descentralizados. Desenvolva ecossistemas industriais que tendam a “fechar o círculo dos materiais” e a energia em cascata. co-produção de calor e eletricidade. Use o sol. Exemplos: sistemas basea- dos em formas de organização “de baixo para cima” (bottom- up). De fato. Desenvolva sistemas de energia alternativa. Exemplo: arquitetura biocli- mática. células combustíveis. materiais. sistemas fotovoltaicos integrados. ampliando as possibilidades de feedback (avaliação e comentários). a qual só pode ser realmente verificada adotando-se adequadas metodo- logias de avaliação. Algumas vezes. metodologias de avaliação só podem ser rigorosamen- te aplicadas quando o projeto tenha tomado forma e todos seus componentes tenham sido desenvolvidos. ou provaram ser definitiva- mente escolhas errôneas. Frente à complexidade das rigorosas metodologias de ava- liação quantitativa (e. Isto é verdadeiro também no caso das soluções promissoras. o que não deve. Apesar disso. porém. O conceito de solução promissora requer uma explicação mais detalhada. como dito anteriormente. por si só. 1. De fato. foi possível aprender algo: se nada tivesse sido feito. na realidade. do tempo e do com- promisso financeiro requeridos para sua aplicação). essas soluções mostraram-se consideravelmente me- nos promissoras do que o esperado. é justamente a partir destes erros que nos tornamos hábeis em desenvolver novas diretrizes capazes de levá-los em conta. Devemos deixar claro que estas metodologias e as solu- ções promissoras que elas originam são relativamente incertas. Começaremos com três considerações básicas: Consistência com uma ou mais diretrizes não garante. permitem que soluções promissoras sejam concebidas e desenvolvidas. vêm sen- do desenvolvidas metodologias simplificadas e diretrizes que. não teríamos aprendido. baseando-se em prévias experiências no setor. A experiência nos ensina que cada ação humana. a partir dessas escolhas erradas. nos causar excessiva preocupação. porque é um conceito freqüentemente enun- ciado quando se fala a respeito de propostas para uma vida cotidiana sustentável.1766931 aquela que. a efetiva sustentabilidade da proposta. tem uma boa probabilidade de ser sustentável. origina conseqüências inesperadas. no momento de teste.Este exemplar esta registrado para uso exclusivo de ESTÉFANO PIETRAGALLA . Sustentabilidade | 35 . Se todos os artefatos que constituem a solução são levados em consideração e seus inteiros ciclos de vida são analisa- dos. conseqüentemente. Metodologias de avaliação são tão complexas que sua apli- cação é impensável enquanto existirem muitas alternati- vas diferentes em discussão. a fim de chegar ao design para a sustentabilidade. precisamos usar uma abordagem de design estratégico (e ferramentas de de- sign estratégico). Concluindo. A partir dessas afirmações. ou seja. Design estratégico para a sustentabilidade. assim. Efetivamente. ou seja. dois passos principais têm que ser tomados: em primeiro lugar. para tomar esse rumo. buscar uma abordagem estratégica do de- sign. a necessidade de aprender com a experiência). Os casos que são mais interessantes para nós aqui requerem uma mudança radical a nível local. DfS) deve ser interpre- tada como uma atividade de design cujo objetivo é encorajar a inovação radical orientada para a sustentabilidade. mais precisamente. descontinuidades locais ou. levar seriamente em consideração os critérios da sustentabilidade.Este exemplar esta registrado para uso exclusivo de ESTÉFANO PIETRAGALLA . Porque tenta utilizar o melhor do que conhecemos. é melhor realizar testes detalhados e observar os resultados (e assim sermos capazes de aprender com a expe- riência) do que não fazer nada. Dessa forma. portanto. Resulta. a expressão Design para a Sus- tentabilidade (Design for Sustainability. ao mesmo tempo. cada passo rumo à sustentabilidade exige uma mudança radical. Sustentabilidade . Significa concebê-los e desenvolvê-los de tal forma que o consumo dos recursos ambientais seja reduzido e que as qualidades dos contextos de vida sejam regeneradas. que para nos movermos da concepção de design largamente dominante em direção ao design para a sustentabilidade. proje- tar soluções sustentáveis significa definir um resultado e con- ceber e desenvolver os sistemas de artefatos necessários para atingi-lo. descontinuidades locais coerentes com a pers- pectiva da sustentabilidade. em segundo lugar.1766931 Em outras palavras: frente aos problemas de grande com- plexidade. entendido como design estratégico para a sus- 36 | 1. mas. aceita ex- plicitamente a possibilidade de cometer um erro (e. con- duzir o desenvolvimento dos sistemas sociotécnicos em direção ao baixo uso dos materiais e da energia e a um alto potencial regenerativo. Além disso. É por isso que o conceito de solução promissora é tão importante. como foi apresentado anteriormente. a fim de implementá-las. Sustentabilidade | 37 . 2004). 1. Ou seja: conceber e desenvolver novas (e sustentáveis) soluções e. criar as condições para a reunião dos vários atores necessários para a obtenção dos resultados desejados) (Manzini. Evans. objetivos e modos de operação.Este exemplar esta registrado para uso exclusivo de ESTÉFANO PIETRAGALLA . é necessário trabalhar através do design estratégi- co e de suas características. colaborar na construção das apropriadas parcerias (ou seja. Collina.1766931 tentabilidade. Este exemplar esta registrado para uso exclusivo de ESTÉFANO PIETRAGALLA .1766931 . expectativas e critérios de avaliação que compartilham uma persistente característica: associar a percepção e a expectativa de bem-estar à uma disponibilidade sempre maior de produtos e serviços. Modos de vida | 39 .1766931 2. o momento e o modo nos quais um efetivo processo de trans- formação virá à luz é ainda uma questão completamente aber- ta. e considerando os limites de nosso planeta. mas como uma escolha. Em outras palavras: que aconteça pela força de atração exercida pelas novas oportunidades e idéias de bem-estar.Este exemplar esta registrado para uso exclusivo de ESTÉFANO PIETRAGALLA . Porém. Modos de vida | Bem-estar sustentável. e não sob a pressão de eventos catastróficos. e agora se revela como um conjunto dinâmi- co e articulado de visões. de se comportar. conseqüentemen- te. A idéia de bem-estar hoje dominante no ocidente e amplamente difundida por todo o mundo nasceu com a revolução indus- trial. de acordo com uma variedade de fatores. Frente a esse desafio. De fato. essa maneira de pensar e. por causa disso. 2. deve mudar nos próximos anos. Hoje sabemos que tal idéia de bem-estar conduz a um consumo intrinsecamente insustentável dos recursos ambien- tais. essa mudança já se manifesta hoje de muitas formas e outras idéias de bem-estar estão progressivamente emergindo. nosso problema comum – portanto de toda a comunidade mundial – é o de facilitar uma mudança que possa acontecer da maneira menos dramática possível. Sabemos que. acompanhando a evolu- ção da sociedade. Sofreu progressivas mudanças. bens comuns e capacidades A idéia de bem-estar é uma construção social que se forma ao longo do tempo. ou deveria ser. criar as condi- ções para que isso possa acontecer não como uma necessidade. Nossa aspiração comum para o design é. 1766931 2. é principalmente nesse campo que podemos observar. A crise do bem-estar baseado no produto começa com uma questão muito concreta e possivelmente devastadora: a promessa de liberdade indivi- dual e democracia de consumo sobre a qual esta se baseia não foi mantida e. Na realidade. serviços que anteriormente estavam acessíveis apenas a pou- cos privilegiados. para ser mais explícito. como ter a roupa lavada em lavanderias ou jantar ao som de uma orquestra de câmara. a baixo custo. mais significativamente. Promessas descumpridas e impraticáveis. delineando uma visão de futuro em termos de um contínuo crescimento de bem-estar ou.Este exemplar esta registrado para uso exclusivo de ESTÉFANO PIETRAGALLA . A força original da idéia de bem-estar produzida pela so- ciedade industrial repousa exatamente nesta promessa de de- mocratização do acesso a produtos que reduzem o esforço. o que é consideravelmente menos dis- cutível é o fracasso da segunda promessa. De qualquer forma. aquela que diz res- peito à difusão do bem-estar baseado no produto. De um lado.1 Bem-estar baseado no produto No desabrochar da sociedade industrial. Além disso. a chegada das máquinas de lavar roupa nas casas é muito diferente do impacto do último modelo de telefo- ne celular. inclu- 40 | 2. ou seja. que apenas substitui os da geração precedente). do bem-estar que estes produtos seriam capazes de trazer. a apli- cação de sistemas industriais cada vez mais eficientes demo- cratizou o acesso. estamos descobrindo que não pode ser mantida nem agora e nem no futuro. pelo fato de tornar esses produtos disponíveis em crescente quantidade com preços sempre em queda. a promoção da liberdade individual trazida pelas novas gerações de produtos parece sempre mais discu- tível (por exemplo. Modos de vida . au- mentam o tempo livre e estendem as oportunidades de escolha individual. o desenvolvimento combinado de ciência e tecnologia ofereceu a um número cres- cente de pessoas uma possibilidade até então desconhecida: a de ter a seu alcance produtos que eram a materialização de serviços complexos – máquinas que realizavam. aumentam a liberdade individual. é intrinsecamente um modelo de bem-estar insustentável. De fato. Uma catástrofe social. no qual se deseje respeitar alguns prin- cípios elementares de justiça. Neste segundo caso. teríamos uma catástrofe porque uma socie- dade altamente interconectada e globalizada não poderia lidar durante muito tempo com uma situação onde 20% (ou menos) da população dispõem do prometido bem- estar. Modos de vida | 41 . teríamos de lidar com uma imensa catástrofe: Uma catástrofe ecológica. se todos os habitantes do planeta realmente procurassem este tipo de bem-estar da mes- ma maneira (como é seu sacrossanto direito. caso tivessem sucesso: o planeta seria incapaz de suportar o peso de seis a oito bilhões de pessoas que se aproximam aos padrões de consumo oci- dentais. 1996. enquanto os 80% restantes são forçados a observar. 2000). simplesmente não terão à disposição suficiente espa- ço ambiental capaz de sustentar um padrão de consumo similar (Wuppertal Institute. o quanto tal promessa não foi mantida e. 2. Simmons. Chambers. Mais precisamente: é intrinsecamente insustentável para um planeta pequeno e densamente povoado. A questão que se revela muito claramente é a seguinte: o bem-estar baseado no produto. Efetivamente. estendido em escala mundial. sozinha. se nada mu- dar. hoje. o modelo de bem-estar baseado no produto nos leva a uma situação ambientalmente catastró- fica: o planeta não pode sustentar estes bilhões de consu- midores de bens e serviços do tipo que são delineados pela propaganda.1766931 sive em termos de quantidade. o poderá ser no futuro. mas somente poucos conseguindo alcançá-lo. caso fracassassem: seis a oito bi- lhões de pessoas aspirando aos mesmos padrões de bem- estar. consome 80% dos recursos ambientais disponíveis. tampouco. segundo o modelo de bem-estar baseado no produ- to e que. Wackernagel. É de conheci- mento geral que cerca de 20% da população mundial vive. Os 80% restantes da população. sem nenhuma possibilidade real de inclusão. visto que tantos outros efetivamente fazem o que lhes é cotidianamente prome- tido).Este exemplar esta registrado para uso exclusivo de ESTÉFANO PIETRAGALLA . como um amplo processo de aprendizagem. por fim. 42 | 2. reduzi-los. e “mais pro- dutos” = “maior consumo de recursos naturais”. cujo de- safio tem sido evitar esses riscos ou. bem-estar. os econômicos). Esta é a perspectiva que nos parece a mais provável. a relação direta entre crescimento do bem-estar e consumo de recursos naturais não era considerada um proble- ma real. em um contexto econômico e cultural onde o conceito de limites parecia ter sido esquecido. os políticos e.1766931 Entretanto. Esta situação começou a mudar nos últi- mos 30 anos do século passado. o assunto ambiental foi sendo progressivamente inserido em um número crescente de agendas políticas e econômicas. Chegamos inevita- velmente à conclusão que quanto maior o nível de bem-estar desejado e quanto mais pessoas almejarem este específico tipo de bem-estar. Nosso caminho durante esses anos pode ser visto. ao menos. não apenas os problemas ambientais mas também os sociais. produtos e impacto ambiental apa- reciam ligados numa dupla correlação que. o aumento do bem-estar que cada pessoa aspira está diretamen- te ligado ao consumo de recursos naturais. quando começamos a enten- der (ou melhor dizendo. existe ainda uma outra perspectiva. O primeiro passo baseou-se em uma interpretação básica. mais o meio ambiente será danificado. o aumento no número de consumidores de “grande impacto” corresponde a um aumento simultâneo no número daqueles que são excluídos. Conseqüentemente. Modos de vida . Naquele tempo. Primeira lição. um meio termo entre tais catástrofes: em um mundo marcado pela crise social e ambiental. Mesmo que suas dimensões e implicações não sejam ainda totalmente evidentes. os riscos ambientais relacio- nados à difusão do bem-estar baseado no produto apareceram nitidamente. em seu conjunto. ou era vista como um preço a ser pago pelo aumento do bem-estar geral. em síntese. Sendo assim. Na primeira metade do século passado. fomos forçados a entender) que este modelo traz todos os problemas descritos anteriormente (isto é. pode ser colocada como: “bem-estar” = “mais produtos”. desde o emergir da consciência ambiental há 40 anos.Este exemplar esta registrado para uso exclusivo de ESTÉFANO PIETRAGALLA . separando o crescimento do primeiro (o produto) do crescimento do segun- do (o impacto ambiental). em muitos ca- sos. sua ecoefi- ciência. Fizemos isso considerando o primeiro ponto (ou seja. A proliferação dos produtos light.1766931 O primeiro efeito da “descoberta” do problema ambiental (e de suas implicações) foi a necessidade de nos confrontarmos com a “dupla correlação” mencionada anteriormente. a correlação entre bem-estar e disponibilidade do produto) como dado. a sua pegada ecológica foi reduzida).Este exemplar esta registrado para uso exclusivo de ESTÉFANO PIETRAGALLA . melhorada. devido a uma intricada tra- ma de eventos. ou seja. Infelizmente. enquanto o peso ambiental de cada unidade de produto diminuía. Modos de vida | 43 . os produtos industriais tornaram-se mais light (no sentido que seu peso ambiental. o fenômeno através do qual. as escolhas consideradas positivas para o am- biente. deste modo aumentando a eficiência ambiental dos produtos (definida como ecoeficiência do pro- duto). demonstram gerar novos problemas quando colocadas 2. o consumo aumentava mais que proporcionalmente. Assim. É o efeito boomerang (rebound effect). no conjunto. Essa contradição entre expectativas e resultados é um dos desconcertantes aspectos com os quais nos confrontamos no processo de aprendizagem em curso e que foi denominado efeito boomerang (rebound effect) O efeito boomerang (rebound effect). O esforço alcançou um par- cial sucesso: muitos produtos foram reprojetados. isto é. Em síntese. porém. o objetivo era fazer produtos empregando menor consumo de recursos. conseqüentemente aumentando a utilização de recursos. e. As últimas décadas de experiência no planejamento e desenvolvimento de produtos e serviços ecoeficientes revelaram uma grande e. os esforços foram focalizados na possibilidade técnica de romper a ligação entre os produtos e o consumo de recursos ambientais. e con- centrando toda a ação no segundo (o vínculo entre produtos e consumo de recursos ambientais). visto que. trágica descoberta. as estatísticas demonstram que o con- sumo total dos recursos ambientais continuou crescendo. De fato. provocando um crescimento exponencial no consumo de papel. Demos-nos conta de que os produtos. magnéticos e das memórias ópticas (e suas in- terfaces amigáveis) tornaram fáceis atividades que antes eram difíceis e tediosas. vimos que o desenvolvimento dos siste- mas eletrônicos. a síndrome do “clica e imprime” é bem conhecida. No passado recente. Este proces- so também incrementou enormemente o consumo de recursos. Todavia. observamos que cada melhoria tecnológi- ca introduzida com a intenção de aumentar a ecoeficiência de produtos e serviços – por motivos enraizados na complexida- de do sistema sociotecnológico como um todo – se transforma “naturalmente” em uma nova oportunidade de consumo. social.1766931 em prática. quando se tornam leves. Modos de vida . Quebrando a correlação entre bem-estar e produtos. eficientes e econômicos. promovendo a sua proliferação. Da mesma forma. portanto. Por exemplo. rumo à sustentabilidade. foi pos- sível tomar consciência de que a situação era assaz diferente. sendo atraídos para dentro dos ciclos da moda (como acontece com os relógios) ou do mundo instantâneo dos bens descartáveis (como no caso das câmeras fotográficas). O efeito boomerang é. O fato de que ninguém o tenha pre- 44 | 2. mas no sistema como um todo. Com a ampla disponibilidade de computadores.Este exemplar esta registrado para uso exclusivo de ESTÉFANO PIETRAGALLA . a atualização e impressão de documen- tos tornou-se tão simples que eles passaram a ser impressos em excessivas versões. ou seja. menores. ampliando o alcance desta análise e focalizando não somente nos produtos unitários. quando observávamos a progressi- va diminuição do peso ambiental de cada um dos artefatos à disposição. con- seqüentemente aumentando a insustentabilidade dos sistemas nos quais foi introduzida. o resultado de uma desordem econô- mica. promovendo formas de consumo mais difusas e ace- leradas. cultural e tecnológica que invade todas as esferas da vida social e individual. impressoras e processadores de texto. tendem a mudar seu status e proliferar. considerávamos ingenuamente que o sistema de produção e consumo como um todo estivesse se desenvolven- do na direção certa. a prática nos indica que é hora de operar na conexão entre “bem-estar” e “produto”. que deve ser relacionada a transformações em andamento rumo a uma economia baseada nos serviços e no conhecimento. 