CURSO COMPLETO DE LÍNGUA PORTUGUESACompreensão e Interpretação de Textos UFMG. Hannah. In Compreender: formação. Inútil objetar que um elemento construtivo está presente em certa medida até nas chamadas ciências “duras”: mesmo estas foram objeto de uma crítica análoga [. “aquilo que o texto nos diz já não constitui o objeto preferido de nossa atenção. 2007. Que ela [tem] um componente subjetivo [. a autora (A) toma como tema certo pensamento de Humes. E concluía: “Olhando bem.” As Mémoires de Saint-Simon ou as vidas dos santos da alta Idade Média nos interessam (continuava Bloch) não tanto por suas referências aos dados concretos. tornando-se. Humes observou certa vez que a civilização humana como um todo subsiste porque “uma geração não abandona de vez o palco e outra triunfa. “Hoje [1942-3]. entre as gerações. 2. conseguimos. em alguns picos críticos. que só pode ser descrita em termos de “não mais e ainda não”. Em algumas guinadas da história. trata-se de uma grande revanche da inteligência sobre o mero dado concreto”. dada sua natureza indefinida ou ambígua. ainda pertencem ao velho e os que pressentem a catástrofe nos próprios ossos ou já cresceram com ela [.] é sabido. saber bem mais a seu respeito do que ele resolvera nos dar a conhecer”. como acontece com as larvas e as borboletas”. exílio e totalitarismo. 187) 1. ipsis litteris. escrevia Bloch. p. a qual parece tão desprovida de sentido justamente porque ainda pressupõe uma linha de continuidade sem interrupções. espécie de terra de ninguém histórica. meio de exprimir sua visão de que a ação humana. de historiografia. “Na nossa inevitável subordinação ao passado. mesmo diante de acontecimentos nefastos. mas as conclusões radicais que os céticos tiraram desse dado concreto não levaram em conta uma mudança fundamental mencionada por Bloch nas suas reflexões metodológicas póstumas. 2008. volta e meia inventados.. provocou os acontecimentos da Primeira Guerra Mundial. nós nos emancipamos. à concepção que ela tem acerca do que ocorre com gerações em momentos críticos. que detalha para convencer o leitor sobre esta compreensão que ela tem do que seja a civilização: “A natureza não dá saltos”. Pois o declínio do velho e o nascimento do novo não são necessariamente ininterruptos.. É essa ruptura que dá um fundo de verdade a todo o falatório dos intelectuais.] está rompida a continuidade e surge um “espaço vazio”. Falemos. muito mais atraente do que a banalidade do pensamento “liberal”. entende essa espécie de terra de ninguém histórica como o momento crucial para a decisão de avançar ou recuar.]. fictício (Introdução). (B) vale-se de Humes como argumento de autoridade. São Paulo: Companhia das Letras. que nos apresenta a alternativa de avançar ou recuar. equivocadamente. Atenção: As questões de números 3 a 7 referem-se ao texto que segue. mas pela luz que lançam sobre a mentalidade de quem escreveu esses textos. área sobre a qual as gerações em confronto não têm controle. “Não mais e ainda não”. (E) refere comentário do filósofo Humes e o desconstrói. ao menos no sentido de que.. então. que.1954). O fio e os rastros: verdadeiro. entre os que. Ensaios (1930... O ataque cético à cientificidade das narrações históricas insistiu em seu caráter subjetivo. portanto. que as assimilaria às narrações ficcionais. (C) tira proveito da constatação de Humes. (D) cita Humes porque a comparação que ele faz entre os homens e os animais se aplica. 9) . embora permanecendo condenados a conhecêlo exclusivamente com base em seus rastros. (E) entende-o como ponto que legitima de modo pleno a verve dos grupos ditos “reacionários” quando defendem a necessidade do declínio da civilização ocidental. falso. para inovadora ordem social. suspensa nesse oco.. mas sim de quem as construiu. As narrações históricas não falariam da realidade. (D) caracteriza-o lançando mão da história. sobre o declínio necessário da civilização ocidental ou a famosa geração perdida. p.. proposta por geração recém-surgida. pode caber a uma geração um destino parecido com o das larvas e borboletas.. considerando irretorquível o pensamento citado.Atenção: As questões de números 1 e 2 referem-se ao texto que segue. (FCC) Quando a autora refere-se ao “espaço vazio”. porém. por uma razão ou