Hipnoterapia Ericksoniana Passo a Passo

June 24, 2018 | Author: virtualseth9070 | Category: Hypnosis, Hypnotherapy, Psychoanalysis, Sigmund Freud, Behavioural Sciences
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Hipnoterapiaericksoniana passo a passo Sofia M. F. Bauer Livro Pleno Sofi a M. F. Bauer é médic a formada pela Universidade de Minas Gerais; é psicanalista pelo IEPSI-MG; membro do Grupo de Estudos em H ipnoanálise do professor M alomar L und Edelweiss; tem formação em hipnoterapia ericksoniana, em Phoenix, com o professor J effrey K. Zeig, Ph. D.; freqüentou cursos com ericksonianos como: Stephen Gilligan, Stephen e Carol Lankton e Ernest Rossi; fez cursos de hipnoanálise com Erika Fromm e Daniel Brown; participou de congressos bra­ sileiros de hipnoterapia, tais como: “O uso de metáforas em hipnoterapia” (São Paulo, 1996), “O uso de metáforas em hip­ noterapia”, “O que é hipnose? Como aplicá-la em hipnoterapia” (Serra Negra, 1997). Atualmente é diretora do I nstituto Milton Erickson de Belo Horizonte e ministra cursos de formação ericksoniana em várias cidades do Brasil. Hi p n o t e r a p i a E r i c k s o n i a n a Pa s s o a Pa s s o Sofia M. F. Bauer Hi p n o t e r a p i a E r i c k s o n i a n a Pa s s o a Pa s s o Editora Livro Pleno 2000 HIPNOTERAPIA ERICKSONIANA PASSO A PASSO 2000 Conselho editorial Douglas Marcondes Cesar Copidesque Juliana Boas Revisão Marco Antonio Storani Coordenação editorial Douglas Marcondes Cesar ISBN: 85-87622-02-1 Todos os direitos reservados para a língua portuguesa Editora Livro Pleno Rua Dr. Cândido Gomide, 584 - Jd. Chapadão CEP: 13070-200 - Campinas - SP - Brasil Telefax: (0XX) 19 243-2275 E-mail [email protected] Proibida a reprodução total ou parcial, por qualquer meio ou processo, es­ pecialmente por sistemas gráficos, microfílmicos, fotográficos, reprográfi- cos, fonográficos e videográficos. Vedada a atemorização e/ ou a recupera­ ção total ou parcial bem como a inclusão de qualquer parte desta obra em qualquer sistema de processamento de dados. Essas proibições aplicam-se também às características gráficas da obra e sua editoração. Dedico este livro ao professor Malomar Lund Edelweiss, que me iniciou nesta área, a Jeffrey K. Zeig, que me deu os ensinamentos ericksonianos, e aos meus familiares Ricardo, Pedro e Marcella, que ficaram privados de horas de atenção e carinho, para que o livro fosse escrito. A todos vocês, com muito carinho, obrigada pelas aprendizagens da vida. V Agradecimentos Ao Dr. Jeffrey K. Zeig, por sua colaboração e dedicação ao ensino da hipnoterapia ericksoniana. Ao professor Malomar Lund Edelweiss e seu Grupo de Es­ tudos, que muito têm me ajudado na formação, informação e no aprimoramento pessoal e profissional. Aos colegas de equipe, que tanto me incentivaram a escre­ ver este guia. Em especial, a José Roberto Fonseca, pela ajuda primorosa na correção e na elaboração do glossário que vem no final do li­ vro. A José Carlos Vitor Gomes, pelo incentivo a esta publica­ ção. E, sem deixar de homenagear, ao Dr. Milton H. Erickson, por compartilhar de sua arte em trabalhar psicoterapeuticamen- te. Que a estrela dele continue brilhando, para iluminar os nossos caminhos. ’ Nota do editor Freud foi o gênio da análise, Jung foi o gênio da síntese e Erickson foi o gênio da prática clínica. Ele resgatou a hipnose que foi abandonada por Freud após a incorporação dos nossos conhe­ cimentos sobre a fenomenologia da comunicação, as novas des­ cobertas sobre o cérebro humano, a física e a biologia. A hipnose é a mãe de todas as psicoterapias e se encontra na origem de todas as escolas psicoterápicas, e este trabalho de Sofia Bauer, M.D., é a convergência de uma série de esforços, cristalizada numa obra única, felizmente, agora, ao alcance de to­ dos os profissionais interessados em aprimorar as suas técnicas em psicoterapia. José Carlos Vitor Gomes Psic. CRP 06-13160 ix Sumário PREFÁCIO................................................................................................ 15 SOBRE A HIPNOTERAPIA ERICKSONIANA NO BRASIL.......... 17 INTRODUÇÃO........................................................................................ 21 Capítulo 1 HISTÓRIA DA HIPNOSE..................................................................... 25 Capítulo 2 MITOS E CONCEITOS........................................................................... 33 1. Mitos................................................................................................ 33 2. Conceitos....................................................................................... 38 3. Mente consciente e mente inconsciente.............................. 41 4. Sugestibilidade............................................................................ 42 5. Hipnotizabilidade....................................................................... 43 6. Constelação hipnótica............................................................... 52 7. Fenômenos hipnóticos.............................................................. 56 Rapport......................................................................................... 56 Catalepsia.................................................................................... 57 Dissociação................................................................................. 57 A nalgesia..................................................................................... 57 A nestesia..................................................................................... 57 Regressão de idade.................................................................. 57 Progressão de idade................................................................ 58 xi Distorção do tempo................................................................. 58 Alucinações positivas e negativas..................................... 59 Amnésia....................................................................................... 59 Hipermnésia.............................................................................. 59 Atividades ideomotoras e ideossensórias....................... 59 Sugestão pós-hipnótica......................................................... 59 Capítulo 3 O MODELO DA HIPNOTERAPIA ERICKSONIANA................. 63 1. Hipnose clássica............................................................................ 63 2. Hipnose naturalista: a hipnose de Milton H. Erickson... 64 3. A indução naturalista.................................................................. 68 4. Roteiro de indução simplificado............................................. 69 A bsorção..................................................................................... 69 Ratificação................................................................................... 70 Eliciação....................................................................................... 70 Pacing e leading.......................................................................... 78 5. Avaliação do paciente para utilização do metamodelo (segundo Jeffrey K. Zei g)......................................................... 78 Categorias de avaliação:........................................................ 80 Perceptuais................................................................................. 80 Categorias de avaliação:........................................................ 84 Sócio-relacionais...................................................................... 84 Ganchos....................................................................................... 93 6. Atuação em uma seqüência...................................................... 94 7. Semeadura....................................................................................... 95 8. O Diamante de Erickson - um metamodelo de psicoterapia............................................................................. 99 9. Utilização para que finalidade - um metamodelo de psicoterapia............................................................................. 102 10. Selecionando o que um terapeuta poderia utilizar.......... 106 11. Como fazer uma indução ao modo de Erickson, de acordo com cada cliente, sem ser Milton H. Erickson — O processo................................................................................ 106 XÜ Capítulo 4 O USO DE METÁFORAS EM HIPNOTERAPIA.......................... 113 1. Parte teórica.................................................................................. 114 2. Parte prática - a construção das metáforas......................... 122 3. Metáforas - estórias já contadas algum di a........................ 124 4. Algumas analogias utilizadas metaforicamente.............. 145 Capítulo 5 TÉCNICAS HIPNOTERÁPICAS......................................................... 149 1. Instruções gerais........................................................................... 149 2. A posição........................................................................................ 152 3. Indução de relaxamento progressivo................................... 155 4. Indução da respiração................................................................ 161 5. Indução da levitação das mãos............................................... 164 6. Indução de um lugar agradável............................................. 169 7. Técnica passo a passo em cima do sintoma....................... 172 8. Técnicas de entremear palavras............................................. 175 9. Técnicas de aprofundamento do transe............................... 177 Fracionamento........................................................................... 177 Nuvens......................................................................................... 181 Escada.......................................................................................... 182 Silêncio......................................................................................... 183 10. Sonhos induzidos......................................................................... 184 11. Distorção do tempo.................................................................... 185 12. Confusão mental.......................................................................... 187 13. Técnicas de hipnose com crianças......................................... 188 14. Técnica de progressão de idade............................................. 192 15. Técnica de regressão de idade................................................ 193 16. Técnicas para dor........................................................................ 197 17. Técnica para controle de hábitos viciosos.......................... 201 18. Técnica de auto-hipnose........................................................... 210 xiii Capítulo 6 CASOS CLÍNICOS................................................................................. 215 1. As desordens somáticas e psicossomáticas...................... 216 2. Hipertensão................................................................................... 216 3. Úlcera.............................................................................................. 220 4. I mpotência.................................................................................... 224 5. Ejaculação precoce...................................................................... 229 6. Vaginismo e frigidez................................................................. 232 7. Depressão reativa....................................................................... 237 8. Fobias.............................................................................................. 243 9. Síndrome do pânico.................................................................. 248 10. A sma............................................................................................... 268 Capítulo 7 CASOS DE INSUCESSO........................................................................ 273 Capítulo 8 CONCLUSÃO.......................................................................................... 279 BIBLIOGRAFIA....................................................................................... 281 GLOSSÁRIO............................................................................................ 287 xiv Prefácio Hipnose! Esta palavra traz à tona uma variedade muito grande de sentimentos e imagens sensacionais. Mesmo entre os profissionais, existe muita penumbra e muitos preconceitos em torno dela. Felizmente, a Dra. Sofia Bauer, psiquiatra especialmente qualificada, escreveu este livro de valor incalculável, que ajuda a elucidar muitas questões referentes à hipnose. No livro Hipnote­ rapia ericksoniana passo a passo, a Dra. Bauer provê informações atualizadas que podem tornar possível ao médico ou ao psicote- rnpeuta integrar efetivamente a hipnose à sua prática profissio­ nal cotidiana. A autora enfatiza especialmente a moderna abordagem hipnótica pioneiramente elaborada por Milton H. Erickson, M.D. (1901-1980), ele que é considerado o pai da hipnose médica mo­ derna. Erickson inventou uma nova abordagem baseada no res­ gate dos recursos do paciente. O seu método consistia em utilizar .iquilo que o paciente trazia em si como algo de mais forte, mais do que analisar ou dar ênfase às suas fragilidades. Sua aborda­ gem está no coração da psicoterapia moderna. Clínicos de todo o inundo participaram de programas de treinamento para apren­ der sobre esse avanço importante cristalizado e representado pelo legado deixado por Erickson. Sofia Bauer, diretora (entre outros) do Instituto Milton H. I rickson de Belo Horizonte, um dos mais de 70 institutos afilia­ dos à Milton H. Erickson Foundation Inc., é uma das pessoas mais amplamente qualificadas para escrever sobre os avanços da psicoterapia ericksoniana, uma vez que se submeteu a um pro- XV grama de treinamento intensivo na Fundação Erickson, em Phoe- nix, Arizona, tendo sido uma das mais aplicadas estudantes bra­ sileiras e se consagrado como um dos mais reconhecidos trainers de língua portuguesa. Reconheço em Sofia Bauer uma profissional altamente éti­ ca e uma psicoterapeuta diligente. Supervisionei alguns dos seus casos clínicos e gostaria de ser enfático no reconhecimento da sua remarcada competência, ela que também tem sido discí­ pula do renomado psicoterapeuta Malomar Edelweiss, e acabou incorporando, também, algumas das suas contribuições para o seu trabalho. É uma honra prefaciar o trabalho de uma aluna tão impor­ tante e cuja contribuição à psicoterapia se consagra agora numa obra insubstituível. Hipnoterapia ericksoniana passo a passo é um texto claro e de fácil compreensão, que estará entre os mais im­ portantes manuais de terapia ericksoniana de língua portuguesa, para todos aqueles que se interessarem em aprender sobre os fundamentos da abordagem de Erickson. Este livro é muito bem organizado, rico em novas idéias e propostas interessantes. Os leitores que apreciarem de forma cuidadosa esta leitura serão compensados com o conhecimento de um universo de idéias prá­ ticas que irá reverter-se imediatamente em novos recursos em be­ nefício do aprimoramento do seu trabalho na clínica. Jeffrey K. Zeig, Ph.D. Diretor da Milton H. Erickson Foundation Inc. Sobre a hipnoterapia ericksoniana no Brasil Gostaria que vocês soubessem que a hipnoterapia erickso­ niana vem sendo divulgada e difundida por todo o Brasil. José Carlos Gomes vem trazendo, em workshops e con­ gressos, os mais competentes profissionais da área como: Jeffrey K. Zeig, Stephen Gilligan, Ernest Rossi, Tereza Robles, Jorge Abia, Camilo Loriedo, Stephen Lankton, entre outros. Dr. Jeffrey K. Zeig vem fazendo um belo trabalho de base, ensinando aos psicoterapeutas a abordagem ericksoniana. Ele tem dado cursos em Belo Horizonte, São Paulo, Rio e Porto Ale­ gre. Hoje já contamos com vários institutos ericksonianos que ministram cursos de formação na área. Desejando fazer uma for­ mação mais completa, você pode procurá-los. Esses institutos são filiados à Fundação Milton H. Erickson dos EUA e receberam autorização para funcionar como institutos de formação na abordagem ericksoniana. xvii ... Hipnose é um ato de amor... permitir-se entrar em transe é um ato de amor... ver esta outra parte sua que mora aí dentro... a sua beleza... ... Quando você ama alguém, você gosta... admira... se fixa nela... absorve... e "mergulha" profundamente na idéia de se entregar... Não tenha medo do que vem. Você primeiro vai aprender a conhe­ cer o outro e descobrir a beleza dele. Quando você o fizer, perderá o medo e com certeza tocará seu coração e este então se abrirá para receber o belo, o bom, o que realmente cura. Tenha coragem de dizer para você: Eu não sei, mas vou aprender à medida que observo o meu cliente; verei o que ele tem de bom, seus recursos, sua potencialidade, e isto será a luz que o guiará para a saída do problema. Mas é preciso ter a cora­ gem de enfrentar o medo de amar o que quer que venha. Libere seu coração para que ele sinta e deixe fluir o amor por você pri­ meiro. Aceite o fato de que, para andar, temos que dar um passo depois do outro. Centre-se, respire, ame a você mesmo, libere seu olhar, seus sentimentos, e busque perceber como o outro lhe toca. ... Abra seu coração para receber... deixe acontecer... o amorl... Com certeza você tem mídto para dar... ... Eu me lembro do meu primeiro sonho em análise... um canteiro n ser plantado, só havia terra, eu pedia ajuda a um jardineiro... Foi como ludo começou... ... No final desta mesma análise, meu último sonho... estava num jardim botânico... um herbário talvez... havia um sábio de cabelos bran- xix cos que tinha dificuldade em andar... ele me ensinava que nesse jardim havia todo tipo de planta... a forma de cuidar era variada... ele mostrava como observá-las... tratá-las... mas estavam ali... poderia tirar mudas... plantar mais... ... Hoje estou aqui falando de passos... como guiar as pessoas para amarem a si mesmas... semear... plantar... frutificar! XX Introdução Tudo começou com uma semente, o professor Malomar I und Edelweiss. Semeou as primeiras idéias aqui em Belo Horizonte e foi ilisseminando um tipo de flor especial: encantava, suavizava e i urava através de uma terapia suave. Uma mistura de psicanálise com hipnose. Foi com quem dei os primeiros e os grandes passos na di­ reção da hipnoterapia. Aprendi a trabalhar com algo muito espe- i i.i 1: em vez do ferrinho de dentista, usar laser. Mais suave, me­ nos dolorido e muito eficaz na retirada do tártaro. A partir das primeiras induções ensinadas por ele, tive a curiosidade de percorrer o caminho que me levasse à teoria da clínica daquilo que estávamos fazendo. Fui buscar nos professo- i i s que seguiam a abordagem de Milton H. Erickson. Foi quando encontrei o Dr. Jeffrey K. Zeig, entre muitos i mtros professores da teoria da hipnose e da clínica hipnoterápi- ' .i Zeig, por ter estado ao lado de Milton H. Erickson por muitos unos, foi capaz de elaborar uma forma de teoria para o trabalho realizado pelo mestre da hipnoterapia naturalista. Das teorias ■11 ie vi, para caminhar nesta trilha, achei que Zeig era muito bom | ura ensinar o passo a passo da teoria à clínica da hipnose. Vocês terão a oportunidade de ver neste livro muitas das coisas que i om ele aprendi para dar os meus próprios passos. Assim, este livro é o caminhar e o condensar das teorias •| iie percorri e que gostaria que vocês aprendessem. 22 Sofia M. F. Bauer Ele é dedicado a todos aqueles que querem um guia práti­ co para trabalhar com hipnoterapia ericksoniana. Vai abordar, da teoria à prática clínica, todos os passos que devemos percorrer para um bom trabalho. Saber a teoria, a definição dos conceitos que envolvem a hipnose, é fundamental para você saber lidar com ela. É como co­ nhecer o solo onde você fará suas edificações. Uma vez que você sabe onde está pisando, fica fácil aplicar as técnicas de edificação. Urra para cada tipo de solo. Assim, o primeiro passo deste guia é mostrar os conceitos teóricos. Lembro-me bem de quando comecei. Foi como uma mistu­ ra. Ainda não sabia bem o que era a hipnose, nem tampouco as muitas técnicas para aplicá-la. Costumava perguntar ao profes­ sor Malomar, meu grande introdutor na área, se a pessoa podia bocejar, rir ou chorar, se abrir os olhos era sair do transe, se a pessoa poderia falar; ia treinando e aprendendo, curiosa, a cada dia, um novo passo. Por isso considero essencial ter uma boa noção sobre o que seja a hipnose, como se manifesta, seus níveis de profundidade, seus fenômenos. Logo em seguida, verificar e aprender quais as maneiras de se colocar uma pessoa em transe. Há várias técnicas que vêm se propagando e que você poderá utilizar variadamente. Vamos abordar aqui neste livro alguns ericksonianos e suas técnicas de prática clínica que mais efetivamente nos ajudam a colocar o cliente em transe e a trabalhar em hipnoterapia. Lembremos sempre que hipnose não é uma terapia em si, mas uma boa ferramenta que nos ajuda a tornar o inconsciente observável e aflorar os recursos de cada um mais rapidamente para um trabalho de cura. Mas não basta só saber a teoria sobre hipnose e sobre suas técnicas de aplicação. E necessário, e condição básica, uma boa formação em psicoterapia, e até em psicanálise, para que você possa saber como utilizar essas técnicas. Com este guia você associará seus aprendizados de psica­ nálise e psicoterapia e, numa boa mistura, verá os resultados. I lipnoterapia Ericksoniana Passo a Passo 23 Espero que você utilize bem o que verá à frente. Sempre i i ente de que o bom senso é uma condição importante na utiliza­ ção da hipnose. Que este guia possa realmente guiá-lo no caminho da luz! Como disse Milton H. Erickson a uma cliente deprimida, "... nenhuma dor dura para sempre, depois da chuva vem a luz do sol...". Capítulo 1 História da hipnose Todos que estão familiarizados com leituras sobre o tema unhom que este é um capítulo que não falta nos livros. A hipnose existe desde que o homem apareceu na terra. Os fenômenos hipnóticos fazem parte da vida cotidiana de todos os neres humanos. Nós passamos por eles todos os dias, várias ve­ zes por dia. Mais adiante veremos os fenômenos hipnóticos e vi 11 c entenderá melhor. A hipnose é um fenômeno universal. Portanto, ela pode ser encontrada na história da humanidade desde os seus primórdios. An induções hipnóticas são tão antigas quanto a comprovação da evKiôrtcia das civilizações antigas, passando por culturas dife- lenles em danças, rituais, expressões orais, forças da natureza, Vindas desde povos não civilizados até os civilizados, todas se­ guindo e procurando um estado especial de consciência: o transe. Podemos ver, no decorrer da história, que este estado espe- i líil loi associado a idéias de modificação de energia, um sono di­ ferente, uma patologia, uma regressão, uma aprendizagem ad- i |uii ida, uma dissociação, um envolvimento motivado, uma ence- nnçlo. Itfuilo XXX a.C. No Egito via-se, através de papiros, que os sacerdotes in- d11/iam um certo tipo de estado hipnótico. 26 Sofia M. F. Bauer Século XVI I I a.C. Na China induzia-se um certo tipo de transe hipnótico para se buscar a aproximação entre os pacientes e seus antepas­ sados. M itologia grega Filho de Apoio e Coronis, Asclépios (o Esculápio dos ro­ manos) aprendeu com o centauro Quíron um tipo de sono espe­ cial que curava as pessoas. Muitos dormiam no templo do deus, e durante a noite se dava a cura. Século XI Avicena (Abu Ali al-Husayn ibn Sina, 980-1037), sábio, filó­ sofo e médico iraniano, acreditava que a imaginação era capaz de enfermar e de curar pessoas. Século XVI Paracelsus (Philippus Aureolus Theophrastus Bombastus von Hohenheim, 1493-1541), pai da medicina hermética, acredita­ va na influência magnética das estrelas na cura de pessoas doen­ tes. Confeccionava talismãs com inscrições planetárias e zodia- cais. Século XVI I I Franz Anton Mesmer (1734-1815) foi considerado aquele que inaugurou a fase científica da hipnose. Assim, o início da his­ tória formal da hipnose se deu em 1765 com os trabalhos de Mes­ mer com seu magnetismo animal. Utilizando-se de magnetos, Mesmer curava dores e doenças naquela época, pela aplicação de tais ímãs na fronte da pessoa. Ele propunha que a cura se dava por uma ab-reação da harmonia orgânica, produzida por uma concentração inadequada de um fluido magnético invisível. Pen­ sava que a cura se dava ao fazer fluir o tal magnetismo. Foi cons­ tituindo fama com suas curas, e logo chamou a atenção pelo su­ posto charlatanismo. Foi feita uma comissão para investigar se a cura era mesmo real ou não. Participaram desta comissão Benja- min Franklin, Lavoisier, Guillotin e Bailly, em 1784. Fizeram o mesmo trabalho substituindo os magnetos por madeira e obtive- I llpnoterapia Ericksoniana Passo a Passo 27 Mm os mesmos belíssimos resultados. Consideraram então Mes- iner um charlatão. O mesmerismo foi proibido. Não viram o que perdiam: a excelência dos resultados. Mesmer não foi o primeiro. Seguia idéias de autores que i tiravam doenças, acusados do uso de técnicas de bruxaria. Entre estes autores estão: o abade Lenoble, Paracelso (1493-1541), Jan I l.i ptiste Van Helmont (1579-1644), Robert Fludd, James Clerk M.ixwell (1831-1879), padre Kircher, Greatrake e Jean-Joseph i ..issner. Seguia também as sistematizações físico-químicas de I uigi Galvani (1737-1798) e Antoine Laurent de Lavoisier (1743- I7‘H). Podemos citar também o marquês de Puységur (1751-1825) tomo um discípulo de Mesmer que descobre o Sonambulismo Artificial. Ao fazer hipnose, usava tocar harpa como uma forma tle produzir "magnetismo", termo provindo de Mesmer. Além II Isso, utilizava os valores do paciente, como Erickson veio a fa­ zei mais tarde. Pe. José Custódio de Faria (1755-1819), mais conhecido i oi no abade Faria, graças ao famoso romance de Alexandre Du- m.is, O Conde de Monte Cristo, teve contato com as idéias de Mes- mor, defendeu-as e sustentou a idéia de que o transe se asseme- lliiiva ao sono. 'ttvulo XI X James Braid (1795-1860) — cunhou o termo hipnotismo. Do grego hypnos, sono. Mais tarde tentou trocar o nome ptirn monoideísmo, mas o termo já havia pegado. Induzia o tran­ se por fixação do olho a um ponto acima da linha dos olhos. James Esdaile — era um médico inglês que se utilizou das ir. nicas de Mesmer para fazer grandes cirurgias sem anestesia ilurante a guerra na índia. Publicou o livro Mesmerismo na índia em 1850. A escola de Nancy (de Liébeault, de Bernheim e de Coué) considerava que o estado de transe era um estado normal e nfln patológico. Se propunha que a mudança acontecia de uma forma não-consciente através da intervenção da vontade. E que a 'ingestão operava somente quando encontrava um eco interno, uma auto-sugestão. Sofia M. F. Bauer A escola da Salpêtrière — (Charcot), onde Freud fora fazer seus estudos, considerava o estado de transe como algo que só acontecia como estado patológico. Jean Martin Charcot (1825-1893) — tido como um dos maiores neurologista do século XIX, após estudo com um grupo de pacientes histéricos, considerou o transe como um estado pa­ tológico de dissociação. Também dividiu o transe em três níveis: a catalepsia, a letargia e o sonambulismo. Foi o fundador da es­ cola de neurologia da Salpêtrière. Ambroise-Auguste Liébault (1823-1904) — assemelhava o transe ao sono, só que o transe resultava de sugestões diretas. Hippolyte Bernheim (1840-1919) — seguidor de Liébault, desenvolveu a idéia do transe como um estado de "reforçada su- gestibilidade causada por sugestões". Liébault e Bernheim con- fluíram para a idéia de transe e sugestibilidade. Século XX Ivan Pavlov (1849-1936) — médico russo que definiu o transe como um "sono incompleto" causado por sugestões hip­ nóticas. Estas sugestões provocariam uma excitação em algumas partes do córtex cerebral e inibição em outras partes. Criador da indução reflexológica. Pierre Janet (1849-1947) — francês que descreveu o transe como uma dissociação. Introduziu o termo subconsciente para diferenciá-lo do inconsciente. Freud, nesta época, fez seus estudos junto aos casos de his­ teria de Charcot e acabou por abandonar a hipnose, depois de muitos estudos com Breuer. Faziam a correlação da hipnose com patologia. O transe sonambúlico, que provocava amnésia, e a vontade crescente do descobrimento dos caminhos do incons­ ciente fizeram Freud abandonar a hipnose e partir para a livre as­ sociação. Breuer aprendeu a aproveitar o transe menos profundo, e então veio a fama e a inimizade com Freud. Mas Freud, já em 1918, no Congresso Psicanalítico de Bu­ dapeste frisava a importância de aliar à psicanálise a hipnose. No final de sua vida, em 1938, falou da "legitimidade de certos fenô­ menos hipnóticos" no Esboço de psicanálise. E, por fim, da possibi- I lipnoterapia Ericksoniana Passo a Passo 29 Ik I.ide de juntar o ouro da psicanálise ao bronze da sugestão hip­ nótica. Após a Segunda Grande Guerra, a hipnose começou a reto- m.ir força no tratamento dos traumas pós-guerra. Vieram novas liíorias: Ernest Simmel, psicanalista alemão (1918) — desenvolveu .1 hipnoanálise. Clark Leonard Hull (1884-1952) professor de psicologia em Viile, interessou-se pelos aspectos experimentais da hipnose, lan- i,.iiido o livro Hypnosis and sugestibility, em que afirma que os fe­ nômenos hipnóticos são uma resposta adquirida, igual aos hábi- Ins. Teoria da aprendizagem: repetição associativa, condiciona­ mento e formação de hábito. Kris (1952) — regressão dirigida a serviço do ego. André Muller Weitzenhoffer (1921) — reforça o conceito de dprendizagem, mas caracteriza o transe como experiência natura- IlHtn. Gill e Brenman (1959) — regressão a um estado primitivo dr Iransferência com o hipnotizador. Fromm, Oberlander e Grunewald (1970) — ego compulsi­ vo c regressão adaptativa. Ernest Hillgard — modificou os conceitos de dissociação dr J.met, em que o transe é um desligamento temporário. Milton H. Erickson (1901-1980) — observador nato, perce- Iumi a natureza multidimensional do transe, que se modifica ex- pri icncialmente de pessoa a pessoa. Por mais que haja defini- ÇOcs, serão sempre uma visão pessoal que falharão em explicar itlf.um ponto e não irão substituir a experiência real de viver a hipnose. "Deve-se reconhecer que uma descrição, não importa quão pnvisa ou completa seja, não irá substituir uma experiência real, lii in tampouco poderá ser aplicável a todos os pacientes" (Milton II l iickson). Erickson, seguindo os achados de bons resultados de Clark I lull, iniciou sua jornada, utilizando-se da hipnose de uma forma Ihuito pessoal. Nenhuma indução clássica, mas sim uma indução ' l nvial e única para cada paciente, fazendo com que o paciente 30 Sofia M. F. Bauer se tornasse seu próprio indutor, dentro de uma técnica bastante naturalista. Podemos resumir, de acordo com o passar dos tempos, que se considerava a hipnose uma técnica, e que o hipnotizador curava. Mais tarde, que era necessário a interação de ambos, hip­ notizador e hipnotizado. Depois, foi visto que a cura vem de den­ tro daquele que deseja se curar. A indução é uma arte, uma habi­ lidade que pode ser desenvolvida por todos, pois, naturalmente, pode ser aprimorada de dentro para fora. É isto que veremos a partir de agora. Boa viagem! A viagem que vamos começar é na história da vida de Erickson. Rapaz jovem, filho de fazendeiros, contraiu poliomielite aos 17 anos. Febril, à beira da morte, foi diagnosticado pelo mé­ dico que disse à sua mãe e ele pôde ouvir que "este menino não passará do amanhecer". Raivoso e indignado pensou: "Como um médico pode dizer uma coisa destas a uma mãe?!" Pediu a sua mãe que o arranjasse na cama de tal maneira que pelo espelho veria o sol nascer. Agüentou firme pensando: "Se eu vir o sol nascer, não morrerei." Aos primeiros raios de sol, ele se entregou e entrou num coma profundo, vindo a despertar uns dias depois, já refeito do pior, a morte. Foi sua primeira luta interior, em que experienciou a força vir de dentro. Mais tarde, constatou o pri­ meiro dos conceitos que veio a desenvolver: o princípio ideodi- nâmico. Aquele que diz que uma idéia (um pensamento) é um ato em estado nascendi, como disse Freud. Ele estava paralítico, preso a uma cadeira de balanço, vendo seu povo trabalhar lá fora, no campo, com muita vontade de lá estar também. Percebeu que sua cadeira balançava. Como isto podia ocorrer se estava pa­ ralisado. Foi aí que percebeu que seu corpo fazia um movimento de ir para frente, como sua idéia de ir para fora. Começou a trei­ nar sua mão, depois seus braços, depois aprendeu a andar passo a passo e em pouco tempo estava se recuperando. Uma pessoa que experiencia a motivação como força básica motivadora desenvolveu isto junto à hipnose: a força vem de dentro. Uma resposta interior. Milton Hyland Erickson, nasceu em Nevada, EUA, em 15 de dezembro de 1901. Morreu em 27 de março de 1980, e deixou I li| mnterapia Ericksoniana Passo a Passo 31 tiin.i obra muito valiosa, com a utilização de hipnose naturalista, ijiic tvssignifica os caminhos ditos problemáticos. Como psiquia- 11.1 leve uma boa formação em psicoterapia e, por ter seu lado in- Imlívo e observador muito desenvolvido, foi se envolvendo, ao Iiim^o da vida, com hipnose, a ponto de ser conhecido nos EUA i nino Sr. Hipnose. Foi o presidente fundador da American Socie- lv of Clinicai Hypnosis e editor fundador da revista daquela so- t Iiml.ide, American Journal of Clinicai Hypnosis. Milton H. Erickson tinha uma forma muito particular de pn-.lnar, através de seminários didáticos, em que seus alunos lliiiis experienciavam sua metodologia do que se prendiam à teo- t l r t Nos EUA, existem profissionais que merecem ser citados ■nr seus trabalhos de hipnose: André Weitzenhoffer — grande estudioso do assunto, de- I| lOU-se à pesquisa da hipnose e de seus aspectos experimentais, | tllvulgação das escalas de transe e ao desenvolvimento de con­ tritos que fundamentassem a hipnose. Tem várias publicações de ■Ande valia e respeito. Ernest Hillgard — outro estudioso dos aspectos experi- «*» Milais, com várias publicações de grande valia, dando ênfase lu lianse como dissociação. A seguir poderíamos citar os seguidores de Milton H. | !ili kson, como os grandes disseminadores das técnicas ditas Bflcksonianas. Jay Haley — colega de Milton H. Erickson, publicou Tera- mhi iiüo-convencional, em que torna Erickson mais conhecido como pnl ilas abordagens de terapia estratégica breve. Jeffrey Kenneth Zeig (Nova Iorque, 6/ 11/ 1946) — aluno de || Irkson por seis anos. Aprendeu e desenvolveu um metamodelo lli1psicoterapia baseado nos ensinamentos tidos com o mestre wltkson. Foi o fundador e é o presidente da Milton H. Erickson huindation, e tem dedicado sua vida a ensinar pelo mundo afora D Abordagem ericksoniana do trabalho com hipnoterapia. A tiiiilor parte deste livro vem dos ensinamentos de Jeffrey K. Zeig. |lt> tem muitos livros sobre o assunto publicados e alguns deles português. 32 Sofia M. F. Bauer Podemos ainda citar nomes reconhecidos mundialmente como seguidores da linha de hipnoterapia ericksoniana. Cada um à sua maneira, desenvolvendo uma linha de abordagem den­ tro deste tema. Ernest Rossi, com a terapia das mãos; Stephen Gilligan e sua concepção pessoal, em que mistura as técnicas aprendidas com Erickson, o budismo e o aikidô, fazendo um grande trabalho de amor e integração dos clientes; Stephen e Ca- rol Lankton, que desenvolveram as técnicas de metáforas embu­ tidas, buscando a resposta interior através de suas riquezas que são redescobertas. Existem inúmeros outros seguidores que vão desenvolvendo novas abordagens daquilo que vem sendo batiza­ do de abordagens naturalistas para desenvolver o transe. No Brasil, temos o professor Malomar Lund Edelweiss, nascido em Santa Cruz do Sul, no Rio Grande do Sul, em 1917. Ele é psicólogo, professor universitário desde 1952. Teve como primeira formação acadêmica o curso de Direito, depois de Filo­ sofia. Fez sua formação em psicanálise em Viena, no Wiener Ar- beitskreis für Psychoanalyse, com Igor Caruso. Fundou, em 1956, no Rio Grande do Sul, o Círculo Brasileiro de Psicanálise, tendo hoje nove sociedades afiliadas em seis estados brasileiros. Tam­ bém deu início ao Círculo Psicanalítico de Minas Gerais, ao mu- j dar-se para esse estado em 1963. E é em Belo Horizonte que vem j praticando a hipnose juntamente com a psicanálise sob o nome de hipnoanálise há aproximadamente 15 anos. É o introdutor do ] assunto entre seus seguidores e alunos. Exerceu por mais de 30 j anos a prática psicanalítica clássica, e vem dedicando-se nestes últimos 15 anos à prática da hipnoanálise e hipnoterapia. Foi um dos primeiros divulgadores das obras e trabalhos de Milton H.j Erickson no Brasil. Mantém, em nível de pós-graduação, curso programado em cinco anos letivos, para universitários com maisl de cinco anos de formados em exercício profissional na área dal hipnoanálise e hipnoterapia. Considero-o o padrinho brasileiro] da hipnoterapia. Capí tul o 2 Mitos e conceitos Para trabalhar com hipnose é preciso primeiro saber o que t’ \ pesar das inúmeras teorias, até hoje a conceituação e defini- ■Aii de hipnose ainda é algo polêmico. Vou começar pelos mitos sobre hipnose que comprometem |i i onhecimento e a aceitação desta como uma ferramenta muito biM de ajuda às psicoterapias. I , Mitos Podemos ver que os mitos sobre a hipnose se propagam llrnvés dos séculos. No século XIX, a novela Trilby escrita por Du M.mi ier, fala de Svengali, com sua personalidade forte e maléfi- | h, e Trilby, a mocinha fraca que se deixa influenciar pelo hipno- ll/ .nlor Svengali e se torna uma excelente cantora enquanto está hipnotizada. Os mitos surgiram inicialmente relacionados aos hipnoti- /.i>I<>res de palco e suas mágicas demonstrações. Abordarei os principais mitos, sobre os quais nossos clientes sempre chegam lliestionando, e é preciso que se desfaçam para que se possa es- liihelecer uma relação de confiança e não de domínio. A hipnose é causada pelo poder do hipnotizador Este é um mito comum, pois até hoje, em "hipnose de pal- »’n", o que se vê é a personalidade forte e astuta de um bom hip­ notizador sugestionando pessoas a fazer aquilo que eles pedem: 34 Sofia M. F. Bauer comer cebola como se fosse maçã e assim por diante. O que você provoca com este tipo de demonstração? Poder sobre o outro?! Esta é uma idéia que vem desde os tempos de Mesmer, que vin­ culou o transe ao poder do magnetismo animal. Porém, na verda­ de, a hipnose não acontece apenas pelo poder do hipnotizador, mas pela aceitação e interação da pessoa que entra em transe e deseja experienciar aquilo que se pede. E muitas vezes o hipnoti­ zador faz a hipnose dita autoritária, aquela que dá ordens, com todo seu jeito poderoso e não consegue nada. A hipnose acontece num campo de interação e confiança, o rapport. Quem pode ser hipnotizado Teoricamente todo mundo pode ser hipnotizado. Alguns acreditam que isso só acontece com as pessoas de mente fraca, mas a verdade é que a hipnose faz parte do nosso dia-a-dia. En­ tramos em transe espontaneamente, por algumas vezes, num mesmo dia e diariamente. Quem já não experimentou sensação de, ao tomar banho, ir se desligando de tudo e viajar nos pensa­ mentos? Quem já não deu um telefonema e esqueceu para onde ligava? Quem já não experimentou dirigir, andar quilômetros e só depois verificar que havia andado muito sem se dar conta? Es­ ses são fenômenos hipnóticos do nosso dia-a-dia. São fenômenos de focalização da atenção. Portanto, um hipnotizador habilidoso, numa boa interação com seu cliente, trabalhando a confiança e a motivação, leva seu cliente ao transe. Em tese, todo mundo pode ser hipnotizado. O hipnotizador controla o desejo do paciente Sabemos que a mente inconsciente é sabiamente amiga. Portanto, esta afirmativa é falsa. O sujeito é protegido pelo seu inconsciente de fazer aquilo que não deseja. Caso ele o faça é porque julgou inofensivo, ou por acreditar que aquilo possa aju­ dar. A hipnose pode ser prejudicial à saúde A hipnose não causa danos, se usada por pessoas compe­ tentes e bem-intencionadas. Pessoas inescrupulosas sugerem a melhora extrapolando os limites de seu cliente. I lipnoterapia Ericksoniana Passo a Passo 35 Lembre-se, ela é como a eletricidade, boa, mas em excesso c nml aplicada pode dar choque. Por isso a cautela de se preparar |n<mo profissional da área. Mas em si a hipnose não faz mal algum, por ser parte da linv.,1 vida diária. O que faz mal é a sua manipulação inescrupu- ln'..i por certos profissionais e a credulidade de certos pacientes. 1'uile-se tornar dependente de hipnose Quando as pessoas procuram por ajuda, estão de certa ma- nrir.i dependentes do profissional que as atende. Mas, à medida | \ li’ vão se curando, esta dependência acaba. Elas dependem do i liuii o para socorrer e confortar. O objetivo é ajudar a pessoa a se minr e ser auto-suficiente. A hipnose ajuda neste processo e Mml<- se até ensinar a auto-hipnose como auto-ajuda e inde­ pendência. A pessoa pode não voltar do transe, ficar presa nele Não é possível; o máximo que acontece é a pessoa adorme- i ei , i| tie seria o passo seguinte ao transe profundo. Sabe-se que o IfmiM1é um estado entre a vigília e o sono. Se você aprofunda, ilm mr e pode ser acordado. 1) nono e a hipnose Hipnose não é sono. É um estágio anterior. Às vezes, con­ funde se o estado da pessoa em transe profundo, pensando que | (liiimeceu. Mas mentalmente a pessoa é capaz de estar concen- Iffliln (>com certo grau de consciência e responder aos seus co- pHndos. Assim, o transe parece sono do ponto de vista físico (ati- Vlilinle diminuída, relaxamento muscular, respiração suave, etc.), Mit». do ponto de vista mental, a pessoa está relaxada de forma tlrfltl. A Dfssoa fica inconsciente em transe A hipnose é um estado de atenção focalizada, o que não t| ii*'i di/ .er que você perca a consciência. Ocorrem modificações tirtn percepções e, num nível mais profundo de transe, acontece um ilcsligamento da atenção vigilante. E só no transe profundo é Hlii' tu orre a amnésia total. 36 Sofia M. F. Bauer Hipnose e relaxamento Hipnose pode ser induzida via relaxamento, mas nem toda hipnose é relaxamento. Um atleta correndo ou nadando pode es­ tar em transe e não está em relaxamento. Hipnose e terapia A hipnose não é uma terapia. É somente mais uma boa fer­ ramenta utilizada numa terapia, que ajuda a acessar o incons­ ciente de uma maneira ágil. Mas hipnose por si só traz alívio e paz, o que é curativo também. Regressão e hipnose Muitas pessoas pensam que hipnose é regressão. Regressão é um dos muitos fenômenos que podem ocorrer com a pessoa em transe, mas nem toda pessoa regride quando entra em transe. Principalmente as pessoas, mais ligadas, e/ ou mais controlado­ ras, muito pensativas e racionais. Estas têm mais dificuldade de entrar num transe mais profundo. Para haver regressão é neces­ sário um transe médio ou profundo. A regressão ocorre como uma hipermnésia, em que fatos, imagens e sensações são evocados de maneira intensa. Pode ocorrer naturalmente ou por indução. Mas regressão não é hipnose. A hipnose abrange outros fe­ nômenos que também são utilizados dentro do transe, muitas ve­ zes com mais eficácia, além de não provocar uma sensação de derrota para aqueles que não a conseguem. E normalmente não há necessidade de se fazer só regressão na hipnoterapia. É bom lembrar que na regressão as memórias podem ser construídas. O que vale é a realidade psíquica para o nosso trabalho. Há perigos na hipnose? Por ser uma técnica que trabalha o desconhecido, a mente inconsciente do ser humano, pede-se cautela e escrúpulos. Assim, a hipnose exige a formação do profissional, preparo e habilitação reconhecidos para lidar com psicoterapia e um bom estudo da mente humana (psicanálise, estudo de psicoterapias, psicopatologia). I llpnoterapia Ericksoniana Passo a Passo 37 Kla é utilíssima em mãos hábeis, mas se torna uma arma perigosa, se aplicada indevidamente. A hipnose pode ser aprendida por um hipnotista de palco? Se o propósito é trabalhar psicoterapeuticamente, não bas- Irt .1 penas aprender a hipnotizar e a dar sugestões, o que um hip- Itolizador de palco sabe fazer muito bem e não tiramos seu méri- lO Mas é preciso mais, é preciso conhecer o lado psicológico e pMi odinâmico dos problemas que a pessoa traz. A hipnose realiza milagres Ela não realiza milagres. O que acontece é a junção da mo- tlvnção do paciente e a abertura às riquezas de cada um em seu liti onsciente. Nesta mistura, a hipnose abre um novo caminho, o <I* acessar as novas respostas interiores. Parece milagre, mas é ■1^0 sério e cientificamente teórico. A hipnose significa inconsciência As pessoas que ainda não conhecem a hipnose pensam que i '.lar em transe é ficar inconsciente. Pelo contrário, é ficar atento, min uma atenção especial. Isto, muitas vezes, pode significar prestar atenção em tudo o que o hipnotizador diz, e não "apa- l,.ir". O sujeito hipnotizado pode ouvir, sentir, falar; mas tudo rtcontece numa abertura especial e não na falta de consciência. Se juntarmos isto ao milagre, o mito anterior, você verá porque muitas pessoas procuram a terapia com hipnose e sofrem Insucessos. Vêm à procura de alguém que faça o milagre e de for- iii.i inconsciente. Isto não existe. É necessário a motivação e a vontade de mudar, aliada à confiança de que, lá no fundo, existe um tesouro em recursos para sua recuperação. A função do hip- nolerapeuta é conduzir o cliente a aprender que ele é seu próprio terapeuta. Aprendendo, através da hipnose, a conhecer-se me­ lhor. A hipnose debilita a mente Pelo contrário, a pausa reabilita as suas energias vitais, lim­ pa a mente, suaviza os sentimentos para a pessoa sentir-se mais livre e lutar pelos seus ideais. 38 Sofia M. F. Bauer Uma pessoa hipnotizada revela seus segredos Este é um conceito errado. Pensar que a pessoa pode confessar seus segredos como se estivesse sob o efeito de dro­ gas é falso. Ela falará, se assim o quiser, porque pode ocorrer a hipermnésia, a lembrança vivida de um fato esquecido. Deste modo, a hipnose pode auxiliar o paciente a dizer o que ele ne­ cessita dizer, mas não pode forçá-lo a tal, se ele não tiver von­ tade de fazê-lo. O sujeito não fica à mercê do hipnotizador. Ele pode falar, caso queira se colocar e precise. E, muitas vezes, ainda ocorre o acréscimo de memórias construídas pela realidade anterior do sujeito. Mas não se pode dizer que o sujeito vai confessar seus se­ gredos. E se houver a morte do hipnotizador durante o transe? Já pensou se o terapeuta morre, durante o transe, de um ataque cardíaco ou outra coisa qualquer? O que aconteceria é que, ao não ouvir mais a voz do hipno­ tizador, o paciente ou interromperia o transe induzido ou conti­ nuaria nele por algum tempo, em auto-hipnose, e em seguida despertaria como despertamos de um sono natural. Talvez, até o paciente despertasse para descobrir porque o hipnotizador não está mais atento. O fato é que o transe é um estado entre estar acordado e dormindo; e se você continuar no transe você adormece. Se ador­ mece, também acorda. Assim, naturalmente, retorna ao estado acordado. 2. Conceitos O conceito de hipnose não é unânime. É algo difícil de con­ ceituar teoricamente e há controvérsias. . Entre os conceitos já aceitos, está o de um "estado natural de consciência, diferente do estado de vigília". O nome dado por James Braid, hipnotismo (um estado parecido com o sono), diz respeito à semelhança com esse estado. I llpnoterapia Ericksoniana Passo a Passo 39 De acordo com o dicionário Aurélio, "estado mental seme- lltiinle ao sono, provocado artificialmente, e no qual o indivíduo lotilinua capaz de obedecer às sugestões feitas pelo hipnotiza- dor". De acordo com Milton H. Erickson, "suscetibilidade am- I“li.it I.) para a sugestão, tendo como efeito uma alteração das ca- lineldades sensoriais e motoras para iniciar um comportamento rtpropriado". Alguns autores consideram a hipnose um estado "altera­ do" de consciência. Este é um termo polêmico (alterado), pois (cm um tom pejorativo. Para a American Psychological Association, na definição pu~ Mli.ida em 1993, a hipnose é um procedimento durante o qual um pesquisador ou profissional da saúde sugere que um cliente, | weu ;nte ou indivíduo experimente mudanças nas sensações, per- Hpções, pensamentos ou comportamentos. Mas mesmo toda a conceitualização tentada até hoje não Umi,segue englobar toda a riqueza da experiência da hipnose, a l)li,il, através dos fenômenos hipnóticos, capacita uma pessoa a produzir novos aprendizados e a se utilizar da sabedoria do seu liii ousciente a seu serviço. Para Erickson, o transe é um estado de sugestibilidade in­ tensificado artificialmente e semelhante mas não igual ao sono, no t| ual parece ocorrer uma dissociação natural dos elementos limscientes e inconscientes do psiquismo. "O transe é um perío­ do no qual as limitações que uma pessoa tem, no que dizem res- peilo à sua estrutura comum de referência e crenças, ficam tem- Bnuriamente alteradas, de modo que o paciente se torna recepti­ vo ,ios padrões, às associações e aos moldes de funcionamento fllie conduzem à solução de problemas". Para Gilligan, o transe hipnótico seria "uma seqüência inte- fddonal, experiencialmente absorvente, que produz um estado Mpccial de consciência, em que automaticamente começam a Morrer auto-expressões". Podemos dar uma definição prática: Hipnose seria a absorção da atenção do sujeito: a atenção se- hri localizada através de uma indução ou de uma auto-indução, rtl «sorvendo a atenção da mente consciente e isto daria a oportu­ II) Sofia M. F. Bauer nidade à mente inconsciente de se manifestar através dos fenômenos hipnóticos. A pessoa então experiencia um estado diferente de consciência, com a mente consciente focada e parcialmente alerta; enquanto sua mente inconsciente experimenta formas variadas de manifestar as riquezas do inconsciente. Os fenômenos hipnóticos aparecem de forma variada. Cada transe é único. Não necessariamente a pessoa entrará em transe da mesma maneira. Pode variar: variação de intensidade, profundidade e de fenômenos que ocorrem. Os fenômenos hipnóticos são: rapport, catalepsia, amnésia, anestesia, analgesia, regressão, progressão, alucinações positivas, alucinações negativas. A sugestão faz parte do transe. A auto-sugestão também. A sugestão seria uma comunicação associada a uma influência que assim provocaria a absorção da mente consciente, que fica focali­ zada em algum tipo de absorção sensorial e ideativa. Desta ma­ neira, ocorre a oportunidade de a mente inconsciente se manifes­ tar, em diversos níveis, através dos fenômenos hipnóticos. Esta­ belecida a confiança, o rapport, há o acesso ao inconsciente e ocor­ re algum tipo de mudança. Quando eu era estudante, gostava de sublinhar os textos li­ dos, depois fazer um resumo e depois apenas um esquema que memoriza a imagem. Assim nunca mais me esquecia do que pre­ cisava saber. Vamos brincar de fazer esquema. Como se estivéssemos numa aula, eu provavelmente colocaria no quadro para você me­ morizar: COMUNICAÇÃO +INFLUÊNCIA = HIPNOSE 1- ABSORÇÃO DA ATENÇÃO DA MENTE CONSCIENTE — em sensações, sentimentos, percepções 2 - ELICIAÇÃO DA MENTE INCONSCIENTE — o aparecimento dos fenômenos hipnóticos 1+2 = TRANSE HIPNÓTICO A ABSORÇÃO DA MENTE CONSCIENTE MAIS O APARECIMENTO DE FENÔMENOS HIPNÓTICOS LEVA Ã MUDANÇA. I lipnoterapia Ericksoniana Passo a Passo 41 l<i sumindo Todas as teorias até hoje desenvolvidas são úteis, mas não i onsoguiram definir hipnose e dar a última palavra na descrição do processo e da experiência hipnótica. Ela pode ser considerada como um estado de consciência illliTente do estado de vigília. Ocorre também no estado acorda­ do, no nosso dia-a-dia, como um fenômeno natural. É considerada um estado de atenção focalizada, uma ab- mirção: a mente consciente focaliza a atenção em alguma coisa es- ptvial (percepção, pensamentos, imagens, estórias, amor etc.) e liã uma dissociação da mente inconsciente (automatismos). O que se sabe é que alguma coisa acontece que é diferente ilr estar simplesmente acordado. Há uma focalização da atenção voltada para o que é interno. Passa a valer também a realidade Interna criada pela pessoa. Pode envolver relaxamento e todos ou alguns fenômenos hipnóticos. Normalmente, ela é induzida, ou até auto-induzida. A Imm relação entre as duas partes é uma condição importante. O liljiport gera a confiança, a abertura, e faz com que aquele que C.uia possa ser ouvido e atendido em sua faculdade de absorver a iilcnção. O resto quem faz é o sujeito que está sendo hipnotizado. A hipnose vem de dentro do sujeito. Num conceito mais atualizado, a hipnose acontece pela in- Itiração das duas partes. ,1, Mente consciente e mente inconsciente Dentro da visão de Erickson, podemos definir: Mente consciente — é considerada a parte da mente que nos permite estar ciente das coisas, ter crítica. Tem a habilidade de analisar as coisas, agir racionalmente, fazer os julgamentos. É .1 parte racional, mas é a parte limitada de nossa mente. Você só pode prestar atenção a poucas coisas ao mesmo tempo. É como i Impar cana e assoviar ao mesmo tempo. Mente inconsciente — é o reservatório de todas as expe- riõncias adquiridas através da vida. Experiências pessoais, apren­ 42 Sofia M. F. Bauer dizados, necessidades, motivação para interagir com seu próprio mundo e as muitas funções automáticas. É uma mente sábia, não rígida, nem analítica e tampouco limitada. Ela responde a comu­ nicações experimentais, é capaz de interpretações simbólicas e tem a tendência a uma visão global. Carrega os recursos para as mudanças. Pode-se ver a dualidade da mente pelos hemisférios cere­ brais. O hemisfério direito — o da mente inconsciente, hemisfério intuitivo — opera no nível simbólico e da criatividade. O hemis­ fério esquerdo — o da mente consciente — é o lógico, analítico e tem as funções intelectuais. A hipnose é uma ferramenta que nos permite dissociar es­ tas duas partes, para "acessar" os recursos sábios do inconscien­ te, reintegrando a seguir, de uma forma saudável, a ajuda com a resposta que vem de dentro da mente inconsciente. 4. Sugestibilidade De acordo com André Weitzenhoffer, sugestibilidade "é a capacidade de responder às sugestões". E sugestão seria "uma comunicação que evoca uma resposta involuntária que reflete o conteúdo ideacional da comunicação. E a comunica­ ção de uma pessoa para a outra que evoca um automatismo na segunda pessoa, e reflete a realização do conteúdo ideacional da comunicação". A palavra sugestão vem do latim sugestione, em que su, sub = embaixo, abaixo, por baixo, e gestione =gestão, administração, gerência. Lembrando Freud, "o pensamento é um ato em estado nas- cendi." Nascer na pessoa uma nova idéia. Este é um princípio da hipnose — o princípio ideodinâmico — em que uma idéia gera uma ação. Faço aqui um pequeno relato da história de Erickson, quando ele descobre este princípio durante sua convalescença da poliomielite. Sentado numa cadeira de balanço, totalmente para­ lisado pela doença, estava com muita vontade de ficar lá fora no campo como seus familiares, trabalhando na fazenda. Olhando fixamente para fora com este pensamento em mente, notou que I lipnoterapia Ericksoniana Passo a Passo 43 mui cadeira começou a balançar para frente e para trás. Era a liléia fazendo com que ele se movimentasse. Foi assim que, atra- ' rs deste exercício de pensamento, Erickson foi reaprendendo a mo mover e mudar o que ele queria. A sugestibilidade seria uma abertura para aceitar novas Idéias, novas informações. À medida que esta informação vai sondo adquirida, dependendo do seu valor subjetivo, ela pode .iltorar a experiência da pessoa de alguma maneira. A escolha dr aceitar ou não a sugestão proposta vai depender de a pró­ pria pessoa acreditar que isso possa levar à mudança que ela ileseja. E sempre bom alertar para o fato de que há pessoas com uma capacidade crítica reduzida e de que há uma diferença entre Migestibilidade e credulidade. Ter bom senso e usar da capacida- ile de influência com sensibilidade é dever do hipnoterapeuta, sijmpre com muito respeito ao desejo do outro. Todas as pessoas são envolvidas por alguma opinião em iilgum momento de suas vidas. Isso é particularmente evidente nas propagandas que exercem influência através da comunicação visual, auditiva e cenestésica. Fazer um transe hipnótico significa comunicar alguma coi- Nti que o outro possa entender e para tal utilizamos estratégias de comunicação. S, I lipnotizabilidade Diz respeito à suscetibilidade hipnótica, o grau em que você é hipnotizável. Transe leve, médio ou profundo. Quem pode ser hipnotizado? Já vimos isto nos mitos. ( omo a hipnose e seus fenômenos fazem parte de nosso dia-a- 11iii, podemos afirmar que todos podem ser hipnotizados. Joseph Unrber, em seu texto "O modelo do serralheiro", mostra que a '.uscetibilidade à hipnose depende do serralheiro (chaveiro) fazer ii moldagem correta para abrir a fechadura da mente inconscien­ te. O modelo da hipnose naturalista, de acordo com cada cliente, tom maior eficácia quanto a essa suscetibilidade. Quando se indi­ vidualiza a terapia, há uma melhor resposta à indução. Veremos Islo mais tarde. -1-1 Sofia M. F. Bauer A hipnose pode ocorrer em vários níveis. Veja o gráfico: O transe médio é considerado o melhor, por ter maior efi­ cácia quanto à sugestão. Em transe leve a consciência está muito presente, e com ela a crítica e as resistências. No transe profundo ocorre amnésia, que por vezes é prejudicial aos bons resultados. A sugestibilidade é maior no transe médio, mas sabemos que este gráfico é empírico. Você pode ter alta sugestibilidade num paciente sonambúlico ou no transe leve. O mais importante é a aliança terapêutica, o rapport. Tendo isso, você muda o gráfi­ co, muda as possibilidades. Aquilo que falei anteriormente, sobre o modelo do serralheiro quanto a entrar em transe, vale também para a sugestibilidade que pode ser aumentada nos níveis vários de transe. Portanto, o principal é fazer com que o paciente confie em você. Mas, para aqueles que estão começando, saber que o transe médio oferece maior sugestibilidade já traz segurança. Neste nível, o paciente tem alguma consciência e controle, e pode se soltar e confiar, observando. Veja agora as escalas sobre o que acontece em cada nível de transe. I llpnolerapia Ericksoniana Passo a Passo 45 ( i ílérios de Hershman para adequação de estados hipnóticos • 11 .inse leve (hipnoidal) Relaxamento Catalepsia das pálpebras dos olhos Ivchamento dos olhos Começo de catalepsia corporal (sem movimentos) Respirações mais vagarosas e profundas I mobilização dos músculos faciais Sensação de peso (pesado) em várias partes do corpo Anestesia de luva Habilidade para sugestões pós-hipnóticas simples • 11 .inse médio Amnésia parcial (alguns sujeitos) Definido retardamento na atividade muscular I labilidade em ilusões de sensações Aumento isolado de sensações Marcada catalepsia dos membros do corpo Habilidade para sugestões pós-hipnóticas mais difíceis • I r.inse profundo Habilidade para manter o transe com olhos abertos Amnésia total (na maioria dos sujeitos) Habilidade para controlar algumas funções orgânicas (pul­ so, pressão arterial) Anestesia cirúrgica Regressão de idade e revivificação Alucinações (positiva e negativa, visual e auditiva) Habilidade de "sonhar" material magnífico Habilidade para todas ou para a maioria das sugestões pós-hipnóticas • 11 .mse pleno ou estuporoso Marcado por respostas orgânicas lentas e quase completa, inibição da atividade espontânea. Fonte: Hipnose médica e odontológica, Milton H. Erickson, M.D., hrv mour Hershman, M.D. e Irving Secter, D.D.S., Editora Livro Ple­ ito, l nmpinas, 1996. Estado (profundidade) da hipnose em relação às aplicações clínicas (Weitzenhoffer) Critérios Grau Olhos abertos Pálpebras pesadas Pálpebras com tremor Acordado Sensação de peso nas extremidades Sonolência Terapia psicobiológica (reforço, per­ suasão, reeducação, confissão e venti­ lação) Hipnoanálise (associação livre, fanta­ sias induzidas) Aumento do limiar de dor através do relaxamento Redução da tensão muscular geral Estado hipnoidal Fechamento dos olhos Relaxamento muscular geral Catalepsia das pálpebras (paralisia) Catalepsia dos membros (flexibilidade cérea Indução do membro rígido Paralisia induzida Automatismos induzidos Terapia psicobiológica (condução) Analgesia leve (cefaléias tensionais, trabalho de parto e alguns partos, tra­ balhos dentários simples) Hipnose leve I llpnoterapia Ericksoniana Passo a Passo 47 Critérios Grau Amnésia pós-hipnótica parcial sugerida Alterações sugeridas de vários senti­ dos cutâneos Anestesia em luva Analgesia parcial pós-hipnótica Automatismo generalizado Hipnose média Alterações superficiais de personalida­ de sugerida 1lipnoanálise (indução de sonhos, re­ presentação de papéis) 1.icilitação de terapias físicas Analgesia para partos, trabalhos den- 1ii ios e pequenas cirurgias ' 'iigestões pós-hipnóticas simples Amnésias pós-hipnóticas extensas su­ geridas Anestesia geral 1leitos emocionais induzidos Profundas alterações de personalidade sugeridas Alucinações Hipnose Alteração da noção de tempo profunda Ke^ressão e progressão de idade 1era pias biológicas (certas dessensibi- lld.ides) 1lipnoanálise (escrita automática, pin­ tura, modelagem) Kemoção de sintomas l Jno quase geral de sugestões como ad­ junto de intervenções médicas Anestesia para cirurgias maiores Sofia M. F. Bauer Critérios Grau Amnésia pós-hipnótica total e espontâ­ nea Habilidade para abrir os olhos em hip­ nose Profundas alterações de personalidade sugeridas Todas as sugestões pós-hipnóticas Terapia psicobiológica (recondiciona- mento) Hipnoanálise (fixação de cristais, psi- codrama, conflitos artificiais induzi­ dos, reivindicações) Uso geral de sugestões como adjuvan- te de tratamentos médicos Hipnose profunda Sonambulismo Fonte: The practice of hypnotism, André Weitzenhoffer, M.D., Nova Iorque, Wiley Interscience Publication, 1989. Copyright © 1989 by John Wiley & Sons, Inc. Hipnoterapia Ericksoniana Passo a Passo 49 A escala de Davis-Husband in Weitzenhoffer, The practice ofhypnotism Teste de Profundidade Escore sugestão e resposta Não-suscetível 0 1 2 Relaxamento 3 Tremor de pálpebras 4 Fechamento dos olhos 5 Completo relaxamento físico 6 Catalepsia dos olhos 1rnnse leve 10 Rigidez cataléptica 11 Anestesia em luva 13 Amnésia parcial 15 Anestesia pós-hipnótica 17 Mudanças na personalidade 11 .inse médio 18 Sugestões pós-hipnóticas simples 25 Sonambulismo completo 26 Alucinações pós-hipnóticas visuais positivas 27 Alucinações pós-hipnóticas auditi­ vas positivas 28 Amnésia pós-hipnótica sistemati­ zada 29 Alucinações auditivas negativas 30 Alucinações visuais negativas, hi- perestesia ■ I >nvis & Husband, 1931. Copyright 1931 pela American Psy- yhni< .il Association. M) Sofia M. F. Bauer Depois de observar as escalas e os níveis de transe, vem a pergunta: Para estar no transe médio ou profundo é preciso sen­ tir tudo isto? Na verdade, isto é uma escala. Uma média do que acontece em cada nível de transe. Mas o que ocorre normalmente não é se verificarem todos estes itens em cada transe atingido ou induzi­ do. Pode-se ter alguns dos itens ou todos eles. Há pessoas que são mais cenestésicas e podem desenvolver mais sensações. Ou­ tras têm uma capacidade de alucinar em imagens e outras de de­ senvolver analgesia ou anestesia, e todas podem estar desenvol­ vendo muitos níveis de transe, além de variar de fenômenos hip­ nóticos de um transe para o outro. Por isso, é bom saber que uma pessoa que hoje entra num transe leve, amanhã poderá desenvol­ ver um transe médio ou profundo, e vice-versa; hoje desenvolver o transe profundo, e amanhã o leve. Mas como é que você de uma maneira prática vai saber se o seu cliente entrou em transe? E qual a profundidade deste transe? A pessoa quando entra em transe fica com a mente cons­ ciente absorvida. Dá vazão à mente inconsciente, a que os fenô­ menos hipnóticos apareçam, e fica clara a constelação hipnótica, ou seja, um quadro de sinais físicos que denotam um estado en­ tre o acordado e o dormindo. Ao perceber alguns destes sinais, você já está com seu cliente em transe. Pode ser um transe mais leve, em que as carac­ terísticas principais são: catalepsia, diminuição dos movimentos, respiração mais lenta, às vezes sinais ideomotores. No transe médio, observam-se uma catalepsia mais acen­ tuada, músculos da face soltos e mais sinais da constelação hip­ nótica como: movimento de deglutição diminuído, sinais ideo­ motores, movimentos oculares, respiração mais lenta, às vezes mudança na postura (mais caído para um lado). O transe profundo parece-se com o sono. A pessoa conti­ nua respondendo aos comandos do indutor do transe, ocorrem os movimentos rápidos dos olhos (REM) e pode haver até so­ nhos. Ela pode entrar em sonambulismo. O próprio nome já diz, o sono mais o ambulismo. Parece estar adormecida, mas tem a capacidade de andar, escrever, responder às perguntas, de uma I llpnoterapia Ericksoniana Passo a Passo 51 liu ma "acordada diferente", pode abrir os olhos, mas estes ficam vidrados e mais fixados a um ponto ou olhar vago. Este estágio é .interior ao sono. O grau mais profundo de transe seria a letargia, 111tase o sono. E difícil alcançá-lo, porque a tendência é passar di- relamente ao sono fisiológico. E preciso desenvolver esta capaci­ dade que os monges treinam em suas meditações. O transe letárgico, em psicoterapia, pouco adianta. O transe médio é o utilizado com maior eficácia, pois desenvolve ,i capacidade de se abrir para as potencialidades do incons- i'lente, provoca apenas amnésia parcial e gera segurança em i| iiem o experimenta. A pessoa sabe que estava num estágio di- lercnte, mas ela é participativa da hipnoterapia. A hipnose aqui se toma efetiva. No transe profundo muitas vezes ocorre amnésia total; a pessoa não se lembra de nada e não se torna participativa de uma maneira consciente. Há casos em que é necessário um tra- hnlho no nível profundo: traumas, sugestões diretas, em que n.lo se deseja que a pessoa desenvolva uma resistência ao que loi sugerido. Mas, na maioria dos casos, é sempre bom desenvolver o Iranse em nível médio. Lembremos que você, à medida que de- envolve o rapport e faz o condicionamento ao transe, pode levar uma pessoa que só vai até o nível leve a desenvolver um transe mais profundo. Fizeram-me uma pergunta durante uma aula. Uma per­ gunta importante. O que cura mais rápido? Colocar uma pessoa em transe profundo, ou uma pessoa em transe leve? Qual é o Iranse mais eficaz? Com o que você leu até o momento, sabe que o melhor liiinse, para a sugestibilidade, é o médio. Mas e o paciente que só enlra em transe leve, ou só em profundo? Não teremos bons re- hiiltados? O que funciona é o somatório de motivação, rapport e ne­ cessidade. Um paciente bem motivado, apoiado na confiança que lem no terapeuta e necessitando de melhora provavelmente será ii melhor cliente. Não importa o nível de transe. Para os erickso- lllanos, isso não é importante. Então, não se preocupe se o seu i liente não entra num transe médio ou profundo. Os clientes é Sofia M. F. Bauer 111u>tòm essa preocupação: "eu não entrei em transe", "eu não .qntguei". Isto não é necessário. Fale ao cliente que o transe pode ser leve, mas muito eficaz, caso ele preste a atenção necessária. Porém, para você poder reconhecer tudo isto, é necessário saber o que é a constelação hipnótica e os fenômenos hipnóticos. Você verá a seguir. 