1999) e “da posse ao acesso” (Rifkin. Seja como for. esta perspectiva é considerada 2. devemos nos concentrar na primeira correlação – “mais produtos” = “mais bem-estar” – e encontrar a maneira de quebrá-la.Este exemplar esta registrado para uso exclusivo de ESTÉFANO PIETRAGALLA . levou-os a não considerar a imprevisibilidade (e o potencial caráter contradi- tório) dos fenômenos socioculturais que cada inovação tecno- lógica traz consigo. Bem-estar baseado no acesso. as idéias do- minantes de bem-estar começaram a mudar. agora. mas não suficiente: cada pro- duto unitário pode se tornar mais leve. Modos de vida | 45 . Na última década. Lem- brando a dupla correlação com a qual começamos. o resultado é que a relativa desmateriali- zação dos produtos não trouxe consigo nenhuma redução no consumo geral. Por esse motivo. O sistema ainda cami- nha rumo à uma crise real. que os levaram a não conside- rar o caráter sistêmico dos fenômenos observados e. Essa mudança. relembrando mais uma vez a complexidade dos sistemas com os quais lidamos. porém sua difusão pode crescer em proporção maior. Mais precisamente: as partes mais urbanizadas e globalizadas das sociedades onde quer que elas se encontrem no planeta. Para ser mais explícito. A principal lição extraída desta experiência e da descoberta do efeito boomerang é que devemos aprender com a própria prática. sobretudo. Em outras palavras. a ignorar sua complexidade. pode ser resumida nos slogans “do consu- mo à experiência” (Pine.1766931 visto tem relação. Nesse caso. Gimore. aprendemos que esse tipo de intervenção é importante. pelo menos nas sociedades industriais adultas. principalmente. mostra-se evidente que concentrar-se somente na segunda – “mais pro- dutos” = “mais consumo de recursos ambientais” – não conduz à direção certa. 2000). com os hábitos mentais do- minantes entre os observadores. A esperada cisão de produtos e consumo (con- siderado como um todo) não aconteceu. Inicialmente. é concebido para ser o mais leve e flexível possível) (Rifkin. a realidade nos mostra um quadro completamente diferente. que podemos de- finir como o bem-estar baseado no acesso. os contextos que melhor ilustram esta visão são os parques temáticos: lugares onde. 2000). você pode escolher suas emoções entre várias ofertas. 2007). como veremos. No quadro desta nova economia. a idéia de liberdade tende a ser coincidente com a liberdade de acesso (metaforicamente. pode tornar-se na prática ainda mais insustentável do que o bem- estar baseado unicamente no produto (Manzini 2001. para seu pra- zer. conseqüentemen- te. Mais especificamente: em uma sociedade saturada de bens materiais. e onde cada elemento foi cuidadosamente planejado para ofere- cer-lhe uma “experiência emocionante” – sempre se você tiver o dinheiro para comprar o bilhete de entrada). a posição central do “pro- duto material” na definição de bem-estar torna-se obsoleta: o bem-estar não aparece mais ligado à aquisição de um determi- nado “pacote” de produtos materiais. a posse de produtos materiais apa- rece como uma solução demasiado pesada e rígida. E. quando estilos de vida são caracterizados pela rapidez e flexibilidade. a qualidade de vida está relacionada à quantidade e à qualidade dos serviços e ex- periências aos quais podemos ter acesso. algo que aumenta a inércia do sistema (que. ao contrário. ao se desenvolver no atual contexto cultural e econômico. embora quebre a ligação entre bem-estar e consumo dos recursos ambientais. mas sim à disponibilidade de acesso a uma série de serviços. coerentemente com essa visão. E isto ocorre por uma série de razões interliga- das: 46 | 2.1766931 positiva: o acesso a serviços e experiências que satisfazem ne- cessidades intangíveis parece ser um conceito promissor. ao mesmo tempo. O efeito boomerang (rebound effect) na era do acesso. uma idéia sobre a qual construir um estilo de vida sustentável. experiências e produtos in- tangíveis. Manzini. Modos de vida . O proble- ma desta visão emergente de bem-estar é que.Este exemplar esta registrado para uso exclusivo de ESTÉFANO PIETRAGALLA . Vezzoli. focalizar no imaterial parece mais interessante. E. In- felizmente. De fato. não podem ser reduzidas a produtos comer- cializáveis e não podem ser. Em conclusão. não podemos dizer o mesmo sobre a questão da sustentabilidade (ou insustentabilidade) do bem- estar baseado no acesso. Entretanto. enquanto permane- cerem “comuns”. E. Nossa primeira hipótese de trabalho está relacionada à existência de uma forte relação entre o efeito boomerang e a crise dos bens comuns. e não a substitui- las. Nos parágrafos seguintes serão for- muladas algumas hipóteses que visam formar os fundamentos de uma nova abordagem à questão do bem-estar: o bem-estar ativo e relacionado ao contexto. Bem-estar e bens comuns As razões pelas quais o bem-estar baseado no produto não é sustentável. a idéia de bem-estar baseado no acesso. por que.2. Modos de vida | 47 .Este exemplar esta registrado para uso exclusivo de ESTÉFANO PIETRAGALLA . Portanto devemos enfrentar a seguinte questão: por que isso acontece? Ou seja. por essa mesma razão. apli- cada da maneira como ocorre hoje. Serviços e experiências. traz resultados insignifi- cantes ou até mesmo negativos.1766931 As novas “necessidades intangíveis” tendem a ser adiciona- das às antigas “necessidades materiais”. podem ser imateriais. não importa o que façamos. A expressão bens comuns locais. compradas ou vendidas. que é o pilar sobre o qual a primeira hipótese é construída. por si só. A crise dos bens-comuns. A velocidade e a flexibilidade dos novos estilos de vida im- plicam a mesma velocidade e flexibilidade no acesso aos serviços que. portanto. em termos ambientais e sociais. partiremos de algumas hipóteses de trabalho específicas. 2. proliferaram. Para fazer isso. mas seu fornecimento pode se basear em um alto nível de consumo material. designa entidades que perten- cem a todos e a ninguém em particular. especialmente dos bens comuns locais. o resultado final acaba sendo um ulte- rior aumento no consumo de recursos ambientais? 2. foram amplamen- te discutidas. O desaparecimento do tempo lento e contemplativo. a subestimação do papel que os bens comuns poderiam assumir na definição atual do estado de bem-estar. e sua conseqüente degene- ração. A segunda hipótese de trabalho trata da relação entre o efeito boomerang e as crises do tempo lento e contemplativo. Mercantilização: a transformação em bens de mercado de alguns componentes do tradicional habitat humano que previamente haviam sido comuns (isto é. considerados insignificantes. entendida como algo inevitável (e assumida como uma espécie de multa a pagar pelo progresso e pela busca do bem-estar). Está claro que estes bens comuns constituem uma parte fundamental na construção de nossos contextos de vida. A expressão tempo contemplativo designa o tempo usado para “não fazer nada”. As conseqüências se manifestam nos seguintes fenômenos. e assim por diante). serviços) na definição dos modelos de bem-estar dominantes nas sociedades industriais causou. sem 48 | 2. passando por recur- sos sociais tais como a comunidade de bairro ou o senso cívico de seus cidadãos. isto é. um serviço de segurança particular no lugar da vigi- lância informal dos vizinhos de casa. como um efeito colateral al- tamente tangível. complementares entre si: Desertificação: a negligência para com os bens comuns.Este exemplar esta registrado para uso exclusivo de ESTÉFANO PIETRAGALLA . água engarrafada no lugar da água natural. o que não significa que seja vazio ou sem significado. o espaço público urbano ou a “segurança percebida” entre os habitantes de uma determinada cidade. No entanto. mais recentemente.1766931 Exemplos de bens comuns locais abrangem desde os recur- sos físicos básicos tais como o ar e a água. Exemplos de tempo contemplativo abrangem. até incluir recursos complexos tais como a paisagem. Modos de vida . o shopping no lugar da praça pú- blica. na definição da qualidade dos contextos físicos e sociais em que vivemos e nos quais os próprios produtos assumem signi- ficados. a posição central mantida pelos bens adquirí- veis individualmente (sejam produtos ou. nos permi- tindo usar todo o tempo necessário para fazer as coisas segun- do as melhores “regras da arte”. desde olhar um pôr-do-sol até fazer alguns exercícios espirituais. apesar de o desaparecimento do tempo lento e contemplativo ser ainda a condição dominan- te. tendo desenvolvido o conhecimento e a sensibilidade requeridos a fim de compreender seu alto grau de qualidade. um número maior de pessoas compreende agora que produzir e apreciar qualidades proporciona uma diferente idéia de eficiência.. Tradicionalmente. a partir de inicia- 2. comer.1766931 dúvida. mas conseqüências da busca por algo que estamos perdendo na atual época do tempo veloz e que podemos denominar de qualidades profundas. sabemos agora. Estas considerações nos indicam. porém. conversar com as pessoas. admitir a existência de uma par- cela de tempo contemplativo em algumas ações (como passear. Modos de vida | 49 . seja porque nos permite apre- ciá-las. seja porque reduz a velocidade. Essa última observação nos conduz di- retamente ao significado do que chamamos de tempo lento. o tempo lento e contemplativo era uma importante parte da vida cotidiana. tomá-lo sendo capaz de perce- ber todas as suas qualidades.. Por exemplo: considere. portanto. porém.Este exemplar esta registrado para uso exclusivo de ESTÉFANO PIETRAGALLA . por outro. De fato.) quando estas são realiza- das em um ritmo lento. finalmente. Deve ser acrescentado que. O tempo lento não é apenas o tempo no qual fazemos algo lentamente. sempre e mais freqüentemente. algo novo e interessante está aparecendo. ou melhor. todo o tempo necessá- rio para produzir um excelente vinho e adicione. o tempo necessário para desenvolver e refinar nossas habilidades em reconhecê-lo e. o tempo lento e contemplativo está desaparecendo devido a dois fenômenos complementares: Saturação: a tendência a saturar cada momento com algo para fazer. Aceleração: a tendência a fazer cada coisa em um ritmo ace- lerado para ter a possibilidade (ou a ilusão) de fazer mais. que a lentidão e o tempo lento não são valores em si. por um lado. de modo a en- chê-lo com várias coisas a fazer ao mesmo tempo. mas também aquele no qual produzimos e/ou apreciamos (profundas) qualidades. Hoje. É possível. Há uma segunda relação entre a crise dos bens comuns. O conceito de bens remediadores é obviamente o assunto central nessa hipótese. podemos observar empiricamente como a difusão de bens e serviços para uso e consumo privados ocorreu paralela- mente à deterioração dos bens comuns e o desaparecimento do tempo lento e contemplativo. alta- mente deteriorado. Modos de vida . nos deslocamos para distantes “paraísos turísticos” porque a beleza local foi destruída. Voltare- mos a esse ponto mais adiante.Este exemplar esta registrado para uso exclusivo de ESTÉFANO PIETRAGALLA . lavava suas roupas à mão). do tempo contemplativo e a proliferação de novos bens re- mediadores. até então. por si mesmo. nossa terceira hipótese de traba- lho pode ser articulada dessa forma: Há uma relação entre a difusão de bens de mercado (mes- mo que mais sofisticados e eficientes) e a crise dos bens comuns e do tempo contemplativo. O crescimento no consumo de bens remediadores por sua vez causa ainda maior consumo geral e uma ulterior crise tanto dos bens comuns quanto do tempo contemplativo. por exemplo. compramos sistemas do- mésticos de segurança eletrônicos e telemáticos porque os vi- 50 | 2. num contínuo e negativo ciclo vicioso. O que eles fazem é simples- mente restaurar (ou tentar restaurar) a aceitabilidade de um contexto de vida que está sendo degradado. A difusão dos bens remediadores. isto é. O significado desta definição se revela imediatamente ao consideramos a crise de alguns bens comuns básicos: compra- mos “água purificada engarrafada” porque a água natural está poluída. Se considerarmos o século passado. O caráter comum desses bens é que seu uso ou consumo não melhora a qualidade de vida ou abre novas possibilidades para seus usuários (como poderia ser o caso de uma nova máquina de lavar roupa para uma pessoa que. produtos e serviços que tentam tornar aceitável um contexto de vida que é. Ao fazer essa observação.1766931 tivas como o Slow Food e o Slow Tourism. o mesmo conceito de bens remediadores pode ser usado em relação ao desaparecimento do tempo lento e contemplativo: compramos e consumimos um crescente número de produtos e serviços “para preencher o tempo”. No caso da relação entre consumo e desaparecimento do tempo contemplativo. no atual sistema socioeconômico. podemos assumir que a não sustentabilidade. é um processo de deterioração dos contextos de vida cau- sado pela crise dos bens comuns e pelo desaparecimento do tempo contemplativo.Este exemplar esta registrado para uso exclusivo de ESTÉFANO PIETRAGALLA . as casas da vizinhança e assim por diante Ainda que seja menos evidente. estamos testemunhando um duplo processo de crise: dos bens comuns e do desaparecimento do tempo lento e contemplativo. Esse duplo fenômeno é particularmente perigoso porque. bens de mercado e bens co- muns) se inter-relacionam. não é fácil estabelecer com rígida precisão quais bens são corretivos e quais não são. Como conclusão deste item. físico e sociocultural. sim- plesmente.1766931 zinhos não mais vigiam. Na verdade. para matar a sensação de vazio deixada pela nossa incapacidade de aproveitar o tempo contemplativo ou. A expressão contexto de vida denota o ambiente físico e so- cial (o habitat) de uma pessoa e as possibilidades. discretamente e sem custo. da televisão aos telefones celulares ou ao junk food. oferecidas à esta mesma pessoa. mais 2. gozando do tempo necessário para apreciar suas qualidades profundas. Sustentabilidade e contextos de vida. em escala local. têm um forte componente consolador. como vimos. mas também da saturação do tempo e do espaço com bens e servi- ços remediadores e de “entretenimento”. de fazer suas escolhas. num processo negativo e vicioso: mais consumo. para fazer algo a um ritmo mais lento. Mas poderíamos dizer facil- mente que muitos deles. Sua qualidade está relacionada ao modo pelo qual diferentes sistemas (natural e artificial. seus dois diferentes aspectos se fortalecem mutua- mente. Modos de vida | 51 . para ter alguma possibilidade de ser sustentável). na qual outras entidades (empresas privadas 52 | 2. 