Economia Do Acesso e Os Modelos de Negocios Baseados Em Compartilhamento - Casa Do Codigo

June 7, 2018 | Author: XinFu | Category: Startup Company, Tech Start Ups, Entrepreneurship, Business Plan, Money
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© Casa do CódigoTodos os direitos reservados e protegidos pela Lei nº9.610, de 10/02/1998. Nenhuma parte deste livro poderá ser reproduzida, nem transmitida, sem autorização prévia por escri- to da editora, seja quais forem os meios: fotográficos, eletrônicos, mecânicos, gravação ou quaisquer outros. Edição Adriano Almeida Vivian Matsui Revisão e diagramação Bianca Hubert Vivian Matsui Arte e concepção Leandro de Andrade [2015] Casa do Código Livro para o programador Rua Vergueiro, 3185 – 8º andar 04101-300 – Vila Mariana – São Paulo – SP – Brasil www.casadocodigo.com.br Para Vanessa, Lucas, Bianca, Simone, Paulo e M. Helena. PREFÁCIO por Luciano Pires Em 1494 um monge Por mais de 500 anos as franciscano e importante empresas e indivíduos matemático italiano cha- se basearam no sistema mado Luca Bartolomeo de criado por Luca Pacioli, Pacioli publicou um tra- que se apoia no proces- tado que causaria imenso so de trocas, que vem lá impacto na história da de trás, no nascimento humanidade. Tratava-se daquilo que chamamos da Summa de aritmética, de comércio. Eu pesco geometria, proporção e dois peixes, só preciso proporcionalidade. de um. Você faz duas cestas de vime, só pre- Numa seção chamada cisa de uma. Eu quero “particulario de com- uma cesta, você quer um puties et scripturis”, ele peixe, trocamos um pelo apresentava o Método das outro e pronto! Partidas Dobradas, que se transformou no pa- Com o surgimento do drão utilizado pelas or- dinheiro, tudo ficou mais ganizações para registrar simples, pudemos fazer transações financeiras. negócios mais amplos, Ali nascia a contabilidade surgiu o capitalismo e como conhecemos hoje, chegamos ao mundo que baseada nas entradas e conhecemos, sempre saídas. trocando alguma riqueza 6 por algum produto ou Web, a internet, que serviço. possibilitou uma rede de conexões inimagináveis Luca Pacioli nos ajudou nos tempos de Pacioli. a observar o que com- Foi então que mergu- pramos, o que gastamos lhamos numa nova re- e entender se estamos alidade, que o “particu- no lucro ou no prejuízo. lario de scripturis” não No mundo dos discípu- conseguia explicar. los de Pacioli, um in- divíduo bem sucedido No cruzamento para o é aquele que tem muita novo milênio nos vi- riqueza, muitas posses. mos diante de situações E foi assim que fomos inexplicáveis, quando criados até o final do o valor não era mais milênio passado. o tijolo e o cimento, o terreno, o avião, o au- Ao longo dos anos 1990, tomóvel, o produto ou o o mundo, que já era serviço, mas ideias, pa- uma aldeia global desde tentes, promessas. Nas- que as redes de satélites ceram as tais empresas começaram a ser mon- “ponto com” que cria- tadas nos anos 1960, as- ram bilionários do dia sistiu perplexo ao sur- para a noite. O sistema gimento da World Wide de emissão de passagens 7 aéreas passou a valer ma como fomos acostu- mais que a companhia mados a conhecer? aérea que tinha centenas de aviões! Considero o ápice des- se questionamento o Vimo-nos diante de uma surgimento do Napster realidade muito além em 1999, o primeiro daquela troca de produ- sistema de comparti- tos por riqueza. Agora lhamento em alta escala se falava de uma riqueza que possibilitou que as futura, de um plano de pessoas trocassem ar- negócios, de um sis- quivos musicais entre si. tema que não existia Aquilo foi um escândalo materialmente, mas era mundial, pois ameaçava um conjunto de “bites” a indústria da música, e espalhados pelo éter. o que se viu foi uma luta na justiça, que culmi- Pela primeira vez, nós, nou com o fechamento indivíduos, tivemos de do Napster, que durou lidar com a riqueza não pouco mais de 2 anos. material e, treinados por Mas deixou 8 milhões 500 anos no sistema de de usuários com água na Pacioli, tomamos um boca... nó. Como contabilizar o intangível? Como acu- Pela primeira vez ficava mular riqueza que não claro que eu poderia ter se pode pegar? Como uma biblioteca musical colocar preço naquilo sem precisar comprar que “não existe” da for- CDs. Aquela minha 8 coleção que levou anos Um iTunes depois, os para ser construída, CDs tornaram-se peças custou um monte de de museu. E o mundo dinheiro e ocupava um nunca mais foi o mesmo. armário, repentinamente deixava de ser funcional. Eu vivi todo esse pro- cesso. Tenho ainda uma Surgira um outro pro- amada coleção de elepês, cesso que não ocupava CDs, fitas VHS, Laser- espaço, que me permi- Discs, DVDs e BluRays. tia ter uma música sem Tudo lá criando pó, precisar comprar um atropelados pelo iTunes CD inteiro, que era infi- e pela NetFlix. Mas, até nitamente mais barato pelo meu DNA (data de (na verdade, virtual- nascimento avançada), mente gratuito) e que minha cabeça ainda não dava a mim, o consumi- entrou nos eixos... dor, uma liberdade que eu não imaginava que Que sociedade é esta em existiria. O valor criado que aquele “possuir” que pelo Napster era irre- conheci durante 50 anos, sistível, outros sistemas passa a perder o sentido? surgiram até a indústria Ter o CD na prateleira entender que era im- não vale mais nada, aliás, possível lutar contra, e só custa. O que interessa mergulhasse de cabeça é ter acesso à música que no negócio da venda de quero ouvir. arquivos de músicas por download. 9 Com generosidade, Ro- Deleite-se com este drigo nos pega pela mão livro. e conduz por uma via- gem pela tecnologia que Deleite-se com está mudando a forma o futuro. de consumo das pesso- as, e assim, mudando o Muito obrigado, Rodrigo. mundo. Do DVD para o streaming, da proprie- dade para o acesso, da venda pontual para a recorrente, até chegar ao mundo maravilhoso das assinaturas. O que emergirá dessa revolução será uma nova sociedade, mais coeren- te, mais generosa, mais sustentável. E com ela surgirá um novo ser hu- mano, capaz de enten- der que “riqueza” não significa “posse”. Neste novo mundo, rico é quem consegue se deleitar. 12 Introdução Este não é um livro con- O objetivo do livro é vencional, com frases contar, por meio de pe- de pensadores antigos e quenas reflexões, sobre referências a outros au- como a nossa vida mu- tores, e tampouco é um dou através de softwa- livro de autoajuda para res, aplicativos, sites e empreendedores. serviços. Considere ler dois pe- É, também, um exercício daços secundários: um claro sobre como vamos sobre a desmistificação deixar de ter a proprie- em ter uma startup, e dade das coisas. outro sobre como ne- gócios recorrentes são mais saudáveis e sus- tentáveis. Além disso, é um ensaio sobre alguns textos escritos por mim nos quais discorro sobre novas formas de consu- mo, e como as empresas morrem e nascem na velocidade de dias. 13 “TIVE UMA IDEIA! Esse é exatamente o pensamento que passa MEU DEUS, VOU na cabeça de 99% dos jovens que vivem so- FICAR RICO.” nhando em ser o novo Mark Zuckerberg. A glamourização do empre- endedorismo, impulsio- nada pelo Vale do Silício e também pela mídia, faz com que a ideia de ter um negócio no Bra- sil seja algo como visto no filme A rede social, do brilhante David Fincher. Raramente os novos empreendedores no país têm como modelos de empreendedores homens como Abílio Diniz e Jorge Paulo Lehmann. Desa- fio quem cite Everardo Ferreira Telles, menos famoso do que os dois primeiros, mas que fez um dos maiores exits de todos os tempos no Bra- sil, vendendo a Ypióca 17 para a Diageo por U$470 milhões. Nós temos um monte de exemplos de grandes em- preendedores dentro de casa, mas costumamos olhar para fora, influenciados pela última década. A internet é a culpada, juntamente com a assessoria de imprensa mal utilizada. A distorção do modelo empreendedor, por conta des- sas variáveis, influencia significativamente uma cul- tura que ainda está aprendendo a lidar com o empre- endedorismo digital, com as novas economias e com o fator de ter um negócio. “Os grandes tagarelas não são grandes realizadores.” — Provérbio francês A maioria dos novos empreendedores ainda não cap- tou a mensagem de que o maior valor de uma empre- sa é exatamente “gerar valor”. Faturar, dar lucro e deixar os sócios também confortáveis para decidirem melhor o futuro. Existem muitas empresas que apa- recem na capa de revistas e não geram um centavo sequer de receita. Uma hora essa conta chega. Como costuma dizer um dos meus sócios, o Dutra, “não existe café grátis”. Veja a educação financeira, por exemplo. A maioria 18 dos empreendedores impulsionado por as- não teve a educação fi- sessoria de imprensa, nanceira necessária para é um cara de sucesso. gerir um negócio. Coisas Aliás, o que é sucesso? básicas como fluxo de caixa e juros são apren- Apesar de este ser um didos com o “andar da livro basicamente para carruagem”. Entenda falar sobre uma nova que não é uma crítica, economia (ou novas mas é exatamente em economias), ele se con- finanças que a maioria funde acidentalmente dos empreendedores se com empreendedorismo, perde. o que é bom, pois as- sim minhas esperanças Ter um negócio digital, são maiores. Imagino sonho comum de oito que, daqui, saiam bons em cada dez jovens que empreendedores, ideias aspiram ser e empresas, especial- empreendedores, é ba- mente com o mindset de sicamente ter uma ideia faturarem sempre. para a maioria. Então, o recado é: Ideia não é nada! É ape- preparem-se. nas um sinal. Sem filtros, escreverei Na verdade, isso é um direto sobre o que é, na grande sinal para você, prática, empreender no que acha que aquele Brasil. cara que está na mídia, 19 A verdade que de um business plan erra- aquele portal do, por você brigar com um sócio e não querer de empreende- olhar mais para ele no dorismo não escritório, por processos te conta trabalhistas tomarem todos os seus recursos, O brasileiro é o povo por falta de dinheiro mais criativo do mundo para você crescer, ou por (a Nasa precisa mesmo não ter mão de obra ex- estudar isso). Por isso é celente de sobra (vai ter que temos tantos em- de garimpar). preendedores brilhan- tes. Mas empreender na prática é um exercício Se você for teimoso de gestão de crises di- e passar por tudo isso, árias. Antes de você ainda restará o desafio começar a dar lucro, o de fazer gestão, que é governo vai tentar fe- algo extremamente im- char a sua empresa. portante. Se você for persistente Se você for doido e tiver um diferencial, terá possivelmente um ele será seu sócio. Ainda bom negócio na mão, assim, terá riscos diretos rentável e sustentável. de essa empresa quebrar, seja por conta de um Não confunda com pes- concorrente, por conta simismo o que escrevi. 20 Texto original de 3 de maio de 2015, retirado do blog do autor, em http:// www.sonhogrande.com. Quando larguei o banco, em julho de 2013, para empreender pela tercei- ra vez, tive a sensação que poucas pessoas pre- senciam na vida: largar tudo e reiniciar do zero uma história. Pedir de- missão e largar minha rotina não foram o mais difícil, mas sim voltar a ter o ganho mensal que tinha como executivo do banco. Criar algo do zero, sem mercado ainda, sem receita e sem modelo de negócio, foi e sem- pre será o maior desafio para empreendedores 23 que largam seus empre- Arena (que por sinal é gos para começar um ótima, veja em https:// negócio. www.youtube.com/ watch?v=igjPU9xSLeg), Sem grana, amigo, recebi um insight importante que sempre você vai desistir. defendi, para alguém que sonha em empreender e ainda Por mais que seja ino- não colocou em prática. vador, promissor e que Ele cita três momentos comece a ter audiência, da vida para ser um se não tiver o retorno em-preendedor. Vamos financeiro esperado, a a eles. casa vai cair. Antes de largar minha vida no banco, eu me prepa- rei alguns meses para Quando você a paulada que teria de não tem nada receber nos primeiros meses como empreen- Não ter nada significa: dedor. Afinal, as contas não correr riscos. Essa não param de chegar fase da vida, quando enquanto você começa você ainda está saindo um negócio do zero. da faculdade ou entran- do na vida profissional, é Assistindo a um vídeo um dos momentos mais da entrevista do Da- propícios para entrar de niel Heise no Man in the cabeça em algum negócio. 24 Entenda esse período tem o empreendedor como aquele em que dedicado no sangue. Se você ainda é um pro- essa fase não tem risco, tótipo, sem ter família por que não? para sustentar, moran- do com seus pais, ga- Muitos largam inclusi- nhando pouco dinheiro ve a faculdade para se e com o futuro inteiro dedicar ao seu negócio. pela frente. Se você tem Normalmente, quem já pouco a perder, esse é o inicia alguma empre- momento. O que vier de sa nessa fase, não tem bom é lucro. os riscos inerentes ao empreender, mas bate O grande problema des- a cabeça para achar um sa fase é que a maturi- bom sócio. dade ainda não atingiu o coração. E os sonhos Também tem imaturi- dos jovens entre 18 e dade para grandes pro- 25 anos raramente são jetos, não conhece sobre empreender de verdade. finanças (que é crítico Eles querem dinheiro para qualquer negócio), para comprar um bom não tem a experiên- carro, ou estão bancan- cia para gestão e toma do a própria faculdade, algumas decisões movi- o que dificulta abdicar das por paixão. Ou seja, de um emprego que está sofrem bastante com viabilizando isso. Mas a imaturidade imposta acredite, esse é um óti- pela idade. É algo abso- mo momento para quem lutamente normal. 