6. Constelação hipnótica (segundo J effrey K. Zeig) Um dos motivos de se sentar de frente para o cliente e de mantê-lo sentado é poder observar a constelação hipnótica; além de dificultar sua passagem direta ao sono. Zeig criou este termo — constelação hipnótica — para de­ signar aquelas características, sinais físicos, que mostram que o sujeito está em transe. São elas: Economia de movimentos (a catalepsia) — observa-se facil­ mente quando a pessoa entra em transe; ela fica imóvel, economi­ za movimentos. É a catalepsia agindo. Não existe vontade de se mexer. O que move, agora, é algo interno. O corpo pára e a men­ te produz. Literalismo (interpretação literal) — uma segunda coisa ob­ servada é que o inconsciente é literal, ou seja, ele responde lite­ ralmente às palavras ditas. Por isso, todo cuidado com suas pala­ vras, com o que você sugere. Vou lhe dar alguns exemplos. Você pode perguntar a uma pessoa acordada: "Você se importa de di­ zer seu nome?" A pessoa naturalmente vai lhe responder o nome. No caso de estar em transe, ela pode simplesmente res­ ponder que não ou sim. Outro exemplo: Uma vez, fazendo uma indução, sugeri ao cliente que se imaginasse flutuando em uma nuvem, como se ela fosse um cobertor gostoso de bebê; o pacien­ te começou a sentir um calor enorme. Imagine se ele também ti­ vesse medo de altura?! É bom prevermos, com algum questiona­ mento, medos que possam ter relação com a indução que temos em mente. E lembremos que a resposta do sujeito pode vir literal­ mente. I lipnoterapia Ericksoniana Passo a Passo 53 Demora para iniciar resposta — há também a demora para Iniciar a resposta a um comando. Por isso, tenha um pouco de ptu iência ao pedir algo, como levitação ou outra coisa qual­ quer As respostas costumam vir quando estamos desistindo. Aos iniciantes, que ficam um pouco aflitos, achando que não iiplicaram bem a técnica, paciência, um pouco de silêncio e lá vi'ni a resposta. Mudança nos reflexos de salivação e deglutição — você pode nolar que, logo ao iniciar o transe, há uma mudança no reflexo ilr deglutição. No início, a pessoa saliva mais, engole mais. De­ pois, quando já está num transe médio, a pessoa pára de engolir, iliminui o reflexo de salivação. É mais ou menos como o primeiro .0110, em que, às vezes, baba-se e depois fica-se quase sem saliva 110 sono profundo. Diminuição na freqüência respiratória, pulso e pressão sangüí­ nea — há uma diminuição geral dos reflexos. Se quando estamos ilormindo ficamos menos acelerados, no transe, caminho entre o estado alerta e o sono, há também a diminuição destes reflexos. I l.i uma vasodilatação, pelo relaxamento muscular; uma tranqüi- llil.ide que pode ser observada até na respiração. Relaxamento muscular — ocorre também o relaxamento muscular. Você pode reparar melhor nos músculos da face. Uuando a pessoa entra num bom nível de transe, os músculos da i.uv vão se soltando. Costuma-se observar que a pessoa solta o queixo e, muitas vezes, solta os lábios. Vê-se também os braços entregues. E como ver um bebê que adormece. Sabe-se que o bebê adormeceu porque ele se entregou; fica até mais pesado no i olo de quem o carrega. Assim, podemos observar que a pessoa 1 m transe se entrega a um estado de relaxamento generalizado. Mudanças no comportamento ocular — os itens abaixo ocor- iem freqüentemente quando se faz o transe através da fixação de uni ponto, e você então observa as mudanças, pupilares; a perda tio foco; o olhar vidrado, que também é comum no sonambulis- 54 Sofia M. F. Bauer mo; e a mudança de piscadas que vão ficando mais lentas até o fechamento dos olhos. a) Mudanças pupilares — a midríase, ou dilatação da pu­ pila, é observada no cliente em transe com os olhos abertos. b) Tremor palpebral — se você está trabalhando com o sujeito de olhos fechados, talvez ocorra o tremor pal­ pebral. É um sinal de estar entrando em transe. É bom você dizer ao sujeito que é muito natural os olhos tre­ merem um pouco, involuntariamente, quando se está entrando em transe, e que basta que ele respire fundo e logo os tremores passarão. c) Perda de foco — o cliente tem a sensação de visão em­ baçada. d) Olhar "fixo" de transe — o olhar vidrado, como no so- nambulismo. e) Mudanças na freqüência das piscadas — os olhos pis­ cam mais rapidamente. f) Mudanças no movimento lado a lado do olho — outra mudança que se observa na pessoa em transe de olhos fechados é o movimento de lado a lado do globo ocu­ lar. Isto denota a entrada num transe mais profundo. Você pode também observar o REM (rapid eye move- ment), o movimento rápido dos olhos, que ocorre no estado mais profundo de transe, quando a pessoa pode estar sonhando. g) Lacrimejamento — observa-se uma lubrificação natu­ ral e espontânea das vias lacrimais. Redução nos movimentos de orientação — há uma acentuada redução nos movimentos de orientação, quando é pedido à pes­ soa em transe que leve a mão ao rosto, por vezes ela perde a no­ ção de onde está sua mão naquele momento. Perseveração — o cliente mantém um movimento começado. I lipnolerapia Ericksoniana Passo a Passo 55 Assimetria direito/esquerdo — a assimetria entre os dois la­ tim tio corpo. Você pode notar que a pessoa vai modificando in.r. contraturas musculares, sua fisionomia. Um lado do rosto nnll.i se mais que o outro. Às vezes, tomba-se para um lado, ou Vli .1 se mais o rosto. Mudanças na circulação periférica — as mudanças na circula- V'" periférica ocorrem pelo relaxamento muscular generalizado que relaxa artérias e veias e com isso leva mais sangue aos pe­ quenos capilares das pontas do corpo. É bom lembrar que nos ca- mi l e hipertensão a hipnose é muito eficaz na redução da pres­ tou, exatamente por este motivo: relaxamento dos vasos arteriais. Vneê pode usar o transe e o ensinamento de auto-hipnose, como lllli.i técnica de ajuda para hipertensos. Fascicidação — fasciculação é um conjunto de pequenas . mitraturas musculares involuntárias que se observa durante o transe. Alimento da responsividade — há um acentuado aumento da icponsividade, que você observa nas mínimas pistas, como res­ pirar profundo e observar que o sujeito respira juntamente com vnee Pedir que a pessoa faça alguma coisa e ela faz. Aumento da atividade ideomotora e ideossensória — movimen- lim ideomotores são comuns, como sinais com os dedos. Peque- lltm movimentos que sinalizam uma idéia. A levitação é um mo- v Imento ideomotor. Há também atividades ideossensórias, uma Uléia que traz junto uma sensação. / fenômenos hipnóticos Rapport Catalepsia Dissociação Analgesia Anestesia Sofia M. F. Bauer Regressão de idade Progressão de idade Distorção do tempo Alucinações positivas/ negativas Amnésia Hipermnésia Atividade ideossensória/ ideomotora Sugestão pós-hipnótica Quando você coloca uma pessoa em transe, observará al­ guns comentários, ao final do transe, sobre as percepções expe- rienciadas pelo sujeito. Elas são variadas; podem aparecer algu­ mas ou até muitas das que descreverei a seguir. Não necessaria­ mente aparecem as mesmas quando se entra em transe novamen­ te. Você pode ver que o mesmo sujeito, numa indução, falará que teve amnésia e analgesia e pode ser que numa outra sessão ele te­ nha hipermnésia e não tenha analgesia. O importante é que os fenômenos hipnóticos sempre apa­ recem quando a pessoa está em transe. É nossa garantia, quando principiantes, de que o nosso cliente entrou em transe. Os fenômenos hipnóticos aparecem desde o transe leve até o profundo, independentemente do nível de transe. As vezes, a pessoa está num transe leve e desenvolve amnésia. Em outras, a mesma pessoa pode entrar num transe profundo e ter apenas amnésia parcial. Por isso, fique atento, nem sempre se segue à risca as escalas de transe. Rapport É o estabelecimento da aliança terapêutica. O seu cliente, para o seguir em seu pedido de indução, precisa confiar em você Quando você tem um amigo e ele lhe chama para ir a algum lu­ gar que você desconhece, você vai por confiar nele. Isto acontece através do estabelecimento do rapport. Quando este se estabelece, o sujeito tende a não prestar atenção a situações do ambiente e a estímulos externos, para responder somente à pessoa que conduz a hipnose. 1111 »i u>tc*rapia Ericksoniana Passo a Passo 57 < (tlnlepsia l;. a sensação de ficar imobilizado, mais pesado e sem von- l.n Ic de se mover. E um estado particular de tonicidade muscu- l.u , no qual o sujeito fica fixo numa posição por um período inde- Imido de tempo. Você pode colocar o braço do sujeito erguido e cie mantém esta posição. A catalepsia acontece em todos os ní­ veis de transe. I hssociação É a capacidade de dissociar a mente consciente da mente Inconsciente. Ficar absorvido nos aspectos da indução que é feita r iio mesmo tempo experienciar as mais variadas sensações, sen- llmentos e pensamentos. E como se fossem dois de você mesmo. Um é capaz de seguir o que é pedido pelo hipnotizador, e o ou- lio está vivendo uma realidade vinda do seu interior. A nalgesia É o formigamento do corpo. Você o sente, mas não sente ilor Como em alguns tipos de anestesia. Há pacientes que sen­ tem analgesia desde o transe leve. E possível até mesmo fazer ci- l tirgias quando se desenvolve este fenômeno de transe. A nestesia É a sensação de não sentir uma parte definida do seu cor­ po Por exemplo, há pacientes que não sentem as mãos, ou as . m.ios e os braços, outros, as pernas. Além de você não sentir dor, Você também perde a noção daquele membro do corpo. É um excelente fenômeno que pode ser desenvolvido para cirurgias. Krgressão de idade A regressão de idade é também um fenômeno natural do Inmse. Ele pode ser induzido ou pode aparecer espontaneamen­ te S,io memórias, pensamentos, imagens, num nível de recorda­ 58 Sofia M. F. Bauer ção, ou pode aparecer como uma revivificação, em que a pessoa fala e age como se fosse uma criança, ou se tivesse a idade deter­ minada daquele fato. É sempre bom lembrar que não temos como provar se é algo real, ou se é uma realidade construída em cima de aprendi­ zados da vida. Mas o que realmente importa é a realidade vivi­ da e sentida do seu cliente. Por isso, aceite, respeite e trabalhe tudo o que o inconsciente sabiamente amigo trouxer como mate­ rial exclusivo e como o tesouro do seu cliente. Aqui entram as regressões a vidas passadas. Se existem, se é verdade, todos nós teremos certeza quando passarmos desta vida. Mas o que im­ porta é o respeito ao material trazido pelo cliente. Utilize-o, ele é o reservatório das potencialidades, das dicas que o inconsciente lhe dá. Não tenha pré-conceitos. Progressão de idade Do mesmo modo que ocorre a regressão, há também o fe­ nômeno de progressão. A pessoa pode se ver no futuro realizan­ do as coisas que deseja e necessita fazer, ou até mesmo suas obs­ truções. Utilize-se desta técnica/ fenômeno com os pacientes an­ siosos. Por si só eles já fazem uso dela diariamente em suas "pré- ocupações". Você usa uma ferramenta que é comum a eles e faci­ lita a ressignificação, o que é positivo para o cliente seguir à fren­ te. Distorção do tempo Quando você está em transe, ocorre uma modificação tem­ poral. Seu tempo interno pode variar em relação ao tempo crono­ lógico do relógio. Lembre-se de que o inconsciente não é analítico e lógico. Por isso, às vezes uma longa indução pode parecer du­ rar apenas cinco minutos ou vice-versa. É parecido com o que nos acontece na vida cotidiana, vemos um bom filme e parece que ele passou depressa demais. Em compensação, ao ouvir o discurso de um político, talvez pareça ter durado horas e fora apenas meia hora. Quando o sujeito então lhe disser que foi tão rápido, ou que pareceu ter durado horas, ele estava desenvolven­ do este fenômeno do transe. I lipnoterapia Ericksoniana Passo a Passo 59 Alucinações positivas e negativas Consideram-se alucinações positivas aqueles aspectos •.cnsórios de percepção dos cinco sentidos que aparecem du­ rante o transe. Por exemplo: visualização de imagens, ouvir al­ gum tipo de som que não está presente, sentir alguma sensa­ t o física diferente. Tudo aquilo que é incluído e que na reali­ dade não existia. As alucinações negativas ocorrem pela retirada de sensa- >es e percepções. Por exemplo: não ouvir uma campainha que loca, um som; não sentir uma parte do corpo; não ver algo que fui encontra ali. Ocorrem em todos os níveis de transe. Amnésia É um fenômeno que pode acontecer parcial ou totalmente. A amnésia é parcial quando você se lembra de partes do Ir,inse. Mais comum no transe leve e médio. Amnésia total ocorre quando a pessoa não se lembra de nada que aconteceu durante o transe. Ela é comum no transe profundo e sonambúlico. I lipermnésia E a capacidade de relembrar aguçadamente uma situação específica. A lividades ideomotoras e ideossensórias Estão ligadas à capacidade do sujeito de responder auto­ maticamente através de sinais ideomotores (sinalização com de­ dos, mãos, ou levitação e a capacidade de escrita automática) ou tdcossensórios (percepção sensória associada a uma idéia). 1>i igestão pós-hipnótica A sugestão pós-hipnótica é um ate que acontece após o su- jrlto “acordar" de um transe, em resposta às sugestões dadas du- i iinte o estado de transe, com execução de algo pedido a partir de <>() Sofia M. F. Bauer um "gatilho" dado num transe anterior. Assim sendo, o sujeito hipnotizado recebe uma instrução, durante um primeiro transe, que, de acordo com uma dica determinada (ao acordar, ao abrir a janela etc.), ele entrará num estado de transe mínimo (cons­ ciência alterada), em que executará a sugestão pedida. Este tran­ se pós-hipnótico, em geral, é de duração breve. O tempo de exe­ cutar o ato sugerido. No caso de se pedir como sugestão pós- hipnótica que o sujeito fique sem dor por horas, este transe não será breve. Necessitará de longa duração para sua execução. Mas geralmente são pequenas sugestões que serão executadas na vida cotidiana do sujeito, que lhe podem ajudar na mudança de nuances, necessária à sua melhora. Exemplo: "... Hoje, ao di­ rigir seu carro, abra o teto solar, respire fundo, olhe o céu azul e sinta como seu peito se abre para uma nova inspiração." Esta foi uma sugestão pós-hipnótica dada a um paciente asmático. Dias depois o mesmo paciente relatou a delícia que era abrir o teto solar e respirar fundo e livremente. A sugestão pós-hipnótica é mais eficaz quando feita em transe profundo e com amnésia. Tem um efeito mais poderoso, mas não quer dizer que não possamos usá-la para os diversos ní­ veis de transe, ou num sujeito com amnésia parcial. Um ponto que aumenta a eficácia deste fenômeno é o rapport. Por isto, se ti­ ver um bom rapport, não importa o grau de profundidade e a am­ nésia, a sugestão pós-hipnótica funcionará. Use este fenômeno para dar as sugestões diretas, mas no fi­ nal do transe, que é quando já se está num nível mais profundo, em que ocorre amnésia, e temos a certeza de termos desenvolvi­ do um bom rapport. Esse tipo de sugestão é usado para dor, parto, corrida de atletas, ansiedade e tudo o mais que se deseje, e tem uma efetivi­ dade poderosa. É considerada um fenômeno hipnótico porque só ocorre durante um transe caracterizado por certa catalepsia, dissocia­ ção, amnésia, olhos focados e certa dilatação das pupilas (mi- dríase). Resta dizer que os fenômenos hipnóticos fazem parte da nossa vida cotidiana. Todos eles. Assim, você é capaz de ter am­ nésia do número do seu telefone, se se distrair um pouco. Você I lipnoterapia Ericksoniana Passo a Passo 61 pode ter uma hipermnésia de um fato ou uma dissociação en­ quanto dirige um carro; seu consciente se distrai com uma preo- i upação ou pensamento feliz e o seu inconsciente continua auto­ maticamente dirigindo o carro para você; você anda quarteirões e ■todá conta de que o fez de uma forma "até segura". Por isso, entrar em transe é algo comum a todos. Nós o fa- / i í i i o s diariamente, várias vezes ao dia. Qualquer pessoa pode mirar em transe; resta saber se o terapeuta está habilitado para nri um bom serralheiro e providenciar a chave certa da confiança t| uc abra o seu inconsciente. Para finalizar este capítulo, Erickson faz uma nota especial: "Deve-se reconhecer que uma descrição, não importa quão apurada ou completa, não substituirá a expe­ riência atual, e nem tampouco pode ser aplicada a todo sujeito. Qualquer descrição de um transe pro­ fundo deve necessariamente variar em pequenos de­ talhes de um sujeito para outro. Não há uma lista ab­ soluta de fenômenos hipnóticos que pertençam a um nível hipnótico. Alguns sujeitos desenvolvem fenô­ menos hipnóticos no transe leve associados ao transe profundo e outros mostram fenômenos de transe leve no transe profundo. Exemplo: pessoas que de­ senvolvem amnésia em transe leve e que falham em desenvolvê-la em transe profundo" (Rossi, 1980, pp. 144-145). "O transe profundo é aquele nível de hipnose que permite ao sujeito funcionar adequadamente e dire­ tamente no nível inconsciente sem interferência da mente consciente" (Rossi, 1980, p. 146). "O transe terapêutico é um processo em que os limi­ tes e o enquadramento referencial de alguém estão temporariamente alterados e assim pode ser recepti­ vo a padrões de associação e modos de funcionamen­ to que conduzam à solução do problema" (Erickson e Rossi, 1979, p. 3). Sofia M. F. Bauer Conta-se que uma vez um professor de ciências humanas foi bus­ car supervisão com um didata do conhecimento. O mestre o escutou atentamente enquanto fazia a análise da demanda do aluno. Após um tempo disse: — Você parece cansado, teve um dia longo de trabalho, veio de um lugar distante, deixe-me primeiro servir-lhe um chá. O mestre trouxe a chaleira, serviu o chá numa xícara e o chá co­ meçou a transbordar para o pires, mas ele continuou despejando o chá. Então o pires também ficou cheio e, apenas uma gota a mais, o chá co­ meçaria a escorrer pelo chão. O aluno então disse: — Pare! O que você está fazendo? Não vê que a xícara e o pires estão cheios? O mestre calmamente respondeu: — Esta é exatamente a situação em que você se encontra. Sua mente está tão cheia que mesmo que eu pudesse responder às suas perguntas você não as escutaria. Para que o que eu tenho a lhe dizer produza um efeito, você primeiro deve esvaziar a sua mente. Crie um espaço dentro de você. Com uma postura arrogan­ te, nada do que eu disser florescerá. A postura é de receptividade e é por isso que se diz: "Existem coisas que você sabe. Existem coisas que você não sabe Também existem coisas que você não sabe que sabe. O dia em que você souber aquilo que você não sabe que sabe, você será realmente você." Capítulo 3 O modelo da hipnoterapia ericksoniana I . / lipnose clássica Esta é a hipnose que vem do século passado, em que há um hipnotizador que faz a indução por métodos tradicionais. Segue- nc um ritual rápido ou demorado, mas algo bem convencional e |.t preestabelecido. São as técnicas difundidas em manuais, as utilizadas por hipnotizadores de palco e pelos mais tradicionalistas. Não tenho Miida contra estas técnicas; são úteis e de fácil acesso. O que vemos (' o progresso das coisas, a evolução para técnicas que podem se mlitquar mais a uma ou outra pessoa. O que não quer dizer que uma pessoa que aplica hipnose mais naturalista não venha a se nlili/ .ar de uma técnica mais standard e tradicional. E, às vezes, min um efeito até melhor, dependendo do seu sujeito hipnótico. André M. Weitzenhoffer faz uma crítica aos ericksonianos por fazerem esta distinção. Aqui vale dizer que estamos apenas fazendo uma distinção didática e não uma crítica à utilização dfste tipo de hipnose. Sempre tenha bom senso e aprenda tudo o t| tie lhe for útil. O professor Malomar uma vez disse, enquanto aprendíamos as várias modalidades de colocar al­ guém em transe: "Aprenda todas as técnicas que pu­ der aprender porque, se acaso algum dia você não Sofia M. F. Bauer estiver inspirado para tocar seu instrumento, você poderá tocá-lo com o máximo de técnica, como se es­ tivesse inspiradíssimo." Assim, por hipnose clássica poderíamos entender a indu­ ção de transe formal associada às sugestões diretas. Para que a sugestão direta, em relação ao problema do su- j jeito, seja efetiva, é necessária a profundidade do transe. Em vir­ tude das resistências naturais da mente consciente, torna-se ne- l cessário que o sujeito esteja num nível mais profundo de transe. A sugestão direta não é tão eficaz como a sugestão indire­ ta, a qual pode eliminar algumas das resistências naturais do su- 1 jeito. Nesta, a profundidade do transe não é um requisito funda- i mental. Por vias indiretas, sugestiona-se sem a "obrigação" de ter que seguir determinado caminho. 2. Hipnose naturalista — a hipnose de Milton H. Erickson ■ Método de hipnose criado por Milton H. Erickson que con- I siste em fazer um tipo exclusivo de transe para cada cliente. Mes- i mo que seguindo uma forma de indução padronizada, fazendo-o fl ficar ao molde (tailoring) do seu cliente, de acordo com um crité- fl rio de avaliação de como cada pessoa é, como cria seu sintoma, i como é sua resistência, e assim por diante. Veja o Diamante de 1 Erickson, um metamodelo de hipnoterapia. É um método baseado numa linguagem de fácil acesso a cada cliente. A linguagem dele mesmo, através de sugestões indi­ retas, mas não só e exclusivamente estas, podendo se utilizar das sugestões diretas na construção de um transe mais maleável e na­ tural a cada pessoa. Baseia-se em utilizar coisas do próprio cliente para colocá-, lo em transe, e não em induzir um transe formal ou colocar uma fita de indução impessoal. O transe é visto como uma experiência natural a todas as pessoas. O terapeuta, então, captura a atenção do cliente através de aspectos de interesse deste e com a sua lira guagem característica. A espontaneidade é parte fundamental para aceitar o que o cliente traz, até mesmo a resistência, e se uti-j lizar deste material para ir passo a passo para dentro do cliente, I lipnoterapia Ericksoniana Passo a Passo 65 i i t| iie naturalmente nos impede de ter uma metodologia muito lormal. Podemos também entender como transe naturalista o tipo 11'' Ir.inse feito por Erickson, desde 1943, que era oposto às indu- i,i m", formais. Ele fazia um tipo de sinergismo, ou princípio de se- im lhanças, como na homeopatia. Dava o mesmo do mesmo para encontrar uma nova saída. Assim ele aceitava e utilizava a situa- .up em que se encontrava o sujeito. O comportamento presente hr tornava o remédio definitivo e parte da indução, já que a indu- 1,(111 lormal, nestes casos, não produzia resposta favorável. Posso pII.ir um exemplo de um homem de 30 anos, bom sujeito hipnóti- iii. que procurou por Erickson porque, ao fazer um tratamento ilenlário, no qual ele requisitou indução hipnótica para anestesia, nAn obteve o resultado desejado. Este rapaz conseguia anestesia ilo braço, mas simultaneamente hiperestesia da boca (uma dor liiMiportável). Erickson usou do sinergismo, pedindo que o braço docsse muito e conseqüentemente, sem qualquer sugestão direta, Niiii boca ficou anestesiada. Você, então, pode observar que ele «tíbia e se utilizava das induções formais de uma forma que en- I i . i v. i pela natureza específica daquele sujeito. Chegamos à con- i Iiin.ío de que, de acordo com as palavras de Erickson: "A terapia é única para um único cliente, construída para as necessidades e situações daquele sujeito" (Erickson, 1980, vol. 1, p. 15). Terapia naturalista => A natureza de o sujeito utilizar o que o paciente traz. "A forma calculadamente vaga de algumas instru­ ções força a mente inconsciente a assumir a respon­ sabilidade pelo seu próprio comportamento" (Erick­ son, 1980, vol. 4, p. 102). Chave => serralheiro => acesso Erickson foi pioneiro em usar a comunicação, especialmen- ii comunicação indireta, que elicia e potencializa os recursos rnos de cada pessoa. (><> Sofia M. F. Bauer "A indução e a manutenção do transe servem para promover um estado psicológico especial, no qual os pacientes podem reassociar e reconhecer suas com­ plexidades interiores e utilizar suas próprias capaci­ dades em manejá-las de acordo com sua experiência de vida" (Milton H. Erickson, The collect papers, 1980, vol. 4, p. 38). Como se vê acima, Erickson trabalha para colocar seu pa­ ciente conduzindo a sua própria cura, utilizando as idiossincra­ sias do paciente e sugestionando-o através delas a buscar os seus recursos também idiossincráticos. A terapia evolui de den­ tro do paciente. As inúmeras associações estimuladas pelas téc­ nicas de indireção guiam sempre a um comportamento com mais efetividade para a cura. E, como resultado, as mudanças ocorridas serão mérito do paciente e não do terapeuta. Isto esti­ mula a confiança e o crescimento do paciente que busca a ajuda e percebe que a ajuda já está dentro dele, e que aquilo que ele pensou que fosse resistência, preguiça, desânimo, etc., pode ser o caminho para a cura e o bem-estar. É positivar, ressignificar aquilo que era visto como negativo. Há sempre dois lados em uma moeda. Lembremos que o sucesso da terapia está diretamente li­ gado ao grau de responsividade do paciente às mínimas pistas sugeridas. Vá devagar, principalmente com os pacientes resis­ tentes. Não tenha pressa em curá-lo. Pense em dar um passo de cada vez, de acordo com o passo que o cliente pode dar. Isto é, uma maneira natural de agir. Exemplo: se o seu paciente é cooperativo, ao você respirar de modo profundo ele também respira; se você fecha os olhos, ele fecha também. Vá em frente. Caso ele pergunte muito, queira saber muito, responda já com voz adequada ao transe, mais lenta e com linguagem própria para permear responsividade, linguagem permissiva, passan­ do ao seu paciente a confiança necessária a dar um pequeno passo. Quem sabe, primeiro a um relaxamento e não a um tran­ se? Você pode trocar estes termos como uma forma de dar mais segurança ao seu cliente. Desta maneira, o terapeuta () objetivo da hipnoterapia ericksoniana I llpuoterapia Ericksoniana Passo a Passo 67 i i ii I soniano segue utilizando os passos dados pelo cliente para Hiil.i Io, oferecendo modificações leves e pequenas que estabele- i em um movimento novo. A cada novo passo o cliente pode evo­ luir espontaneamente, sendo o mérito do próprio cliente. Essa é ,i responsividade às mínimas pistas que, depois de se eliciar a innperatividade, acontece. Erickson usava de estratégias indi- l el . i s, às vezes, diretas, entalhadas de acordo com cada cliente, lillli/ .mdo e acessando os recursos internos do indivíduo. Para Ihnd I rickson usava valores, linguagem, idiossincrasias, sinto- m.r. e até a própria resistência do seu cliente. Use o que o pa- i leiile traz! Podemos considerar a hipnoterapia naturalista uma ferra- nii iii.i de trabalho que faz o sujeito experienciar e eliciar seus re­ cursos internos como o caminho para a cura de seus problemas. O postulado básico desta abordagem é que há uma mente lii>oiisciente que pode ser acessada e mobilizada para produzir rtll vío psicológico, liberando material recalcado, fazendo mudan- (rt» importantes na resolução de problemas. Sabendo-se que a inriile inconsciente é a parte sábia, expert nos problemas indivi­ duais. As técnicas indiretas eliciam com mais facilidade as forças rtili irmecidas dentro do paciente. O paciente se torna o agente ati­ vo 11a cura. Portanto, o objetivo da hipnose naturalista é trazer à luim a natureza do sujeito para curá-lo. A terapia de Erickson se baseia em 3 Ms e 2 Rs: Motivar é essencial. A vontade de mudar é 50% do cami- lllio Você pode ajudar a aumentar a motivação do cliente através ,le um bom rapport, aceitando até mesmo a resistência. O cliente em motivação quer mudar e se torna presença ativa em sua | piellior,i. Dependendo do ganho secundário, você pode ter traba- ..i em efetuar a ativação da motivação, mas é possível; desde tle ,i pessoa esteja procurando sua ajuda, supõe-se que alguma Motivar Metaforizar Mover Responsividade Recursos Sofia M. F. Bauer motivação já acontece. Trabalhe como um bom serralheiro e en­ contre a chave que abre as possibilidades para uma vida nova e saudável. Metaforizar é o meio de ser indireto, de falar a língua do cliente. É atingir seu cliente nos dois níveis de consciência, con­ tando estórias, piadas, casos. As metáforas são como pontes no tratamento que viabilizam uma ressignificação e uma saída para os problemas; o cliente vai embora e leva algo (um recado) feito sob medida para ele. Mover é promover mudanças na direção desejada pelo cliente. Através de uma terapia estratégica, prescrevendo tare­ fas, usando das resistências ou dos próprios sintomas, utilizan­ do o que o cliente traz, caminha-se na direção da cura. O traba­ lho é para que o movimento de mudança venha de dentro. Ver mais à frente, no caso do pânico, a metáfora da borboleta. Ela é um bom exemplo de como as mudanças são recursos que o cliente já tem (sabe) e passa a utilizar para efetuar sua mudança. A lagarta, depois de um período de metamorfose, torna-se uma linda borboleta. Erickson trabalha em 2 Rs. A responsividade, responder às mínimas pistas. Ele só dava um passo de acordo com o tamanho do passo do seu cliente. Não exagerava na carga. Um exemplo é o caso do rapaz que o procurou porque, para urinar, necessitava de um tubo de 20 cm. Erickson não retirou o tubo de cara. Pri­ meiro aumentou o tamanho para 30 cm. Se foi possível aumentar, poderia diminuir aos poucos. Foi o que fez, foi diminuindo para 25, 20,15, 10, até ele somente usar os seus centímetros naturais. O segundo R é dos recursos. Você deve lembrar que todo mundo tem sua riqueza interior, é a ela que será dirigida sua ressignifi­ cação. Bom trabalho! 3. A indução naturalista Jeffrey K. Zeig é um grande mestre das abordagens erick- sonianas. O que você verá, até o final do capítulo 3, é um resumo de sua maravilhosa obra destinada a ensinar os terapeutas a se­ rem ericksonianos sem ser Milton H. Erickson. I lipnoterapia Ericksoniana Passo a Passo 69 Aconselho a todos, quando tiverem oportunidade, assisti- irin ,ios cursos ministrados por Zeig, para aprender com ele, 111.11. profundamente, o que vou colocar aqui com minhas pala- VltlS O que aprendi com ele gostaria de passar para vocês agora. I .iquela história... a montagem de um roteiro, sem ter um rotei- iii l; Zeig é um excelente professor nisto. Ele foi capaz de mon- l,n uma teoria que dará a você o molde do terno, para você adap- 1.11 ,i qualquer peso e medida. li por isso que todo este capítulo é dedicado a tais explica- t,i m", líspero que você aproveite como eu aproveitei, e que gere imii você a curiosidade de conhecer o trabalho, os cursos e os li- VIns do Zeig. Muitas pessoas criticam autores que ensinam o bá- 'ih o, dizendo que são fracos. O que é importante é quê alguém lenha coragem de ensinar o básico, o alfabeto, para aqueles que quorem aprender a ler. A base da casa precisa ser sólida, para que construções mirabolantes venham por cima. Acho que Zeig é quem nos dá tal fundamentação. Este é um livro básico para fun- d.imentar os alicerces daquele que quer se aprofundar na hipno- In.ipia, em que cabe apenas o fundamental. Lembre-se sempre, (niihecer as teorias psicológicas é uma condição importante no li.ikilho terapêutico. Aqui, nos dedicamos à aplicação da indu- çflo naturalista. Aproveite o que posso lhe passar do caminho findo por Zeig. De acordo com Jeffrey K. Zeig, a indução de um transe te- hipeutico pode ser dividida em três fases: absorção, ratificação e i'lh inção. 4, Roteiro de indução simplificado Você pode fechar seus olhos... Ahsorção Você pode respirar profundamente... Você pode ir para dentro de você mesmo... Você pode explorar aí dentro... Aos poucos você pode descobrir padrões de conforto... 70 Sofia M. F. Bauer Eu não sei bem onde o conforto é mais interessante. Talvez você possa... apreciar o conforto... nos seus pés... Talvez você possa... apreciar o conforto... nas suas pernas... Talvez você possa... apreciar o bem-estar... em alguma par­ te especial do seu corpo... E você pode não perceber todas as formas de conforto que podem ser desenvolvidas, mas a sua mente inconsciente pode ajudar você... a apreciar as mudanças que vão ocorrendo... Ratificação Enquanto eu estive falando com você... seu ritmo respirató­ rio mudou... sua pulsação se alterou... se acalmando... seu reflexo de engolir mudou... seus movimentos motores se alteraram... sua face está mais soltamente acomodada... (Mude de acordo com aquilo que você está observando da constelação hipnótica no seu cliente.) Eliciação Agora você pode aproveitar esta sensação gostosa de con­ forto e se aprofundar no seu bem-estar... sentindo... percebendo... calmamente sensações... sentimentos... que vão surgindo e po­ dendo ser apreciados... Que coisa boa é poder se sentir diferente­ mente à vontade... Curta isso por alguns momentos... Término e reorientação Assim, agora, você pode respirar profundamente e ir se reorientando aqui para a sala novamente... bem alerta e desper­ to... desfrutando deste novo padrão de conforto. Este é um roteiro simplificado, um modelo de Jeffrey K. Zeig de como montar uma indução. Você será criativo, acrescen­ tando a linguagem do cliente, acrescentando palavras como "muito bem", ou sorrindo enquanto fala, ou mudando a entona­ ção da fala. Há inúmeras modificações que podem ser introduzi­ das em todas as fases. Por isso veremos cada uma delas em sepa­ rado. A linguagem que pode ser usada, as técnicas etc. I llpnolerapia Ericksoniana Passo a Passo 71 Al»Horção Por absorção entende-se a fase inicial da indução, necessá- i i i para focalizar a atenção do cliente. Relembrando o conceito de hipnose, a mente consciente fica absorvida em uma sensação, Nriiliinento, percepção ou idéia, enquanto a mente inconsciente eheia fenômenos hipnóticos que levam o sujeito a experienciar "magnífico", diferentemente do estado de vigília. Por isso, iilIIi/ amo-nos de técnicas de absorção para fazer o transe hipnó- llco. De acordo com Zeig, a linguagem utilizada para a indução Irm relevância neste momento por absorver a atenção e focalizá- la tle algum modo. O que precisamos neste estágio é promover a dlmiociação, quando o sujeito sairá do estado de vigília para um e .lailo "alterado" (no bom sentido) de consciência. Existem vários métodos para se fazer absorção: 1. Você pode absorver pela percepção: visual, auditiva, ce- Iteslesica, interna, externa. Pela percepção visual, podemos citar a técnica de fixação em um ponto, quando externa. Quando interna, visualizações inentais de uma imagem, lugar ou cor. Pela percepção auditiva, fazendo o cliente perceber os sons tli>ambiente, ou através de música. Pela percepção cenestésica, fazendo-o perceber suas sensa- Çftes físicas, tônus muscular, calor, temperatura, conforto etc. E você pode misturar um pouco de cada percepção (vi- tmal, auditiva, cenestésica), dando preferência em começar por .i<111<•Ia que é predominante para o seu sujeito hipnótico. O mesmo em relação a focalizar sua atenção ao meio externo, ou Í 0 seu mundo interno, conforme o critério de avaliação que Veremos à frente. 2. Você pode absorver descrevendo detalhes. Este método nm aste em descrever minuciosamente detalhes de coisas (focali- de um ponto), sensações (nas percepções visuais, cenestési- INH e auditivas) e idéias, de forma a enfocar a atenção do sujeito. 72 Sofia M. F. Bauer 3. Através de possibilidades. Uma forma de colocar em pala­ vras muitas possibilidades, mas em todas estará implícita a idéia de que você entrará em transe. Exemplo: Talvez você possa en­ trar em transe sentindo seu corpo acomodado ao sofá... ou talvez você possa ouvir os pássaros cantando lá fora... ou talvez você possa apreciar, sentir sua respiração... enquanto encontra a sua maneira de entrar em transe. 4. Usando métodos não-verbais. A sua forma de olhar para o chão, de se posicionar confortavelmente em sua cadeira, ou ins­ pirando profunda e confortavelmente. 5. Você pode absorver usando a dissociação. E uma forma de usar a linguagem dissociando parte da conversa para a mente consciente, parte para a mente inconsciente. Mostrarei logo à frente as técnicas para fazê-lo. 6. Você pode absorver através de um determinado fenôme­ no hipnótico. Temos como exemplo a levitação das mãos, a hi- permnésia na lembrança de uma memória, etc. E para fazê-lo, Zeig dá as direções através de técnicas de lin­ guagem para a montagem da absorção. São elas: Truísmos Yes set — Conjunto de Sins/ No set — Conjunto de Nãos Pressuposições Injunções simbólicas Dissociação mente consciente/ mente inconsciente Comando embutido Possibilidades Citações Causalidade implícita Imagens e fantasias Descreverei cada uma destas técnicas a seguir: I lipnoterapia Ericksoniana Passo a Passo 73 Truísmos — são verdades incontestáveis que ajudam a ab- mtrvor a atenção do cliente. Se ele for uma pessoa mais externa, i >unoce com detalhes externos. Caso ele seja uma pessoa mais in- Irns.i, mais dada aos seus sentimentos, comece por truísmos in- lt«rnos. Exemplos externos: Você pode ir ouvindo os barulhos que vêm da rua. Você pode observar cada detalhe do ponto que está fo- i (indo. Você pode sentir o sofá no qual está sentado. São exemplos internos: Você pode sentir como sua respiração acontece agora, em vocô... Você pode perceber a tensão do seu corpo... Você pode perceber cada lágrima que corre como algo que V«'in de dentro de você... Yes set — é o conjunto de três truísmos, que são significati- Vi»*, com uma afirmativa para entrar em transe. É como se a pes- i,i losse falando sim a cada afirmativa colocada. Depois de três «iI i i inativas, você faz uma pressuposição de algo que você deseja ii.ir para absorvê-la no transe. Ex.: Você pode perceber seu corpo confortavelmente recos- lin In no sofá... (1) Você pode perceber seus pés apoiados ao chão... (2) Você pode perceber sua cabeça também apoiada... (3) E desta maneira "apoiar" agora seus pensamentos confor- IrtvHmente (a verdade pressuposta). (4) O número 4 não é um truísmo, mas a pessoa já vem dizen­ do Him a cada passo, que acaba por seguir o mesmo movimento e ftt* guia através destas novas palavras pela "lei da inércia". I Sofia M. F. Bauer Você pode utilizar o yes set misturando visual, auditivo e cenestésico, ou fazê-lo em separado, de acordo com a preferência sua e de seu cliente. Você pode usar o yes set guiando todo o transe. Começan­ do por fechar os olhos, sentar-se confortavelmente, respirar pro­ funda e calmamente, relaxar o corpo e a mente, experienciar con­ forto. Seja criativo, utilize as verdades incontestáveis que estão aí ao nosso alcance. Há também o no set, que segue o mesmo princípio e é utili­ zado principalmente para pessoas dominantes, que gostam de comandar seu próprio transe. No set — é um conjunto de nãos, como você faz o conjunto de sins. Ex.: Eu não sei o que você está sentindo agora... Eu não sei o que você está ouvindo agora... Talvez o som do ar-condicionado, ou dos pássaros... Eu também não sei o que você está pensando agora... Mas o que eu sei é que você pode sentir, ouvir e pensar al­ guma coisa que lhe faça muito bem agora... Pressuposições — o nome já diz que através de uma forma de linguagem você vai pressupor que alguma coisa acontecerá. Exemplos: Eu não sei dizer qual será a profundidade do seu transe. Ou talvez você possa entrar em transe sentindo o conforto do sofá... Eu não sei dizer quando você se sentirá mais confortavel­ mente relaxado... As pressuposições serão criadas através daquilo que você deseja que o cliente faça (relaxar/ respirar/ imaginar). Injunções simbólicas — são mensagens implícitas usando provérbios e expressões idiomáticas. Exemplo: Abra os seus olhos internos... Respire aliviado... Dissociação mente consciente e mente inconsciente — é uma forma de linguagem que manda uma fala (ordem) à mente I lipnoterapia Ericksoniana Passo a Passo 75 ■misciente e, em seguida, uma outra fala complementar à mente Inconsciente, com mudança na entonação de voz (mais suave), <I»i.mdo se dirige à segunda. O paciente fica dividido e se distrai, iilein de mandar-se uma metamensagem. Esta é uma forma im­ portante de indução do transe. Utilize-a entremeadamente du- i iinle a indução. Você faz de acordo com este esquema: Sua mente consciente pode_________________ , enquanto sua mente inconsciente pode______________ , porque _______________ . Exemplo: Sua mente consciente pode ouvir estas palavras, enquanto mi.i mente inconsciente pode ouvir as coisas que vêm lá de dentro de l'iii (', porque lá dentro está a sua sabedoria. Você pode fazer a dissociação sem colocar o porquê. Fica Hiiil'1 eficaz ao se aliar um porquê qualquer. Isto dá uma garantia ile vantagem para a pessoa acreditar mais na mente inconsciente. A voz muda de entonação para um tom mais suave ao se dli igir a mente inconsciente. Comando embutido — esta forma de linguagem sugere e ih di-na algo em especial, de uma maneira indireta, embutido num questionamento ou numa afirmação. Exemplo: Eu estou me | M'ic.untando se, ao respirar profundamente, você não vai sentir inihn e gostoso ter um fôlego novo que abre o peito... Enquanto VinC* vai soltando o seu corpo no sofá, vai se permitindo soltar llia mente calmamente. Possibilidades — utilizando as muitas possibilidades de ab- ■Hl Vei a atenção do cliente em detalhes, sensações, sentimentos, ld.tl.IN Talvez você possa sentir seus pés... Talvez você possa sen- lli mm corpo se suavizando... ou talvez você possa perceber sua p l u v .e soltando...se suavizando. I ilações — são relatos ou citações de situações ou fala de uem líxemplo: "Eu tive um cliente que, ao me ver respirar 7 f) Sofia M. F. Bauer profundamente, já fechava seus olhos e entrava em transe". "Um professor meu dizia: quando a gente fecha os olhos, respira pro- I undamente, um novo fôlego sempre vem acompanhado de uma nova inspiração." Causalidade implícita — usando das pressuposições com advérbios específicos. "À medida que você inspira profunda­ mente, se permite abrir um novo espaço." "Se você pode soltar seu corpo no sofá, então pode soltar outras partes suas." "Quando você fecha os olhos para fora, então pode abrir seus olhos internos, os olhos da mente." Imagens e fantasias — você descreve imagens, paisagens, fantasias com detalhes que absorvem a atenção do sujeito. Assim, utilizando-se de uma linguagem variada, pode fa­ zer o sujeito perceber o mundo e o seu mundo interno e se absor­ ver em algum ponto específico. Você fará com que a pessoa fique imersa em detalhes e possibilidades de ter uma sensação, uma percepção, uma fantasia, uma memória, um fenômeno hipnótico, ou formas combinadas destes. Ratificação Ratificar significa dar ao cliente um feedback daquilo que se observa ao vê-lo entrar em transe, para ele saber que está indo bem, que está conseguindo uma boa resposta na sua tentativa de se colocar em transe. É dizer as mudanças fisiológicas que você vai observando na pessoa. Isto aumenta a confiança e aprofunda o transe. "Se eu estou indo bem, posso continuar caminhando em frente." Você observa e fala ao sujeito sobre as mudanças que você notou. Elas fazem parte da constelação hipnótica: Economia de movimentos — catalepsia Literalismo Demora nas respostas Mudança no reflexo de deglutição Alterações e diminuição do ritmo respiratório e cardíaco I lipnoterapia Ericksoniana Passo a Passo 77 Relaxamento muscular Mudanças nos olhos: Reflexo de piscar Dilatação das pupilas (midríase) Lacrimejamento Desfocalização, olhar vago Movimentos sacádicos (do globo ocular) Decréscimo ou mudança nos movimentos de orientação Perseveração Fasciculação Assimetria direito/ esquerdo Mudanças na circulação periférica Aumento da responsividade Movimentos ideomotores/ ideossensórios As palavras são ditas da seguinte maneira: "... À medida que eu fui falando com você..." ou "... Enquanto eu tenho falado com você... certas mudanças in nrreram... sua respiração mudou, seu ritmo de pulsação se mo- ilihcou... há pequenos movimentos nos seus dedos..." l llciação Eliciar é fazer alguma coisa acontecer. É o momento-chave, •llimdo a terapia acontece. É aqui que vamos trabalhar as mu- (jrtiiças, pois os fenômenos hipnóticos já estão presentes, dando- IVm o acesso mais rápido ao inconsciente. Podemos nos utilizar • 11‘s fenômenos ou de técnicas especiais que veremos logo à In nlr quando falarmos do metamodelo, do diamante de Milton I ili kson. Como eliciar um fenômeno hipnótico, como utilizar o lltiilcrial magnífico do inconsciente e produzir mudanças? É aqui ■tlf vamos introduzir as técnicas de fazer metáforas, utilizar a le- Vlla^.h) das mãos, induzir sonhos, distorcer o tempo, promover Mf.irssão, progressão, amnésia. A terapia ocorre o tempo todo, plA* o processo tem sua fase de elaboração neste ponto. 7H Sofia M. F. Bauer Pacing e leading Dentro da abordagem de Milton H. Erickson, encontramos uma técnica peculiar. Erickson só dava o passo do tamanho que o cliente podia acompanhar. Caso ele desse uma sugestão, um co­ mando um pouco mais arrojado, ao qual o cliente não seguia, ele logo voltava atrás, dando um passo bem pequeno para que o su­ jeito pudesse acompanhar. Pacing pode ser traduzido por acompanhamento passo a passo de pequenas dicas que o cliente lhe dá de que está entran­ do em transe. E você segue. Assim, por exemplo, se você respirar profundamente e o cliente o acompanhar, siga em frente. Você pode pedir que feche os olhos e assim por diante. Você vai dando pequenos passos de absorção e observando se o cliente consegue realizá-los. Observe a responsividade e crie passos que ele possa se­ guir. Você trará confiança à indução e estará fazendo o pacing. O leading é o guiar ao complemento. E aquela frase que, após dar uns passos, você coloca, guiando para uma nova dire­ ção, ressignificando. Podemos dar o seguinte exemplo: Io) Pacing: "Você pode respirar fundo" — espere; se a pes­ soa o fez, continue. 2o) Pacing: "Você pode acomodar-se na cadeira" — espere e veja se a pessoa o fez. 3°) Pacing: "Você pode fechar seus olhos" — se o fez, passe ao "leading". 4") Leading: "Então você pode acomodar seus sentimentos suavemente". 5. Avaliação do paciente para utilização do metamodelo (segundo J effrey K. Zeig) Para se fazer uma psicoterapia sob medida para cada clien­ te é necessário um critério de avaliação. A psicoterapia será mais eficaz se houver um ajuste ao próprio estilo do cliente. Zeig dá o nome de tailoring a este ajuste. Vem de tailor, alfaiate, aquele que I lipnoterapia Ericksoniana Passo a Passo 79 l i .1 roupa sob medida para cada cliente. É uma modelagem da i ml ução e da intervenção para ficar com a forma do cliente. Este ajuste é feito por procedimento técnico criado por / mg Faz-se uma avaliação do cliente, das sinalizações que fi te nos dá, dos recursos que ele tem e de sua forma de expe- i imciar o mundo. Quais são suas lentes perceptuais: sua forma dr .itenção, seu sistema sensorial preferido, sua forma de pro- tw.,i r as informações recebidas, suas características relacio- n.ir., sociais e interpessoais. Nesta avaliação vêem-se também ou pontos de apoio do cliente, seus valores, papéis, atitudes e p.idrão de comportamento. A forma de avaliar é simples. Veremos, a seguir, o quadro li‘llo por Zeig e como podemos utilizá-lo para avaliar nosso •llente: Quadro de avaliação De acordo com Jeffrey K. Zeig: Categorias intrapsíquicas Perceptuais I Interno x Externo ' I õcalizado x Difuso ,T Sistema sensorial preferido (visual, cenestésico ou auditi­ vo) Processamento •I Ampliador x Redutor '' I inear x Mosaico Categorias sócio-relacionais Filho mais velho ou único/ do meio/ mais novo Rural/ Urbano Intrapunitivo x Extrapunitivo Absorvente x Radiante Audacioso x Autoprotetor Em estresse x Em homeostase Dominante (one up) x Submisso (one down) HO Sofia M. F. Bauer Qual a categoria que está em maior desequilíbrio? Vamos examinar item por item a seguir. Categorias de avaliação: perceptuais Nesta categoria, você identifica as lentes com as quais o cliente vê o mundo. Qual é o seu estilo de atenção e sua forma de processar a informação vinda do mundo. São categorias intrapsíquicas. Zeig divide, de acordo com o quadro descrito, em estilo de atenção: Interno X Externo Focalizado X Difuso Sistema sensorial preferido: visual auditivo cenestésico A pessoa com atenção interna é aquela voltada para si mes­ ma, para seus sentimentos e problemas. Voltada para dentro. Descreve mais as coisas internas. Um exemplo típico é o deprimi­ do. Fala de si mesmo, de seus sentimentos, de sua dor. A pessoa externa está com sua atenção voltada para o am­ biente que a rodela. Fala do tempo, dos objetos da sala, da roupa com que veio, de detalhes externos. Os paranóides são pessoas de atenção externa. Prestam atenção a tudo o que está à sua volta. A forma de se fazer a indução para uma pessoa interna di­ fere daquela feita em uma pessoa externa. Você pode dizer para o interno: ...Vá para dentro de você mesmo... olhe lá dentro... (para só depois induzi-lo a perceber as coisas externas)... e assim você até pode perceber minha voz te guiando... os ruídos da sala... e quando quiser pode voltar para dentro de você mesmo... e ir des­ cobrindo uma maneira confortável... Habitualmente devemos seguir a forma de atenção. Se a pessoa for interna, começar pela atenção interna e ir dirigindo esta atenção ao equilíbrio com a externa. Você pode ir dando su­ gestões: I lipnoterapia Ericksoniana Passo a Passo 81 dentro — dentro dentro — fora — dentro dentro — fora — fora Isto, inclusive, ajuda o deprimido a olhar para fora, a ver o inundo com bons olhos. Vá devagar. Observe a linguagem do mmi cliente. Com o cliente externo, você começa a indução observando ns detalhes externos, os sons da sala, o sofá em que ele está, a sua voz e vai colocando-o devagarinho para dentro. "... à medida que você ouve os pássaros cantarem... você pode inspirar profunda­ mente e ir sentindo como você se abre para uma nova perspecti- vn..." Um segundo item é se a atenção é focalizada ou difusa. O <| iio predomina? Há equilíbrio? A pessoa com atenção focalizada mantém o olhar focado, observa com atenção, não consegue pres- lar atenção a duas coisas ao mesmo tempo. Às vezes, pede a você para desligar o ar-condicionado pelo barulho que lhe tira a aten- r.V>. Ela olha atentamente. A pessoa difusa na atenção é capaz de dar notícia de que seu telefone está tocando, ouvir você, olhar para os lados; não fica com o olhar focado. A indução difere para i ada tipo de atenção. A indução para a pessoa focalizada pode ser 11mla absorvendo-a num detalhe determinado: num som, na res­ piração, no relaxamento. Para pessoa difusa você pode focar a atenção variadamente e ela se sentirá confortavelmente em rasa para entrar em transe. Então você pode misturar as focali- / ações. A terceira categoria, de acordo com a atenção, é o sistema sensorial preferido de cada sujeito. As pessoas visuais vão usar verbos, palavras como: olha, viu, observou, veja. Vão citar coisas visuais: a roupa, os objetos à sua volta, o carro de fulano etc. O i li ente com traços paranóides é mais visual. Lembre-se, isto não i| tier dizer que toda pessoa com predominância visual é um pa- r.móide (patologicamente dizendo). As pessoas auditivas dão va- / tío às palavras como: ouça, me soa como, etc. Os obsessivos são mais auditivos. As pessoas táteis ou cenestésicas são aquelas que se expressam por palavras como: sinto, percebi, etc. Os deprimi dos são mais táteis. 82 Sofia M. F. Bauer Nesta categoria sensorial, você pode orientar as palavras e a absorção, começando pela categoria dominante de seu cliente. Se ele é cenestésico (tátil), pela percepção das sensações (relaxar, distender, respirar). Se ele é auditivo, pelos sons à sua volta, ou a música, ou o ritmo de sua voz. Se ele é visual, pelas imagens sen- soriais. E depois vá introduzindo as outras categorias sensoriais. De acordo com a categoria de processamento, teremos: Ampliador X Redutor Linear X Mosaico Neste grupo de categoria de processamento, vemos a for­ ma como a pessoa processa a informação vinda do ambiente. Como o cliente experimenta o mundo? As pessoas ampliadoras processam o que recebem de forma ampla, exagerando em sua maneira de expressar. Exageram no que vêem e no que vivem. Vêem uma coisa pequena e a imagi­ nam enorme. São as pessoas dramáticas. As pessoas redutaras fa­ zem o contrário, reduzindo os dados da realidade externa. São capazes de contar um fato, importantíssimo para elas, da manei­ ra mais sucinta e sem emoção. As pessoas lineares são aquelas organizadas, que vão ao princípio, depois ao meio, e chegam ao final numa linha reta. As pessoas mosaicas são aquelas que, contando um fato, falam do fi­ nal no começo, interrompem o caso, contam outro, depois voltam ao mesmo assunto. O transe deve ser feito de acordo com a forma de proces­ samento de cada um. O transe para a pessoa ampliadora pode ser mais teatralmente dramatizado. No caso da redutora nunca exa­ gere; ela não vai gostar. Para a pessoa linear, faça tudo metodica­ mente devagar e por ordem. Sentar, fechar os olhos, e ir para dentro, respirar, relaxar, soltar a mente. No caso da mosaica, acei­ ta bem até mesmo a confusão mental. Você pode ir daqui para ali, misturando percepções, sentimentos, sensações. Você deve levar em consideração se há um equilíbrio entre as categorias. O ideal é fazer o equilíbrio entre as partes. Se é muito externa, fazê-la ver o lado interno. Se é ampliadora, diminuir I lipnoterapia Ericksoniana Passo a Passo 83 esta categoria para que veja as coisas sem tantos exageros. Se é re- ilulora, ir ampliando aos poucos. Veja qual é a categoria que tem um maior desequilíbrio. I Yocure equilibrá-la, ao trabalhar no transe. Costumo seguir com os meus alunos um conselho dado por Zeig. Pegue cada uma destas categorias e trabalhe com ela durante uma semana, ou um mês, com todos os clientes. Você vai .1 prender a ver se a pessoa é interna ou externa, focalizada ou di- lusa; linear ou mosaica; ampliadora ou redutora; visual, auditiva ou cenestésica. Podemos parar em algum exemplo e examinar um pouco. A pessoa deprimida fica ou está com a atenção voltada para o in- lerno, é mais tátil e amplia o negativo. Por isso, qual seria o nosso modo de intervenção? Entraríamos com uma indução voltando a atenção parado interno. Exemplo: feche seus olhos para fora e abra os seus olhos internos, que podem sentir (o lado tátil) e você poderá perceber que a dor vai se esvaindo a cada, respiração Mi a. . . E poderíamos dizer que a meta é diminuir o desequilíbrio. A pessoa deprimida está com o olhar (a atenção) voltado para o Interno. A meta seria fazê-la olhar para o externo, ver o mundo. Va pontuando devagar, passo a passo, conduzindo. A cada passo ilado pelo cliente, você guia para um novo passo, orientando-o para o externo. Mais tarde veremos, com calma, como fazê-lo. O importante é conseguir transitar entre as categorias, de forma flexível. Não ficar fixado numa categoria de forma irredu­ tível. Por exemplo, voltar a atenção para o interno é ótimo para hc*ler idéias, aprender a se concentrar. Voltar a atenção para o ex- torno é ótimo para lidar com a dor. Você distrai a atenção que osla voltada para o interno. No mesmo exemplo da dor, a aten- ...lo está enfocada no cenestésico; transforme o cenestésico em vi- NU.ll, dando uma cor para a dor e vá mudando esta cor. Você lambém pode trabalhar com a categoria mais flexível como sua aliada na cura. Outro ponto importante é o terapeuta conhecer sua pró­ pria forma de ser. Milton H. Erickson tinha sua atenção externa lo. alizada, era visual, processava os dados de forma mosaica e rtinpliava o positivo. Zeig é interno, de atenção difusa, auditivo; processa os dados de forma linear e amplia o positivo. Você, co­ H>l Sofia M. F. Bauer nhecendo sua forma de ser, pode permear as técnicas, utilizando aquilo que você conhece melhor, até mesmo se equilibrar naquilo em que está irredutível. Categorias de avaliação: sócio-relacionais Categorias sócio-relacionais — interpessoais Filho mais velho ou único/ do meio / mais novo Rural/ Urbano Intrapunitivo x Extrapunitivo Absorvente x Radiante Audacioso x Autoprotetor Em estresse x Em homeostase Dominante (one up) x Submisso (one down) Nesta categoria de avaliação poderemos ver como a pessoa lida com o mundo e com as pessoas que a cercam. Veremos que estas categorias vão guiar a terapia e a hipno­ se, nossa linguagem, os valores importantes para o cliente, as me­ táforas que este utiliza na colocação de suas questões, etc. Para fazer metáforas é bom estar bem treinado em avaliar as categorias, principalmente as sócio-relacionais. Assim, você cria uma estória única para o seu cliente, dentro da avaliação feita para ele. É o tailoring, o ajuste, a história daquele sujeito. Veremos, a seguir, cada uma destas categorias. Filho mais velho ou único, do meio e mais novo Para Milton H. Erickson, a ordem de nascimento na família parece ter influências. Os filhos mais velhos parecem ser mais in­ telectuais, mais responsáveis e protetores, cuidando dos mais no­ vos. Este papel pode ser também o mitificado pela família. Às ve­ zes aquele filho indicado como o protetor da família toma este I lipnoterapia Ericksoniana Passo a Passo 85 lugar. Investigue. O mais comum é o filho mais velho ser o prote­ tor. Profissões que cuidam das pessoas como médico, psicólogo, vêem-se em muitos filhos mais velhos. Os filhos do meio parecem ser os rebeldes; ficam no meio. Outras vezes, são os amigáveis, aprendendo a fazer acordos com os outros. Os filhos mais novos são os protegidos, que demoram mais a crescer, mas são mais obedientes. Na terapia você pode fazer os ajustes que estiverem em desequilíbrio. A tendência do filho mais velho é dar-se, dar proteção e nunca receber. Inicie na linguagem que ele entende: ... você pode tomar conta de si mesmo agora... e receber o bem estar... Para o filho mais novo você faz o inverso: ... e agora, re­ cebendo este tempo que é todo seu... você pode aprender a dar seus primeiros passos... O local de nascimento: rural ou urbano O local de nascimento, onde você passou sua infância, onde você foi criado, influencia profundamente sua forma de ser. Se a pessoa vem do meio rural tende a conhecer melhor os fenômenos da natureza como as quatro estações, fases da lua, agricultura, bichos. Tem uma relação com o tempo mais tranqüi­ la: há tempo para tudo... quando for possível. A pessoa urbana valoriza coisas da cidade como par­ ques, cinemas, eventos da cidade. As crianças urbanas não co­ nhecem uma galinha, se assustam quando a vêem. Uma crian­ ça do meio rural não sabe lidar com jogos de computador, brinca com pipas, etc. Fique atento para fazer os ajustes ade­ quados a cada um. Você não deve contar uma estória de plan­ tas e animais para alguém que não conhece um pouco disto. Veja o mundo que cerca tais pessoas. Monte a estória de acor­ do com o mundo dela. Por exemplo, se eu for montar uma es­ tória para minha filha, que é urbana e filha caçula, vou contar estorinhas que fazem uma menininha se tornar uma moça lin- da, capaz de dar conta de trabalhar e cuidar de seus filhos. 1’osso colocar estórias de contos de fada, porque ela é românti­ Sofia M. F. Bauer ca, mas preciso colocar os valores dela: querer crescer, trabalhar, casar e dar conta de cuidar dos filhos. I ntrapunitiva x extrapunitiva A pessoa intrapunitiva é aquela que tende a colocar a culpa de tudo em si mesma e se martiriza com tais culpas. A extrapuni­ tiva coloca a culpa no outro (é o meu marido, meu patrão, meu trabalho, etc.). Percebemos que a pessoa deprimida costuma se culpar de não dar conta. O paranóico culpa-se de pôr a culpa no outro. O histérico o faz também com freqüência; está sempre pre­ judicado por alguém ou alguma coisa. Mas, lembre-se, não se prenda a diagnóstico patológico. Nós estamos aprendendo a fa­ zer um diagnóstico diferente, que leva à saúde. Você vê como seu cliente está, tira-o da inflexibilidade e mostra o caminho. Assim, se a pessoa está muito intrapunitiva, você mostra a possibilidade de as culpas não serem apenas suas. Faz-se o contrário com a ex­ trapunitiva, pontuando onde ela também tem sua participação e culpa. "Quando um não quer, dois não brigam"... Na hipnose com a pessoa intrapunitiva, você pode dizer, por exemplo, "... sua mente consciente pode cometer erros, en­ quanto sua mente inconsciente pode não estar cometendo er­ ros..." Com a extrapunitiva faça o contrário, trabalhe para que ela veja o que ela faz, o que ela pode fazer, qual o papel dela nesta história. 4 A bsorvente x radiante A pessoa absorvente é aquela que tende a absorver o que vem de fora; idéias, pensamentos, palavras. Absorve a energia social. A pessoa radiante é aquela que emite energia social, idéias, atitudes, e que absorve a atenção do absorvente. Zeig compara com a Lua e o Sol. Um precisa da ajuda e do equilíbrio do outro. Ao radiante você diria ajude-me a ajudar você. Contaria a estória das estrelas. I lipnoterapia Ericksoniana Passo a Passo 87 Ao absorvente você diria: como é bom receber novas idéias que nos fazem emitir o que há de bom dentro de nós mesmos. Pense em fazer o equilíbrio. Uma pessoa muito absorvente c Innida. Precisa aprender a emitir o que tem de bom. Já uma pessoa exageradamente radiante chega a ser metida. Ajude-a a iiprender a receber. Com certeza, ela também precisa receber. Audacioso x autoprotetor A pessoa audaciosa é aquela que corre atrás de suas metas. I uta para conseguir o que quer. Muitas vezes é muito impulsiva. Pura esta pessoa você pode dizer, durante a hipnose: ... "você é fiipaz de conseguir o que desejar... Vá em frente, conquiste ... você sabe o caminho... mas vá com cautela e sabedoria..." A pessoa autoprotetora é aquela que age mais devagar. É ponderada, não arrisca. É preocupada com afastamentos e apro­ ximações, em não fazer as coisas por impulso. Por isso, palavras l>oas na indução seriam: ... "vamos pensar sobre isso devagar... rtn seu tempo/ modo/ ritmo tudo vai se esclarecendo... o incons- •tente, que é seu amigo e protetor, vai lhe revelando o caminho na sua medida...". I in estresse x em homeostase A pessoa em estresse é aquela que gosta de riscos, de se i teu par o tempo todo, de agitar bastante, de procurar esportes ma is estressantes. A pessoa em homeostase é mais calma, busca a harmonia, o equilíbrio. No caso de fazer hipnose para uma pessoa em estresse, Vi nr pode falar mais rápido, incluir coisas agitadas. E para a pes- noa em homeostase você pode fazer um transe via relaxamento, Hitiis calmo. O importante, nesta categoria, é você produzir a homeosta- <tepara quem está em desequilíbrio. Uma pessoa muito agitada timluma entrar em transe profundo quando pára. Para a pessoa Mima, a indução precisa ser calma e mais demorada; ela entra 88 Sofia M. F. Bauer em transe aos poucos. Isto não é regra básica. Apenas minha ob­ servação. Dominante x submisso Podemos falar em posição superior e posição inferior. Sabemos que o comportamento humano é hierarquizado. A pessoa dominante (em posição superior) controla, define, esco­ lhe, indica, induzindo os papéis sociais. A pessoa submissa (em posição inferior) é escolhida, res­ ponde, adapta-se e recebe os papéis que lhe são indicados. Você pode observar, nos primeiros minutos de uma intera­ ção, através de gestos, entonação da voz, postura corporal, pala­ vras, padrões de dominância ou submissão. Uma pessoa dominante não quer ser controlada e tem medo de a hipnose dominá-la. Costuma dizer que não quer fazer hipnose, que ninguém pode hipnotizá-la. Isto em casos mais este­ reotipados. Outras não falam, mas demonstram que não aceitam ordens. Então o bom transe neste caso é dizer "... eu não sei como você vai entrar em transe... eu não sei se você vai observar sua respiração mais calma... ou se você perceberá seu corpo se soltando... mas você sabe como se colocar num transe agradá­ vel..." No caso da pessoa submissa, esta já se coloca à sua disposi­ ção. Ela requer um comando e por isso se torna fácil colocá-la em transe. Zeig demonstrou esta característica com um exercício em um de seus seminários em Belo Horizonte. Primeiro ele de­ monstrou que o comportamento humano é por lateralidade. Por exemplo, quando cruzamos os dedos, se somos canhotos, o polegar esquerdo fica em cima; se somos destros, ao nos virar­ mos para escutar algo, viramos a orelha direita. Em seguida, pediu que se formassem pares de pessoas para um exercício; as pessoas ficariam de costas uma para a outra, e uma deveria contar um caso de sua infância para a outra. Em alguns pares, uma pessoa virou-se para a direita para contar o caso; a outra, que havia inicialmente se virado para a direita, tornou a se vi­ rar para a esquerda para ouvir o caso. Em poucos segundos, I lipnoterapia Ericksoniana Passo a Passo 89 do modo informal, a hierarquia estava definida: quem contava o i ,iso era o dominante, quem ouvia era o submisso. O padrão foi complementar. Como lembrou Zeig, em algumas culturas, como a do Ja- p.U), a hierarquia das posições superior-inferior é definida de modo formal, no momento em que dois homens são apresenta­ dos, pela avaliação que cada homem faz, ao ler o cartão que lhe é apresentado pelo outro. O que se sente por baixo se curva primei­ ro e mais; o superior se curva em seguida, mas um pouco menos i| iie o primeiro. Finalmente, o inferior se curva uma segunda vez. A hierarquia está formalmente definida. Em outros pares, uma pessoa virou-se para a direita, a ou- 11a também se virou para a direita; nenhuma quis ceder. Então, i .ula uma se inclinou para trás, em posição incômoda, com o cor­ po retorcido, mas não cedeu. As duas se colocaram como domi­ nantes (one up). Quando isso ocorre, o padrão é simétrico e costu­ ma se desenvolver uma escalada simétrica de luta pela dominân- eia. Quando há uma escalada simétrica, a interação tem três pos- ihilidades de desenlace: a) há uma explosão que pode chegar à violência física; b) a interação pode, em determinado momento, iornar-se complementar; c) uma das pessoas envolvidas pode criar um mecanismo de controle por observação {governo), e pas­ sar a manejar a relação de forma consciente. Um outro tipo de dominação pode ocorrer. E uma pessoa i olocar-se sempre por baixo (por exemplo, queixando-se sem­ pre, e nenhuma sugestão apresentada pelo outro lhe serve), mas para, no fundo, colocar-se por cima, determinando os pa­ peis e a natureza da interação. E o padrão denominado meta Complementar. Do ponto de vista terapêutico, há várias coisas a se obser­ var sobre estas hierarquias. Primeiramente, o terapeuta deve ser i iipaz de pensar em termos de hierarquia e ser capaz de observar o cliente: "Como este cliente faz para ficar por cima? Ou por bai- Ho?" Ele aconselha o exercício de, por uma semana, ficar obser­ vando as relações hierárquicas one up/one doivn. Segundo, o tera­ peuta deve ser capaz de se colocar de forma dominante, para in- lllizir papéis efetivos. Terceiro, este é um ponto muito importan- le na observação de famílias. Quando a hierarquia da família se ')() Sofia M. F. Bauer desorganiza, um filho com papel de pai, por exemplo, tendem a aparecer sintomas. Outro ponto é que, diante de uma escalada simétrica, não adianta falar; é preferível dar tarefas, do que fa­ lar. Deu exemplo de Erickson, que interrompeu uma escalada si­ métrica entre marido e mulher mandando que a mulher se atra­ sasse 15 minutos, depois 30 minutos, depois 45 minutos. Deu exemplo de Whitaker que, junto a uma família que mostrava um padrão de relacionamento inteiramente irracional, ele começou a não falar coisa com coisa e ter atitudes estranhas, levando a fa­ mília a se relacionar usando do raciocínio. Posteriormente Whi­ taker explicou que o comportamento da família havia se modifi­ cado porque a loucura só pode ocupar um lugar social. Deu tam­ bém uma definição muito bonita de poder: "bondade notável e atenção aos detalhes!" Nesse mesmo seminário Zeig chamou a atenção, finalmen­ te, para o fato de que os terapeutas mais interessantes são os que têm a maior amplitude possível de intervenções: intervenções simbó­ licas, intervenções verbais, em múltiplos níveis. E, sintetizando com o exemplo do "cliente deprimido," diz que ele faria o possí­ vel para ser: interno-tátil-ampliador do negativo-intrapunitivo- absorvente-one dozun, e que o plano terapêutico seria fazê-lo tor­ nar-se, nas sessões: externo-visual-ampliador do positivo-extra- punitivo-radiante-oíie-Jíp. Depois de observar as categorias de avaliação, você pode fazer um diagnóstico diferente e peculiar orientado aos aspectos psicológicos de cada cliente. O ajuste é, portanto, feito através desta avaliação. Quando entrarmos no metamodelo, você já estará apto a fazer, sob medi­ da, o "embrulho de presente", dando uma terapia única ao seu cliente. Estas categorias é que vão guiá-lo na terapia, na hipnose, na construção de metáforas, na colocação de tarefas. Você saberá como usar a linguagem experiencial do seu paciente, o assunto de preferência dele, dentro dos valores que mais se ajustam ao caso. Você utiliza o que o cliente traz. Está lembrando?... A terapia é feita pelo cliente... com as coisas que vêm do cliente... Utilize. I lipnoterapia Ericksoniana Passo a Passo Ki’sumindo 91 Categorias intrapsíquicas A Fazendo uso da percepção, da atenção Interno Externo - voltado para dentro, preocupado com seus próprios problemas/ sentimentos/ sensações, não olha para fora. observa tudo à sua volta, quer estar bem ao olhar do outro, sabe sobre os outros. Focalizado I >ifuso t Visual Auditivo ( Vnéstico so. - olhar sempre fixado a uma coisa - desloca o olhar o tempo todo. Não fica focalizado. - observa, usando palavras como: "Eu vejo, observo, olho..." - presta atenção à música, aos sons que desagradam. Fala: "isto soa, ouça aqui..." - corporal, tátil. Fala de sensações... "Eu sinto, eu percebo..." 