400 a. tanto quanto o tempo lento e contemplativo. Faça o que fizer. da autopre- paração e da troca não-monetária. se tiverem condições. o resultado é que cada idéia de bem-estar. na qualidade e quantidade dos bens comuns disponíveis e na possibilidade de praticar uma ecologia do tempo.Este exemplar esta registrado para uso exclusivo de ESTÉFANO PIETRAGALLA . Para ser mais explícito.3 Bem-estar e capacidades Qualquer tentativa que objetive superar tanto o tradicional mo- delo de bem-estar (baseado no produto) quanto o novo modelo (baseado no acesso). Mais precisamente: deve se basear no acesso a uma variedade de produtos e ser- viços mas também. Se essas hipóteses estão corretas. hoje mais do que nunca. gerada e difundida no mundo inteiro pelo ocidente foi: “se alguém estiver com fome dê-lhe um fast food ou uma lata de alimento pronto para o consumo (ou. “Dê um peixe a um homem e o alimentará por um dia. dê algo que leve à redução da economia informal. a idéia dominante. onde o tempo rápido. Ensine-o a pescar e o ali- mentará por toda a sua vida” (Lao Tzu. deverá concentrar-se em um estudo mi- nucioso do papel do usuário neste processo. a luz no fim do túnel no qual fomos aprisionados por uma errônea idéia de conforto e de crescimento econômico. para ser sustentável (ou pelo menos. dê-lhe algo que não requeira es- forço. aumentando deste modo a economia formal. mais consumo (de bens remediadores) e assim por diante.C. No último século. É o que faremos nos parágrafos seguintes. 2. leve-o a um restauran- te luxuoso)”. Sistemas desabilitantes e insustentáveis. pensamento ou conhecimento sobre como preparar seu alimento. Modos de vida .). ou ainda mais. Esta antiga sabedoria nos mostra. deve considerar as qualidades totais dos contextos de vida. dê-lhe algo que aumente as atividades econômicas em torno da preparação do alimento. sejam apropriadamente equilibrados.1766931 degradação do contexto. mesmo a mais básica e mundana. Esse caso é obviamente emblemático de um movimento bem mais amplo e que tende a invadir cada aspecto de nos- sas vidas cotidianas. dando-nos a possibilidade de cuidar do contexto físico e social onde vivemos e de garantir sua permanência. 2. como foi dito. A vivência do espaço público se desdobra em visi- tas a shoppings e parques temáticos.Este exemplar esta registrado para uso exclusivo de ESTÉFANO PIETRAGALLA . Frente a essas considerações. A manutenção de nossas coisas é substituída por objetos descartáveis. De maneira geral. a questão é mais complexa e a realidade apresenta outras interessantes possibilidades. é satisfeita através de um custoso e complexo sistema de produ- tos e serviços? A idéia de conforto como minimização do envol- vimento pessoal poderia ser estendida a todas as experiências da vida. televisões e aparelhos eletrôni- cos. E tudo isso. se estivesse na posição de fazê-lo. gostaria de tentar reduzir o cansaço. No entanto. sua melhora? A resposta é não. a saúde requer médicos. academias. a pergunta que devemos fa- zer é: podemos realmente considerar sustentável uma socieda- de onde cada necessidade. da habilidade bási- ca de nos entretermos (estarmos sós sem ficarmos aborrecidos) àquela de nos socializarmos (engajar-se em diferentes formas de conversação com os outros). A qualidade de um deter- minado contexto é o resultado do cuidado de todas as pessoas que ali vivem. Esta é uma afirmação difícil de ser contradita. da manutenção de bens móveis à de bens imóveis (nossas casas e lugares nos quais vivemos). Dessa forma. gira as engrenagens da economia e produz riqueza para todos.1766931 ou redes públicas) possam produzir e distribuir os serviços e produtos necessários. ou me- lhor. Nossa capacidade de nos entretermos e aos outros é abolida pela onda dos reality shows. do sistema de saúde à educação de nos- sas crianças. pensamos que cada um de nós. Modos de vida | 53 . A educação de nossos fi- lhos requer escola. o tempo e o estres- se psicológico empregado em resolver as pesadas e/ou irritan- tes tarefas da vida cotidiana. hospitais e medicamentos. Mas não somente: a quantidade de produtos e serviços comerciais que necessitamos é proporcional à difusão da idéia segundo a qual o conforto aumenta com a redução do envolvimento requerido ao usuário/consumidor. Em particular. Felizmente. o mínimo de habilidade e capa- cidade para colocá-lo efetivamente em funcionamento. mas podem também comportar-se de modo completamente oposto. observaremos apenas que esta idéia teve início com a difusão da produção em massa de bens de consumo. sem encon- trar qualquer rival capaz de representar uma ameaça real ao seu predomínio (na realidade. Ou podem avaliar diferentes “estratégias de ação” e. em um trabalho bem feito. po- rém.1766931 Voltemos rapidamente ao início de nossas considerações. deve ser dito que era uma idéia igualmente absorvida pela prática dos regimes comunistas). e até mes- mo entusiasmo. encontrando a mais oportu- na. Os seres humanos po- dem tender à ociosidade e à passividade. descobrir que vale a pena fazer alguma coisa por si mesmo (porque é a solução mais econômica ou porque é a que oferece maior liberdade). a natureza humana não é tão simples e monológica. A atual idéia de bem-estar surgiu no século passado e por qua- se uma centena de anos permaneceu intocada. como modernos escravos mecânicos. atenção e tempo.Este exemplar esta registrado para uso exclusivo de ESTÉFANO PIETRAGALLA . isto é. Certamente. A lembrança ainda viva do pesado fardo cotidiano de uma vida pré-mecanizada gerou a idéia de bem-estar como minimização do envolvimento pessoal: diante de um resultado a ser alcançado. este caráter potencialmente ativo e partici- pativo da natureza humana não deve ser considerado como o único modo de ser (sempre e somente assim). A natureza 54 | 2. não pode ser estendida da mesma forma a todas as pessoas e atividades. O legítimo desejo de evitar o peso de muitos aspectos da vida pré-industrial e sua tediosa repetitividade não é uma aspiração totalmente inclusiva. Podem encontrar satisfação. a melhor estra- tégia será sempre a que requer o menor esforço físico. Modos de vida . e. ou como o único eticamente aceitável (proposto como “valor” na retórica do tra- balho de alguns governos tristemente lembrados). nasceu com a entusiástica desco- berta de que artefatos poderiam ser criados para trabalhar por nós. ao legítimo prazer em serem servidos. A natureza contraditória dos seres humanos. Aqui. conseqüentemente. Esta é uma longa história. A abordagem das capacidades. Uma idéia que.. tais como ser adequadamente alimen- tado. No desen- volvimento desta idéia. A evolução da demanda e da oferta de bem-estar. Ela oferece a possibilidade de operar segundo diversas lógicas e diferentes aspirações.1766931 humana é contraditória. pois gostamos deles. que poderíamos chamar de bem-estar ativo. Sen. Sen introduz dois diferentes conceitos: o de funcionamento (functionings) e o de capacidade (capabi- lity). Escreve Sen: “viver consiste numa série de functionings re- lativas ao fazer e ao ser. ser capaz de dar vazão aos 2. seguindo a linha de pensamento traçada pelo economista anglo-indiano e prêmio Nobel de economia Amartya Sen em seus estudos sobre os padrões de vida e bem-estar individual. ser capaz de mover-se livremente. ser capaz de aparecer publicamente sem envergonhar-se. possibilita a um sujeito desenvolver sua idéia de bem-estar. apelando a uma total subjetividade na definição do que seja efetivamente considerado “útil”. que apresentamos acima. ser capaz de encontrar os amigos e de relacionar-se com eles. ser capaz de comunicar e participar.Este exemplar esta registrado para uso exclusivo de ESTÉFANO PIETRAGALLA . abrigado e vestido(. mas as inte- gra. não elimina as outras. dando-lhe maior possibilidade de “ser” (o que ele quer ser) e de “fazer” (o que ele quer fazer). da vizinhança e do ambiente. 1993). mas “a possibilidade de fazer várias coisas utilizando aqueles bens ou suas características” (Nussbaum. é acompanha- da por uma evolução análoga em sua dimensão teórica: são abandonadas as teorias que buscam uma (presumida) obje- tividade e uma hierarquia de necessidades em favor daquelas que invocam a máxima subjetividade de julgamento. É exatamente esta possibilidade que.. o que determina o bem-estar não são nem os bens nem suas características. Modos de vida | 55 .). Essa é sua ri- queza. Segundo Sen. E é a partir deste ponto que nasce a proposta de um novo tipo de bem-estar. na melhor das hipóteses. da nossa família. com certeza. Adotaremos aqui uma posição intermediá- ria. com uma nova condição: a condição na qual somos ativos e cuidamos de nós mesmos. 1766931 próprios instintos criativos. Para Sen. Sobretudo. Atualmente. entre o que uma pessoa po- deria ser e fazer. mais disseminado que nunca. 1993). tal como na difusão da abordagem “faça-você-mesmo” praticada em diversas funções da vida cotidiana. e assim por diante” (Nussbaum. não possui o mes- mo poder de convencimento. sobre o qual Sen fundamenta sua definição de bem-estar. faz e é. as propostas que mais nos interessam aqui são especificamente aquelas onde a participação ativa se traduz em novas formas de comunidade e de serviço colaborativo. Modos de vida . hoje. o conceito de capacidade nos fornece uma referência sobre a qual basear uma avaliação do padrão de vida real dessa pessoa. e o que ela efetivamente sabe. emerge.Este exemplar esta registrado para uso exclusivo de ESTÉFANO PIETRAGALLA . a condição de bem-estar emerge da relação dinâmica en- tre funcionamentos e capacidades. onde o papel dos envolvidos é muito mais ativo. De outro lado. a quantidade e qualidade dos funcionamen- tos que uma pessoa pode colocar em jogo depende da integra- ção de dois componentes fundamentais: as soluções as quais ela tem potencialmente acesso e os recursos pessoais disponí- veis. É precisamente na integração desses dois componentes que o conceito de “capacidade”. Ainda que a busca por um bem-estar realmente passivo esteja. Entretanto. Sen. articulando as soluções disponíveis num dado contex- to com os recursos pessoais de alguém que age nesse mesmo contexto. Desse modo. 2. outras idéias e propos- tas estão circulando. seu predominío não permanece incontestado.4 Design e bem-estar O grande tema de design com o qual a sociedade deve se con- frontar hoje é o seguinte: como podemos nos encaminhar rumo a uma sociedade onde as expectativas de bem-estar não sejam mais associadas à aquisição de novos artefatos? Como pode- mos colocar as pessoas em condições de viver bem consumin- 56 | 2. Tais idéias e propostas serão delineadas nos Capítulos 3 e 4. Podemos acrescentar que essa proposta não é apenas teó- rica. e também para nós. foram ca- pazes de fazer. Essa observação coloca os designers numa posição parado- xal: é necessário que cada sociedade e seus profissionais con- tribuam para a construção de um mundo onde as expectativas de bem-estar sejam menos associadas à existência de novos ar- tefatos.Este exemplar esta registrado para uso exclusivo de ESTÉFANO PIETRAGALLA . Deve fazê-lo por duas razões: primeiro. qualquer idéia de bem-estar. devemos imaginar um sistema cultural e de produção onde uma redução no consumo de produtos e serviços materiais seja (ainda mais) compensada por um crescimento em outras formas de qualidade: as qualida- des intangíveis da cultura e do espírito. e mais sus- tentáveis. até agora. por- tanto. naquilo que diz respeito aos designers. Por outro lado. A boa notícia é que esse paradoxo pode ser superado: é possível imaginar uma nova geração de artefatos (tangíveis e intangíveis) que colaborem na definição de novas. o valor dos bens comuns e do tempo lento e contemplati- vo. mas também – e isso é do nosso maior interesse – a qualidade de nosso contexto de vida. para ser aceitável. certamente.1766931 do (muito) menos e regenerando a qualidade de seus contextos de vida? Para responder a essas perguntas. a redução no consumo individual deve ser compen- sada por um aumento na qualidade dos bens comuns. desse modo. o consumo total de produtos materiais e dos serviços baseados nestes produtos pode ser reduzido. para ser sustentável. artefatos que sejam ao mesmo tempo apreciados pelos potenciais usuários e capazes de regenerar a qualidade do contexto onde se encontram. deve (re)descobrir a qualidade do contexto e. demandas sociais. não se caracteriza como a tradi- ção consolidada daquilo que os designers. E. a única contribuiçao que aparentemente podem dar é justamen- te projetar e produzir artefatos. 2. Em outras palavras. onde o bem-estar é criado levando-se em consideração o quadro geral onde se desenvolve a vida de uma pessoa. Segundo. porque. A no- tícia ruim é que conceber e desenvolver estes novos artefatos não é simples. porque. Modos de vida | 57 . Quer dizer. Este exemplar esta registrado para uso exclusivo de ESTÉFANO PIETRAGALLA . no turismo. facilitar e partici- par de uma ruptura com o modo de fazer dominante –. chamados serviços colaborativos (definiremos este conceito nos capítulos 3 e 4). Nesse senti- do. o título poderia ser “ecologia do tempo versus tempo veloz”. requeira “investimento do próprio tempo”. Algumas diretrizes foram propostas para sa- tisfazer esses requisitos. Estes componentes (e sua combinação) devem ser considerados caso a caso e podem ser promovidos através do emprego de diferentes ferramentas de design (estra- tégico. para ser produzida e apreciada. esta linha de pesquisa tem como objetivo principal promover “ilhas de lentidão”. da comunicação e de produto). ser coerente com os critérios fundamentais da sustentabilidade. temos duas linhas principais de pesquisa em design a serem desenvolvidas. promover uma idéia de qualidade (na comunidade. Supondo que o tempo veloz é muito bem desenvolvido na cultura e na economia dominantes. Modos de vida . Vimos no primeiro capítulo que as principais características do design para a sustentabilidade são: promover mudanças dire- cionadas no sistema local – isto é. produtos dura- douros. eficazes. mesmo em servi- ços sociais) que. ao mesmo tempo. São elas: Como regenerar os bens comuns locais? O título dessa linha de pesquisa poderia ser “bens comuns versus bens reme- diadores”. estimular. e. 58 | 2. Neste segundo capítulo.1766931 Pesquisas em design para um bem-estar baseado no contexto. ecoeficientes e uma nova geração de serviços. as hipóteses de uma nova idéia de bem-estar são propostas como o resultado de três componen- tes principais: alta qualidade dos bens comuns. em alguns produtos materiais. de serviços. Por exem- plo. Alguns exemplos: como promover a água potável da bica ao em vez da água engarrafada? Como promover uma vizinhança aberta e segura ao invés de dispositivos de segurança? Como promover o bem-estar e a prevenção de doenças ao invés da assistência médica e dos remédios? Como promover o tempo lento? Neste caso. es- timulando seu desejo de fazer parte do jogo (voltaremos à este tema dos sistemas habilitantes no capítulo 4). Modos de vida | 59 . devemos estabelecer uma nova idéia de produtos e serviços paralela à idéia atualmente dominante de produtos e serviços como sistemas desabilitantes. É claro que os designers tiveram um papel importante na promoção e prática dessa idéia. oferecendo a ele os meios para empregar suas próprias capacidades neste processo e. Agora. partir do que o usuário sabe. pode e deseja fazer. esta nova idéia deve. requerem uma mínima participação de sua parte). Esse processo progressivamente retirou dos indivíduos e das comunidades as ferramentas e competências que no passado lhes permitiam lidar de maneira autônoma com os mais dife- rentes aspectos da vida cotidiana. Ou melhor. ao contrário. é possível acrescentar que essa idéia nos conduziu pro- gressivamente à incorporação de conhecimentos e habilidades anteriormente difusos e de conhecimento público em aparatos técnicos e sistemas organizativos especificamente projetados. que colaboram na obtenção do resultado de- sejado pelo usuário.Este exemplar esta registrado para uso exclusivo de ESTÉFANO PIETRAGALLA . os designers deverão discutir “se” e “como” mudar de postura. Afirmamos an- teriormente que é necessário olhar criticamente para a idéia monológica de conforto como passividade e não envolvimento. se necessário. 