25 Quando você pessoas de 25 a 35 anos, tem alguma mas você pensa: coragem “E se der errado?” A segunda fase é exata- mente aquela em que eu Se der errado, você estava inserido em 2013 recomeça novamente. quando abdiquei remu- Simples assim. neração variável, FGTS, vale alimentação, en- Não é o momento ide- tre outros benefícios. Já al do ponto de vista de tinha um bom cargo, era maturidade ainda, mas respeitado, tinha con- esse é o timing cer- forto financeiro e pode- to para a transição de ria arriscar, se planejas- carreira. Você já levou se a empreitada. alguns tapas, já adquiriu experiência e tem algum Nessa fase, o grande recurso para se planejar. problema é o risco. Você É basicamente ter co- já tem algo a perder. ragem, desprendimento de status e de outras Já tem a casa, o carro e dezenas de coisas, que rotina dos sonhos, tudo o mundo corporativo com conforto e segu- permite. rança. Para os inquietos como eu, o grande passo Empreender nessa fase é a coragem. O espírito é um alto risco. Você empreendedor aflora em terá de se preparar 26 financeiramente e ter Fechei 130 contratos em mente o plano B, impulsionado pelo break caso sua empreitada dê even. Minha meta pessoal errado. era atingir o mesmo ga- nho que tinha no banco. No meu caso, o risco era Essa é uma fase em que exatamente o que me sangue e suor escorrem impulsionava para tra- juntos na pele. A família zer receita para a em- precisa estar prepara- presa. Eu, com dois fi- da para o baque e para a lhos, casa e contas para nova ordem econômica pagar, batia diariamente que chegará. Como disse na dúvida se estava no o Daniel Heise no vídeo, caminho certo. Quanto se você tiver um(a) par- mais arriscado ficava, ceiro(a) do lado, esse é o mais contratos eu fe- momento! chava. Era uma coisa maluca! Quando eu via o hori- zonte do fluxo financei- ro do business plan aper- tar, eu dava um jeito de empurrá-lo mais para a frente. Assim, a Vindi (http://vindi.com.br/) ganhava mais três, qua- tro meses de vida. 27 Quando você Analise, por exemplo, é o cara! a média dos investido- res anjos brasileiros: 44 Você já conquistou tudo, anos. Exemplos práticos? dinheiro, patrimônio, Reid Hoffman, criou o maturidade e conhece LinkedIn com 35 anos. muito do seu merca- Robert Noyce criou a do. Você é um PhD em Intel com 41 anos. Esses suas competências. Por são simples exemplos, que não juntar todas as mas servem de inspi- referências, experiên- ração. Não vou contar a cia, grana e maturidade, história deles aqui, mas para colocar em prática vale a pesquisa. o que você mais sabe? A experiência, a repu- Normalmente, esse tação e a frieza contam perfil de empreendedor muito nesse período. E, está pronto para todas na verdade, o empre- as porradas, pois ele já endedor nessa fase já as tomou no início. Sabe conquistou a maioria sobre gestão, conhece das coisas que tinha nos pessoas, tem um ótimo planos. A serenidade networking em sua área dessa idade faz muita e tem a segurança fi- diferença, tanto para nanceira de poder arris- escolher as pessoas cer- car, sem comprometer o tas para montar o time, orçamento da família. achar um co-founder que tenha os mesmos princípios para seguir 28 Para entender os basti- dores das “Juntas Co- merciais” pelo Brasil, vamos falar de morte primeiro. Se a sua ideia, ilustrada no capítulo anterior, é criar um aplicativo de sucesso, uma empresa de alto impacto ou um projeto de transforma- ção da natureza, rezo para que seja com um modelo no qual sua re- ceita seja recorrente. Atuando em um grande banco, a maior parte do tempo à frente de áreas conectadas ao empreen- dedorismo, a maior cer- teza de que tenho é que empresas quebram mais rápido do que demoram para serem constituídas. Vi isso na face de mi- lhares de empresários. E o que era pior: muitos 31 nem sabiam que esta- Que triste isso para um vam “quebrados”. É um país, certo? Não sei. Até problema cultural que suspeito que, por con- temos. Estamos apren- ta da criatividade que dendo a criar uma cul- temos por aqui, esse tura empreendedora. número, informado pelo IBGE, seja ainda maior. 3.1 METADE A maior taxa de DAS EMPRESAS fechamento é no MORRE EM ME- primeiro ano. NOS DE 4 ANOS O período considerado Segundo a pesquisa feita na pesquisa foi de qua- pelo Instituto Brasileiro tro anos, mas a época de Geografia e Estatís- mais crítica é o primei- tica, “52,5% das empre- ro ano, após a abertura sas morrem em menos de da empresa. Cerca de 4 anos”. Para chegar a 22% das empresas não essa conclusão, a pes- resistem aos primeiros quisa considerou a com- doze meses. Mais 12% paração entre o número das empresas fecham de empresas abertas em durante o segundo ano; 2009 e quantas delas 10% durante o terceiro ainda estavam ativas em ano e, finalmente, 8% 2013. no quarto ano. 32 E as microempresas 2009 ainda estavam em funcionamento em 2013. são as que mais fecham. A pesquisa do IBGE mostrou que empresas de alguns setores es- A pesquisa apontou que, pecíficos tiveram taxa quanto maior o porte da de sobrevivência acima empresa, maiores são da média. Esses setores as chances de sobrevi- foram: saúde humana vência. Entre as micro- e serviços sociais, ati- empresas individuais vidades imobiliárias e – aquelas que não pos- atividades profissionais, suem funcionários con- científicas e técnicas. tratados –, apenas 40% resistiram aos quatro Além disso, ao longo anos iniciais. dos anos, todos os se- tores estão passando Já entre as empresas por lentos aumentos na com pelo menos 1 fun- taxa de sobrevivência. cionário, essa porcen- Ou seja, as taxas ainda tagem de sobrevivência são baixas, mas estão subiu para 69,1%. As melhorando aos poucos. empresas de médio e A única exceção a essa grande porte, com 10 regra é o setor de eletri- funcionários ou mais, cidade e gás. apresentaram o maior desempenho: mais de 76% das abertas em 33 94% das empresas O número mais curioso é que 75% das que re- (não só startups) cebem investimentos não conseguem também não conseguem sobreviver. Esse é um atingir U$ 1 milhão estudo feito pela Har- vard Business School de faturamento (pelo professor Shikhar no ano. Ghosh), que analisou o comportamento de startups que receberam Essa é uma afirmação investimentos abaixo de do livro Scaling Up: How a U$1 milhão de dólares Few Companies Make It... de 2004 a 2010. and Why the Rest Don’t, de Verne Harnish. Ana- O que mais preocupa é lise os números da pes- que, no Brasil, não te- quisa da Allmand Law: mos isso de forma con- sistente em análises. • 90% das startups glo- Se esse número é 90% bais morrem; em uma análise glo- • 75% das que recebem bal, quanto é no Brasil? dinheiro de venture capi- Chuto que é um número, tal fracassam; pelo menos, maior. Pre- • No Vale do Silício, ocupante, no mínimo. 80% delas não conse- guem sucesso; Gostaria de saber: quan- • Por que você acha que tas startups de tecno- será diferente com você? logia morrem no Brasil 35 por ano? Existe uma associação brasileira de startups, a ABStartups, porém ela não sabe dizer qual a real mortalidade delas no país. Alguns números demons- tram, inclusive, a fragilidade por mercados. É o que também mostra a pesquisa feita em janeiro de 2014, pela Statistic Brain (http://www.statisticbrain.com/). 3.3 MAIORES NAUFRÁGIOS POR INDÚSTRIA Curioso é ver que, na pesquisa, as empresas de tecno- logia, representadas em sua maioria pela literal “In- formation”, têm o melhor número frente aos outros ramos/nichos. Reprodução: Statistic Brain 36 A Forbes, por sua vez, difícil manter qualquer enumerou alguns dos operação. Afinal, o que motivos principais para vai sustentar o negócio levar uma empresa em- como um todo? brionária para a falên- cia financeira ou para o Outra questão é a pouca abismo conceitual. Gos- escalabilidade da ideia. to bastante dessa aná- Um mercado de dezenas lise sobre o que se deve de consumidores não ou não fazer, apesar de atrai tanto quanto um ser muito subjetiva. A mercado de milhares e pesquisa enumera pon- até milhões de poten- tos importantes sobre o ciais clientes. Se a sua tema. Segue cada tópico ideia não contempla ga- com nossa opinião. nhar dinheiro através de clientes, pode começar a 1) Pouca escalabilida- se preocupar. de (ou inexistente) 2) Posicionamento de Além de ser o princi- mercado (ou erro de pal motivo para não pesquisa) despertar interesse do investidor, existe a per- Muito comum é ver gunta: como os sócios/ alguém com uma baita fundadores vão ganhar ideia que outra empre- dinheiro? Se a ideia não sa já teve, ou pior, já tiver um motivo prin- executa. Já presenciei cipal de venda de ser- alguns empreendedores viço ou produto, fica chateados dizendo que 37 “fulano” roubou a ideia à etapa de crescimento, ou pensou na execução a startup tem de olhar primeiro. Antes de levar um tanto para fora do adiante uma boa ideia, produto e olhar para o é imprescindível ver o mercado, analisar o que que acontece ao redor: vai fazer para ganhar “Quem é o público-alvo? “campo” e clientes, e Qual a necessidade dele?”. blindar a entrada de São perguntas simples, concorrentes. Lembre- que muitas vezes não -se de que o produto conseguimos responder. não é seu filho, e me- lhor: ele pode ter de Se você tivesse um mudar para se tornar e-commerce de cuecas, vendável, se for neces- qual seria seu público- sário. Outro ponto im- -alvo? Homens, certo? portante: se já tiver uma Errado. Quem compra estratégia de aquisição cueca são esposas e de clientes, como gastar mães, na maioria das menos para essa aqui- vezes (curiosamente). sição? Esse é um ponto crucial para qualquer 3) Sem estratégia negócio. de mercado (go-to- -marketing strategy) 4) Sem foco Esse tópico tem a ver Acho melhor nem co- com tração de vendas e mentar tanto. Um ne- também foco demasia- gócio sem foco tem do no produto. Para ir pouco tempo de vida. O 38 conselho é não querer 6) Paixão e persistência abraçar o mundo. Defina o público-alvo e dê tiros Se você está criando certeiros. algo para simplesmente ganhar dinheiro (ficar 5) Startup sem flexibi- milionário), seu negó- lidade cio não vai cativar co- laboradores, clientes, Manter o foco não sig- parceiros e investidores. nifica que você não Ter um objetivo am- possa adaptar uma ideia parado a uma paixão é e também não precise sempre benéfico, é pre- mudar de vez em quan- ciso fazer o que gosta do. E se você descobrir obrigatoriamente. Além no meio do caminho da persistência, que algo mais rentável e que pode ser, na verdade, o possa trazer o break even grande sucesso. No Bra- mais rápido? Startups sil, por exemplo, onde o sem flexibilidade cos- governo esmaga opera- tumam ser acometidas ções e obriga empreen- por cegueiras empreen- dedores à informalidade dedoras. O empreende- e obstáculos trabalhis- dor fica tão cego e não tas, ser persistente é enxerga que, ao lado, há um grande diferencial. uma oportunidade de Alguns empreendedores ouro. fazem, inclusive, uma oportunidade desses obstáculos. 39 7) Falta ou ausência de gestão disso tudo. Tenha liderança um propósito. Essa foi uma das maio- 8) Time (motivação e res preocupações que lealdade) tive nas empresas em que passei. Sempre de- Escolher uma pessoa cidi pela liderança, seja de talento é o segredo como empregado, como em pequenas, médias dono ou como colabora- e grandes empresas. A dor. Se sentia que esta- grande diferença é que, va sendo mal liderado, em startups, uma má pedia para mudar. contratação é catastró- fica. Além de depender Quando alguém sabe um tanto mais de cada liderar, a causa é abra- colaborador, uma star- çada como um soldado tup não tem processos feliz na guerra. É assim elaborados de RH, fi- também em processos nanceiro e de motivação de criação e empreen- na maioria das vezes. dedorismo. Se você não colocar todo mundo na Nesse ambiente, é co- mesma “remada”, vai mum o alto turnover, encontrar problemas. a ausência de lealdade Quando o investidor dos colaboradores (que chega com interesse, ele em alguns casos levam sempre é motivado pela informação para concor- equipe que está dentro e rentes), a desmotivação também por quem faz a porque gestores se es- 40 quecem do colaborador, 10) Modelos sem ex- e por fim, a dificuldade pectativa de receita de encontrar bons nomes no mercado. Atente-se Por mais conceitual que para a expressão “cara a ideia seja, ela precisa bom tá empregado”. ter no mínimo um ideal de receita futura. Não se 9) Projetos sem men- engane assistindo filmes tores ou conselheiros bonitinhos ou vendo palestras ultramoti- Você não vai conseguir vacionais. Mesmo em sozinho, isso é um fato. negócios bancados por Esse tópico tem a ver fundos de investimento com networking, com em que a ideia seja sus- conselhos e também tentada para se cons- com quem você se asso- truir audiência (leia-se cia. Todas as empresas Instagram, Twitter, de sucesso têm conse- WhatsApp, Tumblr, en- lhos estratégicos que tre outras redes sociais), partilham das decisões. a maioria delas tem Isso define, inclusive, como fim o ganho com as decisões do mercado publicidade ou venda de em que a startup atua. produtos e serviços. Não Pense que mesmo os existe café grátis. maiores empresários do mundo possuem mento- res. Estude a existência da Endeavor. 41 11) Capital necessário x a) Se a questão é crescer Necessidade de capital ou ganhar mercado: de quanto vou precisar? Quando o dinheiro che- ga, existem tantos erros b) Se for para melhorar cometidos que os inves- o produto, preciso mes- tidores já criaram di- mo de dinheiro? versas formas de acom- panhar esse processo, Muitas vezes, o dinheiro desde nomear um exe- é mal gasto, em outras cutivo para entrar lite- poucas é bem investido. ralmente na operação ou Perceba na história: in- criar instrumentos para vestimentos em startups planejar o orçamento e que naufragaram como a performance. Minha os casos de Napster, opinião é que o maior Lycos (essa só conhece erro é não conseguir quem é dinossauro da identificar a diferença internet) e Lastminu- entre capital necessário te.com. O que deve ter versus necessidade de acontecido? capital. 