11 Processo de elaboração I ,inear Mosaico 2 - Ampliador Kedutor - metódico, segue uma seqüência linear, organizado, faz as coisas em seqüência lógica (1, 2, 3...). - elaboração diversificada, vai ao meio, volta ao princípio, depois vai ao final, entremeia coisas num determinado assunto. - Positivo - exagera para o lado positivo: ...A hipnose é uma experiência fantástica... - Negativo - exagera para o lado negativo: ... Este seu problema... que lhe traz tanta dor... pode ser enfocado de uma maneira sublime... - qualifica de forma redutiva, menos emoção. Olha um elefante e vê um rato. Faz-se um transe mais circunspecto: ... E você pode reparar em certas coisas que te interessam... Sofia M. F. Bauer C - Desequilí­ brio Qual destas categorias está mais desequilibrada? Utilize-a, levando-o ao equilíbrio. Categorias interpessoais - sociais 1- Estrutura familiar - filho mais velho: protetor, dominante - filho do meio: rebelde, adaptativo, artístico, comunicativo - filho mais novo: requer proteção, obediente, conciliador 2 - Região: Urbano Rural - vive o presente, linguagem urbana - orientado para o futuro, plantas, animais, tempo 3 - Intrapuniti- vo Extrapunitivo - mea culpa - a culpa é do outro 4 - Absorvente Radiante 5 - Audacioso Autoprotetor 6 - Em estresse Em homeosta- se - Lua, aqueles que imitam sugam energia, conhecimento, pensamentos - Sol, doador - aventureiro, impulsivo, curioso, explorador, vai à luta - necessita ir devagar, ponderado, cauteloso - agitado, gosta de muitas atividades: esportes, danças, crianças - calmo, gosta de comodidade, faz uma coisa de cada vez, adulto 7 - Dominate (one up) Submisso (one down) dominante, comanda - submisso, prefere ser comandado I lipnoterapia Ericksoniana Passo a Passo 93 Use este quadro para você avaliar seu cliente. Você pode 1nmoçar observando uma categoria por semana, para você ir iipivndendo. Depois de observar, utilize-o no transe e faça, sob medida, para aquele cliente, dentro da categoria escolhida. Bom trabalho! Exercite cada uma em separado; fica mais l.u il Depois vá juntando. E como matemática, primeiro os fatos de adição, depois de multiplicação... e quando se vê... estará fa­ zendo equações complicadas! ( i.mchos Este é um item que Zeig denomina em inglês hooks (gan- rhos). Você vai observar o que o seu cliente valoriza e que posição elu toma. Você deve notar, na linguagem verbal e não-verbal, o 11110 é idiossincrático, característico da pessoa, como pensamen­ tos, sentimentos, condutas, estilo de vida, etc. Você pode verificar: I . Estilo de personalidade Inteligente, vago, honesto. Características pessoais que ^ocê vai incluir nos valores e posições perante a vida. 2 Padrões de linguagem repetitivos Observe as palavras que são idiossincráticas, que carregam Alguma metáfora, formas de expressar. Se a pessoa fala com gíria, i <ii é mais erudita, etc. Observe as palavras que a pessoa utiliza para descrever nimi problema, sua dor. Você deve utilizá-las podendo entremeá- Itis e positivá-las. Usar assim a ressignificação daquela lingua­ gem simbólica. V A relação com o tempo Há uma correlação entre o cliente e o tempo. O paciente deprimido está voltado para o passado. O clien­ te .msioso, orientado para o futuro, e a pessoa presa ao presente bode estar relacionada com problemas presentes (uma dor, um Sofia M. F. Bauer trabalho, etc.) e até mesmo ter uma desordem de caráter, em que não percebe que um ato malfeito é uma semente para um mal maior no futuro (punição). Padrão invasivo — não-verbal Você percebe a pessoa invasiva até pelas atitudes não ver­ bais. Utilize. A usência conspícua — não-verbal Aquilo que não é dito, mas se observa a ausência óbvia de algo que deveria estar presente. Por exemplo: contar um fato tris­ te, sem tristeza. Você percebe através da conduta versus o pensa­ mento. Postura física e sentimento descrito. O que está faltando que deveria estar ali? Observe, veja o que falta. Veja nos padrões da pessoa o que falta e mostra dese­ quilíbrio. Exigência interacional Você deve observar que ocorrem exigências na relação te­ rapêutica. Utilize-as. Como por exemplo: pedidos de atenção, te­ lefonemas constantes, tempo extra (aquela pessoa que vai fican­ do mesmo com o tempo terminado), pedir carinho, demonstrar uma afeição mais especial. Existem aqueles pacientes que sempre exigem mais. Isto é um padrão de interação. Ajude-o a perceber como ele cobra do mundo. Pacientes limítrofes (borderline) exigem sempre mais e não se satisfazem. 6. Atuação em uma seqüência Preste atenção, os nossos atos são feitos de seqüência. Um simples aperto de mão, como diz Zeig, é uma seqüência em inte­ ração de passos. Criar um problema também envolve uma seqüência de passos. Você vai aprender a fazer uma indução na seqüência dos passos em que a pessoa cria o conflito. Você, apresenta, na se- I llpnoterapia Ericksoniana Passo a Passo 95 >| iii‘iuia já utilizada, uma ressignificação que leva à solução do problema. O pânico é uma seqüência. Veja como o paciente entra em p.mico e siga os passos, introduzindo uma pequena mudança 111 u* pode ser significativa. Os primeiros três itens são mais peculiares da pessoa que lli.i numa posição inferior. Os quatro últimos, mais característi- iH', ilos pacientes de uma hierarquia superior. Utilize-se destes ganchos e da avaliação e você terá uma linguagem peculiar e única para atingir e tratar seu cliente. Mas você também deve avaliar alguns outros aspectos a l| ur leffrey K. Zeig chama a atenção: — A responsividade — O paciente está responsivo? — A motivação — Ele está motivado? Se não estiver elicie ri motivação. — O humor — Qual é o tipo de humor? — A linguagem simbólica, o símbolo que a pessoa utiliza p,n’,i o seu problema — As metáforas do problema. 7 , Semeadura ...Há muitos tipos de solos... Terras roxas, como no interior de fffi>1’uulo... as mais caras do Brasil... o que se planta, nasce... Há terras Qliejá não são tão boas assim... como o cerrado... as terras arenosas... jo- ÊHHilo um pouco de calcário e outros aditivos... se tornam tão produtivas ijiniiilo os solos de terra roxa... e existem as terras desérticas, como as de | *mW Lá o povo teve que aprender a lidar com terras secas... só tinham huele solo e precisavam plantar... colher... comer... Aprenderam que hlnluva irrigar... e aí... vieram os melhores morangos e melões do mun- (f<>, Aqui no Brasil... nas terras semi-áridas do Nordeste... hoje, com mitologia avançada de irrigação... está se produzindo duas colheitas de melões e outras frutas... enquanto no Sul... terra fria... se produz MlMi única colheita por ano... a terra só estava seca... precisava de cuida- »/ f, pura a semeadura... o clima... caloroso... receptivo... era preciso re- « p i t a terra... irrigá-la e plantar a semente certa... Sofia M. F. Bauer ... Por falar em semente certa, tem a história de J. Augusto Men­ donça... de quando ele era menino... o pai, ao levá-lo ao mercado, pedia que escolhesse os maiores "milhões''... sementes de milho... as maiores que pudesse achar... que as guardasse para quando chegassem as chuvas de setembro... boa época de semeadura... Mas as sementes eram o grande clichê... Como Robinson Crusoé... ensinando os índios a comerem as es­ pigas pequenas e separarem as grandes para semear... ... Sementes boas, hibridadas e protegidas... semeadas em terra fértil... cuidadas por algum tempo... é plantio garantido... Semear signi­ fica colocar na terra uma boa semente e cuidar para que ela cresça... "Semeadura" é uma sugestão (semente) feita aqui com o intuito de se colher o resultado mais adiante. É um tipo de comando embutido, que passa desapercebido e que leva à abertura de novas possibilidades. Poderíamos dizer que seria a preparação do terreno. Milton H. Erickson se utilizava sempre da "semeadura" em seus trabalhos clínicos. Se ele queria fazer regressão, no início de seu trabalho começava a falar de seu tempo de menino, das brincadeiras de escola, semeando as idéias de rever esta fase, o que sempre aumentava a eficácia terapêutica; cuidar do terreno previamente. Aqui podemos considerar que os processos pré-conscientes podem influenciar positivamente o processo pelo qual certas idéias são levadas à mente e a maneira como são assimila das pelo inconsciente, percebidas e interpretadas. E como se ativásse*,i mos alguns mecanismos pela sugestão através de idéias, pensa­ mentos, atitudes. Você prepara o terreno através do rapport, da confiança, da motivação do cliente. Aplica, em seguida, algumas sementes do que você quer colher terapeuticamente e assim ativa o aparecimento da resposta. Para Zeig, uma intervenção terapêutica é muito mais eficaz se você antes faz semeadura. E uma coisa simples. Basta você ter uma meta do que deseja dar àquele cliente naquele momento. Se meie algumas premissas do que você deseja e, quando você fo eliciar sua meta, as sementes estarão brotando. Se você quer fa zer levitação, você pode semear a idéia de que coisas novas vêi de dentro, quando a gente menos espera (um sorriso espontâneo I lipnoterapia Ericksoniana Passo a Passo 97 nm.i vontade de fazer algo novo). Você pode contar casos de coi- - i (| iie se elevaram, e assim por diante. A semeadura pode ser feita em todas as fases de uma ses- hiV), Com o cliente acordado e em transe. 1. Você pode semear, antes de colocar a pessoa em transe, ili endo: ... "neste dia em que você está tão cansado, nada como poder se dar um momento de pausa..." Assim, você semeia a possibilidade de pausa. 2. Você pode semear para a fase de utilização durante a in- dUÇÍlo. Quando você quer fazer uma regressão, você faz a indução rthsorvendo o cliente em memórias de infância. Quando você quer alterar uma sensação de dor através da itlt.tlgesia, você pode induzir o transe absorvendo-o na sensação de anestesia de luva (dormência das mãos). 3. Você pode fazer semeadura dentro da fase de utilização p.ir.i estabelecer mudanças futuras. Por exemplo: melhorar a fala, lli .ir calmo no avião. Você pode fazê-lo através da semeadura de aprendizados já adquiridos durante a vida (amarrar sapatos, ler r escrever, aprender a dirigir). As metáforas embutidas são tidas 11uno boa semeadura nesta fase. 4. Você pode usar da semeadura para aprofundar o transe. Semeando idéias de aprofundamento. Mergulhar no mar, voar em nuvem, descer escadas, etc. 5. Você pode usar a semeadura na parte pós-hipnótica de «iigostões. A hipnose clínica tem como função efetuar mudanças na ' Ida das pessoas. O objetivo é estender os insights, aprendiza­ g e n s e associações hipnóticas. Assim, você semeia a idéia de 11ne "toda vez que você entrar em transe você pode aprovei- i.ii7sentir..." "••• É tão bom saber que uma variedade de desco­ bertas esperam por você... como você encontrar formas para pôr imaprendizados desta experiência para trabalhar por você... con­ 98 Sofia M. F. Bauer fiando na sua capacidade de acessar os recursos interiores que você agora sabe que existem aí dentro..." Sabemos que a terapia se torna mais eficiente quando inter­ venções de uma sessão são semeadas em ocasiões anteriores. Os temas devem ser previamente desenvolvidos através de uma me­ táfora, de um conto, de versos, de um símbolo, e depois reprisa- dos e elaborados durante a eliciação do transe. Neste livro vocês estão recebendo sementes antes de cada assunto, num pensamento ou numa estória. Algumas sementes crescerão e florescerão, outras não. Mas semeie sempre... Existem alguns fatores que podem influenciar a eficácia da semeadura, de acordo com Brent B. Geary (1994): a) A utilização dos valores e aspirações do paciente nas semeaduras pode intensificar a motivação e a responsi- vidade. b) Quando as pessoas imaginam um evento ocorrendo, elas vão, provavelmente, acreditar que o evento acon­ tecerá. Imaginar comportamentos que elas querem de­ sempenhar. c) Semeadura direta versus indireta: vai depender muito do estilo terapêutico, dos valores e objetivos do pacien­ te, do grau de resistência, do estágio da terapia. d) A chave para a escolha do momento é a responsivida- de do paciente; ajuntar pequenos passos em direção a um objetivo maior. e) O terapeuta não precisa ficar embaraçado quando seu cliente diz que gostou da forma como ele jogou aquela sugestão. Semeadura com identificação consciente é útil e também complemento a eliciação inconsciente. , f) Considerações suplementares sobre semeadura. Assim, veremos que semeadura é um procedimento co­ mum quando queremos atingir um objetivo. Vai-se semeando aquela idéia devagarinho e o produto vai aparecendo. I llpnoterapia Ericksoniana Passo a Passo 99 Quando vou dar aula sobre um determinado assunto, costu­ mo semear idéias e curiosidade sobre o novo tema. Percebo que os >' 1111 tos gostam e vêm motivados para receber o novo material. Antes de fazer a indução, veja qual é o seu objetivo, veja os viilores e as idiossincrasias e semeie em cima disto o desejo de itl^.o novo. Exemplo: Num paciente ansioso que fala sem parar, você pode se­ mi'.ir a idéia de que a ansiedade está ligada a uma respiração muito acelerada, contando a lenda oriental segundo a qual nasce­ m o s com um número predeterminado de respirações. Por isso hvspirar rápido diminui o período de vida. Quando você for fa­ zei .1 indução, pode ter certeza, seu paciente terá a maior boa vontade em fazer respirações longas e calmas. M, () diamante de Erickson — um metamodelo de psicoterapia Segundo Jeffrey K. Zeig: ... Como construir uma terapia para cada cliente?... ... Quando ainda era criança ganhei um caderno de receitas... eu iiih’iuva cozinhar, como uma boa menina... ia seguindo as instruções da hhrila... um dia, por algum motivo, precisava de pêssegos... mas em i tina só tinha abacaxi... pensei... pensei e achei que dava para fazer o doce ulih ando o abacaxi... que delícia, para o meu gosto (que gostava de aba- niw) o doce ficou melhor ainda... ao meu gosto... Assim eu fui perce- Itrndo que eu podia modificar as receitas e estas ficarem mais apetito- Hi/í mas precisei começar pelo caderninho de receitas... ... Hoje, ensino a minha filha com o mesmo caderno... mas semeio ii /'<leia de que ficará mais gostoso se ela colocar algo especial... Se ela for dftrecer para alguém aquela iguaria... pensar antes do que a pessoa gos- ln colocar na receita... a pessoa vai aceitar melhor ainda... e virão os tliiyios... Se a pessoa gosta de chocolates... Hum! Uma musse de choco- |$le! Se gosta de morangos... uma torta de morangos... Você vai pare- <ri dedicada e a pessoa vai gostar de saborear delicadamente... o que ela ÊOttln e prefere... ... Aproveite... Crie... Recrie... Dê de presente... Utilize as so- faun... Faça limonada de um limão azedo... é uma delícia! BIBLIOTECA PLINIO AYROSA 100 Av Pe Francisco de To'edo, 331 Sofia M. F. Bauer l a l 9-14 0371 - «aqnera CfcP ULJ5dü-1^u São Pauio - Chegar ao metamodelo significa que você já fez a avalia­ ção do seu paciente e agora vai empregá-la para fazer a terapia. A própria avaliação já pode ser considerada intervenção. Em muitos casos, você vai avaliando e já ressignificando o paciente. Neste momento veremos uma teoria montada por Zeig, como uma receita de bolo, de como se pode fazer uma psicotera­ pia ao modelo de Erickson, ou de acordo com cada cliente. Para entendermos, primeiro vamos ver alguma coisa sobre um conceito fundamental da obra de Milton H. Erickson: utiliza- | ção. Utilização pode ser definida como a "prontidão do tera- 1 peuta para responder estrategicamente a qualquer ou a todo as- j pecto do paciente e do ambiente" (Zeig, 1992). Aqui se incluem todos os aspectos do cliente, da experiência com o cliente, de suas idiossincrasias (roupas, maneirismos, história, família, tra- , balho etc.). Você pode também utilizar o sintoma do cliente, o pa- 1 drão em que ele cria o sintoma e as resistências. ■ Erickson utilizava tudo que o cliente trazia para facilitar a psicoterapia. Se o cliente vinha porque desmaiava demais, ele utilizava os desmaios e punha o cliente para desmaiar seguida- ] mente até o cliente esgotar este padrão. Outro exemplo era do ra- I paz que veio à terapia porque urinava utilizando um tubo de 20 ; cm. Erickson aumentou o tubo para 30 cm. Se foi possível au- ] mentar, pode-se diminuir. Utilizando-se do mesmo tubo, foi di- ] minuindo o tamanho até o rapaz fazer uso do seu próprio tubo, j quase nesta proporção, naturalmente. Zeig, em seu artigo "Técnicas avançadas de utilização" : (The essence of the story — 1994), cita dois exemplos de Erickson J que, resumidamente, relatarei a seguir: V Exemplo 1 fl Uma mulher alcoólatra, que escondia garrafas de bebidas no jardim da sua casa, reclamava que o marido era desligado e só queria saber de ler revistas e livros velhos e empoeirados. En­ quanto isso, ela fazia jardinagem e bebericava escondido nas gar­ rafas que escondia no jardim. Erickson percebeu que se tratava de um casal com padrão rebelde. Primeiro, deu uma tarefa pam I lipnoterapia Ericksoniana Passo a Passo 101 111io ela escondesse a garrafa de uísque dentro de casa e o marido i leveria procurar. Caso ele não a encontrasse, ela poderia beber. H .issim, por alguns dias, eles se divertiram. Ela escondia de forma 111ii' ele poderia achá-las. Erickson sabia que eles gostavam de ,u .impar mas detestavam pescar. Na sessão seguinte, ele insistiu para que eles fossem pescar, porque, no meio de um lago, como rl,i poderia beber uma garrafa de uísque?! E o marido não pode- i i,i ter livros empoeirados. O casal se rebelou ante a proibição de uvm acampar e somente poderem pescar. Eles começaram a ,ii',impar assiduamente e voluntariamente largaram seus padrões ,1 ntenores. No caso, Erickson utilizou um aspecto do sintoma, o 1,1 Io de esconder coisas, e tornou-o um jogo, mudando o seu va­ lor de negativo para o positivo. Deixou-os se rebelarem e esco- IluTem sua própria atividade. Exemplo 2 Zeig participou pela primeira vez de um seminário de hrickson em 1973. Naquele tempo, seus recursos financeiros i i ,mi limitados, e Erickson não lhe cobrou o seminário. Assim, resolveu dar-lhe uma lembrança. Comprou-lhe uma escul- lin .i de um pato, mas era apenas a forma de um pato delineada. ( *ii,indo foi lhe entregar o presente, Milton Erickson olhou a es- , iillura, depois olhou-o, e novamente olhou para a figura, depois piti.i rle, e então disse: "Emerja" (Zeig, 1985, p. 54). Naquele mo­ inei ito Zeig estava emergindo como terapeuta e como pessoa. A li ii in.i de Erickson agradecer incluía uma esplêndida utilização flli múltiplos níveis. Assim, podemos ver que a utilização era parte de um estilo c vida e não apenas uma técnica. Resumindo, a utilização é um estado em que o terapeuta li.i para alcançar um tratamento efetivo. A utilização pode ser imlderada um aspecto do transe do terapeuta. O terapeuta en- num estado de prontidão e faz um modelo para acessar o uni’ no paciente. O paciente é encorajado a entrar num estado irsponder construtivamente, como que separando o joio do 0, focalizando sempre as boas sementes da pessoa. 102 Sofia M. F. Bauer "Pode-se dizer que utilização é a terapia de Erickson, assim como interpretação faz parte da terapia psicodinâmica" (Zeig, 1994). Para entender melhor, é preciso levar em consideração duas questões, de acordo com Zeig: • Usa-se utilização para que finalidade? • O que o clínico poderia selecionar para utilizar? A utilização é eficaz como uma forma naturalista de aceitar a pessoa com o que ela tem para lhe dar. Uma vez que ela é acei­ ta desta forma, ela se abre para você. "O terapeuta me recebeu bem. Posso ajudá-lo a me ajudar. O que o clínico pode selecionar para utilizar? Aquilo que ele sentir no coração. A intuição, a sabedoria do inconsciente, guia o caminho. Observe, observe e observe. Você verá muitas possibilidades. O caminho a seguir virá do compartilhamento. Ter a coragem de amar seu cliente, como diria Gilligan, ter a co­ ragem de aceitar suas falhas e encorajá-lo a enfrentá-las. 9. Utilização para que finalidade — um metamodelo de psicoterapia Zeig publicou um metamodelo de psicoterapia como uma forma de intervenção, baseado em cinco pilotis de escolha, de acordo com o que aprendeu com Erickson (Zeig, 1992). Veja dia­ grama abaixo: Objetivo Tailoring Posição do terapeuta Embrulhar para presente Processamento I lipnoterapia Ericksoniana Passo a Passo 103 "O diamante de Erickson" (adaptado por Zeig, 1992) Vou descrever o que aprendi com Zeig e que tem sido o es­ queleto que me ajuda a poder trabalhar com a hipnose naturalis- l.i e usar do princípio homeopático das similitudes. As faces do diamante são "pontos de escolha". Se o tera- pi ui.i fica preso num ponto da terapia ou encontra resistência, uin.i mudança pode ser feita em uma ou mais faces deste dia- m.mte. É importante frisar que as coisas não acontecem linear­ mente e em seqüência, como no esquema. Elas podem se suceder ihi .irontecer simultaneamente. I íhjetivo A questão do objetivo a que o terapeuta deve responder é: t >. 111c eu desejo comunicar? Um terapeuta que deseja fazer a indução poderia comuni- i,n relaxe! Num paciente deprimido, poderia querer comunicar: seja in,lis ativamente envolvido! Os objetivos podem variar, dependendo do estágio da tera- |<i.i. Objetivos de indução são diferentes de objetivos de terapia em si. Também se pode dividir a terapia em vários objetivos, em mihpartes. Por exemplo, o objetivo pode ser: sê feliz; e pode ser dividido em: seja autoconsciente, tenha um papel social constru­ tivo, tenha uma rede de amigos, etc. Durante o tratamento, cada nl '| etivo pode ser endereçado individualmente. Na terapia ericksoniana, existem alguns objetivos genéri- | 0H que são os dois Rs — responsividade e recursos. Os objetivos da indução incluem: modificar a atenção, au- liieiilar a intensidade e promover a dissociação (Zeig, 1988). Os objetivos da terapia incluem oferecer novas informa- ■ôt's ao paciente, que antes não estavam à sua disposição. Lem- ■rnndo os três Ms da terapia de Erickson: motivar, metaforizar e mover. hiibrulhar para presente (Gift Wrapping) O terapeuta deve decidir como ele deseja apresentar o seu ob- 1U4 sopa ivi. t. Dauer Este método de empacotar, fazendo um embrulho de pre­ sente, pode se dar através de uma estória, um símbolo ou um caso; através de uma confrontação, uma interpretação, um diálo­ go de gestalt, ou uma dessensibilização. Técnicas de psicoterapia são formas de embrulhar para presente os objetivos terapêuticos, e não técnicas de cura. Hipnose também é considerada uma for­ ma de embrulhar para presente. Assim, um objetivo vai ser dado não só uma, mas várias vezes e, dessa maneira, pode-se variar a forma de presentear o paciente. Você pode dar uma estória, uma tarefa significativa, etc. Pode dar uma sugestão direta dentro de uma indireta, dentro de uma estória e dentro de uma hipnose. Um outro ponto aqui seria a comunicação do terapeuta ser julgada pela responsividade do paciente e não pela esperteza do terapeuta. Presentes bonitos e inteligentes, de técnicas usadas, se­ rão valiosos se eliciarem no paciente respostas desejadas e cons­ trutivas. Pode-se dar de presente o sintoma do paciente, bem "em­ brulhado"; o terapeuta pode embrulhar para presente a solução dentro de uma técnica. Usando o mesmo método com que o cliente criou o problema, presenteia-se a solução. Tailoring — fazer sob medida — ajuste Aqui, agora, é preciso individualizar a terapia para cada cliente. Qual é a posição que o paciente toma? O que ele valoriza? A terapia para uma pessoa tímida difere daquela direcio­ nada a uma pessoa extrovertida. Zeig dá como exemplo um autógrafo de Erickson dizendo assim: "Para Jeff, outro livro só para enrolar seus cabelos." Essa era uma mensagem personalizada para o estilo de cabelo que Zeig tem e para deixá-lo orgulhoso disto. Processamento Depois de decidir sobre as três primeiras escolhas, resta a pergunta: Como vou daf e apresentar a terapia sob medida e embrulha­ da para presente? Este é o processamento: I llpnoterapia Ericksoniana Passo a Passo 105 — Set up — instalação da indução, incluindo semeadura, hU)',cstões pré-hipnóticas e eliciação da motivação. É a primeira I mi1Io da terapia. Você pode, na indução, usar também da seqüên- , i i iIo sintoma como uma seqüência de indução, ressignificando- i l’ode ainda usar das técnicas de indução do capitulo 5, progra- m,mdo e fazendo sob medida. — Intervenção — contar casos, estórias, ressignificar, pres- ■irver sintomas, mudar a história etc. — Seguimento (folloiu through) —■ratificar mudanças, in­ duzir amnésia, dar tarefas etc. A posição do terapeuta Que posição eu, terapeuta, devo tomar? Para Zeig, a posição do terapeuta pode influenciar mais do •11k* as técnicas descritas no resultado do tratamento. Ele pode gentil, confrontador, curioso, intelectual, etc. Cada terapeuta lein um tipo de lente (percepção), coração (emoção), músculos (p.idrões de ação), e um chapéu (papel social). É importante estar nlrnto ao seu desempenho. Cada terapeuta tem seu estilo pessoal de trabalhar: o tera­ peuta corporal pode avaliar e trabalhar com o corpo, o analista lisiirá a interpretação, o terapeuta estratégico usará a prescrição de sintomas, etc. Terapeutas dramáticos farão sessões diferentes d.n de um mais contido. Algumas considerações: Metamodelo é apenas um esquema. As coisas não aconte- irm linearmente, como descritas. A terapia requer disciplina e fipontaneidade. Prescrever escolhas limita a efetividade. Este modelo apresentado por Zeig é apenas uma forma ■ilnoviada. Deve ser desenvolvido posteriormente. Existem cinco faces de escolha dentro do metamodelo; se a I rupia se tornar problemática, o terapeuta pode mudar o objeti­ Sofia M. F. Bauer vo e embrulhá-lo para presente de outra maneira — o tailoring e/ ou apresentação do processo. Ainda é preciso lembrar, afirma Zeig, que a intervenção pode ser feita com a avaliação. Lembre-se do modelo de avalia­ ção já referidos anteriormente. 10. Selecionando o que um terapeuta poderia utilizar Os terapeutas irão se orientar de acordo com: 1. os objetivos que querem alcançar, um fim particular; 2. os recursos e forças do paciente, porque a utilização é um método pelo qual se traz o lado positivo de qual­ quer situação; 3. uma comunicação em múltiplos níveis. Na avaliação, o terapeuta já poderá começar uma interven­ ção. O que o terapeuta selecionaria para utilizar? A decisão sobre o que utilizar depende de como o terapeuta vê o paciente, as queixas pre­ sentes. A perspectiva do clínico é idiossincrática e depende da sua postu­ ra profissional. O terapeuta pode avaliar e utilizar a biologia do proble­ ma ou hierarquia familiar, etc. Resumindo Depois de aprender a fazer a avaliação, faça o diagrama do metamodelo. Veja seu objetivo, o ajuste (tailoring) necessário para adequá-lo àquele cliente, como você vai fazer a terapia (embru­ lhar para presente) e como vai se utilizar de tudo isto de modo que a terapia seja eficiente. 11. Como fazer uma indução ao modo de Erickson, de acordo com cada cliente, sem ser Milton H. Erickson — O processo Agora, depois de você ter visto como fazer a indução (ab­ sorção, ratificação e eliciação), semear as idéias e construir o me­ tamodelo de acordo com a avaliação de categorias, podemos fa­ lar do processo globalizadamente. I lipnoterapia Ericksoniana Passo a Passo 107 Neste ponto colocarei um exemplo de como podemos utili- II o metamodelo. Você pode usá-lo em todas as ocasiões que você queira, inido em mente: - a meta ou objetivo; - como fazer a meta ser dada sob medida; - como embrulhar o presente para que ele seja recebido de uma forma agradável; - criar um processo terapêutico com princípio (semeadura i mdução), meio (intervenção principal) e fim (seguimento, tare­ ia., sugestões pós-hipnóticas). Exemplo 1 Outro dia, fui dar uma aula sobre metáforas. Levava comi- C.o .ílgumas metáforas prontas como roteiro, para que os alunos tivessem um guia. Queria ensiná-los a serem criativos (minha inrta), mas precisava levá-los a fazer com perícia e qualidade (se- y II mia meta). Não poderia apenas entregar receitas de bolo. Preci- «iiva ensinar-lhes a fazer sob medida estórias que ressignificas- nimii os problemas dos clientes. Cheguei com os folhetos conten­ do definição, história, o modelo ericksoniano de montagem de metáforas e algumas metáforas prontas. Entreguei os textos. Em *teguida, contei-lhes sobre quando eu era estudante de medicina *>lui trabalhar como interna no hospital. Eu ainda não sabia me­ di ea r. Prestava atenção em como o médico resolvia um problema de diarréia, uma crise de asma, etc. E escrevia em uma caderneta que ficava em meu bolso (meu salva-vidas). Para diarréia medi- qiuí com isso e aquilo. Para crise de asma utilize isto. E assim, no meio da madrugada, quando ficava só, tinha o meu roteiro pron- lo Mas o problema era quando aparecia outra patologia! Ai, meu I >eus! E agora? O jeito era chamar o médico de plantão, pedir n| iida. Logo escrevia, para pneumonia deve-se usar tal medica­ do, se fosse este o caso. E assim eu ia aprendendo. Mas a cader- nel.i era sempre a salvação da iniciante. Logo, com a prática, fui percebendo que os médicos prescreviam coisas diferentes para as inesmas patologias. Comecei a questionar: Mas, fulano, não é tal c l.il medicamento que se usa para diarréia? Este, então, me dizia 108 Sofia M. F. Bauer que poderia ser outro tal que ele usava, por agir mais rápido, ser mais novo e tal paciente poder ter maior compatibilidade. Eu anotava logo aquela nova prescrição. No início, ficava na dúvida entre o novo e o velho. Fazia a opção do novo, observava e tirava as conclusões. Melhorou mais rápido, foi mais efetivo. Eu fazia daquela abordagem minha opção. O tempo foi passando. De tan­ to pensar, mudar e criar, fui optando pela minha própria forma de medicar. E a caderneta? Continuava lá, aquele roteiro de segu­ rança. Foi por tê-lo que conquistei a minha criatividade. Isto foi a semeadura do meu objetivo para aquela aula, feita através da mi­ nha história. Depois passei a falar um pouco sobre os cuidados com os roteiros. Ali estava eu entregando roteiros... E a criatividade? Dei uma aula sobre como fazer sob medida, observando as categorias de avaliação de Zeig e pegando palavras idiossincráticas, as pala­ vras dos sentimentos, as metáforas que os clientes utilizavam. Os alunos foram se interessando em ouvir as estórias da das. Foram se interessando em aprender a pegar palavras e usá- las para fazer aqueles roteiros que levei, de maneira pessoal. Fechei, naquele dia, contando a estória contida no início deste capítulo, do aluno que procura o mestre para aprender mais c o mestre lhe serve uma xícara de chá que transborda, di­ zendo-lhe: como pode receber mais, se a xícara está cheia. Pri­ meiro é preciso esvaziar, para depois receber. Sob medida, o processo precisa ser feito passo a passo. Por isso, nesta aula não bastava sair aprendendo hipnose. Era preciso aprender que, para darmos algo novo (a metáfora), é preciso es­ vaziar os conteúdos de ansiedade, ou aquilo que bloqueia. A in­ dução ajuda bem. Ouvir o cliente também ajuda bem. Exemplo 2 Agora, exemplificarei com um pequeno caso de cliente. Homem, executivo, audacioso, posição superior, irradian­ te, que procura a hipnoterapia para se conhecer melhor. Tem medo de hipnose. O que é muito comum em pessoas dominan­ tes, que têm medo de ser dominadas. Isso já mostra um primeiro I llpnoterapia Ericksoniana Passo a Passo 109 p.iv.o para a terapia funcionar. Foi minha primeira meta: ir deva- l,.n para adquirir confiança e rapport. Ele faz o jogo, aparente­ mente. Mas você o conduz a fazer o jogo. Ele procurava a terapia porque era muito ansioso, queria diminuir sua ansiedade, mas n.io permitia a hipnose. "Hipnose, não. Eu posso perder o contro­ le Palavras dele. Meta — acalmar, reconhecer suas potencialidades, dar-se tonta de ser um grande executivo, poder empreender grandes ii 'iiijiiistas (ele usava esta palavra, quando falava do seu trabalho). Embrulho de presente — utilizar o mesmo mecanismo que • 11*repetia (não-verbal) como indutor do transe e aprendizado de um novo ritmo, mais calmo: puxar seus cabelos. Tailoring — utilizar as palavras perder, controle, conquis- i .i ncalmar-se, ressignificando seu poder de conquista. Processo — fazer indução sem dizer que era indução; ges­ tos, respiração, calma. Na intervenção principal deixá-lo em paz, à vontade, sendo realmente dono de si mesmo. No seguimento, su­ gestões pós-hipnóticas de como era bom se soltar, aliviar-se, per- i ler a dureza e a rigidez que lhe tiram a possibilidade da alegria. Muito bem, dei uma breve explicação de cada passo. Ago- iii, como um todo, utilizei a sua resistência e o seu critério de iiv.iliação para levá-lo ao que ele desejava: ser menos ansioso. Enquanto ele me contava sua história, puxava os cabelos. l Í Nt e é um ato comum das pessoas ansiosas. Fui observando e, lá pelas tantas, comecei a puxar os cabelos como ele, na mesma in- lensidade e ritmo. Fui respirando como ele, também, a princípio, e di/ .endo que eu não faria a hipnose ainda, até que ele pudesse fierdcr o medo e que ele pudesse controlar sua calma como quises- *e Aos poucos, comecei a diminuir o ritmo com que eu puxava ns meus cabelos. Ele seguiu. Ótimo, primeira responsividade vi- Klvel. Respirei com mais calma, ao que ele prontamente seguiu, hittio, comecei a discursar sobre a necessidade de uma máquina piiiar (ele trabalha com aparelhagens eletrônicas), pode ocorrer i m to-circuito. 110 Sofia M. F. Bauer O desgaste do motor que não pára, perde o controle, adoe­ ce. Não é mais uma máquina eficaz. É necessário acalmar a má­ quina. Fazê-la ter seu tempo. Fui diminuindo mais ainda as puxa­ das de cabelo e perguntei sobre o programa de proteção de tela do computador. Ele apenas acenou que conhecia, sabia o que era. Acompanhando-me, ele foi parando de mexer no cabelo, eu tam­ bém parei. E disse: o computador agradece a entrada do progra­ ma de proteção de tela (podem ser fogos de artifício, peixes na­ dando, não importa)... o que importa é que o computador pára e a limpeza da tela começa a acontecer... talvez você queira experi­ mentar... fechar os olhos... e ver lá que programa você pode con­ quistar de calma agora'.... Ele entrou em transe, relaxou e quando abriu os olhos disse: "Que coisa boa que é parar a máquina de vez em quando!"... Eu, então, apenas ratifiquei isto e sugeri que até as máquinas podem parar, aliviar, revitalizar e ter o controle da alegria\ Depois de ver estes exemplos, podemos voltar ao processo em si. O que seria então o processo? A junção de todas as partes. Começa-se pelo início da sessão, num tipo de interven­ ção/ avaliação. Você observa, anota (até mesmo em pensamento), para depois utilizar tudo que o cliente traz. Trace a meta, como vai fazer. Vamos às regras básicas: 1Q) A bsorver Absorver a atenção do cliente de acordo com a avaliação. O intuito é colocá-lo em transe. Por isso, a meta é: - recos tar; - relaxar; - respirar; - soltar-se; - olhar para dentro; - ouvir-se; - sentir-se; - ir para dentro; - observar-se e descobrir-se em seus potenciais e na calma; - desligar a consciência/ fazer aparecer o inconsciente, os fenômenos hipnóticos. I lipnoterapia Ericksoniana Passo a Passo 111 Para isso utilize os artifícios da linguagem de indução, ab­ sorvendo com: - yes set; - dissociação; - pressuposição. 2o) Ratificar Ao perceber o paciente em transe, ratifique. Isso aumenta mia confiabilidade e responsividade. .1°) Eliciar e utilizar Você estará usando do diagnóstico para fazer com que a te­ rapia seja única, já embrulhada para presente durante a indução r, fazendo sob medida, você entra no processo terapêutico. Qual é a minha meta? Como posso ajudar? O que quero ressignificar? Então, durante a sessão ocorre todo um processo. Ele co­ meça pela indução, passa pelo período do transe, no qual você l.irá a intervenção principal, e depois você dará um seguimento, laminando a sessão com sugestões pós-hipnóticas e/ ou tarefas. Na intervenção principal siga seu estilo. Você pode dar uma interpretação (em analogias, se possível, é mais indireto), ou você pode fazer um diálogo guestáltico, ou fazer uma metáfora, "ii metáfora dentro de outra (as metáforas embutidas, especiali- iliuie de Carol e Stephen Lankton). O que interessa mesmo é que você tenha uma meta a res- ■iignificar durante sua intervenção principal. O benefício da hip­ nose é presentear o paciente com uma abertura às suas potencia- IiiI,ides maiores - o acesso ao inconsciente —, sua sabedoria su­ pri ior. Assim, durante a intervenção principal, utilize as idiossin- i hittias, os valores e as metas que seu cliente deseja conseguir. É o rthrir caminho. Vocês verão casos no capítulo 5 que ajudarão a i nmpreender a utilização. E, finalmente, feche a sessão dando sugestões que seguirão, | H'is-hipnose, aquilo que foi ressignificado. Você pode dar tarefas i| Ui; terão o significado de sugestões pós-hipnóticas. Capítulo 4 O uso de metáforas em hipnoterapia Uma vez perguntaram como eu fazia para criar uma estó­ ria para cada cliente. Como se arrumar tanta criatividade? ... O que eu sei é o que você vai ver a seguir sobre as técni­ cas que fazem você criar uma estória comum, única, para aquele cliente... ... Mas lembro-me de uma estória... há muito contada... Uma menina pequena, com medo de dormir no escuro, chamou sua mãe em socorro... esta, sabiamente, ouvindo a filha... abriu as jane­ las e mostrou as estrelas do céu... contando a seguinte estória... Quando Deus criou o mundo, criou o céu, deixou-o escuro demais. Ele, então, pensou em criar alguma coisa que pudesse brilhar na escuridão infini­ ta/mente... criou as estrelas... de todas as espécies... umas maiores... ou­ tras menores... umas de brilho dourado... outras, prateado... umas mais azuladas... outras alaranjadas... Mas criou-as com o intuito de que elas iluminassem todos os asteróides e planetas ao seu redor, infinitamente. Criou até mesmo revoluções estrelares... de onde sempre surgiriam no­ vas estrelas... como também criou estrelas bem maiores para que estas, pouco a pouco, fossem dando filhotes e fizessem seu brilho seguir infini­ to afora... Mas Ele foi tão genial que criou o espaço tão grande que to­ das, mas todas as estrelas mesmo poderiam habitar este espaço sem se es­ barrarem... Deus deu uma missão importante a todas elas: brilhem, bri­ lhem bem... levem sua luz a todos os lugares que vocês puderem... Dê Sofia M. F. Bauer luz a todos os planetas e asteróides que precisarem de luz e de calor e ê certo que vocês terão brilho suficiente para levar a todos... pois, uma vez sendo estrela, sempre será uma, sempre brilhará pelos seus méritos na­ turais... Descubra como você brilha, e seu brilho se tornará ainda maior... ... A menina entendeu que o brilho está nela e com ela... por isso podia dormir iluminada... O sono iluminado... ... Deus está em toda parte ao mesmo tempo, ao redor e dentro de você! Você jamais está só e desamparado. Pare, medite, volte-se para dentro de você e ouça a voz de Deus falando aí dentro; guiando seus pas­ sos através da sabedoria do seu coração inconsciente. Siga os passos do seu coração... Viva no entusiasmo (do grego en = dentro de + theos, teós = Deus), amando Deus dentro de você, e a luz da criatividade guiará os seus passos, iluminará o seu caminho... 1. Parte teórica O emprego da metáfora vem sendo difundido em muitas escolas de psicoterapia, com um papel significativo de ponte de comunicação. O uso das metáforas é observado no decorrer da história dos homens. Os homens das cavernas deixavam seus escritos através de símbolos e desenhos que metaforicamente repre­ sentavam sua linguagem. A palavra "infante", com o sentido de criança, vem do la­ tim infant, infans, e significa "incapaz de falar". A criança peque­ na fala através da mãe, que interpreta o que o filho deseja. A metáfora é uma linguagem que perdura na história do homem como a linguagem mais próxima do inconsciente. Muitas vezes você não encontra palavras para se expressar e se comuni­ ca metaforicamente. Revendo uma frase nos escritos de Freud: "Pensar por imagens é... somente uma forma incompleta de se tornar cons­ ciente. De algum modo, também, está mais perto do processo in­ consciente do que pensar por palavras..." (Freud, 1923, p. 14). . "Pensar por imagens está mais próximo do inconsciente do que pensar por palavras." Há uma integração de dois níveis de linguagem, consciente e inconsciente. 11i pnoterapia Ericksoniana Passo a Passo 115 Venho de uma formação psicanalítica, em que percebia que .is interpretações que ficavam eram aquelas dadas num nível me­ tafórico. A pessoa não se esquecia. Volta e meia retornava à me­ táfora. I )efinição Uma definição de Aristóteles, apresentada no livro O mito iln metáfora, de Turbayne (1970): "A metáfora consiste em dar à coisa um nome que pertence .1 outra coisa qualquer, a transferência pode ser feita em gênero e rspécie ou de espécie para espécie ou como analogia." Turbayne sugere trocar nome por signo ou coleção de sig­ nos. E também sugere que mitos, parábolas, fábulas e alegorias são subclasses das metáforas. O uso da metáfora é essencial para a comunicação huma­ na. Estórias e casos são usados desde há muito tempo para co­ municar e expressar mensagens, e são fáceis de aplicar em psico- ti-rapia, como vimos anteriormente. Definição do Dicionário Aurélio para metáfora: "Tropo que consiste na transferência de uma palavra para lim âmbito semântico que não é o do objeto que ele designa, e i| ue se fundamenta numa relação de semelhança subentendida entre o sentido próprio e o figurado. Por metáfora, chama-se raposa a uma pessoa astuta, ou se ilesigna a juventude primavera da vida." Definição do Dicionário Aurélio para analogia: "Ponto de semelhança entre coisas diferentes. Semelhança, similitude, parecença." Deveria dizer que muitas vezes pode-se apenas usar uma •inalogia, o que seria fazer um paralelo entre coisas diferentes. I mpregamos metáfora quando contamos uma estória. Toda metá­ fora é uma analogia, mas nem toda analogia é uma metáfora. Nas inter- Sofia M. F. Bauer protações analíticas o que se vê é um emprego maior de analo- gias. Da perspectiva da psicanálise, o poder desta abordagem está no fato de o cliente ser encorajado a explorar e elaborar uma representação de um sentimento, ou questão, ou problema, numa forma de pensar (imagem sensória) que está mais próxima do processo inconsciente. E há uma integração com a metáfora da imagem (processo primário) e da palavra (processo secundário). Assim, se o processo primário de pensamento é expresso essen­ cialmente através de uma linguagem de imagem, e o processo se­ cundário é expresso através de palavras, então a metáfora pode ser vista como uma integração dos dois processos. Freud fazia muito uso de metáforas em suas interpreta­ ções. Bettelheim (1984) sugere três razões para que Freud tenha usado metáforas ao explicar a natureza da psicanálise. Primeiro, a psicanálise emprega interpretação imaginativa para explicar as causas escondidas por detrás dos fatos. Segundo, por causa do recalcamento ou da censura, o inconsciente se revela através de símbolos e metáforas, falando em sua própria língua metafórica. E, finalmente, as metáforas são capazes de tocar as emoções hu­ manas (pp. 37 e 38). Os poetas falam metaforicamente dos sentimentos huma­ nos. lí cada um de nós é um pouco poeta ao descrever seus pró­ prios sentimentos. Hxiste um correlato entre as palavras transferência, em ale­ mão übertragung, e metáfora, feito por Richard R. Kopp (1995). Ele diz, em seu artigo, que a tradução do alemão iiber para o in­ glês é abovc/over, "sobre", e de tragung é carry, que significa "car­ regar", e que a palavra metáfora vem do grego meta, "além" (= above, no inglês), o phorein, que significa "carregar, transportar de um lugar para outro" {carry). Assim, transferência, na verdade, pode ser traduzida, em inglês, como metáfora (pp. 115 e 116). De acordo com Szajnberg (1985-86), a transferência é vista como um subconjunto dos muitos fenômenos de metáforas. Ele faz a seguinte nota: "Como o sonho, a metáfora consiste do significado mani­ festo em conjunto com o significado latente, e particularmente a I llpnoterapia Ericksoniana Passo a Passo 117 |i >in,uia criativa entre eles. É importante para a psicologia psica- m,i 111ira... reconhecer o componente do trabalho criativo feito pelo Indivíduo para criar uma metáfora" (p. 56). A metáfora vem como uma linguagem peculiar de cada in- dividuo; fala dos afetos e das relações objetais. E tipicamente d parece quando os sentimentos estão exacerbados e quando lite­ ralmente as palavras não parecem fortes o bastante ou precisas o nuliciente para exprimir a experiência. Exemplos disso são frases metafóricas como: "o céu vai cair sobre a minha cabeça", "estou perdido no espaço", "perdi a cabeça", "estou sem ar", etc. Você pode usar da mesma metáfora do cliente e ressignifi- i ,i In (reframing) positivamente, mostrando, por meio de estórias metafóricas, uma nova maneira de ver aquilo que se pensava ser 11 pior. Tudo isso com a intenção de reduzir, melhorar a experiên- i mdo sujeito e estabelecer uma maior coerência do eu; apresen- l.ii saídas e mostrar os recursos naturais que toda pessoa tem ilentro de si mesma. Dentro da psicoterapia psicanalítica, a metáfora é freqüen­ temente usada como veículo de interpretação, na forma de uma ,iií.ilogia (comparação), como uma estória. Veremos mais à frente i| Ue podemos e devemos usar as metáforas que o cliente traz. Uma justificativa para o emprego de metáforas é que elas H.lo muito efetivas, pois permitem ao cliente a distância emocio­ nal em relação ao seu material, mantendo-se o respeito à sua in- leligência e auto-estima e, ao mesmo tempo, integrando elemen­ tos necessários a uma boa ressignificação (reframing). Mas é importante frisar que, mesmo que seja o terapeuta a eriar uma metáfora, se ela funciona é porque o cliente se engatou liem no processo interior que aquela metáfora sugeriu. O cliente aceita e trabalha suas questões. Aquela velha estória, "se a cara­ puça serviu..." As interpretações metafóricas que ajudam o clien­ te a capturar uma nova experiência e significado em sua lingua­ gem não podem ir além daquilo que ele apresentou, e assim exis­ te uma enorme possibilidade de serem aceitas por este. Fique ntento: não dê mais do que o cliente possa digerir. Ele terá uma indigestão. Tenha muito cuidado também em não cometer um meta fora (meter fora do lugar). Sofia M. F. Bauer Deve-se dar ao cliente uma interpretação metafórica que capture uma experiência de sua vida diária, e então ele pode fa­ zer seu processo cognitivo de engate com a estória ou analogia apresentada. Agora, se você utiliza, explora e transforma uma imagem metafórica criada pelo cliente, ele diretamente adere ao processo de ressignificação, em que o terapeuta guia a uma exploração in­ terior (realidade interna) e convida a uma transformação. E, des­ sa maneira, o cliente se sente dono da situação (do processo) por­ que as imagens metafóricas vieram de dentro dele. Muitas vezes, o corpo fala metaforicamente de um senti­ mento que, em palavras e mentalmente, não se expressa. O corpo fala em sintomas, que são verdadeiras metáforas. A úlcera que corrói e queima de raiva por exemplo. O sintoma pode ser causa­ do por um conflito não expresso. Ex/ presso quer dizer, posto para fora, em que o corpo ex/ pressa, em linguagem somática, a irritação ou o conflito da pessoa. Isso ilustra como o corpo "fala" através de uma linguagem metafórica de sentimentos; é a lingua­ gem corporal. Psicoterapia jungiana e metáforas Seguindo o mesmo pensamento, Jung era adepto da teoria da imaginação ativa, dos símbolos e do trabalho com a interpre­ tação dos sonhos, em que se dava uma enorme importância às metáforas. Como em Freud, um período inicial do desenvolvi­ mento do pensamento por imagem predominaria, mais poderoso que outra linguagem mais elaborada. O que sugere também o uso de metáforas para termos acesso ao pensamento mais primá­ rio do homem. Psicoterapia familiar e metáforas l| A estrutura familiar também tem uma realidade metafóri­ ca. De acordo com Salvador Minuchin e Fishman (1981), a fa­ mília constrói sua realidade apresentada, e é tarefa do terapeuta selecionar " da cultura da própria família, as metáforas que sim­ bolizam sua realidade reduzida", e usá-las como um "rótulo que I lipnoterapia Ericksoniana Passo a Passo 119 aponta a realidade da família e sugere a direção da mudança" (p. 277). Exemplos podem ser dados: o pai como o caixa forte, a m,H' como uma rainha, o filho como o bobo da corte, a filha como a gata borralheira etc. Se pudermos apreender a simbologia familiar, descobrire­ mos o mito metaforicamente criaremos uma ressignificação (re- Imming) para o processo da família. I lipnoterapia ericksoniana Milton H. Erickson foi habilíssimo no uso de estórias e me- l.iforas em terapia para aumentar a efetividade das psicoterapias breves. Ele acreditava que, contado de um modo indireto um i .iso semelhante ao do paciente, com uma saída possível, ou uma estória que chamasse a atenção do cliente sob certos aspectos se­ melhante aos seus próprios problemas, faria com que o paciente pensasse em seus próprios recursos de como também resolver s e u s problemas. A metamensagem dessas estórias — uma men­ sagem embutida sutilmente dentro do conteúdo das narrativas — passa diretamente à mente inconsciente. O emprego da hipno­ se tornava mais eficaz o uso de metáforas, afrouxando a atenção ■In mente consciente e sua censura, que ficam absorvidas através tle técnicas hipnóticas, enquanto as mensagens são dirigidas à mente inconsciente, que está muito mais próxima do pensamento por imagens do que daquele por palavras. Portanto, em hipnose n efeito é maior e mais duradouro. Eu poderia dizer resumidamente que Milton H. Erickson ilividia a mente em mente consciente e mente inconsciente. Men- le consciente seria aquela mente que pensa, julga, faz e que toma conta da nossa consciência. E mente inconsciente corresponderia Aquilo que se passa fora da nossa consciência, daquilo que esta­ mos cientes, mas que tem um papel em determinar fenômenos fí- micos e mentais. A mente consciente é vista como uma parte limi- lada que não é capaz de muitos pensamentos e atos simultâneos. A mente inconsciente é sábia, ilimitada, capaz de fazer muito mais do que a gente conscientemente imagina, um verdadeiro re- Mírvatório de potenciais. 120 Sofia M. F. Bauer Desta maneira, o uso da hipnose na psicoterapia serviria de ferramenta para distrair e absorver a mente consciente, e le­ var à mente inconsciente, através de meta/ mensagens, sob a forma de sugestão (su, sub = por debaixo +gestione = gestão, ad­ ministração), novas possibilidades de acessar os recursos inter­ nos de cada pessoa e ressignificar aquilo que hoje é visto como problema. Para fazê-lo, Milton H. Erickson utilizava a linguagem do próprio cliente, contava casos, estórias, usava metáforas embuti­ das dentro de outras com o intuito de confundir a mente cons­ ciente e assim levantar resistência. O princípio do uso das metáforas era bem simples: falar de algo que chamasse a atenção do cliente, como uma ponte de ligação ao seu problema, ou que o levasse a agir como um radar, captando o que lhe interessa. Por exemplo: se você tem um pro­ blema em seu carro e conta a alguém o que fez para consertá-lo, onde levou, o que trocou, etc., faz imediatamente a pessoa se re­ meter a um estrago em seu próprio veículo, onde levou, como consertou ou como poderá fazê-lo, caso esteja precisando de aju­ da. É o mesmo princípio. Deste modo, você não provoca atritos com a resistência, o que ocorreria se dissesse diretamente vá e faça assim. Você suge­ re (suggerere, su +gerere) ao outro uma maneira de ver, de lidar, de experienciar algo novo e diferente. Lembrando: Metaforizar é essencial. É o meio de ser indireto, de con­ versar a língua do inconsciente. A pessoa guarda com mais facili dade casos, estórias, interpretações metafóricas do que conversas e interpretações lógicas. As metáforas ficam como uma ponte de tratamento. O cliente vai embora, mas leva algo de que, se a me­ táfora foi feita de acordo e sob medida para aquele sujeito, não se esquecerá. Milton H. Erickson atendia pessoas dos Estados Unidos in­ teiro, alguns estrangeiros e, numa terapia brevíssima, precisava deixar o seu recado e sua ressignificação. Ele o fazia através das metáforas que usava ou das tarefas metafóricas. I lipnoterapia Ericksoniana Passo a Passo 121 Contar estórias metafóricas ajudava a pessoa a poder mo­ ver se de uma situação paralisada. O objetivo das metáforas é C.uíar o cliente para um caminho de auto-ajuda, em que ele pró­ prio vai encontrar uma nova maneira de lidar com o que antes não conseguia. A própria levitação das mãos é uma técnica hip- noterapêutica que tem como linguagem metafórica o significado da mudança natural que vem de dentro, de uma força que se pode acessar, como se coloca um novo programa no computador, la/ ,cndo-o trabalhar numa nova inteligência. De acordo com S. Gilligan: Quando falamos em metáforas estamos usando uma lin­ guagem figurada em que há generalidades sobre determinados assuntos. Cada um dos exemplos metafóricos usados como ge­ neralidade constitui um modo comum e indireto de sugerir uma husca experiencial através da memória relacionada a uma pes­ soa em particular, um lugar, um acontecimento, um objeto ou um processo. Quando ditas com convicção, dentro de um bom rapport, essas generalidades (em metáforas, casos, ou estórias) imergem o paciente num processo de busca interna que culmina- i ã com ele acessando um evento. Considerando que o evento será diferente para cada pessoa, o uso de generalidades em metáforas loma-se um excelente modo de respeitar os processos singulares de cada indivíduo. Como vimos até aqui, os processos inconscientes tendem a representar e englobar idéias de modo mais metafórico do que os processos conscientes. Portanto, o hipnoterapeuta ericksoniano utiliza comunicação simbólica e metafórica. A este respeito vi­ mos que contar estórias ajuda o paciente, desde que sejam meta­ fóricas, no sentido de que o conteúdo da história não se refira ao fnn iente, mas alguns aspectos principais da estória (por exemplo: ns personagens, eventos, temas e objetivos) sejam relevantes à ex­ periência do sujeito. Há muitas maneiras de, metaforicamente, você levar um ■lii-nte a observar aquilo que está sendo difícil para ele. A forma metafórica é indireta. Assim, se você quer que o cliente se volte para problemas de sua própria infância, basta que você conte ca­ nos de infância. Se você contar uma estória de um menino que 122 Sofia M. F. Bauer aprendeu a lutar contra um dragão feroz, ajudando toda sua vila, apenas aprendendo a tomar fôlego, você poderá tratar de muitos problemas que se enquadrem em crescimento, aprender a respi­ rar (asma), segurança, etc. De um modo naturalístico, percebendo a linguagem meta­ fórica, não-verbal, física, do cliente, você o ajuda a explorar, atra­ vés de casos e estórias, novas maneiras de ver e sair de seus pró­ prios problemas. 2. Parte prática — a construção das metáforas Imagine só, véspera de Natal, numa beirada de janela, pen­ sando em metáforas para ensinar a alguém como mostrar o "ca­ minho das estrelas" àquele que não vê a luz. Isto tudo, a menos de 0°C, nevando floquinhos brancos lá fora, montanhas branqui- nhas, carros cheios de neve, música clássica com temas de Na­ tal... É assim que estou aqui, emocionada em poder estar tão perto das estrelas do norte. Dizem que Papai Noel vem do norte, espero que ele me ajude a ensinar vocês a praticar a construção de estórias que mostrem luz aos seus clientes. Como terapeutas, não precisamos brilhar em estórias ma­ ravilhosas, mas sim tocar o coração do cliente, mostrar-lhe que há luz no final do túnel, que há saída para o seu sofrimento. Para isso, não é preciso estórias muito elaboradas, mas com simplici­ dade, palavras-chave, metáforas do próprio cliente. Aí você con­ segue dar o suporte necessário ao crescimento dele, o alívio do sua dor. Agora veremos como fazer metáforas e atingir vários ní­ veis de comunicação. O mais importante é que você fará algo co­ mum (uma estória comum, conhecida) se tornar única para aque­ la pessoa. Você se lembra do processo de avaliação de Jeffrey K, Zeig? Ele ajudará você a perceber a linguagem metafórica do seti cliente. Para isto veremos uma série de dicas. Vamos lá! 1) Dentro da avaliação você pode ver se a pessoa é interni então, fale de sentimentos, sensações, é o que vai atingi-la. Se I lipnoterapia Ericksoniana Passo a Passo 123 pessoa é externa, fale das coisas que rodeiam esta pessoa, as coi- n.is que ela valoriza quando vê, ou que ela deseja ver. Assim, você vai seguindo a avaliação. Veja cada item, ano­ te os. Você fará a estória ser moldada de acordo com os itens .motados. Preste bastante atenção nas relações sociais (filho mais velho, intrapunitivo, radiante, dominante, etc.). Isto irá ajudar você a construir a estória, colocando estes valores idiossincráticos il.i pessoa. Qualquer estória, como a do patinho feio, por exem­ plo, pode se tornar única se for feita colocando os aspectos pes- 1.0,1 is e idiossincráticos do sujeito nesta estória comum. Isso toca .1 pessoa em questão, e a estória passa a ser pessoal. Assim a avaliação é uma ferramenta importante ao cons- Imir uma estória sob medida. Você vai checar os valores, as questões que são idiossincráticas e vai colocá-las na estória co­ mum. A estória comum, por exemplo, "O patinho feio", por si mostra sobre o descobrimento dos valores pessoais, a auto-esti- inii. Se você descreve detalhes em que se encaixem os valores, ca- i .uterísticas daquela pessoa, torna-se uma estória pessoal. 2) O segundo ponto é tocar os interesses do sujeito em questão. Eu chamo isso de "antenar". Todo mundo tem uma espécie de antena, radar. Quando o A ssunto interessa, você ouve. É como uma dona de casa que está nc m empregada e alguém fala de uma forma fácil de fazer comi- d.i o estocar ou de lavar roupa. Ela vai prestar atenção, pois tem o mesmo problema. Então, você fala de algo semelhante que tem o objetivo de mostrar um caminho (solução) e a pessoa vai fazer n u . i escolha para a busca de tal solução. É uma alusão às possí­ veis formas de solucionar algo. Também quando você fala dos seus filhos, o outro tende a fiil.ir dos filhos dele. Quando você fala do seu carro, o outro ten­ de a falar do carro dele, e assim por diante. É uma excelente fór­ mula ericksoniana de fazer o outro falar de suas coisas e, conse­ quentemente, de solucionar suas coisas pelo mesmo princípio. I tnte. Quando você quiser sugerir que há algum caminho, ou Uma luz, fale de algo semelhante ao problema da pessoa. Ela se "antena" àquele problema porque é semelhante ao dela e assim Sofia M. F. Bauer quer ouvir que solução foi encontrada. Pronto! Você faz a pessoa pensar que existe saída para aquilo que parecia não ter. Este é o "princípio-antena". 3. Metáforas — estórias j á contadas algum dia Aqui vou relatar algumas estórias de autores conhecidos, como Rubem Alves e outros. Elas serão como um guia. De nada adianta você contar a estória da borboleta, ou da águia, tal como elas são. Talvez atinjam seu cliente, mas não o objeti­ vo terapêutico. Neste ponto, estou oferecendo um guia de metáforas para pôr sua criatividade a postos e você poder fazer uma ressignifica- ção adequada indireta via alguma estória. Por isso, não venha a este guia; olhe e pense que borboleta sugere auto-estima, águia li­ berdade e assim por diante. Cada uma estilizada ao jeito do cliente ajuda você a criar uma ressignificação, uma resposta indi­ reta em vários níveis de linguagem, que ajudarão seu cliente a descobrir uma saída. O guia é uma ajuda. Agora ponha sua criatividade para funcionar. Aqui não estão todas as estórias produtivas. Estão apenas algumas de que gosto muito e que vão poder ajudá-lo a construir as suas próprias. Há terapeutas que preferem só fazer analogias. Há outros que gostam de contar estórias pessoais porque isso favorece um clima de maior proximidade. Não caia no exagero, porque o cliente pode achar que é você quem está fazendo terapia com ele, e pode querer te cobrar uma consulta. Sem excessos para ne­ nhum lado, sempre. Este livro é um guia básico. Por isso você recebe o básico com as estórias que eu apresento. Vamos às regras: - seja criativo, mude de acordo com a pessoa; - inclua detalhes que tenham a ver com a pessoa. Por exemplo: descreva o bichinho, a criança, com detalhes do seu cliente; I llpnoterapia Ericksoniana Passo a Passo 125 - inclua os detalhes idiossincráticos; - ponha emoção em sua fala ao colocar os valores do seu i I ii'iite em evidência na estória; - utilize as palavras do seu cliente, principalmente as pala­ vras metafóricas; - não siga só as minhas sugestões. São apenas algumas possibilidades. "Á guia" Esta é uma estorinha que eu gosto de usar com a finalidade ilr dizer que, mesmo que você ainda não saiba fazer algo, poderá lrt/ ê-lo desde que tenha vontade de verdade. Ela pode ser útil, para casos em que a pessoa teve uma educação repressiva e está •ii■reprimindo, impossibilitando-se de alternativas que a vida lhe ila de crescer no trabalho, mudar, casar, etc., ou porque falhou mi na vez, ou por nunca ter se atrevido, e você vê que a pessoa lom possibilidades. Você descobrirá inúmeras outras utilidades. ... Esta é a estória de uma aguiazinha filhote que foi acha- >Ia por um fazendeiro, com a asa quebrada, na floresta... Para sal- v,i Ia, ele a levou para sua fazenda... não tendo onde colocá-la, hotou-a junto das galinhas, num galinheiro. Deu comida de gali­ nha e cuidou dela como se cuida de uma galinha. Ela se curou, m,is foi crescendo como se fosse uma galinha. Às vezes achava i*M| UÍsito ser tão diferente: não cacarejava, seu bico era grande e linha grandes garras. Mas ali ficava, triste, vendo que havia algo i| iie não estava bom, sem fazer nada... ... Até que um dia passa por aquelas paragens um natura- I i -l a... que, ao ver uma águia (ave de rapina) criada como se fosse uma galinha, leva o maior susto. Era preciso ajudá-la a mudar! IVdiu licença ao fazendeiro para ensiná-la a voar e começou... ... No primeiro dia... pegou a águia e colocou-a no braço, ili/ endo: você não é uma galinha, é a rainha dos pássaros, uma ityiiia; bata suas asas e saia voando... A águia não entendeu nada... Nunca tinha visto uma águia antes... pulou para o chão e Voltou para o poleiro... 126 Sofia M. F. Bauer ... No segundo dia... o naturalista, inconformado, resolveu explicar melhor... Levou-a ao alto do telhado e mostrou que ela podia voar dali, que ela tinha asas que a fariam sair voando, que suas asas eram maiores que as de uma galinha... além do bico... do seu canto...e que suas garras foram feitas para alcançar seu alimento, quando assim lhe conviesse... Bastava que ela batesse as asas e saísse voando... A águia entendeu que era diferente, porque assim se sentia; mas ela ainda não sabia como... E assim, voltou ao poleiro com toda aquela estória de liberdade, asas, gar­ ras, rainha dos pássaros... ... No terceiro dia... o naturalista entendeu que era uma questão de tempo e oportunidade... Então ele fez a oportunida­ de... levou-a para o alto das montanhas, lugar de águia, e mos­ trou-lhe muitas outras águias voando... Voltou a dizer: bata as asas e saia voando... Suas asas foram feitas para voar alto... você é a rainha dos pássaros... Ela ficou observando as outras e, de re­ pente... num grito de liberdade... num grito de águia... saiu voan­ do de asas abertas... Diz a lenda que esta águia nunca fez uma galinha de vítima, porque foi com as galinhas que aprendeu a ter o pé no chão, a catar seus grãos de milho e, de vez em quando, sentar no poleiro, esperando sua vez... "A borboleta" . Esta é uma estória que eu adoro. E uma estória da nature- ■ za. Eu a vi pela primeira vez terapeuticamente, no livro dos I Lanktons, A resposta interior, um pouco diferente da versão que vocês verão aqui; acrescida de detalhes que eu coloquei. Acho que ela cabe bem no início e no final de uma terapia, como mostra de que toda mudança é possível, mas necessita do esforço e às vezes causa até dores necessárias. Coloco-a em casos em que a pessoa precisa de um estímulo para acreditar que lá dentro dela existe uma "pessoa linda" que pode aparecer, se ela se esforçar. Por exemplo, pessoas deprimidas, obesas, com sín­ drome do pânico têm dificuldades para acreditar que vão melho­ rar. Você pode incluir inúmeros outros casos; sempre que vocô I lipnoterapia Ericksoniana Passo a Passo 127 quiser dar a mensagem de que toda mudança é possível, de que dentro de nós há sempre uma grande surpresa, um reservatório dr riquezas, habilidades, mas que para mudar é preciso sacrifí- i ms, tempo e mudança (a terapia). Eu tenho observado que, se eu coloco os valores da pessoa, rtNcaracterísticas da pessoa, esta estória toca fundo o coração e rt| uda nas mudanças. ... Esta é a estória de uma lagartinha (veja lá se a pessoa não tem fobia a lagartas!) que rastejava pelo chão chorando por­ que era (gorda, feia, sem emprego, triste, etc.), tinha medo de os homens a pisotearem, ficava sentida porque as flores e plantas a rejeitavam, pois ela queria comer suas folhas. Mal sabiam elas que um dia esta lagarta as ajudaria em sua polinização e repro­ dução. Mas ela chorava muito, achava que não tinha saída e fica- vrt ali, isolada, com seu problema... Até que uma coruja, sábia e amiga, lhe disse que não precisava chorar, porque lá dentro dela morava uma linda borboleta... bastava que ela se prontificasse a l,i/ er as mudanças e ela se transformaria numa linda borboleta... A lagarta, cheia de esperança, perguntou como... A coruja disse- lhe que bastava que ela se fechasse num casulo e Já sofresse as li.insformações necessárias para as asas crescerem... Porque na n.iiureza nada se cria, nada se perde mas tudo se transforma (lei de I avoisier)... e ela poderia se transformar... A lagarta pergunta: IRns como criarei asas? A coruja continua dizendo-lhe que basta­ va que ela se imaginasse de asas bem coloridas, voando um vôo lie liberdade, pousando nas flores, sendo bem aceita pelos ho­ mens, pulando de um jardim a outro, indo e vindo para onde quisesse, a favor do vento, contra o vento... mas tudo com asas de liberdade que a fizessem ver longe, leve e feliz... isto bastaria para que as asas começassem a crescer... viriam dores... dores npenas necessárias para as mudanças... mas toda vez que, lá fe- 1’hada em seu casulo, pensasse em suas asas, elas iriam crescer (um pensamento é um ato em estado nascendi, lembrando lri'Ud)... e assim... muito mais depressa do que ela poderia ima­ ginar, tudo seria diferente... Ela sairia do casulo com asas, livre, Voando, vendo o mundo lá do alto... bem diferente de como via antes... 