2. onde as capacidades das pessoas em termos de sensibilidade. Em outras pa- lavras. “se” e “como” seria pos- sível imaginar um novo tipo de bem-estar: um bem-estar ativo. produtos e serviços devem ser concebidos como siste- mas habilitantes. Se hoje a idéia mais amplamente difundida é a de que produtos e serviços são projetados consi- derando o usuário apenas como uma expressão de problemas (problemas que. Agora. frente à evidência dos problemas a ela relacionados. competência e espírito de iniciativa terão também um impor- tante papel. para serem resolvidos. Focalizando essa proposta do ponto de vista do designer.1766931 Pesquisas em design para um bem-estar ativo. 1766931 .Este exemplar esta registrado para uso exclusivo de ESTÉFANO PIETRAGALLA . será um processo de aprendizagem social largamente difuso no qual as mais diversificadas formas de criatividade. São por este moti- vo denominadas de descontinuidades locais. é possível aprender algo por meio de cada uma dessas tentativas. se for- mos capazes de reconhecer seu valor. conhecimento e capacidades organizacionais de- verão ser valorizadas do modo mais aberto e flexível possível. por diversos motivos.1766931 3. qual experimento terá realmente sucesso. iniciativas cruciais para promover e orientar o processo de transição rumo à sustentabilidade. Inovação Social | Comunidades criativas e organizações colaborativas A transição rumo à sustentabilidade. tendem a desa- parecer. quando confrontados com os mo- dos de pensar e comportamentos dominantes. Po- dem ser vistos como experimentos sociais de futuros possíveis: laboratórios multilocalizados e difusos. Inovação Social | 61 . Esses casos promissores expressam principalmente a ativi- dade de minorias sociais e. 3. onde diferentes movi- mentos rumo à sustentabilidade são ensaiados. Não obstante.1 Comunidades criativas O termo inovação social refere-se a mudanças no modo como indivíduos ou comunidades agem para resolver seus proble- mas ou criar novas oportunidades. São. a priori.Este exemplar esta registrado para uso exclusivo de ESTÉFANO PIETRAGALLA . serão cada vez mais capazes de romper os padrões consolidados e nos guiar rumo a novos comportamentos e modos de pensar. Tais inovações são guiadas mais por mudanças de comportamento do que por mudanças 3. especificamente a modos de vida sustentáveis. Como ocorre em qualquer laboratório. ninguém pode dizer. Um papel particular será desempenhado por uma série de ini- ciativas locais que. mesmo assim. 2006. de uma nova geração de farmers market.1766931 tecnológicas ou de mercado. O conjunto da sociedade contemporânea. ou seja. São exemplos: modos de vida em co- mum nos quais espaços e serviços são compartilhados (como o co-housing). geralmente emergindo através de processos organizacionais “de baixo para cima” em vez daque- les “de cima para baixo”.Este exemplar esta registrado para uso exclusivo de ESTÉFANO PIETRAGALLA . A experiência nos indica que períodos particularmente in- tensos de inovação social tendem a ocorrer quando novas tec- nologias penetram nas sociedades ou quando problemas par- ticularmente urgentes ou difusos devem ser enfrentados. considerando a combinação desses dois fenômenos. mas que se articulam com as mais amplas redes globais (como acontece com alguns produtos típicos locais). Isso corresponde exatamente ao que acabamos de definir com o termo inovação social: mudanças no modo como indivíduos ou comunidades agem para resolver seus problemas ou criar novas oportunidades (Laundry. 2006). Existem muitos casos em que essa criatividade socialmen- te difusa se expressa no design de atividades que podemos de- nominar “colaborativas”. Emude. como microberçários ou microcre- ches (espaços de recreação e cuidados infantis que funcionam 62 | 3. Por outro lado. atividades de produção baseadas nas habilidades e recursos de uma localidade específica. em sua comple- xidade e contraditoriedade. pode ser visto como um imenso la- boratório de idéias para a vida cotidiana. em muitas cidades. Portanto. serviços auto-organizados. Ao longo das últimas décadas. é fácil prever a manifes- tação de uma nova e imensa onda de inovação social (Young Foundation. 2006). gerando possibilidades ain- da amplamente inexploradas. a gravidade dos problemas sociais e ambientais a serem enfrentados na nossa vida cotidiana se tornou evidente. Nossa principal hipotése aqui é que esta emergente onda pode ser um poderoso guia na transição rumo à sustentabilidade. uma variedade de iniciativas relativas à alimentação natural e saudável (desde o movimento internacio- nal do Slow Food até a difusão. várias novas tecnologias foram in- troduzidas em nossas sociedades. onde modos de ser e de fazer se desdobram em novas questões e respostas inéditas. “mercados de produtores”). Inovação Social . sistemas de transporte alternativos (do car sharing e do carpooling à redes- coberta da bicicleta). Isto é verdadeiro tanto no caso da organização de sistemas para o compartilhamento de objetos ou espaços em lugares onde a utilização individual nor- malmente prevalece quanto nas iniciativas dedicadas à recu- peração da qualidade dos alimentos saudáveis e biológicos em lugares onde é considerado normal ingerir outros tipos de pro- duto. Especi- ficamente. introduzindo outros. Em outras palavras: representam descontinuidades em seus contextos por desafiar os modos tradicionais de fazer. em sua busca por soluções concretas. 2007). De fato. possuem uma capacidade inaudita de arti- cular interesses individuais com interesses sociais e ambientais. muito diferentes e intrinsecamente mais sustentáveis. constituem idéias que dão grande valor à qualidade 3. Mais precisamente. gerando e colocando em prática idéias novas e mais sustentáveis de bem-estar. e assim por diante (Meroni. Inovação Social | 63 . no- vas formas de socialização e intercâmbio (tais como o Local Exchange Trading System – Lets – e os time banks). 2008). ou ainda quando temos o desenvolvimento de serviços participativos em localidades onde esses mesmos serviços se baseiam em uma absoluta passividade da parte dos usuários. acabam por reforçar o tecido social.1766931 por iniciativa dos próprios pais) e lares compartilhados (onde jovens e idosos moram juntos. Casos promissores de inovação social. são casos que. redes que unem de modo direto e ético produtores e consumidores (como as atividades do comércio justo). Podemos observar que. esses casos possuem um significa- tivo denominador comum: são sempre a expressão de mudan- ças radicais na escala local. os exemplos aos quais nos referimos aqui. ajudando-se mutuamente). entre outros (SEP. Todos esses casos precisa- riam ser analisados em detalhe de modo a avaliar precisamente a sua efetiva contribuição à sustentabilidade ambiental e so- cial. é possível reconhecer sua coerência com algumas das diretrizes fundamentais para a sustentabilidade. mesmo à primeira vista.Este exemplar esta registrado para uso exclusivo de ESTÉFANO PIETRAGALLA . Entretanto. embora apresentem características e modos de operar diversos. Este exemplar esta registrado para uso exclusivo de ESTÉFANO PIETRAGALLA . regionais e de estação. esse bem-estar parece ser coerente com a maior diretriz para a sustentabilidade ambiental. a uma atitude respeitosa e atenta. nas instituições. considerando que a capacidade de reorganizar elementos já existentes em novas e significativas combinações é uma das possíveis definições de criatividade. Manzini. Uma segunda característica. inventam. sem esperar por uma mudança geral de siste- ma (na economia. Manzini. de for- ma colaborativa. Cada um desses casos promis- sores se baseia em grupos de pessoas que foram capazes de dar vida a estas soluções inovadoras. pessoas foram capazes de orientar suas expectativas e seu com- portamento individual em uma ação coerente com uma pers- pectiva sustentável. aprimoram e gerenciam soluções inovadoras para novos modos de vida (Meroni. é que eles nascem a partir de problemas colocados pela vida cotidiana contemporânea: de que forma podemos supe- rar o isolamento trazido por um individualismo radical? Como organizar funções cotidianas se a família e a vizinhança não se ocupam mais em fornecer o suporte que tradicionalmente ofe- 64 | 3. 2007). uma preferência por alimentos biológicos. Além disso. 2007). Justamente pelo fato de que esses casos sugerem soluções que combinam interesses pessoais com interesses sociais e ambientais. nas vastas infra-estruturas). comum a esses casos promis- sores. e. finalmente e mais importante. Pessoas criativas e colaborativas. a novas formas de comunidade e a novos conceitos de “localida- de” (Manzini. 2007). 2003. E fizeram isso recombinando o que já existe. Por essa razão. qual seja: atitudes positivas rumo a espaços e bens compartilhados. Inovação Social . Jegou. de maneiras diferentes. uma tendência a regenerar redes locais. acreditamos que deveriam ser considerados como casos promissores: iniciativas nas quais. Meroni. à busca por um ritmo mais lento de vida. tais grupos podem ser definidos como comunidades criativas: pessoas que. coerência com um modelo de economia distribuída. que procura ser menos baseado em serviços de transporte e mais capaz de integrar sis- temas eficientes de energia renovável (Vezzoli. à ação colaborativa.1766931 de nossos “bens comuns”. crianças indo para es- cola como nos “bons e velhos tempos”. enfim. A existência dessas evidentes ligações com os modos tradicionais de fazer e pensar levou alguns observadores a afir- mar que tais casos não representavam uma efetiva novidade. as hortas de seus avós. são sempre criadas por problemas da vida cotidiana contemporânea. o compartilhamento de ferramentas e equipamentos. a possibilidade de utilizar (de uma forma apropriada) uma série de produtos. como vimos.Este exemplar esta registrado para uso exclusivo de ESTÉFANO PIETRAGALLA . Perguntas que o sistema de produção e consu- mo dominante.1766931 reciam? Como podemos responder à demanda por alimentos naturais e condições de vida saudáveis quando vivemos em metrópoles globais? Como podemos encorajar a produção lo- cal sem sermos esmagados pelo poder dos mecanismos de co- mércio global? Comunidades criativas geram soluções capazes de respon- der a todas essas perguntas. Podemos dizer. a existência de condições sociais e políticas favoráveis (ou pelo menos capazes de aceitar) o desenvolvimento de uma criatividade difusa. geram as descontinuidades locais que mencionamos antes. Perguntas que são tão corriqueiras quanto radicais. que as comunidades criativas apli- cam sua criatividade para quebrar os modelos dominantes de pensar e fazer e. Inovação Social | 65 . Ao responder as questões co- locadas pela vida contemporânea. As oportuni- dades se manifestam a partir de diferentes combinações de três elementos básicos: a existência (ou ao menos a memória) das tradições. apesar de sua oferta impressionante de produ- tos e serviços. as comunidades criativas estabeleceram ligações. com isso. de respon- der adequadamente do ponto de vista da sustentabilidade. serviços e infra-estruturas. sobretudo. Um terceiro denominador comum é que as comunidades criativas resultam de uma original combinação de demandas e oportunidades. é incapaz de responder e. conscientemente ou não. como era norma antes do adven- to de nossa atual sociedade orientada ao consumo. 3. Tradições como recursos sociais. As demandas. com modos de fazer e pensar próprios das culturas pré-industriais: o velho mercado. mais ou menos fortes e explícitas. e assim por diante. devemos enfatizar o quanto são importantes essas “tecnologias comuns”. E muito poucos sem um computador e acesso à internet. geram um novo tipo de sistema a partir de produtos e serviços comumente disponíveis no mercado. por mais comuns que possam ser consideradas. porém nenhum deles poderia existir sem um telefone. por mais modestas que sejam. Entretanto. à luz das atuais condições de existência e dos atuais problemas.1766931 sendo apenas manifestações de saudosismo por uma “vida de aldeia” a qual nunca poderemos retornar. porém. sem renunciar às funcionalidades que desejamos. Freqüentemente. Alguns poucos casos fazem uso de serviços e produtos sofisticados. Por fim. Inovação Social . Olhando para esses casos e suas motivações com mais cui- dado.Este exemplar esta registrado para uso exclusivo de ESTÉFANO PIETRAGALLA . podemos acrescentar que essas tecnologias. ou seja. absolutamente atualizado. 2007). Tecnologias reinterpretadas. po- dem representar um valioso material de construção para o fu- turo (CCSL. Por exemplo: ge- ralmente utilizam o telefone. é possível constatar claramente que nada poderia ser mais falso: o “passado” que emerge nestes casos é um recurso social e cultural extraordinário. padrões de comportamento e formas de organização que. É o respeito pelas estações climáticas e a produção local de alimen- tos que pode reorganizar a insustentável rede de fornecimento e distribuição atual. o computador e a internet como qualquer membro da sociedade pode fazer (claramente mem- bros de sociedades onde os telefones. cada um desses casos representa a herança de conhecimento. computadores e internet sejam atualmente disponíveis). ainda têm potencialidades amplamente não uti- lizadas (e também não imaginadas): os telefones celulares – to- 66 | 3. É o compartilhamento que nos torna ca- pazes de reduzir o peso da aquisição individual de equipamen- tos. É o valor da socialidade de vizinhança que nos torna capazes de trazer novamente vida e segurança aos nossos bairros e cidades. tais tecnologias são utlizadas de uma maneira original. Dito isso. A maioria dos casos promissores que destacamos utiliza tecnologias “comuns” (ou o que é con- siderado “comum” hoje em muitos países). Este exemplar esta registrado para uso exclusivo de ESTÉFANO PIETRAGALLA - 1766931 mando como exemplo o aparelho de comunicação mais co- mumente usado mundialmente – foram utilizados até hoje principalmente como instrumentos de comunicação. Todavia, apresentam também um grande potencial para a organização de sistemas. O mesmo potencial pode ser atribuído ao uso (in- teligente) de computadores e da internet. Só para citar alguns exemplos: sistemas inovadores de compartilhamento de car- ros (carpooling), grupos de compras, “bancos de tempo” (time banks). Esses e outros tantos serviços não poderiam existir sem o telefone e seriam muito difíceis de gerenciar sem o (normal, mas inteligente) uso de computadores e da internet. Essas hipóteses são corroboradas pela observação direta dos processos de inovação social: considerando o quadro geral, composto de casos que empregam tecnologias comuns, come- çam a despontar exemplos onde uma específica tecnologia – tecnologias de informação e comunicação, em particular – foi desenvolvida e está atualmente em uso. Esses casos nos dão uma idéia de como a situação poderia evoluir se apropriadas tecnologias habilitantes fossem desenvolvidas. A evolução do car sharing é uma dessas idéias: há vinte anos, trabalhava-se com o telefone, papel e caneta; hoje em dia, tornou-se campo de aplicação para uma variedade de pacotes tecnológicos espe- cíficos, tais como sistemas de reserva, gerenciamento de frotas de carros e customização de veículos segundo as exigências in- dividuais dos usuários. Em conclusão, embora seja verdade que o uso das tecno- logias de informação e de comunicação como facilitadores de novas formas de organização esteja ainda apenas no começo, algumas invenções desenvolvidas pelas comunidades criati- vas são já muito avançadas. Em outras palavras, situam-se na vanguarda dos processos de inovação sistêmica socialmente conduzidos, onde tecnologias comuns existentes são utilizadas para criar sistemas e organizações totalmente novos. Empreendimentos sociais difusos. Comunidades criativas são entidades que evoluem ao longo do tempo. Uma observação mais detalhada nos mostra que os casos promissores que elas 3. Inovação Social | 67 Este exemplar esta registrado para uso exclusivo de ESTÉFANO PIETRAGALLA - 1766931 geram podem ser vistos como idéias de serviço e de negócios posicionadas em diferentes estágios de seus específicos pro- cessos de inovação. Voltaremos a esse ponto mais adiante. Neste momento, é suficiente observar que, prosseguindo em seus processos de inovação, as comunidades criativas evoluem rumo a um novo tipo de empreendimento, os