12) Retorno sobre In- A maioria dos empre- vestimento mal calcu- endedores sonha em ser lado (ROI) comprado em porcenta- gem por um grande VC Alguns especialistas (Venture Capital), o que calculam que um bom não é ruim, porém, será retorno sobre investi- só esse o objetivo? mento em startups seja 42 algo em torno dez vezes simplesmente destruir (10x) o valor investido um mercado inteiro. — ou seja, multiplique por dez o valor que você O artigo da Forbes, no investiu. Já outros afir- qual se baseia nesses mam que o interessante treze tópicos, cita como e viável é chegar em um exemplo o 11 de setem- “evaluation” honesto da bro, que implodiu o startup e também mul- mercado das agências de tiplicar por 10 (dez) esse viagens em Nova York. evaluation. É a má sorte entrando nesse jogo. Em contra- Nessa última teoria, se partida, alguns empre- sua startup está avaliada endedores aproveitam em R$100 mil, para se esse momento de crise ter um retorno ideal, os para reinventar algumas investidores precisam ideias. ver a escala para que nos próximos 5 anos ela Outra coisa interessante valha R$1 milhão. é o tempo certo. Exem- plo de timing errado 13) Má sorte ou timing foram os Palmtops, errado que nasceram nos anos 90 como uma espécie Essa é variável mais de agenda eletrônica imprevisível e dura de avançada. Eles eram na combater. Eventos ex- verdade um protótipo ternos, como uma crise de smartphone, e nas- ou um desastre, podem ciam mortos por conta 43 de timing. Chegaram ajudar de verdade nas na época errada. Quinze minhas decisões. E, de anos depois, os smar- fato, esquecer essa his- tphones são uma reali- tória de “glamour”. A dade e estão presentes. maioria das pessoas que me procuram para um A maior competên- conselho sempre chega querendo saber como cia do empreendedor atrair investidores e para é conseguir levan- olhar pitches feitos para conseguir investimento. tar para a próxima Poucas delas me procu- ram pedindo ajuda para porrada. conquistar clientes. O principal problema Tem outra coisa cha- de seguir essas teorias ta para caramba, que é e métodos (leia-se Lean muita gente discutindo Startup) é exatamente o conceito de ser em- não arriscar o suficien- preendedor, o que acaba te para criar a própria poluindo a cabeça da experiência de se em- maioria dos mais novos. preender. Antes de se- Recentemente, discus- guir fórmulas, prefiro sões em redes sociais sempre me espelhar mobilizaram centenas em quem conseguiu, e de pessoas no Brasil sempre pedir ajuda para para discutir quem é quem realmente im- empreendedor e quem porta, ou seja, que vai não é. 44 A maioria dos envolvidos Curiosidade: A expressão sequer sabe de fato o que “Foi para o vinagre” era comu- é empreender, ter uma mente usada por donos de equipe, criar um produ- vinícolas para dizer quando to etc. Compartilho uma uma produção era descartada. frase do Marco Gomes, Ou seja, quando o ar passava fundador da boo-box pelas rolhas ou quando a (http://boo-box.com/) safra não vingava, o vinho adquirida pela FTPI, que virava literalmente vinagre. diz: “Você só é empre- endedor se tiver produto, dinheiro, time e clientes”. O importante é que para os otimistas (aqueles 10% aos quais não fa- 3.4 NA MAIO- zemos referência nesse RIA DAS VEZES, texto), o caminho é mui- QUEM GANHA to promissor. São esses DINHEIRO É que vão virar notícia, vão ser seguidos e serão AQUELA STAR- responsáveis por criarem TUP “FEIA” mercados e inventarem negócios. Alguns deles Esta seção é para você vão mudar o mundo, que acha que seu negó- pode ter certeza. cio precisa estar incrível para se ganhar dinheiro. 45 Minha visita ao Vale do Yang, uma investidora Silício, em 2014, mudou paranaense que virou minha forma de ver o sócia da 500 Startups, empreendedorismo no uma das maiores acele- Brasil. Antes dessa vi- radoras do mundo, a rede sita, havia me formado Brazil Innovators é dos em um curso de verão epicentros da cultura do em Stanford, mas che- Vale no Brasil. Bedy e sua guei longe de vivenciar forte atuação à frente de o que acontece no am- um Venture Capital, que biente mais empreende- já investiu em empresas dor do mundo. como a ContaAzul (ht- tps://contaazul.com/), O projeto Techmission da faz a verdadeira ponte Brazil Innovators, ini- entre a cultura do Vale e ciativa empreendedora a realidade do Brasil. para conectar fundado- res brasileiros ao Silicon A imersão do programa, Valley, trouxe para mim de quase 10 dias, tem e os quase 40 empreen- o propósito de alinhar dedores que participa- os empreendedores do ram desde sua criação programa para um pitch em 2010 uma conexão profissional para im- direta com empreen- pressionar investidores dedores, investidores e e também fazer com que com o que acontece, de os participantes bebam fato, naquele lugar. da fonte mais inovadora do mundo. E isso, eles Capitaneado pela Bedy cumprem. 46 O impacto é grande 500 Startups e Dave McClure para quem é um A “500” (five hundred, hard learning. como é popularmente conhecida) é uma ace- A oportunidade de fa- leradora que nasceu da lar com investidores de ideia de Dave McClure, companhias bilionárias ex-Diretor de Marketing e empreendedores que já do PayPal, que virou in- impactam pessoas mun- vestidor e vem fazendo dialmente é única. Esti- um estrago positivo nas ve na IDEO (o berço do empresas embrionárias design thinking no mun- por lá. do), na Salesforce (que bancou um happy hour Dave é um dos inte- para os brasileiros), na grantes da PayPal Mafia, Skycatch (uma startup comunidade mais atu- que fabrica Drones), ante nos investimentos na Accel Partners (in- do Vale do Silício atual- vestiram no Facebook, mente. Elon Musk, Peter Spotify e Cloudera) e na Thiel e Red Hoffman própria 500 Startups, (um terço da PayPal que era nosso ponto de Mafia) têm uma história partida para o road show peculiar de serem inves- empreendedor. tidores anjos de alguns dos negócios mais in- fluentes do mundo. 47 Peter Thiel é investidor gente como Sean Perci- anjo do Facebook. O Sr. val (ex-vice-presidente Hoffman é investidor do MySpace), Cristina anjo de Airbnb e fundou Tsai (ex-Google e You- o LinkedIn. Já o Elon Tube) e do próprio Dave. Musk... Deixa para lá, não O propósito da acelera- vou perder meu tempo dora é exatamente po- aqui explicando o que tencializar negócios que esse cara vem fazendo. já estão no MVP (Míni- mo Produto Viável) e que Para fomentar o capi- precisam de uma men- tal semente e acelerar toria para ajustar produ- startups inovadoras tos, estratégias e escala- de todos os lugares do bilidade dos negócios. mundo, Dave fundou a “500” para investir Hoje, a “500” acumula nessas empresas um pe- mais de 1.000 investidas queno capital (algo em nesse processo. Startups torno de U$50 mil dóla- brasileiras como Conten- res, em média) e prepa- tools, VaiVolta, Edools, rá-las em um projeto de ContaAzul, entre outras imersão de quase quatro dezenas, já participaram meses para potencializar da imersão. Todas elas, o negócio. E Dave parece amparadas pelo olho clí- ter colhido bons frutos. nico da Bedy Yang. A startup que participa Foi exatamente lá na da imersão recebe uma aceleradora que atestei mentoria sem filtros de uma das minhas teses 48 mais reais quando o vão ganhar dinheiro. assunto é empreende- As startups “feias” dorismo: as startups “feias” geralmente ganham dinheiro antes das “sexys”. pagam a conta! Isso foi constatado pelo Se trouxermos para a próprio Dave McClu- realidade brasileira, essa re e os sócios da 500 dinâmica também faz Startups, em um debate sentido. E por aqui, o sobre a cultura do Vale romantismo complica do Silício e sobre Ventu- ainda mais a visão do re Capital. Em um ponto empreendedor. da discussão, os sócios evidenciaram que quem O surgimento de uma traz resultados para a grande quantidade de maioria das acelerado- aplicativos, redes sociais ras são startups que não e plataformas nos últimos correm no mainstream cinco anos no país vieram usual do empreendedo- motivados pelo sonho ir- rismo no Vale. real de serem o novo Fa- cebook ou o novo Snap- Ou seja, as startups que chat. Mas a maioria não já nascem com um mo- sabe como vão ganhar delo de receita existente dinheiro. E isso precisa sustentam parte dos in- ser absorvido pelos em- vestimentos em algumas preendedores que virão que nem sabem como nas próximas gerações. 49 O Vale do Silício conse- lá. E isso tem de refletir gue sustentar produtos em uma mentalidade que não geram receita que faça os empreende- por muito tempo. Lá o dores mudarem. capital é vasto, e a cul- tura do capital de risco existe há décadas. Por Negócio bom é aqui, é o inverso, temos pouco capital e pouca o negócio que experiência em capital gera valor. de risco. E isso reflete diretamente no que es- tamos criando. A maioria dos projetos que nascem em tecno- logia por aqui são dire- tamente influenciados por iniciativas de outros lugares do mundo. Es- tamos aprendendo, isso é um fato, mas está na hora de protagonizar o empreendedorismo, pelo menos na América Latina. Para isso, pre- cisamos entender que o dinheiro daqui não tem o mesmo preço que o de 50 Este livro tem um pouco das minhas conversas e negociações com o Mu- rilo Gun, comediante e agora empreendedor, e a conexão que a pales- tra dele Life-as-a-Service nos trouxe até a Vindi em 2013. Talvez este livro não ti- vesse saído, se não fosse a mensagem dele, lá em 2013. As conversas e discussões que tivemos desde então entre shows de standup, mensagens via WhatsApp, os de- sencontros na Singula- rity University na Nasa e o fundrarising que ca- pitaneei com a Vindi em 2015, foram intensas o suficiente para ter con- teúdo para o livro. Minha decisão foi, além de expor minha visão sobre acesso, falar sobre 53 novas economias e como redes de compartilha- elas impactam nossa mento e colaboração. Fica vida. claro no texto que o poder vem mudando de mãos. 4.1 DA PRO- A informação vale, PRIEDADE enfim, mais que PARA O ACESSO petróleo. O livro O que é meu é seu, Ficou claro para algumas de Rachel Botsman, é pessoas que a virada dos uma verdadeira joia sobre anos 90 traria algo bem o consumo colaborativo. importante no consumo. Ele inspirou este livro e E isso se materializou também diversos outros em indústrias inteiras sobre a economia justa. ruindo através de um Também influenciou a conceito velho de domi- palestra do Murilo Life- nância. A maioria delas -as-a-Service. não ouviu o suplicar das pessoas, que na prática Para ilustrar algumas são consumidores. premissas filosóficas, o livro disseca fenômenos A grande influência das como o Wikipédia, Crai- melhores discussões glist e Twitter conseguem sobre a não aquisição de ser influentes e poderosas alguns bens materiais 54 está implícita no livro A comprar produtos. So- era do acesso, de Jeremy mente o necessário terá Rifkin. Em 2001, ele já valor. As gerações se- afirmava que as novas guintes à minha (nasci gerações não compra- em 1981) já estão com riam mais nada material, chips formatados para apenas alugariam e de- não quererem adquirir volveriam quando não coisas com pouca apli- mais precisassem. Isso cação prática. Jovens se provou real? Para de hoje não querem ter caramba. As empresas carros (sonho clássico mudaram tanto seus da geração coca-cola), modelos comerciais em não querem ter dívidas 10 anos que, em outras de financiamento para épocas, se tratando de comprar imóveis (sonho intensidade, levariam clássico dos baby-boo- décadas para morrerem, mers), tampouco que- nascerem e chegarem ao rem receber uma ligação topo tão rapidamente. de uma loja, oferecendo Hoje em dia, startups algo. saem do zero para os bilhões em poucos anos. O poder estará, daqui para a frente, com em- A minha principal con- presas que oferecem clusão na mudança do acesso a itens essenciais perfil do consumidor da para o consumo mo- última década é que de derno. Uma pesquisa fato estamos prontos elaborada pela Prophet para novas formas de indicou que a geração Y 55 prefere smartphone a Das 20 empresas mais automóveis. E, cá entre valiosas no mundo, 9 nós, smartphones têm delas fornecem aces- uma aplicação bem mais so e não produtos. São prática (e sustentável) softwares, streamings e no dia a dia do que um serviços na nuvem. Na carro, certo? lista de Amazon, Apple e Google, algumas em- A Netflix, por exem- presas vendiam pro- plo, é a condensação de dutos físicos até o final uma nova geração ávi- dos anos 2000. Algumas da pela mudança que a delas já ensaiam a mu- Blockbuster não previu. dança da propriedade O Instagram bem que para o acesso, o caso de poderia ter sido cria- Microsoft, Oracle e IBM. do dentro da Kodak e Essa pesquisa da In- a AOL teria facilmen- terbrand, elaborada em te criado um Facebook Setembro de 2015, ainda se não fosse um fator tem grandes indústrias muito transformador: de veículos. Ainda tem. a inovação. Grandes corporações são, em alguns casos, paquider- mes cegos sedentos por 4.2 “STARTUPS aumentar lucros, e es- MATAM” quecem-se de que agora as empresas nascem nas Sempre tive um olhar garagens. profundo sobre novas economias, sobre novas 56 tendências e também onda das relações hu- sobre o poder da tecno- manas e comerciais. logia no perfil de consu- Hoje, existem melhores mo e na vida das pesso- maneiras de construir as. Usei o Uber no Brasil um negócio: estamos na (e nos EUA), quando era de relacionamen- ainda perseguiam o Easy tos transparentes com Taxi e o 99Taxis em São nossos clientes. E isso é Paulo. Assim também a sustentabilidade das foi com o Airbnb, Kicks- relações comerciais: ser tarter e outros aplicati- transparente e útil até vos de que muito se fala quando puder. hoje em dia. Mas nem sempre foram. A economia da recorrên- cia, assunto que estudo Levou certo tempo para bastante, é a economia convencer minha sogra da subscrição (das assi- que podia acreditar em naturas). Devemos pagar mim e na minha cunha- por serviços pensando na da Nanci, que planejou utilidade, conveniência e uma viagem aos EUA comodidade do consumi- em que nós ficaríamos dor. E isso requer a cria- na casa de uma família ção de uma nova forma americana, que estava de consumo, aquela que cedendo o espaço em não limita relacionamen- troca de uma experiên- tos comerciais através de cia de verdade. contratos, fidelidades ou carências. A relação deve Estamos em uma nova basear-se no bom serviço 57 prestado através de uma 4.3 O PEQUENO renovação periódica. MANIFESTO DA Transparente, a econo- ECONOMIA DA mia da recorrência é o RECORRÊNCIA “ganha-ganha” entre empresas e clientes. Por esse princípio, o manifesto da economia Empresas como Sales- da recorrência, elabo- force, Netflix, Sem Parar rado nas minhas expe- (vendida por R$4 bilhões riências e observações, para a Fleetcor), Zen- contempla algumas re- desk, Mailchimp, Zuora, gras para que empresas Amazon, entre outras possam fazer parte des- milhares, já transformam se grupo que promove o mundo por meio dessa a criação de uma nova nova economia. E mui- economia e sustenta o ta gente não percebeu o recurring business model impacto dela na própria (modelo de negócio re- economia moderna. corrente): • Simplicidade na ade- são e no cancelamento; • Precificação baseada em consumo, tabelas ou ranges; 58 • Serviços transparentes 4.4 O FIM DA (sem contratos leoninos); BLOCKBUSTER • Produtos e serviços as a Eu era um fã fiel de lo- service (direitos de acesso cadoras. O ambiente das e não propriedade); locadoras era, em sua maioria, um minioásis • Conveniência, como- para mim. Fiz dois anos didade e utilidade. de Cinema. Fiz amigos entre as prateleiras. Esses itens são os prin- Escolher um bom filme cípios básicos das em- era um ritual impor- presas de sucesso em tante para minha rotina todo lugar do mundo. funcionar. Essa tarefa A maioria delas já di- de arriscar um filme só recionam suas equipes pela descrição dele na de desenvolvimento de capa de um fita VHS, se produtos para um con- bem executada, era a sumo consciente, por certeza de um bom final um grande motivo: de semana. Mas durou pouco, pelo menos para O novo consumidor minha geração. não vai aceitar o Um dos exemplos mais emblemáticos de que o capitalismo incons- benefício tomou conta do consciente coletivo ciente. do consumo das pes- soas foi a extinção da 59 Blockbuster. A empresa americana, que teve cerca de 70 milhões de clientes no mundo, no auge da sua operação (2009), ruiu em pouco tempo, por conta da mudança do perfil do consumidor. Não fazia sentido, em pleno ano de 2013, pagar cerca de R$13,00 por uma locação de um filme, se a Netflix oferecia mi- lhares de títulos a um preço de R$14,90 na mesma época. Pausa aqui: não foi a Netflix que arruinou a Blo- ckbuster, e sim o consumidor. HM Home Video 60 4.5 A NETFLIX A Blockbuster demorou ANUNCIA O para aceitar a mudança, EXCREMENTO assim como centenas de grandes empresas no PARA INDÚS- mundo. Imagine o poder TRIA COM de distribuição e de ne- FOCO NA gociação que a empresa PROPRIEDADE tinha sobre os grandes estúdios de cinema. A derrocada da Blo- Por que não seguiram ckbuster foi só um a onda de empresas prenúncio para o que como Netflix, Netmovies vinha por aí. O merca- e Hulu, mudando sua do de aluguel de filmes forma e modelo? Eles foi transformado em tinham diversos fatores pó. E isso não foi culpa que faziam deles com- da Netflix, foi o movi- petidores potenciais no mento normal dos nos- mercado de streaming sos hábitos na hora de de filmes, menos um: consumir. inovação. Smartphones, tablets, Para muitos, inovação computadores pessoais é criar algo tecnológi- e televisores inteligentes co que ninguém nunca trouxeram a necessidade pensou. Também é, mas de revalidar toda a for- não somente isso. Ino- ma como nos relacioná- vação também é inovar vamos com o ambiente e no ato da entrega. com as pessoas. 