outra. Carlo. geralmente na boca dos “reacionários”. Na Europa. para ratificá-la no plano mais particular que ela aborda no seu discurso.. Belo Horizonte: Ed. de caráter universal. (FCC) Na organização do texto. (A) toma-o como ponto fraco do ideário “liberal”. até mesmo nos testemunhos mais resolutamente voluntários”. pois o desfaz para reconstruí-lo em outras bases. (C) caracteriza-o com expressões que deixam entrever a dificuldade que sente para conceituá-lo. todavia. São Paulo: Companhia das Letras. (B) busca exprimir a ideia de que. (ARENDT. há espaço para o acolhimento do novo. essa absoluta quebra de continuidade ocorreu durante e após a Primeira Guerra Mundial. (GINZBURG. (C) (linha 2) Escrevendo de outro modo a frase mas sim de quem as construiu. que remete ao momento em que um dado locutor está elaborando seu discurso. (FCC) É correta paráfrase do primeiro período do texto − O ataque cético à cientificidade das narrações históricas insistiu em seu caráter subjetivo.3. até mesmo à sua revelia. II. (E) O que sempre se enfatizou como determinante de um texto é o seu cunho particular. e. 6. (B) (linha 2) O emprego do verbo “falar” no tempo e modo adotados sinaliza que o entendimento sobre a natureza da história expresso na frase deve ser atribuído aos que desferiram o citado ataque (linha 1). como reconhecem até os mais severos ataques. fator de subjetividade que sempre irmanou os relatos. é correto afirmar: (A) (linhas 3 e 4) A referência a uma crítica análoga impõe que se entenda o emprego das aspas. (FCC) Considerada a totalidade do excerto. (D) (linha 2) Na frase As narrações históricas não falariam da realidade está implícita a ideia de que a história deveria rever o viés metodológico tradicionalmente adotado. (B) O ceticismo que nutre a ciência dá às narrativas. 5. então. A mudança fundamental citada refere-se ao fato de que a historiografia acabou adotando uma perspectiva oblíqua no seu modo de conhecimento: passou a considerar como mais significativo para a apreensão de uma época não o que uma possível testemunha conscientemente informe sobre “dados concretos”. de historiografia (linha 4) revela que o autor. (E) o enunciado Que ela tem um componente subjetivo é sabido (linha 4) é exemplo de frase truncada. o que foi apontado pelos críticos como um fator inerente a qualquer tipo de relato. III. (D) o enunciado Falemos. oferecendo ponto de referência pedido pelo advérbio Hoje. não ousa debater em outro campo que não o da história. para direcionar a leitura. o sentido e a correção originais estarão preservados se a nova formulação for “mas sim daqueles que a construíram”. sobre o espírito que concebeu tal relato. só apreensível com o apoio do contexto. Está correto o que se afirma em . por carência de um único argumento que seja. suas semelhanças com as narrativas ficcionais avultaram. quando se insistiu em que deveria assumir o viés subjetivo. que as assimilaria às narrações ficcionais. I. traço que as tornaria semelhantes às narrações ficcionais. − o que se lê em: (A) A credulidade abalada gerou ataques ao cientificismo característico da história. (E) (linhas 2 e 3) A expressão um elemento construtivo remete à ideia de cientificidade referida anteriormente (linha 1). em que faltam elementos sintáticos essenciais à expressão de um sentido completo. (FCC) É correto afirmar que. Na exposição do seu raciocínio. (C) O que caracteriza o relato de fatos históricos é sua natureza científica. esse tipo de relato estaria próximo das narrativas ficcionais. os científicos (como os históricos) e os ficcionais (inventados pelo autor). o autor da frase final do excerto faz uso da expressão Olhando bem (linha 12) para chamar a atenção sobre ideia que corrige outra anteriormente enunciada por ele. em “duras”. (A) o enunciado “aquilo que o texto nos diz já não constitui o objeto preferido de nossa atenção” (linha 7) contém pressuposto introduzido pelo advérbio já. que não permite ao leitor entrar em contato direto com as formulações do estudioso que ele cita. como indicador de tom pejorativo. um matiz subjetivo. (FCC) Considere as afirmações abaixo. (B) o autor deixa que o leitor tenha acesso à voz de Saint-Simon. no excerto. (C) as ideias de Bloch vêm exclusivamente incorporadas à voz de Carlo Ginzburg. se esse traço fosse minimizado e abrisse espaço para a subjetividade − dizem certos críticos −. ao lado da sua própria e da de Bloch. na linha 6. O autor julgou necessário interferir no discurso alheio por meio dos colchetes. mas aquilo que seu modo de contar possa deixar entrever. inclusive às de cunho histórico. 