empreendimen- tos sociais difusos. Essa observação é muito importante para en- tender o potencial das comunidades criativas e, especialmente, as possibilidades de sua permanência ao longo do tempo e de sua propagação a diferentes contextos. Quando se consolida como uma forma de organização ma- dura, uma comunidade criativa torna-se um empreendimento social difuso, produzindo tanto resultados específicos quanto qualidade social. O termo “empreendimento difuso” indica gru- pos de pessoas que se auto-organizam, em sua vida cotidiana, para obter os resultados nos quais estão diretamente interes- sados. A expressão “produzindo resultados específicos e qua- lidade social” refere-se ao processo pelo qual, através de uma procura ativa para resolver os próprios problemas, esses grupos reforçam o tecido social e melhoram a qualidade do ambiente. Em síntese, produzem sociabilidade (Leadbeater, 2006; Emude 2006). Estabelecida essa definição de trabalho, devemos enfatizar que os empreendimentos sociais difusos são um tipo especial de empreendimento social, diferentes dos mais tradicionais. De fato, se concentram em problemas comuns do cotidiano: obtenção de comida mais saudável, assistência à própria famí- lia (infância e terceira idade), mobilidade urbana... Em outras palavras, embora alguns empreendimentos sociais se ocupem de problemas sociais críticos (tais como interação com grupos sociais marginalizados ou assistência a doenças graves) a es- pecificidade dos empreendimentos sociais difusos repousa em estender o conceito de “social” a uma ampla arena onde os in- divíduos se encontram para enfrentarem juntos as dificuldades comuns da vida cotidiana, bem como as novas demandas de bem-estar que destas emergem Outra diferença em relação ao conceito usual de empresa social é que nos empreendimentos sociais difusos as pessoas 68 | 3. Inovação Social Este exemplar esta registrado para uso exclusivo de ESTÉFANO PIETRAGALLA - 1766931 atuam para ajudarem “a si mesmas” e (ao menos em parte) “por si mesmas”. Isto significa que, diferentemente da visão de em- preendimento social, onde muitas vezes a figura predominan- te é a de alguém que presta um serviço para outras pessoas, o aspecto característico aqui é que todos os participantes cola- boram de modo direto e ativo na obtenção do resultado que o empreendimento pretende alcançar. Incubadoras de iniciativas baseadas no conhecimento. As co- munidades criativas podem ser reconhecidas, e ter seu papel debatido, no quadro da emergente economia do conhecimento (e, esperamos, de uma possível sociedade do conhecimento e da sustentabilidade): uma economia (e uma sociedade) da qual tais comunidades são ao mesmo tempo resultado e (possíveis) promotoras. De fato, pesquisas realizadas até agora mostram que as co- munidades criativas emergem principalmente em contextos de rápida mudança, caracterizados pelo conhecimento difuso, com um alto nível de conectividade (o que significa a possibi- lidade de interagir com outras pessoas, associações, firmas e instituições) e certo grau de tolerância (em relação aos modos não convencionais de ser e fazer). Em outras palavras, tendem a emergir em contextos onde a economia do conhecimento é mais desenvolvida. Devemos acrescentar a essa óbvia observação uma outra complementar (que pode ser muito menos óbvia para algumas pessoas): as comunidades criativas e os empreendimentos so- ciais difusos podem ser um campo muito fértil para o desen- volvimento de uma economia do conhecimento. Foi observado que, para uma economia do conhecimento florescer, é neces- sária uma ampla sociedade do conhecimento (firmas orienta- das ao conhecimento necessitam empregar trabalhadores do conhecimento bem treinados e de contextos sociais dinâmicos e estimulantes): as comunidades criativas e os empreendimen- tos sociais difusos podem gerar este cenário favorável. Neste quadro, vamos considerar, por exemplo, empreendedores que estão promovendo e gerenciando algumas destas iniciativas: 3. Inovação Social | 69 2002. 3. O resultado é que as comunidades criativas e os empreendimentos sociais difusos podem tornar-se não apenas as sementes para novos negócios baseados no conhecimento.2 Organizações colaborativas Como vimos acima. Uma sociedade baseada no conhecimento pode tornar-se a espinha dorsal de uma futura sociedade sustentável baseada no conhecimento. assumindo o papel de co- designers e co-produtores do serviço. Inovação Social . as comunidades criativas (o conjunto das pessoas direta e ativamente envolvidas) geram casos promisso- res (resultados inovadores).1766931 querendo ou não. e não limitados ao conhecimento “formal” e às firmas criativas. de seu restrito significado atual (uma economia de mercado onde o produto é o “conhecimento”) a um outro muito mais profundo: uma economia que é parte de um sis- tema onde o conhecimento e a criatividade devem ser encon- trados de maneira difusa por toda a sociedade. microempreendimentos (empreendimentos colaborativos) e redes de pessoas ativas (cidadãos colaborativos). os casos promissores que elas geraram tornam-se organiza- çoes colaborativas. as comunidades criativas podem contribuir para a expansão do conceito de economia do conhecimento. como lidar com organizações complexas e baseadas em modelos econômicos particulares. Alguns exemplos são: uma casa onde idosos de diferentes idades vivem em comunidade compartilhando recursos e adaptando-os a suas diferentes ne- 70 | 3. eles têm que aprender como fazê-lo. Essas últimas podem ser classificadas da se- guinte forma: novos tipos de serviço social (serviços colaborati- vos). ou seja. Finalmente. com ou sem suporte. mas também incubado- ras para a formação de um grande número de trabalhadores do conhecimento. e mais importante. tornam-se empreendimentos sociais difusos e.Este exemplar esta registrado para uso exclusivo de ESTÉFANO PIETRAGALLA . Serviços colaborativos são serviços sociais onde os usuários finais estão ativamente envolvidos. “Quando” e “se” tais comunidades evoluem. por sua vez. Ao mesmo tempo. 2005). comunidades criativas po- dem ajudar a gerar contextos dinâmicos e tolerantes que são requeridos para iniciar e manter uma vigorosa economia do conhecimento (Florida. de organizações colabo- rativas: iniciativas de produção e serviço baseadas em relações colaborativas entre pares e. Organizações colaborativas e qualidade relacional. ajuda e suporte financeiro. as chamamos. apre- sentam um traço comum fundamental: todas são constituídas por grupos de indivíduos que colaboram entre si na co-criação de valores comumente reconhecidos e compartilhados. Empreendimentos colaborativos são empreendimentos de produção ou iniciativas de serviço que fomentam novos mo- delos de atividades locais. num alto grau 3. por estabelecer relações diretas com usuários e consumidores que tornam-se. deficientes físicos e imigrantes encontram trabalho no re- paro e na melhoria de produtos usados.Este exemplar esta registrado para uso exclusivo de ESTÉFANO PIETRAGALLA . uma loja onde pessoas trocam bens esportivos usados. Por essa razão. Alguns exemplos dessas categorias são: grupos de residentes que transformam um terreno abandonado num jardim compartilhado pelos vizinhos. um empreendimento local que ensina as pessoas como reutilizar materiais velhos e usados. ou outros que estejam em busca de um modo de viver comunitário. co-produ- tores. grupos de pessoas que gostam de cozinhar e que utilizam suas habilidades em favor de um grupo maior. também. Muitos dos casos observados entram nessa categoria. conseqüentemente. tornam-se co-produtores dos resulta- dos obtidos). Exemplos: uma firma composta por jovens que reforma casas para esses mesmos jovens. uma oficina onde pessoas desempre- gadas. em seu conjunto. Cidadãos colaborativos são grupos de pessoas que colabo- rativamente resolvem problemas ou abrem novas possibilida- des (e que. grupo de pessoas que trocam ajuda mútua em termos de tempo e habilidades. um serviço que facilita a co-divisão de casas entre idosos e jovens estudantes. Inovação Social | 71 . Embora tais organizações possuam diversificados objetivos e atores. novamente. uma fazenda que ajuda os clientes a vivenciar em primeira pessoa o valor da biodiversida- de na cadeia alimentar.1766931 cessidades e estilos de vida. organizando jantares nas casas dos mem- bros. propiciando a esses últimos um abrigo barato e familiar e aos primeiros companhia. necessidade/desejo. Ou seja.Este exemplar esta registrado para uso exclusivo de ESTÉFANO PIETRAGALLA . tal qual a definimos aqui. que por sua vez re- quer qualidades relacionais: a ausência de qualidades relacio- nais significa a ausência de confiança e colaboração e. por serem todos participantes ativos. Afirma-se progressiva- mente de acordo com o amadurecimento das comunidades criativas. a ausência de uma organização colaborativa. enquanto todas as organizações humanas tendem a possuir algum grau de qualidade relacional. São inicia- tivas profundamente enraizadas localmente mas. Outro aspecto característico das organizações colaborativas é que seu modelo organizacio- nal desafia os modos tradicionais de pensar. as quais exigem ação direta das pessoas envolvidas e são baseadas na sua capacidade/vontade de agir. propõem soluções onde os interesses privados. indo além das con- vencionais polaridades sobre as quais os modernos modelos organizacionais dominantes foram construídos: privado/pú- blico. Finalmente. são formas de organização em que. sociais e ambientais podem convergir em um intricado jogo de necessidades e aspirações. da existência de relações interpessoais verdadeiras entre os envolvidos. A colaboração entre pares requer confiança. 2004). e mais importante. para as organizações colaborativas isso não é uma opção. as distinções entre os papéis de produtor e de usuário/consu- midor se diluem. Produção e serviços onde os valores pro- duzidos emergem das qualidades relacionais que possuem. Modelos organizativos complexos. de fato. fortemente conectadas com outras semelhantes em es- cala internacional. mas uma precondição para sua existência. 72 | 3. Este último ponto deve ser enfatizado. As organizações colaborativas. (Cipolla. consumidor/produtor. o te- cido social. reforçando. local/global. De fato. isto é. as pessoas buscam principalmente resolver juntas e ativamente os próprios problemas. ao mesmo tempo. como efeito colateral.1766931 de confiança mútua. Esta evidente característica das organizações colaborativas depende diretamente de suas origens. Inovação Social . conse- qüentemente. Elas mostram que. porém. É possível observar. economias de mercado e de não-mercado. bem-sucedidos. e se consolidam em novas formas de empreendimentos. O que foi dito. é observar os casos promissores existentes e examinar minucio- samente quando e como eles tiveram sucesso. Vimos acima que tais experimentos são. sistemas de trocas ou de dons. visando responder a tais perguntas. isto é. as organizações colaborativas são baseadas em uma mistura de diversos “modelos econômicos”: diferentes combi- nações de auto-ajuda e ajuda mútua. Essa afirmação nos leva às seguintes questões: é possível fazer mais do que simples- mente observar o que a espontaneidade e o empreendedoris- mo das pessoas foram capazes de fazer? É possível consolidar e replicar esses casos promissores? Em outras palavras: é possível facilitar a existência destas comunidades criativas e sua evolu- ção rumo a duradouros empreendimentos sociais? Podem estas iniciativas serem amplamente replicadas em diferentes contex- tos? Podem. introduzindo as comunidades criativas e os empreendimentos sociais difu- sos. Boas idéias que giram o mundo. quando e como foram capazes de permanecer ao longo do tempo e repli- car-se em outros contextos.3 Processos em andamento As comunidades criativas podem ser consideradas como pro- tótipos de trabalho de modos de vida sustentáveis. às vezes. capazes de produzir coopera- tivamente organizações colaborativas. considerando seu potencial de consolidação e de difusão. lidar com a dimensão dos problemas que são (e que serão) levantados pela transição rumo à sustentabilidade? Um primeiro passo. que esses processos de inova- ção são ainda hoje a expressão de minorias. Inovação Social | 73 . poderia nos induzir a pensar que toda a argumentação de- 3.1766931 O mesmo tipo de desafio se estende ao modelo econômi- co. mesmo nas condições atuais. De fato. alcançando resultados sustentáveis. é possível comportar-se de forma colaborativa. 3.Este exemplar esta registrado para uso exclusivo de ESTÉFANO PIETRAGALLA . os empreendimentos sociais difusos. Embora as comunidades criativas se manifestem principalmente em contextos de rápida mudança – caracterizados pelo conhecimento difuso. 2007). o diferente peso das necessidades econômicas sobre as demais necessidades sociais e ambientais criaram motivações diversas). com certo grau de tolerância (pois ninguém pode exercer um estrito controle numa sociedade em tamanha transformação). pelo menos nas “economias emergentes”. Todavia. até agora. aquelas que alcançaram um estágio avançado no processo de consolidação de uma economia do conhecimento. considerando que a mudança das condições de vida (dos vilarejos e da economia de subsistência para as ci- 74 | 3. São contextos que estão mudando rapidamente (muitas pessoas estão se transferindo do interior para as cidades). as comunidades cria- tivas e os empreendimentos sociais difusos foram observados principalmente naquelas regiões do mundo onde a economia do conhecimento é bastante desenvolvida. agricultura de base comunitária e carpooling. as idéias sobre as quais eles se baseiam são mais ou menos idênticas. Inovação Social . isto é. mesmo que seu sig- nificado e motivações sejam diferentes das que encontramos na Europa (os diferentes papéis da tradição e das redes sociais existentes levaram a diferentes significados dos termos “comu- nidade” e “criatividade” e. Está certa quanto ao fato de que. De fato. com um alto nível de conectividade e certo grau de tolerância – podemos obser- var também que. similarmente. podemos encontrar muitas hibridiza- ções entre a cultura tradicional. não deve- se daí deduzir que comunidades criativas só podem ser en- contradas nesses países. há vastas áreas urbanas (ou quase-urbana) que podem ser des- critas nos mesmos termos (se concordarmos em adaptar seus significados a novas circunstâncias). E no que se refere ao conhecimento difuso e à criatividade. a Índia e a China. podemos encontrar interessantes casos de grupos de compras. Tal afirmação está ao mesmo tempo certa e errada.1766931 senvolvida até aqui refere-se apenas às economias industriais mais desenvolvidas. Observando atentamente países como o Brasil. novos comportamentos e tec- nologias avançadas. só para citarmos alguns exemplos (CCSL.Este exemplar esta registrado para uso exclusivo de ESTÉFANO PIETRAGALLA . E. do Norte para o Sul. ou seja. ações “a partir das ba- ses” que dão origem a casos promissores de inovação social. Inovação Social | 75 . Assim sendo. elas se movem e se adaptam à especificidade dos diferentes contextos: um movimento de idéias e experiências que pode caminhar em todas as direções. a participação direta e ativa das pessoas interessadas (interações “de baixo para cima”) é freqüentemente sustentada por trocas de informações com outras organizações similares (interações “entre pares”) e pela intervenção de instituições. É simplesmente uma questão relativa à velocidade da mudança: onde quer que as mudanças sejam rápidas e profun- das. organizações cívicas ou empresas (interações “de cima para baixo”). Leste ou Oeste. freqüentemente.Este exemplar esta registrado para uso exclusivo de ESTÉFANO PIETRAGALLA . Porém. uma vez que tenham sido geradas. poderiam ser adotadas (e adapta- das) nas sociedades ocidentais. Interações “de baixo para cima” (bottom-up). pode ser que a persistência dos modos tradicionais de pensar e de fazer nestas novas metrópoles se tornem uma vasta reserva de recursos so- ciais e culturais gerando novas idéias de modos de vida susten- tável que. comunidades criativas aparecerão e. de ser rica ou pobre. algumas ex- periências ocidentais (de como viver em uma cidade) podem estimular a adoção (e adaptação) de idéias análogas no novo ambiente urbano emergente. uma observação mais acurada de sua evolução – par- tindo de