61 4.6 SOFTWARE dows (outro programa COMO SERVIÇO que nós comprávamos (SAAS) – ou, pelo menos, deve- ríamos comprar). Quem nasceu antes da Copa do Caniggia Era o início de um con- (1990), lembra clara- tato muito importante mente do boom das lojas que prepararia as pesso- e feiras de informáti- as em todos os lugares ca com as prateleiras do mundo a entender cheias de softwares em como o software muda- “caixinhas”. ria a vida delas. Você instalava no com- Anos 90 (início putador praticamente da revolução tudo para fazer um sis- digital) tema rodar. A AOL obri- gava a instalação de um Os softwares eram pro- CD para você enviar um dutos. Nós compráva- simples e-mail. mos, levávamos a caixa para casa e tínhamos No século passado, o propriedade sobre aque- mercado de CRM era la licença de uso. Como dominado pelos gran- se acessava e-mail? des players de software Por meio de um pro- SAP, Oracle, Microsoft e grama (normalmente, IBM. Até que, em 1999, o Outlook Express) que ex-executivos da Oracle vinha dentro do Win- encabeçados por Marc 64 Benioff criaram a Sa- mais inovadoras da re- lesforce e começaram a vista Forbes. mudar o mercado. No momento em que Anos 2000 escrevo este texto (se- tembro de 2015), a Sa- Durante os primeiros lesforce é o software de anos da empresa, Marc CRM líder mundial, com Benioff dava entrevistas mais de 100 mil clientes e palestras sempre ao e mais de 2 milhões de lado de uma logomarca usuários. E é o primei- ou vestindo uma cami- ro SaaS (software as a seta com o dizer “NO service) a atingir U$10 SOFTWARE”, pregando bilhões de receita recor- o fim do software no rente ao ano. modelo tradicional de venda (propriedade) e Vale lembrar de que o defendendo um modelo mercado de CRMs é bem baseado em acesso (na relevante: faturou U$26 nuvem). bilhões de dólares em 2013, e está em pleno Não existem dúvidas de crescimento, com pre- que as vantagens são visão de chegar a U$36 justificadas pelo preço e bilhões de dólares em pela utilidade do modelo 2017, segundo previsão do software as a service. do Gartner. Alem disso, a Mas nem sempre foi Salesforce é o atual líder assim. do ranking de empresas 65 A cruzada da Salesforce por lá, que precisavam para capitanear o SaaS somente pagar uma no mundo não foi sim- assinatura para obter ples. Todas as empresas o acesso ao software. do modelo do softwa- Começava aí a revolução re tradicional fizeram do software e da com- vista grossa no início, putação na nuvem. quando Marc e o time recém-saído da Oracle O Adobe Photoshop, um formaram a Salesfor- dos softwares gráficos ce. Era impensável não mais completos e popu- cobrar pelo uso de ERPs lares do mundo, já está ou CRMs sem cobrar um disponível pela internet valor de entrada para por menos de cinquenta adquirir aquele softwa- reais por mês. re. Ser dono era o mo- delo ideal para as gran- No Brasil, temos visto des empresas. algumas iniciativas in- teressantes de empresas A mudança da proprie- criadas e de mercados dade para acesso, no nascendo no modelo mercado de softwares, SaaS, mas ainda temos era comandada de São pouca expressão perante Francisco por Marc. mercados mais maduros Primeiro pelas portas de em inovação, como Es- entrada mais aderen- tados Unidos (nem vale tes ao conceito, ou seja, a comparação por conta as novas empresas de do tamanho e maturida- tecnologia que surgiam de do mercado). 66 O modelo SaaS é um outros centros de inova- dos principais demo- ção e polos fora de gran- cratizadores, do ponto des cidades sejam criados de vista de distribuição, para formar ecossistemas de software que existe. de inovação. Esse é o motor que fez da Vindi, a plataforma Uma pequena comuni- de cobrança recorrente dade de empreendedores que fundei em 2013, ter formada por algumas conseguido centenas de empresas em Belo Hori- empresas clientes em zonte, hoje intitulada de mais de 100 cidades no San Pedro Valley (numa Brasil, sem que qual- alusão ao Sillicon Val- quer executivo de ven- ley e ao nome do bairro das tenha pisado nesses São Pedro), já é o centro municípios, por exem- de gravidade empreen- plo. O modelo permite a dedora mais funcional contratação de serviço dos polos de inovação através de contratos di- no Brasil. Isso por conta gitais, termos de serviço da atuação dos próprios de uso, demonstração empreendedores e re- via Skype ou Hangout presentatividade das do Google, e a economia empresas participantes. de tempo e espaço que o software na nuvem Casos de empresas com possibilita. pouco tempo de vida já chamam a atenção de Além disso, a revolução grandes corporações, do software faz com que superinvestidores e até 67 compradores estrangei- cida, é com certeza o ros. Rock Content, maior nome do marke- Ezlike (adquirida pela ting e vendas no país americana Gravit4) e a entre as startups. Com Sympla (ambas inse- mais de 2.000 clientes, ridas na comunidade a empresa é a prova viva empreendedora mineira de que o modelo funcio- San Pedro Valley) são na bem, mesmo que seja bons exemplos de que desafiador no Brasil, por a revolução do softwa- conta de infraestrutura e re faz a transformação de falta de mão de obra transbordar de cidades especializada. como São Paulo e Rio e Janeiro, que seriam Santa Catarina tam- exemplos fáceis de ino- bém pariu um outro var, mais do que no filho vistoso, caso do resto do Brasil. ContaAzul, SaaS finan- ceiro para contadores e E não para por aí. A autônomos que faz um revolução do marke- trabalho muito legal em ting, promovida pela software na nuvem. empresa de automação São Paulo, pelo tamanho de marketing Resulta- e pela gravidade empre- dos Digitais (fundada endedora, também pro- em 2011), faz de Floria- duz bons cases de em- nópolis a nova cara do presas embrionárias que empreendedorismo no ascendem rapidamente sul do país. A RD, como ao patamar de milio- é popularmente conhe- nárias. São milhares de 68 exemplos pulsantes que nascem diariamente, descon- troladamente, e ainda assim, conseguem na capital paulista despontar no chamado “novo empreendedo- rismo”. Esse por si só é assunto para outro livro, mas vale provocar: ainda não dá para criarmos uma em- presa com tamanho impacto e audiência como para patamares de unicórnios? O site brasileiro Projeto Draft (projetodraft.com) ilus- trou bem a definição de “unicórnios”: “Basicamente, são startups que passaram do valor de 1 bilhão de dólares. E o mundo precisa mais delas. Afinal de contas, é daí que virão as próximas grandes soluções mundiais, as próximas com- panhias que devem enriquecer países, gerar empregos etc.” Fazendo um parênteses, e já citando um exemplo de software em plena transformação (assim como a SAP, citada anteriormente), a Totvs, gigante brasileira, afirmou na revista Exame (edição de 30 de Julho de 2015) que a mira agora é o modelo de assinaturas. “A gente tem que sentar numa cadeira um pouqui- nho maior que a gente, é importante se sentir inco- modado, pois a gente sempre pode mais” — Laercio Consentino - Totvs. 69 A Totvs, fundada em 1983, é a maior empresa instalados em PCs e de softwares da Amé- rica Latina. Com ações notebooks são na bolsa, a empresa piratas! tem valor estimado em R$6,4 bilhões. É uma A afirmação é da BSA - das poucas empresas de The Software Alliance tecnologia com o valua- (www.bsa.org), uma en- tion acima do bilhão. É tidade que regulamenta um dos bons exemplos e combate a pirataria do poder tecnológico que do software no mundo. a capital paulista pode Com presença em mais produzir. E ela vai ven- de 60 países, a BSA pu- der assinatura... blicou pesquisa em 2014 afirmando que o Brasil Vale analisar também tem um dos maiores que estamos apenas no índices de softwares não começo, e que a revo- licenciados do mundo. lução do software já é mais consolidada em países como Israel, que App as a service tem um polo modelo de inovação. A popularização dos smartphones criou um No Brasil, metade mercado do zero para bilhão, em poucos anos. dos softwares Existe uma economia girando muito dinheiro 70 em volta das “stores” da Mas o mais emblemático Apple e do Google. Em- de todos os apps é, sem presas com poucos anos dúvida, o WhatsApp. de vida começaram a valer mais do que em- Quanto tempo demora presas seculares. Games, para criar uma empresa apps de saúde, finanças com quase um bilhão de pessoais e de relaciona- usuários em todo mun- mento (dating) estão no do? O WhatsApp fez universo das pessoas de isso em 6 anos. uma forma tão normal, que elas nem se lem- bram como era viver sem tudo isso. Fonte: Facebook – Abril de 2015 71 Curiosidade: Israel produziu o ICQ, serviço de mensagens (pai do MSN, avô do WhatsApp), que foi vendido para a AOL em 1998 por U$400 milhões. Outro caso ainda mais impac- tante é o Waze, “o ceifador dos aparelhos de GPS”. A mobili- dade combinada ao sistema colaborativo do Waze ruiu toda indústria de hardwares de GPS no mundo. Algumas empresas, simples aplicativo. E, ainda que com pouco ainda por cima, é grátis. tempo de existência, Produto, necessidade e têm um alto impacto na problema condensados forma como consumi- em uma única razão: a mos serviços e produtos. necessidade de se O WhatsApp é a prova comunicar. real de que mudamos a forma de nos comunicar Desde a pré-história, co- por conta de um hábito. municar-se é problema. Fundado em 2009, na O WhatAspp sintetizou Califórnia, já é o apli- toda resolução em um cativo mais usado no aplicativo de mensagem. mundo. O app, que apa- rentemente parece sim- Na edição da Folha Mer- ples (não se engane), cado de 07/08/2015, es- mudou a forma como tava estampada a frase bilhões de pessoas se “WhatsApp é pirataria relacionam. E já arrui- pura”. O autor? O presi- nou dezenas de gigantes dente da maior empresa da telefonia com um de telefonia do país. Ele 72 disse a frase em um evento para milhares de pesso- as (em sua maioria, executivos) do ramo de TVs por assinatura. Justamente o mercado que também sofre com as plataformas abertas de vídeo sob demanda. Seria um ato de conforto? Ou um suspiro derradeiro de quem vai assistir uma nova revolução digital? Folha Mercado – 07 de agosto de 2015 Quem não é de tecnologia costuma esquecer a influ- ência que mudanças como essas trazem para o dia a dia de hoje. Uma startup de tecnologia que nasce atualmente potencializa seu nascimento e crescimen- to através do modelo SaaS. Acessando serviços como softwares de gestão (CRMs, ERPs), serviços de hospe- dagens (Amazon), armazenamento (Dropbox), prove- dores de e-mails, entre outras milhares de soluções, 73 empresas embrionárias substituídos por siste- viabilizam a própria mas inteligentes. existência por meio do Você provavelmente modelos SaaS. vai perder o emprego 4.7 A REVO- para um robô. LUÇÃO DO SOFTWARE Hoje em dia, com o ATRAVÉS DO e-reader Kindle e com MODELO SAAS uma assinatura do Kin- dle Unlimited, é possível A revolução do software ter acesso instantâneo a está somente na metade milhares de livros atra- da história a ser escri- vés de uma grande bi- ta. Os produtos de baixo blioteca digital. O livro valor e baixa utiliza- sobre o qual nós costu- ção estão passando por mávamos ter proprie- grandes transformações. dade, agora podemos ter O caso dos livros, CDs e apenas acesso a ele. DVDs talvez seja o mais significativo, porque Outro exemplo de bom são produtos facilmente uso da literatura em digitalizáveis. forma de acesso é o clube Leiturinha (ht- Tudo será software, tps://www.leiturinha. até empregos já são com.br/), que oferece 74 uma assinatura de li- 4.8 DO NAPSTER vros infantis digitais, PARA O SPOTIFY por intermédio de uma assinatura mensal. Através de uma assi- Incrível como o modelo natura de serviços de de consumo de músicas vídeos on demand, como mudou rapidamente. a Netflix, é possível ter Com o nascimento do acesso a milhares de fil- Napster em 1999, pe- mes, séries, documentá- las cabeças de Shawn rios e outros conteúdos Fanning e Sean Parker, audiovisuais. O filme no a indústria fonográfica formato de DVD sobre foi à loucura. Artistas o qual costumávamos de diversos lugares do ter propriedade mudou, mundo protestaram in- agora podemos ter ape- fluenciados pelas gra- nas acesso a ele. vadoras, já que perdiam o direito de receber por O mesmo modelo tam- músicas compartilha- bém se aplica a strea- das