128 Sofia M. F. Bauer "A rosa" Esta estória me foi contada por um amigo apaixonado. Um certo dia, na tentativa de declarar seu amor pela namorada, deu- lhe um botão de rosa e pediu-lhe que, todos os dias, invariavel­ mente, observasse aquele botão, pois ela teria uma surpresa ma­ ravilhosa. E assim, todos os dias, pela manhã, a namorada olhava o botão que ia crescendo e se abrindo aveludadamente, exalando um perfume discreto e inebriante, responsável pela atração dos zangões e beija-flores, até que um determinado dia o botão se transformou numa bela rosa e, de dentro dele, visualizava-se uma aliança com um bilhete que dizia: "Quando o botão se abre eu entrego o meu amor, porque assim eu sei que a rosa já está madura para recebê-lo." "Solos" Eu passei parte da minha infância brincando em área rural. Por isso gosto de estórias de conteúdo rural. Observe este detalhe importante caso a pessoa seja de cidade grande. Mesmo assim, querendo contar, explique bem para a pessoa poder entrar no cli­ ma da situação... Esta estória é mais uma analogia sobre os tipos de solos. Há algum tempo, folheando uma revista, vi um anún­ cio: numa página, terra árida... virava a folha... a mesma área, verde, irrigada e cheia de plantas com seus frutos... Há vários tipos de solos... Há aquelas terras roxas... como no Paraná e São Paulo... Terra cara... onde tudo que se planl.i nasce... basta plantar... existem outras terras... como as terras ari- nosas... não tão boas... mas com um pouco de calcário, como rui cerrado... você planta e tudo nasce também... e há terras que eram consideradas solos inférteis... (isto é ótimo para mulhero que querem engravidar, alguém com algum projeto parado por que acha que não é bom o suficiente, etc.). ... Em Israel os solos eram desérticos... eles precisavam plantar... comer... assim, desenvolveram técnicas de irrigação nrij tificial... irrigaram aqueles solos... e se tornaram os maiores pm I lipnoterapia Ericksoniana Passo a Passo 129 . hilores do mundo em melões, melancias e morangos... Aqui no Hr.isil, no Nordeste, o clima é perfeito, mas as terras também são consideradas ruins... mas há gente que acredita, tem fé, e irrigou eslo solo... Calor, clima favorável, terra irrigada... está se tornan­ do uma grande área produtora de frutas... inclusive dá duas co­ lheitas de uvas por ano!!! Não importa o tipo de solo, solo se cor- i i| ',e, o que importa é a vontade de frutificar e o investimento... "Sementes" Neste ponto gosto sempre de juntar ao solo a "semeadura" ile algo novo. Aqui acrescento alguma estória sobre sementes Item cuidadas, bem escolhidas. Plantadas na época correta, serão uh frutos de amanhã. Solo com mais semente, mais cuidado, timor e investimento, e você terá, lá na frente, os lucros deste pl.intio. Confie! No livro A magia da hipnose de José A. Mendonça, existe li 111.1 história muito boa sobre as chuvas de setembro, que eu rela- lo no item "Semeadura" deste livro. Lembro-me de um filme de Kobinson Crusoé, em que ele ensinava aos índios que estes deve- i i.iin comer apenas as espigas de milho pequenas e carunchadas, c deveriam plantar os milhos das grandes e boas espigas. Boas iicnientes, na época das chuvas (irrigação), é sinal de bons frutos. "Crescimento 1" Quando meu filho mais velho estava fazendo a 1- série, aos 7 iinos (ano das simbolizações), ele teve que fazer uma experiên- il.t de plantar feijão. Plantaria em algodão seco, algodão com ii| ',u.i, terra seca e terra com água. Deveríamos observar o que liineeria primeiro, como cresceria e tudo o mais... ... Eu também "viajei" na experiência... Como a vida nas- »•• Não basta nascer, tem que sobreviver!... Este era o nosso em­ penho... Sem água não vive! Sem sol, também não! Mas pode-se I i ti er com água apenas, sobrevive se a raiz não se fixa?! Depen­ de «I<>tamanho da planta! Ah, também é preciso de terra firme!... I >111e beleza era ver que o que primeiro nasce são as raízes, aqui- 130 Sofia M. F. Bauer lo que fixa, que busca o alimento necessário... só depois é que vem caule, folhas... flores e frutos... e tudo vai depender do solo, do sol, dos cuidados e de uma raiz bem fixada... Toda plantinha, no início, precisa de apoio para crescer... Podem haver intempé­ ries... pragas... e você cuida, olha, vigia para ela crescer... lhe dá água e o que mais necessitar... mas você sabe que de uma única semente virá uma planta de verdade!... ... Aqui me lembro de Michael Mahoney, numa conferência em São Paulo, contando sobre uma passagem com seu filho, vol­ tando de um jogo, no qual o filho havia perdido a partida. Ele e o coleguinha vinham conversando no carro e, para consolar o cole- guinha, o filho disse: olha, não se preocupe, nós somos vencedo­ res natos. O colega pergunta por que e este responde: "porque fo­ mos o espermatozóide vencedor numa corrida com milhões e mi­ lhões de outros. Nós vencemos ao capturar o óvulo e estamos aqui!"... "Crescimento 2" Uma outra forma de estimular o crescimento é trabalhar em cima do aprendizado do andar, ou do ler e escrever. São bata­ lhas difíceis, demoradas, mas pelas quais todos nós passamos. Hoje, não pensamos mais como fazemos para dar cada passo, mas houve um dia em que isto foi necessário. Aliás, uma boa temporada de treinamento! Podemos dizer a mesma coisa do es­ crever e do ler. Um longo período de treinamento. Mas o fato é que, tendo motivação, treinando e querendo, tudo se aprende. Erick­ son, em luta com a recuperação da pólio, passou pelo estágio de reaprender a andar. Ele imitava sua irmãzinha que, naquela altu­ ra, aprendia seus primeiros passos... foi imitando-a, treinando e reaprendendo... por isso é possível reaprender o que quiser... mas é preciso estar motivado a fazê-lo... (como terapeutas, cabe a nós sermos o ponto de apoio à motivação, porque não basta apenas ter a motivação. A qualidade e o sucesso de um empreendimento dependem da motivação e do apoio, este último dado pelo terapeu­ ta... aceitar o indivíduo com suas limitações e ensiná-lo a desco­ brir saídas e seus recursos interiores). ■ J I lipnoterapia Ericksoniana Passo a Passo 131 Mas você pode também criar estórias do aprender a ler e cm rever. Ou outras aprendizagens como línguas, esportes, etc. i rio... "Mares" Estas estórias que eu estou colocando aqui têm muito a ver i omigo, por isso são minhas preferidas. Prestem atenção ao seu estilo e o respeitem. Se eu escrevo sobre o mar, você pode escre- vcr sobre o espaço. Seja você. Isto é um guia e você está vendo «<>ino eu vejo o mundo... Nasci numa praia... minha casa dava p.na a areia... e uma das coisas que eu gostava de fazer, desde pequena, era apreciar o mar, as marés, a Lua, as estrelas, as nu­ vens, a cor do céu... e "viajava" com cada mudança... Dias de i huva, eu ficava horas observando a cor do mar, as ondas. Como Indo mudava tanto! E aquele azul, pra onde fora?!... O jeito era ler paciência, porque depois da chuva viria novamente a luz do Sul Ah! Quando eu vi estas palavras ditas por Milton H. Erick- Kim a uma paciente dele deprimida, que alegria, tinha encontra­ do alguém que respondia àquilo que eu me perguntava... mas Nrto só pensamentos... voltemos ao tema! Eu gosto de usar esta metáfora para mostrar a mente cons­ ciente, o que se vê de fora (a praia), e o que existe lá dentro e que 11.10 se vê, mas existe (as profundezas, as riquezas), para mostrar i| in; as intempéries fazem parte da vida natural, e também ser­ vem para aprofundar o transe. À medida que vai se aprofundan­ do no mar, aprofunda-se no transe. Mas é preciso um cuidado especial ao utilizar esta metáfo- i.i como muitas outras. Verificar se a pessoa tem medo de água, i n. i r , mergulhar, se ela já teve alguma tragédia envolvendo mer­ gulho. Apenas pergunte: Gosta de mar? E de mergulhar? Isto h.t .l.i para você saber se pode usar de mais esta ferramenta. Quando você vê uma linda praia, a observa de fora, vendo ii heleza da cor de suas águas, da areia à sua volta, das plantas... HWis não fica pensando como é o relevo lá debaixo... imaginando (M peixes... as algas... pedras... Você apenas sabe que existe este 132 Sofia M. F. Bauer mundo lá debaixo... Aprecia o que os seus olhos observam e sen­ tem... Pois é... o que os seus olhos vêem. Observa as mudanças de clima, temperatura e pressão... Dias muito quentes, sempre tra­ zem aumento de pressão, tempestades e chuvas fortes... Como o mar modifica... fica bravo... batendo ondas violentas... sujo e feio... mas com o tempo ele vai acalmando... então, vem o tempo da ressaca... mar feio... revolto em areia... o céu já está limpo... o sol já brilha novamente... mas é tempo de cuspir o que é ruim para fora... põe pedaços de embarcações, latas velhas, cascas de coco... a praia fica feia... mas o mar vai se limpando... e aos pou­ cos se acalmando... a areia assentando e tudo vai chegando ao lu­ gar... e novamente o mar fica claro, limpo, convidativo a um bom mergulho... E você pode mergulhar... mergulhar devagarinho... ir conhecer o outro lado... o que há lá embaixo... Meu Deus! Um mundo... um mundo que vive, sente, trabalha e, no silêncio do interior, funciona produzindo riquezas e belezas... e você pode ir mergulhando... seguramente... protegidamente... vasculhando... descobrindo... dos pequenos peixinhos coloridos... algas... estre­ las do mar... até mesmo mais profundamente... as coisas grandes que habitam lá no fundo... não tenha medo... é a sua praia... é o seu mar... você pode observar as maravilhas que lá existem... você pode parar... boiar... respirar livremente... apenas observe... Há vida! Há riquezas!... e bem lá no fundo, no subsolo... há uma grande riqueza... há petróleo... que dá a energia da vida... Obser­ ve... veja vida dentro de você... e assim, aos poucos... devagar e lentamente... você pode ir voltando... e quando chegar à tona... à sua praia... sente um pouco... observe-a... descanse... e pense sem­ pre... que há um mundo de coisas a serem descobertas dentro do seu próprio mundo... Aproveite! "O rei e o sábio" Diz uma estória que o conselheiro sábio do rei estava mor­ rendo e o rei estava desesperado porque, o que seria dele sem o seu conselheiro? Quem indicaria o caminho e lhe daria as respos-j tas? No leito de morte, o sábio deu ao rei um anel e lhe disse: "Ó, meu rei, tu que já aprendeste tanto, saberás levar a vida sem o$í meus conselhos, eles já estão lá dentro de ti, mas quando achares I lipnoterapia Ericksoniana Passo a Passo 133 t| iu' não consegues mais, depois de tudo tentar, tu poderá ler a mensagem de dentro do anel." Passaram-se anos, o rei foi lutando, péssimas colheitas, Im m s colheitas, tempos de paz, tempos de guerra e ele lá... lutan- «Io. . até que, num certo dia, desesperado, achando que não daria i nnta, sentindo-se sem conseguir achar alguma saída, lembrou-se do .mel do sábio, o qual andava em sua mão por todos aqueles «nos... Abriu o anel e lá estava escrito: "... Assim como tudo que lu j.í passaste, enfrentaste e deste conta... também isto passará..." "O velho e o jornaleiro" Um velho senhor costumava dirigir-se todos os dias de m.mhã a uma banca de jornais para comprar o seu matutino, i úmprimentava amistosamente o jornaleiro, comprava o jornal, .if.radecia, despedia-se dele e ia contente ler as notícias do dia. Acontece que o jornaleiro sempre o tratava com monossíla- |n>s e cara fechada, nunca respondendo aos seus cumprimentos e rt)',iiidecimentos. Um certo dia, um outro senhor, que estava sempre ali pelas n ilondezas da banca de jornais, dirigiu-se ao velhinho e inda- ) ' i mi lhe sobre o porquê de tanta gentileza e educação com uma pessoa que só lhe tratava com pouco caso e uma certa estupidez, c se ele não deveria responder-lhe com a mesma linguagem, ao II <i■*o bom senhor retrucou, dizendo: — "Eu não quero dar a ele o direito de escolher como eu (| i<vo me comportar." "A história de Clara" Também ouvi esta estória por aí... Dizem que, quem conta iiin conto sempre aumenta um ponto... É mais ou menos isso que ■ C ê s vêem por aqui... Algumas estórias têm autor conhecido, iti.is, desconhecido, outras estão um pouco distorcidas, mas o iu* importa mesmo é o objetivo de contar a estória e ressignificar i .iminho. Caso você encontre algumas estórias já vistas, elas es­ 134 Sofia M. F. Bauer tão aqui só para mostrar que estórias comuns podem ser o veícu­ lo de estórias únicas que virão a seguir. Esta estória é mais uma que, se lhe forem acrescentadas peculiaridades e valores pessoais, poderá se tornar única e ainda levar a mensagem de que nunca está tudo perdido... ... Clara era uma moça triste que não gostava da vila de pescadores onde vivia, não gostava do que fazia, e só sabia recla­ mar... Numa madrugada de tempestade ela foi acordada por uma voz que dizia: "Clara, vá até o rio agora, e você fará uma grande descoberta." Clara, apesar de triste e reclamona, era cheia de vontade de melhorar. A descoberta seria uma boa nova... mes­ mo no meio de toda aquela chuva, ela saiu na noite e foi até a bei­ ra do rio... lá chegando, tropeçou num saco de pedras e começou a procurar pela grande descoberta... não via nada... para passar o tempo, foi jogando as pedras do saco na correnteza do rio... o tempo foi passando e nada... nas primeiras luzes do raiar do dia, Clara segurava a última pedra do saco... ao perceber, num misto de desespero e clarividência, que se tratava de um diamante... Ela havia jogado rio abaixo inúmeros outros diamantes... mas a voz veio novamente e disse: "Clara, você ainda tem um diamante na mão, use do brilho e da riqueza dele e mude sua vida, ele pode ser sua grande fortuna"... A partir deste dia Clara mudou sua vid.i. Com aquele diamante teve o dinheiro suficiente para fazer um negócio próprio e começar sua vida... Muito trabalho... mas com .1 vontade e o brilho que levam alguém a mudar de vida e vê-la com bons olhos... "O artista perfeito" Para os que têm mania de fazer tudo certinho, não podem errar e por isso travam suas vidas; para pais que querem que os filhos sejam perfeitos; para aqueles que só aceitam o caminho da retidão, e para muitos mais... use esta estória que mostra que a beleza pode estar em qualquer lugar, e que se pode enxergá-la até nos graves defeitos... ... Esta é a estória de um artista plástico que tinha mania de perfeccionismo... Ele fazia vasos de barro... mas seus vasos ti- 111|<•utlerapia Ericksoniana Passo a Passo 135 itli.tm que sair perfeitos... senão ele os quebrava e ainda ficava i «>111 muita raiva... Seu ateliê ficava numa praça e, de onde ele tra- hilluiva podia ver as pessoas transitando, e as pessoas faziam o mesmo da praça... Só que este artista gastava mais tempo tentan­ do mt perfeito, quebrando vasos e ficando com raiva, do que se divertindo em trabalhar com a sua arte... Até que um dia passou | >el,i praça uma moça linda... ele se encantou por ela e errou feio ii 111,10 na massa... O vaso saiu ainda mais torto! Ficou bravo e, ■Iu.indo já ia jogar o vaso fora, a moça chegou perto e pediu para i tunprá-lo... Ele se negou, dizendo que o vaso estava torto e as- niiii ele não podia vendê-lo... A moça insistiu tanto que ele deu-o de presente a ela... A cena se repetiu por algumas vezes... Ele, Inspirado na beleza da moça, erra a mão na massa... o vaso sai lorto... ele quer jogar fora... a moça quer comprar... ele acaba dan­ do o... Depois de algum tempo... ele recebe um convite para uma ck posição de arte... Para sua surpresa, o artista era ele e as peças, m’us vasos tortos!... ao indagar, a moça, que era uma crítica de ar­ tes, então lhe diz: "Uma obra-prima é aquela obra feita sob uma M a inspiração, ninguém pode imitá-la exatamente como ela é, por isso é única. A beleza não está nos traços perfeitos, mas no t|UO é único e só dela... São todas grandes obras de arte." "Boiar" Esta é uma boa metáfora para quem tem dificuldade de en- Ir.ir em transe, de se entregar ou tem medo de perder o controle... ... Quando eu era criança, como já disse, morava numa praia... minha mãe não sabia nadar... tinha muito medo que nos afogássemos no mar e ela tivesse que socorrer sem saber nadar... por isso ela só nos deixava entrar no mar até a altura dos joe­ lhos... o que era muito pouco... ... Um dia meu pai resolveu nos ensinar a boiar... aquilo poderia aliviar um pouco a aflição da minha mãe... A praia perto de onde eu morava tinha uma correnteza que levava a uma prai nha ao lado... Ele acreditava que, nos ensinando a boiar, chega- i mmos a esta prainha, caso a maré nos puxasse mar a dentro... 136 Sofia M. F. Bauer ... Mas do que eu me lembro como se fosse hoje foi da aula.... da primeira vez em que eu boiei... que delícia! Que coisa boa! Eu era tão pequena que a mão do meu pai, apoiando as mi­ nhas costas, era um apoio enorme!... e ele dizia: "... solte-se, eu estou te segurando... respira fundo, Sofia... seu pulmão se enche como se fosse uma bóia... respire... olhe para o céu... veja o azul do céu... as nuvens... sinta o barulho do mar em seus ouvidos... vai soltando seu corpo... abrindo os braços... abrindo as pernas... respirando fundo... agora sinta... você flutua sobre as ondas... você está respirando gostoso... seu pulmão é como uma bóia... agora você vai subir a onda... veja como é gostoso... e assim... lá pelas tantas... eu estava flutuando... leve... gostoso.... sem a mão dele me segurando... Pulava as ondinhas... mergulhava nas on- donas... para logo poder estar boiando... sol batendo... barulhi- nho da água nos ouvidos... o corpo solto... curtindo cada movi­ mento... que delícia!... "Árvore" Uma árvore é como uma vida... Primeiro vem uma semen te... que cria raízes... se a raiz for boa e forte, buscará o alimento fundo e crescerá... a árvore vai crescendo... aos poucos vêm os galhos, as folhas... às vezes, se cresce em direções erradas... se en­ torta.... é preciso podar... outras vezes... existem pragas e aí tam­ bém é necessário podar... outras vezes são acidentes naturais, como um raio, que quebram partes da árvore... Mas, como todo ser vivo... pode regenerar... pode crescer para o lado certo... pode recuperar o que foi perdido... E lá vai a árvore crescendo... ficam marcas das podas... ficam marcas da vida... Vêm as flores... os frutos... frutos bons... frutos ruins... frutos que são arrancados an­ tes da hora... frutos que apodrecem no pé... frutos que ficam no ponto... e a árvore continua... enquanto houver sol, terra e água.., ela estará lá, vivendo, dia a dia, até o seu pôr-do-sol... "Cicatrizes" ... Há vários tipos de cicatrizes... há aquelas que são super­ ficiais... que com algum cuidado logo estão boas... há outras que I lipnoterapia Ericksoniana Passo a Passo 137 mais profundas... precisam de algum tempo para irem se re- i.i endo... doem muito... mas a cada dia que passa... podem doer menos... há algumas que necessitam ser ocluídas por curativos, Imi,i não contraírem infecção secundária... depois de algum tem­ po libera-se o curativo e se as deixa seguir o caminho natural da regeneração... O que se sabe é que toda ferida cicatriza, na pri­ me i ra ou segunda tentativa... Com tempo, repouso e cuidado, Imlo volta ao normal... Até mesmo nas grandes amputações, aci- i lente ou necessidade. A dor da perda de um membro é muito so- IrWla... Vem a dor fantasma... a dor presente de um membro au­ sente... que se faz presente sentindo-o ausente... e como todo bom medico diz: "Só o tempo cura esta dor de nervos, até que eles se acomodem à nova situação de já não ter mais aquele membro nlielado ao seu lado... Mas o tempo passa e a dor vai sumindo... Vem o tempo de adaptação..." As três estórias que eu vou contar agora, resumidamente, Você pode encontrá-las nas obras de Rubem Alves. Estou só resu­ mindo o conteúdo de algumas por achar que são estórias muito vil lidas na auto-ajuda. "As mil e uma noites" Existem inúmeras versões para esta estória. Aqui vai mais lima. Na verdade gosto de usar esta estória para mostrar às pes- unas que um amor pode durar uma vida... basta você querer... é tlllerente de uma grande paixão... é uma conquista feita aos pou­ quinhos... todo dia... Não é desfazer todo dia... é fazer todo dia lim pouquinho... ... Conta a lenda que um sultão fora traído por sua esposa r | iirou nunca mais sentir a dor do amor e perder a sua amada... pni' isso instituiu uma lei em que ele se casaria todo dia com uma nova esposa, teria com ela uma noite de sexo e no dia seguinte, pela manhã, mandaria lhe cortar a cabeça, antes que pudesse se itp.iixonar por ela... Assim ele ia fazendo, as mulheres do reino fi- i nvam apavoradas, com medo de serem as próximas vítimas. Até (| lie Xerazade, filha do vizir, se dispôs a casar-se com o sultão paia pôr fim àquela maldição. Seu pai entrou em desespero, pois Sofia M. F. Bauer era ele quem mandava cortar as cabeças... Pediu à filha que não o fizesse... mas ela insistiu... Conta a lenda que Xerazade era mu­ lher culta... que lera toda a biblioteca do Sultão... sabia poemas... estórias... provérbios... como ninguém... nada se fala sobre seus dotes de beleza... Xerazade se casa com o sultão... tem uma noite de sexo maravilhosa... quando o sultão começa a cochilar para adormecer, Xerazade começa a pensar que é hora de fazer algu­ ma coisa para não morrer decepada na manhã seguinte... Ela con­ ta estórias, as mais lindas, em versos e prosa... ao pé do ouvido do sultão... e devagarinho vai soprando, suavemente, palavras... tramas e amor... o sultão se encanta... no dia seguinte, pela ma­ nhã, o sultão adia sua morte para o dia seguinte e... assim por mil e uma noites e mais uma... eternamente... ele vai adiando a morte daquela mulher que o encantava dia a dia... Mas todos os dias de sua vida... o amor nasce... cresce e deve ser criado assim... todos os dias um pouquinho... "O pássaro encantado" Esta estória de Rubem Alves ajuda a mostrar que a posses­ são só piora as coisas. Ciúme e posse abalam uma relação. A li­ berdade é o sinônimo de uma união, fica-se porque gosta... isto ó o que vale... É como diz a música do Gilberto Gil: "o seu amor, ame-o e deixe-o livre para amar"... ... Conta a estória que um pássaro encantado visitava uma menina, vez por outra, para cantar as mais lindas melodias... Vi­ nha sempre com uma penugem maravilhosamente colorida... um canto de cada lugar do mundo que já havia estado... A menina so encantava com ele... e um dia resolveu prendê-lo, para que ele só cantasse para ela... colocou-o numa gaiola e lá ficou observando- o... ele foi parando de cantar... perdendo a cor de suas penas v aos poucos foi ficando cada vez mais triste... Então a menina per cebeu que para ele viver era preciso libertá-lo... Soltou o pássa ro... ainda que ficasse triste... mas sabia que, se o tratasse bem, ele voltaria a visitá-la sempre... pois ele a visitava porque gostava dela... Assim, toda vez que ele viesse seria bem recebido, com amor e prazer, de ambos os lados. Isto bastaria para que ele re­ tornasse sempre e o que havia de belo permanecesse... I lipnoterapia Ericksoniana Passo a Passo 139 "A toupeira" A toupeira é um bichinho feio e quase cego. Vive enfiado ilrhnixo da terra. Esta é uma ótima estória para quem faz "políti- i ilc>ema", ficar com a cabeça enfiada debaixo da terra quando problema acontece, ou porque tem medo ou falta cora- IIh i i , ou seja lá por que for. ... A toupeira era quase cega de tão míope, não enxergava i| ii.ise nada e por isso tinha medo de sair da sua toca e ser esma- e,.i'!•>por um animal maior... ou de cair num abismo... e por isso I u .iva entocada... tão protegida... que nem mesmo via a luz do iliit .. e ninguém podia vê-la... Assim ela ia vivendo... triste... mm medo... e escondida... Mas ela era boa em juntar gravetos, rm construir casinhas de galhos... lá ela ficava fazendo tudo es- londido... Um dia, avisaram que um cometa passaria no céu... ela queria tanto ver o cometa que, na noite anterior à sua passagem, Hit sonhou o seguinte sonho: ...o cometa havia passado e manda- iln duas estrelas para os seus olhos e ela passara a enxergar liulo!... Saiu, então, para conhecer como era lá fora da toca... Que Mirpresa!... Uma grama verdinha... flores por todos os lados da lli«resta... Nossa, como as formigas eram pequeninas e não ti­ nham medo de ser esmagadas! Havia pássaros cantando... como li ilia era ensolarado... ninguém a machucava ... e ela ia andando c .iproveitando a natureza à sua volta... ... Quando acordou do sonho, acordou diferente, com a co- i >t)',emde fazer uns óculos para ver, lá fora, tudo o que havia vis- lit cm sonho... E assim ela o fez. "Estrelas-do-mar" Esta estória é baseada na obra do escritor Loren Eiseley. Era uma vez um escritor que morava numa praia tranqüila, »m uma colônia de pescadores. Todas as manhãs ele passeava à hcn.i-mar para se inspirar, e de tarde ficava em casa, escrevendo. 140 Sofia M. F. Bauer Um dia, caminhando na praia, ele viu um vulto que pare­ cia dançar. Quando chegou perto, era um jovem pegando na areia as estrelas-do-mar, uma por uma, e jogando novamente de volta ao oceano. — Por que você está fazendo isso? — perguntou o escritor. — Você não vê? — disse o jovem. — A maré está baixa e o sol está brilhando. Elas vão secar ao sol e morrer, se ficarem aqui na areia. f l — Meu jovem, existem milhares de quilômetros de praia por esse mundo afora, e centenas de milhares de estrelas-do-mar espalhadas pelas praias. Que diferença faz? Você joga umas pou­ cas de volta ao oceano, mas a maioria vai perecer de qualquer forma. O jovem pegou mais uma estrela na areia, jogou de volta ; ao oceano, olhou para o escritor e disse: ■ — Para essa, eu fiz diferença. Naquela noite o escritor não conseguiu dormir, nem sequer conseguiu escrever. De manhãzinha foi para a praia, reuniu-se ao jovem e, juntos, começaram a jogar estrelas-do-mar de volta ao oceano. "Essa dor tem outro nome" Baseado no livro homônimo de Maria José de Serra. Muitas vezes aprendemos com os nossos filhos. Esta estó­ ria aprendi com o meu filho Pedro que sabiamente ajudou a cu­ rar "uma dor" que constantemente aparecia em minha filha M ar-; cella. Acredito que, mesmo sendo uma estória infantil, você pos­ sa aproveitar com seu cliente e utilizá-la nos casos de dores so- matizadas. ' ... Tudo começou com queixas constantes de minha filha, antes, durante ou depois da aula... Num dia, tinha dor de cabeça, 1111>iuíterapia Ericksoniana Passo a Passo 141 iiniilro dor de barriga, noutro dor de garganta, e assim por dian- lr listava entrando no primário, tinha lá suas dificuldades: ti| Mi'iidizado do alfabeto, a matemática e a adaptação a uma nova i "mola... Menina sensível... sentia mas não sabia expressar... então rolocava em "dores" ... melhor dizendo "em sofrimentos"... ... "Em casa de ferreiro o espeto é de pau"!... Eu não via lurio!!! Até que um dia meu filho, ouvindo uma queixa de dor de i ilhoça, disse: "Deixa mãe, eu resolvo isto. Vou trazer um livro da tvtcnla e vou contar uma estória que vai curar estas dores! Sabia esta dor da Marcella tem outro nome?!"... ... Voltou da escola orgulhoso... livro na mão, pôs-se a ler piira nós duas... Fomos ouvindo a estória... Percebi que ambas es- iávamos curiosas... afinal, algo nos curaria!... ... Era a estória de uma menina que foi para a escola e, du- i tinte o ano, começou a ter dores todos os dias... Um dia tinha dor ilc garganta... ia ao médico, não era nada... Noutro tinha dores de ttiheça, ia ao médico, não era nada... E assim as dores vinham e Itim... vinham e iam os médicos... doença de verdade... nenhu­ ma... ... Até que um dia foram num médico diferente... ele ouviu rtn queixas e disse à mãe e à filha: "Sua filha sofre sim, mas essa ihu tem outro nome"... Que susto! Como?! O que era?... O médico rqtlicou que só a filha saberia dizer qual o outro nome da dor... Toda vez que uma dor viesse... a mãe deveria parar tudo e per­ guntar à filha. "O diálogo do grande carvalho com a pequena laranjeira" Lembro uma vez, ainda estudando como criar metáforas, num curso fora do país, em que tive de criar um diálogo em que imi deveria falar algo ao meu professor. Que aperto! Mas aprendi, dentro das teorias budistas, que é exatamente a incerteza, a inse­ gurança, que trazem a criatividade... fui em frente... mais um C.i.mde desafio: hipnotizar, criar uma estória numa língua dife- ivnle e para o professor! Meu Deus, era desafio demais... 142 Sofia M. F. Bauer ... Depois de uns minutos de silêncio, pensei: Por que não contar a minha história para ele? O resto... a interação, o diálogo viria... Veja o que deu... eu a uso até hoje... Aproveite para fazer as suas... Quando a gente se prontifica a estar com o outro e querer ajudá-lo... as coisas caem do céu... ... Naquela hora pensei o que poderia me representar?... uma laranjeira, no meio de um laranjal... Tantas laranjeiras. Umas mais velhas, mais sábias, produziam frutos facilmente... eu era tão nova, acho que era a primeira vez que eu florescia... esta­ va muito alegre... por estar no meio de grandes laranjeiras que produziam frutos deliciosos... no mínimo eu iria produzir frutos semelhantes... Assim, comecei a contar a história desta laranjei­ ra... enquanto eu ia contando, procurava expressar o que eu sen­ tia lá dentro... Quanto mais eu colocava a laranjeira com senti­ mentos, mais eu percebia as reações do professor... ele ouvia...dife­ rente/mente... ... Mas a laranjeira era novata, nada sabia, ela queria aprender a florescer como as grandes laranjeiras... mas o simples fato de estar florescendo pela primeira vez a deixava emociona­ da... ela produzia flores, então viriam os frutos... Pelo fato do seu excitamento, sua robustez, ela exalava um perfume mais inten­ so... era diferente... chamava a atenção o perfume de laranjeira nova... encantava... O carvalho, árvore frondosa, que trazia a sombra do sol forte e a proteção aos grandes vendavais, foi sen­ tindo o cheiro da coisa nova... quem era essa laranjeira tão pe­ quenina, mas tão saliente, mostrando seus ares de curiosa?... As sim, o carvalho indaga a ansiosa laranjeira... Ela responde que ó nova na área, fora enxertada naquele terreno há pouco tempo, mas estava gostando de ter ao seu lado tão grande carvalho como protetor... Ele então responde cordialmente ao cumprimen­ to dizendo:... É muito bom receber gente nova, ainda viçosa, com perfume novo, que vem arejar estes ares... Há sempre uma troca/ ; laranjeira nova... eu lhe dou sombra... você dá um novo perfu­ me... I lipnoterapia Ericksoniana Passo a Passo 143 ... Os dois assim entraram num bom diálogo e, dali pra Ircnte, fizeram um pacto de troca... como estariam sempre por perto, seria muito bom que as trocas se fizessem sempre... A par­ le jovem entrava com garra, alegria, entusiasmo e muita vontade de aprender... A parte mais sábia, mais vivida, entraria com a sa­ bedoria... guiando passos... indicando as estações do ano... dando proteção... sombra... carinho e compreensão aos atos impulsivos da parte nova... já sabiamente podado pela vida, o carvalho sabia que haveria tempo de primavera... flores... que dariam frutos... mas que viriam longos invernos... e seria exatamente neste perío­ do... que haveria de se ter força para sobreviver... ... O diálogo dura até hoje... enquanto houver vida, haverá troca... E os dois lados dão e recebem... isto faz a união... Esta é uma estória que uso muito para dizer que o novo aprende com o velho, mas o velho aprende também com o novo. Há sempre trocas... Você pode dar o que você tem de bom, ale sua curiosidade, e com isso receber o conhecimento... o ama­ durecimento... ... Há sempre o que dar e, do outro lado, o que receber... O cliente procura o terapeuta para ganhar proteção, vida nova, luz e caminho e o terapeuta é um eterno aprendiz... ele aprende com todas as lições que os clientes lhe dão... é um eterno trocar... I lívirta-se com estas estórias... "Porco-espinho" Conta uma estória que mandaram um casal de porcos espi­ nhos para a neve. Eles sentiam tanto frio que resolveram esquen- lni um ao outro, ficando bem juntinhos, mas, abraçados, começa- i.nn a se espetar com seus espinhos, um ao outro. Dai que se in- Invii/ avam com o veneno um do outro, devido à proximidade magerada. Sofia M. F. Bauer Preferiram, então, manterem-se afastados... Mas afastados sentiam frio... poderiam morrer... resolveram que o melhor seria ficarem perto o suficiente para se aquecerem e longe o suficiente para não se espetarem... "Pollyana, o jogo do contente" Pollyana é um livro infanto-juvenil muito interessante, es­ crito por Eleanor Hodgman Porter. Eu gosto muito desta filoso­ fia: aproveitar as coisas ruins que acontecem, ver o lado bom... ... Quando eu tinha 12 anos minha mãe faleceu... fiquei mui­ to abalada porque eu a amava demais... ela era linda, em todos os sentidos, até na alegria... Na hora do enterro, quando eu não a ve­ ria mais, pedi a Deus que me desse força para guardá-la no cora­ ção e que eu aprendesse as lições que ela havia me dado até então, inclusive a alegria de viver... Lembrei dela sorrindo e me dizendo: "Sofia, olha para o céu, hoje tem festa de aniversário lá, está cheio de docinhos de coco, olhe!" (eram aquelas nuvens branquinhas, pequeninas e ralas). Neste mesmo instante olhei para o céu... ele estava rosado com o pôr-do-sol... lindo para recebê-la... eu pedi a Deus que me desse um sinal de que eu daria conta do meu recado e de não tê-la por perto... Foi chegando uma freira do colégio onde eu estudava e me deu um livro... Foi o sinal de Deus... O li­ vro era este, Pollyana, que falava do jogo do contente... Saí dali já lendo e aprendendo que tudo tem um lado positivo... Deus levava quem eu amava, mas me dava coragem para cuidar de outros que eu poderia amar e ensinar a alegria de viver... Ali começava mi­ nha jornada de fazer alegre aquilo que se entristece... "Longe é um lugar que não existe" Quando eu era estudante de medicina, vivia choramingan­ do que minha formatura estava longe, muito longe. Era difícil, ti­ nha que estudar, dar plantão, ainda cuidar dos afazeres de casa. Quando eu iria ser médica, quando eu iria ser alguém?! Fazia aquele tempo ser mais longo do que era, sofrendo o que não era preciso.... 1111 •>><*l«i apia Ericksoniana Passo a Passo 145 Mas um dia ganhei um livro de uma pessoa especial, e o livro m' chamava: Longe é um lugar que não existe, de Richard Bach. I •nome já me interessou e logo comecei a lê-lo. Contava a história de uma gaivota que morava no norte ( l i I .lados Unidos e que chorava porque sua melhor amiga fora i mhora para o pólo Sul num navio. Chorava dizendo que a ami- gti Unha ido morar muito longe, muito longe... . Mas uma ave amiga, ao vê-la chorar, disse: "Longe é um Ih| ',.h que não existe, só existe dentro da cabeça das pessoas. Se Vou1gosta dela, vá em frente. Sempre em frente. A vontade leva- M você até o pólo Sul. Pelo caminho, quando estiver cansada, jirtiv e pense... longe é um lugar que não existe... Eu chegarei lá..." ... Ouvindo estas palavras, a gaivota pôs-se a caminho. Foi Voiindo e de quando em quando perguntava: Onde estou, falta limito para o pólo Sul? Ao que os pássaros respondiam que esta- Vd longe, muito longe. Ela só pensava na frase da ave amiga e VOntinuava sua jornada. A vontade, a garra e a disposição eram Iflo fortes que ela voava feliz... ... Aprendeu a admirar as paisagens, o céu, o mar, o canto, «N outras aves, a ver a beleza da natureza... e, com isso, a apre- i i.ir a passagem por aquela etapa da viagem... ... E quando deu por si, ela estava lá junto da amiga no pnlo Sul! Comigo aconteceu o mesmo e hoje, diante de todas as eta- p.n que preciso vencer, eu me lembro... longe é um lugar que não rxitite... 4 Algumas analogias utilizadas metaforicamente "Tênis x frescobol x casamento" Rubem Alves é um mestre em analogias. Esta analogia do |u>',o de tênis com o frescobol vale a pena contar em casos de pro- Mcmas conjugais. 146 Sofia M. F. Bauer Ele compara o casamento com um jogo com duas raquetes e uma bolinha. Há os casamentos que são como jogo de tênis. Os dois em campo, jogando um contra o outro. Sempre mandando a bola aonde o outro não pode alcançar. Quando um perde, fica com raiva e quer revanche. E assim infinitamente a raiva não passa, ficam ligados no ódio. Já no jogo de frescobol, é tudo pela alegria, fazendo tudo para mandar a bola dentro. Quando um erra, o outro corre, e faz tudo para pegar a bola errada e manter o jogo em andamento. Quanto mais os dois jogam, mais se entro­ sam e mais acertam as bolas. "Gansos" Os gansos sabem como é difícil voar sozinho. Eles voam em bando. Isso diminui a força que fazem ao voar, cortando os ares. Fazem uma formação em V, de tal maneira que um voa na frente, fazendo mais força que os outros. Logo a seguir, vêm dois outros, um em cada lado da asa do primeiro, pegando o vá­ cuo e assim por diante o resto do bando. Os que vão atrás vão grasnando, incentivando o líder para que este continue manten­ do a força. Quando o líder cansa, vem à frente o segundo, e o líder vai lá para o final, descansar. E assim, o bando caminha junto. Quan­ do, às vezes, um resolve debandar, percebe que precisa fazer for­ ça demais e vê que é preferível retornar ao bando e ter certa pro­ teção. "Neblina" Quando a neblina baixa na estrada, o melhor é colocar farol baixo e dirigir devagar. Neste momento, andar depressa, querer chegar logo, pode ser perigoso... Assim, nesta hora de visão com neblina, o jeito é guiar devagar... Aos poucos, à medida que o Sol vai aparecendo... e vai brilhando... vai dissipando a neblina... o caminho fica claro novamente e você pode dirigir ao seu modo... sempre vendo aonde vai... I llpnoterapia Ericksoniana Passo a Passo 147 "Resfriado" ... Quando ficamos gripados, achamos que é o fim do mun- ilo que aquele mal-estar não passará nunca... nos sentimos mui- in mal... O mal psíquico age da mesma maneira e, como na gripe, repouso e tempo ajudam o corpo ou a mente a melhorar... O si­ lencio, a meditação, a hipnose são maneiras de repousar a men- ii . acalma... alivia... podendo esta encontrar as saídas para aqui­ lo c| ue pensava não existir... "Abscesso" O abscesso é uma reação do organismo para colocar para Inra um corpo estranho, uma bactéria... Primeiro vem o verme­ lhão, o inchaço, o incômodo e a dor... Depois, a deformação do local e mais tarde, só mais tarde, o abscesso amadurece e vasa, i olocando para fora as bactérias ou o corpo estranho... É feio, às \ e/ .es até nojento, mas é a maneira que o corpo encontrou para pôr para fora o que de ruim estava lá dentro... "Alarme" Uma vez ouvi do professor Malomar Edelweiss a seguinte iiiuilogia, comparando a ansiedade ao alarme de incêndio. Ele dizia algo assim: "O alarme de incêndio está bom quando toca devido ao logo que está acontecendo. O alarme estragou de vez se há incên­ dio e ele não toca. E o alarme está sensível demais se toca por . 11lalquer fumaça de um bife na frigideira. Este alarme precisa so­ mente ser reequilibrado." Existem inúmeras outras estórias, não só as de Rubem Al­ ves, mas também de outros autores, da Bíblia, estórias judaicas, niilistas, etc. O importante é que você pode usar estórias comuns, e lomá-las pessoais para cada caso. Use dos artifícios aprendidos e dê a mensagem que o seu cliente pede. Não à sua vontade. Seja (“u rupuloso e respeite o desejo do cliente. Outro detalhe impor Imite: não dê demais, você pode cometer um meta fora. 148 Sofia M. F. Bauer ... Uma vez perguntaram a Buda como ele fez para andar 2.000 km. Ele respondeu que bastou dar o primeiro passo, os outros vieram a seguir, um depois do outro... ... Quando eu estudava medicina e dava meus primeiros plantões, ainda não sabia medicar. Levava uma caderneta, aonde eu ia anotando: para pneumonia dá-se tal antibiótico, tal antitérmico, etc. Cada médico que eu via cuidando de um determinado enfermo com alguma patologia, eu anotava na minha caderneta de primeiros socorros as prescrições fei ­ tas. Precisei dela por um longo período. Um guia para os primeiros pas­ sos. Eu a guardo até hoje, uma relíquia, que não mais usei, mas me aju­ dou nos primeiros passos... ... Conta uma lenda oriental que um jovem pergunta a um mestre budista como ele poderia meditar... já que meditar era não pensar em nada, coisa tão difícil... O mestre sabiamente deu-lhe a resposta através de um ensinamento dizendo: — É muito simples: não pense em maca­ cos!" ... O discípulo foi meditar e então, adivinha em que ele pensou?...j Só em macacos... Capítulo 5 Técnicas hipnoterápicas I . I nstruções gerais Neste capítulo veremos inúmeras técnicas de indução. I ,embre-se, são apenas roteiros para orientá-lo na montagem do sou jeito de fazer indução. É condição essencial adequá-las ao seu joito de se expressar, e principalmente ao jeito do seu cliente. A indução deve ser feita sob medida, adequada aos critérios de avaliação do seu cliente, na linguagem pessoal dele. Se você usar exatamente como estão descritas aqui, elas u ão funcionar bem, mas terão muito mais efetividade se forem •klcquadas à forma do seu cliente; tornam-se mais pessoais. O cliente se sente "em casa", fica mais à vontade no mundo dele. Por isso, mude palavras, acrescente qualidades, nomes, verbos, palavras do seu cliente. E, principalmente, use das metáforas que seu cliente utiliza. E preciso observar a motivação, acessá-la, fazer um bom rapport. Outro ponto importante é que toda indução provoca uma dissociação entre a mente consciente e a mente inconsciente. Dis­ socie, mas no final do transe reintegre! A cada vez que você fizer uma indução sugira, ao final, i| ne a pessoa entrará novamente naquele estado de transe mais l.icil e profundamente confortável. Que virão pensamentos, lem branças e até sonhos que nos ajudarão, cada vez mais, a elaborar n que se está trabalhando. 150 Sofia M. F. Bauer Pode-se sugerir amnésia parcial ou total, de acordo com a sabedoria do inconsciente, que vai proteger o cliente daquilo que ele não estiver preparado para sentir, "...você pode se lembrar do que quiser, ou você pode se esquecer de se lembrar ou lembrar de se esquecer... e o seu inconsciente sábio e amigo vai se lembrar de tudo aquilo que for bom e saudável e puder ajudá-lo." Você pode colocar outras sugestões mais diretas no final do transe. Sugestões de conforto, bem-estar e o que mais necessi­ tar. Veremos uma série de técnicas e suas indicações a partir deste ponto. É bom lembrar que a hipnose está abrindo uma porta para o inconsciente. Por isso, devemos nos utilizar de todos os meca­ nismos da metalinguagem, da linguagem não-verbal, para aces­ sar os dois hemisférios cerebrais. Uma voz entonada, calma, principalmente quando está se fazendo a dissociação mente cons­ ciente e inconsciente, trabalha os dois hemisférios. A voz dirigida à mente consciente fala mais metodicamente; a voz dirigida às fa­ las da mente inconsciente, mais melodiosamente. A melodia atin­ ge a emoção (hemisfério direito). É como a cantiga de ninar, a en­ toada feita bate como as batidas do coração ao adormecer. As pa­ lavras mais racionais atingem a razão (hemisfério esquerdo). Fa­ zer voz pausada, mudando o tom quando se fala ao inconsciente, vibrando a voz de forma diferente, respirando pausadamente, fo­ cando a atenção; está se fazendo a indução em metalinguagem. Existem aqueles clientes mais racionais. Você não vai fazer voz de "fada", toda melodiosa; ele vai achar graça. Mas, manten­ do a firmeza, a racionalidade, dará a direção da calma, do ir para dentro, ao modo do seu cliente. Prepare-se para observar e mol­ dar a terapia de acordo com cada cliente. O importante é dar a noção de focar, absorver, ratificar e eliciar o transe hipnótico. Ao final do transe, é bom perguntar como a pessoa se sen­ tiu. Principalmente na primeira e segunda vez. Você terá uma noção dos fenômenos hipnóticos que ocorreram com o seu clien­ te. E assim você pode usar destes fenômenos num próximo tran­ se. Por exemplo: se o seu sujeito é bom de visualização, uma in- I lipnoterapia Ericksoniana Passo a Passo 151 J lição através de visualização de um lugar agradável poderá ser sugerida a posteriori. Não discuta dobre o que foi feito ao final, atrapalha a am­ nésia natural e protetora que ocorre, para que a pessoa tenha Iempo de elaborar o que aconteceu. Mude de assunto, não racio- nalize. A experiência já foi registrada e a racionalização pode i riar defesas e barreiras para que venham outras coisas lá de dentro. O transe pode ser dividido em partes. O processo de absor- lild, em que se observa, através de técnicas, a atenção da mente consciente. A seguir, vendo que o paciente já mostra a constela- i,,lo hipnótica, ratifique, isto aprofunda o transe. Depois, você uti­ liza de técnicas para fazer eliciação e trabalhar terapeuticamente com seu paciente. Você deve observar a seqüência, "pacing" (acompanhamen­ to do passo que o cliente pode dar), em seguida o "leading" (guiá- lo às ressignificações necessárias). Se ele já consegue respirar fun­ do, você pode pedir para que sinta algum conforto, e assim por iliante... Só um passo de cada vez... O tempo de indução pode variar de um minuto até uma hora e meia, dependendo da técnica empregada e do tempo que sou paciente necessita para eliciar respostas. Se você quer se utili­ zar das técnicas de indução rápida (mais clássicas), você levará i i ni minuto, até pouco mais. Na indução ericksoniana, o tempo varia de acordo com o cliente e com a técnica empregada. Em ge­ ral, em 15 minutos você faz a indução e gasta mais 15 minutos eliciando e se utilizando do transe hipnótico. Quando se faz re­ gressão, ou se utiliza de técnicas como as mãos paralelas de Er- nest Rossi, reserve mais tempo, pode durar até uma hora e meia. Não dá para termos regras básicas. No meu trabalho reservo uma hora para cada atendimento. Quando é a primeira consulta, o ideal é ter uma hora e meia de lolga para este atendimento. Isto é para que você possa ter tempo ilc colocar a pessoa em transe com calma. Às vezes esta reserva ilo tempo não é possível. Você saberá utilizar bem seu tempo para fazer um bom trabalho. Dentro desta uma hora, reservo meia hora para a hipnose. Prefiro reservar a meia hora final por t| iie o cliente sai bem, sai mais calmo e não discutimos racional­ 152 Sofia M. F. Bauer mente o que houve. Ele apenas leva a experiência. Tem tempo para elaborar inconscientemente as experiências vividas e inte­ grá-las à sua realidade. Você pode fazer a indução no princípio. Eu costumo fazê-la quando o paciente chega ansioso demais, chorando ou sofrendo por algum motivo: dor de cabeça, mal-es­ tar etc. Não há regras, varie e crie, de acordo com o seu bom sen­ so. Há sessões em que você utilizará somente transe hipnótico. Haverá outras em que você não se utilizará da hipnose. Antes de se utilizar dos roteiros, você deve se lembrar do princípio do sinergismo (similitudes) de Erickson para fazer um transe exclusivo para cada cliente. Antes de mais nada, a indução deve ser natural, principalmente quando o transe formal não fun­ ciona. Procure o caminho que seja mais natural a ser seguido para cada pessoa. Recomendo que leiam Collect papers, vol. I, para o aprendi­ zado das induções naturalistas, onde você poderá ver, nas pala­ vras de Erickson, sua maneira de trabalhar. 2. A posição A melhor posição para colocar uma pessoa em transe é sen­ tada. Você pode perceber mais facilmente a constelação hipnótica (catalepsia, piscar de olhos, engolir etc.). Como é um estado entre estar acordado e dormido, o próprio sujeito nota a diferença em suas sensações, que fica entre os dois estados. E além disso, .1 pessoa deitada dorme mais facilmente. Existe um treinamento budista de meditação para se alcançar o transe estuporoso, em que você fica sob transe mais profundo, sem adormecer e aberto ao mundo. Para nós ocidentais, este transe é muito difícil, requer treinamento. Passamos ao sono com facilidade. Devemos evitar, neste período de transe, que a pessoa adormeça. O trabalho devo ser feito em transe; se a pessoa adormecer, acorde-a. Você podei .1 fazê-lo chamando-a baixinho, ou apenas inspirando profunda­ mente e respeitando a resposta demorada da volta. Caso isto não baste, toque-a de leve, avisando-a antecipadamente. Além de a pessoa estar sentada, convide-a a descruzar bra­ ços e pernas, tomando uma atitude de abertura, ficando de fren I lipnoterapia Ericksoniana Passo a Passo 153 le, para você observar melhor as reações da constelação e os fenô­ menos hipnóticos. Nunca toque no cliente sem antes avisá-lo. Ele pode ter uma percepção alterada. Um leve toque pode parecer uma paula- dn. 154 Sofia M. F. Baui‘1 "Domine sua agitação! Só as criaturas calmas podem ser totalmente eficientes. A agitação cansa e produz tudo mal feito. A pressa é inimiga da perfeição. A calma é o segredo daqueles que realizam tudo bem feito. Quanto mais trabalho, maior deve ser a nossa calma. Domine sua agitação, permaneça sereno, e tudo lhe sairá bem. “ (Minutos de sabedoria, C. Torres Pastorino) I lipnoterapia Ericksoniana Passo a Passo 155 l Indução de relaxamento progressivo Quando vamos fazer uma indução, lembremo-nos de al- (tnns princípios fundamentais para o estabelecimento da aliança liMíipeutica. Motivação — é muito importante o paciente estar motiva­ do para querer algo novo que vai ajudá-lo. Desenvolva a motiva- ; (,flo antes. Vemos que é muito fácil colocar um queimado ou uma pessoa com dor em transe; há uma motivação enorme para sair tio sofrimento. Rapport — a segurança ao dizer "vem comigo", para que a pessoa possa segui-lo como um guia, um "lanterninha" de cine- in.i que indica os lugares onde o cliente possa se "sentar"; ele precisa confiar, se entregar. Há pessoas com maior dificuldade tle entrega. Necessitam de controle. Dê-lhes o controle e elas se t olocarão predispostas para relaxar, porque relaxar o corpo ajuda a irhixar a mente. Como diz o professor Malomar Edelweiss: "A unia tônus muscular corresponde um tônus mental, e vice-ver- Então estabeleça que o que vocês vão fazer é um relaxa­ mento e que ele é proveitoso de todas as maneiras. Tire as dúvidas sobre o que a pessoa entende por hipnose, ne ela já foi hipnotizada antes, se já fez algum curso de controle llti mente, ioga etc. Você fará uma comparação mostrando que o itiminho é o mesmo. Tire as dúvidas quanto aos mitos, caso a p«'ssoa os tenha. Assim, depois de motivá-la, estabelecer a confiança, você liode colocá-la numa posição confortável. Sentada, de preferên- i i.i, pois nos dá maiores referências sobre a constelação hipnóti- l‘rt, em que nível de transe o sujeito está. Além do que, a pessoa percebe a diferença do estado alerta para o transe. Muitas vezes, quando a pessoa deita, passa direto ao sono. Não há necessidade de ser uma poltrona excepcionalmente t nnfortável. Milton H. Erickson hipnotizava em cadeiras bem lliuconfortáveis e todos entravam prontamente em transe por sua motivação. 156 Sofia M. F. Bauci Posicione-se de frente ao seu cliente, de pernas e braços descruzados, e peça a ele que faça o mesmo. Isto porque se acre dita que a postura fechada leva a não se abrir ao novo. Se vocO ] for fazer levitação das mãos, a pessoa estará com os braços cata- lepticamente mais presos. Além do que, um braço ou uma perna i pesa sobre a outra, durante o transe, por causa do fenômeno da j catalepsia. Ao se posicionarem, você já pode começar o transe não- j verbal, respirando profunda e suavemente e fechando seus olho.s i por alguns segundos. Se a pessoa o seguir, ela já está responsiva. j Aqui começa o transe: Você pode fechar seus olhos... Permita-se respirar profundamente, calmamente e sinta sua respiração... Como é gostoso poder parar por alguns instantes... dar-se I algum tempo... Um tempo para se voltar para você mesmo... De olhos fechados para fora... Você pode abrir os seusfl olhos internos... olhos que vão poder olhar (sentir) você lá den­ tro... Respire... inspirando calma... mente... solta... mente... abrin do o peito para uma nova inspiração... abrindo o peito apertado de sentimentos (sofrimentos / pensamentos)... Trabalhar a angústia... angústia... é uma palavra que vem \ do latim... significa peito apertado... Sua mente consciente pode ir ouvido estas palavras quü I vão guiando você... enquanto sua mente inconsciente pode s«1*| bia/ mente ir fazendo sua própria viagem de conforto... Inspirando... abrindo o peito... um novo fôlego... Expiran­ do... Ex/ pressando... aquilo que fica preso lá dentro... À medida que você faz esta respiração solta/ mente... goH* tosa... você pode ir se soltando aí no sofá (cadeira), sentindo o seu corpo, seus pensamentos... que partes estão mais tensas... Mas não faça força... nem mesmo força para não fazer foi ça... Deixe as coisas acontecerem naturalmente... Até mesmo o| pensamentos... sem julgamento. 111| >iioli*rapia Ericksoniana Passo a Passo 157 A respiração vai ajudando você, digerindo, limpando... le- Viiinlo oxigênio a todas as suas células... retirando o gás carbôni- fn r Iodas as toxinas que ficam presas lá no fundo... Abrindo... Mt,mdo... Protegida/ mente, pelo seu inconsciente... I ' assim, enquanto sua mente consciente vai percebendo pequenos ajustes, a sua mente mais profunda vai fazendo as mu- tlrtiiç.is necessárias, buscando seus recursos interiores; porque aí de você há um reservatório de bons recursos para ajudá- |n ,i se sentir bem, agora'.... li você pode ir percebendo seu corpo... Ir soltando seus Sinta os seus pés no chão, dentro dos seus sapatos... você | 'i 'i le apoiar seus pés e se deixar ir para dentro mais e mais... Que i in .1 boa é podermos nos apoiar protegida/ mente... Enquanto você solta seus pés e os sente... Pode ir soltando flu pernas... o pensamento calma/ mente... solta/ mente... alivian- P<i cada tensão muscular... Pode ir sentindo as pernas apoiadas ao sofá (cadeira), dei- hniulo-as aí ficarem... Pode ir soltando quadris... abdômen... sol- liindo peso... tensão... A mente consciente focaliza, localiza... A mente inconscien­ te desliza, solta, relaxa... Porque é sua parte sábia que ajuda você rt descobrir algum conforto, paz e relaxamento... Vai soltando o peito... a respiração... Soltando as costas nas instas do sofá (cadeira), vértebra por vértebra... músculo por twlsculo... Você pode se deixar ir, soltando... relaxando... enquanto hii . i mente inconsciente já trabalha sabiamente para ajudá-lo em mi.is questões (...) ... Soltando... Relaxando. E o corpo... pescoço... nuca... soltando, relaxando... alivia- fin/ mente. E você pode sentir a cabeça, os músculos da cabeça, da I>i>e que coisa boa que é poder se dar algum tempo... Tempo de tevisão... Tempo de soltar... Tempo de aproveitar... Aproveite Mitiulavei/ mente este momento... A esta altura... eu vou observando mudanças em você., riu| Lianto eu fui falando... sua pulsação mudou... seus batimen Itts eardíacos se tornaram mais compassados... seu rosto está com 158 Sofia M. F. Bauci uma expressão mais suave... (e assim por diante, vá colocando aquilo da constelação hipnótica que você percebe e que ajude .1 pessoa a relaxar ainda mais... Observe bem antes de falar). Como disse um professor meu, em suas induções: tudo 6 questão de treinamento, quanto mais a gente treina, mais e mais aprende... Desde pequenino, levou algum tempo no aprendizado do caminhar, andar com suas próprias pernas. Primeiro, foi aju dado pela mão de um adulto, que lhe deu o apoio; depois a von tade era tão grande de andar, que você foi querendo dar seus próprios passos sozinho. As vezes caía, mas levantava, caminha­ va lento e tropegamente, mas queria aprender. Quanto mais você treinava, mais você aprendia, até que você aprendeu a andar com suas próprias pernas. Andou, correu, brincou, coisas que sabe fa­ zer até hoje. Sua mente inconsciente, hoje, não pensa para fazê- las. Simplesmente o faz! Os aprendizados vão sendo armazena­ dos dentro do nosso inconsciente e este os guarda como uma fon­ te de recursos, que pode ser processada automatica/ mente, pro­ tegida/ mente... para lhe ajudar... em qualquer momento de su.i vida... Pois foi assim também quando você foi para a escolii aprender a ler e escrever... Levou tempo treinando e aprendendo cada letra, seu som e formato... juntando as letrinhas e formando palavras... vendo as diferenças entre as letras... o m com três per- ninhas, o n com duas... a diferença do p para o b ... e juntando le­ tras foi formando palavras... e treinando você foi aprendendo, automaticamente, a utilizá-las. Hoje, você lê e escreve automat­ icamente, sem ter que pensar... Seu inconsciente toma conta do seus aprendizados, daquilo que saudavel/ mente, automat­ icamente, você pode utilizar em seus aprendizados... E, como todo aprendizado, vai sendo armazenado em seu favor, lá no fundo da sua mente, para você utilizar quando quiser... Vocô também faz novos aprendizados, todos os dias... Além de podcf reaprender muitas coisas boas e novas a cada dia. Quanto mais você treina, mais você é capaz de ir aprendendo tudo o que vocô realmente desejar. A vida é assim... O que é preciso é você queror mudar... treinando.... aprendendo... e sua mente inconsciento pode ajudá-lo com uma fonte inesgotável de recursos que vocô tem. Aproveitando... relaxando... Um novo momento de aprendi zado... e você pode ir aprendendo a respirar... inspirando um novo fôlego... expirando as toxinas lá de dentro... soltando o cor I lipnoterapia Ericksoniana Passo a Passo 159 |n>para soltar a mente... saudavelmente... e assim, das próximas *• i", em que você entrar em transe, você poderá se aprofundar tiinih mais nesta viagem de bem-estar... agora, aqui, você levará it Miidável sensação de bem-estar para um resto de dia (noite) K^riidável, assim como novos dias agradáveis... em que virão pensamentos, sonhos, lembranças, que te ajudarão, cada vez in.ii'., a realizar o que você deseja: equilibrar... restaurar... recupe- idl aprendendo a cada momento... mais livre/ mente... Assim, agora respire gostosamente e vá se trazendo sere- Itrt/ mente ativo, ativa/ mente sereno, bem desperto aqui, de volta d unia... ouvindo os sons ao redor... ouvindo a minha voz e se ftionentando a este momento... mantendo o bem-estar... ... Se você quiser pode se lembrar do que foi dito, ou pode i'n.| iiccer de se lembrar... ou pode deixar por conta da sua mente llti onsciente ir lembrando você daquilo que for necessário, no IHomento em que for necessário... ... Segundo uma lenda oriental, você nasce com determi­ nado número de respirações. Caso você respire acelerada­ mente, você vive menos. Caso você exercite o respirar com calma e pausadamente, terá longevidade... ... Nota-se que a respiração é rápida e superficial, quando estamos com muita atividade física ou psíquica... ...A pessoa ansiosa e agitada respira rápido e curto... ... Exercícios de respiração promovem a alteração dos dois hemisférios cerebrais... promovem a calma... I lipnoterapia Ericksoniana Passo a Passo 161 I hulução da respiração A respiração é considerada uma boa metáfora de limpeza, n.nide, vida. A respiração processa mudanças de purificação c vida. Veremos um roteiro em que eu juntei algumas técnicas de l mI ução através da respiração, com uma técnica budista, o ar iiliil. Sabemos que o transe é atingido através da absorção; no i iiso, a absorção será a focalização na respiração do cliente. Você Htlo precisa fazer exatamente como vai aqui. Utilize sua forma pessoal. ... Agora se permita colocar-se à vontade... fechando os olhos... procurando perceber sua respiração, como ela acontece em você... apenas repare... e vá soltando o corpo no sofá (cadei- i t), sentindo seus pés apoiados ao chão... não fazendo força algu- calma/ mente se deixando ir para dentro de você mesmo... deslizando... sentindo... A respiração é algo que faz parte de nós... nos dá a vida a cada minuto que respiramos... Levando na Inspiração o oxigênio a todas as nossas células... a quantidade eorta que elas precisam para se multiplicar, mudar, viver... e reti- t,indo/ digerindo... na expiração as toxinas e o gás carbônico... le­ vando vida nova... abrindo... soltando... Nós vamos fazer um pe­ queno exercício de imaginação... em que você pode imaginar... visualizar... sentir... mas não se esforce para fazê-lo... faça auto­ maticamente... é um exercício de respiração... Traz alívio e bem- estar... e você pode experienciar... ... Enquanto sua mente consciente vai aprendendo a fazê- lo... sua mente inconsciente vai usufruindo do prazer das trocas... trocando saudavel/ mente... digerindo... deslizando... Então você pode imaginar um céu muito azul... de um azul muito suave, bo­ nito e limpo... onde o ar também é azul... ... Imaginando... visualizando ou sentindo... o ar entrando nzul na sua inspiração... inspirando azul... sentindo seu peito se tibrindo... o azul entrando e aliviando... acalmando... levando os aspectos positivos... o bom.... e deixando sair na expiração... um ar cinza... carregando o gás carbônico e as toxinas que ficam pre sas lá dentro de você... entrando o azul que acalma... abre o pei to... alivia... dá fôlego... saindo os aspectos negativos... cinza... 162 Sofia M. F. Bauer Isso... experimente... Entrando o azul... que trabalha a angústia... o peito apertado... saindo o cinza... carregando... expressando o que fica preso lá dentro... Isso mesmo... permita-se experienciar abrir-se para o novo, o calmo, o azul, e deixar sair o que fica aí preso... digerindo... respirando vida... paz... aprofundando seu bem-estar... Passe para a ratificação. Ratifique as mudanças não só da respiração, mas as que você observa, em cada detalhe. Em seguida, utilize sua criatividade, elicie as possibilida­ des, os recursos da pessoa. Você pode criar metáforas ou trabalhe com o que você achar melhor. Depois reintegre a pessoa e termi­ ne o transe, reorientando-a para o estado de vigília. I lipnoterapia Ericksoniana Passo a Passo 163 "O monge budista e a ajuda" Um monge budista caminhava pelas ruas de uma grande cidade, lendo ao seu lado um discípulo. Ambos avistaram um homem caído ao chão. O monge manteve o rosto impassível e seguiu seu caminho. O dis­ cípulo olhou para o mestre, olhou para o homem caído e esboçou um ges­ to em direção ao chão, com a intenção de ajudar o homem a se levantar. O mestre impediu e indicou-lhe para continuar sua caminhada. Cami­ nharam em silêncio, cada qual absorto em seus próprios pensamentos. O discípulo não compreendia a atitude de seu mestre, que sempre lhe ensi­ nou a buscar a felicidade do próximo, a ter sentimentos de fraternida­ de... Como entender isto agora? Depois de caminharem algum tempo, o mestre disse: você está buscando entender o que aconteceu, vou lhe ensinar o seguinte: quando você encontrar um semelhante caído, fazendo algum esforço para se le­ vantar, mesmo que seja movendo apenas o dedo mindinho, ajude-o, mes­ mo que corra o risco de quebrar a espinha, vale a pena. Se você encontra alguém caído, observe-o: se não faz nem um gesto mínimo para se er­ guer, deixe-o e siga seu caminho, pois certamente você quebrará sua es­ pinha. 164 Sofia M. F. Bauer 5. I ndução da levitação das mãos Esta é uma indução que ajuda a mostrar ao cliente que ele está em transe e que tem uma força maior, seu inconsciente, que é capaz de fazer muitas coisas que ele pensa que não consegue. A levitação das mãos é uma resposta ideomotora. Um fe­ nômeno hipnótico que acontece naturalmente e que, ao ser su- gestionado na indução, vem como resposta. Os iniciantes têm um certo receio de fazê-lo porque acham que vão falhar, que seu cliente não responderá. É preciso, antes de tudo, em qualquer in­ dução, estabelecer o rapport. O paciente confiante se deixa ir para dentro, acessar estas forças e recursos inatos dentro dele mesmo e assim experienciar a resposta com a levitação das mãos e bra­ ços. Muitas vezes a resposta é demorada. É preciso dar tempo para que o cliente responda. Pode ser que, depois de algum tem­ po, quando você acha que o cliente não vai mais responder, ve­ nha a resposta. Por outras vezes o cliente apenas alucina que le- vitou a mão, que o fez; mas na verdade, ele só alucinou. Você ob­ servou e o cliente manteve a mão abaixada. Mesmo assim, ao ter­ minar o transe, o cliente lhe diz que a levitação foi ótima. Juntou- se aí outro fenômeno hipnótico, a alucinação positiva. Por isso, espere retirar a pessoa do transe, e investigue como foi este exer­ cício para o seu cliente. Normalmente a resposta vem. Você pode dar uma pequena ajuda, avisando (é importante avisar, quando for tocar num cliente, para ele não se assustar) que você vai tocá- lo e ajudá-lo a ir descolando os dedos. Ou por outra, caso não veja resposta, simplesmente diga: "... e sua mão é que vai esco­ lher... talvez prefira ficar quietinha agora... experienciando des­ cansar... relaxar devagar... e aproveitar os benefícios de assim fi­ car...". Mas vamos à indução: Você fará sua indução ao seu modo, com absorção da men­ te consciente, com ratificação e eliciando a resposta ideomotora da levitação das mãos. Lembre-se de que existe um roteiro. Mns nós não somos uma rede de sanduíches prontos, iguaizinhos ,i receita de bolo. Modifique, crie, acrescente, retire. Faça sob medi- I lipnoterapia Ericksoniana Passo a Passo 165 •l.i para o seu cliente, na linguagem dele. Contudo, darei um ro­ teiro que, espero, seja sujeito às suas criações. Absorção Como é bom você, hoje, aqui, se colocar novamente à von- l.nlc para ir lá para dentro. Fechando os olhos... soltando o cor­ po se deixando ficar confortável/ mente bem colocado... Apro­ veitando e desfrutando protegidamente da sua respiração... Ins- plração... tomando um fôlego novo e gostoso... soltando o ar e as Uivinas presas lá dentro... Inspirando... Expirando... Soltando... 1'rotegidamente... E à medida que sua mente consciente ajuda você a se colo- i .u à vontade... a sua mente inconsciente, automaticamente vai mi.ivizando suas sensações... emoções... pensamentos... você pode ir sentindo seu corpo e colocá-lo à vontade... cada momento Niiavizando... soltando... relaxadamente... sentindo seus pés, como eles estão apoiados ao chão... A mente consciente vai I',mando para você ir se soltando... enquanto a mente inconscien- tt* vai sentindo o conforto e bem-estar que vai se instalando... porque a sua mente mais profunda sabe guiar você melhor do que você imagina... ... Que coisa boa que é poder sentir seu corpo se soltando... pernas... coxas... enquanto ainda pode perceber alguns sons (da m.iI.i, ambiente)... soltando o abdômen... peito... soltando o peso t i os ombros... costas... vai permitindo sentir o bem-estar de ficar à vontade... em que não é preciso fazer força alguma... cabeça... pescoço... também soltando... suavizando... protegidamente... Ratificação ... Você pode ir notando... pequenas modificações... no tô- lius muscular... na sua respiração mais calma... mais ritmada... Nii.i pulsação mais tranqüila/ mente ritmada... os músculos da l.ue se soltando, suavizando... (aquilo que você perceber). ... A hipnose é uma maneira de aprender sobre você mes­ mo . num nível diferente de sentir... em que experiências aconte- i em... em que você se permite ficar à vontade com você mesmo... 