uma idéia inicial até formas organizativas mais madu- ras – indica que sua possibilidade de existência à longo prazo – e. até mesmo de nascimento – depende de mecanismos complexos. As comuni- dades criativas foram descritas até agora como iniciativas “de baixo para cima” (bottom-up). “de cima para baixo” (top-down) e “entre pares” (peer-to-peer).1766931 dades e a economia de mercado) estão afetando crescentes proporções de população nos países emergentes. podemos dizer que o lugar onde essas inovações acontecem não é uma questão relativa ao fato de estarmos diante de uma sociedade industrial mais ou menos desenvolvida. em contrapartida. do Oeste para o Leste e vice-versa. Sul. 3. Em conclusão. de ser no Norte. Por outro lado. um microberçário ou creche começa a ope- rar graças à participação ativa dos pais envolvidos. como muitos outros que poderiam ser apresentados aqui. segurança e higiene. passo a passo. Porém. Inovação Social . de modo a garantir sua conformidade com padrões de saúde. algo pode ser feito para tornar estas soluções mais prováveis. Os contextos onde existem tanto as comu- nidades criativas e seus casos promissores quanto os empreen- dimentos sociais difusos e suas organizações colaborativas são sistemas sociotécnicos altamente complexos que não podem ser “projetados”. no procedimento a ser seguido na fase inicial e no gerenciamento da iniciativa.Este exemplar esta registrado para uso exclusivo de ESTÉFANO PIETRAGALLA . indicam que as comunidades criativas e os empreendimentos sociais difusos devem ser considerados como iniciativas “de baixo para cima” não porque tudo acon- tece através do envolvimento ativo das pessoas diretamente interessadas.1766931 Por exemplo. duradouras e reproduzíveis. É exatamente esta característica que nos leva a reconhecer que as ações criativas e colaborati- vas – matéria básica na construção das comunidades criativas e dos empreendimentos sociais difusos – não podem ser direta- mente planejadas. Cada uma destas iniciativas tem início. “de cima para baixo” e “entre pares” (que difere caso a caso). alguns de seus elementos podem ser imaginados e efetivamente realizados. Estes pais podem ter sido motivados a promover tal iniciativa através da observação de experiências similares (eventualmente intera- gindo com algumas delas). mas sim porque esta é uma precondição de exis- tência. tal como um livro que os orientou. Talvez possam contar com o suporte de uma autoridade local na ava- liação do serviço. Podem ter recebido um instrumen- to habilitante de algum ente de governo ou instituição. Estes exemplos. 76 | 3. ou ainda com o suporte de um serviço central. no caso de problemas educationais ou cuidados médicos que não possam ser resolvidos na própria creche. Contextos favoráveis. Todavia. se desenvolve cotidianamente e se aprimora através de um intrincado jogo de interações “de baixo para cima”. Visto que os casos promissores considerados aqui são. Inovação Social | 77 . a to- lerância requerida para o desenvolvimento desses casos deve se expressar em termos sociais. e um quadro legal e cultural capaz de lidar com a “área cinza” (não ilegal) que freqüentemente emer- ge quando assistimos o nascimento de iniciativas radicalmente novas.Este exemplar esta registrado para uso exclusivo de ESTÉFANO PIETRAGALLA . o trabalho em casa. promovê-los significa aceitar algo que provavelmente não se encaixará nas normas e regras existentes. Ambientes tolerantes. é igual- mente possível que seja vítima (e isto é o que de fato freqüen- temente ocorre) da incapacidade administrativa em aceitar tal inovação. políticos e administrativos. 2005). Leadbeater 2006). as empresas familiares. novos modos de vida coletiva). promover casos promissores e possibilitar a um amplo núme- ro de cidadãos potencialmente inovadores moverem-se nessa mesma direção (Laundry. for- mas de organização que diferem radicalmente das soluções usuais. Portanto. 2006. por definição. Novos sistemas fiscais devem ser desenvolvidos para lidar com modelos econômicos onde a troca 3. O ambiente mais favorável para as co- munidades criativas e seus casos promissores é caracterizado por um alto grau de tolerância (Florida. Em outras palavras. é necessário desenvolver instrumentos de gover- nança inovadores e um ambiente tolerante: ferramentas de go- vernança especificamente voltadas para facilitar a existência de comunidades criativas.1766931 É possível identificar e cultivar elementos materiais e ima- teriais que possam trabalhar juntos em um dado contexto de modo a torná-lo um terreno fértil para iniciativas criativas e “de baixo para cima”. é possível melhorar a ca- pacidade desse contexto em sustentar comunidades criativas. 2002. Para isso. as iniciativas “de baixo para cima” requerem uma variedade de novas regulamentações que viabilizem a condução de atividades que são difíceis de classi- ficar em termos convencionais (tais como o uso inovador dos espaços públicos. De um ponto de vista prático. 2000. pois se é verdade que uma comunidade criativa nascente pode ser destruída pela incompreensão e hostilidade política. Esse último ponto é crucial e será detalhado a seguir. po- deriam ser parceiros relevantes em iniciativas governamentais que objetivem alcançar esses mesmos resultados. diremos apenas que. rígidos e hierárquicos. a natureza legal e econômica destas iniciativas inovadoras deve ser consi- derada muito cuidadosamente.1766931 de trabalho e a permuta possam substituir as transações con- vencionais baseadas no dinheiro. cultivarem novos talentos (novas competências e habilidades) e. necessários para promover o florescimento de empreendimentos sociais difusos e de organizações colaborativas 3. Como tudo isso pode ser feito? Obviamente. a solucões implementadas (Young Foundation 2006). gera- rem um ambiente favorável do ponto de vista social. amadurecem e se difundem em uma “curva S”: de idéias novas em folha passam a soluções maduras e. os modelos das redes sociais po- dem ser a tecnologia habilitante capaz de promover a transição dos atuais instrumentos de governança. abertos e horizontais. político e administrativo. Conseqüentemente. não existe uma resposta única e simples para esta questão. de potencial tão signifi- cativo que merece ser devidamente mencionada aqui. flexíveis. considerando o que vimos anteriormente. Voltaremos a esse ponto mais tarde. promoverem uma infra-estrutura tecnológica apropriada. Governança participativa. rumo a outros. sobretudo. 78 | 3. Ao mesmo tempo. emergem. assim como todos os processos de inova- ção. No momento.Este exemplar esta registrado para uso exclusivo de ESTÉFANO PIETRAGALLA . São os modelos organizativos que emergem das redes sociais (ou web 2.0). já que a tolerância que estas re- querem pode ser explorada também por atores “ilegítimos”. existe uma possibilidade particular. Entretanto.4 Design e inovação social As inovações sociais. Novos ins- trumentos de governança podem aumentar tal possibilidade se facilitarem a regeneração de contextos tradicionais específi- cos. na nossa opinião. Empreendimentos sociais difusos e organizações colaborativas reforçam o tecido social por cria- rem novos espaços sociais e físicos. Inovação Social . final- mente. em outros lugares. Inovação Social | 79 . são visíveis na inovação social de base produzida pelas comunidades criativas. também. com recei- tas culinárias e a possibilidade de realizar visitas à fazenda) e os Lets (cujos participantes trocam ajuda mutuamente em um tipo de “banco de tempo”).Este exemplar esta registrado para uso exclusivo de ESTÉFANO PIETRAGALLA . A cafeteria para as crianças e as famílias é um exemplo desse tipo de protótipo. ainda que pareçam. Soluções maduras. Protótipos de solução. é muito cedo para saber se tais invenções poderão funcionar e continuar operando ao longo do tempo. Bons exemplos desta categoria são os purchasing groups (grupos colaborativos que compram comida orgânica e eticamente produzida diretamente dos produtores. de inspirar outros grupos de pessoas. apoiando-os economicamente). tais casos podem ser encarados como inovações sociais que foram capazes de passar 3. às ve- zes. Todas essas idéias foram propostas há alguns anos e se difundiram internacionalmente. Ela oferece uma área de recreação para famílias. uma biblioteca de informação. independentemente das pessoas “especiais” que delas participam e/ou dos diferen- tes contextos nos quais foram criadas. iniciativas de encomenda de vegetais (onde vegetais frescos. Outro exemplo é o workshop para a reparação de uten- sílios. cursos de arte e exposições. De qualquer forma. tudo baseado na participação dos “clientes” e em processos de troca. produzidos organicamente e a preços razoáveis são entregues na porta de casa. Tais iniciativas abrem inúmeras possibilidades. auxílio para pais e crianças estrangeiras. em que pessoas levam antigos utensílios para serem re- novados e doados a novos proprietários. Outros casos apresentam-se como soluções maduras relativamente consolidadas: indicam que algumas idéias foram capazes de continuar ao longo do tempo e. Considerando o sucesso conquistado. foi capaz de colocá-la em prática. em algum lugar. Alguns dos casos observados são ver- dadeiros protótipos de soluções: eles mostram que uma idéia de serviço é viável e que alguém. a fazerem algo similar. a princípio. mui- to ligadas aos seus contextos específicos.1766931 Essas três fases de evolução. melhorando seus contextos (isto é. Finalmente. por exemplo. soluções que criam as condições favoráveis 80 | 3. empresas e instituições locais de modo a consolidar e aumentar a difusão destas ini- ciativas.Este exemplar esta registrado para uso exclusivo de ESTÉFANO PIETRAGALLA . Esses exemplos. demonstram que as idéias de algumas comunidades criativas já estão sendo de- senvolvidas por designers. a partir de inter- venções institucionais. O mesmo é válido para empreendedores que consideram essa atividade como uma nova oportunidade de negócio. Soluções implementadas. Alguns exemplos são bastante conhecidos como. organizações de car sharing podem ser adotadas (e foram. Portanto. o car sharing (um grupo de residentes. isto é. Inovação Social . eficaz e reproduzível em diversos contextos baseando-se em um con- junto apropriado de produtos e serviços. Outro exemplo são os projetos de co-housing. como outros similares. serviços e programas de co- municação especificamente projetados. de fato) por pessoas não particu- larmente motivadas. algumas vezes. Todavia. que podem ser sustentados através da internet (divulgando os projetos e atrain- do potenciais participantes) por uma equipe de especialistas (que ajudem a identificar os terrenos adequados para edificação e a superar dificuldades administrativas e financeiras). é evidente que estas soluções ainda requerem um in- vestimento muito alto em termos de tempo e atenção da parte dos atores envolvidos. alguns dos casos podem ser considerados como soluções implementadas: organizações colaborativas que são sustentadas por “soluções habilitan- tes”. compartilham uma fro- ta de carros a fim de serem utilizados e pagos apenas quando requeridos). Pessoas menos empreendedoras e moti- vadas podem considerar demasiado difícil iniciar experiências similares ou até mesmo participar daquelas já em operação. o ambiente onde os empreendimentos sociais difusos e suas organizaçoes colabo- rativas podem florescer) e desenvolvendo soluções habilitantes específicas (ou seja. engenheiros. na adoção de modelos organizacionais inovativos e.1766931 de um estágio inicial de protótipo a um estágio mais maduro. numa dada área. Esta proposta se tornou muito acessível. sistemas de produtos. a fim de ajudar empreendedores a desenvolver e gerenciar organizações cola- borativas ao longo do tempo).Este exemplar esta registrado para uso exclusivo de ESTÉFANO PIETRAGALLA . 3. Inovação Social | 81 . encontrem parceiros e comecem projetos e/ou soluções.1766931 para que pessoas criativas expressem suas idéias. 1766931 .Este exemplar esta registrado para uso exclusivo de ESTÉFANO PIETRAGALLA . De fato. olhando com mais atenção para estes casos de inovação de base. ou soluções habilitantes. Redes Projetuais | 83 . podemos observar que algumas das “idéias de serviço” geradas pelas comunidades criativas realmente se di- fundiram. implícita ou até mesmo explicitamente. ser impostas. podem ser concebidas em diferentes escalas e envolvendo di- versos grupos de atores. bem como facilitar sua existência. elas exi- gem diferentes tipos de suporte. torná-los mais acessíveis e capacitá-los a serem apropriadamente difundidos. mesmo que as comunidades criativas e as inovações sociais difusas não sejam totalmente planejáveis. Todavia. As comunidades criativas são organizações sociais muito delicadas e cada intervenção externa coloca seu equilíbrio em risco. Isto significa que intervenções de suporte. Também é possível ver que decisões “de cima para baixo” (top-down) e interações “entre pares” (peer-to-peer) são freqüentemente necessárias para ajudá-las a nascer e a perma- necer e que. nos parece ser efetivamente pos- sível ajudá-las a nascer. serem replicados sem perder suas qualidades originais. isto é. Os empreendimentos sociais difusos que elas geram são profundamente enraizados em lugares e co- munidades específicas e a idéia de reproduzi-los em diferen- tes contextos parece muito difícil. Redes Projetuais | Interações “de baixo para cima” (bottom-up).1766931 4. parece que algo pode ser feito para consolidá-los. “de cima para baixo” (top-down) e “entre pares” (peer-to-peer) A criatividade e as atitudes colaborativas não podem. por defi- nição.Este exemplar esta registrado para uso exclusivo de ESTÉFANO PIETRAGALLA . 4. Em outras palavras. com seu conjunto de resultados práticos e de efei- tos socializantes. foi verificado que tais iniciativas. Efetivamente. este parece ser o maior limite para a difusão das orga- nizações colaborativas: o limitado número de pessoas capazes e desejosas de atravessar o limiar do comprometimento reque- rido para tornar-se um de seus promotores ou apenas um de seus participantes ativos. parecem atraentes para muitas pessoas. 84 | 4.Este exemplar esta registrado para uso exclusivo de ESTÉFANO PIETRAGALLA . comunicação e o que mais for necessário para implementar a acessibilidade. serviços. ou seja. para a maioria dos indivíduos. Uma solução habilitante é um sistema de produtos. porém não recebeu uma definição precisa. requerem simplesmente dedicação e tempo demais. podemos encontrar exemplos bem-sucedidos de soluções habilitantes com tais características positivas. são muito delicadas e cada in- tervenção externa coloca seu equilíbrio em risco. Agora é o momento de fazê-lo. algo pode ser feito para facilitar tais relações e.1766931 4. no entanto. na realidade. a eficácia e a replicabilidade de uma organização colaborativa. Acessibilidade e eficácia. Gerar uma nova idéia. exige um grande comprometimento em termos de tempo e de dedi- cação pessoal. obser- vando os casos existentes de soluções maduras e implementa- das. adaptar e ge- renciar criativamente uma existente. Devemos imediatamente enfatizar que conceber e desen- volver soluções habilitantes não é uma tarefa simples: a quali- dade das relações interpessoais. Todavia. que são uma precondição para as organizações colaborativas. ou mesmo simplesmente participar ativamente de uma iniciativa em andamento. Portanto.1 Soluções e plataformas Solução habilitante é uma expressão que já foi utilizada ao lon- go deste texto. é também um limite objetivo para sua existência a longo prazo e para sua possibilidade de ser replicada e adotada por muitos. Ainda que esse aspecto quase heróico seja exata- mente uma das características mais atraentes destas iniciativas. Redes Projetuais . exigem um investimento demasiado intenso de dois recursos que são (ou são percebidos como) os mais escassos hoje em dia. Por exemplo. Em termos mais gerais. Em termos práticos. Além disso. desenvol- ver modelos de serviço e negócios estimulantes e que sejam compatíveis com os interesses econômicos e/ou culturais dos potenciais participantes. mas também atraente. reduzir o total de tempo e espaço requeridos e aumentar a flexibilidade. mais simples poderá ser a solução requerida.Este exemplar esta registrado para uso exclusivo de ESTÉFANO PIETRAGALLA . Redes Projetuais | 85 . será necessário promover estratégias de comunicação motivantes e capazes de fornecer os conhecimentos necessários. Obvia- mente. mas algumas diretrizes muito gerais podem ser traçadas. podemos dizer que as soluções habilitantes devem pôr em ação uma inteligência específica: a inteligência necessária para estimular. desenvolver e regenerar a habilidade e a competência daqueles que as utilizam. fornecendo o que ele não sabe ou não pode fazer. É exatamente nisso que as soluções habili- tantes poderiam ajudá-las. mais o sistema deve ser capaz de compensar sua carência de habilidades. quanto menos habilidoso o usuário. mais o sistema deve ser não apenas amigável. A primeira etapa é analisar e detectar suas forças e suas fraquezas.1766931 Para superar tais problemas. serviços e comunicação de uma forma original. 