na rede, através da ming de músicas com tecnologia P2P. serviços como Spotify, Napster e Deezer. O Nomes como Metallica streaming é, inclusive, a fizeram protestos pú- consolidação do acesso. blicos, encurralando os fundadores do Napster em uma ruína provi- sória, que desencadeou em mandados de prisão, 75 processos criminais e produtoras) se prepa- um alto custo para man- raram. Eles não tinham ter um serviço que che- aprendido com a criação gou a ter 8 milhões de do CD e com a pirataria, usuários, trocando cerca e não foram capazes de de 20 milhões de músi- entender o MP3. cas por dia na rede. Tudo O segundo grande estalo isso de forma gratuita. das gravadoras veio com o lançamento do iPod Para se ter uma ideia em 2001. Era a Apple do impacto na época, a que mandaria na indús- cantora Madonna teve tria, pelo que se tinha seu álbum Music com- notícia. partilhado no Napster um mês antes do lan- O iTunes mandava as çamento oficial. Ou- músicas do seu compu- tro processo. A dupla, tador diretamente para Fanning e Parker, não o iPod. Era o walkman aguentou. O site ia para em formato digital. Isso o vinagre em 2001. sem distinguir músicas compradas dentro da Depois do Napster, vie- Apple ou advindas de ram e-Mule, Kazaa, sites como Pirate Bay e Morpheus, AudioGalaxy 4Shared. e Ares Galaxy. Era o sinal de que a indústria fono- Foi assim por um tem- gráfica não aguentaria. po: a Apple fazendo Poucos agentes da época muita grana, vendendo (gravadoras, artistas e músicas dentro do seu 76 ecossistema digital. O serviço Apple Music, em que a Apple e Steve Jobs 2015, a empresa precisa sabiam é que o lança- correr contra o tempo mento da primeira ver- para seguir a suprema- são do iPod seria um cia do Spotify e seus 20 sucesso absoluto. O que milhões de assinantes. eles não contavam era E não foi por falta de com a rápida popula- exemplos, já que servi- rização dos smartpho- ços foram lançados si- nes, que desencadearia multaneamente em todo na chegada dos apps de o mundo, avisando que música que tomaram o jogo ia mudar. as “stores” em 2008. Também não imagina- O Deezer, nascia na ram que um sueco, nas- França em 2007. O Rdio cido em Estocolmo, de nos EUA em 2010 (pelos nome Daniel EK, cria- mesmos fundadores do ria o Spotify e que esse Skype e Kazaa), e tem seria sua maior pedra no ainda a rede Last.Fm, sapato no futuro. fundada em 2002, que teve a grande chance de É notável hoje em dia ser o “Spotify do futu- como a Apple teve a ro”. Teve. oportunidade de ter a dominância de toda in- Em 2009, o Spotify dústria fonográfica nas anunciou o investimento mãos, e não conseguiu de Sean Parker (sim, Mr. por questão de timing. Napster) e a entrada dele Com o lançamento do no board da empresa. 77 Se existe algum assunto em ebulição no ambiente empreendedor no mo- mento, esse negócio são as startups financeiras (as fintechs). Já são mais de milhares de empresas no mundo solucionando, de forma fracionada, o que os grandes bancos nunca conseguiram fa- zer com primor. A revolução fi- nanceira virá com o advento das fintechs, não tenha dúvida. E os bancos (pelo me- nos, alguns deles) já en- tenderam o recado. Nos EUA, por exemplo, star- tups de bitcoins já re- cebem investimentos de 81 grandes bancos. A star- Assim como o movi- tup californiana Coinba- mento SaaS revolu- se recebeu dinheiro do cionou o software, as Banco BBVA em uma das fintechs já estão pres- rodadas de investimen- sionando os bancos a to levantadas no ano de correrem atrás da ino- 2015. Esse é apenas um vação. Alguns afirmam exemplo, mas bancos que elas vão quebrar os como Barclays, UBS, bancos. Realmente não Citibank, entre outros acredito nessa tese. gigantes, já investiram dinheiro em negócios Defendo a tese de que a de bitcoin. Mais adiante maioria dos bancos vai neste capítulo veremos sobreviver por um mo- com mais detalhes o que tivo simples: eles têm é este tal de bitcoin. muito dinheiro em cai- xa. Aliás, o único ele- Mas não será somente mento que terá condição os bitcoins que vão abrir de conter uma inovação essa ruptura em serviços sem freio são os bancos. bancários tradicionais. Mas por quê? Empréstimos, paga- mentos, investimento, Os bancos vão comprar seguros e outros ser- toda inovação disponível. viços financeiros serão dominados por uma nova ordem tecnológica. 82 5.1 POR QUE AS FINTECHS SERÃO COMPRADAS PELOS BANCOS? Se até ontem os bancos tinham reinado com exclu- sividade em seu ramo, hoje esse cenário começa a mudar. Muitos brasileiros já começaram a buscar alternativas mais simples e viáveis fora do sistema financeiro tradicional, como as oferecidas pelas fin- techs (as startups de serviços financeiros). E essas startups - algumas delas, empresas já consolidadas - já estão começando a preocupar os bancos em todo o mundo, inclusive em termos financeiros. Fonte: http://banknxt.com/ Segundo a Goldman Sachs, é bem possível que os bancos venham a perder até US$ 4,7 trilhões anu- almente para as fintechs, e isso é só o começo. Toda consultoria que analisa esse fenômeno afirma que 83 os bancos precisarão muito nesse sentido nos “comprar” a inovação últimos anos, ofere- para não morrerem. cendo diversos serviços via internet e mobile Mas, o que está provo- banking, ainda há muito cando esse grande inte- a ser feito, principal- resse pelas fintechs no mente no Brasil. Já as Brasil e no mundo? fintechs costumam ser empresas quase total- mente virtuais, com as Tempo quais você pode resol- ver tudo o que precisa Ninguém hoje tem sem jamais ter sequer de falar com alguém. O tempo a perder. BankFacil (https://www. bankfacil.com.br/), por A vida corre a passos exemplo, facilita em- largos, e cada um de nós préstimos tomando mal tem tempo de cui- carros ou imóveis como dar do básico. Por isso, garantia, e analisa tudo muita gente tem dor de online. Simples assim. cabeça só de pensar em ir ao banco, e enfrentar longas filas, mesmo que Atendimento seja só para conversar com o gerente. Imagine ter de ir ao banco para pedir di- Ainda que os bancos nheiro emprestado, seja tenham melhorado e para pagar dívidas ou 84 para investir em um no sistema bancário de negócio. A situação por um modo geral. A de- si só já é estressante e manda é muito maior constrangedora, inde- do que o número de pendente da quantia em funcionários disponí- questão. veis, e pouco pode ser feito online ou mesmo O Nubank (https:// por telefone. E isso fica nubank.com.br/), star- muito mais complicado tup de maior expres- ainda quando o cenário são no Brasil, é talvez vem agregado ao preen- a maior referência em chimento de inúmeros atendimento do país. Há formulários, a pergun- relatos diversos de tipos tas intermináveis, e a diferentes de atendi- horas em pé. mento como resoluções de problemas por men- Fica claro, então, por sagens, bom humor e que muitas iniciati- uso da tecnologia como vas como o da Broota forma de aproximar as (http://www.broota. relações com clientes. com.br/), que aproxima online investidores e startups de forma muito Infelizmente, a menos prática, estão surgindo que você seja um clien- no país. te com uma alta soma depositada no banco, o atendimento ao cliente ainda é muito precário 85 Inovação virtual do que com o gerente do banco. Prova As fintechs saem na disso é a fila de espera frente junto ao públi- do Nubank: mais de 100 co que ama tecnologia, mil pessoas aguardam oferecendo uma expe- por uma oportunida- riência mais alinhada de de ter esse cartão de com as expectativas e crédito no bolso. perfil destes. Elas tam- bém costumam oferecer Diante desse cenário, produtos e serviços mais bancos começam a re- baratos, já que seus cus- agir. O Citibank, por tos ficam muito me- exemplo, lançou a sua nores por não terem os unidade Citi FinTech gastos fixos de manu- (http://www.citi.com/ tenção de uma agência ventures/accelerate. bancária, por exemplo. html), focada em ser- viços para smartphones O público entre 18 e 30 e serviços financeiros. anos, principalmente, Mas isso é só a ponta do costuma preferir ser- iceberg. viços que tragam tec- nologia de ponta, como O radar das fintechs bandeira. Eles têm o brasileiras elaborado smartphone entre seus pela Clay Innovation melhores amigos, e (http://www.clayinno- sentem-se muito mais vation.com.br/) no ano à vontade conversan- passado, deu o tom: es- do com uma atendente tamos em uma ruptura. 86 O jogo vai mudar. Fonte: http://fintechlab.com.br/wp-content/uploads/2015/09/Radar_Fin- techLab_set15_v5.png 87 Bitcoins, empréstimos pagamento. Qual o sinal peer-to-peer e crowdfun- aqui? “Chegou a hora de ding são palavras que ficar perto delas”, afir- não existiam no cotidia- mam os bancos. Nem no dos grandes bancos de longe startups po- brasileiros. Agora são dem ameaçar individu- pautas e objetos de estu- almente a hegemonia do. O Banco BBVA criou bancária, ainda mais se o fundo BBAVentures tratando de potências (http://www.bbvaven- como Itaú, Bradesco, tures.com/), e virá ao Santander e BB. Mas e Brasil olhar de perto o um exército delas? efervescente nascimento de startups de finanças A inovação é capaz de e tecnologia. Nesse voo, atropelar, sim, qualquer virão executivos ávidos economia e qualquer por olhar e entender por tipo de realidade que se que o Brasil é, de fato, apresente em uma es- um laboratório interes- trutura burocrática. Foi sante para tecnologia assim com o MP3, que bancária. ruiu a indústria fono- gráfica, e o com o stre- Juntamente com eles, aming de filmes, que o Santander e a Mas- “enterrou a pá e cal” a tercard vão capitanear Blockbuster em 2013. na América Latina o Se analisarmos, os 50 Santander Labs, outro milhões de clientes da laboratório de inova- Blockbuster não sumi- ção focado em meios de ram. Eles simplesmente 88 mudaram o hábito e a é melhor que em muitos forma de consumo. países desenvolvidos. O Nubank, para alguns É exatamente isso que banqueiros, pode pa- os bancos estão estu- recer um simples apli- dando: mudança na cativo para gerenciar o forma de as pessoas se cartão de crédito Mas- relacionarem com servi- tercard. Isso até o mo- ços financeiros. mento em que começam a abrir contas através As novas gerações vão desse mesmo aplicativo, ao banco para abrir uma pelo qual usuários pode- conta? rão transferir dinheiro, fazer depósitos e com- prar produtos bancários. Aí a fintech passa a virar 5.2 A (DES) banco e a incomodar. CONSTRUÇÃO DO MERCADO Quantas agências BANCÁRIO PE- LAS FINTECHS bancárias são neces- Os bancos brasileiros en- sárias para se abrirem sinaram bem. Nós temos 100 mil contas cor- um dos melhores siste- mas bancários do mundo rentes hoje em dia? se tratando de tecnologia. Nosso internet banking 89 Os sinais O GuiaBolso, aplicativo que conecta em poucos cli- ques todas as contas bancárias e cartões de crédito do usuário, sabe mais do perfil de consumo desse usuário do que o próprio banco, individualmente. Quem pode analisar crédito de verdade, tendo o perfil de gasto de toda vida bancária do cliente, seja qual banco for? São perguntas para as quais ainda não temos a res- posta, mas já temos a sinalização de que o momento é de grande ruptura tecnológica. A BTCJam, do brasilei- ro Celso Pitta, concede empréstimos em bitcoins aqui no país, com juros mais baratos do que os bancos de varejo. Os bancos também ainda não sabem por que os clientes da Vindi (plataforma de pagamento focada em serviços) passam 4 horas do dia usando o sistema da fintech e apenas 15 minutos no site do banco. todos os bancos e adquirentes estão Na Vindi (por trás dos códigos), dentro do mesmo sistema. (Reprodução: Vindi) 90 Plataformas como Catarse (https://www.catarse.me/) e a própria Broota citada anteriormente estão des- viando, positivamente, o pequeno empreendedor das mesas dos gerentes de banco, onde solicitavam em- préstimos para levantar um negócio para plataformas colaborativas de captação de investimento. No Catarse, quem financia é o fã do projeto. O projeto da Vela Bikes (http://velabikes.com.br/) foi viabiliza- do pelos fãs, não por bancos tradicionais. Qual seria a reação do gerente de conta, ao receber uma empresa sem faturamento pedindo dinheiro para viabilizar a Vela Bikes? (Reprodução: Catarse) 91 Os sinais já estão viran- vestimentos pessoais em do concretizações. No uma carteira. ano passado, a plata- forma Escolher Seguro Mais uma vez, o gerente (https://www.escolher- do banco e a instituição seguro.com.br/), uma levam um “bypass”, espécie de vitrine virtual no quesito consultoria. de seguros, foi adquirida Para que Anbima (http:// pela Geração Futuro do anbima.com.br/), se o Banco Brasil Plural. Você algoritmo combinado leu corretamente: sugere qual melhor op- “um banco foi lá e ção para o investidor? Embora o Brasil ainda comprou”. esbarre na regulamenta- ção e nas leis bancárias no país, que são de fato Emprestar dinheiro, rígidas nesse assunto, a vender seguro, realizar inovação é rápida demais pagamentos, analisar para burocracia. A ve- crédito e outras funções locidade de mudança de financeiras básicas não rota e criação de novas são mais exclusividade plataformas vai empur- dos bancos. Esse prin- rar os próprios órgãos cípio também é levado a regulamentadores contra sério pela Magnetis a parede. Estamos ca- (https://magnetis.com. minhando cada vez mais br/), uma consultoria para o momento em que que personaliza, de for- quem vai ditar as regras ma tecnológica, os in- serão os consumidores. 