166 Sofia M. F. Bauer ... E sua mente inconsciente pode desfrutar deste tempo gostosamente... Eliciação ... Em um momento vou pedir algo especial a você... não é necessário fazer nenhuma força para isso... basta deixar que sua mente mais profunda possa ir fazendo por você... trazendo uma sensação agradável daquilo que ela é capaz de atingir... ... E que coisa boa é poder experienciar a força que vem de dentro... e você pode ir sentindo... seu corpo... que partes estão mais pesadas... ou mais leves... ir sentindo suas mãos... focalizan­ do a atenção nelas... e você pode experimentar ir descolando uma de suas mãos do colo... a que você quiser... até mesmo as duas... mas não faça força... deixe que a mão vá fazendo o movimento com uma força que vem de dentro... ela vai descolando e subindo em direção ao seu rosto... suave/ mente... e você sentirá a sensa­ ção agradável e boa que é experienciar coisas novas... que vêm de dentro... subindo devagarinho... descolando aos pouquinhos... ... A mão sabe o caminho de chegar ao rosto sozinha... ela vai indo... (à medida que ela for subindo)... Isso mesmo... expe­ rienciando fazer algo novo... a sensação de leveza e bem estar vai acompanhando você... Você pode experimentar mover e fazer algo novo... A sua mente inconsciente é capaz de fazer movimen­ tos novos para você... (Ao tocar o rosto)... e tocá-lo de uma forma especial e agradável... sentindo... tocando... movendo... e aos pouquinhos, depois de tocar seu rosto e senti-lo... você pode ir descendo sua mão até tocar seu colo novamente... ... Essa é uma experiência nova... aquilo que a sua mente inconsciente/ mente sábia pode fazer de novo e interessante por você... Assim como agora, ela poderá mover muitas outras coisas que você desejar, no seu tempo, ao seu modo e no seu ritmo... Mudando... Acrescentando... Criando... ... E agora, depois desta agradável experiência... você pode ir voltando devagarinho aqui para a sala... bem disposto... sere­ namente alerta... respirando saudavelmente... Quando a pessoa não levitar mude um pouco para: I lipnoterapia Ericksoniana Passo a Passo 167 ... Mas se sua mão preferir ficar quietinha neste momento... Mmbém deixe-a experienciar a sensação agradável de se permitir repousar como está... Virão outros momentos de fazer movimen- Io*. I.i dentro, na hora mais oportuna para você... desfrutando protegidamente deste descanso gostoso... A levitação de mão é feita para ver até que ponto o sujeito hvobe como seu algo que se sugere como uma indicação de com­ portamento. Você tem uma base para observar o que é necessário l.i/ er para que mudanças ocorram. 168 Sofia M. F. Bauer ... O silêncio traz o equilíbrio... coloca você em contato com sua potencialidade pura... seu inconsciente... ... Aqueles que querem orar procuram um lugar calmo... ... Você pode achar um lugar calmo dentro de sua alma... "... Olhe sempre o lado belo da vida. Enquanto uma mosca busca uma única ferida num corpo inteiramente limpo, uma abelha é capaz de achar uma única flor no meio de um pântano. Seja como a abelha, mesmo que tudo à sua volta seja lama, você há de encontrar uma flor que venha adoçar sua vida. Olhe o lado belo da vida... " (.Minutos de sabedoria, C. Torres Pastorino) I lipnoterapia Ericksoniana Passo a Passo 169 (>Indução de um lugar agradável Esta é uma indução para proporcionar ao cliente um tipo de lugar de proteção. Ele pode usar esta técnica para fazer auto hipnose. Para se colocar neste local protegido em momentos de ansiedade ou insegurança. Comece por uma indução natural, do modo que você qui- ■,rr, não necessariamente como vai escrito neste roteiro. Depois tle estar com seu cliente já confortável e responsivo, mostrando alguns dos itens da constelação hipnótica, leve-o ao lugar agra­ dável. Aqui vai um roteiro completo: ... Permita-se ficar à vontade... colocando-se confortavel­ mente no sofá (cadeira)... e você sabe que, ao fechar seus olhos... você pode abrir seus olhos internos... os olhos da mente que vão observar seus sentimentos... o que está se passando lá dentro... é mais uma oportunidade para você se permitir descobrir uma for­ ma de ficar em segurança com você mesmo... Assim, daqui a pouco... pouco a pouco... você vai indo para dentro... entrando em contato com sensações/ sentimentos de conforto e bem estar... Você vai respirando... abrindo o peito na inspiração... levando vida... oxigênio... um fôlego novo... e, à medida que você inspi- i .i . sua mente consciente vai acomodando seu corpo conforta­ velmente no sofá... e sua mente inconsciente vai lhe levando para uma viagem... sensações/ sentimentos... porque sua mente in- umsciente sabe dos caminhos... lugares que conduzem ao bem- estar... e você pode ir desfrutando protegida/ mente de um esta­ do de bem-estar aí dentro de você... inspirando... oxigênio... paz... tranqüilidade... expirando.... gás carbônico... sentimentos aperta­ dos... aliviando... Ratifique: ... Daqui onde estou, eu já observo mudanças em você... no filmo respiratório... mais suave... no seu tônus muscular... mais milto... suave... deslizando... desfrutando protegidamente. . na m m face mais relaxada... na sua coloração... Que coisa boa desfrutar de um bem-estar... 170 Sofia M. F. Bauei Elicie: ... E você pode aumentar sua segurança, seu bem-estar... imagine... visualize... um lugar especial... agradável... pode ser um lugar conhecido ou imaginado... pode ser uma praia, um mar agradável... ou pode ser o alto de uma montanha... ou talvez um vale com um rio ou um campo de flores... pode ser o que você quiser... até mesmo seu quarto... mas se deixe imaginar este lugar em cada detalhe... a cor do céu... que mais lhe agradar... a tempe­ ratura do ambiente que mais lhe agradar... a brisa do ar? O tem­ po está gostoso... permita-se visualizar cada partezinha deste lu­ gar só seu... cada planta... cada flor... se água... como é esta água... a cor... os barulhos... se há animais/ passarinhos... ... Veja lá o que você quiser... e se coloque neste lugar... num cantinho agradável... Protegidamente confortável... com pa/ e tranqüilidade... desfrutando do bem-estar de poder ficar à von tade... respirando... soltando... e deixando que sua mente incons­ ciente sabiamente amiga possa trabalhar por você agora... E as sim, toda vez que você se sentir com vontade você pode ir para este lugarzinho aí dentro de você... protegidamente recuperar seu fôlego, sua energia... seu bem-estar... Vou lhe dar alguns mi nutos... utilize-os como se fossem todo o tempo do mundo... para você curtir um bem-estar protegidamente... curtindo... soltando... desfrutando... (dê dois minutos mais ou menos, de acordo com cada pessoa). Faça apenas um sinal com a cabeça quando você estiver lá no seu lugar agradável para que eu possa saber, logo que você o visualizar... e agora... você pode ir voltando devagari­ nho... se trazendo serenamente bem desperto e cheio de energi.i aqui para a sala agora... respirando uma, duas ou três vezes, v;1 voltando... completamente alerta e bem disposto... sabendo que você pode voltar a este lugar agradável sempre que necessitar... ele é seu... até mesmo criar outros novos lugares do seu agrado.., Voltando bem disposto, para um resto de dia agradável, em que você levará este bem-estar que é uma conquista sua... I llpnoterapia Ericksoniana Passo a Passo Trabalhe o que traz pressão — despressurize. Trabalhe o que traz medo —faça, e o medo se vai. Confie em você, acredite em você. ... Tudo tem dois lados... o mal e o bem... o triste e o ale­ gre... a noite e o dia... Descubra o outro lado da sombra e verás a clareza onde po­ des continuar a guiar teus passas... Uma vez Thelonious Monk, o monstro sagrado do jazz, foi interrogado por um jornalista sobre como se sentia diante de tanto sucesso, ao que naturalmente respondeu: — Eu me sinto do meu tamanho! 172 Sofia M. F. Bauer As pessoas criam hábitos que, mesmo sem perceberem, se­ guem uma seqüência. O sintoma, como já sabemos, é a expressão do inconsciente de que algo não vai bem. Ele também segue umn seqüência em sua manifestação. Ele acontece por partes. Primeiro um espirro, depois a sensação de sufoco, depois a taquicardia, o suor frio, o tremor e o medo de morrer, por exemplo. Isto é uma seqüência de como o pânico se manifesta num paciente. Nesta técnica há dois objetivos. O primeiro, ressignificar o que para o paciente leva ao pânico; o olhar enfocado em algo ruim. O segundo, injetar um vírus na seqüência que determina o problema. Quando você muda os passos, muda o padrão e assim muda a forma como o problema é gerado. É uma técnica muito simples que aprendi com Jeffrey K. Zeig. Como é uma técnica passo a passo, você seguirá passos. Com o tempo, aprenderá a fazê-lo automaticamente. Utilizando cada passo da pessoa até a criação do problema, ressignificando e criando a indução com estes mesmos passos, só que ressignifi- cados. O paciente já conhece esse caminho, por isso ele já vai automaticamente. Ele só não percebe que, inconscientemente, es­ tamos mudando a visão daquilo que era negativo para um enfo­ que positivo. Vamos aos passos: 1 - Pergunte com o que se parece o problema da pessoa, Ela vai lhe dar a metáfora que você poderá utilizar mais à frente. 2 - Pergunte como o problema acontece. Peça uma se­ qüência. O que vem primeiro, depois e depois. Anoli' no mínimo cinco passos desta seqüência. Você vai uti­ lizar estes mesmos sintomas, problemas, ressignifican- do-os. 3 - Em seguida, crie uma indução em que você colocará oh passos ditos de uma forma que se transformem em passos positivos. 4 - Utilize, você já sabe como fazer. 7. Técnica passo a passo em cima do sintoma I lipuoterapia Ericksoniana Passo a Passo 173 Veremos, a seguir, um exemplo desta indução. Não é pos- niv t*! criar um roteiro único, porque cada pessoa terá o seu sinto- in.i i' a sua seqüência. O que você terá em mente é o seguinte: Indução através dos mesmos passos. Na indução tenho três etapas a cumprir — absorção, ratifi- i .irAo e eliciação. Durante a absorção vou introduzir a seqüência itr passos, ressignificando o que é negativo e desta maneira inje- (indo um vírus bom que muda o problema para calma, bem-estar, etc. Deve-se, então, utilizar os passos do cliente, dentro da ab­ sorção, para colocá-lo: - bem acomodado; - respirando mais tranqüilamente; - relaxando o corpo; - voltando-se para dentro em busca de soluções; - descobrindo que pode se acalmar. Vamos ao exemplo: Rapaz deprimido devido a síndrome de pânico, que não lhe permite mais fazer as coisas normais da vida. Fica preso dentro i le casa, só enxerga as coisas como se elas fossem desabar sobre sua cabeça. A pressão é muito forte. Com que se parece seu problema? Afundando num buraco. Os passos de como ele entra em pânico: 1 - pensa em algo sistematicamente; 2 - respiração curta; 3 - suor nas mãos; 4 - não vou dar conta, vou cair; 5 - não quero sentir, mas já estou sentindo medo. A expressão usada pelo paciente para o seu problema o .ifundar num buraco. Que tal, já que ele se afunda tão bem, .iluii ilá-lo num lugar seguro e protegido, do qual poderemos retir.n ,i pressão?! Eis a nossa meta. 174 Sofia M. F. Bauer Existem algumas palavras que podemos aproveitar para ressignificar. Elas já fazem parte do vocabulário do cliente. Pode­ mos apenas mudar o significado. São elas: coisas normais, ficar preso, enxergar, desabar, pressão. Assim, durante a indução fui dizendo... ... E você pode fechar seus olhos agora... ir lá para dentro... onde só você enxerga a pressão... e então pensar em algo bom, sis­ tematicamente... aprendendo a ficar preso no bem-estar... ... Você pode ir desabando seus pensamentos em algum lu­ gar aí dentro de você... de modo que você possa respirar e a curto prazo... sentir ficar preso no bem-estar... Inspirando e abrindo o peito... Soltando o suor que fica preso às suas mãos... e a cada vez que você respira... a curto prazo vem o bem-estar... e assim você pode ir afundando na sensação de paz... e cair na tranqüilidade se­ gura de ficar preso na segurança que vem lá de dentro do seu pei­ to... e, desse modo, você já estará sentindo alguma diferença em afundar na calma que traz a luz e a liberdade... Isto é apenas parte de uma indução. Divirta-se. Procure seguir os passos do problema para guiar à solução e vá criando induções únicas para aquele momento. Uma outra maneira de usar a técnica passo a passo é usar do princípio do sinergismo de Erickson que citei em Indução na­ turalista, no capítulo 3. Mesmo sabendo a indução formal, exis­ tem ocasiões em que precisamos seguir pelo sintoma do cliente e fazê-lo nosso instrumento de indução. Vou citar outro exemplo de Erickson: Uma mulher que viera procurá-lo por não conseguir entrar em transe e relaxar para tratamento dentário. Ela ficava rígida e depois chorava. Não conseguia, de tão rígida que ficava, sequer fechar os olhos. Erickson pediu a ela que só ficasse rígida por enquanto, o máximo que pudesse, e que rigidamente fosse ficando na cadei­ ra, e que rigidamente fechasse seus olhos e rigidamente se manti­ vesse completamente quieta. Até este ponto ele usou da primeira metade do que lhe atrapalhava. Em seguida ele lhe disse que ela também poderia até chorar, mas que seria mais agradável soltar- I llpnoterapia Ericksoniana Passo a Passo 175 .'.o ivlaxadamente e entrar em transe profundo, ao que ela respon­ deu prontamente. Por isso, você pode usar a técnica "passo a pnsso", seguindo as similitudes do sintoma, para indução e até Holução. H 1'écnicas de entremear palavras Esta técnica segue o mesmo padrão. Veja as palavras-chave •I ue a pessoa utiliza constantemente e que podem ajudá-la em sou problema, se forem ressignificadas. Utilize delas, durante o transe, mudando a entonação de sua voz e mudando o sentido enfocado pelo paciente. Por exemplo: perder peso. É algo tido como muito difícil pelos pacientes obesos. Eles detestam pensar em ter que perder. Mas você pode ressignificar, perder o que é feio, ganhar leveza. Perder tristeza, decepção. Milton H. Erickson era mestre nesta arte. Sempre que po­ dia ele entremeava alguma palavra comum ao cliente mas com novo sentido. Experimente, você vai gostar. Faça isso também na sua vida pessoal. 176 Sofia M. F. Bauer ... Quando você descobre um caminho novo que te leva ao paraíso... Você só quer segui-lo... ... O silêncio faz parte do ser humano... É uma das manei­ ras de encontrar-se... Vara chegar ao seu silêncio você também precisa de tempo e treinamento. I lipnoterapia Ericksoniana Passo a Passo 177 11 Técnicas de aprofundamento do transe Você pode usar das técnicas deste item para aprofundar o li.mse. Elas não servem só para aprofundamento do transe, são muito boas como indução geral. O que observo é que natural­ mente servem como um modo indireto de aumentar o nível do Inmse. Caso você tenha um paciente mais difícil de entrar em Imnse, primeiro demore mais tempo na indução, fale mais com- p.issado e utilize de alguma destas técnicas que passarei a des­ crever. Mas, antes gostaria de dizer o que observo dos pacientes m,)is difíceis de entrar em transe. Talvez isto possa ajudá-lo. Normalmente são pessoas controladoras, têm medo de perder o controle. Então dê o controle a elas, a questão do one up já vista no início do livro. Você a deixa conduzir o próprio relaxamento. I la vai até onde quiser. Sempre enfatize que, quanto mais ela se solta (para ela mesma, é claro!), mais ela aproveita esta liberdade Interior de criar. Outro tipo difícil, é a pessoa que tem um diálo­ go interno constante. Neste caso, o melhor é utilizar da confusão mental que você verá logo à frente. Também aqui se encaixam as pessoas que tiveram uma experiência anterior desagradável. Neste caso, vá devagar, prestando atenção ao pacing e ao leading. I >ê garantia de tranqüilidade, e de que poderá sair do transe quando ela quiser. O paciente com traços obsessivos tem medo ile perder o controle. Enquadre, molde, dê alguns comandos de controle para ele. I racionamento de Vogt Esta técnica chama-se fracionamento porque ela vai divi­ dindo o transe em pequenos transes. Você faz uma pequena in- ■Ilição breve e logo tira a pessoa do transe. Pergunta como ela está se sentindo e logo em seguida a coloca novamente por mais iilguns minutos. Só que agora ela já sabe o caminho; entra mais profundamente. E assim você a coloca e em seguida tira por umas três ou quatro vezes e ela entrará cada vez mais profunda mente em transe. 178 Sofia M. F. Bauer É excelente para aquele paciente que chega dizendo que não entra bem em transe. Faça isto e você verá a diferença com ele. Veja o exemplo: Você pode fechar seus olhos agora... E assim ver como se sentiria entrando em você mesmo... Concentre-se naquele tipo de experiência em que você pode ver... Onde você pode sentir... Onde você pode ouvir... Coisas coloridas... escuridão... Sentir paz... conforto... Ouvir os sons do silêncio ao seu redor... De uma maneira receptiva... De olhos fechados... Você presta mais atenção naturalmen­ te a si mesmo... Respirando normalmente... confortavelmente... A cada vez que você respirar... Você pode ir profundo no seu relaxamento... Você pode ouvir os sons da minha voz... Os barulhos ao seu redor... Ar-condicionado (ou outro)... Os pássaros cantando (ou outro)... Mas os sons da sua experiência é que se tornam, agora, mais e mais interessantes... E você vai se sentindo mais e mais confortável... Sentindo-se muito à vontade, nesta experiência de transe (ou relaxamento)... Todos os sinais de sua mente, como os sons... Os sentimentos... E o relaxamento... Vão se intensificando no seu corpo... Você vai se sentindo mais e mais confortável... Mais relaxa* do... I lipnoterapia Ericksoniana Passo a Passo 179 E eu não sei se você tem que deixar seu corpo acordado em transe... Talvez você possa deixá-lo repousando... Quieto... calma / mente... E seu corpo vai calmamente relaxando... Enquanto sua mente vai voltando a esta sala... Você vai se reorientando aqui para a sala... Ouvindo bem os sons daqui... a minha voz... Fale um pouquinho como você está se sentindo? Quais são as suas sensações e sentimentos? O que está acontecendo com você? Como está seu corpo agora? Pesado? Leve? Ouça as respostas e diga: Muito bem... Que bom que você está sentindo (...)... Você pode, agora, fechar seus olhos... E novamente se deixar levar para o mesmo relaxamento... A sensação de bem-estar... Mais rapidamente e profundamente... Algumas pessoas relaxam diferentemente das outras... Umas relaxam algumas partes do corpo... Outras relaxam o corpo todo... Você pode ir sentindo as partes do seu corpo... Você pode ir sentindo como suas mãos vão relaxando mais c mais... Eu não estou certo de onde está seu corpo agora... Mas você sabe que coisas você pode ir fazendo para relaxar mais e mais... Sem se preocupar com o que eu estou dizendo... Você pode ir para dentro, mais e mais profundamente, ao MU modo... E assim, você mesmo vai se colocando em transe (relaxa irtento) pelo som da minha voz... Pelos seus próprios recursos de bem-estar... 180 Sofia M. F. Bauer Indo mais e mais para dentro... Nas sensações... Nos sentimentos... Agora permita-se manter todas as boas sensações de rela­ xamento... Deixe-se ficar confortavelmente tranqüilo... Muito bem... E agora você pode me dizer alguma coisa sobre o que está acontecendo com você? É uma experiência agradável? Existe alguma surpresa para você? Alguma coisa prazerosa que gostaria de contar? (Deixe a pessoa falar. Aguarde.) E então, agora, .você pode se aproveitar destas sensações... Deixe-se ir para dentro, novamente, mais e mais profunda­ mente... (Fique em silêncio por alguns instantes. Veja que a pessoa relaxa, entra num transe mais profundo. Volte a falar, depois de algum tempo.) Agora, fique à vontade, naturalmente à vontade... Você pode até se esquecer de algumas coisas... Mas você pode se lembrar de outras coisas... De uma maneira muito natural de memorizar consciente mente aquilo que for saudável e confortável a você... Você tem a capacidade de se deleitar com lembranças de coisas agradáveis que um dia você aproveitou muito... Você pode trazê-las à tona... naturalmente... E você vai devagarinho... Sentindo seu corpo... O tônus muscular gostosamente solto... As lembranças agradáveis... O bem-estar... E você pode ir se trazendo de volta à sala... I lipnoterapia Ericksoniana Passo a Passo 181 Percebendo os sons ao seu redor... A minha voz chamando você... E você pode se trazer com todo o conforto e bem-estar... Eles permanecerão com você o resto do dia... Amanhã... E depois... saudavelmente... naturalmente Nuvens E uma excelente técnica imaginativa. Veja se você tem um paciente que gosta de imaginar coisas. Esta técnica também fun- i lona muito bem com crianças. Os meus filhos gostam muito. Só nflo utilize em pessoas com medo de altura ou de voar, a não ser rom o objetivo de dessensibilizá-la. Faça a absorção inicial para colocar a pessoa mais à vonta­ de, bem sentada, de olhos fechados, respirando calmamente, libe- r.indo a mente inconsciente para viajar em sensações, sentimen- los, pensamentos e na imaginação. Assim você vai introduzindo o que vem abaixo: ... E assim, à medida que você se solta na cadeira (sofá)... v*ii soltando pensamento, sentimento, sensação... calmamente se i loixando aproveitar um momento novo e diferente... a sua mente i unsciente pode acompanhar minhas palavras numa experiência C.ostosa que vou lhe propor agora... enquanto sua mente incons- ■uMite pode guiar você para aproveitar sabiamente desta expe- i lÍMicia... (Eu costumo introduzir algo que ajude a pessoa a ficar ni,íis à vontade e querer experienciar.) Meus filhos adoram esta brincadeira... sim, porque é ape- ii,is mais uma brincadeira que traz o bem-estar e a tranqüilida­ de... As vezes, no carro, dirigindo, eles pedem que eu faça a brin- uuleira das nuvens... ... É muito simples... Imagine um céu azul e muito bonito... i lieio daquelas nuvens branquinhas e grandes... Agora, imagine nu visualize, ou apenas pense numa dessas nuvens bem branqui nh.is, com os raios de sol reluzindo nela... veja como ela é... ima 182 Sofia M. F. Bauer gine-a como se fosse um grande sofá no qual você vai se sentar... acomode seu corpo nela... ela vai aconchegando você de tal ma­ neira que você se permite soltar-se completamente... confortavel­ mente.... e a nuvem vai levando você lá para o alto seguramente (caso você queira pode até colocar um cinto de segurança nela)... Aos poucos ela vai subindo lentamente... e você vai se sentindo como se estivesse flutuando... soltando... sentindo a brisa do ar batendo suavemente em seu rosto... vendo as coisas lá em baixo, bem distante... sem perturbarem você agora... e tranqüila/ mente aproveite soltar-se nesta nuvem gostosa... deixe a nuvem voar com você por onde você quiser... aproveite para respirar... sol­ tar... e se deixar ir com esta nuvem até algum lugar que vai agra­ dá-lo o suficiente para você querer parar por lá... aproveite... (Dê o tempo de um, dois ou três minutos. Fale aquilo que você acha que é necessário a esta pessoa neste momento.) ... Respirando... soltando... aproveitando as sensações... sentimentos e tudo mais que a sua sábia mente vai lhe trazendo... ... Assim, agora você pode ir pedindo à sua nuvem que tra­ ga você de volta aqui para esta sala, completamente bem desper­ to e bem disposto. Escada A técnica de descer escada é uma técnica de contagem. As técnicas de contagem, em que você conta números e vai induzin do o transe, são boas técnicas de aprofundamento de transe. No caso, escolhi a da escada. ... Você vai imaginar ou visualizar, agora, uma escada... do jeito que você quiser... à medida que eu for contando, você vai descendo cada degrau em direção a uma praça bem bonita que você também pode imaginar... olhe bem lá embaixo... você podo visualizar... imaginar uma bela praça com pessoas passeando.., crianças brincando... talvez com um lago... coreto... plantas... ár­ vores... o que você quiser... e assim sua mente consciente pode ir ouvindo esta contagem... enquanto sua mente inconsciente v.n descendo lá para dentro de você... 20... descendo devagar, olham do o que você pode achar lá embaixo... 19... mais um degrau em que você pode se soltar... Respirando tranqüilamente... olhando I lipnoterapia Ericksoniana Passo a Passo 183 l.i embaixo... uma praça cheia de vida... 18... descendo mais um pouco... vendo as crianças brincando... 17... mais um degrau... e, devagar, podendo olhar na praça algum lugar que você deseja e onde gostaria de ficar... 16... 15... 14... vai descendo os degraus... vendo os adolescentes namorando... aproveitando... 13... descen­ do... soltando... respirando pausadamente... 12... visualizando lá no fundo como você pode se soltar na praça... descansar... viver I I ... 10... 9... e quanto mais você vai descendo... mais solta/ men­ te você vai ficando... 8... 7... 6... sentindo sensações de tranqüili­ dade... quietude... bem-estar... 5... 4... 3... você está quase lá... você ja pode dirigir seu olhar para onde você desejar ficar... 2... um lu- gar agradável para você... 1... você pode agora sentir-se à vonta­ de... para gozar do bem-estar de um lugar seguro... gostoso, aí dentro de você... desfrute deste bem-estar... Silêncio Uma outra possibilidade adotada para fazer uma pessoa aprofundar no transe é deixá-la em silêncio. Você faz uma peque­ na indução com absorção em relaxamento, ratifica e dá um tem­ po para ficar em silêncio dizendo assim: ... Assim você pode experienciar um pouco de silêncio... fi- t.ir aí quietinho com você mesmo... vou lhe dar alguns minutos de silêncio... desfrute naturalmente deste momento, de olhos fe- i hados para fora... você pode ir abrindo seus olhos internos... aqueles que podem ver, sentir, aprender, reaprender e enxergar a luz que vem lá de dentro da sua sabedoria... Isso mesmo... bem à vontade... Deixe a pessoa em silêncio. O tempo pode variar de 5 mi­ nutos até mais ou menos uns 15 minutos. Para nós ocidentais é difícil ficar em silêncio. Levamos, no mínimo, 5 minutos e, em gi> i.il, até 15 minutos para encontrar paz no pensamento. Exercitar n silêncio é uma arte budista. É entrar num outro tipo de diálogo, Mdiálogo da percepção, que fica mais aguçada. E dar vazão para que o inconsciente aflore e as respostas venham lá de dentro. 184 Sofia M. F. Bauer Depois de um período razoável de silêncio, você pode in­ troduzir alguma metáfora, analogia ou uma sugestão pós-hipnó­ tica, e então reorientar o paciente para o despertar. Ainda neste item de aprofundamento, poderíamos dizer que empregar metáforas é uma das técnicas. Quando você vai contando estórias, vai eliciando a pessoa a entrar nelas de algum modo, liberando a mente consciente dos julgamentos e controles, absorvida na estória contada. Você pode usar da metáfora dos mares, da árvore, do boiar e muitas mais. 10. Sonhos induzidos Os sonhos, como Freud tão brilhantemente demonstrou, transmitem os desejos do nosso inconsciente. São importantes na análise do nosso cliente. Podemos utilizá-los também na hipnote­ rapia; aproveitar sonhos trazidos, pedindo para continuar tal so­ nho, ou associar algo mais sobre este. Ou podemos pedir à pes­ soa que sonhe. Paul Sacerdote (1908-1994) desenvolveu um exce­ lente trabalho sobre este tema, publicando o livro Induced dreams, em 1967, em que relata casos clínicos e trabalhos afins. Vou passar uma técnica bem simples para usarem com seu cliente já em transe médio. É uma técnica que pode ser bem suce­ dida em muitos pacientes, mas é necessário levá-los a um transe médio ou profundo. Por isso, faça uma boa absorção. Quando você perceber que seu cliente já se encontra em transe médio, uti lize-se disto: ... Agora eu vou lhe dar algum tempo... tempo de mente li­ vre... para sonhar... (ou continuar tal sonho) de tal maneira que possa ajudar você a entender muitas coisas que estão lá dentro... Respostas... idéias novas... um novo caminho... ... Os sonhos funcionam como um ladrão de caixa d'água... quando a caixa se enche... escapa água pelo ladrãozinho... pani avisá-lo de que ela já está cheia... (eu ouvia isso do professor Ma­ lomar, sábio professor!)... Num sonho... fazemos vários papéis... somos os produto­ res... os diretores... os atores de diversas facetas... os críticos... c os espectadores... I lipnoterapia Ericksoniana Passo a Passo 185 ... Assim, você pode agora se permitir algum tempo... em si­ lêncio, e deixar que as suas partes possam criar um sonho... Tome lodo o tempo do mundo nos próximos minutos para fazê-lo... Dê algum tempo, no mínimo 5 minutos. Observe as rea­ ções físicas, principalmente o movimento dos olhos. Quando ocorre o REM (rapid eye movement = movimento rápido dos olhos), é certo que a pessoa está fabricando um sonho. Depois de dar algum tempo, você então sugere à pessoa que ela possa relatar seu sonho. Espere, veja se ela consegue rela- l.ir. Existem algumas pessoas que não conseguem falar durante o transe. Caso ela fale, peça que ela mesma associe algo ao que re- I.ita. Anote e guarde para usar posteriormente. Caso a pessoa nada diga, dê a sugestão de que ela poderá se lembrar do sonho, se isso for saudável para aquele seu momento, e que ela poderá relatá-lo ao voltar do transe. Retire-a do transe e indague a respeito do sonho. A maioria que sonhou se recorda e relata. Há alguns casos em que a pessoa sonha espontaneamente, se colocada em transe. Aproveite quan­ do o cliente lhe disser que sonhou; pergunte, interprete. É um material que veio espontaneamente do inconsciente. I I . Distorção do tempo A distorção do tempo ocorre durante o transe hipnótico. Por que, então, não utilizá-la como ajuda terapêutica? Aprendi, com o professor Malomar, uma técnica muito simples de aplicar .i distorção do tempo. Você poderá usar esta técnica para dimi­ nuir tempos de sofrimento ou dor. Ao colocar a pessoa em transe, faça a indução para colocá- l.t absorvida em calma e tranqüilidade e em seguida use o campo ilas flores: ... Você sabe que o tempo do relógio cronológico difere do nosso tempo interno... Quando você assiste a um filme que gostn, .Ivias horas passam como se fossem apenas meia hora... Em com pensação, quando você ouve um discurso de um político prolixo, 10 minutos parecem durar uma hora... Assim, nós podemos mo­ dificar nosso tempo interno a nosso favor... você com este seu 186 Sofia M. F. Bauer problema (introduza aqui a enxaqueca, a dor física, a tristeza, o luto, etc.) ... você pode modificar este tempo interno... vamos fa­ zer uma pequena experiência que pode ajudar você... ... Imagine, então, um campo de flores... as flores que você preferir... podem ser flores do campo... jasmins... papoulas... mar­ garidas... tulipas... o que você desejar... imagine este campo... quando você conseguir visualizá-lo, sinalize com a cabeça... ... Ótimo! Então, agora, quando eu disser já... você começa­ rá a colher flores neste campo, o máximo que puder... eu contarei um minuto de relógio e lhe direi quando deve parar... ... Então, já!... Comece!... (conte um minuto e, enquanto isso, continue falando)... comece a colher o máximo de flores que você puder... Você pode sentir o perfume delas... o caule... você pode ir formando um "buquet"... isso, vá juntando... o máximo que você conseguir colher... Aproveite deste tempo... ótimo!... (quando der um minuto, fale)... Pare, agora... e, devagarinho, vá se reorientando aqui para a sala e me conte que quantidade e qualidade de flores você colheu. A pessoa então vai dizer que tipo de flores colheu e a quantidade. Normalmente as pessoas colhem muitas. Eu só tive duas exceções até hoje, das quais tirei grande proveito, pois a pessoa se projetou na flor e, por isso, só pôde colher ela mesma. O que também leva tempo. Por falar em levar tempo, colher um montão de flores leva-se tempo e não apenas um minuto. Então você falará ao seu cliente: ... Muito bem, para colher estas flores no tempo do relógio você levaria muito mais que um minuto... mas, lá dentro de você... sua mente sábia soube distorcer o tempo a seu favor... Para que você pudesse, em apenas um minuto, colher muitas flores... ... Você também pode modificar seu tempo interno, quan­ do esta dor aparecer... e senti-la por um ou dois minutos ape­ nas... é como se fossem mesmo muitos minutos... e logo em se­ guida deixar que a dor se vá... Para enxaqueca esta é uma boa técnica. Faz-se a indução, o campo de flores com a distorção do tempo, o que provoca um re- I lipnoterapia Ericksoniana Passo a Passo 187 l.ixamento muscular e, conseqüentemente, arterial, e assim a dor do cabeça vai-se embora. 12. Confusão mental Lembram-se da estória do estudante de cabeça cheia que procura o mestre para aprender mais e o mestre enche a xícara até transbordar, dizendo que para se encher algo primeiro tem-se 11 ue esvaziá-lo?! E por aí este raciocínio. Você vai utilizar esta técnica com clientes de diálogo inter­ no, clientes que não querem perder o controle, clientes mosaicos, porque nela a pessoa tenta se situar (seguir) mas não consegue. A lima certa altura ela desiste de seguir o pensamento confuso. No i aso da pessoa mosaica, o fato de ela ficar à vontade no ir e vir dos fatos, a faz sentir-se "em casa", e a coloca relaxando a mente. Você pode fazer confusão mental de tempo, de lugar, de latos. Escolha a versão que deixe você o mais à vontade possível. Você deverá falar um pouco mais rápido, ir e vir nos mesmos fa­ tos, mas, em hipótese alguma, mentir. Fale apenas verdades. A pessoa estará acompanhando você no início. Se você se mostrar íntegro, ela larga o controle e se entrega ao transe. Gilligan, em seu livro Transes terapêuticas, dá vários exem­ plos de induções com confusão mental. Erickson gostava bastan­ te', talvez porque fosse uma pessoa de processamento mental mo­ saico, tinha bastante facilidade para fazê-lo. Veremos, a seguir, um exemplo de confusão mental, traba­ lhando em cima dos tempos passado, presente e futuro. A meta desta indução é esquecer o que é ruim, lembrar-se do que é bom. ... Você pode agora deixar-se ficar à vontade para escutar o que eu vou dizendo... ou para escutar aquilo que vem de lá de dentro de você... o que interessa mesmo é que você pode ouvir o que quiser... desfrutando deste momento de um modo diferen­ te... ... Assim, hoje (terça-feira) você está aqui me ouvindo, cn quanto você pensa sobre sua (quarta-feira)... sabendo quo (quai la) será amanhã... e enquanto hoje é uma (terça-feira) como min tas outras que você já viveu e viverá (terças-feiras)... Ontem íoi 188 Sofia M. F. Bauer (segunda) e você se preparava para as atividades de sua (terça- feira), hoje... Hoje, (segunda) já é passado, ficou para trás ... mas ontem, (segunda) era o seu presente... Hoje, presente é a (terça) que você vive, e todas as coisas que você faz hoje são presentes... mas se tornarão passado... sementes do seu futuro... e quando você chegar ao próximo (domingo), tudo que você viveu hoje será passado... e as sementes já poderão estar se tornando novas plantas... Assim, como a semana passa... passam muitas coisas... Passa o mês... passa o ano... passam as dificuldades... mas ale­ grias também... hoje você está em (janeiro), há dois meses você estava em (novembro), planejando o que seria lá na frente em (ja­ neiro)... do mesmo modo (julho) está longe e ainda por vir... mas você pode planejar o que deseja ter lá na frente... e quando (ju­ lho) chegar, muita coisa já terá ficado para trás... o mês de (janei­ ro)... problemas de janeiro) e se você semeou bem terá lucrado em (julho)... Assim, tantas coisas que hoje são futuro se tornam presentes... enquanto tantas que são presentes se tornam passa­ do... Quando você tinha 7 anos... pensava nos seus 15, ainda dis- 1 tantes, por virem... e logo eles chegaram e você já não se lembra­ va de tudo que fizera aos 7 anos... Agora aos ( ) anos... talvez você não se lembre de tudo que você fez aos 15... mas é certo que na idade de hoje, presente, você pode fazer algo pelo seu futuro... e deixar de lado o que no passado atrapalha seu futuro... Assim como nós esquecemos facilmente as coisas que fizemos na sema­ na passada... também podemos deixar para trás as coisas ruins que interferem na nossa vida presente e futura... Você também pode se esquecer das coisas que são pesadas e ruins lá de trás... j como pode se lembrar das coisas boas que já viveu e que servirão de sementes para muitas outras que virão... Tanto as coisas ruins podem ir como as coisas boas podem vir... A sua mente incons­ ciente pode sabiamente guiar novos passos... plantar novas se­ mentes hoje... que farão um futuro melhor... 13. Técnicas de hipnose com crianças As crianças naturalmente já vivem em transe. Se você repa­ rar um menino assistindo a um desenho animado observará que ele vive a cena: ri, chora, fica com medo etc. Isto é estar num esta­ do alterado de consciência. As crianças entram num filme e vi- I lipnoterapia Ericksoniana Passo a Passo 189 ' rm a cena. O mesmo acontece quando você conta um conto de l.idas a uma menina romântica. Ela vive a cena. Por isso, para se i olocar uma criança em transe, basta que você descubra o que a 1.1/ "viajar" na imaginação, com o que ela gosta de brincar. Atra­ vés da brincadeira, que se torna uma absorção da atenção, já esta­ mos fazendo uma indução. Vou descrever algumas pequenas induções que você pode- 1,1usar. Mas você pode ser criativo e inventar as suas próprias brincadeiras que vão eliciar a imaginação e as respostas que vi- i lo de dentro da própria criança. Quanto à idade, não há restrições. Tanto uma criança de 3 ,mos entra em transe, quanto uma de 10 anos. O que importa é você saber escolher o que chama a atenção daquela determinada criança. Se ela é vidrada em videogames, faça um videogame imaginário com personagens imaginários. Se a criança acredita cm vampiros, faça, imaginariamente, os artifícios que matam um vampiro. Mostre porque ele se tornou vampiro, como pode fazê- lo mudar etc. Técnicas Anestesia de luva Não é apenas uma técnica infantil. É uma técnica que de­ monstra a hipermnésia, ficar absorto em apenas um detalhe, coi­ sas que as crianças têm facilidade. Na verdade, é uma técnica de iinalgesia, retirada da dor. Funciona bem com as crianças, que gostam bastante de uma mágica. Elas acreditam que a mente tem 0 poder de mudar as coisas, quando são submetidas a esta técni- 1.i. A analgesia retira a sensação de dor apenas, mantendo a sen­ sação do tato, de pressão ou calor. Eu a utilizo muito, quando tenho que dar uma injeção em criança ou fazer um curativo e no consultório, para mostrar o po- der da mente, como a gente consegue as coisas. Você faz um ventinho sobre a mão da criança, no dorso d.i mão. Se quiser, pode friccionar sua mão sobre o dorso da drl.i líssa técnica é chamada de anestesia de luva, porque costumava so fazê-la utilizando uma luva com a qual se friccionava a mão. 190 Sofia M. F. Bauer Enquanto você faz o ventinho ou fricciona, você vai di zendo: ... Vá sentindo este ventinho... preste bastante atenção no vento ou calor da fricção... daqui a pouco você não sentirá dor al­ guma neste ponto da mão (caso seja o lugar da injeção, você faz o mesmo no local a aplicá-la). Faça isto por um minuto. Logo em seguida, teste. Dê uns beliscões com força neste dorso da mão. Passe, a seguir, para a outra mão e teste. Você verá a diferença, é incrível! A criança, en­ tão, acredita que pode fazer mudanças... que a mente é capaz de mudar as coisas. Assim, utilize esta técnica como uma indução rápida, que mostra o poder dos nossos desejos. Tela de TV Esta é uma boa técnica para crianças. Elas projetam com fa­ cilidade. A técnica projetiva ajuda a criança a mostrar seus medos, seus desejos, e favorece a possibilidade de você mostrar saídas, como se estivesse fazendo uma peça teatral. É uma ludoterapia. A técnica consiste em questionar, durante a entrevista, além dos problemas, as coisas preferidas, as brincadeiras, os de­ senhos, os esportes, estórias, etc. Você, então, pede à criança para olhar para a parede em branco. Peça para ficar olhando, que vai demorar um pouquinho, mas logo, ela começará a ver seu filme predileto. Dê algum tem­ po, mas o que costumeiramente acontece é a criança relatar estar vendo um desenho animado, ou programa de preferência. Daí para a frente, dê asas à criatividade da criança, ela v.ii fazendo o diálogo, colocando os fantasmas, medos. Cabe a vocí continuar ajudando-a a ver as saídas. ■ Esta técnica acontece com facilidade logo que você sugeri', Poucos segundos depois, a criança começa a projetar sua imagi nação produtiva. É bom lembrar que a criança entra em transe acordada e depressa demais. Do mesmo jeito que entra em transe fácil I rápido, sai também rapidamente. Por isso, você pode fazer v.i I lipnoterapia Ericksoniana Passo a Passo 191 i i o s pequenos transes. Esta técnica pode ser utilizada em todas as NOHSÕeS. Ar nzul e nuvem As crianças adoram usar estas duas técnicas. São técnicas lolaxantes e, para a criança ansiosa, ajudam bastante. ( onversando com bichinhos ou bonecos Uma outra maneira de fazer a indução hipnótica é induzir 0 transe em um bicho de pelúcia ou numa boneca ou boneco, 1onforme o sexo da criança. Você vai induzindo, através da técni­ ca de relaxamento, o transe no boneco. Veja a seguir: ... Assim, bonequinha, vejo que você tem problemas (ou que você está com medo — algo semelhante às questões da crian­ ça em jogo)... Você está triste (chorando/ acuada, etc.)... mas acho <| lio eu posso te ajudar a ficar forte e feliz... Vou ensinar-lhe um vgredo... um jeito especial de ficar alegre e feliz... Basta que você Imagine... para imaginar você deve começar fechando seus olhos... e... quando você fecha os olhos... você respira fundo... en- ihi' 0 peito de ar... aquele que faz você ficar forte para enfrentar (o problema)... Assim você fecha os olhos e imagina que vai des­ cansar... num lugar bem bonito... num lugar encantado... neste lugar seu corpo vai se soltando... do dedo do pé à ponta de sua i abeça... ficando bem leve... e quando seu corpo vai ficando bem leve... sua cabeça vai ficando mais e mais forte... e você, neste lu­ gar encantado, pode pedir ajuda... de uma fada... um mago... ou wju anjo da guarda... peça a ele(a) que venha lhe mostrar o tanto que você é forte... Mas vá soltando o corpo... (observe a criança e indiretamente vá colocando-a confortável para acompanhar a bo­ neca)... Deste ponto em diante, convide seu cliente para também Idchar os olhos, se até então ele ainda não o tiver feito, dizendo: ... E você (fulana) pode acompanhar sua boneca... e experi ntentar relaxar para ficar forte... e assim ajudar a você mesma a rtteolver tudo que você deseja resolver... Existem muitas outras técnicas, inclusive as técnicas de A dulto citadas até então; são ótimas. m Sofia M. F. Bauci Seja criativo, qualquer brincadeira induz ao transe. Lem bre-se de que transe é manter absorvida a mente consciente para dar vazão à mente inconsciente, aflorar os recursos naturais que a criança tem. 14. Técnica de progressão de idade Progressão de idade já é um fenômeno hipnótico. Ele ocor re comumente nas pessoas de padrão ansioso. Elas estão sempre se pré-ocupando. Antecipam o que virá. Esta técnica faz o mesmo, É projetar o futuro, só que ressignificando o positivo. Para uma pessoa de estrutura ansiosa, ela cai como mel na boca, pois esta pessoa já está acostumada a usar deste fenômeno hipnótico para criar seu problema, e então usará dele para encon­ trar as soluções. O preocupado ocupa-se, hoje, antecipando e pre­ meditando o pior para acontecer amanhã. Você ensinará, sem que ele perceba claramente, como continuar a fazer o mesmo de um bom modo. Esta técnica também é muito boa quando se termina a re­ gressão, para reintegrar a pessoa ao presente e para projetar um futuro melhor. Principalmente, se foi feita a regressão por causn de um trauma. Mostra-se que tempos melhores virão. Se hoje se­ mear boas sementes, colherá bons frutos amanhã. Procedimento: Depois de feita a indução, na fase de eliciação. ... Imagine, agora, que você vai se ver lá na frente... talvez daqui a uns cinco anos (ou no ano que vem, de acordo com a su.i meta, aquilo que você deseja alcançar)... tome todo o tempo do mundo... para que você comece a se ver lá na frente... mais cal mo... relaxado... sendo capaz de (aquilo que ele deseja conse guir)... cercado por quem você gosta... fazendo livre/ mente tudu o que você já sabe que é capaz de fazer... tome tempo... você é cn paz... de se ver... solta / mente... já fazendo ()... como é bom con seguir fazer o que desejamos... como é bom saber que somos ca­ pazes de conseguir o que desejamos... Desde Freud, já se ouvi.i I Kpnoterapia Ericksoniana Passo a Passo 193 i| iic o pensamento é um ato em estado nascendi... quando você i loseja... tem boas intenções... você consegue alcançar. Uma outra técnica é deixar um tempo livre para o próprio ■liente se projetar lá na frente. Utilize-se das duas: da primeira piir.i ressignificar, e da segunda quando você quiser que seu pa- i Irnte aprenda a ressignificar sozinho. Dê-lhe tempo, e proponha *Iue ele se veja no futuro, já fazendo o que ainda não consegue fa- im .. e que em pouco tempo poderá conquistar. IV Técnica de regressão de idade Nós já sabemos que a regressão faz parte dos fenômenos hipnóticos. Por isso, uma pessoa que entra em transe pode desen­ volver a regressão de idade. Há diferentes níveis de regressão de idade. Você pode de­ senvolver regressão com algum nível de consciência, num transe li*ve para médio. A regressão de idade profunda, com revivência das cenas, com voz infantilizada, ou até mesmo a outras vidas, requer um transe mais profundo. E muitas vezes, mesmo num I canse profundo, pode ser que a pessoa não desenvolva a regres- '..V). Como ela também pode não desenvolver outro tipo de fenô­ meno hipnótico. Assim, devemos tomar cuidado com a proposição de um Iranse apenas com a finalidade de regressão. As vezes, naquele >I i.i a pessoa não desenvolve a regressão e vai regredir esponta­ neamente em outra sessão, sem precisar nem mesmo da sugestão para este fenômeno. O que vejo, na minha prática clínica, é que se você desen­ volve um bom rapport, a regressão acontece. Mas vale a advertên- t ia para os novatos, ao usar esta técnica. Lembro-me de pessoas que me procuraram porque que­ riam só regressão. Eu, achando que detendo a técnica poderia conseguir o que eu quisesse, me dei muito mal. Eram pessoas de­ safiadoras, controladoras. Estas, como já falei, necessitam de um rapport demorado, talvez algumas sessões, para se abrirem de verdade. E, no final, foi meu nome para o "buraco"! Elas não con seguiram "nada" comigo, continuaram com o problema. Nâo tra 194 Sofia M. F. Bauer balhei a posição "controle" e todos saímos perdendo. Por isso vai este depoimento. Bom mesmo é aprender o que Jeffrey K. Zeig ensina no seu curso de psicoaeróbica: o terapeuta deve desenvol­ ver a postura do não-saber, da incompetência, para aprender com o cliente. Na técnica de regressão, esta postura do não-saber é muito importante. O que virá, virá lá de dentro do cliente. Nossa postu­ ra é de abertura. As pessoas fazem duas confusões comuns. Uma, que hip­ nose é regressão; e a outra é que regredir é sempre regredir a ou­ tras vidas, fazendo confusão com dogmas religiosos. Nós vamos tratar aqui do científico. Da técnica para regre­ dir. Quanto ao aspecto religioso, respeite o que vier do seu clien­ te. O que vier é a realidade psíquica dele. Agora, é preciso esclarecer a primeira confusão. Hipnose não é apenas regressão. Você já sabe disso, mas o seu cliente não. É bom mostrar a ele que hipnose é também um recurso utilizado para relaxamento; assim, ele não sai frustrado. A questão religiosa é um direito de cada ser humano. O que vem, ou vier, cabe a nós adequar a cada sujeito e à sua reali­ dade psíquica de hoje. Ajudá-lo a se adequar ao mundo ou reali­ dade que ele vive hoje, com o que ele precisa melhorar nessa vida e usando do material que lhe mostra o caminho por meio das lembranças passadas. Esta é a realidade psíquica dele. Esses nossos olhos só nos permitem ver parte da realida­ de. Por isso, os olhos da intuição, do inconsciente merecem nossa atenção e, com todo o respeito às religiões, podemos ser científi­ cos. Há inúmeras técnicas de regressão. Vou ensinar uma bem simples que facilmente você aplica. Mas antes de enfocá-la, gos­ taria de citar algumas das técnicas usadas, e também de enfatizar que há profissionais, no Brasil, desenvolvendo muito bem o tra­ balho de regressão. E assim, se você tiver maior interesse nesla área, não deixe de procurá-los. Aqui, o livro se destina às técni cas básicas em geral. Técnicas mais usadas: I ll| >noterapia Ericksoniana Passo a Passo 195 • Túnel — um túnel onde é possível mirar-se lá no fundo, buscando ver do outro lado... uma luz... algum lugar. • Contagem regressiva descendo elevador, escadas. • Por álbum de fotografia — vai-se indo para trás, reven­ do fotografias. • Por alusão ao tempo de infância, a brincadeiras de infân­ cia. • Através de uma linha do tempo — linha da vida da pes­ soa. Colocando sinais, pontos luminosos etc. • Contando por idade e levando a pessoa a rever fatos que foram agradáveis e desagradáveis. Revivificação de ce­ nas. • Procura de datas que venham à mente espontaneamente, cenas, imagens e sensações. Há muitas outras que você pode pesquisar. Vou descrever, agora, uma técnica mais simples que pode l.icilitar seu caminho. 1. Coloque em transe o seu cliente — use o tempo que o iliente necessitar. Há pessoas que entram em transe facilmente (cinco minutos), outras já demoram um pouco mais. Siga um ro­ teiro simples de indução, em que você observa a pessoa relaxar, se soltar e voltar o seu olhar para dentro. Outro detalhe importante: uma sessão de regressão costu­ ma ser mais demorada. Por isso reserve tempo. As pessoas preci­ sam de tempo para regredir, vivenciar e dar tempo a você para iessignificar qualquer material que venha. Lembrando, ainda, i| ue as respostas em transe acontecem, mas são mais demoradas. I você precisa de respostas neste trabalho. Reserve um bom tem­ po. Aconselho uma hora e meia, até duas, conforme o caso. Existem pessoas que regridem espontaneamente ao entrar em transe hipnótico. Não tenha receio, se não houver o tempo i]ue eu citei acima. Assim como elas têm facilidade de entr.ir numa regressão, têm de sair dela também. Retorne em outra ses são ao mesmo tema. É bem provável que esta pessoa regrida no­ vamente, até esgotar o assunto determinado. 196 Sofia M. F. Bauer 2. Ratifique o transe, levando paz e segurança, para que ela permita ao inconsciente trabalhar as dificuldades e os recursos naturais dela. 3. Então você diz... e você pode regredir agora a uma deter­ minada idade... você está livre para viajar para dentro de você... dê o tempo que você precisar... você pode se encontrar com você mesma em alguma idade importante e significativa... ou alguma época de vida muito significativa... que lhe venha agora... Dê tempo... respire... e deixe vir... o que quiser e precisar vir... cal­ ma/ mente... (Dê tempo/ silêncio/ aguarde.) ... Para eu poder ajudá-la neste momento, com este seu (determinado problema)... preciso saber o que você está vendo, experienciando, sentindo... e você poderá ir falando aos pou­ quinhos sem sair da cena... Mas eu posso acompanhar você de perto... Daqui para frente, use sua criatividade para que a pessoa descreva, sinta, exponha o que for preciso... Você acompanha e I ressignifica aos poucos. Você pode buscar uma idade anterior ou época anterior ao fato, ver como a pessoa era antes do fato relata­ do. Você pode buscar uma idade ou época posterior e ver como ela ficou depois do fato relatado. E você pode usar da pessoa de hoje, com seus conhecimentos, recursos e valores de todas estas épocas para ressignificar positivamente. E, inclusive, unir as par­ tes num todo. Mesmo se forem outras vidas, ver a importância daquela vida sobre esta, o aprendizado do sofrimento de outrora e o que pode ser feito por esta vida agora, ou por esta idade agora. Feito isto, reintegre a pessoa à idade atual, colocando todos os aprendizados feitos com a visão magnífica que veio do incons­ ciente, e então diga aquelas palavras de Freud: "Pensar por ima­ gens está mais próximo do inconsciente do que pensar por pala­ vras." ... As imagens que vieram serviram para ajudar você a se reintegrar (restaurar, equilibrar, limpar etc.) ao que ficou preso lá atrás... e hoje você sairá daqui mais leve... sentindo-se reintegra­ do... sabendo que sofrimentos acontecem e sempre trarão ensina­ mentos para as vivências futuras... e você vai pensar... refletir em tudo isso... e ver o que mais você pode aprender com a beleza e ,i I lípnoterapia Ericksoniana Passo a Passo 197 ■uhedoria do seu inconsciente... Leve o bem-estar... calma/ men- le serena/ mente... vá retornando... hoje, dia tal, com sua idade (itlual)... bem alerta e bem-disposto. Neste final, se você quiser, poderá usar a técnica de pro­ gressão, para que a pessoa se utilize de todo o material revivido e l.mce as sementes do que virá a posteriori. Semeando agora, colhe- i .is no futuro. Como diz o professor Malomar: "Todos nós somos o nosso p.issado inteiro, desde Adão e Eva até hoje, não há como fugir." 16. Técnicas para dor Erickson, com sua doença, sofria muitas dores. Ele pôde desenvolver inúmeras técnicas para aliviá-las e, dessa forma, Ilustrou sua experiência como um exemplo das maneiras que po- i lemos usar a hipnose com eficiência em casos de dor. 0 que vou relatar aqui são técnicas simples que ajudam nas dores agudas ou crônicas. 1 - A distorção do tempo — já foi citada anteriormente. Use o campo das flores, ou a projeção de um filme que a pessoa goste, ou uma cena de amor da vida dela. Crie algo especial e distorça o tempo. 2 - Visualização de um lugar agradável — já foi citada também. Leve a pessoa a imaginar um lugar especial, onde ela ficará por algum tempo. Deixando o corpo ali com suas dores, ajude-a a criar um lugar muito espe­ cial. Um jardim, um clube, não importa, mas deve ser um local que a pessoa aprecie muito. Eu costumo usar esta técnica quando estou fazendo gi­ nástica. Meu corpo fica ali, fazendo os exercícios, eu vou para Bali, Polinésia Francesa. Sinto o mar, a tem­ peratura e a cor da água. O vento balançando as folhas dos coqueiros, o cheiro da maresia... os bangalôs e... quando vejo, a professora já está em outro exercício... e a dor? Nem sei, tive? !... Esta técnica é considerada um deslocamento. 198 Sofia M. F. Baiifi 3 - A anestesia de luva — imaginar-se colocando a mílo num balde de gelo... ela vai ficando gelada... adormec i da... aí você a leva ao local onde está com dor... anesti- sia a área. 4 - Relaxamento progressivo — ajuda muito quando nor malmente são dores musculares, cólicas ou dor de ten são. A tensão aumenta a dor, o relaxamento faz com que a musculatura reduza a tensão. Pode-se falar sobre a dor orgânica e a dor psíquica que aumenta a dor or gânica. 5 - A estória — "Esta dor tem outro nome", quando for somatização. Você a encontrará no capítulo que fala sobre metáforas e assim poderá contá-la durante o transe. Ajuda a pessoa a fazer suas ligações emocionais entre sofrimento e dor. É ótima para dor em crianças que estão somatizando, principalmente no período es colar. 6- Zeig desenvolveu uma técnica especial de ir repartiu do a dor — intensidade, tipo, modo, freqüência. A pes soa vai perdendo a noção exata de como a dor acontc- ce quando a atenção se volta para os detalhes. É um.i técnica de distração. Ele segue os passos que levam à dor, e assim vai fazendo as seguintes perguntas, para depois ressignificar estes símbolos entremeados na hipnose: Se esta dor fosse uma cor, que cor seria? Se esta dor fosse uma ferramenta, que ferramenta se­ ria? Se esta dor fosse uma planta, qual seria? Se esta dor fosse um utensílio, qual seria? E depois então faz a indução em cima de cada passo d.i criação da dor e utiliza os símbolos idiossincráticos, ressignifi cando alívio e bem-estar. flljinotcrapia Ericksoniana Passo a Passo 199 Na visão de Jeffrey K. Zeig, a utilização do símbolo do fllenle facilita a intervenção e até mesmo a indução do transe. E Viu r usa a "lente" do cliente para que ele se sinta "em casa". Os •liuholos usados para o sintoma, no caso a dor, nos levam a en- Imu ler o seu significado, que fala de um sofrimento. Devemos, então, promover a "menor mudança", que de al­ guma maneira muda o padrão da criação do problema (dor/ sin- lnm.i/ sofrimento). Uma pequena mudança pode mudar o efeito J<sencadeador. Devemos, também, trabalhar da periferia para o centro. Se r ilor, investigue o que está ao redor. Pode-se, primeiro, trabalhar (mia diminuir o latejamento, ou a pressão, o que modifica consi- i In avelmente a dor. Ao redor, há muito menos resistência que no i entro do problema. Veja com o que se parece o problema, como você o viu na liulução de seguir o sintoma passo a passo. Trabalhe em cima i lesta metáfora ou analogia. Utilize sua avaliação e vá fazendo a Intervenção com a linguagem idiossincrática do cliente. Use a metáfora do cliente para ressignificar positivamente. Você não diialisa o que o cliente traz, você utiliza. Por exemplo: se você tra­ balha com um conquistador de mulheres incansável, coloque a Minquista em atingir a calma, o equilíbrio, superando o ter de eonquistar todas, para conquistar a mulher e a paz. No caso da i lor, como a pessoa se absorve em perceber a dor, absorver com a percepção de um filme que adora, ou uma música. Nesta visão dada por Zeig, você pode trabalhar não só a dor, mas qualquer tipo de sintoma. O sintoma já é uma metáfora. Serve para fobias, depressão, etc. 7 - Distração — a distração é uma técnica usada até intui­ tivamente pelas pessoas. A criança cai e machuca e você a distrai contando uma estória, dando um doce ou picolé. Você vai distrair a mente daquele que sofre alguma dor. Lembre-se, quanto maior for o rapport, maior será a responsividade. A fé e a confiança s.u> partes integrantes da ajuda curativa. Você fará a distração de dois modos simples: 200 Sofia M. F. Bauer A - Examinando a dor em todos os detalhes possíveis. B - Distraindo a pessoa do assunto, contando estórias, des- focalizando do tempo-dor. A e B parecem opostos, mas provocam o mesmo efeito. Fo­ calizam outra coisa que não é exatamente a dor. Quando você co­ meça a perguntar muito sobre os detalhes daquilo que envolve a dor, a pessoa se distrai e perde aquele único enfoque. É impor­ tante fazer muitas perguntas, descrevendo a dor, vendo com o que se parece, se já teve outras vezes, quando, como, o que pen­ sou, o que sentiu, e introduzir aí a segunda distração: estórias, as dores que sentimos e não percebemos, como o atleta em prova, o soldado em combate, dançar a noite toda com o pé machucado, etc. 8 - Auto-hipnose — a pessoa pode aprender, com um trei­ namento, como induzir a auto-hipnose. Cada um tem seu jeito peculiar de relaxar, meditar, orar, escutar mú­ sica, praticar esportes etc. Estas são variáveis de auto- hipnose. Ensine-a a entrar num transe, de uma forma que ela se sinta "curtindo" um hobby. Pode ter certeza que duran­ te esse período ela se desligará da dor. Você também pode gravar uma fita com uma indução que ela possa utilizar nas horas de dor mais aguda, para suavizar o sofrimento. 9 - Luz vermelha — esta é uma técnica que faz você trans­ formar um estímulo cenestésico em visual e, desta ma­ neira, retirar a percepção dolorosa. O visual não sente, vê. Coloque o cliente em transe e então faça o que vem a seguir: ... E agora... pensando e sentindo essa dor... imagino uma luz vermelha (pulsando, cortando, irradiando - conforme a dor sentida)... deixe vir à sua mente, bem nitidamente, a imagem desta luz vermelha... pode ser I lipnoterapia Ericksoniana Passo a Passo 201 até mesmo uma lâmpada... ela vai ficar tão vermelha quanto a sua dor está doendo... isso mesmo... vai-se dando tempo... e pouco a pouco... você pode ir vendo... e quando assim já estiver visualizando... faça um sinal com a cabeça para que eu saiba... ótimo, agora que você vê esta luz vermelha (pulsando, cortando, irra­ diando)... imagine que a cor vai se apagando... o ver­ melho vai perdendo intensidade... e a dor também... diminuindo... apagando... a luz vai ficando laranja... apagando... a dor também... amarelada... até ficar uma luz completamente branca e calma... branca e limpa... limpando completamente sua dor... e esta luz branca vai se irradiando pelo seu corpo... cobrindo você de paz e de tranqüilidade... Tome este banho de luz bran­ ca... solte-se, aproveite desta paz e deste bem-estar... que vai ficar com você por um bom tempo... o tempo que você quiser e necessitar... Ao terminar este item, gostaria de fazer uma advertência. I )or é um sinal do organismo de que algo não vai bem. Por isso, lodo o cuidado ao retirar a dor de uma pessoa. Verifique se ela já foi ao médico, se já viu do que se trata a referida dor, porque po­ demos, por exemplo, no caso de um aneurisma cerebral, retirar a única possibilidade de salvação, retirando a dor. Existem pacien­ tes que são altamente sugestionáveis, e que podem ter excelentes resultados com as técnicas de dor. Você pode achar que está aju­ dando e, sem querer, cooperar para um mal maior. Seja cauteloso. 17. Técnica para controle de hábitos viciosos O controle de hábitos viciosos costuma ser assunto polêmi co e difícil em qualquer terapia. Lidar com o prazer oral, o mais .ircaico, é coisa complicada. Portanto, o mais difícil de ser aboli do. Na hipnoterapia, ocorre o mesmo. Não é uma questão mági ca. Às vezes, o cliente chega esperando a magia que a hipnose lará para ele emagrecer, perder a fome, espontaneamente'. C) mes mo sobre a bebida ou o cigarro. Mas não é assim. Quem dor.i |>n desse ser! O principal, de qualquer mudança, é a motivação l’oi 202 Sofia M. F. Bauer isso, se o cliente chega procurando a solução mágica, será difícil num primeiro momento. Há a necessidade de, em primeiro plano, trabalharmos a motivação. A pessoa tem que querer mudar e se sujeitar a algu­ ma privação. O perder para ganhar. Considero este o trabalho te­ rapêutico. Aí é que vai nosso tempo de trabalho. A hipnose é como embrulhar para presente o pedido do cliente, fazendo-o sentir-se mais confiante, menos ansioso. Mostrando-lhe, lá na frente, como ele ficará e quais suas potencialidades para alcançar o que deseja. Deve-se verificar o que há por trás do hábito vicioso em tratamento. Sabemos que este hábito cobre um vazio, algo que está por ser feito. Mas uma vez o vício instalado, ele se torna um ato mecânico. Muitas vezes o ato mecânico nem é percebido pelo cliente. Devemos trabalhar o motivo de se colocar algo (droga, ál­ cool, fumo, comida) no lugar de outra coisa e também o ato me­ cânico. Repare, um fumante sempre acende um cigarro num mo­ mento de tensão, por menor que ela seja. Mostra o padrão: "pre­ ciso me acalmar", "preciso de tempo". Quem sabe, você o ajuda a aprender a se acalmar de outra forma, ou resolver os problemas logo que eles aparecem. Uma pessoa obesa costuma comer compulsivamente quan­ do está ansiosa. Sente raiva, fica com culpa e se autoflagela co­ mendo. Depois vem mais culpa e depressão: "Sou fraca!" Ensine- a a gostar de si mesma, a perceber suas raivas, a fazer auto-hip- nose para acalmar-se. Trabalhe o seu bem-querer, a auto-estima. Assim, vemos que trabalhar uma questão de hábito vicios<> implica uma terapia completa. Não é apenas uma ou duas ses­ sões para parar de fumar, beber ou comer. É muito mais profun­ do. Você verá inúmeras técnicas nos livros de hipnose, mas el.iH poderão falhar se não for feita a limpeza da "base". No caso do fumo, talvez você até consiga um bom resultado. Eu tenho dúvi das. Se você não retirar o padrão ansioso, não terá bons resultn dos. Aqui vou mostrar uma técnica usada por Jeffrey K. ZeiR, Sei que hoje existem técnicas novas, como TFT (Roger Callahnn) que promovem o desaparecimento da vontade de fumar com I llpnoterapia Ericksoniana Passo a Passo 203 bons resultados, mas há a necessidade de se trabalhar o padrão tinsioso, até pela própria técnica TFT, que é excelente, ou pela lupnoterapia ou pelo seu método de psicoterapia. Gostaria de acrescentar que, em relação aos outros hábitos viciosos, podemos seguir um pequeno roteiro que vai orientar você na montagem das induções. Seja lá comer, beber, se drogar, ulilize o que o cliente traz. As metáforas do cliente serão sua por- 1,1 de entrada. Um segundo ponto, qualquer hábito vicioso implica ansie­ dade. Comece via relaxamento, ensine auto-hipnose, crie um lu- )',ar agradável, faça levitação das mãos como uma ajuda a promo­ ver a motivação, mas cada uma dessas induções por sessão, se- n>io você provoca uma indigestão, a resistência. Não queira fazer ludo de uma só vez. Em todas as suas induções, vá minando (introduzindo ví­ rus positivo) o padrão que determina o hábito em tratamento. l’or isso, é bom utilizar-se da técnica passo a passo do sintoma do ■.eu cliente. Observe-o atentamente, vá descobrindo os passos que ele relata e que você percebe. Trabalhe a calma, a auto-estima, a mudança. O relaxamen­ to, a levitação, o lugar agradável e a metáfora da borboleta po­ dem ajudar você inicialmente. Vá minando os padrões, da perife­ ria para o ponto central do problema. Agora passarei a descrever a maneira de Jeffrey K. Zeig li­ dar com o controle do tabagismo. Ele tem uma técnica especial i| lie procurarei passar a vocês. Para Zeig você deve intervir o mais rápido possível, já durante o telefonema de pedido da con- sulta. Você pergunta se há outros fumantes em casa, na família, e si! estão interessados também em parar de fumar. Se for positiva it resposta, peça para que venham juntos. Tratar todos, pelo pre- çO de um só. Isto é feito com a intenção de que, mais de um fa­ zendo o mesmo, fica mais fácil. Telefonema pré-sessão Assim, neste telefonema pré-sessão, pede-se o "apoio" de niilros familiares que queiram o mesmo. Pede-se para que venh.i ,i.'mfumar já desde cedo. Procura-se marcar uma sessão para o linal da manhã, pois a pessoa já estará ansiosa para fumar Nisto, 204 Sofia M. F. Bauer o terapeuta já vê se há motivação suficiente através do desconfor­ to e da privação que a pessoa já está fazendo. O tratamento co­ meça aí. E você pode dizer, neste telefonema, como Jeffrey faz: “Eu quero que você fume os seus melhores cigarros até vir aqui, cada tragada com prazer; agradeça formalmente ao cigarro por ter sido, talvez, seu amigo, seu suporte." Ele também diz que se pode usar, além da hipnose, outras técnicas. Já neste telefonema, Zeig costuma contaminar o padrão do hábito. Coloque algum tipo de vírus, por exemplo: - antes de ir à sessão, colocar os cigarros num lugar bem longe de suas mãos; - adiar o fumar o máximo possível e obter o máximo de prazer em cada tragada até a sessão marcada; - quantos cigarros fuma (marque-os, numerando-os de 1 a 20, e vá fumando pela ordem); - fazer algo diferente: tirar o sapato para fumar, beber um copo de água, etc. Este tipo de estratégia de telefonema pré-sessão pode ser usado para qualquer hábito vicioso. Ajuda a motivar e testar a motivação. Na sessão Durante sua avaliação devem ser feitas perguntas, sem se­ veridade, que rompam o padrão e criem implicações positivas. Questões sugeridas: • Há quanto tempo você vem fumando? Preste atenção. • Que tipo de cigarro você tem fumado? • Quantos cigarros você tem fumado? • Por que parar de fumar? Por que agora? Durante o tran­ se você pode repetir a pergunta e pedir para reavaliar. • Existe alguma pressão? Familiar, saúde, social etc. \ oterapia Ericksoniana Passo a Passo 205 • Trouxe junto alguma coisa relacionada ao ato de fumar (cigarros, isqueiro etc.)? • Fez a tarefa para a sessão? Se o sujeito não tiver feito, é hora de dizer que ele ainda não está apto a parar de fu­ mar. • O que você tem aproveitado do ato de fumar? • O que você tem obtido do fumar? • O que você tem aproveitado do ato mecânico de fumar? • Tem ou já teve outros hábitos? • Se teve, como conseguiu parar? Você usa isto como es­ tratégia para ajudá-lo a parar de fumar agora. • Pedir para fazer a mímica de como tem fumado. Isso ajuda o cliente a identificar um padrão de compor­ tamento. Se fuma para se acalmar, se fuma para se sentir seguro etc. • Obter informações sobre a família. De quem gosta, de quem não gosta. Isto para dar sugestões que possam aju­ dar a pessoa. Por exemplo: colocar o nome da pessoa que mais detesta no maço de cigarros. Quando for fumar vai ver o nome de alguém que odeia. Ou colocar o retra­ to dos filhos no maço de cigarros. Vendo a foto daqueles que o ama e não querem vê-lo doente. • Como você sabe que pode superar este problema? Res­ ponder só de uma maneira positiva. • Descrever a vontade de fumar. Fazer escala de 0 a 10 em desconforto. O objetivo é mantê-lo no limiar menor de desconforto, para que tolere ficar sem fumar. • Hobbies, interesses. Você pode usar, na hipnose, a troca de interesses. O melhor desempenho em hobbies Até mesmo a distração no hobby ou em algum interesse parti cular como sugestão pós-hipnótica. • Previsão de qual será a maior dificuldade. 