4. (D) A acusação dos que não acreditavam no caráter científico das narrações históricas enfatizava o seu caráter subjetivo. revelando dupla apreensão: com específico sentimento de culpa e com o futuro da sociedade. estaremos caindo numa sociedade do homem e da mulher medíocres onipresentes. como um dos degraus da escalada a um nível mais alto. como o inimigo que haveria de ser derrotado. (E) empregou o pronome “o” (em conhecê-lo) porque se referia a passado. (C) Por explorar temática sociocultural... todavia.32) 8. O mundo nas cordas.. . somente.(A) I e III. as quais. especialmente depois de ter completado cinquenta anos de literatura. somente. Ao desenvolver suas ideias no período acima. (FCC) “Na nossa inevitável subordinação ao passado. (B) utilizou a expressão no sentido de com o mesmo valor observável na frase “No sentido de ajudá-lo. ultrapassa os limites da subjetividade e transforma as queixas do remetente em afirmações categóricas acerca da necessidade de engajamento político da elite. como a indicação do destinatário pelo prenome e do remetente por nome e sobrenome. (B) I. uma vez substituídas por “Prezado” e “Sem mais”. e sinto que todas as coisas pelas quais trabalhei e lutei estão em decadência. como temo. 27. (E) Em discretos matizes. [. que exige o emprego de uma vírgula depois da palavra respeito... o autor (A) adotou o tempo e modo presentes na forma verbal resolvera porque considerou eventual o fato expresso. saber bem mais a seu respeito do que ele resolvera nos dar a conhecer”. [. (D) se valeu de uma proposição paradoxal (“Na nossa inevitável subordinação ao passado. na argumentação. conseguimos. (E) I. O que antes eu via como o inimigo e. com grande otimismo. ao menos no sentido de que.] A questão diante de nós dois é: onde está a culpa? Estava em nós? Por nunca termos feito o suficiente. Norman Mailer. somente.”) e. acabou na verdade por nos vencer. (C) cometeu um deslize quanto ao padrão culto escrito. para as questões de números 8 e 9. respectivamente. revista Piauí. embora permanecendo condenados a conhecê-lo exclusivamente com base em seus rastros. e se a verdadeira premissa da democracia. Reflito sobre a minha vida. 1° de fevereiro de 1998 Caro Peter. não seria o que está acontecendo. Atenção: O texto abaixo. desodorante e roupas de plástico. a de que os sem-banho tenham acesso a sabonete barato. por mais que achássemos que sim? Ou estará na abstração que chamamos de “natureza humana”? Teremos ajustado as nossas crenças a um conceito de homens e mulheres que não se adequava aos fatos rasteiros? Às vezes me pergunto se isso não será puro elitismo de minha parte. (FCC) A alternativa que acolhe comentário condizente com as características da carta é: (A) Registra inconveniente intimidade nas saudações inicial e final. foi extraído de correspondência do renomado escritor norteamericano Norman Mailer endereçada ao crítico literário Peter Balbert. o padrão culto escrito exigiria o “lhe” (“conhecer-lhe”). somente. propus ampliar o prazo do contrato”. (C) I e II. (Adaptado de Cartas Políticas. (D) II. nós nos emancipamos. expõe reflexões acerca do impacto de atitudes individuais sobre cenários mais amplos. 7.] Tudo de bom. nós nos emancipamos. p. (D) Preservando tom subjetivo. governados por altas mediocridades. Entre as coisas que temos em comum está a depressão cultural.. se estivesse se referindo a uma pessoa. II e III. Ou se. minimizou a contradição entre as ideias que a constituem. insinua a existência de relação hierárquica entre o escritor e o crítico. especialmente no que diz respeito aos modos como conceberam e trataram homens e mulheres ao produzirem textos literários. (B) Focaliza a atuação profissional dos interlocutores. restituiriam ao texto a formalidade que seu tema requer. 