92 Se já não estão ditando... já vimos, onipresentes como a Blockbuster, que Lá fora, em mercados chegou a ter 70 milhões mais prontos para esse de clientes no mundo, tipo de disrupção, os desapareceram em pou- bancos já compram star- cos anos. Na verdade, tups de tecnologia, espe- elas já estavam fadadas cialmente as fintechs. De à morte certeira desde o longe, nós imaginarmos advento da internet, e o que bancos como San- rolo compressor Netflix tander, Itaú e Bradesco foi somente a última podem desaparecer por porrada dada, para que a conta das fintechs, mas rede de lojas de locação só não vão porque eles vão de filmes sumisse. começar a comprá-las em breve. Na indústria fonográ- fica, o impacto foi se- melhante: o Napster 5.3 IMITANDO A (thank you, Sean Parker) fechou várias vezes. Os INDÚSTRIA fundadores foram pre- FONOGRÁFICA sos, indiciados, mas, por mais que se juntassem Mesmo no ramo cine- os sindicatos, gravado- matográfico, no his- ras, estúdios, músicos e tórico recente, vimos a toda indústria a favor do evaporação de diversas fechamento do Napster, empresas, donas de nasciam outras dezenas seus mercados. Como de similares pelo mundo: 93 Kazaa, e-Mule, o Ares Isso é claramente visível Galaxy, só anunciando o em gigantes como Uber, que estava por vir. Hoje, quebrando uma cadeia a situação e o poder inteira em transportes, mudaram de mão. Spo- e o Airbnb, “machucan- tify, Deezer, Rdio, entre do” o mercado hotelei- outros, são os caras que ro. É a economia criativa ditam as regras e dis- agindo sobre o mundo. tribuem as cartas nesse No ramo financeiro, o jogo. Adivinha quem foi negócio também já está o principal investidor do pegando fogo. Spotify? (thank you again, Sean Parker). Tem algo acontecen- do de muito evidente Parafraseando a indús- no mercado financeiro, tria fonográfica, o mer- existe uma quebra bem cado financeiro também grande de paradigmas vai se transformar em de sistemas. Em siste- pouco tempo. mas financeiros, o bi- tcoin, por exemplo. O Novas economias negócio já é enorme! E o que isso quer dizer? são criadas para Vamos viver uma nova era financeira. A era da atender a demanda desintermediação ban- cária, ou simplesmen- das pessoas, não das te “desintermediação financeira”. empresas. 94 5.4 DESINTER- A criação natural de no- MEDIAÇÃO vas economias favorece o game changing de diversos BANCÁRIA: O modelos. A desinterme- PRIMEIRO diação bancária (e finan- SINAL ceira), usando o exemplo de empresas, pode ser Vamos primeiro explicar ilustrada na captação o que vem a ser isso. Na de recursos no exterior, prática, desinterme- na emissão de título de diação bancária é fazer dívida e na antecipação a transação financeira de recebíveis para ca- sem que um banco ou deias produtivas. Mas o instituição financeira buraco é mais embaixo, participe. É o banco fora existe um movimento do negócio. muito mais disruptivo do que esse. Vamos a alguns No Brasil, por exemplo, elementos que farão você o “custo do dinheiro é refletir. alto”. Fazer empréstimo aqui é algo desafiador. As PMEs tomam crédi- Bitcoin to em torno de 30% ao ano. As taxas para as Assunto fácil no Vale do grandes empresas saem Silício, o bitcoin é algo por volta de 20% a/a. de se cair o queixo. Os Isso, do ponto de vista bancos (mais atentos) da economia brasileira, sabem disso. Primeiro, é assustador. vamos entender o que é 95 o bitcoin e por que ele putador ou um celular, faz tanto barulho. sem precisar de bancos. Aí é que começa a maior O bitcoin é uma moeda? disrupção. As lojas já Assim como o dólar, o estão começando a acei- real e o euro? Não sim- tar fortemente a cripto- plesmente. O bitcoin é moeda como forma de um protocolo. Expli- pagamento. Empresas cando melhor, o bitcoin como Amazon, CVS, Vic- é uma criptomoeda. As toria Secrets, Subway, transferências deles são Target, Tesla, Expedia. baseadas em protocolos com e outras milhares de códigos abertos de já aceitam bitcoins (veja criptografia. Mas ele é mais em http://www. digital e não é controla- bitcoinvalues.net/who- do por nenhum governo, -accepts-bitcoins-pay- por bolsa de valores ou ment-companies-sto- instituições. res-take-bitcoins.html). No Brasil, empresas Releia em voz alta a como OLX e Tecnisa já última frase e enten- aderiram também, mas da o motivo de ele ser ainda é um desafio po- desruptivo. pularizar. Quem determina o valor dele são os detentores dos bitcoins. Na práti- ca, você pode transferir bitcoins por um com- 96 Os investimentos de investimentos em um round que participa- em startups de bit- ram: Bolsa de Valores de Nova York, o USAA Bank coins somam cerca e o espanhol BBVA (veja de U$1bi. mais em http://www. wsj.com/articles/coinba- se-raises-75-million- Os investidores mais -in-funding-rou- algozes (prontos para nd-1421762403). Ao derrubar barreiras) estão todo, já foram investidos investindo fortemente cerca de U$726 mi- na criptomoeda. Peter lhões em capital de risco Thiel (PayPal e Facebook em bitcoins companies investor), Reid Hoffman (http://www.coindesk. (LinkedIn), Marc Andre- com/bitcoin-venture- essen (Netscape), Ben -capital/). É um sinal, e Horowitz (superinvesti- bem grande. dor) formam um grupo que poderia comprar, juntos, metade do Silli- Bancos digitais con Valley. Eles investem fortemente em bitcoins. Apesar de ainda se depa- rarem com as regras in- A Coinbase (http:// ternacionais das bandei- coinbase.com/), proces- ras (Visa, Master, Amex, sadora de pagamento entre outras), algumas de bitcoins americana, soluções inovadoras es- levantou U$75 milhões tão pingando aos poucos. 97 Os dois casos mais interessantes são: o Simple (no mer- cado americano) e o Nubank (brasileiro), que são de fato a nova geração de serviços financeiros mobile. anunciam a nova fase dos bancos Bancos onlines como o Simple (Reprodução: Simple.com) Ainda não se caracterizam uma prática de desinter- mediação pela forma e atuação, pois respeitam uma bandeira (Mastercard, no caso do Nubank) e contas bancárias (no caso do Simple). Entretanto, já são um ensaio para virarem a chave para a independência. O Nubank, por exemplo, não cobra tarifa para a ma- nutenção do seu cartão de crédito. Não lembro de al- gum banco que não cobre tarifa por esse serviço. Esse é, na verdade, um ensaio para que outras grandes novidades tragam os verdadeiros bancos independen- tes e digitais. 98 Crowdfunding já começam a dar as caras de gente grande. A economia do financia- Para citar um exem- mento coletivo. Tá aí um plo, o jogo Caçadores negócio que evidencia das Galáxias (http:// a quebra do intermédio www.kickante.com.br/ bancário: o crowdfunding. campanhas/cacadores- -da-galaxia), publicado Para ilustrar essa pode- pelo designer de games rosa forma de viabili- Daniel Alves, atingiu o zar negócios, usarei os valor de R$218 mil de números do Kickstarter arrecadação para viabi- (https://www.kickstar- lizar a sua criação. Ima- ter.com/). Só em 2014, gina se o Daniel vai ao a maior plataforma de banco pedir essa quantia crowdfunding do mundo para financiar a produ- financiou 22 mil projetos ção do game? com o volume de U$529 milhões. Três milhões Já a banda de indie rock de pessoas ajudaram no Dead Fish conseguiu financiamento coletivo R$200 mil para fazer o em todo o mundo pelo novo disco através do Kickstarter. No Brasil, 14 Catarse (https://www. mil pessoas contribuí- catarse.me/pt/dead- ram com U$2,5 milhões fishoficial). Qual banco através da plataforma. financiaria esses dois projetos? Por aqui, plataformas como Kickante e Catarse 99 Empréstimos Peer to Peer (P2P Lending) Mercado gigantesco. Repito: gigantesco. Os emprés- timos peer-to-peer, ou simplesmente “empréstimos sociais”, são operações de crédito onde pessoas físicas fazem a intermediação. Uma pessoa concede, a outra pessoa contrai. Tudo isso sem a ação intermediadora de um banco. Pes- soas querendo ganhar algum dinheiro encontram, nessa forma, pessoas querendo empréstimos mais acessíveis. Tudo isso de uma forma extremamente barata. Imagina o impacto disso em um país com o sistema financeiro mais caro do mundo? 100 Lending Club, o fim da agiotagem (Reprodução: Lendingclub.com) Por que o empréstimo P2P é gigantesco? Porque, na prática, isso já acontece no mundo todo. Aquele seu amigo que quer dinheiro emprestado nem imagina que você está pensando nesse momento em formalizar, por meio de uma plataforma simples de crédito, essa transação. As pessoas emprestam dinheiro umas às outras, sem ter garantias ou formalizações. Plataformas como a Zopa (http://www.zopa.com/) in- termediam diariamente milhares de transações de em- préstimo entre pessoas físicas. Esse mercado já é alvo inclusive do Google, que investiu no Lendind Club (ht- tps://www.lendingclub.com/), plataforma líder de em- préstimos sociais. A Lending Club é uma empresa que já recebeu cerca de U$392 milhões de investimentos. Aqui no Brasil, por enquanto, nem sinal desse mercado. 101 Financiamento da cadeia logística (Supply chain financing) Algumas indústrias já praticam (em grandes volumes) essa modalidade de financiamento, sem a interferência de um banco. Não se trata de um empréstimo, mas sim de uma prática para equacionar pagamentos e recebí- veis de uma determinada indústria. Os agentes desse financiamento são: vendedor, comprador e uma “fatu- ra comercial”. Os setores automotivo, industrial, óleo, gás e varejo usam dessa prática para equalizar o fluxo financeiro de compra e venda de serviços ou produtos. É o chamado factoring reverso. A economia das faturas (Repro- dução Marketinvoice.com) Empresas como a Market Invoice (http://marketinvoice. com/) fazem com que grandes compradores de uma de- terminada indústria concedam aos seus fornecedores um financiamento baseado na melhor concessão de crédito desejada. O fornecedor, por sua vez, recebe o dinheiro antes, com desconto, enquanto o comprador estende a 102 data de pagamento da Case Sem Parar fatura. A Market Invoice recebe o pagamento sem Serviço de pagamento de muito risco, uma vez que pedágio líder no Brasil. o comprador dá endosso à Com mais de 3,5 mi- fatura. lhões de usuários (dados de 2014), o Sem Parar Empresas petrolíferas (https://www.semparar. praticam fortemente com.br/) é uma potência essa modalidade. Des- nas rodovias brasileiras. contam porcentagens Criado para a comodida- para antecipar o paga- de em cruzar pedágios, mento do fornecedor e com as famosas “tags” estendem seus prazos de coladas no para-bri- pagamento das faturas. sa dos carros, já dá os primeiros passos para a nova fase da empresa. 5.5 EXEMPLOS O primeiro ensaio foi ti- “SUTIS” DE QUE rar o banco no “estacio- O BRASIL JÁ namento de shopping” da jogada. A maioria dos ESTÁ PRON- shoppings brasileiros já TINHO PARA conta com os sistemas do QUEBRAR BAN- Sem Parar em suas ope- COS BUROCRÁ- rações. Mas o que isso tem a ver com desinter- TICOS mediação bancária? 103 Quer dizer que o servi- os clientes da empresa ço já tira da frente dois podem abastecer nos fatores importantes, que postos de gasolina. A até então eram predomi- sistemática é a mesma. nância no pagamento dos Quem paga o posto é o estacionamentos de sho- Sem Parar, excluindo o ppings: cartão de crédito agente banco emissor, e dinheiro. dinheiro ou cheque do processo. O cliente Sem Parar não paga estacionamento O Sem Parar já é o pro- com dinheiro, tampou- tagonista do game chan- co com cartão. Ele paga ging dos automóveis na com Sem Parar. Isso já desintermediação ban- se estende para milha- cária. No dia 15 de Março res de estacionamentos de 2016, a empresa foi de rua, que seguem na vendida na sua totali- mesma quebra de con- dade para a Fleetcor (e ceito. O estacionamen- sua subsidiária DbTrans) to recebe diretamente por R$4 bilhões, ga- do Sem Parar, e não do nhando ainda mais força banco, como era ante- para atingir as dezenas riormente quando se de milhões de clientes pagava com cartão de esperados pelos novos crédito ou débito. compradores. Não para por aí. Com essa mesma “tag” ins- talada no carro, agora 104 Case Nubank Apesar da parceria com a Mastercard e um banco emissor, o Nubank já coleta dados importantes quan- do o assunto é pagamento. O perfil de consumo de clientes, os índices de inadimplência e regularidade de compra do consumidor já podem ser analisados com muita precisão pela empresa. Contas abertas e cartões emitidos através de um app (Reprodução: Nubank.com.br) Isso faz do Nubank um grande instrumento para ana- lisar dados suficientes para uma possível indepen- dência, caso seja estratégico para a empresa. Tornar um banco digital, de fato, só pode estar na cabeça dos fundadores. A desintermediação financeira nesse caso pode estar atrelada a uma possível mudança de foco do Nubank, em se tornar independente e fazer a pró- 105 pria operação. Por se proporem a ser um banco digi- tal, bitcoins já têm um grande fit com o negócio. Até o encerramento deste livro, o Nubank tinha 500 mil clientes no “roxinho”. 55 milhões de brasileiros não têm conta em banco. (Fonte: http://g1.globo.com/pi/piaui/noticia/2014/02/sem-agencia-bancaria- Sem agência bancária, cidade do Piauí cria banco local e moeda própria O número -cidade-do-piaui-cria-banco-local-e-moeda-propria.html) assusta, mas é real. 55 mi- lhões de pes- soas no Brasil não têm conta bancária. E isso reflete bem a situação regional onde 420 municí- pios no Brasil não têm agên- cia bancária. 106 Essas condições fazem lacuna, inclusive com do mercado de cartões características de desin- pré-pagos um verda- termediação bancária. deiro oceano azul a ser explorado. A maioria Os bancos (juntamen- desses profissionais te com o Banco Central (pedreiros, autônomos, do Brasil) vão publi- donas de casa e dia- car relatórios, normas ristas) faz com que os e orientações sobre o bancos comecem a ir risco dessas práticas de a favor do mercado e desintermediação ban- investir em iniciativas cária acontecerem. Ali- para emissão de pré- ás, risco será a palavra -pagos. Apesar disso, as chave para as institui- empresas de pré-pago ções financeiras comba- não colhem louros ain- terem as novas formas da. O desafio é grande de pagamento e rece- para entrar em áreas bimento que surgirão. rurais, com distâncias Alguns serão até cate- desafiadoras de grandes góricos, citando crime capitais. para tais inovações. Mas há uma nova ordem nas É aí que a oportunidade economias do mundo. se faz presente. Como Esse número de pessoas resolver 55 milhões de “sem banco” são prati- problemas? Os bancos camente uma economia com certeza vão atuar, inteira a ser explorada, mas algumas iniciativas o que faz a oportunidade vão fazer frente a essa ser gigante. 107 Óbvio que bancos, controlando o dinheiro no mundo, terão vantagens muito maiores que a BlockBuster e as gravadoras de música tiveram, mas terão um trabalho interessante para conter algumas iniciativas. Não dá para fechar os olhos para Apple, Samsung e Google, que vão com certeza bagunçar (de forma positiva) ainda mais os negócios financeiros no mundo. Conversando com alguns dos caras que mais enten- dem do negócio de pagamentos no Brasil, peguei alguns insights interessantes. O Tom da Konduto (fintech que previne fraudes) lembrou que o Fairplace (http://www.fairplace.com.br), comunidade brasileira de empréstimos P2P, fechou por pressões governa- mentais no final de 2010 (http://www1.folha.uol.com. br/fsp/mercado/me1501201119.htm). “Aqui o buraco é mais embaixo”. Ele pontua duas formas de encarar os pontos do artigo: levantar dinheiro e fazer transações com o banco. “Um desafio inicial é a forma alternativa de levan- tar dinheiro, e o outro é como fazer transações sem envolver o banco. São questões diferentes de ‘encarar’ a desbancarização: a inclusão de pessoas na indústria e o bypass total da indústria.” — Tom Canabarro. 