206 Sofia M. F. Bauer • Que tipo de suborno iria funcionar? Ajuda a entender que é possível controlar o comportamento e até os su­ bornos pretendidos. • Como você lida com a dor? Você verá o grau de tolerân­ cia ao sofrimento. Como trabalhar, dando motivação su­ ficiente para superar a dor. • Parte de você quer parar de fumar. Parte não. Em 100% diga quantos por cento correspondem a cada parte. Você usará isto na estória que contará em transe. São muitas perguntas, mas todas rápidas. Fazem parte da avaliação e já são parte da intervenção, estratégia e tratamento. Você pode usar as que quiser ou todas elas, ou as que você criar. O que importa é que você vai trabalhar com o seguinte esquema: - perguntas sugestivas para suavizar; - perguntas com tempo verbal passado. O que você tem feito e que não fará mais; - perguntas motivadoras, que testam e avaliam o quanto o paciente está motivado; - perguntas contaminadoras do padrão do hábito de fu­ mar; - perguntas que induzem a aprender novas estratégias que podem ser colocadas no lugar do fumar; - perguntas de escala, para que você utilize durante a hip­ nose. Tudo isto já faz parte da sessão: avaliação, utilização, orientação de novas estratégias. Você gasta tempo para fazê-lo. Só depois disto você está apto a fazer uma hipnose sob medida, que venha trabalhar o desejo de parar de fumar. Você pode sugerir beber muita água, caminhar, pensar em algo positivo e muitas outras coisas, quando vier a vontade de fumar. Faça as suas criações. Vamos, então, ao que é importante na hipnose de parar de fumar. Lembre-se, cada caso é um caso diferente e será necessá­ rio cunhar uma hipnose única para aquele caso. I ll| iiioterapia Ericksoniana Passo a Passo 207 Zeig parou de fumar porque Erickson trabalhou contando ,i estória de um amigo que era "esquisito" para fumar, "esquisi­ to" para soltar a fumaça, "esquisito" para acender o cigarro etc. A estória durou uma hora, uma verdadeira hipnose, em que I l ickson ligou os termos "fumar cachimbo" com "era esquisito". A última coisa que Zeig queria ser era esquisito aos olhos de Erickson. Por isso, faça o transe sob medida. Lembro-me de uma sessão que Zeig fez com uma moça t| iie desejava parar de fumar, em um congresso (São Paulo, 1996). I oi um bom tempo fazendo muitas das questões relatadas acima. I le ia minando o padrão do desejo de fumar. Lá pelas tantas, ele pergunta de quem ela mais gostava. Ela respondera que da filha. I >epois, qual era a vontade de parar de fumar. A resposta foi uns 707o que poderia virar 30%, dependendo da hora. A seguir, pe­ diu a ela que desse cinco desculpas inteligentes para dar uma tra­ gada no cigarro. Deu-lhe um tempo para que trouxesse as des­ culpas inteligentes. Resultado, não conseguiu desculpas. Zeig, em seguida, pediu a ela que repetisse a seguinte frase com respostas positivas: "Eu sei que eu posso parar de fumar por­ que..." Ele fez isto algumas vezes, como semeadura da interven­ ção principal que viria dentro da hipnose. Este é um esquema que Zeig utiliza. Você poderá montar ao seu estilo um trabalho que motive, reforce a força de vontade e o bom resultado ao final. Colocou-a em transe, observando-a sentir conforto. Voltar- se para dentro e descobrir conforto. Ratificou e durante a elicia­ ção usou de duas estórias. A primeira: Ele estava num aeroporto, esperando para embarcar; viu uma mãe com a filhinha no colo, que tentava se desgarrar del.i Em princípio levou algum tempo, digamos que cinco minutos, para fugir do colo da mãe e chegar a um baleiro. A mflo convu, pegou a filha, colocou-a no colo e segurou-a com forç.i I >.t '.e gunda vez, a filha levou uns dois minutos para fugir novamente 208 Sofia M. F. Bauer para o baleiro, gritando. A mãe ralhou com a filha, pegou-a à for­ ça e amarrou-a com os braços à cadeira. A garota levou menos de um minuto para libertar-se e saiu correndo e gritando para con­ seguir as balas do baleiro. Por que a mãe não distraiu a filha? Por que não contou estórias, leu revista, cantou? Assim, os 70% de força tornaram-se apenas 30% em apenas cinco minutos. A segunda: Em seguida, contou-lhe outra estória cantando uma musi- quinha como se fosse uma maria-fumaça. Esta, ao ver o morro ín­ greme que iria enfrentar, ia cantarolando vagarosamente: Eu sei que eu posso... Eu sei que eu posso... Eu sei que eu posso... Quan­ do ela chegava ao topo e começava a descer, ela cantarolava rapi­ damente: eu sabia que podia... eu sabia que podia... Com estas duas intervenções principais, semeadas pelas perguntas feitas anteriormente, ele fez uma hipnose sob medida. E, assim, ela poderia acreditar que ela podia vencer os 30% que ela tanto temia. I lipnoterapia Ericksoniana Passo a Passo 209 Praticar o silêncio significa assumir o compromisso de reservar uma certa quantidade de tempo para simplesmente ser... Quando você o pratica, medita, entra em cantata com sua potencialidade de ser, sem julgamento... E é desta maneira que aparecem os pensamentos criati­ vos... Aprenda a estar com você... 210 Sofia M. F. Bauer 18. Técnica de auto-hipnose Você pode aprender a fazer sua própria indução. De acor­ do com Ernest Rossi, a cada hora e meia do nosso dia, entramos em 20 minutos de auto-hipnose (ciclos ultradianos). É como se fosse um certo cansaço, um desligamento. As nossas células ne­ cessitam de uma pausa a cada hora e meia ou duas. Uma pausa de 20 minutos, para refazer as trocas de sódio, potássio, reorgani­ zar as memórias de descanso e recuperação. Se trabalhamos sem parar, a máquina estraga. Se você consegue parar a cada duas ho­ ras do seu dia, por 20 minutos, você consegue uma maior longe­ vidade e acaba com o estresse. Mas o que constatamos é que, no mundo ocidental, as pessoas não querem parar, seguido a métri­ ca de que time is money e, portanto, não se pode perder tempo. Mas não sabem o mal que estão se fazendo. A meditação, a ioga, a reza, o silêncio, o descanso, são maneiras de pausa. A auto-hipno- se também. E você pode aprender a fazê-la para o seu próprio be­ nefício e ensiná-la ao seu cliente como auto-higiene. Vamos lá... ... Coloque-se numa posição confortável... acomode-se de tal maneira que ninguém venha lhe incomodar nos próximos 15 ou 20 minutos... e se dê tempo... todo o tempo do mundo nos próximos minutos... você pode reorganizar sua vida para descan­ sar agora... ... É tão bom espreguiçar-se... parar por uns instantes... to­ mar fôlego... ver como está sua respiração... liberar-se para deixar a respiração acontecer em você... Respire... Inspirando e abrindo seu peito... pense nas coisas boas que deseja alcançar... expire... solta / mente... pondo para fora o que fica preso aí dentro... dei­ xe-se ficar quietinho... deixe-se espreguiçar... sintonize com o que você está experienciando... imagine que você está experienciando conforto em algum lugar do seu corpo... veja onde você ainda tem alguma tensão... você não tem que ficar confortável... apenas aprenda a conhecer onde está sua tensão agora... que partes do seu corpo traduzem seu estresse... talvez o coração esteja batendo mais depressa... talvez alguns músculos, como os do estômago ou da cabeça, estejam tensos... não tenha pressa... sintonize-so com esta tensão... ela vai passando... enquanto você observa su.i respiração... os músculos que já estão mais soltos... talvez você se I lipnoterapia Ericksoniana Passo a Passo 211 I '(■)’,ue pensando... não julgue... deixe que os pensamentos vão e voltem... simplesmente vá notando o que acontece... deixe as coi- •is acontecerem... não há necessidade de controlar nada... Assim, v,i notando as mudanças ocorrendo... Respiração mais solta... os barulhos à sua volta, sem perturbá-lo... o alívio de não ter que fa­ zer nada... poder descansar... o soltar dos músculos... é tão gosto­ so ficar deste jeito... descansando... cabeça... idéias... e você não precisa se mexer... afinal de contas você merece este descanso... I i11ue assim por um tempo... aprendendo que, para fazer auto- hipnose, basta fechar os olhos para o lado de fora... e abrir seus olhos internos... conectar-se lá dentro... calma... tempo... tempo de recuperação... silêncio... todo o silêncio necessário para des­ frutar devagar e dar-se o tempo de recuperação nos próximos minutos... silêncio... e você retornará sozinho, dentro do tempo que desejar e tiver disponível... cheio de energia... de mente are­ jada... serena / mente bem disposto... Siga este roteiro e logo você fará o seu próprio. Uma outra auto-hipnose — um transe para liberar potencialidades inconscientes E agora, quando você for para dentro de você mesmo... deixando-se ir... você pode tornar-se... ainda mais consciente... de que você tem uma mente consciente, e uma mente inconsciente, um eu interno, um eu tranqüilo, oculto bem no fundo, que fica mais disponível, mais acessível, quando você se deixa ir suave/ mente, calma/ mente E esta mente interior, Esta mente consciente, 212 Sofia M. F. Baun tem muitas habilidades e compreensões que você pode usar para se tornar mais confortável, tornar-se mais feliz, para desfrutar de sua vida mais inteiramente, porque sua mente inconsciente pode pensar melhor sobre seus objetivos, pode ver como você se sentiria, estando agora mais à vontade sendo mais capaz de olhar para você com cuidado, dedicação, de se sentir confortável / mente. E quando sua mente inconsciente sabe o que ela pode fazer para ajudá-lo, você também pode perceber isto porque ela pode lhe mostrar um pensamento, uma memória, uma sensação, ou uma imagem... que, à primeira vista, pode parecer incomum, porém, mais tarde, mostrar o caminho para ajudá-lo, libertá-lo. E eu não sei, e você não sabe, o que seu inconsciente sabe, ou o que ele fará por você, mas eu sei que você pode esperar agora pelo seu eu interno, para revisar aquele objetivo, I li| >noterapia Ericksoniana Passo a Passo 213 encontrar aqueles pensamentos, aquelas novas formas de fazer, deixar aflorar a memória para aprender, encontrar aquelas necessidades, que realizam aqueles objetivos. Sua mente inconsciente sabe o que fazer, quando ela reconhece como usar suas próprias experiências, suas próprias reações, sua forma própria de fazer as coisas, para ajudá-lo a realizar aquelas coisas que são tão boas para você. Você necessita de sua mente inconsciente, você pode saber que ela está pensando essas coisas, e ela sabe o que fazer e o que fará por você... Dê tempo a você mesmo... Aproveite agora para se sentir solta/ mente... suave/ mente... e assim você pode tomar todo o tempo do mundo para ir voltando aqui para a sala (ou para o seu ambiente, caso seja autohipnose) nos próximos minutos... serenamente alerta e bem-disposto. Existe uma excelente hipnoterapeuta ericksoniana do Mé­ xico, Teresa Robles, que, com Jorge Abia, desenvolveu várias tiv nicas de auto-hipnose, tendo publicado alguns livros sobre o tema, tais como: Autohipnosis: aprendiendo a caminar por la vida i> Revisando o passado para construir o futuro. São livros de fácil Inlu ra e recomendados para quem deseja ampliar seu arsenal li\ nico. Capítulo 6 C asos clínicos A hipnoterapia serve para qualquer caso clínico que che­ gue ao seu consultório. Aqui vou citar algumas patologias, meu ponto de vista, a forma como trabalhei e, como ponto principal, .ílguns depoimentos dos clientes que passaram por este processo. Gostaria de colocar que a criação de um sintoma é uma forma de linguagem metafórica de algo que se passa lá dentro de você. Funciona como um sistema de alarme. Assim, se você tem um sintoma psíquico ou somático, você tem algo que se interco- munica aos dois sistemas. Como dizia Freud: "... nada é mera­ mente psíquico... nada é meramente somático..." Veja o que aconteceu como precedente do sintoma na vida daquela pessoa, nos anos que antecederam o sintoma, o que acontece hoje. O próprio sintoma é uma linguagem metafórica que se traduzirmos dá a dica do que a pessoa sofre lá no fundo, lixemplo: intestino preso é como prender o "enfezamento", pren­ der as mágoas e raivas. Gostaria agora de relatar alguns casos clínicos que poderão ilustrar para você como a hipnoterapia funciona. Eu poderia dar exemplos de todos os tipos de psicopatologia. Mas escolhi ape­ nas algumas. Você verá alguns depoimentos dos próprios clien tes. Como foi para cada um vivenciar a hipnoterapia. Estes rela tos foram colocados para que você pudesse ver como a terapi.i funciona diferentemente em cada pessoa. Os fenômenos hipnóti cos variam, assim como a reação de cada um. Lembre-se, são só alguns exemplos. O intuito do livro é mostrar-lhe a técnica; os casos são apenas ilustrações. 1. As desordens somáticas e psicossomáticas A psicopatologia diferencia estas duas coisas. Por desor­ dem somática traduz-se uma anomalia passageira que a pessoa tem como uma descarga emocional. Exemplo: uma diarréia, um vômito, uma dor de cabeça após uma discussão. Por desordem psicossomática, uma anomalia que ataca um órgão-alvo, a qual é considerada uma doença física, mas a causa é psíquica. Existe o mal físico, às vezes crônico, mas a causa vem do psiquismo. São exemplos: asma, úlcera, enxaqueca, alergias, psoríase, vitiligo, hipertensão, etc. Tanto na primeira, desordem passageira, como na segun­ da, a hipnoterapia tem sido muito efetiva. É sempre um sintoma que fala de um outro mal, que o psiquismo traduz no corpo. A hipnose torna-se o caminho que restabelece a conexão com o psi­ quismo, levando à eliminação do problema. É o que veremos nos casos a seguir. São casos de desordens psicossomáticas ou trans­ tornos somáticos, em que o psiquismo precisou dar seu sinal de alerta através da linguagem metafórica do corpo. 2. Hipertensão A hipnose, por si, é muito eficiente para o controle da pres­ são arterial. Uma vez que controla as batidas do coração, o rela­ xamento muscular, promove o relaxamento das artérias e a que­ da da pressão. Costumo ensinar hipnose de relaxamento, ar azul, lugar agradável e auto-hipnose. Funciona muito bem. Enquanto a pes­ soa a faz, a pressão baixa. Você pode medir a pressão logo a se­ guir e verá que ela terá baixado. Um outro trabalho importante é, através do processo psico- terápico, observar o que faz pressão na vida desta pessoa. Ajude- a a ir limpando. Através da hipnose, associada às metáforas, v.1 mostrando os caminhos à despressurização da vida. Associe os dois métodos e a pessoa vai aprender a controlar a pressão d.i I lipnoterapia Ericksoniana Passo a Passo 217 vida. Ensine-a a relaxar, a curtir prazeres pequenos, a enfrentar os problemas que causam pressão. Caso I rene Mulher, 45 anos, advogada. Procurou a terapia por estar sofrendo de hipertensão. Seu médico indicou a terapia como uma ajuda devido ao grau de estresse em que vivia. Sua vida era pres­ são contínua. Trabalhava sob pressão de dar conta de todos os problemas de uma grande empresa. Em seus relatos, colocava palavras como panela de pressão, rolo compressor. Após três meses de hipnoterapia, já sabia fazer auto-hipno­ se, que praticava diariamente dentro da empresa e, em casa, logo (.[ue chegava do trabalho. Trocamos a "panela de pressão" por outras panelas que cozinhavam muito bem e deixavam a comida mais saborosa, apesar de gastar um pouquinho mais de tempo. Trocamos o rolo compressor por máquinas de última geração i| ue, sem pressionar, conseguem fazer o mesmo trabalho. Isto cm estado de transe, em trabalhos metafóricos. Foram introduzidas sugestões pós-hipnóticas de lazer, descanso e diversão. Foram prontamente aceitas e a paciente foi mudando sua vida. Voltando ao médico, para o controle periódico, para surpre­ sa de ambos a pressão havia se normalizado. Foram suspendidos os medicamentos e depois de mais três meses de terapia, seis meses no total, recebeu alta do médico e da terapia, com vida nova. Foram utilizadas com ela as técnicas sugeridas neste livro como: relaxamento, respiração, entremear palavras ressignifican- do-as, metáforas e sugestões pós-hipnóticas. Caso Rivonilda Mulher, 53 anos, hipertensa desde criança. Há dois anos e meio teve uma trombose femural e sofreu uma cirurgia. Deste momento em diante sua vida mudou. Foi proibida de tudo, pois constataram um entupimento grave de uma das artérias caróti das. Perigo de vida, inclusive. Pressão alta, trombose, entupi mento de veias, assim chegou a paciente, acreditando que ,i hip noterapia poderia ajudá-la. Afinal de contas, tudo veio 1.1de tias! 2IH Sofia M. F. Bauer Desde menina! Era a caçula de nove irmãos. Quando a mãe en­ gravidou, o pai morreu. Que pressão! Esta mulher já estava em tratamento homeopático e fazen­ do massoterapia. O tratamento médico também seguia fazendo, , com exames e controles periódicos. Sua pressão alterava muito e sempre muito alta. O que vi, ao final, foi uma pessoa que, após o susto de qua­ se perder a vida, trazer de dentro de si mesma a sua resposta in­ terior: a cura que tanto almejava. Sua pressão equilibrou-se. Seus pés, que chegaram a ter isquemia e quase perder as unhas, torna- ram-se corados e quentes novamente. Saúde equilibrada. Alta do médico. f l O que mais chamou minha atenção foi o que lhe aconteceu após a quarta sessão hipnoterápica. A resposta interior apresen- tou-se na forma de uma luz violeta, uma bola de luz violeta que ela viu. Chama violeta, presença da cura? Ela vivificava algo es­ pecial. Em seus relatos associou a cura a Saint Germain. O que <í verdade de tudo isto?! A meu ver, tudo. É a verdade de Rivonil- da que pode receber a cura, a limpeza, o sinal e a luz da despres­ surização e da harmonização. Não fui eu quem sugestionou algo assim. Foi o inconsciente sábio de Rivonilda que sinalizou para que o caminho da luz se abrisse. Somente pessoas especiais rece­ bem Saint Germain e sua luz personificada. Ela é uma pessoa es­ pecial, merecia uma cura especial. Fico muito feliz por ter sido testemunha de uma autocura, propiciada pelo veículo da hipno­ terapia. E gostaria que este relato especial fosse o testemunho do que quando alguém quer mudar ela muda. A motivação é a alma do negócio. Segue o relato da paciente sobre as seis sessões que ela fez, comigo em hipnoterapia. "Belo Horizonte, 3/ 2 / 98 São experiências a relatar de 53 anos de vida, mas farei um resumo em poucas linhas. Fui hipertensa desde criança e muito I hpnoterapia Ericksoniana Passo a Passo 219 alérgica. Há dois anos e seis meses, tive uma trombose femural e | M.ssei por uma cirurgia. Meu ritmo de vida mudou. Fui proibida de tudo na vida, sentia-me um peixe fora il igua, mas não me entreguei. Comecei um tratamento com ho- meopatia holística e terapia corporal (massoterapia), estava sen­ tindo uma melhora grande mas ainda estava faltando alguma coisa em minha vida, estava sempre questionando e interrogan- «Io a mim mesma o tempo todo, sentindo vazio e medo, insegura rom relação ao caminho daquela vida nova, tudo mudado, tendo de fazer novas adaptações em relação ao meu trabalho. No se­ cundo semestre de 97 busquei o processo de cura mais rápido, a hipnose. Seis encontros com a terapeuta fizeram-me sentir cura­ da, sem medos, em perfeita harmonia com a vida, sentindo o pra­ zer de fazer parte deste mundo. Primeira experiência com a terapeuta: Chorei muito, voltei ao tempo dos meus 2 anos, lembrei- me de um vestido de chita e senti saudade dele; senti a dor de pequenos empurrões que levei do meu irmão de 7 anos na época. Dois dias após a primeira sessão, entrei em hipnose sozinha em casa, vivendo uma experiência dentro do útero, e a chegada ao mundo foi uma sensação suave e de prazer sem dor. Segunda experiência: Sempre chorava muito, de escorrer lágrimas em grande quantidade, muito insegura, com medo de tudo e com vontade de me alimentar de coisas que são a alimentação de recém-nasci­ dos como leite, sopa, etc. Terceira experiência: Ainda chorava muito. Os medos já diminuíram durante a sessão. Senti meus pés saírem do chão e um bem-estar muito grande. Eu estava muito feliz, em campo muito plano, com chei ro de terra molhada; plantações muito grandes de trigo e pessoas de épocas passadas. Uma vida muito pobre, e eu fazia parte dos te lugar e estava feliz. Não era criança e estava sempre mexendo na plantação, sentindo prazer por estar ali. 220 Sofia M. F. Bauer Quarta experiência: Na quarta sessão estava bem mais leve e vivendo a cura, presenciando a fluência da circulação em meus pés, uma reação normal. Três dias após, era domingo, 17:30h, estava em casa, so­ zinha, preparando-me para tomar banho, quando uma chama violeta pairou sobre minha cama. Estendi as mãos, tentando pe­ gar, e pedindo para não ir embora. Ela ficou sobre minhas mãos por minutos. Era fria, gelada, e apagou-se. Levei as mãos ao pei­ to, tive sono, dormi uma hora e meia e até hoje sinto a cor, e o ca­ lor nas mãos mudou. Foi uma experiência que não quero esque­ cer, lembrando sempre e agradecendo às energias porque foi bom. Faltam palavras para expressar o que senti nesse dia. Foi bom, lindo, maravilhoso. Hoje me sinto uma outra pessoa, de bem com a vida. Estou curada, comprovado cientificamente." 3. Úlcera No caso, o órgão de choque é o estômago. A raiva, o estres­ se, o excesso de autocontrole, a preocupação, estouram no estô­ mago. São pessoas de caráter nervoso que se corroem por dentro. Queimam-se com seu próprio fogo. Observe bem a pessoa com queixas de gastrite, ou úlcera. Ela está passando por um período de estresse que gera raiva e culpa. Procure averiguar quais os problemas que a vêm afligindo. Você sabe que qualquer problema psicossomático tem sua raiz no psíquico, mas é o soma o sinalizador. Não adiantaria muita coisa, apenas tratar medicamentosamente. E preciso averiguar e melhorar as causas psíquicas que estão gerando o mal-estar psí­ quico e físico. Como em todos os casos, a hipnose é ferramenta útil nos ensinamentos do relaxar, buscar soluções interiores para os pro­ blemas que nos afligem. Acalmar-se, buscar coragem, aprender a se divertir, são caminhos que você pode ensinar através da hip­ nose. Mas, lembre-se, busque o que está corroendo esta pessoa por dentro. Através das perguntas feitas, dos sonhos e da hipno­ se, você tem material suficiente para limpar o que a queima inlc riormente. I lipnoterapia Ericksoniana Passo a Passo 221 Caso Dario O que vem a seguir é o relato do paciente que se submeteu .1 hipnoterapia. Dentro do que foi dito acima, ele aprendeu a compreender aquilo que o queimava. Como podia se divertir, re­ laxar e mudar sua vida, mesmo que tivesse que continuar fazen­ do o mesmo trabalho profissional. Aprendeu a relaxar, a curtir sua futura esposa (casou-se com ela), a dar mais valor a suas ho­ ras de laser, como a hora que ele precisava para limpar "as quei­ maduras" do trabalho, e assim por diante. O fato de entrar em Iranse já o ensinava que era possível desligar-se por algum tem­ po do que era ruim. Recuperava o fôlego e dava forças para pro­ curar mais o que era gostoso. Divertindo-se mais, diminuía o peso das pressões do trabalho, que continuavam as mesmas, ou .íté poderiam piorar, mas era possível soltar-se, desligar-se, por tempo determinado, para recuperar o fôlego. Aprendeu também que, se o estômago doía, isso era um sinalizador. Algo já estava pressionando a mente. O que precisava ser resolvido, o que era pressão excessiva? Era hora de parar. Ocupar-se de algo bom que relaxa, dá tempo ao estômago para se recuperar. Neste caso, o paciente entrava bem em transe e sofria am­ nésia parcial. O que é bom, porque você pode dar sugestões que ficam guardadas lá no inconsciente, e que a pessoa vai usando devagarinho. As lembranças de uma ou outra palavra ou suges­ tão vão aparecendo, lá de dentro, aos poucos, na medida certa. O fato de entrar bem em transe, neste caso, favorecia. O relaxamen­ to era sempre profundo e o fazia soltar a musculatura do estôma­ go, diminuía a tensão física. Tirava as pressões e ajudava o pa­ ciente a acreditar que algo especial acontecia, e que ele tinha re­ cursos para se recuperar. Uma experiência hipnótica "Antes de começar a falar sobre a minha experiência com hipnose, gostaria de voltar há 12 anos, quando surgiram todos os meus problemas que me levaram a buscar o tratamento à base de hipnose. Tudo começou no ano de 1986, que eu considero o ano mais negro de minha vida. Tinha na época 28 anos. Trabalhava 222 Sofia M. F. Bauer em uma empresa de informática e havia montado uma joint ven- ture com outros três sócios brasileiros e argentinos para exporta­ ção e importação de alimentos, via Mercosul. Como em todo ne­ gócio que se monta, existem problemas e dificuldades, mas não tantas quanto aquelas pelas quais que passamos. Em maio de 86 resolvemos comprar a parte da sociedade' de outro sócio e acabamos vendendo toda a empresa para esto sócio, ou seja, caiu o primeiro sonho de me tornar um empresá­ rio. Para continuar o mês de mudanças, terminei um relaciona­ mento de cinco anos com uma pessoa com quem, em breve espa­ ço de tempo, casaria. E, fechando o mês de maio, deixei a empre­ sa de processamento de dados para buscar uma outra alternativa de negócios, visto que estávamos em pleno Plano Cruzado e n perspectiva quanto à situação econômica era positiva para os em­ preendedores. Quando chegou o mês de setembro de 86, adquirimos um.i pequena indústria que, pensávamos, seria o fim da aposentado­ ria de meu pai e o início de um grande negócio, pois estávamos, eu e meu pai, à procura de um empreendimento que nos trouxes se muito trabalho e uma certa tranqüilidade financeira. O início das atividades se daria no dia 22 de setembro, e meu pai esbanj.i va alegria e entusiasmo, pois chegariam ao fim seus dez anos d o aposentado. À zero hora do dia 22 de setembro meu pai sentiu-se mal o o levamos para o hospital, onde veio a falecer duas horas depois, vítima de um infarto fulminante. Em 31 de dezembro, felizmente termina o ano de 1986. Começamos a tocar o negócio, eu e meu irmão, indo d» vento em popa e superando as dificuldades impostas pela falsi­ dade de um plano eleitoreiro imposto por um governo que nílo tinha sequer as rédeas do bom senso em suas mãos. Durante o ano de 1987, comecei a sentir fortes dores no o h - tômago, foram diagnosticadas duas úlceras duodenais e um» hérnia de hiato. Acredito eu se tratar de conseqüências do ano cl< 1986. Tratei à época com os métodos convencionais e aparento mente deu resultado. I llpnoterapia Ericksoniana Passo a Passo 223 Meu negócio como empresário durou três anos, exatamen­ te .íté o fim de 1988, quando achei um comprador para a empresa c íiquei livre de vários problemas. Em 1989, minha vida começou a mudar radicalmente. Vol U'i a trabalhar em uma empresa multinacional de grande porte, mm um bom salário. Resolvemos, à época, eu e minha namora- da, morar juntos, após dois anos de namoro, e iniciamos uma \ ida a dois que durou pouco tempo mas que foi bastante interes- N.mte. Neste mesmo ano, voltei a ter novamente duas úlceras duodenais, uma hérnia de hiato e gastrite. De novo os mesmos tratamentos convencionais, via alopatia. Há cerca de quatro anos, encontrei Sofia, que me falou so­ bre a hipnose, o tratamento e os resultados obtidos nos casos de doenças como a úlcera. Neste ano, as minhas dores no estômago luiviam voltado. No primeiro instante, achei aquilo meio maluco, com muito receio e com muita descrença neste assunto que eu desconhecia por completo. Só que aquilo ficou na minha cabeça e eu pensava comigo o que poderia acontecer se eu passasse por uma experiência des­ sas. Mal não faria, por que então não experimentar? Na vida te­ mos que estar preparados para mudanças e mudar sempre que for preciso. A primeira vez que fui ao consultório, um pé ficou atrás e o outro teimava em não entrar na sala da Sofia. O primeiro contato, Ou a primeira sessão, foi bastante tenso, pois a idéia era buscar o relaxamento, a paz interior, a abertura de espaço para mim mes­ mo e para o meu estômago. Mas como relaxar com toda pressão que eu vivia diariamente, principalmente no trabalho. Após alguns meses de análise, a situação começava a mu­ dar de figura. Eu sentia menos peso em meu corpo e minha cabe­ ça ficava sempre leve. Eu me lembrava dos 15 minutos iniciais das sessões, depois não sabia de nada que me acontecia. Foi uma experiência bastante gratificante. As dores no meu estômago pa­ raram e minha vida tornou-se um pouco mais calma, mas não menos tensa. Agora eu conseguia controlar um pouco a produção do ikido clorídrico que corroía as paredes de meu estômago. Sem­ 224 Sofia M. F. Bauer pre que alguma coisa começava a me incomodar, eu buscava as sessões de hipnose para me relaxar. Até nas reuniões de negócios eu conseguia não me aborrecer mais. Quando a coisa ficava cha­ ta, eu "ligava meu subconsciente" e passava a ouvir a voz da So­ fia me falando coisas, me levando a lugares que só me traziam boas recordações. Fiquei mais feliz ainda no dia que fiz outra endoscopia e vi que as paredes de meu estômago só tinham marcas passadas e mais nenhuma presente. A primeira pessoa a quem contei e mos­ trei o meu exame foi Sofia, tamanha era a minha alegria por ter passado essa fase e acreditando no que as pessoas são capazes de fazer pelos outros. De vez em quando peço a Sofia para fazer uma sessão. A minha experiência foi bastante construtiva e provocadora de muitas mudanças em minha vida. Para melhor, é claro. Não pos­ so esquecer que minha esposa participou ativamente deste resul­ tado positivo. Ao final deste relato, gostaria de dizer que o perfil deste paciente é de uma pessoa impulsiva, mas empreendedora e mui­ to correta. As pessoas impulsivas querem "imaturamente" as coi­ sas prontas para ontem. Um superego exigente contribui ainda mais para o aumento das pressões. Assim, o que ocorre é um so­ matório de pressões psíquicas que acabam afetando o corpo. Se você trabalha no sentido de diminuir a pressão pam continuar dando conta de fazer tudo a seu modo e a seu tempo, lá na frente o resultado será ótimo. Elimina-se a raiva, e você não mais gerará a culpa, o castigo e o ganho secundário. Aprende-sc a sentir o prazer de viver na retidão e aproveitar o lazer. Pois ah' Deus, depois de criar o mundo, tirou seu dia de folga!" 4. I mpotência Geralmente os homens que chegam com esta queixa so frem de uma impotência geral. Averigúe de que outras impotên cias este homem está sofrendo. Vida profissional, vida em casn, com familiares. Algumas vezes, a impotência é no campo afetivo, Coisas do tipo: "ela é mulher demais para mim", "ela é linda e eU sou feio", "ela é proibida, ou a mulher impossível". 1lipnoterapia Ericksoniana Passo a Passo 225 Então, sempre procuro averiguar a impotência simbólica i| iie está por trás. É necessário trabalhar o bem-querer, a auto-es- lima. Quais são seus valores? Por que esta mulher está com você? Se ela está com você é porque gosta? São perguntas que podem refazer a auto-estima. Podem fazê-lo ver seus valores. Você pode usar de metáforas do resgate de tesouros escondidos, por exem­ plo. Observe á questão edípica, as impossibilidades de se tornar homem de verdade. Nestes casos, precisamos trabalhar a ansie­ dade de ter que mostrar competência de imediato. São pacientes .msiosos, querem conseguir tudo depressa. Isto não quer dizer que se apresentam ansiosos aparentemente. Demonstram uma ansiedade dissimulada. E como no caso da gagueira, só na hora em que se sentem pressionados é que a ansiedade é demonstra­ da, gaguejando ou ficando impotentes. Isto mostra que a dificul­ dade se encontra no pensamento impotente: "Posso não dar con­ ta agora." Neste momento vem a pressão imediata. Devemos en- siná-los a comer devagar, não vai faltar comida. Outro componente que venho observando é que são pes­ soas "boazinhas". O bonzinho sempre passa por bobinho. E ele sabe disso de uma maneira ou de outra. O que está por trás dis­ to? A questão da auto-estima, da auto-imagem. É preciso traba­ lhar a referência, o auto-retrato de homem. Por isso, durante seu trabalho hipnoterápico, procure manter a direção da conquista de um auto-retrato como homem adulto, fazendo o menino virar homem. Devemos introduzir, depois das sessões básicas de rela­ xamento, a diminuição da ansiedade; o descobrimento, através da levitação ("levantar" tudo que ele quiser levantar), do poder do inconsciente e de que é hora de crescer. Mostrar o desenvolvi­ mento do menino. Além de ensinar-lhe que pode se deliciar va­ garosamente com as comidas que a vida oferece. Veja o esquema. Sabemos que cada caso é um caso. Mas vou lhes dar um ro­ teiro que poderá ser adaptado a cada caso. Primeira sessão - A daptação É como a primeira saída. Vá devagar, não peça muito I,embre-se de que há uma ansiedade de base. Ele quer multo, você não tem como dar muito de uma vez. Você já vai iMism.u um primeiro pressuposto: devagar, se tem mais vontade de ,ilm 226 Sofia M. F. Bauer gir o objetivo. Observe, veja as idiossincrasias, veja onde o pacien­ te é ansioso. Veja no que ele se encontra impotente, além do as­ pecto sexual. Pergunte coisas do tipo: 1 - Como você se levanta de manhã? 2 - Como você toma o seu café da manhã? 3 - Como você come o seu prato predileto na refeição? É depressa ou deva­ gar? 4 - Quando você vai dormir, acha que tem de pegar logo no sono? Anote e guarde. Você utilizará nas estórias para ressignificar e encontrar caminhos que o tirem da impotência, da ansiedade. Nessa sessão, após ouvi-lo, você fará a primeira hipnose. Como em todos os casos, nosso primeiro objetivo é ensinar con­ fiança e relaxamento. Confie em mim, vem comigo. Isto é o que queremos comunicar. Fazendo a primeira hipnose, via relaxa­ mento, você terá o subsídio de já estar ensinando-lhe a relaxar a "cabeça de cima", e com isso aprender a relaxar o todo até a "ca­ beça de baixo", que precisa estar totalmente relaxada para tensio- nar, distendidas as artérias. Para as artérias se encherem, só rela­ xando. Você não precisa dizer isto; é claro! Ensine-o a relaxar a cabeça de cima... apenas isto. E de passagem, como sugestão pós- hipnótica: ... nada como aprender a relaxar a cabeça... vêm vonta­ des... idéias... sensações agradáveis... você vai aproveitar isto e muitas outras coisas de sua vida com calma... você sabe que exis­ tem pessoas que fazem má digestão porque comem com pressa... porque não sentem o sabor... o cheiro... do alimento... a digestão feita devagarinho é saudável... tudo que é feito com calma é mais bem saboreado... Segunda sessão - Levitação Caso seja um paciente que entra bem em transe, você pode­ rá fazer levitação da mão com ele. Se é responsivo, já responderá à levitação. Você pode levantar sua respiração, respirando pro­ fundamente... quando você levanta de manhã respira gostoso... se ergue... se levanta para uma nova posição... e você pode se le­ vantar agora para uma disposição mais relaxada... quantas vezes caímos e nos levantamos depois com uma sensação gostosa... as­ sim, permita-se erguer o seu bem-estar. E na sugestão pós-hipnótica você trabalhará os vários ní­ veis de impotência que ele sofre. Se ele é capaz de, inconscien­ te/ mente, levantar sua mão sem ter que fazer força para isto... elo I lipnoterapia Ericksoniana Passo a Passo 227 l.mibém pode levantar outras partes, naturalmente... com aquela vontade que vem lá de dentro... A mente inconsciente, sábia ami­ ga, faz muito mais coisas por nós do que podemos imaginar... e podemos deixar a ela a incumbência de levantar isso ou aquilo i| ue for importante... mais tarde... ou agora mesmo... tudo a tem­ po de lhe mostrar que é possível fazer o que desejamos fazer... Terceira sessão - A ssegurar confiança Ensinar-lhe a auto-hipnose, ou lugar agradável. Sempre que se pressionar é hora de parar... relaxar. Aprendi com o professor Malomar a fazer com que o pa­ ciente se imagine comendo uma refeição prazerosa, imaginando o visual das comidas, a cor, o cheiro, o sabor, aproveitando va­ garosamente. Quarta sessão - Desenvolvimento psicológico do menino Lembremos que se este homem se sente impotente, sente- se incapaz de alcançar um objetivo. Será que existem partes ima­ turas de sua identificação masculina? E bem provável. Se você achar que sim, durante o transe faça uma analogia do desenvol­ vimento de todo menino. Umas partes crescem mais depressa que outras. Até este momento, tudo ficava meio desproporcional: voz rouca, pernas grandes e cabeça de menino. Os aspectos psi­ cológicos do desenvolvimento humano crescem assim também. Dê a ele tempo para o amadurecimento. O professor Malomar costuma dizer algo parecido com o que vem a seguir: ... Como acontece com toda criança, os aprendizados vão se fazendo pela vida a fora... quando bem pequenino, levou algum tempo aprendendo a andar... muito treino... e lá na frente você andava automaticamente... o menininho ia crescendo e percebeu seu primeiro grande amor... sua mãe... a mulher de sua vida mas foi percebendo, aos poucos, que ela era uma mulher proibi da... ela era a mulher de seu pai... seu primeiro objeto de amoi era inatingível., o meio de sair desta impossibilidade era pmeu rar outra mulher... uma mulher que não fosse proibida uma 228 Sofia M. F. Bauer mulher para ser a sua mulher... Mas o menino ia crescendo... dei­ xando de lado fantasias como Papai Noel... cegonha... criando novas idéias... mais audazes... aprendendo a vencer desafios... o corpo crescendo... voz engrossando... barba aparecendo... meio esquisito... pernas longas... corpo de homem... cabeça de meni­ no... mas sabendo que lá na frente... tudo se equilibrará... terá corpo de homem... cabeça de homem... neste meio tempo, caindo idéias infantis, entrando idéias adultas... costumam ficar algumas idéias fantasmagóricas infantis... que bloqueiam e paralisam o crescimento... Corpo de homem... medos infantis... agora você pode ir equilibrando seu crescimento... deixando de lado algu­ mas idéias infantis e vendo o homem de hoje... com todas as qua­ lidades que você tem... com a sua mulher livre... sua... a seu lado... desfrutando dos prazeres dos adultos, livremente... sauda­ velmente... E as partes psicológicas podem crescer... equilibrar... liberar você para viver o prazer... imagine tudo que o homem pode e deve fazer com a sua mulher... Dizem que a mulher é que faz o homem... deixe sua mulher lhe fazer sentir-se o homem dela... Isto você falará, após ter colocado seu paciente em transe e já ter ratificado o bem-estar que relaxa a cabeça e faz as coisas fluírem mais livremente. Quinta sessão - Dessensibilização Coloque a pessoa em transe, desenvolva uma metáfora ou analogia de como um cozinheiro prepara uma boa refeição. Você já ouviu falar que "quem tem pressa come cru". Pois é, então, fale com calma, descreva o cozinheiro, primeiro imaginando o que ele vai preparar de iguaria para sua amada. Que ingredientes vai usar. Que tipo de bebida. Depois, ele vai às compras, sonhando com o jantar. Prepara a mesa, enquanto namora, põe água no fogo para ferver, mas não fica vigiando, sabe que água precisa de tempo para entrar em ebulição. Há tanta coisa para se fazer, nes­ te meio tempo. Picar os ingredientes. Dar uns beijos na namora­ da, e muito mais. A comida vai sendo feita ao fogo, na medida necessária, e quando menos se espera... lá vem... tudo ao ponto de ebulição! Comida no ponto, é hora de comer! 11Ipnoterapia Ericksoniana Passo a Passo 229 Esta é uma dessensibilização indireta. Você poderá fazer uma dessensibilização direta, ensinando o passo-a-passo do "co­ zimento" do namoro e assim por diante. Ao longo da terapia, introduza os aspectos das impotên- i ias subjetivas relacionadas à impotência do paciente em ques- 1,1o. Trabalhe a auto-imagem, o crescimento, o ideal do ego e os prazeres. Como sempre, cada caso tem lá suas particularidades (| ue somente ao se trabalhar é possível averiguar. Boa sorte! f>. Ejaculação precoce É quase o mesmo caso da impotência. Denuncia a pressa à satisfação e uma imaturidade no aspecto psicológico no que se refere ao ato sexual. O menino com muita sede vai ao pote, mas ,iinda não sabe beber dessa água. O trabalho aqui é com a ansiedade e o desenvolvimento psicológico. Transformar o menino em homem. Siga os passos descritos para o caso de impotência. Utilize uma metáfora espe­ cial: o desembrulhar um presente. A melhor maneira de desem­ brulhar um presente é fazê-lo devagar, traz mais suspense, mais vontade de ver o que há lá dentro. Se você desembrulha depressa demais, está sujeito até a quebrar o presente. Mas lembre-se sempre de que, para cada caso, há necessi­ dade de uma análise especial. Devemos averiguar a maturidade sexual. Não adianta ter corpo de homem, idéias de homem, se continua tendo medos e fantasmas infantis. Algumas experiên­ cias, como fazer sexo depressa para não ser flagrado, ou fazer sexo depressa, porque era com prostitutas, ou por ser feito com animais (como galinha, égua etc.), podem trazer sentimentos de culpa. Não há mal algum nisto tudo descrito acima. Mas para o paciente há. Ele vê como uma coisa deturpada, por isso o gozo vem com culpa, prazer e desprazer, num compromisso de equilí brio, em que a evitação do desprazer é feita pelo recalcamenlo A pessoa, então, goza do prazer e, em seguida e simultaneamente, pune-se com a ejaculação precoce. 230 Sofia M. F. Bauer Nesses casos, a regressão é uma boa maneira de observar o material recalcado, o que se tornou proibido aos olhos do meni no-homem. É importante sugerir amnésia nestes casos de regressão. Assim, você pode trabalhar o material recalcado sem tanta dor. C) material está recalcado porque está vinculado a um sofrimento do passado. Todo cuidado é necessário. Em seguida, sabendo quais foram os motivos de recalcamento do prazer do adulto do hoje, você pode ressignificar as novas possibilidades. Vou relatar um caso de ejaculação precoce, em que você vai observar os aspectos citados acima, e outros que mostram por que é preciso ver cada caso como único. Homem, por volta dos 30 anos, casado. Infeliz no casamen­ to e na vida sexual. Relata sempre ter tido ejaculação precoce. No relato de sua história, conta que sua primeira vez foi com uma prostituta velha e nojenta. Ele então pensou: "Nossa, preciso fa­ zer isto depressa! Será que eu vou dar conta?" Este relato é muito comum nestes casos, o fato de a primeira vez ser com alguma mulher esquisita e ter que fazê-lo logo! Relata também, por vir do área rural, praticar sexo com animais. Fazia correndo para a mão não pegá-lo. Imagina isto na cabeça de um rapazinho, são dois pecados! Sexo com animal e a mãe o pegando fazendo aquilo! Isto também é relato comum. Fazer correndo para ninguém ver. Ao colocá-lo em transe, em um de seus primeiros transes hipnóticos, ele teve uma "regressão espontânea" a uma "outra vida". Era um padre. Falava que tomava conta de uma pequena vila como pároco. Pedi a ajuda dele como padre: Se um seu paro- quiano lhe contasse que não estava dando conta de sua missão de homem casado, falhando em fazer sexo com sua esposa, por ser pecaminoso, o que o padre poderia dizer para ajudar este ho­ mem que já não se sentia homem e estava à beira de perder sua amada mulher? O padre, então, respondeu que ele deveria cum­ prir sua missão de esposo do melhor jeito possível, que não era pecado amar a esposa e ser o homem dela. Após aquelas pala­ vras, pedi que o paciente pudesse relembrar-se do que havia sido dito ali por um padre, que o abençoava como homem para quo fosse feliz. I llpnoterapia Ericksoniana Passo a Passo 231 Este homem, antes desta regressão, havia dito que achava que tinha sido padre em outra vida e que este padre é que pode- i i.i estar presente como um obsessor, impedindo-o de ser sexual­ mente feliz, pois o sexo era proibido aos padres. Nesta sessão, .iproveitei-me desta lembrança e coloquei como sugestão pós- hipnótica que "ele havia sido padre noutra vida, e nesta ele tinha outra missão a cumprir, a de marido de uma mulher que o ama­ va", Isto já estava programado, em supervisão feita com o profes­ sor Malomar, que havia me dado somente esta frase e dito para que eu a utilizasse oportunamente. A oportunidade veio e eu a utilizei. Funcionou bem. Em todos os sentidos, com as sessões se­ guintes, ele foi se tornando um homem de verdade. 6. Vaginismo e frigidez Os casos de vaginismo ou frigidez refletem a imaturidade dos aspectos femininos à sexualidade. Uma mulher precisa de um homem para tornar-se mulher. Muitas não encontram este ho­ mem. Costuma-se dizer que assombração sabe para quem apare­ ce. Crescem com proibições recalcadas sobre prazer, sexo. Culpa, medo, fazem parte destes casos. Desejo acompanhado de puni­ ção. Por isso, encontram homens que também têm lá suas dificul­ dades sexuais e não fazem uma mulher sentir-se mulher de ver­ dade. Averigúe a história passada, a relação sexual com o parcei­ ro, o casamento, se for casada. Como o parceiro é como homem? Seduz, excita, fala palavras carinhosas, ou vai direto ao assunto? É grosso? Sobre a história passada, veja os valores da família de origem, o que foi ensinado como sendo pecado. Aquelas coisas tipo: "I sto não se pode fazer com os meninos, é pecado. Moça de­ cente não beija na rua. Sexo é indecente. Sexo é proibido, etc." Você está averiguando, conscientemente, alguns detalhes do que pode estar recalcado. Procure observar o desejo sexual. Perguntas como: Você j.i beijou gostoso a ponto de sentir sua calcinha molhada quando mocinha? E agora? Porque é muito natural as mocinhas molha rem a calcinha, quando pensam ou estão com seu namorado Coisas deste gênero. Você faz a pergunta e já sugere naturalmen 232 Sofia M. F. Bauer te o caminho normal das coisas. Mostra o que é normal. Mostra que ela "funciona" como qualquer mulher. E, se puder, acrescen­ te algo da vida cotidiana das jovens mulheres... como são gosto­ sos aqueles beijos de adolescentes... sentir o namorado... aquele homem que aperta... chega perto e mais perto... Lembro-me de uma empregada... uma mãe preta... que ao ver as moças aos bei­ jos na via pública... no outro dia, dizia: "Beijar é 'bão' mesmo"... é como ferro de passar roupa... liga em cima, esquenta embaixo!... e eu não via nisto uma desaprovação... mas uma forma carinhosa de dizer: "Lá vão elas no caminho natural das mulheres... É 'bão' mesmo!'’... Já ouviu aquela expressão "babar de vontade"? Pois é, babamos pelos lábios de cima e também pelos de baixo... e tudo é muito natural e normal... Mas para isso é preciso desejar... e ser tentada a querer... além de uma ordem inconsciente de que as mulheres podem e devem curtir os prazeres... Então, você já recebeu algumas dicas de como ir fazendo uma avaliação do caso, junto com uma intervenção ressignifica- dora de material recalcado. Observe primeiro o desejo. Existe? Caso não, por que esta mulher não está sendo despertada em seus desejos mais íntimos? É por causa do parceiro? Se for, veja a questão de como é o par­ ceiro que completa a neurose. (Assombração sabe para quem aparece.) Trabalhe a auto-estima, como ser uma mulher de ver­ dade (ver a metáfora da rosa), como fazer a passagem de uma menina para uma mulher. Agora, se o desejo existir, melhor. Mas continua havendo recalque. Hipnose é uma boa ferramenta. E, como não poderia deixar de ser, devemos trabalhar o crescimento psicológico da menina para torná-la mulher. Mostrar que ela funciona, tem de­ sejos (se molha, sonha, etc.), assim pode desfrutar de todos os mecanismos para o prazer que existem no corpo de uma mulher. Aqui começa a hipnoterapia. Despertar o interesse, acres­ centar que uma mulher adulta pode fazer amor. Se a mulher pro­ cura o tratamento, ela está infeliz. Isto pode tornar-se a nossa motivação. Alguém com fome e que não consegue se satisfazer com a comida. Modificaremos os temperos, a ordem no comer e as coisas poderão ser "sentidas" e experienciadas diferentemen­ te. Para isto, devemos pedir a autorização do superego, dos valo- I lipnoterapia Ericksoniana Passo a Passo 233 ri s que vêm lá da infância. É o crescimento psicológico. Você pode seguir como no caso de impotência, a mesma seqüência, in- i luindo a regressão, para observar o material recalcado e para ressignificar no sentido de que a menina possa crescer e mudar os valores de menininha. Inclua a sessão do crescimento natural, 11Lievocê viu em impotência, adequando-a para as meninas. Mas laça, o mesmo trabalho... "Os fantasmas e idéias infantis podem ser substituídos por práticas mais adequadas à mulher de hoje..." Ao fazer a regressão, averigúe sobre as crendices e valores a respeito de sexo na infância. Provoque amnésia para que tudo fi­ que mais confortável à sugestão de crescimento, liberdade e per­ dão. E, veja bem, não é ir contra o que foi "ensinado" ou "apren­ dido" no passado, é simplesmente acrescentar o que falta ao de­ senvolvimento geral da mulher. Você não retira valores, você res- significa que as coisas mudam quando crescemos. E que devemos o podemos crescer. Faz parte do desenvolvimento natural. Nas induções indicadas (relaxamento, levitação, lugar agradável, regressão, crescimento natural da menina) você pode usar de palavras especiais. Ensinamentos entremeados em todas as induções. Tais como: abrir-se... ir fundo no que é gostoso... ex­ perimentar novos gostos... comer comida nova, deve-se experi­ mentar devagarinho... relaxar e abrir um novo espaço... abrir-se para novos sentimentos... sensações... como é divertido experi­ mentar uma brincadeira nova... até ficar sem graça, para ver uma nova graça... libertar-se... crescer... gozar... aproveitar... desabro­ char... Mas, lembre-se, cada caso é único. O que fez com que esta mulher ainda se comporte como uma menina? Caso Rosa Vou relatar um caso de vaginismo e frigidez. Era uma mulher que chegou ao consultório com aproxima damente 30 anos, casada, sem filhos e sem prazer, com muita dor ao fazer sexo, nas poucas vezes que o fazia. Vinha de uma cidade pequena. Fora criada com muita rigidez, e tudo era pecado, me nos ir à missa para pagar os pecados. Casara-se como toda moça devia fazer. Naqueles melhores momentos do namoro, nada po dia, só depois de casada. Isso é que é pecado! A proibição e l.mt.i 234 Sofia M. F. Bauer que o prazer de beijar não podia existir, porque então viria a cul­ pa e o castigo. O desejo no início de um namoro é sempre algo especial. É a caia que une, que faz a química eficaz no gozo e na satisfação. Isto estava proibido. E continuou proibido depois do casamento. Foi tudo um desastre. Ela chega ao consultório depois de sete anos nesse casa­ mento infeliz. Relata ter sonhos orgásticos e que, ao ver filmes ro­ mânticos como Uma linda mulher, sente vontade de ter aqueles prazeres, aqueles beijos. Assim, pude ver que o desejo existe. O que havia em sua relação com o marido? Homem mais rude no lidar com a mulher, o convite para uma noite de sexo era: “Mu­ lher, vamos dar uma comidinha hoje?" Ou "hoje você não quer dar para mim?" Deste jeito, nem sendo prostituta! E a sedução? E o jogo de amor, os carinhos, as preliminares, os beijos que exci­ tam? Como pode alguém ter alguma vontade de fazer algo? Par perfeito para não dar certo. Terapia de casal pode ajudar, porque vai ser necessário trabalhar o casamento, a relação. A postura de Rosa chamou-me a atenção. Ela estava toda fechada, pés para dentro, encurvada sobre o abdome, olhar de vergonha. Uma atitude ainda infantil para uma mulher de 30 anos. Fizemos um trabalho que durou três meses. Por volta de 12 sessões. Saiu daqui bonita, aberta, de olhar vibrante e de bem com a vida. Sobre o casamento, a primeira proposta foi aprender a seduzir o marido, a fazê-lo homem. Ensiná-lo a fazer gostar do que ele já gostava. Neste caso, deu certo. É bom lembrar que al­ gumas vezes um cresce e o outro não quer crescer. A mulher, por exemplo, se prepara para ser seduzida, acariciada e o parceiro não quer mudar seu jeito de ser. Isto pode gerar uma separação. O que deve se ver aqui é se esta separação pode servir para dar uma vida melhor a cada um. Por que será que o ideal é manter uma relação em que os dois sofrem? Veja bem as questões reli giosas, inclusive. Se estes valores forem fortes, você ainda tem trabalho à frente com o casal. Trabalhar o ter que sofrer para ter prazer. Bem, voltando ao caso, fomos devagarinho introduzindo o relaxamento. Ela foi absorvendo bem. Aprendia a abrir-se, a con­ fiar e a desejar melhorar. Tudo o que ela ia experimentando i.i I lipnoterapia Ericksoniana Passo a Passo 235 •■('ndo sugerido, de forma pós-hipnótica, que mostrasse ao mari­ do. Ele poderia se abrir pra ela mesma. Em uma das sessões, como seu nome era de uma flor, con- U’i-lhe uma estória com esta flor. Aqui vou relatar como sendo uma rosa. É claro que se trata de um pseudônimo para proteção do caso. Esta metáfora você pode usar, modificando-a e tornan­ do-a ímpar para aquele caso. ... É a história de um rapaz que, ao descobrir que estava ,1 mando uma moça, deu-lhe de presente um botão de rosa bem fechado... colocou lá dentro, sem estragar o botão de rosa, um .mel de noivado... e deu-lhe de presente dias antes do aniversário dela... com um bilhete dizendo: "Você é como esta rosa... uma mulher especial... foi se abrindo para mim devagarinho... exalan­ do um perfume encantador... e que surpresa vê-la desabrochar e se abrir... eu me apaixonei... olhe todos os dias para este botão e você terá uma surpresa"... A moça o fez... todos os dias foi confe­ rindo e no dia de seu aniversário, qual foi a grata surpresa?... Descobriu o anel... o ser desejada... o símbolo da união! Que ho­ mem sutil e romântico que conseguiu fazer esta fortuita compa­ ração... uma flor se abrindo... o perfume que ela exala... encanta... traz o zangão... traz o beija-flor... faz a flor se abrir ainda mais! Mas como pode um botão de rosa fechado ser penetrado?! É a rosa que seduz o zangão e o beija-flor com sua abertura e seu perfume... ou será o contrário?! O que vale são as leis da nature­ za... o que acontece de forma natural... Experimente ver... Como sempre, foi pedido amnésia parcial. Podia lembrar- se do que fosse bom e necessário, mas podia esquecer de se lem­ brar e vice-versa. Porque a mente inconsciente é capaz de lem­ brar do que for mais interessante e importante a cada momento. Lembrando que, por vezes, foi pedido a ela que mostrasse ao ma­ rido o que vinha aprendendo. O que fui percebendo foi uma mudança radical. Mais boni­ ta, roupas mais sexy, sorriso no rosto. Nos dias de sua sessão, eu procurava ir bem feminina. Roupas que mostravam a silhueta, salto alto, cabelo arrumado, batom e tudo que as mulheres sabem que seduz um homem. Às vezes, pedia-lhe algumas tarefas "muito diferentes", como: "Hoje você vai sair de saia comprida, não é preciso usar calcinha, sinta-se à vontade. Lá no fundo, pen­ 236 Sofia M. F. Bauer se: meu homem sabe que hoje eu estou 'pelada' para ele. Sinta-se livre para andar, protegida/ mente livre." Foram dadas outras di­ cas femininas de sedução que acho desnecessário detalhar. Ob­ viamente, como terapeuta mulher, posso dar tais dicas sem pro­ vocar sedução. Caso o terapeuta seja homem, ele terá lá sua ma­ neira de dizer coisas que tornem a mulher em questão aberta e sedutora. O fato principal, e para o qual quero chamar a atenção, é que é preciso ensinar a mulher a ser sexy, sedutora. Foi o que fiz. Contei-lhe inúmeros casos sobre mulheres feias e sensuais que deixavam os homens enlouquecidos. Pensamentos sexuais e sen­ suais também trazem desejos sexuais. O aprendizado da mastur- bação, hoje não mais proibido à mulher adulta, poderia ser o ca­ minho ao prazer. Descobrir seu tempo, o que a faz sentir mais prazer, que tipo de estimulação, e assim por diante... Trabalhamos, em regressão, as proibições de outrora, como a proteção da mãe àquele botão de rosa, ainda frágil, mas que hoje a mãe gostaria de ver seu botãozinho transformado em uma flor de verdade, aberta para exalar o perfume da alegria. A terapia deu certo. Primeiro a masturbação, depois o aprendizado da sedução, e depois a abertura, o relaxamento e o gozo. * Gostaria de acrescentar mais alguns dados da técnica com frigidez e/ ou vaginismo. A regressão é algo importante, em que não tiramos o que foi proibido. Ressignificamos o que foi proibi­ do à pequena menina. A mulher de hoje pode permitir-se um novo aprendizado. Você pega um material que foi recalcado, res­ peita, desvincula a energia e os sentimentos desconfortáveis e acrescenta novos aprendizados hoje permitidos. Isto tudo você vai introduzido sutilmente, estimulando o desenvolvimento na­ tural da menina: ... fala-se sobre as características sexuais primá­ rias e secundárias... sobre a menstruação... coisa natural, tornar- se moça... o aparecimento dos pêlos pubianos e axilares... o de­ senvolvimento dos seios... o provável interesse no desenvolvi­ mento dos quadris... a primeira vez que usou o sutiã... o provável interesse dos rapazes sobre a sua nova figura, mais mulher... como alguns podem ter dado uma passadinha de mão nela... e coisas semelhantes... (cada item sendo falado rapidamente e sem I lipnoterapia Ericksoniana Passo a Passo 237 ênfase especial). Seguindo-se umas palavras sobre... o pudor, o respeito, a consciência do primeiro sentimento sexual ou auto- erótico, as idéias de amor na puberdade, na adolescência... possí­ veis idéias sobre os bebês... lua-de-mel, tudo sem menções espe­ cíficas. Acrescente também... ensinar o que é ser mulher, sedutora, aberta, respeitando o tempo e o ritmo de cada um. 7. Depressão reativa "Bem, como dizia o comandante, doer, dói sempre. Só não dói de­ pois de morto, porque a vida toda é um doer. O ruim é quando fica dormente. E também não tem dor que não se acalme e as mais das vezes se apaga. Aquilo que te mata hoje amanhã estará esquecido, e eu não sei se isso está certo ou está errado, porque acho que o certo era lembrar. Então o bom, o feliz se apagar como o ruim, me parece injusto, porque o bom sempre acontece menos e o mau dez vezes mais. O verdadeiro seria que desbotasse o mal e o bom ficasse nas suas cores vivas, chamando alegria... ... Pensei que ia contar com raiva no reviver das coisas, mas errei. Dor se gasta. E raiva também, e até ódio. Aliás também se gasta a ale­ gria, eu já não disse? ... Embora a gente se renove como todo mundo, tudo no mundo que não se repete jamais - pode parecer que é o mesmo mas são tudo ou­ tros, as folhas das plantas, os passarinhos, os peixes, as moscas. ... Nada volta mais, nem sequer as ondas do mar voltam; a água é outra em cada onda, a água da maré alta se embebe na areia onde se fi l ­ tra, e a outra onda que vem é água nova, caída das nuvens da chuva. I. as folhas do ano passado amarelaram, se esfarinharam, viraram terra, c estas folhas de hoje também são novas, feitas de uma seiva nova, chupa da do chão molhado por chuvas novas. E os passarinhos são outros Iam bém, filhos e netos daqueles que faziam ninho e cantavam no ano passa do, e assim também os peixes, e os ratos da despensa, e os pintos... Imlo Sem falar nas moscas, grilos e mosquitos. Tudo." Extraído da Introdução de Dora. I hnnlinn de Rachel de Queiroz ( l‘)75) 238 Sofia M. F. Bauer Depressão reativa, como o próprio nome já diz, é uma rea­ ção de desânimo, falta de vontade, ante alguma situação ruim ou de pressão que vem ocorrendo também a algum tempo. Este tem­ po é variável. Pode ser de alguns meses a anos. O que se sabe é que a pessoa vai, aos poucos, perdendo sua capacidade de luta, de alegria e ânimo. A reação depressiva pode ser breve ou pro­ longada, pode estar acompanhada de ansiedade. O que veremos a seguir é que, se uma pessoa chega dizen­ do que é deprimida você pode trocar este verbo por está deprimida. Você muda o quadro, gera esperança. A pessoa tem mais possibi­ lidades de acreditar que um dia possa melhorar porque, no qua­ dro depressivo, a pessoa em questão não acredita que haja me­ lhora. Vá devagar. Averigúe a história passada. Como ela era an­ tes de ficar deprimida? O que ocorreu nos últimos anos que a vem desgastando? O ser humano é uma máquina que se desgasta também. Ele precisa de repouso (pausa), alegria (energia de vida), para manter-se bem. Com isto você tem uma base para começar. A pessoa che­ gou neste ponto por meio de acontecimentos que você pode aju­ dá-la a modificar. Esta será sua meta, limpar o que causa desgas­ te. Mãos à obra! O deprimido "sente" as coisas. Ele desenvolveu a capaci­ dade cenestésica. Os sentimentos estão à flor da pele. Seja cuida­ doso. Ele também é muito interno, voltado para as suas próprias questões interiores. Perdeu o olhar para fora, ver os problemas do mundo, os prazeres do mundo etc. Isto parece desvantagem, mas para iniciarmos o trabalho com hipnose é muito bom. Este paciente volta-se com facilidade para dentro de si mesmo. O que nos ajuda a colocá-lo no transe. No caso, devemos iniciar o transe pelo fenômeno hipnótico que o deprimido já desenvolve naturalmente, a regressão aos so­ frimentos. Ele está preso aos seus sofrimentos. Fica fácil você ini­ ciar voltando-o para as suas dores. O paciente deprimido gosta de falar dos aspectos que o machuca e fica o tempo todo voltado para trás. O difícil é querer que ele sinta prazer, conforto, que se livre da dor de imediato. Por isso, não comece o transe desejando que ele se sinta bem. Isso não vai agradar. Lembra da estória do 11ipnoterapia Ericksoniana Passo a Passo 239 castelo?... Nunca entre pela porta da frente, levantar-se-ão as bar­ reiras da defesa. Não é preciso continuar dizendo que cada caso é único, que você faz a terapia sob medida... A esta altura acho que isto eu consegui lhe ensinar! Mas existem algumas particularidades comuns na reação depressiva. Vamos a elas: 1. Esgotamento — reflete-se no desânimo. Normalmente em decorrência de uma ansiedade de base. A pessoa vai se desgas­ tando, por pressão interna, ansiedade. Com isto ela gera um dis­ túrbio na liberação das serotoninas, a enzima que passa as men­ sagens na fenda sináptica, provocando a sensação de desânimo, a falta de capacidade. Você quer algo, não consegue (motivos di­ versos), vem a pressão, provoca desequilíbrio nas trocas da fenda sináptica, ansiedade e o desânimo fica sendo a última conseqüên­ cia. Por isso é chamada depressão reativa. É a própria reação ao estresse da vida. Neste passo ns 1 você, então, tem a meta de descobrir o que fazer para diminuir a pressão e a ansiedade. O que falta a esta pessoa? O que ela não consegue fazer? O que é preciso ser feito? Existe um ditado que diz: a esperança é a última que mor­ re. A pessoa está viva! Ajude-a a ajudar a si mesma. Devagarinho, vá mostrando possibilidades, voltando-a a tempos antes do problema atual, como era o seu desempenho na­ quele tempo. Ela pode resgatar aquela pessoa que mora lá dentro dela. 2. A crença em que não vai melhorar — vemos muito isto, uma pessoa quase desesperançada. Dê apoio. Mostre que, quando es tamos adoentados, como numa gripe, parece que não vamos sa­ rar nunca. Mas o tempo ajuda a remover os males. Trabalhe deu tro das questões da pessoa. Como é possível mudar o que está f.) zendo muito mal. Não dê muitas soluções de uma só vez. I )c\ primeiro, uma luzinha pequena. Se ela aceitar dê uma luz .>i i i .hn e assim por diante. Se você disser que para tudo há luz, pronto, .t pessoa não vai acreditar. Tem que ser em doses homoop.itii r. Como dar comida demais àquele que não consegue digoi n ? I )o, 240 Sofia M. F. Bauer aos poucos, coisas macias e líquidas que ele possa engolir sem perceber conscientemente. 