4. Cada caso requererá soluções específicas. Por outro lado. é necessário que as organi- zações colaborativas se tornem mais acessíveis (superando os limites mencionados anteriormente). mais eficazes (incremen- tando a relação entre resultados e esforços individuais e sociais necessários) e mais atraentes (elevando a motivação das pesso- as em serem ativas). A segunda é conceber e desenvolver soluções (para aumentar suas forças e diminuir suas fraquezas) utilizando produtos. participar ativamente de uma organização colaborativa deve ser considerado estimulante. quanto menos motiva- do for o usuário. ou seja. as organizações colaborativas podem tornar-se mais acessíveis e eficazes através da aplicação de um processo de design em três etapas. A terceira etapa é desenvolver soluções utilizando tecnologias novas e especificamente concebidas. quanto mais habilidoso e motivado for o usuário. considerar e dar suporte às capacidades individuais de modo a tornar a solução acessível a um maior número de pessoas. facilitar o processo de constituição de comunidades. pessoas e produtos/serviços e até mesmo produtos/servi- ços entre si. e assim por adiante. Nós as chamare- mos de plataformas habilitantes. expressar necessidades similares. Produtos multi-usuário especificamente concebidos para utilização compartilhada e capazes de serem sincroniza- dos. Sistemas avançados de produtos/serviços especificamente projetados para tornar mais fácil e fluido o funcionamento das organizações colaborativas. sistemas de reserva e realização de pedidos. Equipamentos semiprofissionais que possam ser usados também por amadores (não-profissionais) e em espaços não especializados. se prestem à realização dos mais diversos experimentos sociotécnicos. às vezes. principalmente. sistemas fluidos de pagamentos. Diferentes organizações colaborativas podem. Sistemas de conexão capazes de interligar melhor pessoas. Partindo dessa observação. 86 | 4. Espaços flexíveis que possam ser utilizados por comunida- des em um “mix” de funções públicas e privadas.Este exemplar esta registrado para uso exclusivo de ESTÉFANO PIETRAGALLA . assistência específica quando novos procedimentos e/ou novas tecnologias forem incorporadas.1766931 Plataformas habilitantes. personalizados. tecnologias de localiza- ção e de rastreamento. crescimento e multiplicação). rastreados e localizados. e em um sentido amplo. Espaços experimentais que funcionem como incubadores de novas empresas sociais mas. tais como: incubadoras para a fase inicial. serviços de transporte para re- des produtor-consumidor. aumentando o número de pessoas que podem desfrutar do grau de eficiência e qualidade que es- tes equipamentos oferecem. tais como serviços de mo- bilidade flexível. é possível conceber e desenvol- ver um número de iniciativas habilitantes capazes de suportar uma variedade de organizações colaborativas. respon- dendo de modo inovador a demandas por espaço e abrigo. Alguns exemplos são: Agências para a inovação social que operem como catali- sadores de novas iniciativas e como facilitadores daquelas existentes (de modo a permitir seu reforço. Redes Projetuais . não estamos certamente propondo “industrializá- las”. o que significaria considerá-las produtos que podem ser mecanicamente reproduzidos em larga escala. saúde. e olhando para diferentes objetivos. a sua disseminação em larga escala. mobilidade. Redes Projetuais | 87 . assim. para o bem e para o mal. assistência à criança e aos idosos. Tampouco o estamos fazendo porque podem gerar nichos de mercado po- tencialmente lucrativos para novos negócios (mesmo que essa oportunidade também possa e deva ser explorada). design. o que agora co- nhecemos como o sistema industrial orientado ao consumidor. Estamos in- teressados neles porque pensamos que podem ser aumentados em escala. facilitando. Falando sobre o aumento de escala das organizações co- laborativas. promovendo a adoção de estilos de vida sustentáveis entre um grande número de pessoas. Até porque são passos reais rumo a modos de vida sustentáveis. Nossa idéia é que hoje. Sabe- mos muito bem que no século passado um conjunto similar de habilidades geraram. o po- tencial para tornarem-se dominantes. comida. regeneração urbana). de fato. de modo a reorientar as mudanças sociais e econômicas em andamento numa direção sustentável.2 Aumentando a escala Não estamos focalizando nas comunidades criativas e seus casos promissores ou nos empreendimentos sociais difusos e suas organizações colaborativas apenas porque são sociologi- camente interessantes (embora reflitam realmente um signifi- cativo aspecto das sociedades contemporâneas). podendo já ser implementados como soluções vi- áveis para problemas contemporâneos urgentes (de habitação. de modo a promover estilos de vida sustentáveis entre os bilhões de pessoas deste planeta. capacidades empreendedoras e conhecimento tecnológico (que podemos chamar de indus- triosidade humana) para torná-las mais acessíveis e eficazes. Possuem. 4.1766931 4. Nossa discussão aqui é sobre “se” e “como” pode ser possível aplicar-lhes um conjunto de criatividade. a in- dustriosidade humana pode nos conduzir a outras direções. confrontando-se com diferentes restri- ções e oportunidades.Este exemplar esta registrado para uso exclusivo de ESTÉFANO PIETRAGALLA . 2004). não podem ser planejadas. Já havíamos notado que tais organizações. nos confrontamos com uma situação con- traditória: para enfrentar a transição rumo à sustentabilidade. sabemos que devemos manter suas qualidades sociais originais e que tais qualidades são amplamente relacionadas à pequena escala de cada iniciativa singular. Podemos ainda considerar verdadeira tal interpretação? Na perspectiva da sustentabili- dade e no contexto de uma sociedade de rede. um pequeno negócio ou um pequeno empreendi- mento social deve se tornar “maior”. precisamos aumentar a escala das comunidades criativas e dos empreendimentos sociais difusos. Redes Projetuais . em resumo. A tradicional cultura industrial considera escalabilidade como crescimento: para ter sucesso e expandir. 88 | 4. Mas dissemos também que algo po- deria ser feito para torná-las mais prováveis. com certeza.Este exemplar esta registrado para uso exclusivo de ESTÉFANO PIETRAGALLA . mas será assim no futuro? E. Isso é possível? Podemos planejar a difusão de qualidades relacionais (como a precondição necessária para aumentar em escala as organizações colaborativas)? A resposta está longe do óbvio. Agora. Ao mesmo tempo. o crescimento em tamanho é ainda o melhor indicador de uma nova idéia de sucesso. como pode a noção de escalabilidade ser aplicada às organizações colaborativas? O problema que devemos enfrentar é muito grande. podemos acrescentar outra consideração: qualidades relacionais pare- cem ser possíveis apenas quando a interação entre os atores envolvidos é suficientemente direta e quando as organizações que eles estabelecem são suficientemente compreensíveis e ge- renciáveis. a viabilidade de uma organização colaborativa é ba- seada em uma forte precondição: a existência de relações inter- pessoais profundas e dinâmicas entre seus membros (Cipolla. Neste ponto. para o que mais nos inte- ressa aqui. quando são suficientemente pequenas.1766931 Replicação versus crescimento. Em outras palavras: aumentar em escala as organizações colaborativas exige o desenvolvimento de sistemas com um alto grau de qualidades relacionais. Esta contradição é a maior dificul- dade a ser superada na consolidação e difusão das organiza- ções colaborativas. Como dissemos. em geral perdendo seu significado social original. ganhando em termos de eficiência. hoje. foi. parecido com as nossas atuais comunidades criativas. hoje. Um caso bem conhecido é o movimento das cooperativas na Euro- pa. No último século. 4. Por que deveriam evoluir em direção aos empreendimentos sociais difusos e não seguir o mesmo caminho percorrido pelo movimento das cooperativas no século passado? A pergunta é justa. Antes de continuar a nossa discussão sobre o aumento de escala das organizações colaborativas. quando discutimos a possibilidade da difusão das or- ganizações colaborativas. novas e diferentes estratégias de “crescimento” são possíveis. Podemos nos perguntar por que a evolução de comuni- dades criativas deveria ser diferente. como é sua arquitetura sistêmi- ca. tais iniciativas tornaram-se grandes orga- nizações. quando ampliadas em escala. Redes Projetuais | 89 . quem são os atores envolvidos e quais são suas motivações. Mais tarde. levou-as a mudar. devemos introduzir um conceito útil: a idéia de serviço ou de negócio indica o mo- delo organizacional e econômico que explica como cada uma destas organizações funciona. Tornaram-se grandes organizações institucionalizadas.Este exemplar esta registrado para uso exclusivo de ESTÉFANO PIETRAGALLA . relações e trocas econômicas e não econômicas. porém. criativas e colaborativas. No começo. Entretanto. devemos levar em consideração que. mas não temos ainda uma sólida evidência para provar que. A noção de idéia de serviço ou de negócio é importante porque. sua evolução. No entanto. em muitos aspectos. porém perdendo (ou reduzindo amplamente) o “senso de comunidade” que originalmente era um importante subproduto desse tipo de organização. um caminho dife- rente possa ser realmente percorrido.1766931 Experiências passadas não nos ajudam a resolver este in- tricado problema. Idéias de serviço e de negócios versus produção e serviços loca- lizados. e em muitos casos seu sucesso. uma série de pequenas iniciativas. há pelo me- nos um argumento de suporte a essa possibilidade (pelo me- nos em termos de sua afirmação geral): enquanto no passado o crescimento dimensional das organizações parecia ser a única forma viável de dar mais força a uma idéia original. surgiu. Até agora. Nosso problema é como aumentar a escala das organizações colaborativas. visto que é tão profundamente enraizada num con- texto específico e tão amplamente forjada pelas características específicas de seus promotores. São justamente essas idéias que podem encontrar novos contextos onde serão adotadas. afirmar o seguinte: aumentar o impacto social e econômico destas organizações não significa aumentar as dimensões de cada uma. porém. é verdade que cada caso de organi- zação colaborativa que encontramos pelo mundo (tais como a co-habitação. Olhando para outros campos de atividade. Aqui discutiremos se e como esse movimento pode ser acelera- do mediante ações apropriadas. Essa forma de agir pode ser definida como uma estratégia de replicação. podemos facil- mente reconhecer que esse conceito não é novo e que diferen- tes estratégias de replicação foram propostas e desenvolvidas para ampliar a escala de serviços. Estratégias de replicação. as pe- quenas dimensões e as qualidades relacionais de cada iniciativa concreta. o que pode- mos planejar é não como replicar alguns casos promissores. Em outras palavras. a difusão de organizações colaborativas acon- teceu espontaneamente e com um ritmo relativamente lento. os mercados de produtores. Redes Projetuais . o que está sendo replicado não é esses casos alta- mente localizados com todas suas características. mas sim as idéias de serviço que esses grupos de pessoas inventaram (ou adaptaram à especificidade de um novo contexto). nem as co- munidades criativas que os geraram.Este exemplar esta registrado para uso exclusivo de ESTÉFANO PIETRAGALLA . negócios ou mesmo empre- 90 | 4.1766931 na realidade. ou comunidades baseadas na agricultura) é uma iniciativa não re- produzível. então. Todavia. quando falamos de aumento de escala. o car sharing. visto que são compostas obviamente por grupos de pessoas não replicáveis. esses casos altamente localizados são baseados em idéias específicas de serviços ou de negócios. mas como gerar condições para tornar a replicação de suas idéias de serviço mais provável. mas sim multiplicá-las e conectá-las de modo a criar amplas redes. Em termos práticos. adaptadas e relocaliza- das. Podemos agora. mantendo. É um conjunto de instrumentos tangíveis e intan- gíveis concebidos e produzidos para simplificar uma tarefa específica. que fornece aos franqueados um ex- clusivo conjunto de instrumentos e exige deles o respeito a uma série de procedimentos e de padrões de qualidade. Diferentemente das estratégias anterior- 4. Em outras palavras: um format é uma idéia de programa que. entretanto.1766931 endimentos sociais.Este exemplar esta registrado para uso exclusivo de ESTÉFANO PIETRAGALLA . Format. que é usada em diferen- tes campos de aplicação onde a abordagem “faça-você-mesmo” foi adotada. a seguir as regras que tal empresa estabelece. Consiste em um modelo e uma lista de procedi- mentos. O resultado é uma multiplicidade de programas que são. É um conjunto de procedimentos e ferramentas de comunicação para habilitar empreendedores locais a começarem suas atividades comerciais como franquias de uma empresa maior. globais (a idéia é proposta globalmente) e locais (nos contextos específicos onde são efetivamente produzidos e apresentados). Franquia. Esses instrumentos podem ser específicos (ex- clusivamente dedicados à uma função específica do kit) ou mais genéricos (de modo a encontrarem utilização tam- bém fora do kit). Em particular. consideraremos três delas: franquia. o modelo de um show existente (principal- mente televisivo) e indicações passo a passo do que fazer para replicá-lo em diferentes contextos. format. Mesmo operando em diferentes contextos e movidos por motivações distintas daquelas às quais nos refe- rimos aqui. No format. usada princi- palmente em atividades comerciais. isto é. com referência à indústria do entretenimento e toolkit. adaptando-o às especificidades locais. ao mesmo tempo. Redes Projetuais | 91 . um programa de franquia permite a uma série de pequenos empreendedores iniciar um ne- gócio baseado na reputação da “empresa-mãe”. “extraída” de uma experiência particular. as estratégias de replicação existentes apresentam interessantes similaridades e oferecem experiências úteis. Em outras palavras. pode ser realiza- da em outros contextos. compro- metendo-se. Toolkit. o pro- dutor dá aos compradores os direitos de reproduzir o pro- grama original. É claro que a noção de toolkit é bastan- te próxima à de solução habilitante: os toolkits são oferecidos para a realização de atividades específicas. tais estratégias oferecem também alguns elementos interessantes para a reflexão: o caso da franquia por promover pequenos em- preendimentos e o caso do format por promover um processo de replicação baseado na atualização local de uma idéia. Não apenas porque são fortemente comerciais. podemos ime- diatamente constatar que as duas primeiras. distam de nossos interesses específicos. de uma abordagem “faça-você-mesmo”. Com certeza. Finalmente. No entanto. consideremos a estratégia de replicação baseada em toolkits. Um toolkit normalmente se refere à um pre- ciso conjunto de instrumentos para a auto-ajuda individual. e um negócio baseado em uma grande marca ainda mais. por outro lado.1766931 mente mencionadas. nos mais diversos campos de aplicação. Graças à esta flexibilidade. pensamos que a noção de solução habilitante é mais útil que a de toolkit para nossos propósitos. quem o produz não assume nenhu- ma responsabilidade sobre os resultados finais de seu uso. O crescente número de toolkits está ligado à difusão. o desenvolvimento de um apropriado toolkit habilitante é compatível com a natureza dos empreendimentos sociais difusos e suas correspondentes organizações colaborativas. essas experiências indicam que a discussão sobre como viabilizar um amplo número de peque- nos empreendimentos através de programas efetivamente ope- rativos e replicáveis não começa do zero. Redes Projetuais . Ao mesmo tempo. Dadas estas três estratégias de replicação. são centralizados demais para permitir que as qualidades relacionais emerjam. quem quer que adote o toolkit pode utilizar seus diferentes instrumentos de uma forma mais livre e. pelas suas carac- terísticas. mas podem ser in- terpretados de diversas maneiras e utilizados para atingir diver- sos objetivos. Esta noção não nos parece capaz de definir o que é necessá- 92 | 4. Todavia.Este exemplar esta registrado para uso exclusivo de ESTÉFANO PIETRAGALLA . Ao mesmo tempo. mas também porque os mo- delos que propõem são fechados demais para dar o necessário espaço à criatividade dos grupos de pessoas que se propõem a sustentar. um programa de televisão está muito longe de uma or- ganização colaborativa. Algo muito interessante teve início no campo da arquitetura de sistema. estamos entrando na sociedade em rede: uma sociedade onde muitas idéias tradicionais estão sendo questio- nadas. Por outro lado. Objetivando explorar essa possibilidade. uma solução habilitante é concebida para pessoas colaborativas e indica um sistema de artefatos tangíveis e in- tangíveis muito diverso. Redes Projetuais | 93 . é possível conceber que uma multiplicidade de organizações colaborativas. De fato. De modo diverso.1766931 rio para promover o amadurecimento das comunidades cria- tivas em empreendimentos sociais difusos. consideraremos a seguir as implicações de duas tendências sociotécnicas em an- damento: os sistemas distribuídos e as redes sociais.Este exemplar esta registrado para uso exclusivo de ESTÉFANO PIETRAGALLA . Neste contexto sem precedentes. nos últimos 20 anos. com o novo século. mas à qualidade e quantidade de suas conexões). sistemas de energia e a geração 4. De fato. Mas agora. possa tornar-se um poderoso suporte para a vida cotidiana de um grande número de pessoas e comunida- des. até mesmo a idéia do que é pequeno ou grande. pequenas e interconectadas. “o pequeno” não é mais necessariamente pequeno (dado que o impacto de um evento não está necessariamente ligado a suas dimensões físicas. ou a replicação de suas respectivas organizações colaborativas. 