108 Você deve ter se per- guntado por que dei esse nome a um capítulo do livro. Explico: como o livro é sobre uma nova forma de consumo de produtos e serviços, nada mais justo do que lembrar que você já está inserido nessa mudan- ça. Além disso, você não deve concordar com a imposição de alguns mercados, feita de for- ma arcaica, sobre seus modelos de cobrança. Se você comprou uma furadeira ou um smoking de festas no último ano, você está literalmente fora do novo mundo. E se ainda concorda em comprar coisas ou adquirir ser- viços através de cheques pré-datados, cuidado, essa empresa também está fora desse mundo. 111 6.1 MEMBER- lhe se quer permanecer SHIP ECONOMY: ainda com o brinquedo ou se quer trocar por A ECONOMIA outro, e o site se encar- DE MEMBROS rega de entregar e cole- tar os brinquedos. Em alguns tipos de pro- dutos, não é possível a Cada plano de assina- digitalização, mas, mes- tura dá direito a uma mo assim, está ocorren- quantidade de brinque- do uma migração para dos ao mesmo tempo, um modelo de acesso. até porque nenhuma É o caso dos clubes de criança brinca com to- assinaturas. dos os que tem. Que tal, então, só ter os brin- Em São Paulo, já exis- quedos que, de fato, tem serviços de assina- serão usados? tura de brinquedos, o clube Joanninha (http:// No segmento de brin- www.joanninha.com. quedos, o modelo de br), onde paga-se um acesso resolve o proble- valor mensal para que ma dos pais que pagam crianças tenham acesso caro em brinquedos a brinquedos já usa- cuja vida útil é bastante dos. A criança (ou o pai) curta, diante do rápi- escolhe os brinquedos do desenvolvimento da pelo site, recebe em casa criança. Além da econo- e brinca à vontade. Após mia de dinheiro e espa- um mês, a criança esco- ço, reduz desperdícios e 113 ensina, desde pequeno, outra estação do projeto. o conceito de consumo Para alugar uma bici- consciente. cleta, basta se inscre- ver com o seu cartão de Outro bom exemplo do crédito. Não há nenhuma modelo de membership taxa. As viagens de até economy (economia de uma hora são gratuitas membros) são clubes (na verdade, são ban- e associações de clas- cadas pelo patrocinador se. Elas só existem por Itaú, que deveria viabi- conta da entrada de lizar de graça) e, acima um grupo de pessoas deste período, é cobrado que fazem a criação e cinco reais por cada hora viabilização dessa co- de uso. munidade. Basta que cada membro contribua Ter um grupo de pesso- financeiramente para as viabilizando o ser- viabilizar qualquer pro- viço é um dos símbolos jeto. Todos ganham. máximos da economia compartilhada. Assim Em alguns bairros de São como funcionam agre- Paulo, existem várias miações, sindicatos e estações do projeto BIKE condomínios, a member- SAMPA (www.bikesam- ship economy possibilita pa.com.br), que permi- a criação de diversos te alugar bicicletas por outros modelos. pequenos períodos de tempo (horas), podendo devolvê-las em qualquer 114 furadeira em casa. Curiosidade: até o mês de julho de 2015, a cida- Se contarmos com o de de São Paulo regis- trou o número de 200 custo de aquisição ver- Km de ciclovias conclu- sus seu uso prático, não ídas. O plano SP400km, faz sentido comprarmos do Haddad (prefeito em exercício, enquanto um item como esse. Faz finalizamos este livro) sentido usar a furadei- é atingir a marca de ra no modelo de acesso 400km de ciclovias. (alugando-a) e só pagar pelo uso quando neces- sário. Afinal, quantas vezes no ano usamos uma furadeira? Veja a 6.2 SHARING palestra da Lisa Gansky ECONOMY: A (http://bit.ly/palestra- -lisa) e entenda minha ECONOMIA DO pergunta. COMPARTILHA- MENTO Seja no caso de furadei- ras, aluguel de roupas A teoria da furadeira do de gala, helicópteros, Murilo Gun, no TEDx aviões, carros (em al- (http://bit.ly/palestra- guns casos), barcos ou -murilo), e dos ensaios motos, a economia do da Lisa Gansky, do site compartilhamento é o MESH (www.meshing. elo para consumo sus- it/), afirmam que: não tentável de tudo. faz sentido termos uma 115 “Uber e Airbnb ameaçam taxistas e hotéis” — BBC Demo-nos o direito para usar o título da matéria pu- blicada no site da BBC em 24 de novembro de 2014, se referindo ao caos instalado nos modelos tradicionais de táxis e hotelaria. Esse título é emblemático. Ape- sar de lá para cá as coisas terem fervido ainda mais, a sociedade (e a própria BBC) encaravam o Uber e o Airbnb como um “negócio novo que não se sabe o que vai dar”. cias/2014/11/141124_vert_cap_airbnb_uber_dg Fonte: http://www.bbc.com/portuguese/noti- 116 Em 2015, esse mesmo site, publica sobre as duas em- presas, com um tom transformador nos títulos: “Uber quer investir US$ 1 bilhão para impulsionar negócios na Índia” - BBC, 31 de julho de 2015. “Uber abre novo escritório em Cuba” - BBC, 02 de abril de 2015. Note que agora as empresas não aparecem como “novi- dade”, tampouco como ameaças para seus segmentos, e sim, como agentes do próprio ambiente em que atuam: transportes e hotelaria, para Uber e Airbnb, respectiva- mente. A prova de conceito já foi feita, agora é a cons- trução de novos modelos que estampam as principais notícias de economia dos principais portais do mundo. 117 Já o Airbnb é o aparta- ros de hoje. As pessoas mento as a service. Para que vivem em metró- que alugar ou reservar poles passam cada vez um hotel, se por algum menos tempo em casa, e motivo sua viagem isso reflete em diferen- acontece do lado de fora tes tipos de moradia e na da hospedagem? O Airb- necessidade de espaço. nb é o principal exemplo da utilidade de um ser- Exemplos como Uber e viço versus experiência Airbnb vão brotar da- de uso. Por mais que qui para a frente, pode hotéis e pousadas ofere- acreditar. É um começo çam hospedagens típicas de um novo formato de de seus destinos, nada emprego, de uma nova se compara à experiên- forma de se ganhar cia de usufruir um local dinheiro e de se criar nativamente tradicional modelos sustentáveis de e típico. Além da utili- negócio. dade, que em muitos ca- sos, a hospedagem serve Estamos prestes a ver a somente para dormir. era dos independentes: executivos, programa- É interessante que, com dores, publicitários, ad- o passar dos tempos, os vogados e toda profissão apartamentos estão cada de que se tem notícia vez menores, por conta sofrerão uma mudança da utilização. As grandes grande na forma e no famílias de antes são os conceito de emprego. mínimos casais e soltei- 119 Ser contratado com Latina. Com ele, milha- exclusividade por uma res de jornalistas, pro- empresa não fará senti- gramadores, consultores do no futuro próximo. e até advogados larga- ram empregos conven- Os profissionais cede- cionais para atuar em rão tempo e conheci- projetos de curto prazo. mento em troca de uma A demanda por jornalis- remuneração, sem ter tas e escritores é imen- a exclusividade e com- sa, inclusive. promisso de um único empregador. O emprego O Uber só está sedimen- será baseado no acesso. tando uma tendência. As empresas não neces- As pessoas vão encon- sitarão de horas impro- trar um meio natural de dutivas de uma pessoa. autossustentabilidade Só interessará para elas financeira. É a revolução as horas produtivas. da figura “empregado”. Profissionais serão re- munerados por “jobs”, A mudança é bem gran- assim como profissio- de, em termos de con- nais liberais. sumo na economia do compartilhamento. Se O site Workana (https:// você não acredita, res- www.workana.com), ponda a pergunta: O que fundado na Argentina, é você fez com seus velhos o maior portal de con- discos de vinil? tratação de freelancers profissionais da América 120 Pois vai acontecer coisa Não vamos mais parecida com os CDs, as comprar carros? fitas de vídeo, cartuchos de videogame e até com Para se ter um exemplo livros. Grandes bancos maior sobre a revolução de dados serão capazes do consumo em auto- de fornecer, a qualquer móveis, basta olhar para hora, tudo aquilo que as grandes capitais no você precisar, por pouco mundo. Nosso caso mais dinheiro. É o “fim dos aparente, em que es- meios físicos”. tamos no meio da mu- dança, é a cidade de São Adeus software de Paulo. licença, adeus CD Algumas milhares de pessoas que vivem na do Molejo (e do rack ponte aérea entre a capital paulista estão na sala) e adeus trocando a aquisição de um carro por aqui por: Blockbuster. R.I.P. • Táxi; As plataformas de com- • Uber; partilhamento de carros • Zazcar – um aluguel como a americana Zip- de carros 3.0. Car, o europeu Car2Go e o brasileiro ZazCar já cava- ram um novo modelo. 121 Zazcar, o car deles no estacionamento. sharing funcio- Apenas o carro. na por aqui! Você usa o carro no pe- O ZazCar (inspirada na ríodo reservado e depois americana Zipcar) fun- devolve no mesmo local. ciona assim: você se O valor correspondente cadastra no site, envia o às horas utilizadas são seu documento de habili- debitados no seu cartão. tação, informa o número Se precisar abastecer, do seu cartão de crédito você usa o próprio car- e recebe em casa o Zaz- tão deles, pois o com- card. Através do site ou bustível já está incluso de um aplicativo mobi- no valor da hora. le, você localiza onde há um Zazcar estacionado Você tem o carro que próximo de você, e faz a você precisa apenas na reserva do carro por um hora que você precisa, período de horas. sem precisar arcar com os custos e responsabi- No horário reservado, lidade de ser proprie- você pode ir para o esta- tário de um automóvel: cionamento e usa o seu seguro, manutenção, Zazcard para abrir o car- impostos, combustível ro. Basta passar o cartão etc. Já está tudo incluso em um sensor no vidro, o no valor da hora. carro abre e as chaves es- tão no porta-luvas. Não É uma espécie de táxi há nenhum funcionário onde você é o motorista. 122 Para viabilizar um ser- Barroso. Atualmente, a viço como esse, é neces- empresa atua somente sário uma cidade com em São Paulo. uma grande densida- de populacional para Viagens de férias sem- atingir a massa crítica pre são melhores quan- necessária para viabi- do carros são alugados. lizar financeiramente A liberdade de dirigir o negócio. A inovação um carro em lugares do aluguel de carros foi desconhecidos sem- proposta pela ameri- pre levam os viajantes cana Zipcar, fundada a uma aventura única. em Cambridge (Massa- Vale a experiência. Mas chussets) em outubro será que alugar carros de 2000. Pesquisas da por diárias são a melhor empresa até o começo opção, se podemos alu- de 2013 ilustraram que gar por hora? eles foram responsáveis por 14 milhões de ame- No compartilhamento ricanos de venderem (carsharing) de carros seus carros. (da Zipcar e Zazcar), os aluguéis são por hora. Em janeiro de 2013, Se o percurso for em foi adquirida pela Avis uma grande capital, não (gigante da locação de tenha dúvidas de que automóveis) por U$500 vale muito mais o car- milhões. Já a Zazcar, co- sharing do que o aluguel pycat brasileira, foi fun- tradicional de diárias. dada em 2009 por Felipe 123 Carsharing vs. por algumas poucas Aluguel de horas dentre as 24 horas carros contratadas (salvo ex- ceções de viagens ro- Sempre que viajo de fé- doviárias). Será que não rias, gosto de alugar um faz mais sentido pagar automóvel pelo menos apenas pelo tempo que por um ou dois dias da você quer? Mesmo que viagem para conhecer o valor unitário da hora melhor a cidade. seja mais caro, o custo total é menor em função Durante férias recentes da menor quantidade de em Nova Iorque, utilizei horas contratadas. o precursor mundial do compartilhamento, o Por que pagar por horas Zipcar. Peguei um carro de ociosidade do carro? ao lado do meu hotel e Não é economicamente fiz dois passeios de três mais interessante para horas cada. Em vez de todas as partes envolvi- alugar um carro por di- das (locador e locatário) ária, aluguei apenas pe- que, nas horas ociosas, las horas que eu de fato outra pessoa esteja precisava de um carro. alugando e pagando por isso? Analisando retroativa- mente, sempre que eu Algumas empresas alugava um carro por nascem exatamente da diária, eu realmente necessidade das pessoas. usava o veículo apenas 126 Bons exemplos (brasi- seja: a comida é mote leiros) da nova ordem principal, a facilidade o do consumo moderno secundário e o conceito são as empresas que de consumir um produto oferecem um serviço com um propósito, fa- de entrega de comida zem com que esse perfil sob demanda ou através de cliente, não precise se de assinatura: os clu- preocupar com a com- bes brasileiros de sna- pra semanal de gôndola cks Farofa.la (https:// de supermercado, que www.farofala.com.br) e na maioria das vezes, é a Massau (http://www. apenas um pacote enve- massau.com/). Eles, lopado pela propaganda. além de resolverem um grande problema de Agora imagine, um ser- má alimentação, ainda viço que integre: suas impactam diretamente preferências no con- milhares de pessoas no sumo e sua dieta com- país, entregando snacks binada com o mesmo fabricados por eles no software oferecido pelo trabalho ou na casa dos fabricante. clientes. A própria Brastemp já É um conceito de pro- transformou o mode- duzir, distribuir e criar lo de negócios dos seus a necessidade dos con- purificadores de água sumidores em acessar o em uma necessidade benefício da boa alimen- recorrente. No momen- tação, simplesmente. Ou to em que este livro é 127 finalizado, a Brastemp de vender um produto, não oferece mais a op- a Rolls Royce passou a ção de se comprar um vender o acesso a uma purificador de água. O peça cara e essencial único modelo de negócio para uso. A empresa disponível é baseado em criou o conceito em 1962 acesso: você paga um ao oferecer um serviço valor mensal para ter de manutenção de tur- um purificador em casa. binas por um preço fixo Esse valor já inclui a en- por hora de voo. trega, instalação, reparo e troca do refil. A cada 6 Em 2002, o serviço foi meses é feita uma ma- reinventando utilizando nutenção preventiva. novas tecnologias, como Tudo incluso. sensores nas turbinas, para monitorar o desem- penho em tempo real e Case Rolls Royce prestar um serviço cada vez melhor para os clien- Em vez de simplesmen- tes. Em 2012, o serviço te vender turbinas para completou 50 anos de as companhias aéreas, existência, e continua em a Rolls Royce criou o sua plenitude até hoje. conceito Power-by-the- -Hour, transformando Não é de se espantar a turbina em um ser- que a Rolls Royce possa viço cobrado de acordo se tornar uma empresa com as horas em que 100% de serviços. Basta ela é utilizada. Em vez compartilhar um pouco 128 da visão dos três ho- São Francisco (Clift rizontes que a empre- Hotel) para uma missão sa tem em mente para empreendedora. Já pa- termos a certeza de que recia estar rolando uma ela é uma das empre- festa bem bacana no bar sas mais prontas para do hotel, encontro os o futuro de que se tem fellows da missão e subo notícias. para o quarto para dei- xar as malas querendo 1. Tecnologia aplicada; descansar um pouco. 