3. É uma pessoa interna — trabalhe em transe começando pe­ las dores e pelos sofrimentos. Voltando-a para dentro, para rea­ valiar suas questões. Qual a dor que é mais pronunciada? Traga a angústia, deixe-a chorar. As lágrimas lavam a alma. Assim ela sente que alguém está cuidando dela com atenção, entende o que ela sente. É o colo. O paciente depressivo pode vir com a questão da maternagem, da relação objetai com traços negativos. Uma criança que não foi bem amada em seu primeiro ano de vida so­ fre pelo resto da vida em suas relações objetais posteriores, sem­ pre tendo a impressão de que não será bem amada. Você pode começar por restabelecer a relação objetai. Ouvir, dar atenção, ca­ rinho e a pessoa cresce. É como prega o livro Inteligência emocio­ nal, de Daniel Goleman, com amor você ensina e aprende melhor. Será que esta pessoa não precisa agora de carinho, auto-estima, para acreditar nela mesma? Ensine-a a voltar-se para dentro, ver o sofrimento, mas não parar por aí. Ver que a vida, agora, depen­ de dela. Você ensina com amor, que ela pode se cuidar, e não chorar porque não é cuidada. No transe, você começa por olhar para dentro, e depois vai voltando-a para fora, devagar e com tempo. A regressão, no caso da depressão, é uma técnica de limpe­ za e dessensibilização. Há catarse, normalmente. Deixe-a limpar- se, chorar enquanto for necessário. Aos poucos, é necessário in­ troduzir a progressão de idade. A técnica importante é a progres­ são. A regressão é nosso bilhete de entrada na pessoa, mas nossa ferramenta de ajuda é a progressão. Esta deve ser introduzida ao longo da terapia, devagar. Lembram-se da estória da borboleta, da Clara. São boas es­ tórias. Introduza no decorrer do seu trabalho. O caminho dos ju­ deus para a terra prometida, quantas privações, mas chegaram lá porque tinham fé! Caso Rachel Vou relatar agora um caso clínico, de uma paciente linda em todos os sentidos. Você verá ao final o relato dela própria so­ bre a hipnoterapia. I lipnoterapia Ericksoniana Passo a Passo 241 Moça bonita, médica, 24 anos. Deprimida. Assim se colo­ cou na sua primeira sessão. Em decorrência de um amor desas­ troso, cheio de idas e vindas, ela chegava ao consultório se sen­ tindo deprimida e sem esperanças. Vida profissional? Só confu­ são! Ela queria uma determinada especialidade, mas em função de um namorado um tanto narcísico e egoísta, que a deixava in­ segura, ela não tinha cabeça para organizar seus estudos para a residência. Ia mal, das finanças ao amor. Onde estava o amor- próprio? Todo investido naquele romance que lhe esgotava as energias. Este foi o quadro apresentado. Comecei por mostrar àquela moça bonita que ela não era "doente" e nem deprimida. Ela esta­ va assim deprimida em função de tanta coisa ruim. Não determi­ nei que largasse o seu parceiro. Não era por aí. Fui para o perifé­ rico, buscar seu amor-próprio, orientando-a para a especialização que queria. Pouco tempo depois, conseguiu. Após isso, veio a vez de aprender a limpar suas finanças. Conseguiu também. Cara mais alegre, novos amores! Podia ver a possibilidade de es­ colhas. Se quisesse o antigo, que fosse diferente. Após um ano e meio de hipnoterapia, estava ainda mais bonita, terminando a residência, ganhando seu salário e alegre. Ao terminar a terapia, ela mandou-me um presente de Na­ tal com um cartão que dizia assim: "Sofia, Feliz Natal e que 1998 seja mais um ano de muitas alegrias e sucessos. Durante 1997 aprendi com você a ser feliz sozinha e a com­ partilhar as inúmeras alegrias da vida com o mundo e as pessoas à minha volta. Te agradeço, todos os dias da minha vida, por isso e por muito mais! Muito obrigada! Um beijão, R. P. S.: A vida é linda, não é?!" 242 Sofia M. F. Bauer Olha, foi o melhor presente de Natal ver aquela moça cho­ rosa, hoje, falar de alegria. É ver a estória "Pollyana, o jogo do contente". Vai agora o relato dela mesma, convidada a se manifestar sobre o que sentiu neste trabalho. "Cheguei à hipnoterapia após vários anos de psicoterapin convencional. Já havia passado por várias terapeutas e até por te­ rapia de grupo. Porém, em algum momento, eu sempre me de­ sinteressava e desistia. Sofia me foi indicada por uma colega que conhecia seu tra­ balho. Ao começar meu tratamento me sentia uma pessoa depri­ mida, triste, sem forças para tomar atitudes de realização. Logo eu, que no passado sempre me sentira independente e auto-sufi­ ciente, agora me via acomodada e passiva diante da vida. Iniciei a terapia com bastante curiosidade e expectativa e logo vi que aqueles momentos transformariam a minha vida para sempre. Durante o meu período de terapia, passei por momentos espe­ cialmente críticos da minha vida e sei que só os superei porque tinha o suporte da terapia e da terapeuta. O tempo foi passando, as crises foram sendo superadas e a cabeça e o eixo da vida fo­ ram chegando aos seus devidos lugares. Claro que chegar a esse ponto não foi tarefa fácil, mas posso dizer que, se os caminhos fo­ ram às vezes árduos, os resultados foram extremamente agradá­ veis. Hoje me sinto novamente capaz de assumir as rédeas da mi­ nha vida, de ter coragem para tentar vencer desafios, de ser feliz. Hoje gosto de mim e procuro ser sempre otimista: mesmo nas coisas mais difíceis e dolorosas, há sempre algo de bom para se aprender. Ainda busco alguns caminhos, mas sei que chegarei lá! Afinal, estou em paz e de bem com a vida!" Caso Maria Senhora por volta dos 70 anos procurou a terapia para reti­ rar suas raivas e viver mais alegre. Veja seu relato, que coisa bo­ nita! A esta idade resgatar sua criança interior! "A hipnose me mostrou a beleza que existe dentro do nos­ so inconsciente. Foi uma descoberta sensacional, que abriu cami- I llpnoterapia Ericksoniana Passo a Passo 243 nlio para a solução de situações enquistadas em mim, que pude- i ,itn vir à tona de uma maneira bela e prazerosa. Ir a uma sessão de terapia com Sofia Bauer era algo que me ilnva uma expectativa alegre, porque eu sabia que, mais uma vez, lii.i desfrutar da vivência com o que de mais belo existia em mim. Tive um dia um encontro lindo com a minha criança inte­ rior; abraçar aquela criança foi me reencontrar pequenina - e como me abraçava forte, com os braços em volta do meu pescoço. Esta vivência foi marcante na maneira como transmutou l.itos dolorosos da minha infância. Posteriormente ainda moro com meus pais, uma vez que Iodos os outros filhos não moram em Belo Horizonte. H. Fobias As fobias são vistas como deslocamento de materiais recal­ cados. Se você tem isto em mente, e com tudo que já viu no livro, material recalcado, inconsciente e sua liberação, possibilidade de usar os recursos internos para eliciar a resposta interior de cada um, você tem a saída do problema. As fobias desenvolvem-se em pessoas de base ansiosa. Por isso você pode começar pelo relaxamento. Ensinando a pessoa a acalmar-se e acreditar no autocontrole que vem de dentro. À me­ dida que você ensina que ela pode se acalmar, a fobia já diminui. Você poderá utilizar-se da levitação como prova do que a mente inconsciente é capaz de fazer. Não só uma fobia, algo que vem do inconsciente, como um sinal de alarme, que mostra que algo lá dentro não vai bem, no campo dos afetos; como também mostra a possibilidade de reverter o quadro. Assim como a fobia apare­ ceu, ela também pode desaparecer instantaneamente... A regressão é algo muito bom nestes casos. Trabalhar os afetos de criança, você já sabe fazê-lo. A outra possibilidade é a dessensibilização. Como o nome diz, é você levar a pessoa a fazer ou estar no local onde a íobí.i acontece. Vá devagar. Primeiro estabeleça a confiança, o rapport, o relaxamento, o lugar agradável. Só depois, você tendo eslcs subsídios, desenvolva a fobia in vitro para dessensibiliz.u Colo 244 Sofia M. F. liintri que-se junto. Se for de elevador, entre junto no elevador, por exemplo. Vá mostrando que ela pode respirar fundo, sabendo que o elevador está ali para levá-la com segurança a algum lug.u Desta maneira você dessensibiliza, seja lá qual for a fobia, indn passo a passo (veja técnica passo a passo e entremear), da form.i como essa pessoa desenvolve a fobia. Sabendo os passos pnr.i criar o problema, crie a ressignificação de cada passo, positiv.i mente. Talvez você precise de tempo para montar esta sess.iu com as palavras, sentimentos e sensações do cliente. Planeje c use. É muito bom quando você consegue fazê-lo. De alguma m,i neira você minou (injetou um vírus no padrão) a fobia. Repita a dessensibilizacão, se for necessário, mas não se es* queça de que há material afetivo deslocado. É preciso trabalhá-lo Vou colocar a seguir o relato de um caso de fobia de chii va. Caso Gustavo Gustavo era um empresário que chegou com queixa de fo­ bia de chuva. Além disso, estava desenvolvendo um quadro dn desordem de pânico e ansiedade. Vivia sob pressão de trabalho, amores e com isto acabou por desenvolver uma fobia relacionada ao seu trabalho. Curiosa ■ mente, se chovesse ele ganhava mais dinheiro. Era só chover, qur ele sofria!!! Como ganhar dinheiro não seria a felicidade?! C.i nhar dinheiro significaria liberdade, morar sozinho, alegria. Será que ele era merecedor? Durante seis meses ele fez hipnoterapia, entrava bem cm transe. Foi trabalhado o material recalcado, o deslocamento. Ro pontaram a liberdade, o prazer, o amor, as possibilidades... Cres­ ceu, ganhou dinheiro e ressignificou os barulhos da nature/.t (canto dos pássaros, chuva, etc.). A seguir o relato do próprio paciente. "Recebi o convite da Dra. Sofia Bauer para prestar um do poimento sobre o tratamento a que me submeti através da hipno-> terapia. I llpnoterapia Ericksoniana Passo a Passo 245 Deponho com prazer, pois minhas relações com Dra. Sofia mio de reconhecimento profundo pelo seu trabalho, estudos, sim- I 'licidade e dedicação. Comecei um tratamento no segundo semestre de 1994 e, itssim, não me lembro com precisão de muita coisa. Tentarei fazer um relato sucinto, pois na verdade sou um l.mto prolixo. Temo omitir detalhes relevantes e me prolongar cm questões pouco importantes. Sou homem, tenho 37 anos, graduado em Administração i Io Empresas, sou solteiro, venho de uma família com seis filhos i* ainda moro com meus pais, uma vez que todos os outros filhos não moram em Belo Horizonte. Fui convidado a fazer este relato, pois tive manifestações muito fortes da síndrome do pânico (na época não sabia que era essa a classificação) e a hipnoterapia me ajudou muito. Eis minha história: A partir de 1990/ 91 comecei a me sentir de forma bastante estranha toda vez que chovia, principalmente no costumeiro pe­ ríodo de chuvas intensas que ocorrem em BH, nos meses de de­ zembro a fevereiro. Essencialmente tinha medo. Um medo avassalador que me desnorteava a cada possibilidade de chuva. Um medo que não me deixava dormir, não me deixava trabalhar e fisicamente, fa­ zia-me sentir palpitações, sudorese extrema, perda da coordena­ ção motora e dificuldades em dialogar. Não sei se me cabe descrever com mais precisão esse medo e não sei se conseguiria descrevê-lo com mais detalhes. Talvez só quem o já tenha sentido possa entender. Porque é mais do que medo. E pavor. No caso específico da chuva, pavor de quê? Ape­ nas da chuva? E os desabrigados? E os mortos? E o trânsito caóti­ co? E a inércia do poder público, que nada (ou quase nada) faz. como prevenção? E o mofo, as roupas que não secam? E a impo­ tência do homem ante a natureza? (Ainda bem!) Acompanhava, de forma quase mórbida, através de diver sas publicações, o fenômeno El Nino. E sempre com medo. Na época passava por dois momentos geradores de stress. Acompanhava o triste fim de vida de um 246 Sofia M. F. Bauer grande, o melhor, amigo, que sofria de uma doença letal. E havia terminado uma relação afetiva. No trabalho as coisas também não iam bem. Sou um pe­ queno empresário e, como tal, estava sempre assoberbado e mui­ to, muito cansado. Minha relação com os sócios e empregados encontrava-se numa situação de desconfiança. Medo. Sempre medo. Para mim o medo da chuva era especialmente complicado porque, no meu ramo de atividade, a chuva representa lucros. Assim, pensei diversas vezes em abandonar minha empresa, pois não havia incompatibilidade maior do que o proprietário da em­ presa ter medo do fator gerador de lucros. Em vez de abandonar a empresa, comecei a menosprezar minhas atividades, que nunca foram poucas. Deixei de fazer retiradas pró-labore. Não me sen­ tia qualificado para receber pelo meu trabalho. Assim, trabalhava muito sem receber. Para uma pessoa que se encontrava revezando entre acompanhar o fim de vida de um amigo e o trabalho, o fato de nada receber era extremamente de- sestimulante. Quase não comia. Tinha medo de engordar e recuperar quase 30 kg perdidos com muito esforço. O não-comer era quase lei. Quando pressenti que tanto overstress não ia terminar bem, resolvi procurar ajuda. Tive dificuldade de encontrar um nome. Queria alguém que lidasse com medo. E as manifestações do pavor se acentuando. Alarme. Eu me arrepiava, os olhos dilatados, constante mau humor. Indiferença sexual. Quando me olhava no espelho, via o reflexo de O grito, de Munch. Ainda hoje, nunca me identifiquei tão bem com um qua­ dro. Tentava rezar, pedindo luz. Envergonhava-me, pois as pes­ soas não compreendiam. Comparavam-me àqueles que realmen­ te (?) sofriam os efeitos da chuva. Eu tinha um teto, não é? Enver- gonhava-me por nada fazer por estas pessoas. Desabrigados, de­ saparecidos. Sentia-me na obrigação de levantar-me no meio da noite, durante a chuva, e ir atrás da Defesa Civil. Resolvi voltar a procurar ajuda. Dizem que coincidências não acontecem. Numa quarta-feira conversei com uma grande I lipnoterapia Ericksoniana Passo a Passo 247 .uniga sobre tudo isso. Na quinta-feira, numa roda de conheci­ dos, ela ouviu falar de uma médica recém-chegada do exterior iom técnicas pouco aplicadas no Brasil. Passou-me o telefone e no mesmo dia liguei para o consultório da Dra. Sofia Bauer. Hoje me espanto ao constatar que marquei uma consulta sem ao menos saber que novas técnicas eram essas. Tenho certeza de que, na primeira vez que estive com Dra. Sofia, ela me explicou muito bem como funcionava a hipnotera­ pia. Entendi. Mas no estado de confusão em que me encontrava, não me lembro de nada. Dessa primeira visita, guardo a lem­ brança de ter sentido uma grande empatia e que continuaria pro­ curando ajuda ali. Saí de lá com a convicção de haver encontrado o porto seguro. Nas próximas consultas/ sessões, fui percebendo que com muita técnica a Dra. Sofia obteve de mim uma enorme diversida­ de de informações. Em pouquíssimo tempo, com pouquíssimas palavras, conhecia-me mais do que talvez eu próprio. Não me lembro de ter tido resistência alguma à hipnose. Na verdade, a hipnose nada mais é do que um relaxamento pro­ fundo, um bem-estar fora do comum. Relaxado, mas sempre consciente do que acontecia à minha volta. Ciente de cada pala­ vra que eu dizia. Nesse relaxamento, eu "viajava" para dentro de mim mesmo. E sempre, sem exceção, com um retorno cada vez mais rico. Dra. Sofia aliou às sessões medicamentos adequados. Sem­ pre alterando a dosagem de acordo com a necessidade. Talvez meu depoimento soe muito estranho, pois estou convicto de não me lembrar de quase nada dos momentos das sessões. Lembro-me bem de como me sentia antes do tratamento e como fiquei depois. Ficamos juntos em torno de seis meses. Nos primeiros me­ ses, duas sessões por semana. Nos três últimos, apenas uma. São duas as recordações mais intensas que tenho da hipno­ terapia (enquanto hipnotizado): uma delas é a voz da Dra. Sofi.i, da sua modulação, do bem-estar que produzia, da segurança que emitia, das sensações que eu levava quando saía de lá. Posso imaginar quanta técnica esteja envolvida para se chegar . 1 esse ponto. 248 Sofia M. F. Bauer E a segunda recordação é a de estar sempre rodeado de elementos da natureza. Não sei de que maneira, os passarinhos (da rua) estavam sempre ali por perto, brincando, cantando, mes mo nos dias de muita chuva. Hoje, quando chove, sou ainda capaz de escutá-los. Talvez sejam eles instrumentos de recordação da hipnoterapia. E o que aconteceu com o medo das chuvas? Está sob con­ trole. Nos dois anos seguintes ao tratamento não senti mais ne­ nhum medo. Não estaria sendo sincero ao afirmar que a situação é a mesma. Depois desses dois anos, há uma instabilidade (uma inquietação), na época de chuva. Mas ainda enfrento com contro­ le, sem nenhum pânico. Não posso garantir por quanto tempo mais as coisas estarão sob controle. Nada me foi prometi do. O que sei é que por quatro anos não tenho sentido mais pânico. E isso é o céu. Além dessa melhora, tenho a dizer que minha vida mudou muito após a hipnoterapia. Graças à Dra. Sofia, ou a mim mesmo (tratado pela hipnoterapia). No período de um ano fui ao exterior, a passeio. Fiz outras viagens, comprei um apartamento (que uso como um santuário), passei a ter outros interesses (mais especificamente a música). Continuo trabalhando muito. Mas hoje eu sou o adminis­ trador. Sinto-me mais realizado. Posso mostrar do que sou capaz e estar sempre atento a querer aprender mais. Recebo, com orgu­ lho, um salário de acordo com meus bons serviços. Mas o mais importante resultado da hipnoterapia é que hoje conheço-me melhor. Sei o que desejo e o que não desejo. Res­ peito minha capacidade e reconheço minhas limitações. Aprendi a dizer não. Convivo em paz com o universo e com a sociedade, fazendo-me respeitar através de meu trabalho, das minhas cren­ ças e de minhas opções." 9. Síndrome do pânico A síndrome do pânico é considerada uma desordem de an­ siedade pelo DSM-IV. Ela é vista pela categoria dos psiquiatras como uma desordem química na fenda sináptica, condição que leva a uma depressão reativa e, por assim dizer, apregoam, em I lipnoterapia Ericksoniana Passo a Passo 249 geral, que pessoas que sofrem de pânico estão sofrendo de de­ pressão. O que vejo, na minha prática clínica, é que as pessoas que sofrem desta desordem de ansiedade, e até de pânico, são alta­ mente impressionáveis por diagnósticos médicos. Tudo o que o médico disser será levado ao pé da letra. Buscam desesperada­ mente uma saída, e o que encontram é o atestado de depressão, I Toblema físico sério e que só tem a saída medicamentosa. Isto abate o paciente que sente como atestado de doença não-curável. "Estou sofrendo de depressão e não há solução." Realmente ocorre uma depressão reativa por esgotamento dos neurotransmissores que transportam as cargas nervosas da t.il fenda sináptica, mas esse sujeito em questão não é só uma fen­ da sináptica na ligação de um neurônio ao outro. É como tratar de uma pessoa com uma úlcera duodenal e só ver o estômago e o duodeno do afetado. Ele só andou se "corroendo" porque teve lá suas bases psicológicas afetadas por alguma pressão e o seu ór­ gão de choque sinalizador foi o estômago. Não adianta medicar só para o estômago e o duodeno. É preciso averiguar a história pessoal, o que deixa esta pessoa nervosa se queimando. Aí você trata a causa básica. O estômago é o sinalizador. Assim, a meu ver, o mesmo ocorre na síndrome do pânico. Apesar de alguns tratados de psiquiatria até colocarem esta síndrome como incurá­ vel, ela é curável ou aliviável. Do mesmo modo que ela apareceu é que ela desaparecerá. Veio por um problema depressão, então despressurize. Ajude seu cliente a ver o que há por baixo dos me­ dos e bloqueios que o pânico gerou. Que tipos de pressão esta pessoa se faz. Geralmente são pessoas de um excelente caráter, "gente boa", que se cobram muito. Cobram o perfeccionismo em tudo. São de base ansiosa e se pré-ocupam. Vêem lá na frente uma possível catástrofe e acabam, por vezes, por gerá-la. "Assombra­ ção sabe para quem aparece." Têm medo e não o enfrentam, mas se cobram. Aí se instala a síndrome, o sufoco. Você pensa (pressiona). O cérebro é feito de células nervo sas que se comunicam por estímulos elétricos. Quando você pen sa de uma forma que pressiona, estimula além da conta, levando a uma descarga maior de estímulos elétricos. As células nervosas se comunicam como um fio de eletricidade, mandando . 1 carga 250 Sofia M. F. Bauer elétrica de uma célula para a outra. Para pularem de uma célula a outra têm que passar por um pequenino espaço, chamado de fen­ da sináptica. Quem faz a mediação das cargas elétricas são neu- rotransmissores como serotonina, adrenalina e noradrenalina. Quando você pensa demais, manda muito impulso elétrico, e, de­ sorienta a liberação das aminopressoras, provocando um distúr­ bio. Esta é a doença para os psiquiatras. Neste distúrbio, ocorre um envio errado das mensagens da célula anterior para a seguin­ te, que então comunica a mensagem deturpadamente: "estamos em guerra." A resposta do outro neurônio, e assim por diante, é atender ao estado de guerra. Aciona a adrenalina, vem a respira­ ção acelerada (dispnéia), as arritmias cardíacas, a sensação de tonteira, a vontade de vomitar, a dor de barriga, a sensação de morte iminente, etc. É como levar um susto, sem ter com o que se assustar. Vem quando menos se espera, justificando o fato de a pessoa começar a ter medo daquilo que ela primeiro associa a uma crise. Andar de ônibus, elevador, sair em público, etc. A cura do pânico e da desordem de ansiedade está em tra­ balhar o que causa o pensamento de pressão, lembrando que o dis­ túrbio acontece com um neurotransmissor que é uma aminopres- sora. Dar a medicação é bom como uma ajuda, para evitar o dis­ túrbio das serotoninas e que a mensagem passe de forma deturpa­ da para o próximo neurônio. Isso não cura, ajuda sim a trazer a segurança necessária para a pessoa não ter uma crise de ansieda­ de e até de pânico. Ajuda inclusive ao tratamento hipnoterápico para dar segurança à pessoa. Mas não é necessário. O que vejo, clinicando, é que se pode cortar uma crise destas ensinando respi­ ração e auto-hipnose. A motivação para a melhora nestes pacien­ tes é enorme. Ajuda na eficácia da aplicação da hipnoterapia. Antes de falar sobre o tratamento, gostaria de relatar al­ guns achados em minha clínica sobre a história e o perfil deste tipo de pacientes. Gostaria de pesquisar mais a respeito, e aceita­ ria observações daqueles que com isto trabalham. Em geral, são pessoas de bom caráter, com tendência a fazer as coisas certinhas demais. Cobram-se muito, mas se sufocam. Não falam o que sen­ tem (mágoas, raivas), não ex-pressam seus sentimentos, mas fa­ zem uma pressão interna enorme. Geralmente, quando investiga­ da a história familiar, foram crianças que tiveram medo, insegu­ I lipnoterapia Ericksoniana Passo a Passo 251 rança na infância. Possuem um dos genitores mais bravo, que de certa forma pressionaram na educação, com rigidez. I louve um aprendizado de cobrança que foi introjetado. Funcionam como se fossem um motor que não pode parar de funcionar e sempre a carga tem que ser maior do que suportam. Passam a ver a vida como se tivessem uma nuvem preta, ameaçando tempestade so­ bre suas cabeças. Vêem sempre a catástrofe antes mesmo que ela ameace acontecer, o que está sempre gerando medo e trazendo sufoco, angústia, pressão. É como um curto-circuito que acaba es­ gotando totalmente as energias e trazendo como conseqüência a dita depressão reativa. Um desânimo completo, que acaba tam­ bém tendo que ser medicado. Vendo este perfil, podemos dedu­ zir que é possível a cura. Investigue a história do seu paciente. Não o olhe apenas como o distúrbio de neurotransmissores. Há uma pressão que desencadeia todo o processo. A base é a insegurança calcada no excesso de perfeccionismo e cobrança que acaba imobilizando a pessoa. Costumo observar uma estrutura histérica ou uma rigi­ dez obsessiva, às vezes ambas se mesclando na mesma pessoa. O histérico fica preso ao ganho secundário, enquanto o obsessivo, ao excesso de rigidez, mas sabemos que há possibilidades de mu­ dança e de des-pressurização. Observe o que ela tem que fazer e não faz, o que ela tem que falar e não fala, o que ela vê com maus olhos, e mostre que há a saída positiva. E você verá que, realmente, "nada é mera­ mente somático e nada é meramente mental", como Freud já di­ zia. Libere a pressão mental que virá o alívio somático. Assim, a hipnose, ferramenta hábil, faz o relaxamento mental. Aumenta a possibilidade de resgatar os recursos do in­ consciente. A hipnose pode ser induzida através da respiração, em que se pode trabalhar a angústia ou sufoco, abrindo-se o peito e a inspiração para novas possibilidades. Já é um trabalho para a an­ siedade. Eu gosto de utilizar a respiração azul. Ela proporcion.i sugestão embutida através da cor azul, do respirar, limpar e po sitivar, a possibilidade de ex-pressar o seu sufoco, de colocar p.u .i fora os maus pensamentos, a raiva, as atitudes negativas. A ti .ivcs desta respiração se faz a absorção da hipnose; metaforicamente, 252 Sofia M. F. Bauer limpa e harmoniza com a respiração, e dá a oportunidade de, em transe, acessar os recursos de cada pessoa em especial. Então eu sempre gosto de começar pela respiração. Não necessariamente a respiração azul, mas trabalhando a absorção do transe através de algum método de respiração que, por si, tra­ balha a angústia vivida em nível corporal. Angústia vem do la­ tim angustia, derivado de angustus, que quer dizer apertado, es­ treito, sufocado. Estando a pessoa em transe, ratifique as mudanças, princi­ palmente o alívio do sufoco, a respiração mais calma, os batimen­ tos cardíacos mais compassados, e assim por diante. Passe para a eliciação e utilize aquilo que a pessoa lhe traz, mostrando as possíveis saídas. Tudo tem dois lados: o escuro e o claro; o negativo e o positivo; o triste e o alegre, etc. Você pode utilizar as habilidades do paciente, como as palavras que ele ne- gativiza, positivando-as. Você pode fazê-lo por metáforas, estó­ rias de como vencer dificuldades. Você pode apresentar suges­ tões indiretas, contando sobre pessoas que queriam fazer coisas, mas ficavam só no querer. E, quando receberam um incentivo, ti­ veram a força de ultrapassar o obstáculo e tornaram-se alegres. Você também pode dar sugestões diretas. É tudo um aprendizado em que há necessidade de que a pessoa fale, fale e fale, ex-presse os sufocos. Veja as possibilidades de o seu cliente não se cobrar tanto, mas de aos poucos ir fazendo mais, cobrando menos, e de ir vendo a vida com bons olhos. O que acontece é que a hipnose ajuda a relaxar a mente, ensina a pessoa a relaxar o pensamento e a viver mais aliviadamente. Aos poucos, sempre utilizando os recursos do seu cliente, vá fazendo-o experienciar alívio durante as sessões de hipnotera­ pia. Vá mostrando as possibilidades de fazer o que ele considera pesado de uma maneira leve. Do mesmo modo como os blo­ queios vieram, vão embora. Há alguns casos de desordem de ansiedade e pânico que se manifestam com uma fobia social de inibição da assinatura em público. Trabalha-se da mesma maneira, buscando o que traz pressão, o que sufoca, aliviando e fazendo a pessoa agir. O sufo­ co vai passando, a pessoa perdendo o medo, a impotência, e .1 mão sendo novamente liberada para a escrita. I lipnoterapia Ericksoniana Passo a Passo 253 Nós podemos aprender muito com os nossos clientes I Ima vez, tratando de um cliente com síndrome do pAnico, pisson muito racional e de caráter rígido, muito honesto mas exlivm.t mente perfeccionista, ouvi dele o seguinte depoimento: "Hoje vejo que a racionalização, o entendimento do que er.i o pânico, curou-me quase por completo, mas falta ainda o prim i pal, os sentimentos, que agora começo a contatar." Em seguida, contou-me três estórias que gostaria de relatai .1 vocês. Elas passam o lado extremista, rígido, que acompanha muitos desses casos de pânico, e que pode ajudá-lo a ajudar aquele que rigidamente se cobra, entrando em pânico. A primeira é sobre Buda. Uma vez Buda resolvera "cair nos extremos" e só beber água da chuva e comida da natureza, listando à beira de um rio, viu um mestre numa canoa, bem nu meio do rio, porque às margens havia galhos e obstáculos, ensi­ nando a um rapaz como tocar violão. Este ia lhe dizendo: "Não tensione muito a corda, porque ela pode rebentar; não afrouxe muito porque a melodia não sai." E Buda pôs-se a pensar sobre o meio-termo das coisas. A segunda é sobre dois monges que fizeram votos de cas­ tidade. Iam ambos passando à beira de um rio quando uma linda moça pediu ajuda para atravessar de uma margem para a outra. Um dos monges carregou-a no colo até o outro lado, voltando depois e seguindo seu caminho, ao lado do colega. Bem adiante o outro monge interpelou-o, dizendo que não era justo e certo o fato de ele ter carregado a moça até a outra margem, ao que o primeiro monge respondeu que o companheiro é que estava com problemas, pois ainda carregava a moça em seus pensamentos. A terceira estória é sobre um mestre que, toda vez que lhe perguntavam sobre o que era bom ou ruim, sempre respondi.i "Não sei!" Conta a estória que dois cavalos fugiram da aldeia e foram perguntar ao mestre se isso era muito ruim, ao que este respondeu: "Não sei!" Mais tarde os cavalos voltam trazendo uma porção de outros cavalos para a aldeia. Ao indagarem .10 mestre se aquilo era bom, vem a mesma resposta: "Não sei!" I'.r. sados uns dias, um dos novos cavalos deu um tombo 110 Cilho do chefe da aldeia, quebrando-lhe a perna. Perguntado .sobre se isso era ruim, o mestre respondeu mais uma vez: "Não sei!" Mus .1 1 254 Sofia M. F. Bauer guns dias veio a mensagem de que se requisitavam os jovens para a guerra, e que o jovem filho do chefe, por estar com a perna quebrada, foi dispensado. Bom ou Ruim? Qual seria a resposta? O meu cliente, ao relatar tais estórias, emendava a sua pró­ pria, dizendo que há males que vêm para o bem, até mesmo para enxergar que é preciso ter meios-termos. Acrescentou que a pes­ soa rígida fica presa a extremos, e que o importante é enxergar que existe e é possível trilhar o caminho do meio. Caso I maculada Mulher casada pela segunda vez, três filhos, dona de casa. Queixa principal: medo até de sair de casa (síndrome do pânico). Medicação: já havia tomado antidepressivos e ansiolíticos, sem melhora. História antecedente A síndrome começou a se manifestar após o segundo casa­ mento, há cinco anos. Viúva de um policial alcoólatra muito bra­ vo que a subjugava ao extremo. Vivia dizendo-lhe: "Quando eu morrer te levo junto." Morreu de um ataque cardíaco. O sufoco vinha se instalando desde o primeiro casamento. Vida sob pres­ são. Fizesse o que fizesse, ela estaria sempre errada. Quando ele morreu, se sentiu culpada. Ao casar-se novamente não se sentiu no direito de viver e tinha medo de que ele viesse para "levá-la" à morte. Passou a ter uma angústia enorme. Vieram os primeiros sinais em distúrbios somáticos: dores no coração. Achava que morreria do coração. Exames clínicos, muitos médicos, taquicar- dia, dores no peito, angústia instalada. Medo até de sair de casa e morrer na rua. Isolamento, tristeza, solidão. Casamento ameaça­ do. Assim chegou Imaculada. Cheia de remédios, cheia de pres­ são e sem esperança, a não ser na religião, que lhe manteve a fií em Deus. Aí estava nossa pega, a religião. Havia alguma espi' rança. Podíamos ensiná-la a entrar em transe, a respirar e depois utilizarmo-nos da sua fé em Deus. Paciente que procura ajuda e quer sair do sufoco já esl.l motivada. Facilita tudo. Reforcei. 11i pnoterapia Ericksoniana Passo a Passo 255 Foi desenvolvido o transe e feita a respiração azul. Lembre- se, ensine a respirar. Não precisa utilizar à minha maneira. Ela evoluiu bem com a respiração, acalmou-se. Transe médio. I r/ se ,i levitação das mãos, para mostrar sua força interior; pois se con ■iderava totalmente desvitalizada. O inconsciente pode e faz... Resposta positiva. Contei então uma estória de que gosto muito e que pode motivar as mudanças. Utilizei as palavras e as situa­ ções da paciente para a montagem desta metáfora com intuito de dizer-lhe que as coisas podem se modificar, porque lá dentro dela existe a força natural. E a estória de uma lagartinha que ti­ nha muito medo de sair por aí e morrer pisoteada pelos homens. Por isso, foi se fechando. As plantas também a rejeitavam, achando que ela só queria comer suas folhas. Mal sabiam que esta lagarti­ nha gorda (a paciente é obesa) e que rasteja, pedindo ajuda, poderia ser aquela borboleta que viria ajudar a polinizar as flores dessas mesmas plantas. Mas a lagartinha só chorava, apertada, em sua Iristeza, até que uma coruja, aquela ave que consegue enxergar de noite, quando tudo está escuro, disse para ela: pare de chorar, faça alguma coisal Aí dentro de você mora uma linda borboleta, deixe-a sair. Ela pode voar, ser aceita pelos homens e pelas plan­ tas, ver lá de cima o que hoje você vê aqui de baixo, mudar de jardins e muito mais. A lagartinha, então, pediu ajuda. Como ela poderia se tornar borboleta? A coruja, sábia amiga, lhe disse que era necessário uma fase de metamorfose, de mudança, em que era preciso se fechar num casulo para empreender esforços, que viriam dores, mas só as necessárias para fazer a tal mudança. Mas o que realmente era preciso era o pensamento positivo. Que ela poderia ser livre, bem-aceita e voar leve, rumo ao que ela dese­ jasse. Que ela pensasse em ser borboleta o tempo todo e tudo po­ deria ir mudando, até que uma hora, mais rápido do que ela ima­ ginava, ela sairia do casulo, já como uma borboleta. Durante esta parte da indução, a paciente começou a balançar seus braços como uma borboleta. O inconsciente, às vezes, responde literal­ mente. Bom sinal, ela já estava sentindo e experienciando o bem- estar da liberdade. Questionada, respondeu que já não havi.i pressão e nem mesmo dor no peito, que estava bem. Foi dito .1 ela que olhasse sempre o lado belo da vida. Enquanto uma mose.i acha uma única ferida num corpo inteiramente limpo, uma ,il>e lha consegue achar uma única flor no meio de um pântano. Que 256 Sofia M. F. Biwci ela fosse como uma abelha, quando as coisas lhe parecessem como lama que ela olhasse à sua volta e procurasse uma únic.i flor que viesse lhe adoçar a vida. Ela sorriu. Terminei a indução dizendo-lhe que Deus é quem dá .1 vida e, assim, só Deus pode tirar, mais ninguém... (Sugestão dire­ ta.) Essa foi sua primeira sessão. Ela veio acompanhada e com medo. Saiu sorrindo, leve como uma borboleta, sem dor e com coragem para voltar a uma segunda sessão. O trabalho não havia terminado aqui, apesar do bom sn cesso em suas respostas à hipnose. Apenas havia começado. E o sufoco? A raiva? Os medos? A pressão que ela se fazia? Não se­ riam tratadas? A terapia apenas começava bem. O que escrevi aqui foi o desenvolver desta primeira sessão. Durante dois meses, ela com­ pareceu semanalmente ao tratamento, trabalhando seu segundo casamento, sua vontade de trabalhar (liberdade financeira), a lid.i com os filhos. As pressões foram se desfazendo. A depressão foi indo embora. Imaculada se tornou livre e sem o pânico. 0 que você pode fazer por um cliente com esta desordem de ansiedade ou pânico? 1 - A respiração é fundamental. Corta a angústia, alivia um ataque de pânico e por si é uma indução de hipnose. 2 - Técnicas de relaxamento progressivo, que aliviam a ansiedade. 3 - Imaginar um lugar agradável, seguro. Lembre-se cie que são pessoas inseguras. É como se fosse lhe trazer 0 objeto transicional à tona e dar-lhe calma. A pessoa se acalma em seu cantinho assegurado e readquire forç.i para lutar. 4 - Técnicas de projeção do futuro são excelentes nos ansio­ sos. Planeje, por etapas pequenas, coisas que ela necessi­ ta fazer, dando uma seqüência possível de se atingir sem pressão, mostrando como se ocupar e des-pré-ocupur, nesta visão de futuro programada em pequenas partes, I lipnoterapia Ericksoniana Passo a Passo 257 Agora você verá o relato da própria paciente ( iosl.iri.i de chamar sua atenção para alguns pontos. É uma paciente i| iie clie gou com total motivação. Isso é muito importante para .1 melho ra; é a metade do caminho. Outra coisa, ela entra em transe mui to bem, e desenvolve o transe sonambúlico. Dentro do relato dela, você verá que ela transforma a corujinha da estória d.i boi boleta na sua amiguinha, a sábia amiguinha. Detalhe: na mesmlt.i onde ficam os anjinhos e a fada que ela relata, também tem nm.t corujinha. Ela foi fazendo as pontes de ligação até a sabedoria, .1 amiguinha que enxerga na escuridão. Por isso, veio em sonho e em material de transe a presença da corujinha. Relato da paciente "Bom! Meu pânico começou em 94, exatamente do dia 31 para o dia l s. De repente começou a tremer todo o meu corpo. Achei que estava tendo um derrame. Levaram-me correndo para o hospital. Chegando lá fui medicada e informada de que não era derrame e sim sistema nervoso, só que minha luta estava apenas começando. A partir daquele dia não tive mais paz, porque bas­ tava começar a escurecer começava tudo de novo: medo, pânico, tremedeiras que pareciam crise de epilepsia. Aí novamente eu correndo para o hospital, e assim foram vários dias, meses, anos, até que um dia, em uma de minhas idas ao hospital, fui aconse­ lhada a procurar um psiquiatra, um bom profissional, que logo diagnosticou que eu tinha pânico da noite e muito medo de mor rer; muitas vezes entrei em seu consultório e não conseguia falar nada. Só chorava muito e ele, muito pacientemente, olhava-me, ouvia-me, lógico que tudo dentro do horário disponível para mim. E muitos calmantes para dormir, pois a noite para mim era eterna, parecia que nunca ia amanhecer e eu precisava ficar acor dada para ter certeza de que não ia morrer, pois acho que tudo noite é mais difícil; então o jeito era tomar calmantes, muitos c.il mantes. E falta de ar, até que meu psiquiatra achou que eu preci sava de terapia, então me deu encaminhamento para uma psiió Ioga. Fiz terapia em grupo com duas psicólogas, para mim Im um desastre, me sentia cada vez pior; depois de cada sev.ao de terapia eu voltava pior. Às vezes não sobrava tempo p.1 1 . 1 eu Ia lar nada, pois eram muitas pacientes, cada uma querendo pA r Sofia M. F. Baucr seu problema para fora. Muitas vezes só me restava voltar para casa e chorar muito, pedir a Deus que não deixasse a noite chegar tão rápido. Tudo isso com meu marido deixando transparecer no rosto "não agüento mais". Via no rosto de minha filha o sofri­ mento de me ver sofrer e não poder fazer nada. As vezes tentava me ajudar com uma palavra carinhosa. Meus filhos, todos ado­ lescentes, faziam-se de fortes, de que não ligavam, mas dava para perceber, lá no fundo dos seus olhos, que eles também sofriam; e falavam assim: "Fica assim não, mãe, a senhora vai ficar boa!" E essas palavras saíam muito fortes de suas bocas. Então deram força para acreditar que realmente eu poderia ficar boa, sim. En­ tão larguei psiquiatra, terapia, e resolvi procurar outro tipo de ajuda, porque o mais importante de tudo é a gente querer ser aju­ dada - é querer ficar boa. Um dia, não sei qual, mas o mês eu sei que era janeiro de 97, um programa me chamou a atenção, era o Globo Repórter. O assunto? Hipnose. As pessoas eram hipnotiza­ das e descobriam o porquê de seus medos, pânicos, fobias. Não pensei duas vezes, escrevi para o programa e pedi ajuda; não sa­ bia que minha vitória estava tão perto; pedi ajuda pois eu não co­ nhecia profissionais que faziam este tipo de tratamento; nunca ti­ nha ouvido falar que em Belo Horizonte existiam hipnoterapeu- tas, mas pedi ajuda e graças a Deus recebi, através do programa, que se prontificou a me ajudar. Conheci a Dra. Sofia Bauer, psica­ nalista e hipnoterapeuta. Lembro-me como se fosse hoje do dia em que a conheci. Era feriado e estava chovendo muito. Fui acom­ panhada com meu marido, chegamos, fui recebida por uma jo­ vem bonita, de olhos grandes, puxadinhos, esverdeados, parecia meio oriental, mas com um carisma que eu nunca tinha visto an­ tes, principalmente em se tratando de médicos. E muito difícil, quase impossível, a gente encontrar um médico assim, mas ela era diferente. Tudo ali para mim era diferente, era novo, nunca tinha visto antes. Ela me convidou para entrar. Entrei em sua sala, era toda diferente a decoração! Ali já podia sentir uma ener­ gia boa, positiva. Conversamos, falei um pouco de mim para ela, falei do meu medo de morrer, de uma frase que um dia ouvi dc> uma pessoa a quem amei muito: "Eu vou, mas vou te levar comi­ go." Esta frase me marcou muito. Bom! Tivemos a primeira ses­ são de hipnose, eu estava um pouco nervosa, pude olhar dentro de mim e ver um vazio grande, só existia medo, insegurança, I lípnoterapia Ericksoniana Passo a Passo 259 vontade de fugir da realidade. Terminou, ela me levou até a por­ ia, me abraçou e pediu que voltasse na próxima semana. Hom, me senti tão bem que ficava contando os dias para voltar. Aquele .ibraço teve um significado muito forte para mim. Significava que eu tinha encontrado a pessoa certa para me ajudar. Voltei outra vez, era sempre recebida com um sorriso e ouvia palavras acon­ chegantes durante o estado de transe que é um relaxamento mui­ to gostoso. Eu me sentia outra pessoa, poderosa, sem medo, cheia de energia e levava tudo isso para casa. Um dia cheguei an­ gustiada, com muita dor de cabeça, o peito doía tanto que pare­ cia não ter passagem nem para a dor, e durante a hipnose me lembro muito bem de ter levantado minhas mãos, que pareciam estar com tanta energia que eu podia sentir. Então eu as levava aonde sentia as dores e as dores desapareciam. Em uma de mi­ nhas sessões, foi a vez mais gostosa, durante a hipnose, fui até uma montanha muito alta, o lugar era lindo, um campo florido, parecia primavera e eu estava lá no alto da pedra, respirando um ar azul maravilhoso, tão leve que eu podia voar. Tinha alguém comigo, uma amiguinha. Estava tão bom que eu não queria vol­ tar mais. Eu ouvia a voz da Dra. Sofia me chamando, então voltei e levava toda esta sensação para casa, fui perdendo o medo de tudo. Descobri, através da hipnose, que sou capaz de viver sem medo, sem pânico. Se fui ao topo de uma montanha, posso ir até o fim de minha vida, feliz. Hoje trabalho, tenho disposição para tudo, vejo a vida de uma outra forma. Estou de bem com a vida, graças à Dra. Sofia Bauer e à hipnose. Mas uma coisinha que sempre me chamou muito a atenção foi a decoração do consultó­ rio. É tudo meio mágico. Tem uma fadinha sentada na mesinha, atrás da fada um anjinho e muitos gnomos, duendes, anjinhos. Muitas vezes pensei comigo: "Esta fadinha é ela, Dra. Sofia, mi­ nha fada-madrinha." Tem uma corujinha que me provocava um certo receio. Em uma de minhas sessões, lembro que falei da montanha onde eu estava, pois é, minha amiguinha que estav.i l.i era exatamente a corujinha, estávamos felizes da vida. Tudo isso sem esquecer que cada abraço que ela me dava no final de cml.i consulta tinha um significado muito grande para mim. Sou mui to grata a Deus por ter encontrado uma pessoa t . i o ho. i i i i h. i grande profissional, Sofia Bauer." 260 Sofia M. F. Bauer Caso Sara Sara, 40 anos, veio de uma cidade do interior. Mora em Belo Horizonte há dez anos. Sofre de síndrome de pânico, até o momento do início da terapia não diagnosticado por médicos e psicoterapeutas pelos quais já havia passado, queixando-se do que logo será exposto. Veio por saber que se tratava de hipnose e não agüentar mais terapias de muitas delongas. O último processo terapêutico já estava no segundo ano, sem nenhuma melhora. Moça de boa aparência, bem tratada, não parecia ter mais de 30 anos. Em sua primeira consulta chegou suando frio, nervosa, com dispnéia e muito pálida. Dizia: "Não é de propósito, mas não consigo controlar. Tive que subir de escada. Eu não estou bem." Ao que então respondi que não havia problemas, pois foram ape­ nas dois lances de escada (minha sala é no segundo piso) e eu es­ tava ali para ajudá-la. Nada melhor do que o terapeuta poder ver no que ele pode ajudar. Comecei por respirar profundamente in­ dicando-lhe o assento. Ela me acompanhou prontamente dizendo que não conseguia e nem sabia como falar. Apenas respirávamos juntas, profundamente, por algumas vezes. Nesse tempo fui lhe informando que respirando profundamente ajudaria a melhorar aquela crise de pânico. Ela insistia em tentar falar contando aos sobressaltos algumas passagens. "São quase 30 anos assim, tendo medo de tudo, sofrendo desse mal-estar... tudo começou quando eu tinha 13 anos..." Ouvi toda a história atentamente e, resumindo-a, é uma moça de família humilde do interior, com muitos filhos, poucos cuidados e afetos. Pai severo demais. Ela, menina rebelde. Os conflitos se tornavam demasiados. Aos 13 anos, foi obrigada a ir a uma mãe-de-santo, num centro espírita ou coisa parecida, levar um recado. Cheia de seus próprios conflitos, por ser uma menina que falava tudo que sentia e assim ser tida como a ovelha negra, chegando nesse lugar, sentiu que "aquela mulher" poderia fazer algum "trabalho" para ela. Foi a primeira vez que teve a crise de pânico: sudorese, palpitação, dispnéia, vertigem, sentindo algo muito esquisito como se fosse morrer. De lá para cá, nestes 27 anos, as crises foram se agravando e intensificando, a ponto de I lipnoterapia Ericksoniana Passo a Passo 261 enchê-la de fobias (fobia de viajar, fobia de elevador, lugar fecha­ do e alto). Moça envolvida em conseguir sua independência, tra­ vava uma luta dentro de si mesma com tais medos e sensações para que ninguém percebesse seu mal. E assim conseguiu se fir­ mar profissionalmente e até mesmo com boa remuneração e mu dança para Belo Horizonte. Agora já não conseguia esconder o mal-estar e nem mesmo subir na vida (na carreira e em elevado­ res). Para subir de posto em seu trabalho, precisava sair do andar térreo e não conseguia. Comecei dizendo que conseguíamos a primeira coisa, sair do térreo e chegarmos ao segundo piso, mas que estava solida­ mente construído e há anos aqui eu ficava "trabalhando" sem transtornos, seguramente. Perguntei se sabia qual era o seu mal. Respondeu-me que era medo; eu disse se tratar de pânico, e que poderia ajudá-la já, naquele momento, a se acalmar de todo aquele mal-estar. En­ quanto respirava profundamente e com voz mansa, ia falando: "O pânico é um mal-estar gerado pela ansiedade, a base de tudo. A pessoa, quando nervosa, respira rápido demais, o que provoca uma hiperventilação, que dá certa tontura e ofusca a mente, au­ mentando ainda mais a tal hiperventilação. Esta, por sua vez, leva a um reflexo de um nervo que passa em nossa garganta, o nervo vago, provocando reflexo vagai, que gera mudanças nos nossos órgãos vitais (coração, pulmão, estômago) os quais ele enerva. Daí a sensação de morte iminente, de coração disparado, de respiração curta e difícil. Perde-se até um pouco a clareza dos fatos..." Ela foi ouvindo atentamente enquanto eu falava manso e respirava mais calmamente, quase em transe. Fiz o ar azul. Ela respondeu bem. Eu disse a ela que já a sentia um pouco mais à vontade, que recostasse a cabeça e, se já estivesse melhor, que poderia fechar os olhos... e que dentro em pouco ela iria sentir-se mais leve, mais aliviada. A resposta foi imediata. Sabe por quê? Porque quando temos uma dor muito forte, nossa motivação para ,i me lhora é grande. Tê-la em plena crise de pânico foi ótimo H a | ■ml e ver que até sem medicação, aprendendo a respirar, a se soltai, ela 262 Sofia M. F. Bauer controlaria novas crises. Dito e feito! Saiu bem daquela sessão, pronta para voltar, cheia de motivação. Esta era uma paciente especial. Ela era sensível demais. Linda de alma! Boa pessoa, prestativa e muito dedicada a fazer suas conquistas. Precisava de um colo que lhe acolhesse, até que ela percebesse, mesmo sofrendo, mesmo crescendo sozinha num campo tão infértil, que planta boa ela era! Era isso que eu precisa­ ria mostrar. Os recursos, ela tinha. Em sua segunda sessão fiz a levitação das mãos e contei- lhe sobre os solos e as boas sementes. Enfatizei que até mesmo em solos difíceis boas sementes crescem. Ela entrou em regressão espontânea. Viu-se criança, atravessando uma pequena ponte, moradia pobre, escola pobre. Tudo uma pobreza. Fiz com que ela visse como estava hoje, que ajudasse a pobre menina a atravessar a ponte das riquezas. Saiu-se bem. Na terceira, chegou agitada. Fiz o relaxamento através da técnica de subir nas nuvens, "elevar-se" ao bem-estar com total segurança. Sentiu-se aliviada, pediu o ar azul, ao que atendi pron­ tamente. Então ela subiu com sua nuvenzinha protetora até o oi­ tavo andar de elevador. Bom sinal. O que ela já vislumbrava em transe estava a um passo de conseguir lá na frente. "O pensa­ mento é um ato em estado nascendi" (Freud). Alívio pronunciado em seu rosto. Reassegurei que ela já se permitia aliviar-se. Era só usar do ar azul e de sua nuvem prote­ tora, e eles a tirariam do que a estivesse pressionando. Na quarta sessão, novamente regressão. Lágrimas, senti­ mentos de solidão, desajuste. Foi trabalhado que ela poderia con­ tar com seu anjo da guarda. Ao ser dito isto, ela visualiza um monge, num bonito templo que vem buscá-la. Pedi que ela con­ versasse com o monge, contasse de seu desamparo, de seu sofri­ mento. Ele era sua sabedoria interior, um mestre com quem ela poderia contar sempre que sentisse o desamparo. Na certa, ele te­ ria uma palavra sábia para ela. Foi o que aconteceu. O mestre pri­ meiro trouxe o silêncio, depois caminhos, depois guiou os pas­ sos. Ele aparecia sempre em seus transes aliviando, despressuri- zando. Em sua quinta sessão vieram sonhos. Dentre eles um terre­ no em que ela plantava, com o pai, repolhos. Alimento. E o solo? Hipnoterapia Ericksoniana Passo a Passo 263 Já era bom solo, e o pai já lhe ajudava no plantio de seu novo ter­ reno. Bom sinal. A terapia seguiu-se, e em sua sétima sessão ela já fez sua primeira viagem sozinha. Ficou um ano em tratamento. Pude vê- la comprar seu apartamento, fortalecer-se e ainda ficar mais bo­ nita como mulher. Era aprendizado longo. Pressão, ela tinha muitas, mas agora já contava com a sabedoria interior e o fato de poder relaxar quando a pressão aumentava. Caso Roberta "Tenho 20 anos de idade. Fui nascida e criada em Belo Ho­ rizonte. Meu pai biológico faleceu quando eu tinha 1 ano e 3 meses. Fui criada por minha mãe, uma pessoa maravilhosa, e por meu avô que me adotou como sua filha. Embora minha mãe tenha problemas de depressão, sempre foi uma mãe maravilhosa, e meu pai adotivo sempre me deu muito carinho. Sempre tive tudo que uma criança gostaria de ter, materialmente falando, mas a adolescência foi meio complicada; não queria ir à escola pois os "coleguinhas" me apontavam: olha lá a filha da doida! Isto me revoltava muito. Aos 7 anos fiquei três meses sem ver minha mãe; ela estava internada em uma clínica psiquiátrica. Todos me falaram que ela tinha morrido. Quando ela voltou fiquei muito feliz, mas com raiva das pessoas que mentiram pra mim. Quando discutia com minha mãe, eu já a chamava de doida. Talvez por ironia do destino, acabei ficando também. Quando completei 16 anos de idade, meu pai adotivo fale ceu. A partir daí minha vida se transformou num inferno. Nunca tinha tido contato com a família de meu pai biolop co, mas, como era menor de idade, fui obrigada a ir para l.i M,i mãe foi morar com uma prima minha. Na casa de meu avô, não me dei muito bem, sci i I m um u m peixe fora d'água. Meu avô é alcoólatra e tinha lori i\ «•!•. 264 Sofia M. F. Bauer com sua mulher que, por sua vez, me odiava. Sofri muitas humi­ lhações lá. Resolvi sair de lá. Dormia um dia aqui, outro ali. Passei fome e envolvi-me com drogas. Primeiro maconha, depois cocaína, até que tive uma overdose e quase morri. Larguei as drogas. Como eu era menor de idade, tive que ser emancipada pelo juiz de menores. Aos 17 anos fui emancipada. Comprei uma casa para mim, um carro, enfim, tudo aquilo de que eu precisava. Fui morar com mamãe nesta casa. Tudo estava muito bem, quando tive minha primeira crise. Foi terrível! Não dormia, não comia, nem chegava na janela. Tinha medo e vontade de morrer ao mesmo tempo. Foi quando fui a um clínico geral que me receitou uma droga (Dormonid). Tomei essa droga por um ano. No início me­ lhorei, mas com o tempo já não fazia efeito e voltei a ter crises piores. Fui a uma psiquiatra que me receitou outra droga (Pame- lor). Também não resolveu meu problema. Foi quando conheci um rapaz que me falou sobre a hipnose. Ele fazia tratamento com a Dra. Sofia Bauer. Quando vi uma reportagem sobre hipnose na televisão, lá estava Sofia Bauer. Então resolvi ir lá. Fui com muito medo. Não sei por quê, mas tive medo. No dia em que fui, levei comigo minha prima, uma criança de 12 anos. Meu pânico era tão forte que até uma criança me inspirava segurança. Quando saí da sala, depois da sessão, foi incrível! Senti-me em paz e autoconfiante. No início do tratamento tomava dois comprimidos de Ri- votril. Agora, quando tomo, é um só. Faço tudo que uma pessoa normal faz. Recuperei minha auto-estima. I lipnoterapia Ericksoniana Passo a Passo 265 Faço ginástica, inglês e sempre que posso vou a um asilo que me faz muito bem. É uma troca de carinhos e experiências. Saio, me divirto, enfim, quando olho para trás e me lembro de tudo que passei, aí eu vejo que hoje eu sou feliz! Belo Horizonte, 3/ 12 / 97" Caso Edmundo "Num momento difícil que vivia, uma pessoa amiga sinali- zou-me o caminho da hipnoterapia e, em ato contínuo, indicou a Sofia Bauer. Com o resquício de matuto do interior, evitei relutar e fui buscar apoio. Fui aos poucos me entregando e me encon­ trando. Com o passar dos tempos passei a resolver angústias, amarguras e, especialmente, rancores, ali mesmo na sala do seu consultório. Hoje saio aliviado e consigo esperar a próxima con­ sulta, sem dar 'porrada' em ninguém, para, neste dia, botar para fora a raiva daquela semana. O melhor, nesses encontros, é que enfrento o desafeto de frente, travestido de Sofia e sem seqüelas". Caso A driana "Janeiro 21,1988 Relato sobre tratamento com terapia hipnótica O resultado da terapia hipnótica é rápido e muito eficiente. No meu caso particular, eu não me senti em momento algum hipnotizada, apenas uma sensação de tranqüilidade. Quando eu procurei a Sofia, eu não conhecia o trabalho dela. Eu estava vivendo situações de alto grau de stress e me sen­ tia muito nervosa e sobrecarregada. Ela me foi altamente reco­ mendada por uma amiga psicóloga. As sessões de terapia são compostas por duas etapas. Ini­ cialmente conversamos sobre os problemas que estão me inco­ modando naquele momento, ou também problemas estruturais (família, criação, medos, traumas) que eu gostaria de resolvei. Sofia muitas vezes dá explicações psicológicas para atilii des de outras pessoas, o que nos faz compreender o porque das estranhas atitudes dos que nos circundam. Ela também ilnslr.i com outros exemplos, e nos mostra que 'a vida 6 mesmo assim 266 Sofia M. F. Bauei que todas as pessoas vivem situações difíceis, que vamos sempre ter situações difíceis, mas se estivermos mais calmos e compreen­ dermos melhor os fatos teremos mais clareza e força para resol­ ver nossos problemas. Na segunda etapa, ela coloca uma música tranqüila, o pa­ ciente fecha os olhos, encontra uma posição confortável e deve permanecer em silêncio. Ela então diz alguma espécie de parábo­ la na qual ela insere a chave do problema que você relatou na­ quela sessão, ou então ela diz alguma coisa relaxante, provavel­ mente extratos de textos de meditação. Eu acho a combinação das duas etapas perfeitas, pois, quando eu falo, eu desabafo, sinto-me melhor, diminui a ansie­ dade e também não tenho necessidade de ficar me expondo e fa­ lando com outras pessoas conhecidas, o que muitas vezes é pre­ judicial. Também gosto muito de nossas conversas um pouco antes da meditação e das opiniões que ela emite, pois isso me dá uma sensação de envolvimento e feedback, e as opiniões são efetiva­ mente muito boas. Depois de desabafar e ter explicações e/ ou idéias para en­ frentar os problemas em questão, fazemos este momento de paz. As coisas que ela fala podem parecer muito bobas ou óbvias ini­ cialmente, mas o resultado é muito bom. Você sente uma sensa­ ção de efetivo descanso, então no resto do seu dia você tem mui­ to mais disposição para enfrentar os problemas. Você também encontra soluções muito mais facilmente, pois está mais tranqüi­ lo e mais positivo. No início, eu tive inclusive que fazer uso de medicamentos alopáticos fortes, o que me levou a um enorme sentimento de culpa pois eu me trato com homeopatia. Sofia me explicou de maneira muito clara e científica que o meu estado de stress era tão elevado que já havia desencadeado reações químicas que eram expressas em pânico e deveríamos parar estas reações para poder tratar os problemas. À medida que eu fui me sentindo mais calma, fui reduzido o remédio, o que Sofia orientava, mas deixava a meu critério, pois cada um sabe como se sente. O remé­ dio não me provocou nenhum efeito colateral grave ou qualquer espécie de dependência. I lipnoterapia Ericksoniana Passo a Passo 26 7 Estou me tratando com a terapia hipnótica há um ano e me sinto muito bem. Todos os problemas estruturais e conjuntu­ rais estão praticamente resolvidos, eu me sinto muito mais calma c mais alegre. Continuo freqüentando as sessões de terapias, mas não me sinto 'dependente'. Pelo contrário, me sinto muito mais independente, pois ela me ensinou a encontrar mais paz interior e encarar os problemas de uma maneira mais leve, sendo menos exigente comigo mesma." Gostaria de colocar alguns detalhes sobre o tratamento do pânico, pois é uma doença pouco conhecida, o número de pes­ soas sofrendo de pânico tem aumentado assustadoramente e as pessoas muitas vezes podem ouvir relatos fatalistas e se sentir desesperadas e desesperançosas. Eu conversei com várias outras pessoas que sofrem de síndrome do pânico e elas tiveram uma cura muito mais lenta que a minha, pior do que isto, a maioria delas não se sente curada. A literatura encontrada sobre pânico é muito resumida e reflete casos muito graves. Não aconselho a ninguém ler estes capítulos em livros especializados pois eles im­ pressionam e não refletem o caso de cada pessoa. O sentimento de pânico, como o nome já sugere, é desespe- rador. Muitas pessoas sofrem de pânico e não sabem. Existem ní­ veis mais fracos e mais fortes. No início é apenas um desconforto e medo de pequenas coisas como dirigir, estar sozinho, ficar ne­ gativo e enxergar os problemas de maneira fatalista, não enxer­ gando soluções. Depois os sintomas se agravam e você sente uma sensação dentro do peito de que vai explodir e sair flutuando, como se o seu corpo não respondesse mais ao seu comando. Isso o leva a imaginar que você pode ser atropelado ou pular de uma janela, pois as suas pernas não estão respondendo ao seu coman­ do. A maioria das pessoas tem pavor de estar sozinhas, sofre as mais diversas fobias e muitas vezes sente a certeza de que está com problemas cardíacos ou outras doenças graves e não acredi ta no resultado dos exames que dizem o contrário. Muitas vive, também as pessoas ficam obcecadas de que algo de ruim pov.,i vir a acontecer com seus entes queridos. O pânico é um estado grave e cumulativo de .mpr i l M ■- stress. Alguns livros e médicos dizem que a doonçn <■ ,i <• 268 Sofia M. F. Bauri incurável. Que bobagem! Não dê ouvidos, isto é uma boa descul pa para um paciente se acovardar e passar o resto da vida no pa­ pel de vítima. A vida é uma só, escolha ser feliz! Lute com todn sua força e você se sentirá melhor rapidamente. Não é fácil, mas é possível. Além de freqüentar a terapia, é imprescindível fazer esporte; o melhor é a natação. Não se sinta frustrado no início. A melhora, obviamente, não é instantânea, mas pode ter certeza de que você está caminhando na direção certa. É muito importante se distrair e buscar atividades relaxantes e que lhe dêem prazer e, principalmente, mudar sua vida. Afastar-se das razões que o le­ varam a este estado de angústia ou, se isto não for possível, des­ cobrir uma forma de resolver os problemas, as frustrações, os traumas, os medos, e/ ou encará-los de outra forma, não se dei­ xando atingir de maneira tão brutal e destruidora. A terapia é muito importante em todo este processo, pois quando se atinge o estado de pânico, o paciente já está num nível de angústia tão elevado que é muito difícil encontrar soluções e se acalmar sozinho. A terapia ajuda a desabafar, descobrir os ca­ minhos, dar estímulo, ter paciência e relaxar. 10. Asma A asma também é uma doença psicossomática. Como tal, o sintoma por si fala do que se trata: sufoco. A falta de ar é fruto de um componente psicológico de sufoco: superproteção por parte de um dos genitores, ou uma insegurança em resolver alguma si­ tuação. Qualquer que seja o caso e a idade de aparecimento do comprometimento das vias respiratórias, o sintoma fala da atitu­ de de sufoco. A essa altura, você já sabe as muitas maneiras de trabalhar o sufoco. Até mesmo com a própria respiração. O con­ dicionamento do transe, o ar azul, o relaxamento combinado ao lugar agradável, suavizam o sintoma da "falta de ar" psicologica­ mente induzida. Mas só isso não afasta o problema, apenas me­ lhora. O importante é você ir introduzindo a hipnose como alívio, associado ao conteúdo metafórico que será específico para cada caso, em que, através das metáforas ou analogias, você trabalha o que causa o sufoco ou a superproteção. O que se deve fazer é I tipnoterapia Ericksoniana Passo a Passo 269 «ondicionar o alívio, sabendo-se o momento em que .1 pessoa "dispara" sua mínima pista de que vai modificar .1 respirado em vista de seu problema, ou seja, uma adolescente, em vias ile ,11111 mar um namorado, respira normalmente para ir à escola, .10 une ma, fazer suas tarefas, mas basta ela pensar que, ao ir a escola, poderá ver o futuro pretendente, que modifica seu padrão respi ratório. Assim, identifique o que causa o sufoco, em que momen tos ele aparece, introduza a auto-hipnose. A auto-hipnose será ensinada durante o transe como sugestão pós-hipnótica. Por isso, o transe deve ser de nível médio a profundo, em que a sugestão pós-hipnótica é sempre mais eficaz, em mínimas pistas, para alte­ rar com naturalidade algum aspecto psicológico. A pessoa adota a nova postura, sugerida no transe, sem perceber. Lembrando a você, a sugestão pós-hipnótica é muito eficaz quando o rapport é bom e o nível de transe é médio ou profundo. Na sugestão pós-hipnótica para o paciente asmático, você dará instruções para que, quando ele sentir algum aperto no peito, ou um pensamento sufocante (isto depende de cada caso), respire profundamente da maneira que vocês treinaram. E assim, no es­ tado de amnésia, de uma maneira natural, no momento do sufo­ co, a pessoa entra num transe espontâneo de segundos e muda o padrão de respiração. Com isto ela, sem perceber, não provoca a crise asmática. Vou mostrar aqui um pequeno exemplo, em que ocorreu um caso diferente de hipnoterapia naturalista. Lembrem-se de que a hipnose naturalista é aquela que acontece de uma forma natural. Você aproveita o que tem em mãos e utiliza isso para li berar a pessoa. Fui procurada por um colega de profissão, um excelente psicanalista, que há dois anos, desde o nascimento do filho, vi nha desenvolvendo um quadro de asma. Já havia voltado á sua análise, procurado tratamento médico para os brônquio-espas mos, sem ainda ter tido bons resultados. Resolvemos experiiilfiilni a hipnoterapia, algo fora do padrão de um psicanalista e, tomo tal, também a proposta de trabalho foi fora do normal em sua <a>ia e nos momentos de crise, que ocorriam ao cr epúscul o, »n| uela hora em que os bebês choram. Percebi que ele era um | <,11. 1•. h. > do, preocupado e muito consciente da f unção paterna 1'i mi mI o 270 Sofia M. F. Ilmin menino, ele tivera asma e se curara. Ora, agora também podem fazer sumir o sintoma, como antes! Tudo aconteceu fora do setting analítico. Dentro de casa, aprendendo a relaxar perto do filho. Era pedido que o filho saísse, fosse passear, feito pelo próprio paciente. Em oito sessões trabalhamos através de metáforas e apren dizado de relaxamento hipnótico, tudo aquilo que consciente mente ele já sabia. Foram dadas sugestões pós-hipnóticas que mostraram muita eficácia. Após estes dois meses o paciente estava curado. Num trabalho natural, que aconteceu de uma forma espon­ tânea, com um bom rapport, desenvolvido pelo sufoco e desespe­ ro do paciente e pela minha intenção de ajudá-lo, este pôde con­ fiar e entregar-se a um trabalho do qual não tinha o suposto sa­ ber. Mas ele foi sabendo, aos pouquinhos, tudo que era feito, e assim aprendendo a confiar nele, como auto-indutor do bem-es­ tar. Veja agora o relato dele mesmo. Um belo depoimento do que é uma hipnoterapia naturalista. "Há cerca de quatro anos vi-me diante de um velho e desa­ gradável conhecido com quem havia compartilhado uma boa parte da minha infância e adolescência, o brônquio-espasmo. Esse tal costumava dar as caras em situações variadas que ti­ nham como denominador comum a angústia ou o stress. E desta última vez não foi diferente. O fato desencadeante, em princípio, só me causou alegria e uma torrente de bons senti­ mentos, pois um desejado e bem vindo primeiro filho havia che­ gado. Porém, as preocupações e obrigações inerentes acabaram por se manifestar sob a forma de uma bela crise de asma. Essa primeira crise veio a ser complicada por uma sinusite que provocou um quadro agudo de insuficiência respiratória. A partir de então, iniciei um tratamento convencional de sensibili­ zação alérgica que durou sete meses, com a supressão quase total dos sintomas, à exceção de um pequeno e persistente chiado, so­ mente à noite, ao deitar. I llpnoterapia Ericksoniana Passo a Passo 271 Comentei o caso com Dra. Sofia que me propôs a expcriôn- eia da indução hipnótica. Foram feitas oito sessões, que consistiam em encontros se manais, em minha casa, com relaxamentos ao som de música ncw age. Mais marcante do que a música, porém, é a musicalidade*, .1 sonoridade calmante que a voz da terapeuta provoca. A partir dos meus relatos sobre atividades rotineiras, lazer, situações prazerosas, etc., a terapeuta cria, então, imagens pictó­ ricas que induzem a uma livre associação de quadros agradáveis, aleatórios, descompromissados. Curiosamente, em nenhum momento se perde a consciên­ cia, no sentido do contato com a realidade. O estado é de vigília, com leve torpor, más, ao final de cada sessão, é geralmente impossível estabelecer com precisão quanto tempo se passou. Quanto ao sintoma, o vilão da história, este de­ sapareceu por completo. Chama a atenção o fato de que não é feito nenhuma corre­ lação formal, algo como uma ordem, uma sugestão, uma palavra- chave, algo mágico, se ligando a sintoma, chiado, brônquio, asma, etc. Todo o processo se passa ao largo, bordejando, no bojo das histórias contadas durante a sessão. Uma última observação que provoca especial atenção é a absoluta informalidade do processo. Sendo eu um psicanalista de formação tradicional, acostn mado com um setting mais rigoroso, fiquei agradavelmente sut preso com a naturalidade e simplicidade de nossas sessões. Para finalizar, um sentimento também notório é o prazer associado à espera das sessões. Como quem se dirige a uma mas sagem ou a uma sessão de shiatsu, o que difere dos sentimentos de apreensão ou angústia às vezes relatados por pacientes em análise." 272 Sofia M. F. Bauer “Cerque sua vida com o doce sentimento do amor. Não tenha prevenção contra seus semelhantes. Se alguém não o compreender, se alguém o ferir ou ma­ goar, procure retribuir com maior compreensão, com aten­ ções redobradas. Só o amor é capaz de vencer as barreiras da separação, de aproximar as criaturas, de solidificar as amizades. Então, cerque sua vida com o doce sentimento do amor. " C. Torres Pastorino Capítulo 7 C asos de insucesso Gostaria de colocar neste livro, após ter citado muitos ca­ sos de sucesso, que o contrário também ocorre. Aos que começam agora, que fique registrado que também na hipnoterapia ocorrem insucessos. Não se pode querer curar tudo! Cura é uma palavra questionável. Você ajuda, apoia, mos­ tra caminhos, ressignifica e assim mesmo encontra obstáculos maiores. Devemos observar várias questões. Transferência negaii va, contratransferência negativa, falta de motivação, procura da magia, compulsão à repetição, material recalcado não trabalhado, pontos cegos do terapeuta, falta de técnica adequada, pressa, eh Aprendi com Jeffrey K. Zeig que a postura de incompetente, de em princípio não saber como ajudar seu cliente, é imprescin dível. Se você entra como dono do saber, você prejudica sua vi são do caso. Força uma atitude de ter que dar conta. Agora, sr você entra aberto, dizendo a si mesmo que sobre a pessoa cm questão você não sabe nada e vai aprender a conhecê-la, apivn der como ela fez para ficar assim, com tal problema, o que e h quer mudar, qual a disponibilidade para isto, você está tom.nul o uma postura de abertura às possibilidades de cura. Isso o ajuda não apenas a reconhecer qual é o problriiM •I pessoa, mas também quais as potencialidades que el.i lit»/ >onni go. A postura de abertura, respeito e amor no p.n u nir >i| I .«i•i muito no sucesso do tratamento. Dessa mnneini v m e i m >< | i i I f i , i 274 Sofia M. F. Bauer não faz um diagnóstico fechado. Você tem uma depressão, de­ pressão se trata assim. Mas você pensa, ela está deprimida, o que a levou a ficar deprimida, o que ela já passou para estar assim agora, como ela era antes de tudo isto? É o respeito, é a busca dos recursos, é o amor. Com isto, mesmo que a motivação não seja lá grande coisa, você pode ajudar a aumentar a motivação à cura. Se você aceita o paciente, procura descobrir o que ele tem de bom, observa o que é sofrimento para ele; o paciente é capaz de perceber a abertura, o respeito e coopera. Ele sentiu-se recebido, respeitado e aceito, mesmo estando com um problema e não tendo algo incurável. Nos casos em que a procura se manifesta quase como um desejo de que a hipnose magicamente resolva seu problema, é necessário esclarecer as coisas. Hipnose não é mágica. Você põe alguém em transe, diz meia dúzia de palavras e plinl Solução imediata. Acorda-se do transe curado. Isto não existe. As vezes ocorrem as sincronicidades. A pessoa quer muito uma determi­ nada coisa (emagrecer, parar de fumar, parar de gaguejar, etc.) e você faz a indução. Ela sai do transe pronta! Ela já vinha se cu­ rando, através do seu desejo de cura. A hipnose foi apenas um empurrão. Estes casos costumam tornar-se mitos. Fulano fez uma sessão de hipnose e pronto, curou-se! Mas, na realidade, isto acontece em poucos casos. É a fé mais a técnica se unindo num momento muito oportuno. Mas a intenção e o desejo de melhora já vinham sendo administrados pela pessoa. Neste momento aparece o "santo" terapeuta, faz a "mágica" hipnose e tudo se re­ solve! Belo! Nós é que ficamos em apuros quando chega algum cliente que deseja curar-se dessa maneira. Mas não deixe de aju­ dar. Agora, seja honesto. O que funciona para um, não é o mes­ mo que funciona para o outro. Há questões como o tempo, o rit­ mo e o momento que cada pessoa vivência dentro de seu proble­ ma. A hipnose ajuda, mas não faz milagres. Você pode usar de apenas uma sessão, como pode levar até anos em alguns casos. O que você não pode é trabalhar sem a motivação do clien­ te, ele apenas acreditando que você vai fazer o milagre da cura. Pelo que pregamos, a hipnoterapia é feita pelo cliente. Este torna- se o terapeuta de si mesmo. Você se torna apenas um guia que I lipnoterapia Ericksoniana Passo a Passo 275 mostra caminhos. Quem conhece melhor o seu cliente? A sabedo­ ria interior que habita a mente dele. Por que então, mesmo respeitando o cliente, lhe di/ eiulo que não podemos fazer mágica, ainda assim ocorrem casos ilr m sucesso? Pense sobre a questão da transferência de ambos, tem peuta e cliente. Isto é muito importante. Como você pode cuidiir de alguém que você não gosta? Como pode alguém ser cuidado por outro de quem ele não gosta? Não é bom. Veja isso desde o começo. Encaminhe a outro colega, seja honesto, caso sentir que você não está gostando do caso. Pare e pense por que você sentiu tais sentimentos. E uma boa hora para refletir. E, do mesmo modo, deixe o cliente livre para ir embora. De um modo geral, cliente insatisfeito vai embora por conta própria. Insucesso? Tudo pode ser visto como gosto, preferências e ajustes. Uma coisa importante é a compulsão à repetição, vincula­ da à pulsão de morte, ela conduz o cliente a repetir o mesmo, sem sair de seu problema. Aquele cliente que vem de muitas aná­ lises interrompidas. Tome cuidado! É preciso minar este padrão, porque também será um insucesso. Você pode minar o padrão, fazendo ajustes bem menores do que aqueles que o cliente vem procurar. Ele quer muito e, se você der, ele irá jogar fora. Mas se você for dando aos pouquinhos pode ser diferente, talvez ele não perceba que você está dando algo tão bom e receba. E, de pouqui nho em pouquinho, você vai ganhando confiança para alcançar o que é grande lá na frente. Devo falar um pouco daquilo que Milton H. Erickson ch.i ma de cliente universitário. É aquele paciente que passa de um te rapeuta para outro, sem sucesso em nenhuma terapia. Por vezes, procura excelentes terapeutas, mas é sempre caso de insucesso. É bom ver a questão do fazer tudo para não fazer nada e m.m ter o problema. São aqueles pacientes que enganam a si mesmos, e, por vezes, sentimo-nos impotentes em resolver tais questões Outro aspecto a considerar aqui é ver que esses pai lentes têm dificuldade em aprofundar. A eficácia do tratamento tlepen de da motivação a querer ir a fundo no que gera o problema Fique atento! Você não tem que ser dono do suposto nals i Mas, nesses casos, é preciso redobrar sua atençflo e Io. ali.