4. nas redes.3 Conectando-se As três estratégias discutidas acima foram concebidas e desen- volvidas no século passado. é também um sistema cujas fronteiras se confundem com os mais amplos sistemas sociotécnicos onde estarão inseridas as organizações colaborativas que pretendem promover e sustentar. o desenvolvimento e a gestão das organizações colaborativas. Sua palavra-chave é o ad- jetivo distribuído. como vimos. esse adjetivo foi sendo cada vez mais associado aos diversos tipos de siste- mas sociotécnicos e econômicos: tecnologias da informação e a computação distribuída. Sistemas distribuídos. É um sistema articulado em diferentes fases para suportar a concepção. como todos dizem. o que o adjetivo distribuído adiciona ao nome ao qual está ligado. onde novas e tradicionais formas de produção e serviços distribuídos podem acontecer. Mas não somente: implica também a possibili- dade de uma nova relação entre comunidades e seus recursos tecnológicos e. inteligência distribuída e economia distribuída). A integração da inteligência distribuída e da geração distribuí- da pode ser vista como o pilar de uma nova infra-estrutura: a infra-estrutura distribuída de uma sociedade sustentável. conectar-se horizontalmente e difundir-se. computadores pessoais. todos capazes de funcionar au- tonomamente mesmo estando altamente conectados com os outros elementos do sistema. Em outras palavras: o que o adje- tivo “distribuído” indica é a existência de uma arquitetura hori- zontal de sistema onde atividades complexas são realizadas em paralelo por um grande número de elementos conectados (ar- tefatos tecnológicos e/ou seres humanos). isto é. ao longo dos últimos anos. e podem contar com uma ampla e cres- cente audiência (inovação distribuída. viá- vel. 94 | 4. possivelmente. é a idéia de uma teia de elemen- tos autônomos interconectados.Este exemplar esta registrado para uso exclusivo de ESTÉFANO PIETRAGALLA . produção e as possibilidades de uma produção distribuída. criatividade distribuída. Tais afirmações sobre os sistemas distribuídos não são apenas um modelo teórico. Ou seja. Outras emergiram e estão emergindo. São genuínas possibilidades ba- seadas em histórias reais de sucesso. Algumas conquistaram uma forte posição na arena internacional (tais como os conceitos de geração distribuída e produção distribuída). A implicação dessa abordagem distribuída é uma mudança radical nas arquitetu- ras de sistema. geradores de potência e/ou de energia renovável. Em todos esses casos. seria uma base verdadeiramente favorá- vel para sustentar os processos de promoção e replicação das organizações colaborativas. como nos casos da in- teligência distribuída e da geração de energia distribuída. Redes Projetuais . Algumas destas possibilidades tornaram-se domi- nantes duas décadas depois (como a “clássica” computação dis- tribuída). um modo mais democrático de gerenciá-los.1766931 distribuída. produção e serviços em pequena escala. 2007).1766931 Redes sociais.0) (Pascu. wikis. ao contrário de outras que virtualizam e “deslocalizam” as pessoas. Agora. foram considerados e tratados como fenômenos diferentes e separados. De fato. Em particular. como antecipamos na introdução. com o termo redes sociais (compu- tação social/social computing ou web 2. eram totalmente inimagináveis. Entretanto. podem ajudá-las a se encontrar e a se auto-organizar no “mundo real”. sites de redes sociais. bem como modelos organizacionais e econômicos que. ao fazê-lo. 2004). há al- guns anos. E. exceto por alguma sobreposição menor. podem também promover e manter tanto as comuni- dades criativas e seus casos promissores quanto os empreendi- mentos sociais difusos e suas organizações colaborativas. De fato. mas também capazes de catalisar um grande número de pessoas. 2007). demonstram ser não apenas possíveis. 2004. onde os usuários são co-produtores dos servi- ços fornecidos (isto é. As redes sociais geram organizações não-hierárquicas baseadas na rede (Cottam. Algo muito interessante está acontecendo tam- bém no campo das organizações e na maneira pela qual as pes- soas participam de projetos colaborativos. 2004. Partindo do open- source e de abordagens peer-to-peer. sites de leilão). o que é realmente interessante para nós aqui é que estas redes sociais propõem também aplicações internet que. Todavia. Uma possível convergência. Bauwens.Este exemplar esta registrado para uso exclusivo de ESTÉFANO PIETRAGALLA . Tapscott. Williams. siste- mas distribuídos e redes sociais. Referimos-nos agora a essas iniciativas. Leadbeater. Organizações colaborativas. têm sido gerados por pessoas diferentes com diferentes motivações. blogs. no seu conjunto. motores de pesquisa. podcasts. hoje podemos observar um impressionante aumento nas aplicações end-user. é altamente 4. Redes orien- tadas ao serviço. Redes Projetuais | 95 . até agora. com- plexa e dinâmica mudança social. ao associar o mundo virtual com o real. de organizá-las de um modo peer- to-peer e de construir entre elas uma visão comum (Weber. é mais do que provável que no fu- turo próximo tais fenômenos convirjam em uma única. essas tecnologias podem também sustentar os esforços dos usuários para resolver problemas (reais) no mundo (real). diver- sos casos mostram que. instituições locais e globais que imaginam e colocam em prática soluções para uma variedade de problemas sociais e individuais (Tuomi. todos os dias as pessoas devem projetar e reprojetar seus ne- gócios. organizações não lucrativas. 2000). siste- mas distribuídos e redes sociais? Vamos voltar atrás e considerar tais perguntas em um con- texto maior. empreendimentos. gostando ou não. o de- senvolvimento de sistemas distribuídos fornecerá a infra-estru- tura técnica para esta emergente sociedade distribuída susten- tável (Manzini. O resultado é uma sociedade que se mostra como uma trama de redes projetuais: um complexo e entrelaçado sistema de pro- cessos de design que envolve indivíduos. finalmente. os designers são chamados a colaborar com uma variedade de interlocutores. e. Se isso acontecer. 2004). Redes Projetuais .1766931 provável que as fortes tendências rumo à formação e difusão de sistemas em rede e peer-to-peer liderem essa convergência. suas associações e seus modos de vida. 96 | 4. as redes sociais trarão as oportunidades sem precedentes abertas por seus modelos organizacionais inéditos. Vivemos em uma sociedade onde “todos projetam”. 4. Operando nesse novo contexto. Duas modalidades de design. von Hippel. De fato. 2003. sua vizinhança. procedendo como especialistas (especialistas de design) e interagindo com os mais diversos atores que planejam sem possuir esta mesma especialização (designers amadores). onde as capacidades de design são.Este exemplar esta registrado para uso exclusivo de ESTÉFANO PIETRAGALLA . particular- mente difusas (Giddens 1990.4 Design e redes projetuais O que os designers podem fazer para promover e orientar pro- cessos de inovação social? Como podem conceber e desenvol- ver contextos favoráveis e soluções habilitantes? Como podem facilitar a convergência entre organizações colaborativas. 2007a). por necessidade. essas diferentes linhas de inovação reforçarão umas às outras: as comunidades criativas trarão toda a rique- za das pessoas envolvidas em problemas reais e cotidianos. Este tipo de atividade re- quer uma série de novas habilidades de design: promover a colaboração entre diferentes atores sociais (comunidades locais e firmas. promovendo também a coleta e classificação contínua de casos de inovação social. os designers têm a missão de facilitar a con- vergência dos diferentes parceiros em torno de idéias com- partilhadas e potenciais soluções. Nesse sentido. e combinar produtos e serviços já existentes para suportar a específica comunidade criativa com a qual colaboram. através de projetos comunitários. Nesta modalidade. SEP (Sustainable Everyday Project) é uma plataforma colaborativa on-line que procura promover um processo de conversação social orientado à cons- trução de um futuro sustentável. DOTT 07 (Designs of the time 2007) foi um projeto desenvolvido na Inglaterra que procurou esclarecer e explorar. 2.2 SEP. sua replicabilidade. festivais e outros eventos culturais). 1. 3.Este exemplar esta registrado para uso exclusivo de ESTÉFANO PIETRAGALLA .1766931 Como algumas experiências práticas começaram a demonstrar (Emude e CCSL. 4. Projetando para comunidades criativas: significa analisar tipologias específicas de casos promissores e. cenários e eventos catalisadores (como por exemplo. tal interação pode acontecer através da com- binação de duas modalidades principais de atuação: projetan- do em (designing in) e projetando para (designing for) as comu- nidades criativas. refletindo particularmente no papel do design neste processo. Projetando nas comunidades criativas: significa participar de modo paritário (peer-to-peer) com os outros atores en- volvidos na construção de empreendimentos sociais di- fusos e no co-design de organizações colaborativas. eventos e exibições.3 ver referências adicionais no final desse livro). eficácia e. conseqüentemen- te. instituições e centros de pesquisas). hospeda diversas atividades de pesquisa (tais como Emude e CCSL) e workshops didáticos.1 DOTT07. As iniciativas Emude e CCSL são descritas no prefácio da presente obra. Isto significa conceber e desenvol- ver soluções habilitantes para organizações colaborativas específicas e/ou outras iniciativas facilitadoras tais como plataformas. como seria a vida cotidiana em uma região sustentável. intervir em seus contextos para torná-los mais favoráveis. desenvolvendo soluções a fim de aumentar sua acessibilidade. Redes Projetuais | 97 . exposições. após obser- var suas forças e fraquezas. parti- cipar na construção de visões e cenários compartilhados. em parte. uti- lizar sensibilidades. são totalmente no- vos.1766931 Design para a inovação social. convidando os designers a exercerem um novo e fascinante papel. mantive- ram seu foco principalmente na inovação técnica e. Em conclusão. permanece válido. esse modo de cruzar essas pontes. identificar casos promissores. os designers devem repensar seu papel e seu modo de operar (Margolin. Os designers sempre criaram pontes entre a sociedade e a tecnologia. desenvolveram artefatos com algum significado social. alimentando-as com seu conhecimento específico em design: habilidades. mais ou menos. isto é. em parte. esta mudança no papel dos desig- ners na sociedade não significa uma redução mas. capacidades e habilidades de design para projetar novos artefatos e indicar novas direções para a inova- ção técnica. Thackara. Até agora. 2005. falarmos de design para a inovação social é. pelo contrá- rio. Um conhecimento em design que para ser definido e tes- tado requer uma nova onda de pesquisa em design. Redes Projetuais . Esse modo de fazer. Manzini. uma nova atividade de design está emergin- do. equivalente a falarmos de pesquisa em design para a inovação social. a mesma ponte deve ser cruzada em outra direção: é necessário olhar para a inovação social. 98 | 4. se originam na sua cul- tura e experiência tradicionais e. os designers têm a responsabilidade crescente de participar ativamente dessas redes. Exatamente porque o conjunto da socie- dade contemporânea pode ser descrito como uma trama de redes projetuais. Na verdade. 2007. capacidades e sensibilidades de design que. Aceitá-lo significa reconhecer positivamente que não é mais possível manter um monopólio sobre o design.Este exemplar esta registrado para uso exclusivo de ESTÉFANO PIETRAGALLA . 2007b). Mas. agora. a partir das novas oportunidades que ela oferece. uma valorização. Se bem compreendida. 2003. Para tanto. . U.. “The Next Industrial Revolution”. LEADBEATER..1766931 Bibliografia | BAUWENS.. Principi.. Sharing natures´s interest. Bibliografia | 99 . CASTELLS. Milano: Anabasi. BRAUNGART. COTTAM. Internal document. VAN HEMEL. Peer to Peer and Human Evolution. Sheffield. Milano: EGEA. 1997. La nascita della società in rete. Ecodesign: a promising approach to sus- tainable production and consumption. “Tourist or Guest – Designing Tourism Experiences or Hospitality Relations?”. C. CIPOLLA. BREZET. Manuale delle impronte ecologiche. WACKERNAGEL. 2001. CREATIVE COMMUNITIES FOR SUSTAINABLE LIFESTYLES (CCSL) – Task Force on Sustainable Consumption and Production. (Trad.. M. Ecological Footprints as an indicator of sustainability. Foundation for P2P Alternatives. Sustainable Solutions – Develo- ping products and services for the future. H. VANSTONE. M.) CHAMBERS. J.. 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Suas atividades se focalizam em temas como o design estratégico. Austrália e Brasil (UFRJ-Coppe – Pro- grama de Engenharia de Produção).net/manzini/ Ezio Manzini | 103 . Possui livros traduzidos em diversas línguas. Proposals and Tools no âmbito da Tori- no World Design Capital 2008 (ICSID). design de ser- viços. Japão. foi recentemente coor- denador científico da conferência internacional Changing the Change. Presença constante como orador nos maiores eventos de Design. Teve seu trabalho reconhe- cido por meio de dois títulos de Doutor Honoris Causa: um pela The New School of New York (2006) e outro pela Goldsmiths Col- lege. Design Visions. Blog: http://www. Vencedor de dois Com- passo d’oro (1987 e 2000) pelas suas atividades de pesquisa.1766931 Ezio Manzini | Professor titular de Design no Po- litécnico de Milão. University of London (2008). onde é Diretor da Unidade de Pesquisa Design e Inovação para a Sustentabilidade e coordenador do Doutorado em Design. design para a sustentabili- dade e para a inovação social na vida cotidiana.sustainable-everyday. foi diretor (1983-1995) da histórica Domus Academy.Este exemplar esta registrado para uso exclusivo de ESTÉFANO PIETRAGALLA . Holanda. 1766931 .Este exemplar esta registrado para uso exclusivo de ESTÉFANO PIETRAGALLA .
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