2. Próxima geração; 3. Novas ideias. Antecipando uma mania minha: sempre abro as São as únicas coisas que gavetas do hotel, an- a empresa coloca em tes de tudo. Sou curioso pauta para decidir novos mesmo. Eis que en- produtos e serviços. contro um kit do Dollar Shave Club (https:// www.dollarshaveclub. com/), um serviço de 6.3 SUBSCRIP- assinatura de barbea- TION ECO- dores, dentro da gaveta. Olha que negócio ma- NOMY: A ECO- luco, dentro de um dos NOMIA DA hotéis mais badalados RECORRÊNCIA dos Estados Unidos. Pelo que se sabe, o Dollar Em 2013, entrei em um Shave Club tem mais de hotel super “sexy” em milhões de assinantes. 129 Exemplos como o Clubeer recorrentes são aque- (assinatura de cerveja), las que vendem para o Dollar Shave Club e ca- mesmo cliente sempre. ses de consumo como a Glambox (assinatura de Olhe por exemplo o cosméticos) capitane- caso da solução Dash aram uma nova forma (https://fresh.amazon. de consumir produtos. com/dash/), da Amazon. A experiência vale tanto Apesar de não ser um quando o produto. serviço de assinatura, possibilita de forma ge- Não confunda nial a compra recorren- te. Explico: o dispositivo modelo de assi- da Amazon permite você comprar um produto natura com venda rapidamente sem ter de ir ao checkout da loja. recorrente. Basta apertar o botão. Essa mecânica faz dessa Nem sempre empresas solução uma podero- recorrentes adotam o sa arma para varejistas modelo de assinaturas. que queiram entrar de É bem mais profun- cabeça na “economia da do que isso. Empresas recorrência”. 130 Reprodução: Amazon Dash O mercado americano de assinatura. Na caixa, saltou de 200 clubes tênis de edições limita- de assinaturas em 2011 das, meias e acessórios para 2.000 clubes em farão dos amantes da 2015. Enquanto, aqui no corrida assinantes fe- Brasil, existem em torno lizes. Pelo menos, essa de 200 clubes. é a proposta da Adidas com esse lançamento. O clube batizado de Ave- A caixa ainda vem com nue A (ou Avenida “A”) a curadoria de personal da Adidas custa U$150 trainers famosos e cele- por mês, e iniciou ope- bridades. Inicialmente, o ração somente nos Es- foco serão mulheres. tados Unidos, por en- quanto. A entrega será A Vindi nasceu como trimestral, inaugurando uma extensão da neces- um novo formato de sidade dos modelos re- entrega para produtos correntes. Primeiro, veio 131 o modelo e os cases, e empresas como a Vindi vieram com a profissionalização. Ou seja, abrindo caminho e viabilizando a chegada de outros milhares de cases e de modelos. A Smartfit (www.smartfit.com.br) inaugurou um novo momento no mercado fitness brasileiro. A empresa fundada por Edgard Corona (criador do grupo Bio Rit- mo) aniquilou o modelo de cheques pré-datados nas redes de academia no país, e minou a forma de cobrar serviços através de compras parceladas no cartão de crédito. O que era um péssimo negócio para clientes: pagar uma prestação para consumir um serviço. Para se ter ideia do impacto sobre o consumo de ser- viços como academia mudaram de modelo, basta analisar como era a forma de cobrança das academias até 2011: 132 Antes mesmo dos jor- valor mensal, era pos- nais e das revistas, era sível receber todo mês comum (hoje é menos uma determinada quan- comum) assinatura de tidade de CDs, conforme pão e leite. Com o mo- o plano escolhido. Só delo, idêntico ao de faltava a desmateriali- assinaturas, milhões de zação para se tornar o pessoas puderam aces- modelo de acesso digital. sar academias de gi- nástica, coisa até então Hoje em dia, está sendo exclusiva para pessoas bastante utilizado o mo- com mais poder aquisi- delo de propriedade via tivo. É a maior mudança assinatura para bebidas de consumo que o ser- e alimentos de alto valor viço já viu nos últimos agregado, como vinhos, tempos. cervejas, chocolates, cafés e azeites. Outros segmentos como Também há serviços de o de educação, por fornecimento contínuo exemplo, também es- de cartuchos para im- tão se espelhando nesse pressora, flores e ma- modelo para transformar quiagens. A redução da seu próprio ambiente. propriedade já mudou você. Se você ainda não Quando criança, assi- notou, analise as contas návamos um clube de que você paga por mês: revistas, gibis e CDs da água, luz, TV a cabo, aca- editora Abril. Por um demia, seguro, escola etc. 134 Sim, este livro também pode ser encarado como um manual. Mas não se engane achando que vou te mostrar aqui “as 7 atitudes altamente eficazes para se montar um negócio recorrente”. Não vou mesmo. O que pretendo nos próximos parágrafos é elaborar uma série de técnicas e experiên- cias que aprendi com os milhares de negócios recorrentes que vi surgir diante da Vindi, onde eu, como empreendedor, aprendo diariamente. Esses casos, de gigantes multinacionais a star- tups de assinaturas, me influenciaram e ajuda- ram a entender como criar um negócio que pode faturar sempre, de forma recorrente. 137 7.1 A CRIAÇÃO ção desse grupo e, ainda assim, atestar a venda DE COMUNIDA- de produtos e serviços DES dentro desse ambiente. Importante: Se você é um bom en- tusiasta de comunida- des, seja ela de qualquer tamanho ou segmento, alimente-se dessa está aqui uma grande oportunidade. Quem comunidade. tem a capacidade de criar comunidades em volta de si e do próprio negócio tem, fatalmen- 7.2 CRIE NE- te, uma grande capaci- GÓCIOS COM dade de vender qualquer APELOS DE RE- coisa de valor a esse SOLUÇÃO PARA grupo em formação. PROBLEMAS A capacidade que alguns GRAVES empreendedores têm em criar comunidades é di- Essa é uma grande ver- retamente ligada em seu dade. Tive uma aula em conhecimento em al- Stanford com Jack Fu- guns assuntos. É o fator chs e Mick Lyons, dois “autoridade”. Ser auto- superinvestidores do ridade em algum assun- Vale do Silício e profes- to pode ajudar na cria- sores da universidade. 138 Eles lecionam empre- praticamente impos- endedorismo em uma sível imaginar-se sem das universidades mais usá-las: WhatsApp, conceituadas do mundo, na comunicação; Uber, e levei uma lição muito no transporte; e Waze, grande sobre o olhar de- no trânsito. Esses são les, ao se interessarem bons exemplos de como por uma empresa em aplicativos podem ser que ensaiam investir. essenciais e até indis- pensáveis no cotidiano Eles classificam as em- de milhões e, às vezes presas entre dois tipos: bilhões, de pessoas. Rémedios e Vitaminas. O WhatsApp é um exem- plo fácil. Resolve um Remédios baita problema que é a comunicação e, ainda São aquelas startups por cima, gratuitamente. que “estacam sangra- As empresas mentos”, que resolvem problemas graves no mundo ou no país de origem. Normalmente, “remédios” são, essas empresas já nas- cem com uma grande na sua maioria, necessidade de uso. Em de uso recorrente alguns exemplos, es- sas startups resolvem e indispensáveis tanto problemas que é 139 para a maioria dos como na ciência, a vi- tamina melhora uma clientes. situação. Seja uma Acompanhe o caso da startup Twillio (www. twilio.com), que prome- te revolucionar a telefo- disfunção, uma nia no mundo. deficiência ou numa lacuna Vitaminas genética, elas possibilitam São aquelas startups que “potencializam” algo já em andamento. Apesar de serem completamente a melhora na necessárias, muitas delas não são indispensáveis. situação. A convite do Founder No empreendedorismo, Institute, uma acelera- empresas classificadas dora do Vale do Silício, assim são aquelas que fiz uma palestra sobre melhoram um segmen- empreendedorismo no to, que profissionalizam Cubo do Itaú em 2016. o ambiente. Lá, levei esse tema “Re- médios x Vitaminas”. Olhe para o caso de apli- Expliquei que, assim cativos como iFood (que 140 comprou o concorrente produtos sem o apelo Hellofood em fevereiro da necessidade bási- de 2016), por exemplo. ca. Itens considerados No começo, eram apenas supérfluos são grandes aplicativos de comida desafios para clubes de que ajudavam as pesso- assinatura escalarem o as a pedir comida pelo negócio para milhares smartphone. Estavam de assinantes. Já produ- potencializando um ne- tos “de sobrevivência” gócio de delivery que já têm, em sua natureza, a existia. Sem eles, bastava necessidade de consumo pedir comida pelo tele- recorrente. fone, por exemplo. Faça essa pergunta para Eram “vitaminas”. Ago- si mesmo: meu negócio é ra, são indispensáveis. vital para meus clientes? Criaram tanta necessi- Negócios recorrentes de dade ao pedir comida, grande escala sempre que passaram clara- conseguem esse cresci- mente de “vitaminas mento com produtos e para remédios”. Foram serviços de grande valor tão disruptivas, que e necessidade para seus conseguiram criar um clientes, o que faz da segmento inteiro. Nem existência desse próprio sempre as empresas negócio algo vital. conseguem se transfor- mar em “remédios”. Se a sua conclusão for “minha empresa é uma Outro bom exemplo são vitamina”, procure criar 141 um mercado com isso. Incentive seus Consiga fazer o conforto virar necessidade. clientes a crescerem mais que você. Olha que lição gran- 7.3 GARANTA O diosa, que é fazer seus SUCESSO (E A clientes crescerem mais que você. Se você está FELICIDADE) DO criando um softwa- SEU CLIENTE re, um e-commerce ou qualquer negócio es- Todo negócio deve ter o calável, essa deve ser a propósito de ajudar os missão desse negócio. clientes, e mais do que Não há mais sucesso do isso: deixá-los felizes. que fazer o seu cliente No livro Rework (um dos crescer. Se você já tem livros mais legais sobre essa certeza e esse gos- empreendedorismo), to: parabéns. os autores Jason Fried e David Heinemeier Hans- Na Vindi, pelo menos, son citam em um pará- uma centena de clien- grafo: “Let your customers tes cresce mais do que outgrow you”. nós. Alguns crescem até o dobro, e isso é mara- vilhoso para mim como empreendedor. 142 Invista em curadoria e E isso é, de fato, uma conteúdo. Ajude, ensine vantagem competitiva e decida pelo seu clien- bem grande. Se existe te como ele deve usar o escassez, a venda fica seu produto. Conteúdo de mais fácil. valor é o que diferencia concorrentes em merca- Mas isso pode ser um dos altamente disputados. diferencial por pouco tempo, já que, em um Seja no uso de um pro- estudo simples de be- duto ou serviço, o su- chmarking, os meses cesso do cliente é a de diferenciação são sustentabilidade de um facilmente combatidos negócio recorrente. por concorrentes en- trantes, ávidos por uma fatia apetitosa desse mercado — que era, até 7.4 GARANTA então, um oceano azul. UMA TECNOLO- É um grande desafio ter tecnologia proprietária, GIA PROPRIE- pode acreditar. TÁRIA Um dos grandes dife- A estratégia do oceano renciais de startups que azul, de Renée Mauborg- estão inovando em seu ne e W. Chan Kim, ilus- segmento e sustentan- tra claramente o dife- do a liderança é exa- rencial de empresas em tamente ter o domínio mercados inexplorados. da técnica. Como um 143 laboratório médico, que detém alguma fórmula para combater doen- ças, a startup que quiser se manter no topo por grande parte do tempo deve ter o desenvol- vimento de tecnologia proprietária. Na prática, isso limita a entrada de concorrentes no mercado dessa em- presa, dificultando a fá- cil replicação do modelo e aumentando a barreira de entrada. Algumas startups conseguem meses de vantagem ten- do e usando tecnologias proprietárias. Outras ganham anos. 144 Este livro é a exten- são de pensamentos e ensaios elaborados em alguns canais, que co- loco para fora algumas experiências profissio- nais e de vida que venho absorvendo. Parte des- ses ensaios foi escrita no http://www.sonhogran- de.com, um laboratório em formato de blog, em que recebo insights de pessoas e empresas, e exprimo parte do que penso. É consumindo conteúdo (bem selecionado) que consigo me adaptar às mudanças tecnológi- cas e de consumo (dois assuntos aos quais me dedico diariamente), e me preparo para o que vem adiante. 147 As coisas estão ao nos- e não servirão para mais so redor, em constante nada. transformação, e tudo será impactado por Analise o nascimento de tecnologia. escolas como a Hyper Is- land (www.hyperisland. Não teremos uma em- com) e a própria brasi- presa viva sequer, sem leira Perestroika (www. que o apelo seja tec- perestroika.com.br) que, nológico. Toda empre- por meio da criatividade sa será de tecnologia: e inovação, provocam, aquela padaria que você em vez de impor uma conhece e seu advoga- metodologia ultrapassa- do precisarão mudar a da da maioria das uni- cabeça e o coração para versidades tradicionais. construírem a própria sobrevivência. Tente compreender o nascimento de empresas Bancos, escolas, empre- como SpaceX, Palantir sas e empregos não se- e Twilio, que não têm rão mais como estamos nem uma década de vida acostumados a compre- e já serão as novas po- ender. Arrisco dizer que tências em termos de aquele diploma que você tecnologia. Empresas e tem, aquele MBA que marcas centenárias vão custou mais do que um quebrar como nunca, carro e aquele profissio- porque algumas delas nal que você admira se- são cegas. E você prova- rão extintos brevemente, velmente não terá em- 148 150 BIBLIOGRAFIA CESCHIN, Fabrizio. Sustainable Product-Service Systems. Springer, 2014 GANSKY, Lisa. Mesh: por que o futuro dos negócios é compartilhar. Altas Books, 2011. KEATING, Gina. Netflixed: the epic battle for America’s eyeballs. Portfólio Hardcover, 2012. KOTLER, Steven; DIAMANDIS, Peter. Abundância: o futuro é melhor do que você imagina. HSM, 2012. MEIRA, Silvio. Novos negócios no Brasil. Casa da pala- vra, 2013. RIFKIN, Jeremy. 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