-ai >* 276 Sofia M. F. Bauer há alguma brecha para fazer apenas "alguma coisinha" pela pes­ soa um pouco mais profunda. Na minha clínica, vejo os insucessos ocorrerem pelos moti­ vos citados acima. Acredito que, quando uma pessoa quer se cu­ rar, tem bastante motivação e você, suficiente respeito e amor para tratá-la, já ultrapassaram metade do caminho. Muitas vezes, falta o conteúdo teórico ou a prática, ou ambos. Se você tiver a humildade de conduzir o caso com calma, não querendo dar mais do que sabe, não cometerá nenhum pecado grave. É bem provável que acerte! Isto é o que eu posso dizer. Respeito até mesmo as falhas, como grandes aprendiza­ gens, e posso reconhecer que, às vezes, foge ao nosso alcance aju­ dar determinado cliente. Existe uma analogia interessante que eu gostaria de fazer através deste realato: Um cliente é como um castelo... tem suas forças armadas em pontos estratégicos... prontos para atacar qualquer um "dife­ rente" que queira invadir o castelo... se você entra pela porta da frente (ataca o problema em questão, de cara)... os soldados vão atirar-lhe as flechas... os canhões... Mas sabemos que todo castelo tem lá sua passagem secreta... que sai na floresta... e por que não entra pela floresta... procurar a entrada secreta (algo comum a você e ao cliente, de que ele goste, para adquirir a confiança)? e assim você entra sem ser visto... vai se infiltrando na fortaleza... minando o castelo... Hipnoterapia Ericksoniana Passo a Passo 277 "Nós partunos um instante para encontrar o outro, para nos conhecermos, para amar e compartilhar. É um momen­ to precioso, mas transitório. Um pequeno parênteses na eternidade. Se partilharmos carinho, sinceridade, amor, criamos abundância e alegria para todos nós. Esse momen­ to de amor é valioso. " Deepak Chopra "Você combina a capacidade de expressar seu talento único com benefícios à humanidade, está fazendo uso da lei do darma... Não há meios de você não ter acesso à abundância ilimitada, porque esta é a verdadeira maneira de se obter a abundância... " Deepak Chopra Capítulo 8 C onclusão Ao finalizar este guia de passos, gostaria de dar o meu re­ cado: Descubra seu talento único, veja o que você faz que é úni­ co, que é seu, e que você faz com prazer, veja como pode ajudar. A incerteza é sempre bem-vinda, ela será o guia da criatividade. Por isso, aceite-a. Nesta hora, você se abre à criatividade e então pergunte-se: Como eu posso ajudar? Dê o que você tem de belo, com amor em abundância. Dê o que você deseja receber. Observando uma situação de caos, o problema do cliente, mantenha-se alerta, com suas incertezas, sem ter uma atitude de dono da verdade; você terá a criatividade ao seu lado para vei emergir a solução no momento oportuno. Afirmam que conscientemente conseguimos captar 7 i 2 informações por segundo, enquanto que inconscientemente con seguimos obter 2ic,n. Você sabe quantos "zilhões" de pens.nnen tos esta quantia significa?! Pois então confie no seu inconsciente Baseado em tudo que você tem de teórico, mais o que você viu neste guia prático de clínica hipnoterápica, dê tratos ao sen tn consciente na busca de como você pode ajudar. Você pode usar a hipnose das mais variadas Inrm.r. 1m ),i você. Erickson usa hipnose em 15% de seus atendimento’» /el| i usa em 10%. Mas os procedimentos hipnóticos, .i lln^iM| iein ,i 280 Sofia M. F. Bauer utilização, são usados em 100% dos casos. Seja você mesmo, des­ cubra como usar das técnicas vistas e ponha seu talento a favor da humanidade. E boa sortel Dizem que sorte nada mais é que a prontidão e a oportuni­ dade caminhando juntas! Bibliografia Baker, P (1985) - Using metaphors in psychotherapy. Nova Iorque: Brunner/ Mazel, INC. Barber, Joseph (1991) - Modelo do serralheiro - Avaliação da sensibili dade hipnótica, pp. 1-20. Barber, T. X. (1960) - The necessary and sufficient conditions for hypnotic behavior. The American Journal of Clinicai Hypnosis, vol. 3, pp. 31-42. Bettelheim, B. (1981) - Freud and a man's soul, Nova Iorque: Virt.i ge Books. Chopra, Deepak (1994) - As sete leis espirituais do sucesso. São Pau­ lo, Licença Editorial (Best Seller), pp. 1-103. Coe, William C. (1992) - Hipnose: Quem é você? (Hypnosis: Whe refore art thou?) The International Journal of Clinicai and Expcri mental Hypnosis, vol. XL, ns 4, pp. 219-237. 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ABSORÇÃO: Primeiro item a ser observado na indução natura­ lista, e que consiste em absorver a atenção da mente consciente (MCS) do paciente, de forma sensorial (sensação de pressão, frescor e calor - cenestesia) ou ideativa (visual e interna), en­ quanto o inconsciente (MIC) relaxa, permitindo entrar neste estado especial de consciência chamado transe hipnótico. ABSORVENTE: V. Categorias. ACOMPANHAMENTO: O mesmo que Acompanhar. ACOMPANHAR: Também denominado Seguir, é o estágio III do "Embrulhando para presente" de Jeffrey Kenneth Zeig, que consiste em: ratificação de mudanças, promoção da amnési.i, instruções processuais, como usar recursos de eliciação, testar a terapia (no consultório, simbolicamente, exercitar a fantnsi.i), propor tarefas para consolidar e treinar o aprendizado, subme ter à hipnose, escrever cartas. Em inglês é o follow through. ACORDADO: Termo com que André M. Weitzenhoffer bnli/ .i o primeiro estado de transe, e que se caracteriza por: olhos ,i!>ei tos; pálpebras pesadas e/ ou pálpebras com tremor. ACUIDADE: Agudeza de percepção; capacidade neeiilii.nl.i •l< discriminar estímulos sensoriais. É uma das qunlkl.nlrs qm deve ser desenvolvida no terapeuta, para que .1 s i i d p m r | 288 Sofia M. F. Bauer visual e auditiva sejam utilizadas como recurso de compreen­ são e ajuda ao cliente. ALIANÇA SOFRÔNICA: V. Sofronização. ALUCINAÇÃO HIPNÓTICA: Fenômeno observado em alguns pacientes, que implica na distorção da percepção, com acrésci­ mo de objetos ou sensações inexistentes (positiva) ou negação de uma realidade (negativa). Por indução pode-se promover uma alucinação pós-hipnótica, com os mesmos conteúdos da alucinação hipnótica positiva ou negativa. AMNÉSIA: No contexto da hipnose, é um estado de esquecimen­ to reversível. Pode ocorrer espontaneamente ou sugerida. Pode ser parcial ou total, de acordo com o montante de mate­ rial esquecido ou não-recuperável. É típica do estado de transe profundo. AMNÉSIA HIPNÓTICA: Amnésia provocada através da hipno­ se. AMNÉSIA HIPNÓTICA, TÉCNICAS DE: Sugestão indireta, dis­ tração, estruturação, confusão, metáfora, semeadura, dissocia­ ção. AMNÉSIA SELETIVA: Tipo de amnésia em que, de forma espon­ tânea ou sugerida, o indivíduo fraciona ou seleciona certas ex­ periências, atitudes ou aprendizados. AMPLIADOR ou AMPLIFICADOR: V. Categorias. ANALGESIA: Perda de sensibilidade à dor, experimentada sob transe hipnótico. ANALOGIA: Ponto de semelhança entre coisas diferentes. Méto­ do utilizado por Erickson para levar o cliente a identificar as­ pectos idiossincrásicos e aproximá-lo mais de sua realidade in­ terior. ANEDOTA: Um chiste, uma estória jocosa, um caso. Estratégia criada por Milton Hyland Erickson para facilitar o processo de indução ao transe hipnótico. ANESTESIA: Perda total ou parcial da sensibilidade, em qual­ quer de suas formas, conseguida através da hipnose (anestesia por dissociação). ANTENA: V. Princípio-antena. APOSIÇÃO DE OPOSTOS: Categoria de sugestão indireta que envolve a justaposição de dois comportamentos que estão mu­ dando em direções opostas. Com esta sugestão é útil começar Hipnoterapia Ericksoniana Passo a Passo 289 em um nível somático, de modo a estabelecer credibilidade .111 tes de sugerir mudanças psicológicas mais complexas K Quanto mais pesado seu corpo se sente assim que você desen volve o transe, mais leves seus braços podem se sentir ASSESSMENT: Avaliação feita a partir dos recursos do cliente das sinalizações que ele emite, e da forma como ele exporienei.i o mundo: suas lentes perceptuais, isto é, estilo de aterçáo, e sistema sensorial preferido (visual, auditivo ou cenestésico), e sua forma de processar a informação recebida. Veja Catego­ rias. ASSESSMENT CATEGORIES: V. Assessment. ATAVISMO: Teoria proposta por alguns estudiosos da hipnose (Meares, A., 1961, e outros), que afirma que o fator básico na hipnose é a regressão ao estado primitivo de funcionamento, em que o homem pré-humano aceitava idéias pelo processo de sugestão, e sem avaliação crítica. "Reaparecimento, em um de­ scendente, de um caráter não presente em seus ascendentes imediatos, mas sim em remo tos" {Aurélio). ATENÇÃO CONCENTRADA, LEI DA: V. Princípios psicológi­ cos. AUDACIOSO: V. Categorias. AUDITIVO: V. Categorias. AUSÊNCIA CONSPÍCUA OU AUSÊNCIA EVIDENTE: No de­ senvolvimento da Acuidade, é a observação da ausência de al­ gum movimento muscular, gestual, comportamental etc., d 11 rante a entrevista com o cliente, que evidencia uma caracterís tica sua. AUTO-HIPNOSE: Processo de indução hipnótica dirigida pelo indivíduo sobre si mesmo. AUTOPROTETOR: V. Categorias. AVENTUREIRO: V. Categorias. BACKGROUND: E o termo em inglês para fundo, de Figura e Fundo (ver), da Gestalt. BRAIDISMO: Termo com que ficou conhecida a técnica de liv.i ção visual para a indução de estados de relaxamento eriada por James Braid (1795-1860) em 1843, denominada poi 1 ’><1.■ hipnose. Também chamada de efeito Braid. CATALEPSIA: De acordo com a classificação de | ean M.ntui Charcot (1825-1893), um dos três estágios do estado I............... 290 Sofia M. F. Bauer caracterizado por rigidez cérea dos músculos, de modo que o paciente permanece na posição em que é colocado. O mesmo que rigidez. CATARSE: Purgação, purificação, limpeza. Termo usado por Freud (1856-1939) e Breuer (1842-1925), em 1895, para descre­ ver o método utilizado por eles de encorajar o paciente, em transe, a falar sobre seus problemas emocionais. CATEGORIAS DE AVALIAÇÃO ou CATEGORIAS DIAGNÓS- TICAS: (Assessment categories, em inglês). Método desenvolvi­ do por Jeffrey K. Zeig, discípulo de Milton H. Erickson (1901- 1980), com o intuito de se tomar conhecimento do modo de ser do cliente e, a partir daí, saber a forma ideal de se preparar 0 "embrulho para presente" (giftwrapping). Divide as catego­ rias em dois níveis de comunicação, seguindo um padrão ges- táltico de figura e fundo (foreground/background), a saber: CATEGORIAS INTRAPSÍQUICAS (pessoais): Subdivididas em três níveis: 1- Perceptivas ou perceptuais (atenção) a) Interno - voltado para si; preocupa-se com a própria vida interior (sentimentos, pensamentos); não observa bem o meio ambiente, o exterior. b) Externo - voltado para fora; observa e capta tudo ao seu re­ dor. c) Focalizado ou direto - dirige a atenção para uma coisa de cada vez (monoideísmo). d) Difuso - desloca a atenção de uma coisa para outra. 2 - Sensoriais (sistema sensorial preferencial) a) Auditivo - em que predomina a audição como meio de co­ municação com o mundo. b) Cenestésico ou tátil - é mais voltado para as sensações, quer de prazer ou de incômodo. c) Visual - a visão tem um enfoque todo especial. 3 - Processuais (quanto ao processo de elaboração) a) Linear - pondera, classifica, ordena, tanto na recepção quan­ to na devolução, ao se comunicar; metódico seqüencial; tra­ ça roteiros, esquemas. Hipnoterapia Ericksoniana Passo a Passo 291 b) Mosaico - elabora de forma mais diversificada, indo do um tema a outro. c) Ampliador, amplificador ou aumentado - amplia .1 vis.lo das experiências de forma: - Positiva - tudo é maravilhoso, bom, fantástico; gestos teatrais - Negativa - a vida parece uma droga, em todos os sentidos, qualquer problema é um enorme problema. d) Redutor ou reduzido - tende a reduzir as experiências .1 pouco mais de um simples fato corriqueiro, uma ninharia. CATEGORIAS INTERPESSOAIS (de relações sociais) a) Quanto à estrutura familiar - Filho mais velho e/ ou único - manda, protege, cuida. - Filho do meio - rebelde, amistoso, comunicativo, artístico. - Filho mais novo, caçula - obediente, conciliador, prudente, cordato. b) Quanto à região - Urbano - nasceu e/ ou se criou na cidade grande, em subúr­ bios; está mais orientado para o presente. - Rural - do campo, tendo uma realidade e uma linguagem bastante diferenciada; pensa mais no futuro. c) Intrapunitivo - parte do princípio de que é culpado por tudo o que acontece ao seu redor; assume o mea culpa. d) Extrapunitivo - a culpa é sempre dos outros; não se percebe responsável por nada. e) Absorvente - suga a energia do outro; se espelha na expe riência alheia; como a Lua, não tem luz própria. f) Radiante ou doador - age como o Sol, doando luz e c a l o r , criativo; expansivo. g) Aventureiro ou audacioso - atira-se, lança-se, arrisca se, eu rioso; arisco; explorador. h) Autoprotetor ou retrator - afasta-se, retrai-se, protege se n rnido; sem iniciativa; recatado ou medroso. i) Em estresse - comporta-se geralmente de forma i l.»•I t com muita energia, como uma criança. j) Em homeostase - é mais quieto, mai s acomodado >nntn um adulto. 292 Sofia M. F. Bauer k) Rígido - age de forma categórica, inflexível; tem padrões predeterminados. 1) Flexível - tem mais jogo de cintura; é maleável; não fica pre­ so a padrões, m) Quanto à hierarquia: - One up, uno arriba, unissuperior, superior ou dominante: in­ dica, controla, define, manda. - One down, uno abajo, uniinferior, submisso ou inferior: obe­ diente, responsivo, passivo. - Simétrico - quando a posição do cliente é idêntica à do tera­ peuta. Um bom terapeuta deve desenvolver a posição one up mas, diante de um cliente one up, precisa desenvolver estraté­ gias que o façam sentir-se no comando. CAUSALIDADE IMPLÍCITA: Técnica de absorção que usa truís- mos de pressuposição e um determinado padrão de linguagem. CENESTESIA: Sentimento difuso resultante dum conjunto de sensações internas ou orgânicas e caracterizado essencialmente por bem-estar ou mal-estar. Não se deve confundir com cines- tesia, que é o "sentido pelo qual se percebem os movimentos musculares, o peso e a posição dos membros", ou com sineste- sia, que é a "relação subjetiva que se estabelece espontanea­ mente entre uma percepção e outra que pertença ao domínio de um sentido diferente (por exemplo um perfume que evoca uma cor; um som que evoca uma imagem, etc.) CENESTÉSICO: V. Categorias. CHAPÉU: No diamante de Erickson, é a posição do terapeuta que representa o papel social deste. CITAÇÃO: Padrão que permite fazer uma afirmação e atribuir a responsabilidade dessa afirmação a outra fonte. Ex.: Eu estava lá fora e alguém veio até mim e disse: relaxe! CO-CONSCIÊNCIA OU CO-CONSCIENTE: V. Subconsciente. COMANDO: É a ordem que se dá, de forma direta ou indireta (embutida, por exemplo), para se constituir numa indução ao transe ou numa intervenção terapêutica a ser considerada no processo de elaboração e crescimento pessoal do cliente. COMANDO EMBUTIDO: Forma de comando que se disfarça numa frase corriqueira, indireta. Ex.: Acho muito importante que você se sinta confortável enquanto... Hipnoterapia Ericksoniana Passo a Passo 293 CONFUSÃO MENTAL: Estimulação indiferenci.ula loim.i de indução utilizada por Milton H. Erickson, no intuito de \ ,m sar" o consciente (MCS) e deixar que o inconsciente (Ml( ) manifeste. Pode ser dura, mais agressiva, ou suave com pia das, casos, etc., e alcançada através de técnicas nssoci.h I.i *. (di retas) ou dissociadas (rupturas). CONJUNTO-NÃO: V. No-set. CONJUNTO-SIM: V. Yes-set. CONSCIÊNCIA: Conhecimento imediato da sua própria ativid.i de psíquica. CONSCIENTE: O conjunto dos processos e fatos psíquicos cli­ que temos consciência. E um dos níveis da vida psíquica, mui to pequeno em relação à parte inconsciente, e pelo qual o indi víduo é responsável em qualquer momento de sua existência. CONSTELAÇÃO HIPNÓTICA: Conjunto de fenômenos verifica dos no indivíduo em transe hipnótico, a saber: economia de movimentos; literalismo; demora para iniciar resposta; mu dança nos reflexos de salivação e degustação; diminuição 11.1 freqüência respiratória, no pulso e na pressão sangüínea; rel.i xamento muscular; mudança no comportamento ocular (mu­ danças pupilares; tremor palpebral; desfocalização; olhar "fixo" de transe; mudanças na freqüência de piscadas, nos mo­ vimentos sacádicos — de lado a lado —, lacrimejamento); re dução nos movimentos de orientação; perseveração; assimetria esquerdo/ direito; mudanças na circulação periférica; fascicula ções; aumento da responsividade e nas atividades ideomotoi.i e ideossensória e máscara facial. CORAÇÃO: No diamante de Erickson, a posição do terapeuta que diz respeito à compaixão e à empatia. DESORIENTAÇÃO TEMPORAL: Técnica de confusão mental utilizada por Erickson, e que consiste em cansar a mente cons ciente (MCS) com vários truísmos sobre o tempo (dias, mesrs anos) de forma deliberadamente confusa, para se induzir .10 transe. DESPERSONALIZAÇÃO: Fenômeno hipnótico induzido, r m que o sujeito é levado a esquecer a sua identificação pessoal DIAMANTE DE ERICKSON ou DIAMANTE ERICKSt 'NI \ r Ji 1 Metamodelo ideográfico de intervenção, em que se denl .i t nm os cinco pontos básicos do processo de "eml uui l hai piiht pie 294 Sofia M. F. Bauer sente", partindo da definição da meta, primeiro item, indo para o "embrulho para presente", através de uma sugestão direta, uma sugestão indireta, a hipnose, uma prescrição de sintoma, estórias, etc.; segundo item, dirigindo-se à posição do paciente (individualização e ajuste — tailoring) em que se procura ver como este paciente funciona (Categorias diagnosticas e Gan­ cho); terceiro item, passando para o processo de terapia (Método sanduíche: Set-up - Intervenção - Acompanhamento); quarto item, a posição do terapeuta (coração, chapéu, músculos e/ ou lentes), quinto item, do diamante. DIFUSO: V. Categorias. DIRETO: V. Focalizado. DISSOCIAÇÃO: Fenômeno em que o indivíduo, por indução, desloca sua percepção ou sensação de si mesmo, experiencian- do acontecimentos inexistentes. É também um método aplica­ do para "distrair" a mente consciente (MCS), dissociando-a da mente inconsciente (MIC). DISSOCIAÇÃO DA PERSONALIDADE: Segundo a classificação de Charcot, sinônimo de sonambulismo, o tronco principal da hipnose. DISTORÇÃO DO TEMPO: Fenômeno verificado em sujeitos em transe, em que se perde a noção do tempo. O tempo pode ser uma experiência cronometrada ou subjetiva. DOADOR: V. Radiante. DOIS RS ou 2 RS: Base da terapia ericksoniana: acessar a Respon- sividade para atingir os Recursos do cliente. DOMINANTE: V. One up. DISSOCIAÇÃO DUPLA CONSCIENTE / DUPLOS VÍNCULOS INCONSCIENTES: Sugestão indireta que se pode representar pela fórmula: Sua mente consciente pode X, enquanto sua mente inconsciente faz Y, ou sua mente inconsciente pode X, enquanto sua mente consciente faz Y. É uma extensão da ver­ são do duplo vínculo consciente/ inconsciente. DUPLO VÍNCULO CONSCIENTE/ INCONSCIENTE: Categoria de sugestão indireta em que as alternativas comparáveis ofere­ cidas facilitam especificamente uma educação a respeito do in­ consciente e uma interação terapêutica entre o consciente e o inconsciente. Ex.: A mente consciente pode não perceber quan­ Hipnoterapia Ericksoniana Passo a Passo 295 do a mente inconsciente está começando a trabalhai cm dirc ção a uma solução. DUPLO VÍNCULO NON SEQUITUR: (Non sequitur, cm latim significa "que não segue"). Categoria de sugestão indireta que segue a fórmula: solicitação direta +alternativa subentendida = duplo vínculo non sequitur. Uma parte da sugestão tende a indiretamente encerrar a resposta desejada, enquanto outia parte requer a resposta desejada mais diretamente. I x. Vote será capaz de entrar em transe enquanto nós falamos ou de al terar sua consciência e experiência. ECONOMIA, LEI DA: V. Morgan, Regra de. EFEITO BRAID: V. Braidismo. EFEITO DOMINANTE, LEI DO: V. Princípios Psicológicos. EFEITO REVERSO, LEI DO: V. Princípios Psicológicos. ELICIAÇÃO: E o ato de fazer sair, de expulsar, de evocar, de tra zer à lembrança, à imaginação; evocação. A eliciação é o tercei ro passo do processo de indução hipnótica naturalista, e envol ve: ter acesso à responsividade aumentada do cliente, que fica cooperativo, capaz de responder a pistas mínimas, e à mobili zação de seus recursos, que já é diretamente ligada aos objet i vos terapêuticos. EMBRULHANDO O PRESENTE: V. Embrulhar para presente. EMBRULHANDO PARA PRESENTE: V. Embrulhar para presen­ te. EMBRULHAR PARA PRESENTE (GIFTWRAPPING): Processo utilizado na hipnose naturalista, desenvolvido por Jeffrey Ken neth Zeig a partir da idéia inicial de Milton Hyland Erickson, e que consiste em preparar, para cada cliente, a partir de sna\ características pessoais (V. Categorias de Avaliação), um mo delo próprio de indução. Segue três estágios: Organização ou Preparação (Set-up), Intervenção (Intervene) e Acompanhamen to ou Seguimento (Folloiv through). EMBRULHO PARA PRESENTE: V. Embrulhar para presente EM HOMEOSTASE: V. Homeostase. EM ESTRESSE: V. Categorias. EM STRESS: V. Em Estresse. ENTREMEAR: O mesmo que intercalar. Tem o sentido da nlili, > ção dos recursos apreendidos do cliente, através do dlii^noMI co das categorias (Assessment), e ainda seguindo o padiao c.i 296 Sofia M. F. Bauer táltico figura e fundo, para se fazer uma intercalação dos valo­ res diagnosticados. ESCRITA AUTOMÁTICA: Fenômeno hipnótico de dissociação, em que o cliente escreve sem ter consciência de que o faz e do que escreve. ESTÁGIOS DO ESTADO HIPNÓTICO: Segundo a classificação de Charcot: letargia ou sonolência, catalepsia ou rigidez e so- nambulismo ou dissociação da personalidade. ESTADO DE TRANSE: V. Transe. ESTADO HIPNOIDAL: De acordo com os critérios de André M. Weitzenhoffer, estado anterior à hipnose leve, e que consiste em: sensação de peso nas extremidades, sonolência, aumento do limiar de dor e redução da tensão muscular, e é o estado em que se pode induzir uma terapia psicobiológica (reforço, per­ suasão, reeducação, confissão e ventilação) ou a uma hipnoa- nálise (associação livre, fantasias induzidas). Para Hershman, é o mesmo que Transe Leve. ESTADO HIPNÓTICO: O próprio transe, em suas diversas mo­ dalidades. V. Transe. ESTRUTURA FAMILIAR: V. Categorias. EXTERNO: V. Categorias. EXTRACEPTIVO: Que recebe estímulos externos. Contrário a Proprioceptivo. EXTRAPUNITIVO: V. Categorias. FASCICULAÇÃO: Contração de musculatura estriada esqueléti­ ca, localizada e pouco intensa, visível através da pele íntegra. Verifica-se na Constelação Hipnótica. FAZER SOB MEDIDA: V. Tailoring. FENÔMENO DO TRANSE: Todo o universo que reveste o tran­ se: regressão de idade, progressão de idade, amnésia, analge- sia, anestesia, respostas ideodinâmicas (ideoafetiva, ideomoto- ra e ideossensória), catalepsia, dissociação, alucinações positi­ va e negativa e distorção do tempo. FENÔMENO HIPNÓTICO: V. Hipnotismo. FENÔMENO MAGNÉTICO: Diz-se do estado de transe conse­ guido a partir da crença num magnetismo animal ou mineral. Mesmerismo. FIGURA / FUNDO: Termo usado em Gestalt para representar os problemas que são trabalhados em primeira instância (Figura), Hipnoterapia Ericksoniana Passo a Passo 297 por se apresentarem de forma mais evidente, v d.ir passagem àqueles que estão mais ocultos (Fundo), e que normalmente representam o centre do problema em si. Em inglês se ili/ I orr ground/Background. FILHO DO MEIO: V. Categorias. FILHO MAIS NOVO: V. Categorias. FILHO MAIS VELHO: V. Categorias. FILHO ÚNICO: V. Categorias. FLEXÍVEL: V. Categorias. FOCALIZADO: V. Categorias. FOLLOW THROUGH: Termo em inglês para Acompanhar, Sc guir. FOREGROUND: Termo em inglês para figura, da Figura/ Fundo (Ver) descrito na Gestalt. FOREGROUND/BACKGROUND: V. Figura / Fundo. FRACIONAMENTO DE VOGT: Série de pequenos transes utili­ zados com o intuito de aprofundar o transe em si. GANCHO (HOOK): É o que valoriza e que posição toma o pa­ ciente, o casal ou o sistema, observando o que se vê e princi palmente o que não se vê (pensamentos, sentimentos, condu­ tas). E o padrão ao qual o cliente é amarrado, em que se apoia GIBBERISCH: Termo em inglês que se traduziria por "linguagem inarticulada", e que representa uma forma ininteligível de se comunicar através de sons guturais, monossilábicos, estr.i nhos, componente de uma técnica utilizada em teatro, na Ci es talt e, por conseguinte, na Hipnoterapia, como recurso para o desenvolvimento da comunicação no cliente e mesmo no ter.) peuta. GIFTWRAPPING: V. Embrulhar para Presente. HIPERAMNÉSIA: Aumento da capacidade de lembrar. O i ndi vl duo hipnotizado pode dirigir sua atenção, utilizá-la e tnai vantagem de todas as associações que estão gravadas 11.1 mm mente, para ajudá-lo a selecionar memórias passadas espn ili cas. HIPERSUGESTÃO: Sugestão especifica com enfoque 11n•i•• .i mente consciente (MCS). HIPERSUGESTIBILIDADE: Para Hull, é a caractnislli api m. i|>il da hipnose. É uma forma enfocada de dar um.i ,np ,i .. cífica à mente consciente (MCS). Refere se . 1 Mi^onlllillldititt 298 Sofia M. F. Bauer acima do normal ou acima de uma linha básica individual (Weitzenhoffer). HIPERVENTILAÇÃO: Técnica bastante difundida pela bioener- gética, e que consiste em um exercício respiratório (respiração "cachorrinho"), com o intuito de se levar a uma alteração bio­ química do cérebro (maior oxigenação), quebrando as defesas do cliente, o que corresponde a uma indução ao transe, com riscos fisiológicos para o paciente. Deve ser, portanto, evitada. HIPNOANÁLISE: Técnica desenvolvida por Ernest Simmel, psi­ canalista alemão, e já proposta por Freud em 1918, que consis­ te na utilização da hipnose aliada à Psicanálise. Foi amplamen­ te usada no tratamento das neuroses de guerra decorrentes da Primeira Guerra Mundial. HIPNOANESTESIA: Técnica de utilização da hipnose, com o ob­ jetivo de se submeter o paciente à anestesia, sem o uso de qual­ quer componente anestésico químico. Mais usada pelos médi­ cos e dentistas. HIPNOIDAL: Relativo ao sono ou à hipnose. V. Transe Hipnoi- dal. HIPNOLOGIA: Tratado acerca do sono e seus efeitos, e dos fenô­ menos hipnóticos. HIPNOSE: "Estado mental semelhante ao sono, provocado artifi­ cialmente, e no qual o indivíduo continua capaz de obedecer às sugestões feitas pelo hipnotizador" (Aurélio); "Suscetibilida- de ampliada para a sugestão, tendo como efeito uma alteração das capacidades sensoriais e motoras para iniciar um compor­ tamento apropriado" (Milton Erickson); "Um estado que lem­ bra o sono normal mas difere deste por ser induzido pelas su­ gestões e operações do hipnotizador, com quem o sujeito hip­ notizado permanece em rapport e responsivo às suas sugestões que podem induzir à anestesia, cegueira, alucinações e parali­ sias, enquanto as sugestões de valor criativo podem também ser aceitas" (Webster's)-, "Um pressuposto estado psicofisiológi- co caracterizado por hipersugestibilidade, i.e., sugestibilidade aumentada, e/ ou um ou mais outros sinais clínicos bastante aceitos" (Weitzenhoffer). Alguns autores a consideram um es­ tado alterado de consciência. HIPNOSE AUTORITÁRIA: Aquela cuja indução é feita por su­ gestão direta; hipnose clássica. Hipnoterapia Ericksoniana Passo a Passo 299 HIPNOSE CLÁSSICA: Também chamada de llipno.se Convcn cional ou transe clássico, é o nome com que se bati/ a ,i hipnose baseada em induções feitas através de sugestões direlas, no que se diferencia da hipnose naturalista ericksoniana HIPNOSE CONVENCIONAL: V. Hipnose Clássica. HIPNOSE DE PALCO: Método usado pelos hipnotistas de palco, em que se cria a ilusão de possuir poderes mágicos e mistvrio sos sobre as pessoas. HIPNOSE DIRETA: V. Sugestão Direta. HIPNOSE DIRETA AUTORITÁRIA: V. Técnica Autoritária Dire­ ta. HIPNOSE ERICKSONIANA: V. Hipnose Naturalista. HIPNOSE INDIRETA: Técnica em que se faz a indução em uma terceira pessoa usando a segunda como ponte de comunicação. Ex.: Quando se induz o transe em um amigo do paciente que porventura o tenha acompanhado ao consultório, tomando-o (ao amigo) como colaborador na experiência de indução ao transe do paciente, e fazendo comandos indiretos a este amigo. V. Sugestão Indireta. HIPNOSE LEVE: E o terceiro estado do transe hipnótico, na cias sificação de Weitzenhoffer, e que corresponde a: fechamento dos olhos; relaxamento muscular geral; catalepsia das pálpe­ bras (paralisia); catalepsia dos membros (rigidez cérea); indu­ ção do membro rígido; paralisia induzida; automatismos indu­ zidos; terapia psicobiológica (condução); analgesia leve (cefa léias tensionais, trabalho de parto e alguns partos, trabalhos dentários simples). HIPNOSE MÉDIA: Quarto estado do transe, segundo Weitze nhoffer, caracterizado por: amnésia pós-hipnótica parcial suge rida; alterações sugeridas de vários sentidos cutâneos; anesle sia de luva; analgesia parcial pós-hipnótica; automatismo ge neralizado; alterações superficiais de personalidade sugeridas hipnoanálise (indução de sonhos, representação de papéis); la cilitação de terapias físicas; analgesia para partos, I raball.... dentários e pequenas cirurgias; sugestões pós-hipnólU as s i m pies. HIPNOSE MÉDIA: Aquela em que o pacienle simula o I i h h mi hipnótico. 300 Sofia M. F. Bauer HIPNOSE NATURALISTA: Método criado por Milton Hyland Erickson (1901-1980), psiquiatra norte-americano, e que consis­ te em aprender junto ao cliente sobre a melhor forma de induzi- lo ao transe hipnótico, através de uma avaliação (Assessment) do cliente, o estabelecimento de uma meta, a utilização (Tailo- ring) e o processo terapêutico traçado a partir desses dados que formam o Diamante de Erickson. Faz uso de induções in­ diretas, metáforas, anedotas, analogias e muitos outros recur­ sos, para se chegar a um resultado terapêutico mais preciso. HIPNOSE NATURALISTA ERICKSONIANA: V. Hipnose Natu­ ralista. HIPNOSE PROFUNDA: Segundo a classificação de Weitzenhof- fer para os estados de transe, esse é o quinto estágio, caracteri­ zado por: amnésias pós-hipnóticas extensas sugeridas; aneste­ sia geral; efeitos emocionais induzidos; profundas alterações de personalidade sugeridas; alucinações; alteração da noção de tempo; regressão e progressão de idade; hipnoanálise (escrita automática, pintura, modelagem); terapias biológicas (certas dessensibilidades); remoção de sintomas; uso quase geral de sugestões como adjunto de intervenções médicas e anestesia para cirurgias maiores. HIPNOSOMATOTERAPIA: Uso do hipnotismo como agente principal no tratamento de problemas somáticos. HIPNOTERAPIA: Terapia na qual o uso do hipnotismo constitui o núcleo do tratamento. HIPNOTISMO: Termo criado por James Braid (1795-1860), cirur­ gião inglês, em 1843. É uma forma abreviada de neurohipno- tismo, ou seja, sono nervoso, para batizar o transe hipnótico, por achar que o estado hipnótico se parecia com o sono. Criou a técnica de indução por fixação visual, batizada de braidismo ou efeito Braid. Segundo o Aurélio, é o "conjunto de processos físicos ou psíquicos utilizados para produzir a hipnose". E também a ciência que trata dos fenômenos hipnóticos. Para Weitzenhoffer, é "o estudo da sugestão com ou sem a presença da hipnose". Para Bernheim, é "a indução de uma condição psíquica particular, na qual aumenta a suscetibilidade à suges­ tão". HIPNOTIZABILIDADE: O aprofundamento da hipnose alcança­ do em um dado momento por um indivíduo presumivelmente Hipnoterapia Ericksoniana Passo a Passo 301 hipnotizado. Não confundir com sugcstibilidadc hipnótíi.« I sinônimo de sensibilidade hipnótica ou susectibilid.ide hipnó tica. HOMEOPÁTICO, PRINCÍPIO: V. Sinergismo HOMEOSTASE ou EM HOMEOSTASE: V. Categorias HOOK: V. Gancho. ILUSÃO DA ESCOLHA: Termo com que Lawrence Kubie, num tor, com Erickson, de artigos sobre hipnose, chama à llus.lo das Alternativas. ILUSÃO DAS ALTERNATIVAS: Uma das categorias das pressu posições verbais, que consiste em oferecer duas ou mais esco­ lhas ao paciente, ambas, porém, conduzirão ao resultado dese jado. IMPLICAÇÃO: Variedade de sugestão indireta que inclui o uso da pressuposição de uma forma característica, especialmente as pressuposições simples sobre tempo e número (antes, quan do, como, depois, algum, uma certa quantidade, etc.). Ex. : An tes de você me informar porque veio até aqui, eu gostaria que você tirasse um momento para se sentir confortável e relaxado. INCONSCIENTE: Diz-se das atividades e processos psíquicos do indivíduo, e dos quais este não tem consciência. Podemos afii mar que é a soma de todas as experiências do indivíduo, em todos os níveis, e que tem uma linguagem própria. INDUÇÃO: E o meio que se utiliza para levar alguém ao transe, que tanto pode ser direto como indireto. INDUÇÃO DO TRANSE NATURALISTA: Método criado e de senvolvido por Erickson, que consiste em: utilizar a realidade do cliente, acessar questões que absorvem e dirigem a atençflo, fazer uso do eu como modelo, perceber e ampliar respostas, criar uma cadeia verbal, usar pressuposições e sugestões intei pessoais, trocar estilo de despachar, orientar para experiém i.i -. internas, enquadrar respostas e eliciar e guiar associações. INDUÇÃO DIRETA: É aquela que segue os moldes da I l i pnose Clássica. INDUÇÃO INDIRETA: Método criado por Erickson, que >ommIu te em utilizar os recursos do cliente e criar uma f orma u.l o .11 retiva de induzi-lo ao transe. INFERIOR: V. One Down. 302 Sofia M. F. Bauer INJUNÇÃO SIMBÓLICA: Mensagem implícita em que se usam provérbios e expressões idiomáticas para absorver a mente consciente (MCS) e induzir o transe. INTERCALAR: V. Entremear. INTERNO: V. Categorias. INTERVENÇÃO: V. Intervir. INTERVENE: Termo em inglês para Intervir. INTERVIR: Intervene, em inglês. É o segundo estágio do "Embru­ lhando para Presente" de Zeig, que corresponde a: sugestão indireta, hipnose, sugestão direta, tarefas diretivas, proposição de tarefas ambíguas, prescrição de sintomas, ressignifica- ção/ conotação positiva, propor, deslocar, exercitar as fanta­ sias, orientar para o futuro, mudar a história, confusão, metá­ foras, símbolos, anedotas, comunicação paralela, técnica de salpicamento. INTRAPUNITIVO: V. Categorias. LEADING: Termo em inglês que significa "direção", e que impli­ ca a forma com que se utiliza de uma nova direção a ser dada, após se verificarem alguns passos do cliente, ressignificando- lhe a meta. LEI DA ATENÇÃO CONCENTRADA: V. Princípios Psicológi­ cos. LEI DA ECONOMIA: V. Morgan, Regra de. LEI DO EFEITO DOMINANTE: V. Princípios Psicológicos. LEI DO EFEITO REVERSO: V. Princípios Psicológicos. LETARGIA: Estado de sono profundo observado em indivíduos em transe, e que é um dos três estágios do estado hipnótico (q.v.), na classificação de Charcot. E também chamado de so­ nolência. LINEAR: V. Categorias. I .ITERALISMO: Comportamento observado no indivíduo hipno­ tizado, em que se vê uma resposta literal ao comando hipnóti­ co, tanto no que concerne a perguntas como a solicitações de movimento físico do paciente. Assim, se lhe é perguntado se sabe dizer o seu nome, ele poderá responder apenas que sim. Este fenômeno é muito observado em crianças e é também co­ nhecido como pensamento literal. É uma forma econômica de funcionamento do inconsciente. Hipnoterapia Ericksoniana Passo a Passo 303 MAGNETISMO: Nome com que se conhece o transe provoeado por um magneto ou imã, ou qualquer utensílio que represente poder de indução. Paracelso utilizava talismás planetários e zodiacais. Mesmer usou um magneto e criou um box para e\ trair as doenças. À crença no poder de um símbolo externo que provocasse uma reação interna é que se chamou magnetismo É também sinônimo de mesmerismo. MAGNETISMO ANIMAL: O método criado por Mesmer (1731 1815), em que se aplicava um imã (magneto) sobre o doente, e este produzia redistribuição de algum tipo de fluido, provo­ cando a cura. MAGNETISMO MINERAL: Segundo a crença de Maximilian Hell, sacerdote jesuíta, astrônomo real em Viena, que traba­ lhou com Mesmer, o imã utilizado nas curas era o único res­ ponsável por tais feitos. A esta supervalorização das proprie­ dades físicas terapêuticas do magnetismo é que se chamou magnetismo mineral. MCS: Abreviatura para Mente Consciente. MENTE CONSCIENTE: O consciente. No método naturalista ericksoniano, faz-se uso da diferenciação entre mente cons ciente (MCS) e mente inconsciente (MIC), como recurso de in dução. MENTE INCONSCIENTE: O inconsciente. MESMERISMO: V. Magnetismo. META FORA: Termo proposto pelo professor Malomar Lund Edelweiss (Santa Cruz do Sul, RS, 11.1.1917) para designar .i Metáfora que é empregada de forma inadequada, sem respei tar a realidade do cliente. Ex.: Contar estórias de mergulho submarino para quem tem medo de água. METÁFORA: Toda estória ou analogia cujo significado pode elí ciar e guiar associações internas do cliente. E uma forma de se representar o problema do cliente, sem afrontá-lo, colocando o em situação delicada. Foi uma grande contribuição de I i u I- son para o processo terapêutico breve sob transe hipnótico. In clui analogias, mitos, fábulas, parábolas, alegorias e casos METÁFORA ESPACIAL: Aquela que utiliza termos espat I.i Im para dar sentido à experiência e entendê-la, em fnce de um lu gar específico onde ocorre o transe. Ex.: Pensamentos piolnn dos; o recôndito de nossas mentes, etc. 304 Sofia M. F. Bauer METALINGUAGEM: "A linguagem utilizada para descrever ou­ tra linguagem ou qualquer sistema de significação: todo dis­ curso acerca de uma língua, como as definições dos dicioná­ rios, as regras gramaticais, etc." (Aurélio). METAMENSAGEM: Mensagem embutida sutilmente dentro do conteúdo da sugestão indireta (metáfora, analogia, etc.) METAMODELO: O Diamante de Erickson. MÉTODO NATURALISTA: O método de indução criado por Milton Hyland Erickson. V. Indução do Transe Naturalista. MÉTODO "SANDUÍCHE": Método criado por Zeig, que consiste em Set-up ou Organização, Intervenção e Acompanhamento (ver), usado no "Embrulhando para presente". V. Padrão San­ duíche. MIC: Abreviatura para Mente Inconsciente. MONOIDEÍSMO: Nome proposto por Braid para substituir o ter­ mo hipnose, também por ele criado, por melhor descrever o estado hipnótico, mas que não vingou, apesar de se verificar que o termo hipnose está tecnicamente errado. Monoideísmo significa, literalmente, "concentração sobre uma idéia". MORGAN, REGRA DE: Regra que consiste em que "todos os fe­ nômenos devem ser explicados nas bases mais simples". É o mesmo que Lei da Economia. MOSAICO: V. Categorias. NARCOANÁLISE: Processo de investigação psicanalítica que consiste em injetar no organismo do paciente um narcótico eu- forizante (soro da verdade), que provoca a supressão do con­ trole, permitindo-lhe a evocação do passado, de experiências, conflitos, tendências, etc. NARCOSSÍNTESE: Forma de psicoterapia que utiliza elementos coligidos pela narcoanálise, e que se efetua quer no estado de seminarcose, quer no estado de vigília. Hadfield e Harsley, em 1938, e mais tarde, Grinker e Spiegel, durante a Segunda Guer­ ra Mundial, usaram barbitúricos para induzir um estado de hipnose medicamentosa ou narcossíntese, com o objetivo de trazer à tona o material traumático. NEURO-HIPNOTISMO: V. Hipnotismo. NISTAGMO: Movimento rápido e involuntário do globo ocular, que pode ser em um só sentido (horizontal, vertical, rotatório), Hipnoterapia Ericksoniana Passo a Passo 305 ou em dois. A palavra vem do grego in/stagniós, que sif.nilit .1 cochilo. V. REM NO-SET: Literalmente traduzido por Conjunto-Náo 011 Conjunto de Nãos, é uma seqüência de negativas para formar 11111,1 m i gestão. Usado em clientes ansiosos ou mais resistentes. OBJETIVOS NA TERAPIA ERICKSONIANA: Genéricos: os I >ois Rs (2 Rs) — responsividade e recursos; Da indução: moililu .u a atenção, aumentar a intensidade e promover a dissociação; r Da terapia: Os Três Ms (3 Ms) - motivar, metaforizar e mover ONE DOWN: V. Categorias. ONE UP: V. Categorias. OPOSIÇÃO CONSCIENTE/ DUPLOS VÍNCULOS INCONSCIl .N TES: Categoria de sugestão indireta que é usada apenas com clientes que estão oferecendo um desafio ou se conduzindo de modo a estar sempre em oposição. Ex.: E muito importante que você não aprenda nada com estranhos, e certamente você não precisa se sentar enquanto está aqui. Insisto em que você escute cuidadosamente minhas palavras para não relaxar e permitir à sua mente se desviar enquanto eu falo. ORGANIZAÇÃO: V. Organizar. ORGANIZAR: V. Set-up. PACING: V. Passo a passo. PADRÃO INTERACIONAL: Dentro da PNL, corresponde à Si 11 cronização com resposta livre (ver). PADRÃO "SANDUÍ CHE" : Afirmações dissociativas que se guem o esquema de: 1 - Afirmação consciente (o pão); 2 - Met.i (o recheio) e 3 - Motivação (a outra parte do pão). V. Método "Sanduíche". PASSO A PASSO: É o ato de comunicar ao sujeito hipnoti/ .ulo sobre seu comportamento atual e anterior, como um recurso d efeedback. PENSAMENTO LITERAL: V. Literalismo. PERMISSIVIDADE: E o primeiro elemento da indução, que eon siste em permitir que o cliente faça o que tem vontade, f i o p r l meiro passo para induzir as pessoas ao transe. PNL: V. Programação Neurolingüística. POSIÇÃO DO TERAPEUTA: Cada terapeuta tem um tipo .I. "lente" (percepção), "coração" (emoção), "múscul o" (| sidiors 306 Sofia M. F. Bauer de ação) e "chapéu" (papel social), que faz o seu estilo pessoal de trabalhar com a hipnose ericksoniana. PREPARAÇÃO: V. Preparar. PREPARAR: V. Set-up. PRESSUPOSIÇÃO: Padrão que segue o princípio em que se su­ põe algo como sugestão ao cliente. São quatro os modelos mais usados: 1 - Palavras de consciência (saber, se dar conta, notar, estar consciente); 2 - Palavras temporais (antes, depois, duran­ te, desde que, enquanto, quando, começo, fim, pare/ continue, já, ainda, não mais); 3 - Adjetivos e advérbios; e 4 - Ou (Ex.: Você pode entrar em transe agora ou mais tarde). É um padrão de linguagem, uma forma neurolingüística de condizer a ab­ sorção e já uma forma de terapia em si. PRINCÍPIO-ANTENA: Termo proposto por Sofia Bauer (Itajaí, SC, 6/ 3/ 1960) para descrever o aspecto de sintonia diretiva de que se faz uso na Utilização, levando o cliente a falar sobre de­ terminado assunto ou aspecto quando o hipnoterapeuta, pro- positalmente, toca em assunto do interesse do cliente. Ex.: Se o terapeuta deseja abordar a temática da relação familiar, fala ao cliente sobre sua família, levando-o a se "antenar" e falar sobre esse tema. PRINCÍPIO HOMEOPÁTICO: V. Sinergismo. PRINCÍPIO DAS SIMILITUDES: V. Sinergismo. PRINCÍPIOS PSICOLÓGICOS: Leis que regem os esquemas utili­ zados para ajudar os pacientes de forma mais efetiva na suges­ tão, e que consiste em três itens básicos: 1 - Lei da Atenção Concentrada - estabelece que, quando a atenção está esponta­ neamente concentrada numa idéia, essa idéia tende a realizar- se. 2 - Lei do Efeito Reverso - criada por Coué em 1968, diz que, "quando a vontade e a imaginação entram em conflito, a imaginação sempre ganha". 3 Lei do Efeito Dominante - "A n­ corar uma emoção a uma sugestão torna a sugestão mais efeti­ va." Uma emoção mais forte tende a reprimir ou eliminar uma outra mais fraca. PROCESSAMENTO: Set-up, intervenção e Acompanhamento. V. Método Sanduíche e Padrão Sanduíche. PROGRAMAÇÃO NEUROLINGÜÍSTICA: Um método criado por John Grinder e Richard Bandler, que inclui o hipnotismo, Hipnoterapia Ericksoniana Passo a Passo 307 com a finalidade de influenciar o indivíduo através de formas (padrões) de comunicação. Sua forma abreviada é PNI PROGRESSÃO DE IDADE: Técnica em que se projela o p.u lenle no futuro, de acordo com suas próprias motivações e desejo:. PROGRESSÃO DE IDADE, ESTRATÉGIAS PARA: I Fazei .. m dução; 2 - Construir um conjunto de respostas; 3 Criar mela Io ras que se dirigem ao futuro; 4 - Identificar recursos positivo:., 5 - Identificar contextos futuros específicos; 6 - Embutir os rc cursos positivos; 7- Pesquisar o comportamento que se seguii .i, 8 - Fazer sugestões pós-hipnóticas; 9 - Desvincular; e 10 Reo- rientar para o estado de alerta. PROGRESSÃO DE IDADE, SUGESTÕES INDIRETAS PARA: Abordagens metafóricas, comandos embutidos, pressuposi ções, questões indiretas embutidas. PROPRIOCEPTIVO: Termo criado pelo fisiologista inglês Sir Charles S. Shenington (1857-1952), e que diz respeito à capaci dade de receber estímulos originados no interior do próprio corpo. PSEUDO-ORIENTAÇÃO NO FUTURO: V. Progressão de Idade. QUESTÕES OU DECLARAÇÕES QUE FOCALIZAM E REFOR ÇAM A CONSCIÊNCIA: Nome com que se conhece uma das variedades de sugestão indireta, cujo título já é autodefinível. Ex.: "Eu ficaria admirado se você pudesse começar a relaxar assim que ouvisse as minhas palavras"; ou, "Você já esteve em transe antes?" RADIANTE: V. Categorias. RAPPORT: Termo francês inicialmente utilizado na Psicanálise, e que diz respeito à interação do paciente (cliente) com o ter.i peuta. Um bom rapport é essencial à indução do transe, e deve ser permanentemente reforçado durante o processo. O termo rapport se traduz, literalmente, por "narração, informação, de claração, relatório; acordo, harmonia; relações amorosas." RATIFICAÇÃO: É a retroalimentação (feedback) que se da ,io cliente para ele saber que está indo bem, que está conseguido a resposta fenomenológica pretendida. Consiste em repelir, p.u.i a pessoa, as mudanças que estão ocorrendo na Absorçflo RECALCAMENTO ou RECALQUE: É uma forma de opeiin.tAo que procura manter inconscientes algumas reprertentm.oe’. (pensamentos, imagens, recordações) que esl.to 11r,■>>I.»••>t um.i 308 Sofia M. F. Bauer pulsão. Para Freud, tem uma conotação de defesa. O recalca- mento ocorreria nos casos em que a satisfação de uma pulsão ameaçaria provocar desprazer. A hipnose pode trazer coisas esquecidas ou reprimidas à tona, através de visualizações, alu­ cinações auditivas ou táteis, bem como outros recursos ade­ quados para este fim. RECURSOS INTERNOS DO CLIENTE: O conjunto de habilida­ des, comportamentos, manias, hábitos, e tudo o que se refere ao histórico vital do cliente, e que compõe um dos 2 Rs dos ob­ jetivos da Terapia Ericksoniana. REDUTOR: V. Categorias. REFLEXOLOGIA CONDICIONADA: V. Hipnose. REFRAMING: V. Ressignificação. REGIÃO: V. Categorias. REGRESSÃO A VIDAS PASSADAS: Método bastante questiona­ do nos meios científicos, que consiste numa regressão de idade ou revivificação a um tempo anterior ao da experiência em­ brionária do cliente, em que este se identifica como sendo ou­ tra pessoa, em época distinta desta. Cada vez mais se estuda tal fenômeno com mais critério, sabendo-se que, inde­ pendentemente da constatação da veracidade dos dados obti­ dos na experiência, o resultado terapêutico de tais experiências tem se mostrado inquestionável. REGRESSÃO DE IDADE: É o processo psicológico pelo qual se desenvolve uma amnésia para as coisas presentes, para as coi­ sas relativamente recentes, uma amnésia total, geral, absoluta­ mente compreendida, e o cliente regride no curso da vida, até que certo nível de idade seja atingido. Um paciente regredido com sucesso para a idade de 6 anos vai agir e falar como uma criança de 6 anos. REGRESSÃO DE IDADE, ESTRATÉGIAS PARA: Regressão dire­ ta a uma situação específica do passado, técnicas especiais de imaginação ou veículos especiais, sugestões indiretas associa­ das, abordagens metafóricas, regressão gradual, desorientação temporal, progressão e regressão de idade. REM: Abreviatura em inglês para Rapid Eye Movement, "movi­ mento rápido do olho". Movimentos rápidos dos globos ocula­ res que se verificam durante a ocorrência de sonhos na pessoa adormecida ou em estado de transe. V. Nistagmo. Hipnoterapia Ericksoniana Passo a Passo 309 REORIENTAÇÃO: Técnica pela qual o indivíduo, sol' transo, reorienta-se em relação ao seu corpo, de modo .1 aceitar do foi ma mais tranqüila alguma deformidade, ou reconhecer algum aspecto físico até então negado, negligenciado ou reprimido Mecanismo de defesa mediante o qual os sentimentos, as tem branças dolorosas ou os impulsos desacordes com o meio so ciai são mantidos fora do campo da consciência. RESPONSIVIDADE: Primeiro item observado por Erickson nos seus 2 Rs, e que diz respeito à forma positiva com que o cliente responde à indução. V. dois Rs. RESSIGNIFICAÇÃO: É o ato de mudar o significado de como algo é percebido. Ex.: Experiências traumáticas são convertidas em experiências de aprendizado. Em inglês, Reframing. RETRATOR: V. Autoprotetor. REVIVIFICAÇÃO: E o reviver de experiências passadas, capai 1 tando a pessoa a vê-las, entendê-las e senti-las, enquanto ainda as reconhece como experiências passadas. Na regressão, a pos soa vive seus conhecimentos e sentimentos presentes naquele momento; em revivificação, ela reconhece sua resposta como uma forte lembrança. RIGIDEZ: V. Catalepsia. RÍGIDO: V. Categorias. RURAL: V. Categorias. SACÁDICO: Diz-se do movimento de lateralidade ocular, obsor vado na Constelação Hipnótica. SEGUIMENTO: V. Acompanhamento. SEGUIR: V. Acompanhar. SEMEADURA: Tipo de comando embutido em que se semeia uma idéia (sugestão pré-hipnótica) para se aproveitar mais adiante, no estado de transe. SENSIBILIDADE HIPNÓTICA: V. Hipnotizabilidade. SENSORIAL: V. Categorias. SET-UP: (eqüivale a Organizar, Preparar). E o nome do pr i mei r o estágio do "Embrulhando para presente" de Zeig, na i nstal a ção da indução, incluindo semeadura, sugestões pr é-hí pnol i cas e eliciando motivação. Segue o seguinte esquema: dl agno»i tico terapêutico, pacing, estabelecimento de rapporl, osl abel oi 1 mento de uma significação positiva (parabenizar a pessoa mo tivar, amarrar em uma conotação, criar expectati vas), ul l l l / .u .1 310 Sofia M. F. Bauer confusão para romper com seis habituais, semear objetivos ou metas, intervir significativamente, promover mudanças por es­ tratégias mínimas passo a passo, criar um drama, acessar res­ postas cooperativas a estímulos mínimos (usar hipnose, identi­ ficar e utilizar recursos), lidar com as resistências, estabelecer um símbolo para o problema e criar estórias empáticas. SIFt: Sigla em inglês para Set-up, lntervene e Follozv through, os três estágios do Giftzvrapping. SIMÉTRICO: V. Categorias. SIMILITUDE: V. Sinergismo. SIMILITUDES, PRINCÍPIO DAS: V. Sinergismo. SINCRONIZAÇÃO: É o ato de se colocar em sintonia com o com­ portamento verbal e corporal do cliente. Bandler e Grinder, criadores da PNL, estabelecem dois pontos distintos de com­ portamento de sincronização: a resposta de espelho, que ocorre quando um indivíduo assume a mesma postura de outro ou respira no mesmo ritmo do outro, comparável à mímica, e a resposta livre, quando o comportamento de um varia segundo o comportamento do outro, sem haver aspecto imitativo. SINCRONIZAÇÃO DESCRITIVA: É contar ao cliente, a partir de seu ponto de vista, o que o terapeuta pode ver e ouvir, sem in­ vadir seu espaço e percepção pessoal. Ex.: "Você está respiran­ do" em vez de "Você está respirando de modo confortável". SINERGISMO: Princípio utilizado por Erickson, em que se utili­ zava do mesmo sintoma apresentado pelo cliente, aumentan- do-o, acentuando-o ou evidenciando-o, a fim de levar o cliente ao estado de transe. Baseia-se no Similia similibus curantur da homeopatia, ou seja, "Cura-se o similar pelo semelhante". Ex.: O cliente que não consegue relaxar, em virtude da dor no pé, é levado a evidenciar essa dor e intensificá-la, até que aconteça o relaxamento, imperceptivelmente. É também conhecido por Princípio Homeopático ou das Similitudes. SOFROLOGIA: Estudo da consciência humana, seus fenômenos e fatores físicos, químicos, biológicos e psíquicos, para aplica­ ção na medicina e campos afins. Engloba em seu campo de es­ tudos, através de uma formulação científica moderna, técnicas e modelos ocidentais, associados aos que se inspiram nos tra­ dicionais do oriente, como a ioga, o zen japonês e outros. Os Hipnoterapia Ericksoniana Passo a Passo 311 métodos da sofrologia incluem o relaxamento dinflmico, o treinamento sofrológico coletivo, etc. SOFRONIZAÇÃO: O mesmo que aliança sofrônic.t, Moil.ilnl.idc especial da relação entre o médico e o enfermo e, por exlens.io, entre o terapeuta e o cliente. Relação empática, transferencia positiva. SONAMBULISMO: Tipo de hipnose no qual o sujeito entr.i num estágio muito profundo e dá ao observador a impressão de cs tar acordado. Tem sido considerado como uma das diversas formas em que se manifesta a hipnose. E o terceiro estágio do estado hipnótico, na classificação de Charcot, sinônimo de dis sociação da personalidade. E o tronco principal da hipnose. V Transe Sonambúlico. SONAMBULISMO ARTIFICIAL: Termo proposto pelo marquês de Puységur para o estado de transe induzido, anterior à de nominação hipnose, criada por Braid. SONAMBULISMO NATURAL: V. Sonambulismo. SONAMBULISMO PROVOCADO: Nome dado por Beaunis ao transe hipnótico. SONHO INDUZIDO: Sonho sugerido ao cliente em estado de transe hipnótico, como recurso terapêutico. Quem descobriu o uso do sonho induzido em hipnose foi um médico pouco co nhecido, de nome Schorõter, em 1912, mas foi Paul Sacerdote (1908-10/ 2/ 1994), psicanalista norte-americano, quem o divul gou, ao publicar o livro Induced dreams, em 1967. SONO: Estado fisiológico normal, periódico, caracterizado pel.i redução da atividade, relaxamento do tônus muscular, postura horizontal e suspensão do estado consciente. Na hipnose, rep resenta um estado posterior ao transe pleno, sem utilidades psicoterapêuticas. SONO ARTIFICIAL: O transe hipnótico, para Braid. SONO LÚCIDO: Nome dado por Faria ao transe hipnótico. SONO PARCIAL: O transe hipnótico, na denominação de Pavlov STRESS: V. Em Estresse. SUBCONSCIENTE: O conjunto dos processos e fatos psiqt....... que estão latentes no indivíduo, mas lhe influenciam n condn ta e podem facilmente aflorar à consciência. Todas .r. ,ill\ id.t des subconscientes fazem parte também do inconsciente mau o oposto não é verdadeiro. 312 Sofia M. F. Bauer SUBMISSO: V. One Down. SUGESTÃO: "A comunicação ou a criação de uma idéia dentro de um indivíduo, de tal maneira ou de tal natureza que a idéia se torna diretamente responsável por uma reação que não é mediada pelas faculdades discriminativas ou pelas funções executivas do paciente. Por extensão, a idéia, por si mesma, é também chamada de sugestão" (Weitzenhoffer). A idéia é uma sugestão que provoca um efeito e associações de outras idéias. Para Bernheim, o estado de sugestão é a chave para todos os fenômenos hipnóticos e mesméricos. SUGESTÃO DIRETA: É aquela que lida direta e claramente com o problema. As mensagens do que o hipnotista deseja são cla­ ras. Ex.: Para fechar os olhos, o hipnotista sugere diretamente: "Feche seus olhos!" SUGESTÃO EM ABERTO: Tipo de sugestão indireta que inclui sugestões que são vagas e sujeitas a um campo mais vasto de interpretação, sendo algumas vezes útil para introduzir uma sugestão mais específica visando a uma resposta especial. Ex.: Para uma resposta desejada de sentar-se: "Há certas posições que uma pessoa pode tomar para estar mais confortável." SUGESTÃO EMBUTIDA: Aquela em que, através do uso de me­ táforas, anedotas, analogias, se sugere algo indiretamente ao cliente. SUGESTÃO INDIRETA: É aquela que está indiretamente relacio­ nada ao problema. Pode ser feita de diferentes modos, como: contar estórias, casos, anedotas e/ ou piadas, propor tarefas, fa­ zer analogias e sugestões embutidas, etc. Método de utilização de Milton H. Erickson, em que uma sugestão gera outra suges­ tão. Erickson e Rossi fazem uma relação de 11 variedades dife­ rentes de sugestão indireta, a saber: sugestão em aberto; impli­ cação; questões ou declarações que focalizam e reforçam a consciência; truísmos; sugestões que abrangem todas as alter­ nativas possíveis; aposição de opostos; vínculos de alternativas comparáveis; duplo vínculo consciente/ inconsciente; dissocia­ ção dupla consciente/ duplos vínculos inconscientes; oposição consciente / duplos vínculos inconscientes e duplo vínculo non sequitur. SUGESTÃO NEGATIVA: Em que se usam negativas para não responder de um modo desejado. É um curto-circuito das re­ Hipnoterapia Ericksoniana Passo a Passo 313 sistências, em que se ocupa o cliente com a negatividade, en quanto exige uma resposta positiva indireta. I.x I 11 gostaria de sugestioná-lo a não perceber a sensação de su.i perna SUGESTÃO PÓS-HIPNÓTICA: É aquela que é dada .10 cliente ainda em transe sobre comportamentos e sentimentos que tera no futuro. E importante no processo terapêutico, para que .1 pessoa possa levar as novas possibilidades para a vid.i futura Deve ser dada, de preferência, em transe profundo. SUGESTÃO POSITIVA: É aquela que dá suporte e encor.ij.i o cliente a alcançar o que deseja. SUGESTIBILIDADE: E o grau em que uma pessoa aceita suges tões prontamente. Para Erickson, era "uma capacidade ou 11111.1 indicação da capacidade de uma pessoa de responder .1 idéias". E uma função do comportamento normal. Unidade multidimensional de quem sofre sugestão. SUGESTIBILIDADE PRIMÁRIA: Segundo Eysenck, "uma das ili mensões do comportamento hipnótico". Termo que Weitze nhoffer toma emprestado da nomenclatura de Eysenck para diferenciar o "ser hipnotizado", caracterizando apenas a cap.i cidade de um indivíduo de se sugestionar. SUGESTÕES QUE ABRANGEM TODAS AS ALTERNATIVAS POSSÍVEIS: Categoria de sugestão indireta que abre um enor me leque de possibilidades para o cliente, e em que qualquer resposta se desenvolve na direção do terapeuta, inclusive o não-responder. Ex. : Você pode se sentar aí com seus braços em seu colo ou dobrados, ou suas mãos separadas ou juntas, com seus pés apoiados no chão ou cruzados, com seus olhos abertos ou fechados. SUPERIOR: V. One Up. SUPRESSÃO: A tentativa de não pensar em coisas ruins e 111.mie las, se possível, completamente fora do pensamento. A supres são bem sucedida leva ao esquecimento, à repressão involuu tária e além do controle da pessoa. SUSCETIBILIDADE HIPNÓTICA: V. Hipnotizabilidade. TABUS: Em decorrência do mau uso e da má informação sobre a hipnose, criaram-se, desde muito tempo, determinados l abi n.. conceitos errados, que não correspondem à realidade. .1 .,il>. 1 1 - A hipnose é causada pelo hipnotista; 2 - Somenlr .«I>•,»n >>n pos de pessoas podem ser hipnotizados; 3 - As | > « nn qnr rn 314 Sofia M. F. Bauer tram em transe têm a mente fraca; 4 - 0 hipnotista controla o desejo do paciente; 5 - A pessoa hipnotizada pode dizer ou fa­ zer algo que vai contra seu desejo; 6 - Ser hipnotizado pode ser prejudicial ou danoso à saúde; 7 - 0 indivíduo pode se tornar dependente de hipnose; 8 - A pessoa pode ficar presa no esta­ do de transe; 9 - A pessoa fica inconsciente em transe ou dor­ me; 10 - A hipnose sempre envolve um ritual monótono de in­ dução; 11 - Deve-se estar relaxado para entrar em transe; 12 - Hipnose é terapia; e 13 - A hipnose pode ser usada para lhe fa­ zer lembrar das coisas, ipsis litteris, e outros. TAILORING: (eqüivale a Costurando). É a estratégia montada por Zeig, que consiste em: 1 - Descrever, de forma completa e detalhada, o problema, o sistema e a solução; 2 - Formar uma analogia relacionada à pessoa, ao problema, ao sistema e à so­ lução; 3 - Descobrir os mecanismos do problema (como a pes­ soa faz, o que mantém o problema, exemplos paralelos do pro­ blema, gatilhos e seqüências, soluções já ensaiadas, situações nas quais ele piora, como fazê-lo piorar, etc.), ver os valores (qual a posição/ postura que o paciente assume, quais os valo­ res primários, pontos de vista, padrões, etc.), procurar trata­ mento/ soluções (como esta pessoa faria o contrário a esse pro­ blema, exceções, exemplos paralelos de soluções, situações nas quais se é melhor, etc.) e o fator relacionai (funções sistêmicas do problema, papel social, requisitos relacionais etc.). É o Fa­ zer sob Medida. TÁTIL: V. Cenestésico. TÉCNICA AUTORITÁRIA DIRETA: Qualquer técnica de indu­ ção que use sugestão direta de forma inquestionável. Ex.: Ago­ ra você vai fechar os olhos. TRANSE: Estado de consciência diferenciado do normal, em que se verificam diversas alterações em nível cenestésico, visual, auditivo, olfativo e/ ou do paladar. A hipnose é um transe in­ duzido, que segue alguns critérios específicos, a saber: Para Hershman: Transe Leve ou Hipnoidal; Transe Médio; Transe Profundo e Transe Pleno ou Estuporoso. Para Weitzenhoffer: Acordado; Estado Hipnoidal; Hipnose Leve; Hipnose Média; Hipnose Profunda e Sonambulismo. TRANSE CLÁSSICO: V. Hipnose Clássica. TRANSE ESTUPOROSO: V. Transe Pleno. Hipnoterapia Ericksoniana Passo a Passo 315 TRANSE FORMAL: V. Transe Clássico. TRANSE HIPNOIDAL: Para Hershman, o Transe Leve V lista­ dos Hipnóticos. TRANSE HIPNÓTICO: Nome com que se conhece o transe sob efeito da hipnose. Vários autores deram-lhe nomes diverios a saber: sono lúcido (Faria); sonambulismo artificial (Marques de Puységur); sonambulismo provocado (Beaunis); sono par ciai ou reflexologia condicionada (Pavlov); sono artificial, hip nose, hipnotismo, neuro-hipnotismo ou monoideísmo (Braid). TRANSE LEVE: O primeiro estado do transe, nos critérios de Hershman, e que se caracteriza por: relaxamento; catalepsia das pálpebras dos olhos; fechamento dos olhos; começo de ca­ talepsia corporal (sem movimentos); respirações mais vagaro­ sas e profundas; imobilização dos músculos faciais; sensação de peso (pesado) em várias partes do corpo; anestesia de luva e habilidade para sugestões pós-hipnóticas simples. O mesmo que Transe Hipnoidal. TRANSE MÉDIO: O segundo estado de transe, nos critérios de Hershman, caracterizado por: amnésia parcial (alguns sujei­ tos); definido retardamento na atividade muscular; habilidade em ilusões de sensações; marcada catalepsia dos membros do corpo e habilidade para sugestões pós-hipnóticas mais difíceis. TRANSE PLENO: De acordo com os critérios de Hershman, o es tado hipnótico marcado por respostas orgânicas lentas e quase completa inibição da atividade espontânea, posterior ao transe profundo. Também chamado de Transe Estuporoso. TRANSE PROFUNDO: Terceiro estado de transe, de acordo com os critérios de Hershman, e que consta de: habilidade para manter o transe com olhos abertos; amnésia total (na maioria dos sujeitos); habilidade para controlar algumas funções orgã nicas (pulso, pressão arterial etc.); anestesia cirúrgica; regres são de idade e revivificação; alucinações (positiva e negativa, visual e auditiva etc.); habilidade de sonhar material magnííico, habilidade para todas ou para a maioria das sugestões pos hipnóticas. TRANSE SONAMBÚLICO: O mesmo que Sonambulismn nus critérios de Weitzenhoffer quanto aos estados da hi pnose <>u do transe hipnótico, caracterizado por: amnésia pus I iipn> a total e espontânea; habilidade para abrir os ol hos em hl pnom 316 Sofia M. F. Bauer profundas alterações de personalidade sugeridas; todas as su­ gestões pós-hipnóticas; terapia psicobiológica (recondiciona- mento); hipnoanálise (fixação de cristais, psicodrama, conflitos artificiais induzidos, reivindicações); uso geral de sugestões como adjuvante de tratamentos médicos. TRÊS MS ou 3 MS: Nome metafórico para: motivar, metaforizar e mover. Forma com que se define o processo terapêutico erick- soniano: 1 - motivar, através de um bom rapport; 2 - metafori­ zar, usando sugestões indiretas, que é a linguagem do incons­ ciente; e 3 - mover, promovendo mudanças no cliente. TRONCO PRINCIPAL DO HIPNOTISMO: O sonambulismo arti­ ficial, na classificação de Charcot, que é a fase mais estudada dos estados hipnóticos, pelo seu valor terapêutico intrínseco. TRUÍSMO: É a afirmação de evidência, uma verdade incon­ testável, usado para: acompanhar o transe; dirigir a atenção; ratificar o transe; como uma injunção simbólica; para embutir comandos e para criar um yes-set (conjunto-sim). Categoria de sugestão indireta. Ex.: Cada pessoa entra em transe de uma maneira diferente. UNIINFERIOR: V. One Dozon. UNISSUPERIOR: V. One Up. UNO ABAJO: V. One Down. UNO ARRIBA: V. One Up. URBANO: V. Categorias. UTILIZAÇÃO: Método empregado por Erickson no processo te­ rapêutico, em que se utiliza tudo aquilo que o cliente tem, até mesmo as resistências, e procura conversar na língua que o cliente fala. A partir desse método, Jeffrey Kenneth Zeig criou o Tailoring, que é o fazer sob medida a terapia para cada clien­ te, e os assessments, que são categorias diagnosticas que facili­ tam e encontram a melhor maneira de "embrulhar para pre­ sente" a indução do cliente. A base do método ericksoniano da utilização é a sugestão indireta, sendo mesmo sinônima deste. É definida por Zeig como "a prontidão do terapeuta para res­ ponder estrategicamente a qualquer ou todo aspecto do pa­ ciente e do ambiente". Para William Hudson 0'H anlon, "signi­ fica usar o que a pessoa traz consigo para a sessão de hipnose, permitir que ela aja como quiser e informar que, qualquer que seja a sua reação, ela sempre é 'correta'". Hipnoterapia Ericksoniana Passo a Passo 317 VERDADE INCONTESTÁVEL: V. Truísmo. VIGÍLIA: Estado de quem está acordado; estado de vigília Esta­ do anterior ao transe induzido. VÍNCULOS DE ALTERNATIVAS COMPARÁVEIS: Categoria de sugestões indiretas que consistem em "livre escolha de alterna tivas comparáveis em um nível primário com a aceitado de uma das alternativas determinadas num metanível". Ex.: Você preferiria que eu começasse falando ou prefere começar falan do? VISUAL: V. Categorias. VISUALIZAÇÃO: Fenômeno observado no estado de transe, em que o cliente passa a ter alucinações visuais positivas. YES-SET: O mesmo que Conjunto-sim ou Conjunto de Sins. É uma seqüência de três ou mais truísmos, seguida de uma afir- mação-meta. A idéia subjacente ao Yes-Set é a de criar uma verdadeira inércia de concordância, de tal forma que depois o cliente passe a concordar automaticamente com a afirmação- meta. Outros títulos afins Em busca de soluções, William Hudson 0 ’Hanlon Hipnose centrada na solução de problemas, William Hudson 0 ’Hanlon Hipnose médica e odontológica - aplicação e prática, Milton H. Erickson Homem de Fevereiro, O, Milton H. Erickson Magia da hipnose em psicoterapia, A, J . Augusto Mendonça Minha voz irá contigo, Sidney Rosen Psicobiologia de cura mente-corpo, Ernest Lawrence Rossi Raízes profundas, William Hudson 0 ’Hanlon Reescrevendo histórias de amor, Patricia O Hanlon Hudson Seminários didáticos com Míllon II. Erickson, Jeffrey K. Zeig V hwi ui ando E r i cksot». J r l í r r y K. Zclg Hipnoterapia ericksoniana passo a passo Sofia M. F. Bauer Hipnoterapia ericksoniana passo a passo é um guia que leva você da teoria à clínica, no trabalho de hipnoterapia. Em sua primeira parte, traz a teoria: o que é hipnose?, como identificá-la, os estágios de transe, a história e a evolução da hipnose depois de Freud. Na segunda parte, a teoria da clínica é apresentada passo a passo, como um guia de indução de transe. Mostra como montar uma hipnose para cada caso, de acordo com o modelo ericksoniano. E, na terceira parte, casos clínicos ilustrativos do uso da hipnoterapia para a solução de problemas. Tem como base esclarecer mitos sobre a hipnose como “ter que dormir”, “não voltar”ou “o controle do terapeuta sobre o cliente”e clarificar a idéia da efetividade da hipnose como ferramenta dentro das psicoterapias. BM37 Tombo: 24047 2386590 9 788587 622020


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