13. América. (C) acredita ter contribuído.14) — eles. ainda assim. seja por não ter agido nos momentos graves. julgue os itens seguintes.3) é complemento do verbo impor. assim como temos uma cultura e um esporte próprios — tão admirados por eles. “A solidariedade com nossos sonhos não nos fará sentir menos solitários. América “A interpretação da nossa realidade com esquemas alheios só contribui para tornar-nos cada vez mais desconhecidos. amigos. se olhassem melhor para o seu próprio passado. A América Latina e o Caribe reivindicam o direito de ter uma história própria. estabelecendose. Soy loco por ti. A expressão “à nossa história” (l. no discurso. “Insistem em medir-nos com o metro que se medem a si mesmos” e assim se consideram “civilizados” e a nós. apesar dos diversos anos dedicados a atividade intelectual nobre. (B) compartilha com o interlocutor a sensação de estar declinando culturalmente. e os dos povos “civilizados” (l. 14. O trecho “que impuseram o sentido que mais lhes convinha à nossa história” (l.4). (D) hesita em relação à possibilidade de preceitos democráticos estarem sendo postos em prática na época em que escreve a carta.” Fomos “descobertos” ou reinventados pelos colonizadores. com defeitos. Emir Sader.9. América”. “bárbaros” (l. que os colonizadores tiveram tanta dificuldade — eles também — para encontrar e. Jornal do Brasil. 12. o tamanho da nossa solidão. a relação entre a voz do autor do texto e a do escritor Gabriel García Márquez bem como a remissão ao texto de Capinam e Gilberto Gil e ao desfile da Escola de Samba Unidos de Vila Isabel.” “Por que a originalidade que nos é admitida. (FCC) O excerto demonstra que o autor (A) considera-se culpado das mazelas sociais. 11.” A Vila Isabel desfilou este ano. Talvez os ex-colonizadores — hoje imperialistas — fossem mais compreensivos conosco — os “bárbaros” —. os “grandes donos do mundo” (l. reatualizando as citações do discurso com que García Márquez recebeu o Prêmio Nobel de Literatura em 8 de dezembro de 1982 –— já lá vai um quarto de século. “bárbaros”. que impuseram o sentido que mais lhes convinha à nossa história. . cada vez mais solitários.2-3) constitui uma restrição ao sentido do antecedente nominal “colonizadores” (l. No discurso de García Márquez. Não se dão conta de que “os estragos da vida são iguais para todos” e que a busca da identidade própria é tão árdua e sangrenta para nós como foi para eles. Há elementos no texto que permitem a inferência de que o processo de emancipação do povo latino-americano não sofreu significativas alterações no período de dezembro de 1982 a fevereiro de 2006.4 e 6) — nós —. enquanto não se concretize com atos de apoio legítimo aos povos que assumam a ilusão de ter uma vida própria na divisão do mundo. cada vez menos livres. sem a mistificação com que o envolveram antes de exportá-lo para nós. seja por operar com crenças contraditórias e demasiadamente abstratas. que cada vez mais ficam evidentes? Por que nos condenar a viver “como se não fosse possível outro destino senão o de viver à mercê dos grandes donos do mundo? Este é. a intertextualidade. o que justifica o emprego da vírgula após este vocábulo.2). Evidencia-se. é facultativo o emprego do acento indicativo da crase. na passarela do Sambódromo. no trecho selecionado. e. com o tema Soy loco por ti. desodorante e roupas de plástico. marcada explicitamente pelo emprego das aspas. em outras épocas. 26/2/2006 (com adaptações) Com referência ao texto “Soy loco por ti. 10. o emprego dos pronomes de primeira e terceira pessoa expressa a tensão entre os interesses dos povos latino-americanos. posteriormente submetidos à universal mediocridade. para o real aprimoramento de homens e mulheres. nela. (E) concorda com a premissa de que os desfavorecidos devam receber o necessário para a manutenção da dignidade: sabonete barato. sem reservas na literatura. originalmente na música de Capinam e de Gil. nos é negada com todo tipo de suspeitas em nossas tão difíceis tentativas de transformação social. D 8. D 10. B 14. D 13.15. Certo . Errado 4. Errado 6. Gabarito – Língua Portuguesa 1. Certo 5. Certo 2. dado que tanto a partícula se quanto a flexão do verbo na terceira pessoa do plural são procedimentos legítimos de indeterminação do sujeito. C 12. D 9. A 15. E 11. A 7. Certo 3. Seria correta a substituição da forma verbal ‘Insistem’ (l.3) por Insiste-se.
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